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EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS COMO AÇÃO SOLIDÁRIA DE INCLUSÃO

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Academic year: 2021

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Prof. Dr. Luiz Marconi Fortes Magalhães* *Ph.D. em Ciências do Meio Ambiente - UQAM/Canadá; Diretor do Núcleo Pedagógico Integrado -NPI/UFPA; Coordenador Científico do Grupo de estudos e pesquisas em Alfabetização solidária - GEPERA/NPI/UFPA.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho mostra o conteúdo central dos discursos proferidos pelo autor nos seminários de treinamento do Programa de Alfabetização Solidária - PAS, realizados no Núcleo Pedagógico Integrado - NPI, da Universidade Federal do Pará - UFPA, nos anos de 2002 e 2003 para os educadores e educadoras (alfabetizadores e alfabetizadoras do PAS) de 45 municípios das regiões Norte e Nordeste do Brasil.

O conteúdo central dos discursos aqui apresentados visa apresentar o repertório de idéias utilizados na reflexão da alfabetização de jovens e adultos como ação solidária de inclusão cuja referência principal está centrada na interpretação de uma práxis educativa que valoriza a pessoa, a comunidade e o meio ambiente, como proposta de formação de jovens e adultos em chão brasileiro (FREIRE, 2002, 1980).

As idéias apresentadas têm o objetivo identificar a alfabetização de jovens e adultos como ação solidária traduzida em um modelo de preparação do homem amazônico analfabeto e do homem nordestino analfabeto a apreender a letra como um recurso para a leitura do mundo em que vive em busca de relação harmônica e bem-estar social do homem pós-moderno (TORRES, 1994; FUCK, 1993; RIBEIRO, 1992; GADOTTI, 1989).

ALFABETIZAÇÃO E NOÇÕES CORRELATAS

A representação de alfabetização de jovens e adultos como uma estratégia-princípio-pedagógica (EPP) de informação do saber elaborado e de formação da pessoa para o exercício da cidadania, por mais simples que seja, deverá sempre primar pelo entendimento de pelo menos três noções básicas do processo de homificação do ser humano analfabeto: a cultura, a

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educação e o meio ambiente (LARAIA, 2003; FREIRE, 2002; CUCHE, 1999, TORRES, 1994; FERREIRO, 1985).

Neste quadro de referência torna-se necessário que se tenha como ponto de partida uma idéia clara, objetiva e concreta do significado dos termos cultura, educação e meio ambiente para principiar a alfabetização, como um processo de educação dotado de valor humano essencial a solidária relação societal (CUCHE, 1999; SAUVÉ, 1994; FUCK, 1993; MAGALHÃES, 1992).

NOÇÃO DO TERMO CULTURA

O principio do processo de alfabetização exige a assimilação do significado do termo cultura. Ensinante e aprendente devem demonstrar que cultura é tudo aquilo que existe na vida das pessoas e que não é natureza. Há uma certa importância em se ater a manifestação do homem na natureza e com a natureza que deve ser caracterizada de cultura. No processo de alfabetização é fundamental saber que: a) a terra onde o homem reside é natureza, e o plantio que ele realiza é cultura; b) o rio é natureza, a navegação que o homem faz nele é cultura; c) o açaizeiro é natureza, o açaí, forma de alimentação, que provém desta palmeira é cultura (LARAIA, 2003; CUCHE, 1999).

NOÇÃO DO TERMO EDUCAÇÃO

Reconhecendo-se que a pessoa candidata do PAS é jovem ou adulta com certo tempo de existência, é importante ressaltar que educação é o processo de aquisição de valores sociais, culturais, morais, éticos e espirituais de uma pessoa, de uma sociedade ou de uma nação, para a transformação e a construção do mundo e da história (FREIRE, 2002; CADOTTI, 1989, FERREIRO, 1983).

A noção de educação, bem como de alfabetização, são muito diversificadas no mundo contemporâneo (COMISSÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS, 1994). Diante deste cenário, talvez uma das definições que possa se adequar à compreensão desta noção ensaiada por Rusche (1995), Ribeiro (1992) e Hara (1990): uma educação para a

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alfabetização é aquela onde se reconhece o significado da leitura e da escrita para além do valor de simples leitura e de simples escrita.

NOÇÃO DO TERMO MEIO AMBIENTE

Para GOFFIN (1993), meio ambiente é um eco-sócio-sistema. Este autor cita que o ecossistema compreende os recursos e o espaço, isto é, o sócio-sistema. As pessoas e as populações de uma parte, a organização da sociedade sob seus aspectos técnico, econômico, social e cultural de outra parte, formam o sócio-sistema - lugar de vivência dos seres vivos.

Segundo suas diretrizes, a alfabetização solidária deve integrar-se ao conjunto dos processos educativos, ou seja, permear todos os conteúdos e práticas, dando sentido concreto às informações e ao conhecimento. Isto significa fazer com que as experiências vivenciadas no cotidiano sirvam, tanto para produção do conhecimento como para a formação de hábitos e internalização de valores à integração dinâmica e construtiva entre o homem, a sociedade e o meio em que vive (SAUVÉ, 1994; MAGALHÃES, 1992).

