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Foi estabelecido como terceiro e último objetivo verificar se existe diferença entre o desempenho dos dois grupos na nomeação das palavras cognatas usadas nos testes Naming By Definition (NBD) e Word Fragment Completion (WFC). Foi testado, então, se existe efeito cognato, utilizando-se, para isso, 10 palavras cognatas no primeiro teste, o NBD e também 10 palavras no segundo e no terceiro teste, no WFC1 e WFC2, respectivamente.

4.4.1 Descrição

Em relação às palavras cognatas e não cognatas usadas no teste NBD, houve uma diferença significativa no percentual de acertos dos dois grupos de palavras pelos participantes bilíngues, porém, neste caso, a proporção média de acertos foi maior para as palavras não cognatas (0,691) do que das cognatas (0,330), ou seja, apesar de a terceira hipótese prever um efeito cognato13, (descrito

13O efeito cognato consiste da facilitação na execução de tarefas pelos bilíngues pela semelhança

na seção 2.2), como é possível verificar, na tabela 19, não houve um efeito cognato na execução da tarefa NBD.

Quanto à tarefa NBD alvo, é possível perceber, pela tabela 19, que não houve diferença significativa na proporção de acertos entre as palavras cognatas e as não cognatas considerando o acerto exato da palavra, sem considerar sinônimos. É possível verificar que os percentuais médios de acertos são bastante próximos, sendo de 0,330 das palavras cognatas e de 0,391 para as não cognatas. Isto é, enquanto que em 10 questões de palavras cognatas, o número médio de acertos era de 3,30, em 10 questões envolvendo palavras não cognatas, o número médio de acertos era de 3,91 para as não cognatas. Portanto também não houve efeito cognato na tarefa NBD alvo.

No que tange à execução da tarefa WFC1, realizada na primeira etapa da pesquisa, também não houve uma diferença significativa entre as palavras cognatas e não cognatas. A média de acertos de palavras cognatas e de não cognatas foi a mesma: 0,687. Assim, também não houve um efeito cognato na execução da tarefa WFC1.

Porém, no teste WFC2, realizada na segunda etapa da presente pesquisa (5 dias após a primeira etapa), a tabela 19 mostra que houve diferença significativa entre a proporção média de acertos das palavras cognatas e das não cognatas para o grupo dos bilíngues, sendo esta proporção de 0,726 e de 0,635, respectivamente. Dessa forma, houve um efeito cognato na execução da tarefa WFC2.

Tabela 19 – Comparação entre palavras cognatas e não cognatas (grupo dos bilíngues)

Bilíngues Proporção média de acertos p-valor*

Cognatas Não Cognatas

NBD 0.330 (0.146) 0.691 (0.200) 0,000

NBD - Alvo 0,330 (0,146) 0,391 (0,131) 0,129

WFC 1 0.687 (0.152) 0.687 (0.160) 1

WFC 2 0.726 (0.118) 0.635 (0.172) 0,005

* Representa o teste t pareado

Após a descrição dos dados referentes à terceira hipótese, passa-se agora à discussão desses resultados.

4.4.2 Discussão

A terceira hipótese previa uma diferença significativa em relação ao número de acertos relativos às questões envolvendo palavras cognatas e não cognatas (nas Tarefas Naming By Definition e Word Fragment Completion) pelos bilíngues, ou seja, previa-se a existência do efeito cognato. Segundo Christoffels e colaboradores (2007), diversos estudos na área de psicolinguística têm demonstrado que o status cognato influencia o desempenho de uma gama de tarefas. Os falantes bilíngues reconhecem as palavras cognatas mais rapidamente, traduzem e recordam palavras cognatas mais rapidamente do que as não cognatas, por exemplo (DE GROOT, 1992; DE GROOT; NAS, 1991; GOLLAN; ACENAS, 2004; DIJKSTRA et al., 2010; ALGARABEL et al, 2006; HOSHINO; KROLL, 2008; COSTA et al, 2000).

