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O mito do recurso como principal entrave à efetividade processual: uma análise empírica na terceira vara cível da comarca de Ijuí

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RODRIGO RAMOS

O MITO DO RECURSO COMO PRINCIPAL ENTRAVE À EFETIVIDADE PROCESSUAL: UMA ANÁLISE EMPÍRICA NA TERCEIRA VARA CÍVEL DA

COMARCA DE IJUÍ

IJUÍ (RS) 2012

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RODRIGO RAMOS

O MITO DO RECURSO COMO PRINCIPAL ENTRAVE À EFETIVIDADE PROCESSUAL: UMA ANÁLISE EMPÍRICA NA TERCEIRA VARA CÍVEL DA

COMARCA DE IJUÍ

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Lisiane Beatriz Wickert

IJUÍ (RS) 2012

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Dedico este trabalho ao meu pai, minha mãe, meu irmão e minha amada, que com paciência e entusiasmo me fortaleceram durante minha vida nos bancos acadêmicos.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, acima de tudo, pela vida, força e coragem.

A minha orientadora pela presteza, seriedade e inteligência que me deu a honra de abrilhantar meus dias de trabalho.

A todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória de construção deste trabalho, especialmente a Salvador Perez, escrivão da Terceira Vara Cível da Comarca de Ijuí. Meu muito obrigado!

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“Recursos atrasam o processo? Certamente que sim. Mas o próprio processo atrasa a vida”.

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica faz uma análise dos recursos cíveis, bem como sua influência no tempo da prestação da tutela jurisdicional. De inicio conceitua-se, sem exaurir, o que a doutrina entende como direito de recorribilidade, duplo grau de jurisdição, bem como o princípio da efetividade. Ambos os assuntos são inter-relacionados e se complementam na medida em que não há como se falar em efetividade sem um processo minimamente célere. Por fim, contrapõe-se a realidade do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, bem como, em especial, de uma Vara Cível da Comarca de Ijuí, verificando qual a influência dos recursos na demora da prestação da tutela jurisdicional, especialmente no tocante a efetividade e celeridade buscada pelas partes.

Palavras-Chave: Direito Processual Civil. Razoável Duração do Processo. Efetividade.

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ABSTRACT

This monography research work makes an analysis on the civil resources, as well as its influence in the time of the jurisditional tutelage. From the beginning it is concepted, with no exhaustion, what the doctrine understands as appealability right, jurisdition double degree, as well as the effectivity principle. Both subjects are interrelated and complete themselves in proportion to we cannot speak about effectivity without a swift precise proccess. At last, the reality of the Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul is put against, in an special case, the Vara Cível da Comarca de Ijuí, verifiying what the appeals influence is on the delaying of the jurisditional tutelage, specially on what concearns to its effectivity and swiftness searched by both parts.

Key words: Processual Civil Law. Reasonable Process lengh of time. Effectivity.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...10

1 A REFORMA DO JUDICIÁRIO...13

1.1 Da razoável duração do processo...13

1.2 Do princípio da efetividade...17

1.3 Do direito de recorribilidade e o duplo grau de jurisdição....23

2 TRIBUNAL EM NÚMEROS.......27

2.1 Recursos previstos no projeto do novo código de processo civil...27

2.2 A população gaúcha e sua litigiosidade.....36

2.3 A atividade jurisdicional de segundo grau...40

3 O MITO DO RECURSO COMO PRINCIPAL ENTRAVE À EFETIVIDADE PROCESSUAL: UMA ANÁLISE EMPÍRICA NA TERCEIRA VARA CÍVEL DA COMARCA DE IJUÍ...47

3.1 Atividade jurisdicional na Terceira Vara Cível da Comarca de Ijuí...47

3.2.Fatores.que.implicam.no.tempo.da.tramitação.do.processo.na.Terceira... Vara.Cível.da.Comarca.de.Ijuí...51

3.3 O mito do recurso como principal entrave à efetividade processual...59

CONCLUSÃO ... ...66

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INTRODUÇÃO

A Emenda Constitucional n° 45/2004 acrescentou ao artigo 5° da CF o inciso “LXXVIII” que assegura a todos, no âmbito judicial e administrativo, a razoável duração do processo e os meios que garantam, a celeridade de sua tramitação. Na Justiça Estadual do Estado do Rio Grande do Sul (RIO GRANDE DO SUL, 2010), em matéria recursal cível foram iniciados 702.779 recursos, sendo que foram terminados 643.979, um déficit de 4,36%, já no primeiro grau foram iniciados 1.367.891 e terminados 1.195.009, um déficit de 6,74%, portanto verifica-se que o déficit de processos terminados no primeiro grau é maior do que no segundo. O Projeto de Lei n.166/2010 que propõe a criação do novo Código de Processo Civil prevê a extinção de recursos, como os Embargos Infringentes e o Agravo Retido

A presente pesquisa pretende analisar o direito de recorribilidade contrapondo-o ao direito da razoável duração do processo. Iniciará com o estudo da Reforma do Poder Judiciário, especialmente no que tange ao princípio da razoável duração do processo, da efetividade, do direito de recorribilidade e o duplo grau de jurisdição.

Após, a análise conceitual dos princípios será analisado o Tribunal em Números. Verificar-se-á o projeto de Lei que visa instituir o Novo Código de Processo Civil, PLS n° 166 (BRASIL, 2010), a fim de saber quais recursos serão mantidos no novo CPC e quais estão sendo retirados. Na oportunidade, destacar-se-á a atividade jurisdicional de segundo grau, com base nos dados do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, a fim de demonstrar quais recursos são

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mais manejados e qual a carga de trabalho de cada desembargador, no que tange aos recursos cíveis.

É latente o discurso de que são os recursos os grande responsáveis pela demora na prestação da tutela jurisdicional. Há, defesas, no sentido de impedir que certas matérias sejam levadas aos tribunais, tornando a decisão imediatamente exigível.

O Projeto do Novo Código de Processo Civil (PLS 166/2010) tem como fundamento a maior celeridade no trâmite dos processos, prometendo, que com a diminuição das hipóteses recursais se garantirá mais celeridade e efetividade. A esse despeito, o segundo capítulo fará uma análise do novo CPC, especialmente quanto aos recursos nele previsto.

Objetiva-se verificar se há déficit entre o número de recursos manejados e o número de julgados. O mesmo se fará com os processos de primeira instância da 3ª Vara Cível de Ijuí.

Finalmente, far-se-á, a partir da análise de 22 processos distribuídos na terceira vara cível da Comarca de Ijuí, entre o ano de 2007 e 2011, uma reflexão, a fim de verificar quais são os fatores que implicam no tempo da duração de um processo, identificando se são os recursos os responsáveis ou existem outros fatores. Outrossim, contrapor-se-á o direito de recorribilidade ao princípio da razoável duração do processo, objetivando responder se são os recursos incompatíveis com o princípio, ou, garantem, realmente, segurança jurídica.

O trabalho contempla, ainda, objetivos mais específicos, tais como: a) Definir conceitos de “razoável duração do processo”, “efetividade” e o “direito de recorribilidade”; b) analisar os recursos existentes no código de processo civil e confrontá-los com o projeto de lei que revoga o código em vigor; c) apontar estatisticamente a atividade jurisdicional de segundo grau; d) enumerar estatisticamente a atividade jurisdicional de Terceira Vara Cível da Comarca de Ijuí, comparando-a com a atividade jurisdicional de segundo grau; e) identificar fatores

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que implicam no tempo da prestação da tutela jurisdicional na Terceira Vara Cível da Comarca de Ijuí.

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1 DA REFORMA DO JUDICIÁRIO

A reforma do Poder Judiciário é um marco para a sociedade brasileira, pois inclui no sistema jurídico brasileiro princípios como a razoável duração do processo e a efetividade do processo além, é claro de uma série de mudanças que prometem mais celeridade e efetividade ao processo.