ATIVIDADE-AULA EM ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA

Na atividade-aula de alfabetização de jovens e adultos, o(a) educador(a) deve sempre interrogar o(a) educando(a) e também se interrogar sobre o quê, o por quê, o para quê, e o como das coisas e dos seres. Nesta situação pedagógica o convite a realizar um trabalho de investigação a fim de descobrir o significado do que esta sendo trabalhado anima a discussão sobre os componentes ESCRITA e da LEITURA do mundo que está sendo investigado (FUCK, 1993; HARA, 1990; FERREIRO, 1983, 1985)

NOÇÃO DO TERMO ALFABETIZAÇÃO

O termo alfabetização deve ser concebido como um processo permanente no qual os indivíduos e a coletividade tomam consciência de sua cultura e de sua história escrita e adquirem conhecimentos, valores, competências, experiências e voluntariedade que lhes

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permitem agir, individualmente e coletivamente na sociedade em que interagem (FREIRE, 2002, 1980; FUCK, 1993; HARA, 1990; FERREIRO, 1983, 1985)

A alfabetização solidária, alfabetização de jovens e adultos é atualmente reconhecida como uma dimensão integrante da educação contemporânea brasileira. Mas o que caracteriza a alfabetização solidária? Longe de se limitar à transmissão de conhecimentos em leitura e escrita ou a prescrição de comportamentos cívicos responsáveis, a alfabetização solidária aparece como um componente essencial de uma autêntica formação fundamental. Ora, como educar, ensinar, aprender em alfabetização solidária?

OBJETIVOS GERAIS DA ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA Tomada de consciência

Ajudar as pessoas e os grupos sociais a tomar consciência da leitura e da escrita para a convivência em um mundo de relações.

Conhecimentos

Ajudar as pessoas e os grupos sociais a adquirir conhecimento da leitura e da escrita para a convivência em um mundo de relações.

Atitudes

Ajudar as pessoas e os grupos sociais a adquirir valores sociais e vivos sentimentos de interesse pela leitura e pela escrita para a convivência em um mundo de relações.

Estado de espírito

Ajudar as pessoas e os grupos sociais a adquirir um senso dos valores da leitura e da escrita, necessários para participar ativamente para melhorar a qualidade de vida.

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Competência

Ajudar as pessoas e os grupos sociais a adquirir competências necessárias para a identificação e solução dos problemas materiais e espirituais.

Participação

Dar as pessoas e aos grupos sociais a possibilidade de contribuir ativamente em todos os níveis para a solução dos problemas materiais.

PRINCÍPIOS DA ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA A Alfabetização de jovens e adultos deverá: 1) Considerar o homem natural e criado pelo próprio homem. 2) Ser um processo contínuo de leitura e escrita.

3) Adotar uma abordagem metodológica interdisciplinar.

4) Ser direcionada para as situações atuais e futuras da sociedade.

5) Insistir sobre o valor da cultura local, regional, nacional e internacional.

6) Investir na compreensão dos problemas ambientais e sobre a necessidade de desenvolver o senso crítico e competências necessárias para a solução de problemas. 7) Utilizar estratégias educativas para comunicar e adquirir conhecimentos sobre a cultura, a educação e o meio ambiente.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As noções de cultura, educação, homem, sociedade e meio ambiente expressam indicações da realidade sócio-cultural em relação aos diversos fatores norteadores para a compreensão de um processo de alfabetização de jovens e adultos.

A proposta de reflexão sobre alfabetização de jovens e adultos tendo como referência à práxis educativa a partir dos elementos: pessoa, comunidade e meio ambiente nos leva a concluir que a alfabetização deve ser considerada um fator essencial para a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, o lazer e a segurança, enfim á vida das pessoas, da comunidade, e do ambiente.

A proposta de reflexão de alfabetização de jovens e adultos como processo de inclusão social iniciada neste trabalho deve prosseguir ampliando o debate neste campo da ação e do conhecimento humano. A curto e médio prazo revela-se como um convite à formação de consciência individual e coletiva para aprimorar o conhecimento das pessoas e das comunidades e aumentar o patrimônio da alfabetização solidária em território brasileiro.

Finalmente, a alfabetização de jovens e adultos, não pode ser reduzida a uma coisa que se reproduz sempre da mesma forma. A alfabetização de jovens e adultos pode impor um novo sentido às práticas da sociedade e da escola.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: EDESC, 1999.

COMISSÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS. Diretrizes para uma política nacional de educação de jovens e adultos. Brasília: MEC-SEF, 1994.

FERREIRO, Emilia. A representação da linguagem e o processo de alfabetização. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 52, p. 7-18, 1985.

FERREIRO, Emilia et al. Los adultos no alfabetizados y sus conceptualizaciones del sistema de escritura. México: Instituto Pedagógico Nacional, 1983.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 23ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

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FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática ao pensamento: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes, 1980.

FUCK, Irene Terezinha. Alfabetização de adultos: relato de uma experiência construtivista. Petrópolis:

HARA, Regina. Ler, escrever , contar: construção de cartilhas para alfabetização de adultos. São Paulo: CEDI, 1990.

GADOTTI, Moacir. Convite à leitura de Paulo Freire. São Paulo: Scipione, 1989.

GOFFIN, L. Comprendre et pratique l'environnement: education à l'environnement- cataloque guide. Médiatique de la communauté française de Belgique, Bruxelles, 1993.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

MAGALHÃES, Luiz Marconi Fortes. Educação ambiental. In: Anais do SIMDAMAZÔNIA, seminário internacional sobre meio ambiente, pobreza e desenvolvimento da Amazônia, 16 a 18 de fevereiro de 1992, p. 30 – 37, Governo do Estado do Pará, Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente. Belém: PRODEPA, 1992.

RIBEIRO, Vera Maria Masagão et al. Metodologia da alfabetização: pesquisas em educação de jovens e adultos. São Paulo: CEDI; Campinas: Papirus, 1992.

RUCHE, Robson Jesus (org.). Educação de jovens e adultos: uma proposta metodológica. São Paulo: Funap, 1995.

SAUVÉ, Lucie. Pour une education Relative à l'environnement. Québec: Guérin, Éditeur Limitée. 1994.

TORRES, Rosa Maria. Que (e como) é necessário aprender: necessidades básicas de aprendizagem e conteúdos curriculares. Campinas: Papirus, 1994.

Referências

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