O efeito cognato sugere que as duas línguas faladas pelos bilíngues são ativadas mesmo em contextos monolíngues (KROLL et al., 2008; MACNAMARA, CONWAY, 2014). Embora existam estudos relatando um efeito cognato (como os citados anteriormente e na introdução), no presente estudo, não foi constatada uma diferença estatisticamente significativa na maior parte dos testes (NBD, NBD alvo e WFC1) entre o número de acertos de palavras cognatas e não cognatas, ou seja, não foi encontrado um efeito cognato nesses testes. Portanto, a terceira hipótese foi corroborada apenas parcialmente, pois houve um efeito cognato apenas na execução da tarefa WFC2.

Alguns estudos sugerem que para que a influência interlinguística ocorra, resultando em um efeito cognato, é necessário um certo nível de proficiência na língua estrangeira. Blumenfeld e Marian (2007, apud Van Hell e Tanner, 2012) em seu estudo, testaram se a proficiência influenciaria a coativação de duas línguas no reconhecimento de palavras. Os pesquisadores utilizaram participantes bilíngues de alemão (L1) e inglês (L2) e bilíngues de inglês (L1) e alemão (L2) em uma tarefa onde eles tinham de escutar e identificar palavras cognatas não-cognatas. Como resultado, foi possível verificar que os bilíngues com alta proficiência de alemão (L1) e inglês (L2) resolveram os problemas de competição entre semelhanças interlinguísticas das línguas mais rapidamente do que os participantes bilíngues de inglês (L1) e alemão (L2), que tinham menor proficiência em alemão. Portanto, sugere-se que os participantes bilíngues com nível elevado de proficiência podem ter mais facilidade para resolver conflitos entre candidatos com semelhanças interlinguísticas.

Estudos realizados com intérpretes simultâneos, comparando intérpretes mais experientes com intérpretes menos experientes, indicam que o controle cognitivo e a memória de trabalho dos bilíngues, por exemplo, melhoram com a prática da língua adicional e com a experiência (YUDES et al., 2011, 2012; MACNAMARA, CONWAY, 2014). Resumindo, um fator importante para os resultados obtidos é a proficiência dos participantes em L2, ou seja, uma possível explicação para um efeito cognato não ter sido encontrado em todas as tarefas da presente pesquisa talvez esteja ligada ao fato de que os participantes do presente estudo não serem todos de nível avançado e não terem uma prática diária do inglês.

Outra variável que possivelmente explicaria a ausência do efeito cognato esperado na presente pesquisa são as diferentes funções das línguas no cotidiano do falante (Maher, 1997). Assim, o domínio de uso de uma determinada língua vai depender também do propósito do falante de utilizar essa língua e do contexto. Portanto, quanto maior a frequência de uso, nos mais diversos contextos, o falante se torna pouco a pouco mais conhecedor desse idioma. Então, acredita-se que a frequência de uso da língua estrangeira desse estudo, também poderia ter influenciado seus resultados. Em relação à da frequência, 39,1% dos participantes bilíngues informou que não utiliza diariamente, 26,1% utiliza o inglês por mais de 6 horas por dia, 13% fala inglês de 2 a 4 horas e 8,7% fala inglês por apenas 1 hora

por dia. É possível verificar que grande parte dos bilíngues não utilizam a língua inglesa com bastante frequência e pode-se sugerir que este sistema linguístico não está tão ativo quanto o sistema linguístico do português, o que não facilitaria um efeito cognato.

Yan (2014) também sugere que quanto mais tarde um bilíngue aprende a língua adicional, menor será a tendência de o efeito cognato ser alcançado. Portanto, talvez se este estudo tivesse sido feito apenas com bilíngues avançados, tivesse sido encontrado um efeito cognato.

Resumindo, sugere-se, então, que o nível de proficiência e a frequência de uso da L2 dos participantes do presente estudo pode não ter sido suficiente para que se verificasse o efeito cognato apresentado por vários estudos relatados na literatura, como os citados pela presente pesquisa. No próximo capítulo, encontram- se as últimas considerações acerca dos resultados e das limitações da presente pesquisa.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capítulo de considerações finais, é apresentado um sumário dos resultados obtidos. Para tanto, este capítulo está dividido em duas seções: na primeira, é apresentada uma análise geral quanto aos principais resultados deste trabalho e, na segunda, são descritas as limitações deste estudo.