Nesse primeiro capítulo aborda-se o princípio da razoável duração do processo, sua inclusão no sistema jurídico brasileiro e sua finalidade. Também serão analisados os princípios da efetividade, recorribilidade e do duplo grau de jurisdição, apontando suas finalidades e implicações nas decisões judiciais.

1.1 Da razoável duração do processo

Em regra, quando alguém necessita demandar em juízo para buscar a efetivação de direito material, não o faz pensando tão somente na procedência da demanda, mas essencialmente na possibilidade de torná-la efetiva.

De fato, caso o processo fosse meramente uma formalidade para se chegar a um resultado, também formal, se estaria dando azo à “injustiça”, impossibilitando o alcance do direito violado ao postulante.

É nesse sentido que o artigo 8°, 1 da Convenção Americana de Direitos Humanos (pacto de São José da Costa Rica), inseriu a garantia do princípio da razoável duração do processo, justamente, para que a decisão prolatada por um órgão jurisdicional pudesse ser efetiva, alcançando às partes a tutela de um direito violado.

Embora a referida Convenção tenha ocorrido em 22 de Novembro de 1969, o Brasil só tornou-se signatário em 06 de Novembro de 1992 quando o então Vice-Presidente da República, no exercício do cargo de Presidente, Fernando Henrique Cardoso proferiu Decreto, n° 678, promulgando a Convenção Americana Sobre Direitos Humanos. (CÂMARA, 2009).

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Ratificado o pacto, estava positivado no ordenamento jurídico brasileiro a regra contida no artigo 8°, 1 do referido pacto, qual seja:

Artigo 8.

Garantias Judiciais

1.Toda a pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer natureza. (BRASIL, 1992).

Verifica-se com o referido dispositivo que além da garantia de uma razoável duração do processo judicial, com exceção ao administrativo, também se garante a imparcialidade e o juiz natural. Todavia essas garantias já estavam positivadas Constitucionalmente.

Fredie Didier Jr (2006, p. 54), acrescenta que o “pacto de San José da Costa Rica, ratificado pelo Brasil, prescreve o direito a um processo com duração razoável, donde se retira o princípio constitucional da efetividade”, Ou seja, não apenas o direito da razoável duração do processo está positivado como o da efetividade da tutela jurisdicional.

Segundo Flávia Piovesan (2000), citada por Didier (2006, p. 55)

A Constituição de 1988 recepciona os direitos enunciados em tratados internacionais, de que o Brasil é parte, conferindo-lhes hierarquia de norma constitucional. Isto é, os direitos constantes nos tratados internacionais integram e complementam o catálogo de direitos constitucionalmente previsto, o que justifica estender a estes direitos o regime constitucional conferidos aos demais direitos e garantias fundamentais.

O direito à razoável duração do processo e da efetividade são garantias constitucionais, que, não necessitariam estar previstas no texto constitucional de forma expressa para ter validade no ordenamento vigente. Todavia a regra Constitucional que atribui status a tratado internacional ao qual o Brasil é signatário, e desde que forem aprovados, em dois turnos, por três quintos dos votos dos membros do Congresso Nacional, foi introduzida no texto Constitucional com a Emenda n°45/200. Portanto, a mesma que trouxe ao texto Constitucional o direito à

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razoável duração do processo, nesse caso, se não houvesse sido introduzida a garantia no texto Constitucional a mesma não teria força de norma Constitucional, na medida em que o disposto no §3°1 do artigo 5° da CF teve aplicabilidade apenas a partir da data de sua publicação (art. 10, EC n°45/2004).

Portanto a regra inserta no artigo 5°, inciso LXXVIII2, tornou direito fundamental de todos a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação, já que antes da inserção do texto na Constituição, a norma que vigia tinha natureza supralegal e não constitucional.

A exposição de motivos n° 204 revela logo de inicio a intenção da Emenda Constitucional n° 45:

Poucos problemas nacionais possuem tanto consenso no tocante aos diagnósticos quanto à questão judiciária. A morosidade dos processos judiciais e a baixa eficácia de suas decisões retardam o desenvolvimento nacional, desestimulam investimentos, propiciam a inadimplência, geram impunidade e solapam a crença dos cidadãos no regime democrático. (BRASIL, 2004, p.1).

A Emenda Constitucional n° 45/2004 teve como razão a celeridade processual e a consagração do Princípio da Razoável Duração Processo levando de simples norma a norma Constitucional, mesmo que para alguns o dispositivo já integrava o ordenamento jurídico vigente através do Pacto de São José da Costa Rica.

Entende-se com isso que a demora na prestação da tutela jurisdicional não é compatível com a efetividade das decisões e viola expressamente a norma contida no inciso LXXVIII do art. 5° da CF, e do mesmo modo a dignidade da pessoa humana (art. 1°, III CF).

1 Art. 5°, §3°. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados,

em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

2 Art. 5°, LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração

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É certo, por outro lado, que a pretensão que resulta da nova prescrição não parece estar além do âmbito da proteção judicial efetiva, se a entendermos com a proteção assegurada em tempo adequado. A duração indefinida ou ilimitada do processo judicial afeta não apenas e de forma direta a idéia de proteção judicial efetiva, como compromete de modo decisivo a proteção da dignidade da pessoa humana, na medida em que permite a transformação do ser humano em objeto dos processos estatais. (MENDES, 2009, p. 545).

A razoável duração do processo, portanto não está afeta tão somente ao interesse por uma prestação jurisdicional célere, mas ao direito dos postulantes serem tratados com dignidade quando buscam a tutela jurisdicional.

Humberto Theodoro Júnior (2010, p. 31) explica que:

Há uma concepção, que hoje domina a doutrina especializada e, aos poucos, se afirma na melhor jurisprudência, segundo a qual a preocupação maior do aplicador das regras e técnicas do processo civil deve privilegiar, de maneira predominante, o papel da jurisdição no campo da realização do direito material, já que é por meio dele que, afinal, se compõem os litígios e se concretiza a paz social sob comando da ordem jurídica.

Nesse contexto é possível afirmar que o princípio da razoável duração do processo, como ordem constitucional, deve ser privilegiada em determinados momentos a normas processuais programáticas que geram “atraso” na prestação da tutela jurisdicional. O excesso de formalismo, por exemplo, pode fazer com que o processo atrase o seu curso, havendo violação, portanto, ao princípio da razoável duração do processo.

No julgamento do recurso especial n° 975.807- RJ a Ministra Nancy Andrighi, assim referenciou quanto às formalidades procedimentais:

Os óbices e armadilhas processuais só prejudicam a parte que tem razão, porque quem não a tem perderá a questão no mérito, de qualquer maneira. O processo civil dos óbices e armadilhas é processo civil dos rábulas. Mesmo os advogados mais competentes e estudiosos estão sujeitos ao esquecimento, ao lapso. O direito das partes não pode depender de tão pouco. Nas questões controvertidas, convém que se adote, sempre que possível, a opção que aumente a viabilidade do processo e as chances de julgamento da causa. Não a opção que restringe o direito da parte. As reformas

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processuais têm de ir alem da mudança das leis. Elas têm de chegar ao espírito de quem julga. Basta do processo pelo simples processo. Que se inicie uma fase de viabilidade dos julgamentos de mérito. (BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial nº 975.807 RJ, Relator: Des. Humberto Gomes de Barros, 2008).

De fato, na atualidade não há mais espaço para um processo extremamente formal e que restrinja o acesso das partes a uma decisão de mérito. Nesse sentido é que reside o entendimento de que do princípio da razoável duração do processo decorre o princípio da efetividade, já que, o fato de existir um processo pelo qual se dirá o direito não basta, é preciso que esse direito possa se efetivar e a demora na prestação da tutela jurisdicional, certamente, podem obstaculizar essa efetividade.

Definir, no entanto, o que seja razoável duração do processo não é tarefa simples, sendo um conceito subjetivo. Mas segundo José Rogério Cruz e Tucci (1997, p. 67):

[...] três critérios, segundo as circunstâncias de cada caso concreto, devem ser levados em consideração para ser apreciado o tempo razoável de duração de um determinado processo. Por via de conseqüência, somente será possível verificar a ocorrência de uma indevida dilação processual a partir da análise: a) da complexidade do assunto; b) do comportamento dos litigantes e de seus procuradores ou da acusação e da defesa no processo penal; e c) da atuação do órgão jurisdicional.

Demonstra-se com isso que de fato não é possível definir com exatidão o que seja a razoabilidade, sendo, portanto, um conceito amplo. Todavia é preciso notar que a doutrina identifica critérios que podem servir como parâmetros para a análise da ocorrência de dilações indevidas, que por sua vez atacam a própria efetividade das decisões.

1.2.Do princípio da efetividade

O julgamento do RESP n° 975.807- RJ (BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, 2008), anteriormente referenciado, resumiu de forma prática o que seja efetividade e razoável duração do processo.

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Não adianta existir um ordenamento jurídico que preveja inúmeras situações procedimentais que as defina de forma programática afastando, inúmeras vezes, a análise de mérito por não haver o preenchimento de algum requisito, de admissibilidade, por exemplo. (THEODORO JR 2010).

É nesse sentido que Eduardo R. Graña e Rafael Bielsa (1994), citados por José Rogério Cruz e Tucci (1997, p. 65), asseveram que:

[...] não apenas deve outorgar uma satisfação jurídica às partes, como também, para que essa resposta seja a mais plena possível, a decisão final deve ser pronunciada em um lapso de tempo compatível com a natureza do objeto litigioso, visto que – caso contrário – se tornaria utópica a tutela jurisdicional de qualquer direito. Como já se afirmou, com muita razão, para que a Justiça seja injusta não faz falta que contenha equívoco, basta que não julgue quando deve julgar!

A efetividade do processo está relacionada à razão de ser do processo, pois, como visto, não tem valor um processo revestido de formalidade que não consiga alcançar às partes o objeto posto em causa. Ao definir “processo” o doutrinador italiano Francesco Carnelutti (2000, p. 71), ensina:

Chamamos processo a um conjunto de atos dirigidos à formação ou à aplicação dos preceitos jurídicos, cujo caráter consiste na colaboração para tal finalidade das pessoas interessadas (partes; infra, ° 6) com uma ou mais pessoa desinteressados (juízes; ofício judicial; infra, n° 114) [...] a palavra processo serve, pois, para indicar um método para a formação ou para aplicação do direito que visa a garantir o bom resultado, ou seja, uma tal regulação do conflito de interesses que consiga realmente a paz e, portanto, seja justa e certa: a justiça deve ser sua qualidade exterior ou substancial; a certeza, sua qualidade exterior ou formal;

Quando as partes buscam a tutela jurisdicional, estão na realidade buscando a satisfação de um direito supostamente violado, e o fazem através do processo já que o monopólio da justiça é do Estado, sendo vedado, inclusive a autotutela, portanto a razão do processo, seguindo esta lógica, é alcançar a paz através da justiça.

Joaquim Henrique Gatto (2010, p. 111) citando Francisco Rosito (2008) e José Rogério Cruz e Tucci (1997), revela que:

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É bem verdade que a demora do processo resulta em descrença no Poder Judiciário. Por isso, há uma preocupação muito grande com a efetividade do processo. Entretanto, não se pode aceitar que, a pretexto de resolver-se rapidamente o conflito, desrespeitem-se uma série de garantias das partes, cuja observância não se coaduna com precipitação.

Em outras palavras, a efetividade do processo e a razoável duração do processo devem ser compatíveis com o interesse de ambas as partes, ou seja, às partes contrárias devem ter garantido o direito de recorribilidade e de apreciação cautelosa do direito clamado.

É nesse sentido que a Emenda Constitucional n° 45/2004 foi inserida no sistema jurídico brasileiro, com a finalidade de dar mais efetividade e celeridade nos processos judiciais e administrativos.

Acompanhando a reforma do poder judiciário Pedro Lenza (2008, p. 637) destaca significativas alterações legislativas:

Lei n. 11.448, de 15.01.2007 - altera o art. 5° da Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985, que disciplina a ação civil pública, legitimando para sua propositura a Defensoria Pública [...]

Lei n. 11.441, de 04.01.2007 – altera o CPC, possibilitando a realização de inventário, partilha, separação consensual e divórcio consensual pela via administrativa („simplificação de procedimentos); Lei n. 11.419, de 19.12.2006 – dispõe sobre a informatização do processo judicial e altera artigos do CPC;

Lei n. 11.418, de 19.12.2006 – regulamenta o §3°. do art. 102 da Constituição Federal (“repercussão geral”), acrescentando o art. 543-A e 543-B ao CPC;

Lei n. 11.417, de 19.12.2006 – regulamenta o art. 103-A da Constituição Federal e altera a Lei n. 9.784, de 29 de janeiro de 1999, disciplinando a edição, a revisão e o cancelamento de enunciado de súmula vinculante pelo STF, e dá outras providências; Lei n. 11.382, de 06.12.2006 – altera dispositivos do CPC relativos ao processo de execução e a outros assuntos;

Lei n. 11.341, de 07.08.2006 – altera o parágrafo único do art. 541 do CPC para admitir as decisões disponíveis em mídia eletrônica, inclusive na internet, entre as suscetíveis de prova de divergência jurisprudencial;

Lei n. 11.280, de 16.02.2006 – altera os arts. 112, 114, 154, 219, 253, 305, 322, 338, 489 e 555 do CPC concernentes à incompetência relativa, meios eletrônicos, prescrição, distribuição por dependência, exceção de incompetência, revelia, carta precatória e

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rogatória, ação rescisória e vista dos autos; e revoga o art. 194 da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil;

Lei n. 11.277, de 07.02.2006 – acrescenta o art. 285-A ao CPC, buscando a “racionalização do julgamento de processos repetitivos” (cf. ADI 3.695, questionando a constitucionalidade da lei);

Lei n. 11.276, de 07.02.2006 – altera os arts. 504, 506, 515 e 518 do CPC, relativamente à forma de interposição de recursos, ao saneamento de nulidades processuais, ao recebimento de recurso de apelação e a outras questões. Destaque-se nesta lei o início da discussão sobre súmula impeditiva de recursos, que será ampliada com a aprovação da “PE Paralela de Reforma do Poder Judiciário”; Lei n. 11.232, de 22.12.2005 – modifica o CPC para estabelecer a fase de cumprimento das sentenças no processo de conhecimento e revogar dispositivos relativos à execução fundada em título judicial, além de outras providências. Dessa forma, as decisões judiciais ganham mais efetividade, tendo em vista a atribuição de carga executiva dentro do processo de conhecimento (cf. ADI 3.740, questionando a constitucionalidade o §1° do art. 475 –L e o parágrafo único do art. 741 do CPC, com a redação alterada pela Lei n. 11.323/2005, bem como do parágrafo único do art. 741 do CPC, na redação conferida pela MP n. 2.180-35);

Lei n. 11.187, de 19.10.2005 – modifica o CPC para, conferindo nova disciplina ao cabimento dos agravos retidos e de instrumento, abrir “espaço” para o julgamento dos recursos de apelação (já que o recurso de agravo de instrumento tem prioridade no julgamento), desobstruindo-se a pauta dos Tribunais de Justiça. (grifo do autor)

Ainda o mesmo autor Lenza (2008, p. 639) citando a Ministra Ellen Gracie (2007) assevera que:

A conciliação, somada aos novos instrumentos jurídicos que o Congresso Nacional aprovou – a Súmula Vinculante, que evitará a chegada de milhares de processos repetitivos ao Supremo Tribunal Federal, a Repercussão Geral, que permitirá aos ministros do STF selecionar as causas que o Tribunal deve julgar, sob o critério da relevância dos temas tratados e a Lei 11.419/06, que dispõe sobre a informatização do processo judicial – inaugura um novo tempo para o Judiciário brasileiro. „Um tempo de maior agilidade e efetividade, de diálogo e contato com o cidadão comum, de conscientização mútua do papel das partes na busca de uma cultura da paz‟

De fato existe uma real busca de se dar mais efetividade aos processos, ou ao menos, de diminuir o número de demandas judiciais e minimizando a litigiosidade.

Importante, nesse ponto trazer uma breve crítica de Lênio Streck (2006 p. 1):

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[...] a crise está longe de ser debelada. Com efeito, a crise possui uma dupla face: de um lado, uma crise de modelo de Direito (preparado para o enfrentamento de conflitos interindividuais, o Direito não tem condições de enfrentar/atender as demandas de uma sociedade repleta de conflitos supraindividuais); de outro, a crise dos paradigmas aristotélico-tomista e da filosofia da consciência, o que significa dizer, sem medo de errar, que ainda estamos reféns do esquema sujeito-objeto [...] se, de um lado, parte considerável do Direito ainda sustenta posturas objetivistas (em que a objetividade do texto sobrepõe-se ao interprete, ou seja, a lei “vale tudo”); de outro, há um conjunto de posições doutrinária-jurisprudenciais assentados no subjetivismo, segundo o qual o intérprete (sujeito) sobrepõe-se ao texto, ou seja, “a lei é só a ponta do iceberg; o que vale são os valores „escondidos‟ debaixo do iceberg”.

As palavras de Streck (2006) são fortes, mas revelam a realidade. Não é incomum observarmos uma tendência na interpretação da norma sob o ponto de vista formal, excluindo-se da atividade jurídica uma interpretação que tenha por foco a efetividade do processo, ou melhor, a finalidade da norma.

Por isso a atividade hermenêutica da norma é um contributo para a efetividade das decisões. Streck (2006) critica as palavras do Ministro do STJ Humberto Gomes de Barros que assim pronunciou:

„Não me importa o que pensam os doutrinadores. Enquanto for Ministro do Superior Tribunal de Justiça, assumo a autoridade da minha jurisdição. O pensamento daqueles que não são Ministros deste Tribunal importa como orientação. A eles, porém, não me submeto. Interessa conhecer a doutrina de Barbosa Moreira ou Athos Carneiro. Decido, porém, conforme minha consciência. Precisamos estabelecer nossa autonomia intelectual, para que este Tribunal seja respeitado. É preciso consolidar o entendimento de que os Srs. Ministros Francisco Peçanha Martins e Humberto Gomes de Barros decidem assim, porque pensam assim. E o STJ decide assim, porque a maioria de seus membros pensa como esses Ministros. Esse é o pensamento do Superior Tribunal de Justiça, e a doutrina que se amolde a ele. É fundamental expressarmos o que somos. Ninguém nós dá lições. Não somos aprendizes de ninguém. Quando viemos para este Tribunal, corajosamente assumimos a declaração de que temos notável saber jurídico – uma imposição da Constituição Federal. Pode não ser verdade. Em relação a mim, certamente, não é, mas, para efeitos constitucionais, minha investidura obriga-me a pensar que assim seja‟. (STRECK, 2006, p. 3).

Um raciocínio como o exposto acima, impede que a norma seja interpretada de acordo com a sua real finalidade, tendo, o jurisdicionado, em geral,

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de se submeter a uma única verdade, portanto, restringindo-se a possibilidade de se interpretar o contexto aplicando-se friamente o texto da lei ou da jurisprudência.

Nesse sentido é que se faz a ressalva, o princípio da efetividade, assim como o da razoável duração do processo, não pode deixar de observar que às partes que litigam deve ser prestada uma jurisdição de qualidade, atendendo as mínimas expectativas para a solução do conflito posto em causa, a exemplo da decisão proferida pela Ministra Nancy Andrighi no julgamento do recurso especial n° 975.807- RJ, já comentado anteriormente, onde destacou-se a importância da análise do mérito em detrimento, até, a circunstâncias procedimentais.

Nesse sentido, Barbosa Moreira (2007, p. 377):

Last but not least, é mais que hora de nos compenetrarmos da superlativa dificuldade, para não dizer da impossibilidade, de conciliar de modo perfeito o ideal de celeridade processual e a preservação de certas garantias básicas para as partes, que a consciência jurídica e ética de nosso tempo não tem como relegar a plano secundário. Também se lê na Constituição, e desde o seu primeiro momento de vida, que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (art. 5°, inciso LV). A norma introduzida pela Emenda Constitucional n° 45 terá de conviver com essa e não poderá fazer dela tábua rasa. Um processo informado por preocupações garantísticas necessariamente será menos rápido que um processo que as ponha de lado. Todo o ato do juiz que possa prejudicar um direito ou um interesse de parte deve ser recorrível, como meio de evitar ou emendar os erros e falhas que são inerentes aos julgamentos humanos. (THEODORO JR, p. 35, 2010).

A efetividade do processo, que, de certo modo permite a instrumentalidade, ou seja, o afastamento de normas formais para que se obtenha o resultado, não pode excluir a possibilidade de revisão da decisão, porque o processo não serve apenas ao não sucumbente, mas aquele que está sendo “imposta” uma decisão, a qual, sob o seu ponto de vista é injusta e merece revisão de um órgão julgador superior.

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1.3 Do direito de recorribilidade e o duplo grau de jurisdição

Não se conformar com o que está posto é algo da essência da humanidade, e é possível observar desde a infância até os últimos dias de vida.

A vida em sociedade pressupõe, por lógico, a existência de “[...] conflitos intersubjetivos, resolvidos por intermédio do Estado [...]” (ASSIS, 2008, p. 33). O processo, nesse sentido, tem por finalidade entregar as partes a paz social, ou ao menos, amenizar os prejuízos que eventualmente tenham sofrido.

Todavia a decisão emanada por um órgão jurisdicional, nem sempre, é revestida da formalidade que a lei o exige, ou então acaba por violar direitos de ordem material.

O escoadouro do inconformismo insopitável e, ao mesmo tempo, meio para reparar, tanto quanto possível, os erros inerentes à falibilidade, porque a base desses pronunciamentos, originários do marco civilizatório chamado processo, assenta num juízo singular ou coletivo de homens e mulheres, só pode ser a impugnação do ato estatal. (ASSIS, 2008, p. 33).

Nesse sentido é que Assis (2008, p.33), citando Enrico Tulio Liebmann (1975), acrescenta que:

[...] permissão ao vencido para impugnar a decisão assegura o aprimoramento do ato, e se não assegura, ao menos aumenta a possibilidade de real pacificação dos litigantes.

Os recursos, portanto, tem o sentido de possibilitar aos litigantes que seja reapreciada a causa quando sucumbentes, com fito, de se prestar uma tutela jurisdicional de qualidade, sem vícios que lhe importem em prejuízos.

Importante distinção a ser feita, no momento, é quanto ao princípio da recorribilidade e do duplo grau de jurisdição. Rui Portanova (2003, p. 103), explica que:

[...] o princípio da recursividade tem uma abrangência maior porque consagra toda sorte de inconformidade de decisões contrárias. Por

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isso, desimporta se a inconformidade dá-se em forma de recurso para o próprio juiz ou se vai ser decidida por outro órgão superior da organização judiciária. Essa preocupação é mais especifica e pertine ao princípio do duplo grau de jurisdição que se submete no princípio da recursividade.

De fato, existem situações no processo civil brasileiro em que os recursos interpostos não são apreciados por órgão hierarquicamente superior, como a exemplo da apelação interposta contra decisão que indeferiu a petição inicial que pode ser reformada sem envio do recurso à segunda instância. (PORTANOVA, 2003).

Portanova (2003, p. 104), citando Armando Roberto Holanda Leite (1981), assevera que:

O princípio da recursividade visa a satisfazer uma necessidade humana: ninguém se conforma com um juízo único e desfavorável. Esse inconformismo é fruto do conhecimento que se tem da imperfeição humana. Além disso, a confirmação da sentença, por outro tribunal, dá-lhe mais prestígio porque ela passa pelo crivo de juízes de mais antiga investidura.

Advém desta interpretação a necessidade de que outro julgador preste o serviço da tutela, na medida em que se for o próprio juiz que o fizer, na realidade não haverá a revisão do julgado, e sim uma mera repetição daquilo que já foi dito.

Isto que dizer, que como regra geral, a parte tem direito a que sua pretensão seja conhecida e julgada por dois juízos distintos, mediante recurso, caso não se conforme com a primeira decisão. Desse princípio decorre a necessidade de órgãos judiciais de competência hierárquica diferente: os de primeiro grau (juízos singulares) e os de segundo grau (Tribunais Superiores). Os primeiros são os juízes da causa e os segundo, os juízos dos recursos. (THEODORO JR, 2010, p. 36).

Ressalta-se que o termo “duplo grau de jurisdição” não é, em todo, correto, pois a jurisdição é una, “por isso a separação funda-se na hierarquia, e não na qualidade do corpo julgador”. (GATTO, 2010, p. 23).

Nesse sentido o termo “duplo grau” de jurisdição não está de acordo, pois dá a entender a existência de duas jurisdições. (GATTO, 2010). Todavia têm-se

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utilizado o referido termo para definir a possibilidade de recorrer à um órgão da jurisdição de segunda instância, que possibilita uma reanalise do julgado, dando-se assim mais qualidade ao julgado. (THEODORO JR, 2010.)

Não é forçoso dizer que existem divergências doutrinárias quanto aos pontos positivos e negativos, acerca do duplo grau de jurisdição:

Um dos anseios mais importantes quando se restabelecem razões pró e contra o duplo grau parece a busca pela harmonização entre a celeridade – questão premente – e a certeza jurídica.

É neste panorama que se estabelecem as discussões sobre a conveniência ou inconveniência do duplo grau de jurisdição no processo civil brasileiro. (GATTO, 2010, p. 30).

Nesse panorama é possível entender que pela busca de uma tutela judicial, o Estado, enquanto detentor do monopólio da justiça deve prestar o “serviço” de modo célere, com qualidade e de forma a se efetivar. A celeridade, e a qualidade, então devem ser compatíveis, assim, pressupondo que o duplo grau de jurisdição dá mais qualidade ao julgado, sua supressão, seria uma diminuição na qualidade da prestação da tutela jurisdicional, incompatível, portanto com seu dever de prestar a “justiça”. (THEODORO JR. 2010).

Aliás, Nelson Luiz Pinto (2003), acrescenta que:

Portanto, o princípio do duplo grau vem ao encontro do anseio da legalidade e de uma boa justiça, partindo-se sempre do princípio – não necessariamente verdadeiro – de que uma segunda decisão, proveniente de um colegiado de juízes hierarquicamente superiores e, assim, mais experientes, tem maior probabilidade de acerto, de corresponder à justiça do caso concreto. (PINTO, 2003, p. 86).

Verifica-se que a defesa do duplo grau de jurisdição tem como fundamento principal a segurança jurídica e a qualidade nos julgados. Contudo, isso, não significa que os excessos não devam ser combatidos:

Ambas as partes de qualquer processo aspiram fortemente a um desfecho rápido e se sentem frustradas pelo retardamento. Trata-se de uma das idéias mais falsas dentre as que circulam sobre o

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assunto. Há boas razões para antes supor coisa bem diferente: pelo menos um dos litigantes prefere ver demorar o resultado do pleito. O desejo de prolongar o feito costuma provocar, por parte do interessado, manobra dilatória de vária feição. Uma das mais comuns é a interposição de recursos sabiamente infundados, ou mesmo inadmissíveis, contra toda e qualquer decisão proferida no processo. As leis esforçam-se em prover o órgão judicial de meios de combater a chicana; na prática, todavia, as providenciais cabíveis são muitas vezes ineficazes ou insuficientes para debelar o mal. Seja como for, é oportuno registrar que, em determinadas hipóteses, o comportamento das partes (e/ou de seus advogados) contribui de modo nada desprezível para a excessiva duração do processo. (MOREIRA, 2007, p.372).

Moreira (2007) entende ser um equívoco compreender que ambas as partes litigantes estão interessadas na solução rápida do litígio. Entende que na realidade uma das partes, na maioria das vezes, tende a se utilizar de manobras para atrasar o curso do processo. Nesse contexto, a morosidade também advém da atitude que as partes empregam no processo.

Para compreender a atividade jurisdicional e fazer o contraponto entre a celeridade processual, efetividade e o direito de recorribilidade, são imprescindíveis a análise de dados práticos acerca da atividade jurisdicional de primeira e segunda instância, com o fito de verificar qual a incidência na demora da prestação da tutela jurisdicional efetiva, e se realmente são os recursos (o direito de recorribilidade) os determinantes à essa demora, ou existem outros fatores.

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2 TRIBUNAL EM NÚMEROS

O projeto de lei que prevê a criação de um novo código de processo, tem sido defendido como um instrumento que dará mais celeridade aos processos, especialmente, no que tange aos recursos.

Nesse sentido, no presente capítulo se analisará cada um dos recursos disciplinados no atual código de processo em comparação ao projeto. Por fim, far-se-á uma análise dos recursos mais manejados no Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.

2.1 Recursos previstos no projeto do novo código de processo civil

O atual código de processo civil vigente, Lei n° 5.869 de 11 de Janeiro de 1973, prevê oito recursos a disposição das partes no processo, quais sejam: a) apelação; b) agravo; c) embargos infringentes; d) embargos de declaração; e) recurso ordinário; f) recurso especial; g) recurso extraordinário; h) embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário.

O objeto desse estudo não é exaurir a matéria recursal, por isso, não serão tratados os requisitos de cada recurso, mas, especialmente seu objeto e processamento.

Analisar-se-á nesse momento cada um deles, comparando-os ao Projeto de Lei do Senado n°166/2010 (projeto que prevê um novo Código de Processo Civil).

O primeiro recurso a ser analisado é o previsto no artigo 5133 do atual Código de Processo Civil, o conhecido recurso de apelação. A apelação é o típico recurso utilizado para atacar a sentença. “Não se distingue aqui quanto à espécie de sentença, pouco importando, pois, se a mesma é definitiva ou terminativa”.

(CÂMARA, 2008, p. 78).

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O recurso de apelação é interposto no prazo de 15 dias após a publicação da sentença para o juiz singular que analisa os requisitos de admissibilidade. Recebendo ou não o recurso, intima a parte contrária para que querendo apresente as contrarrazões e o remete, posteriormente, ao Tribunal de Justiça. Esse, por sua vez, revê os requisitos de admissibilidade, podendo conhecer ou não o recurso.

A petição de interposição da apelação, que deve conter estes requisitos a que se acabou de aludir, deverá ser dirigida ao juízo recorrido (órgão a quo), como se dá – em regra – com os recursos no processo civil brasileiro (ressalva feita ao agravo de instrumento). Interposta a apelação, deverá o juízo a quo exercer juízo de admissibilidade sobre o recurso, recebendo-o ou não. (CÂMARA, 2008, p. 79).

O recurso de apelação, nesse sentido, sofre duas análises de admissibilidade, uma pelo juízo a quo e outro pelo juízo ad quem. Importa sinalar, que se caso o recurso não for recebido, cabe ao prejudicado a interposição de agravo.

Faltando algum requisito, a apelação não será recebida. Desse pronunciamento, que não é “despacho de mero expediente”, cabe agravo (art. 522). Se o tribunal lhe der provimento, a apelação será processada nos termos legais. (MOREIRA, 2005, p. 137).

A PLS n° 166 de 2010, já aprovada pelo Senado Federal, prevê o recurso de apelação no artigo 948, I4, sendo regulamentada pelos artigos 9635 e seguintes. O projeto do novo CPC, contudo, imprime a competência do Tribunal para a análise dos requisitos de admissibilidade, sendo que o recurso, embora interposto e processado no juízo de primeiro grau, não sofre a análise dos requisitos de admissibilidade, só lhe sendo atribuídos os efeitos do recurso.

Assim o artigo 966 do projeto do novo CPC:

Art. 966. A apelação será interposta e processada no juízo de primeiro grau; intimado o apelado e decorrido o prazo para a resposta, os autos serão remetidos ao tribunal, onde será realizado o juízo de admissibilidade.

4 Art. 948, I. São cabíveis os seguintes recursos: I – apelação; 5 Art. 963. Da sentença cabe apelação.

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Nesse sentido, a medida parece dar mais celeridade a tramitação do recurso de apelação, haja vista que o juízo a quo não fará a análise dos requisitos de admissibilidades, sendo que, interposto o recurso, a outra parte já será intimada para contrarrazões e os autos serão remetidos ao Tribunal de Justiça.

O recurso de apelação é, sem dúvida, um dos recursos mais utilizados na prática forense, justamente porque o julgador não é imune a erros, assim como a razão humana, tem por essência, a necessidade de uma segunda opinião sobre o que lhe é dito. Assim Araken de Assis (2007, p. 375):

A apelação representa o modelo típico e basilar de recurso “ordinário”. Nenhum outro recurso exibe igual majestade. Tem por função precípua revisar a atividade judicante do primeiro grau mediante a intervenção, a instâncias do vencido, de órgão judiciária de hierarquia superior, para reformar ou anular a sentença [...] gravame imposto ao vencido, decorrente de sentença defeituosa ou de sentença injusta, logra emenda fácil e rápida no julgamento superior. Eis o alto sentido garantístico da apelação.

A apelação, de fato, é reconhecidamente o recurso típico. “[...] por ser aquele de conteúdo mais amplo, permitindo ampla atividade cognitiva pelo órgão ad quem [...]” (PINTO, 2003, p.100).

A possibilidade de acessar a segunda instância, obviamente, não dá garantia de uma analise melhor do que a primeira, contudo um novo julgamento por uma instância superior tende a ser mais qualitativo devido a experiência dos julgadores, que já atuaram em instancias inferiores. (ASSIS, 2007).

Não menos importante na dinâmica processual é o recurso de Agravo, que sofrerá alterações significativas com a aprovação da PLS n° 166/2010.

O Agravo, atualmente, é subdivido em três espécies. Agravo de instrumento, agravo retido e agravo interno. (CÂMARA, 2008).

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O agravo de instrumento e o retido, regulados pelo artigo 5226 do CPC, atacam decisões interlocutórias de primeiro grau e o agravo interno ataca decisões monocráticas proferidas pelos relatores nos tribunais.

O agravo de instrumento distingue-se do agravo retido, pois o primeiro é contra decisão interlocutória capaz de causar a parte lesão grave de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão e quanto aos efeitos do recebimento de apelação, por outro lado o agravo retido ataca decisões que não causam lesão de difícil reparação às partes, ficando retido nos autos até que em apelação o recorrente reabra a discussão da matéria e só então, na apreciação da apelação o tribunal conhece da matéria.

Uma das alterações significativas da PLS n° 166/2010 é que o agravo de instrumento passa a ter um rol taxativo:

Art. 969. Cabe agravo de instrumento contras as decisões interlocutórias que versarem sobre:

I – tutelas de urgência ou da evidência; II – o mérito da causa;

III – rejeição da alegação de convenção de arbitragem;

IV – o incidente de resolução de desconsideração da personalidade jurídica;

V – a gratuidade de justiça;

VI – a exibição ou posse de documentos ou coisa; VII – exclusão da litisconsorte por ilegitimidade; VIII – a limitação de litisconsórcio;

IX – a admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; X – outros casos expressamente referidos em lei.

Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença, cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário. (BRASIL, 2010).

Observa-se que o rol do referido dispositivo é taxativo, portanto, não haverá possibilidade de atacar via agravo de instrumento outras circunstancias que surjam no processo.

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Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento.

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Outra alteração é a inexistência de previsão do agravo retido e a previsão de um “novo” agravo, o Agravo de Admissão, atualmente chamado simplesmente de “Agravo” (art. 5447

do CPC). Assim previsto no artigo 996:

Art. 966. Não admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, caberá agravo de admissão para o Supremo Tribunal Federal ou para o Superior Tribunal de Justiça, conforme o caso.

Fica clara a intenção legislativa de reduzir a possibilidade de recursos, muito embora, a taxatividade das situações de cabimento do agravo de instrumento ser ampla.

Os embargos infringentes, que atualmente são cabíveis quando o acórdão não unânime houver reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito, ou houver julgador procedente, por maioria, ação rescisória, por exemplo, não estão sendo contemplados pelo projeto do novo CPC, mesmo estando eles em 14° lugar, com 1.549, em número de recursos interpostos no Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul em 2011, que comparado aos Embargos de Declaração, que somaram a monta de 79.109, são quase insignificantes.

A maioria da doutrina tem firmado o entendimento de que os embargos infringentes são desnecessários, a exemplo de Araken de Assis (2007), Alexandre Freitas Câmara (2008) e Humberto Theodoro Junior (2010).

A doutrina majoritária entende da desnecessidade dos embargos infringentes:

Assim, defendemos a abolição total dos embargos infringentes, não nos parecendo adequado que o mero fato de ter havido voto divergente em um julgamento colegiado deva ser capaz de permitir a interposição de recurso contra a decisão proferida. (CÂMARA, 2008, p. 101).

7 Art. 544. Não admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, caberá agravo nos próprios

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Entendem que, mesmo com a alteração dada pela Lei 10.352/2001, que modificou as hipóteses de cabimento, reduzindo aos acórdãos de apelação e ação rescisória, não unânime que houverem reformado a sentença de mérito:

[...] ele continuaria sendo, segundo seus detratores um recurso desprovido de maior utilidade, só servindo mesmo à procrastinação da tutela jurisdicional, tratando-se além do mais de uma figura sem equivalente no direito processual comparado. (SOUSA, 2011, p. 131).

Contudo, há quem defenda a permanência dos embargos infringentes no sistema processual brasileiro, como exemplo, nas palavras de Sousa (2011, p. 132).

José Carlos Barbosa Moreira, que já chegou a se pronunciar contrariamente à sobrevivência dos embargos infringentes. Com base na sua experiência judicante, Barbosa Moreira mudou de ideia e passou a preconizar a manutenção do recurso, contando que houvesse restrições no respectivo cabimento, o que acabou se concretizando com a Lei 10.352/2001.

Além de Barbosa Moreira, a posição de Flávio Cheim Jorge, Sérgio Shimura, Pedro Miranda de Oliveira, Gisele Heloisa Cunha, Luiz Rodrigues Wambier, Eduardo Talamini e Flávio Renato Correia de Almeida, não são diferentes.

(SOUSA, 2011).

De fato, em análise aos embargos infringentes observa-se que só são cabíveis no caso de empate, ou seja, quanto o julgador singular julga de uma forma e tem sua sentença, a exemplo, reformada por maioria. Portanto, a soma de votos,do julgador singular com o membro da Câmara que foi voto vencido, é igual ao número dos julgadores que votaram pela reforma. Nesse sentido, justifica-se a permanência dos Embargos Infringentes, a fim de dar mais segurança jurídica aos julgados.

O discurso sustentando pelos abolicionistas é de que os embargos infringentes atrasam o curso de processo. Contudo o número de embargos infringentes nos tribunais é irrisório, até porque, quando há divergência geralmente os desembargadores acabam seguindo o voto um do outro, nesse contexto, os embargos infringentes são raros.

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Aliás, no ano de 2011 no Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul foram interpostos 1.549 embargos infringentes, que comparado aos Embargos de Declaração, que somaram a monta de 79.109, são, realmente, insignificantes. A vista disso a doutrina crítica a retirada dos embargos infringentes no novo Código de Processo Civil, pois “O ganho em termos de celeridade, globalmente falando, seria nulo. À vista dessa constatação elementar, perde sentido por completo a proposta de eliminação.” (SOUSA, 2011, p. 135).

Talvez, o argumento mais forte na defesa dos embargos infringentes está na posição adotada por Pedro Miranda de Oliveira (2003), citado por José Augusto Garcia de Sousa (2011, p. 137):

Destacamos como principal fator para mantê-los sua função de „ventilar‟ a jurisprudência, trazendo à tona os entendimentos minoritários de vanguarda. Sabemos que o processo de mudança da jurisprudência é lento. E o processo se dá de baixo para cima e não o inverso. Os entendimentos surgem, invariavelmente, no primeiro grau de jurisprudência, e começam a seduzir, aos poucos, um ou outro membro dos tribunais. Para que esses entendimentos tomem corpo dentro das cortes não podemos podá-las ainda dentro das câmaras. É necessário levá-los para órgãos que tenham um maior número de membros. E o meio pelo qual se atinge esse fim é o recurso de embargos infringentes.

O recurso, portanto, não serve apenas às partes litigantes, mas essencialmente ao contexto social, na medida em que o julgado poderá refletir na alteração do entendimento jurisprudencial.

Outra alteração proposta pelo projeto do novo CPC é a previsão expressa do Agravo Interno, que atualmente está previsto no artigo 557 § 1°8 do CPC, bem como nos regimentos internos dos tribunais. (BRASIL, 1998).

O referido agravo, aliás, assim como todos os outros recursos, terão o prazo de interposição e de resposta no prazo de 15 dias.

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Art. 557. §1°. Da decisão caberá agravo, no prazo de 5 (cinco) dias, ao órgão competente para o julgamento do recurso, e, se não houver retratação, o relator apresentará o processo em mesa, proferindo voto; provido o agravo, o recurso terá seguimento.

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Os embargos de declaração, que são utilizados para esclarecer, obscuridade ou contradição e ponto omisso sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal, é o único recurso com prazo diferenciado, sendo o mesmo prazo vigente, ou seja, de 5 dias. Há, uma nova, previsão de cabimento dos embargos de declaração que é na hipótese de existência de “erro material” na decisão.

Os embargos de declaração além de servirem para esclarecer obscuridade ou eliminar contradição e suprimir omissão, poderão ser manejados, para a correção de erro material.

Importa sinalar, que atualmente, não é necessária a interposição de qualquer tipo de recurso para a correção de erro material, bastando uma petição, conforme o disposto no artigo 463, I do CPC:

Art. 463. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la:

I – para lhe corrigir, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais, ou lhe retificar erros de cálculo; (BRASIL, 1.973)

O recurso ordinário constitucional, atualmente previsto no artigo 5399 do CPC, não sofrerá alterações significativas, sendo suas hipóteses de cabimento idênticas as atuais, quais sejam:

[...] pelo Supremo Tribunal Federal, os mandados de segurança, os habeas data e os mandados de injunção decididos em única instância pelos Tribunais superiores, quando denegatória a decisão; II – pelo Superior Tribunal de Justiça

a) Os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;

b) As causas em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País. (BRASIL, 1994).

9 Art. 539. Serão julgados em recurso ordinário:

I – pelo Supremo Tribunal Federal, os mandados de segurança, os habeas data e os mandados de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, quando denegatória a decisão; II – pelo Superior Tribunal de Justiça:

a). os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;

b) as causas em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País.

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Alteração interessante se observa no Recurso Especial e Extraordinário. Embora as hipóteses de cabimento sejam as mesmas, o projeto do novo CPC, acrescenta dois parágrafos ao atual artigo 541, sendo que um deles assim dispõe:

§2° Quando o recurso tempestivo contiver defeito formal que não se repute grave, o Superior Tribunal de Justiça ou Supremo Tribunal Federal poderão desconsiderar o vício, ou mandar saná-lo, julgando o mérito. (BRASIL, 2010).

O referido dispositivo possibilita uma maior efetividade no julgamento dos recursos especiais e extraordinários, relativizando as formalidades, primando pela análise do mérito.

Por fim, não há também modificações significativas nos embargos de divergência, que cabe quando o recurso especial divergir do julgamento de outra turma, da seção ou do órgão especial ou quando o recurso extraordinário, divergir do julgamento da outra turma ou do plenário.

Ademais, o projeto do novo CPC “cria” o Agravo de Admissão (BRASIL, 2010), que na realidade, é o chamado Agravo do artigo 544 do CPC (BRASIL, 2010).

O agravo de admissão vem previsto na proposta do novo CPC no artigo 996 (BRASIL, 2010), tem por finalidade atacar a decisão que não admite recurso extraordinário ou o recurso especial.

Assim sendo, houve alterações na sistemática dos recursos, especialmente no que tange ao Agravo, pois deixa de existir o Agravo Retido, e o Agravo de Instrumento só será cabível nas hipóteses previstas no CPC, bem como pela proposta de extinção do Embargos Infringentes.

Existindo, assim, uma clara intenção do legislador em diminuir a quantia de recursos, faz-se, mister, analisar qual o grau de litigiosidade no Estado, a fim, de apurar qual a influência, dos recursos do tempo do processo.

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2.2 A população gaúcha e sua litigiosidade

O Estado do Rio Grande do Sul é o quinto Estado mais populoso do País. Em 2010, possuía uma população de aproximadamente 10.693.929 (dez milhões, seiscentos e noventa e três mil, novecentos e vinte e nove), segundo o senso demográfico realizado em 2010 (IBGE, 2010). Perdendo apenas para São Paulo, com 41.262.199 habitantes (1°), Minas Gerais, com 19.597.330 habitantes (2°), Rio de Janeiro com 15.989.929 habitantes (3°) e Bahia com 14.016.906 habitantes (4°). (IBGE, 2010).

Esses números são interessantes se comparado ao número de processos que tramitaram no mesmo ano de 2010 na justiça estadual do Rio Grande do Sul, que chegou a 6.567.109 (seis milhões, quinhentos e sessenta e sete mil, cento e nove) processos vindos e iniciados entre Cíveis, Criminais, Juizado Especial Cível, tanto de primeiro como segundo graus. (RIO GRANDE DO SUL, 2011).

Dos seis milhões e meio de processos que tramitaram em 2010 na Justiça Estadual do Rio Grande do Sul, 5.132.580 foram em matéria cível, dos quais 4.137.961 em 1° grau e 994.619 em 2° grau (entre recursos e ações originárias). Isso significa menos de 1 processo por habitante no Estado, pois em cálculo simples chega-se a cifra de 0,61 processos per capita. Se considerar apenas matérias cíveis, o montante é de apenas 0,38 processos por habitante.

O custo da justiça estadual, no Rio Grande do Sul, conforme “Justiça em Números” do CNJ, no ano de 2010 foi de R$ 1.740.993.998, sendo que o produto interno bruto do Estado era de R$ 241.815.452.515, ou seja, 0,72%.

Observa-se, nesse contexto, que o Estado, cuja despesa da justiça estadual mais alta é a do Estado do Amapá. Considerando o PIB do referido, chega a consumir 1,80% nas despesas da Justiça Estadual, totalizando 147.374.521. (CONSELHO..., 2010).

Interessante observar que dentre os 5 Estados mais populosos do país, o Rio Grande do Sul está em 2° lugar entre os que mais gastam com o Judiciário

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Estadual, comparando-se ao valor do PIB. O Estado, perde, apenas para Bahia, que utiliza 0,81% do PIB nas despesas judiciais. O custo, por habitante, no RS, chega a R$ 158,70, enquanto em SP o valor é de R$ 121,57. (CONSELHO...,, 2010).

Portanto, observa-se que o custo com a justiça estadual não está relacionado ao número de habitantes, haja vista, que o Estado mais populoso (SP), tem um custo per capita inferior ao do RS.

O Rio Grande do Sul, também, possui o maior número de magistrados por 100.000 hab., em relação aos 5 Estados mais populosos. Possui 9,0 magistrados para cada 100.000 hab. Os demais, respectivamente, possuem: MG 8,9; SP 7,7; RJ 6,5; BA 5,4. (CONSELHO..., 2010).

No país, o maior número de magistrados por 100.000 hab. é no Estado do Acre, que possui 26,1 magistrados, e o menor é o Estado do Pará com 4,7 magistrados para cada 100.000hab. (CONSELHO..., 2010).

Por outro lado, comparado aos 5 Estados mais populosos, o RS possui menos servidores por 100.00 hab. Possui, apenas 62 servidores para cada 100.000 hab. SP, possui 103, RJ 96, BA 67 e MG 66. Quem mais possui servidores é o DF, com 223 para cada 100.000 hab. e quem menos possui é o Estado de Alagoas com 32 servidores para cada 100.000 hab. (CONSELHO..., 2010).

Não obstante, é o RS o Estado com o 2° maior número de casos novos no 2° Grau (ano base 2010), com 399.868 casos, quem detém a primeira posição é SP com 521.534 processos. Contudo, é SP, que também detém o maior número de casos pendentes no 2° Grau, com 714.100 processos. Nesse sentido, o RS, está em 3° lugar com o maior número de casos pendentes no 2° grau, com 116.024 processos. (CONSELHO..., 2010).

Sinala-se, ainda, que o RS é o 1° colocado em número de casos novos por 100.000 habitantes no segundo grau. Possui, 3.645 casos para cada 100.000hab., conforme revela o gráfico abaixo:

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Casos novos por 100.000hab. no 2° Grau.

Fonte: Conselho Nacional de Justiça, período 2010.

Também, o Estado do Rio Grande do Sul tem uma das maiores taxas de reformas das decisões recorridas. Observa-se, que 25,5% das decisões proferidas são reformadas no RS. Perde, tão somente para o Estado de Goiás e para Paraíba, que respectivamente possuem uma taxa de 38,1% e 30,5% de reformas. (CONSELHO..., 2010).

No primeiro grau, os dados não são diferentes. O Estado do Rio Grande do Sul possui a maior taxa de ações para cada 100.000hab. Em 2010, a taxa foi de 9.706 processos por 100.000hab. Conforme tabela abaixo:

Casos novos por 100.000hab. no 1° Grau.

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Verifica-se assim que o Estado do Rio Grande do Sul é, sem dúvida, o Estado com maior número de demandas por habitante, mesmo assim, tem se destacado em eficiência.

Enquanto a média nacional de congestionamento no 1° Grau é de 78%, o RS detém uma taxa de 58%. Em 2° Grau, aliás, a taxa é ainda melhor. Enquanto a média nacional é de 48,2%, no Estado, a taxa é de 24,1%. (CONSELHO..., 2010).

Portanto, mesmo a litigiosidade no RS ser significativamente maior, considerando as ações para cada 100.000hab., o Estado é detentor de uma das menores taxas de congestionamento.

Por fim, é preciso dizer que o Rio Grande do Sul, também, é o Estado que mais possui demandas contra os Entes Públicos. Tanto, como demandante como sendo demandado. Aliás, os números são assustadores, em relação aos demais Estados da Federação.

No segundo grau o Estado do Rio Grande do Sul possui 84.624 casos propostos contra os entes da administração pública, enquanto, o segundo colocado São Paulo, possui 54.263. Desses 84.624, 64.212, são contra o próprio Estado, Autarquias, Fundações e Empresas Públicas Estaduais ou Distritais. (CONSELHO..., 2010).

Em primeiro grau, no entanto, os números são ainda mais assustadores. O Rio Grande do Sul possui 502.385 ações ajuizadas contra os entes da administração pública, enquanto o segundo colocado PR possui apenas 98.162. Desses 502.385, 343.991 são contra o próprio Estado, Autarquias, Fundações e Empresas Públicas Estaduais ou Distritais. (CONSELHO..., 2010).

Está absolutamente claro, que o maior demandado no Rio Grande do Sul é o próprio Estado. Indaga-se, nesse sentido, se o próprio Estado não estaria dando razão a morosidade judiciária.

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Nesse contexto, não há dúvidas que o Estado do Rio Grande do Sul, embora tenha uma alta litigiosidade também, é o Estado que mais possui demandas ajuizadas contra si.

Assim, interessante a análise dos recursos mais manejados no Estado, a fim de analisar sua influência na demora da prestação jurisdicional. Sempre, destacando-se que o grau de reforma no RS é significativamente alto 25,5%, perdendo apenas para Goiás (38,1%) e Paraíba (30,5%).

2.3 Atividade jurisdicional de segundo grau

Ao se falar em atividade jurisdicional de segundo grau, pode-se ter a noção equivocada que se está falando apenas dos recursos que são manejados. Na realidade, a expressão abrange, também, as ações originárias do segundo grau, como as ações rescisórias.

No presente trabalho, todavia se dará atenção, quase exclusiva, aos recursos, ou seja, desconsiderar-se-á as ações originárias do 2° Grau.

Os recursos previstos no Código de Processo Civil, bem como os previstos no projeto do novo Código de Processo Civil são praticamente os mesmos, cabendo, então, uma análise acerca da atividade jurisdicional de segundo grau, a fim de analisar que recursos são mais utilizados.

O que tem causado espanto é que entre os recursos cíveis foram iniciados no ano de 2010 702.779 (setecentos e dois mil setecentos e setenta e nove mil), sendo que terminados no mesmo ano foram 643.979. Significa dizer que o Tribunal de Justiça no ano de 2010, terminou menos recursos cíveis do que foram interpostos. A bem da verdade é que desde o ano de 2001, só em 2003 e em 2007, o Poder Judiciário do Rio Grande do Sul recebeu menos recursos do que foram terminados.

Em primeiro grau não é diferente. Foram iniciados 1.282.951 (um milhão duzentos e oitenta e dois mil novecentos e cinqüenta e um) processos cíveis e

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terminados 1.114.979 (um milhão cento e catorze mil novecentos e setenta e nove) processos.

Portanto, tanto em primeiro grau como em segundo grau o número de processos cíveis iniciados tem sido maior do que o número de processos terminados em matéria cível.

Surpreendentemente no ano de 2011 esse quadro mudou, pois foram menos recursos iniciados do que julgados. Em 2011 foram iniciados 633.144 (seiscentos e trinta e três mil cento e quarenta e quatro) recursos, tendo sido terminado 691.835 (seiscentos e noventa e um mil oitocentos e trinta e cinco) recursos.

O desembargador Leo Lima, em entrevista, assim afirmou, com relação ao novo código de processo civil:

Está tramitando o novo Código de Processo Civil, que é o aperfeiçoamento do nosso instrumento de trabalho. O processo tem que ser aperfeiçoado no sentido de possibilitar a agilidade da prestação jurisdicional, tem de dar maiores condições para o juiz, especialmente o de primeiro grau, tem de valorizar as decisões dessa instância. O juiz que está na ponta, mais próximo dos fatos, e que tem melhores condições de aquilatar a solução de cada controvérsia que é apresentada ao Judiciário. (CHAER, 2011, p. 2).

Para o desembargador o novo código de processo civil deve atribuir mais responsabilidade ao julgador de primeira instância, a fim de que a parte não possa recorrer de toda e qualquer decisão.

No Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul observa-se uma tendência do número de recursos interpostos ser maior do que o número de recursos terminados em um ano, mesmo assim o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul tem sido considerado um dos mais céleres.

Os números da última pesquisa Justiça em Números, do CNJ, não deixam dúvidas sobre quem deveria levar o troféu de “melhor tribunal do Brasil”, se essa eleição existisse. O TJ-RS ostenta uma das menores taxas de congestionamento, ou seja, de processos que não

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