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Cidades e sertões, (páginas de história e geografia do Brasil)

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Gayeté

(Montaigne, Des livres)

E x L i b r i s

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BIBLIOTECA MILITAR

(Creada pelo Decreto n. 1 .748. de 2 6 de Junho de 1937 e reorganizada pelo Decreto n. 3.213. de 2 6 de Outubro de 1 9 3 8 )

C O M I S S Ã O D I R E T O R A :

Efetivos:

Ceneral V. BENICIO DA SILVA, presidente

C o r o n e l FRANCISCO DE PAULA CIDADE

C o r o n e l EMÍLIO FERNANDES DE SOUZA DOCA Ten. Cel. JOSÉ DE LIMA FIGUEIREDO (ausente)

C a p i t ã o SEVERINO SOMBRA DE ALBUQUERQUE (ausente) LUIZ EDMUNDO

CARLOS MAUL

Suplementares:

Ten. Cel. RAFAEL DANTON CARRASTAZÚ TEIXEIRA C a p i t ã o LUIZ FLAMARION BARRETO LIMA

OSVALDO ORICO

C a p i t ã o TASSO DE MORAIS RÊCO SERRA — secretário

l.°Ten. I. E. FELISBERTO NUNES VILHENA FILHO — tesoureiro

SÉDE PROVISÓRIA:

4.° andar do Edifício Novo

Praça da República

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B I B L I O T E C A M I L I T A R

VOLUME X L

C i d a d e s

t

e r t o e s

(Paginas de história e geografia do Brasil)

Ten. Cel. L I M A FIGUEIREDO

1 9 4 1

G R Á F I C O S B L O C H 26, Vise. da Gávea, 28-RIO

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A o s meus amigos

G e n e r a l Valentim Benício da Silva Coronel Euclides Zenóbio da Costa

Major Oscar Rosas Nepomuceno da Silva Capitão José Pinheiro de Ulhôa Cintra,

dedico este livro, com o meu imorredouro reconhecimen-to, pelo apoio que me dão em todos os momentos em que experimento o lado ruim da vida, animando-me, encorajando-me e ajudando-me a vencer.

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OBRAS DO MESMO AUTOR :

GRANDES SOLDADOS DO BRASIL — Prefácio do

General V. Benício.

LIMITES DO BRASIL — Prefácio do General Meira de

Vasconcelos.

OÉSTE PARANAENSE — Premiada pelo Touring Clube

do Brasil.

TERRAS DE MATO-GROSSO E DA AMAZÔNIA.

ÍNDIOS DO BRASIL — Prefácio do General Rondon.

INSTRUÇÃO DE TRANSMISSÕES — Prefácio do

Ge-neral Amaro S. Bitencourt.

TRANSPOSIÇÃO DOS CURSOS DÁGUA — Prefácio

do Coronel Heitor Bustamante.

O ACRE E SUAS POSSIBILIDADES — Ensaio.

O PRINCIPIANTE DE RADIO — Esgotado.

SINALIZAÇÃO A BRAÇOS E ÓTICA.

EM PREPARO :

CHINA — IDA E VOLTA.

NO JAPÃO FOI ASSIM ...

HISTÓRIA DA ARGENTINA PARA USO DOS

OFI-CIAIS BRASILEIROS.

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SANTA MARIA DA BOCA DO MONTE

B

ELA e boa como a santa que lhe deu o nome, a cidade de Santa Maria se senta no domo de ondulantes elevações, balizando, aos viajantes que vêm da planície, o caminho da serra com seu casario branco, donde se destaca a pomposa ca-tedral com seus coruchéus aprumados dorninando a s circun-vizinhanças.

No céu se esbatèm os contornos caprichosos da serrania, quando não estão cobertos pela serração que são os véus — uns espessos, outros vaporosos — das ninfas que bailam na ampli-dão do Olimpo... O sol esquenta e raivoso despeja, sobre aquele cenário encantador, seus raios quentes e dourados — é a deban-dada das ninfas que, assustadas, fogem para o infinito suspen-dendo, umas rápidas, outras vagarosamente, a s pontas dos véus que beijavam a terra... E lá vão eles levados pelos ventos, mo-vimentando-se daqui para ali, como se acompanhassem o movi-mento donairoso das suas celestiais possuidoras. A dança das nuvens é um tênue lampejo, que chega a nós, da fúria ou da alegria dos deuses . . .

Firmando-se uma ponta de compasso em Santa Maria, com a outra quasi que se pode circunscrever todo o Estado do Rio Grande do S u l : Santa Maria ó seu centro geográfico. Por êsse motivo tornou-se êsse importante centro de população um notá-vel nó ferroviário.

De todos os quadrantes chegam trens confortáveis, que dão vitalidade, alento, energias novas ao povo laborioso que, no amanho das terras ou no tratamento dos rebanhos, peleja,

deste-merosamente, pela grandeza de nossa terra. Dista Santa Maria, segundo a linha férrea:

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— 534 kms. de Marcelino Ramos; — 374 kms. de Uruguaiana;

— 280 kms. de Santana; — 602 kms. de Rio Grande.

S u a altitude é de 140 metros, ficando e l a bem no terreno d e transição entre a c a m p a n h a puramente platina e o acidentado relevo brasileiro. Consequentemente o c l i m a é adorável e ali s e congregam agricultores e pastores tão separados p e l a bem

cara-cterizada morfogenia do Estado.

H á matas que, após a derrubada, oferecem u m a terra ubéc-rima abençoada por Pomona. H á campos não tão puros e limpos como o do verdadeiro tapete fronteiriço de sudoeste, m a s eivados de hervas daninhas como o alecrim, o cascarejo, a b a r b a de bode, etc. Todavia a vontade do gaúcho os transforma e os re-banhos vão crescendo sempre.

E' Santa Maria a sentinela vigilante que guarda a entrada d a serra de São Martinho. A expressão, aliás, bem luzitana "boca do monte", deixa transparecer ter sido o local escolhido por um soldado que s a b i a ajuizar d a capacidade defensiva oferecida por um terreno.

Até 1797 todos os arredores d a grande cidade e r a m cam-peados por tribus arborícolas. Barrando o avanço jesuítico-castelhano, acampou, nesse ano, no bombeante chão de S a n t a Maria, uma bem a r m a d a força do exército reinol. E m torno do acampamento foram surgindo a s c a s a s e nascendo os mamelu-cos, filhos dos soldados lusos com a s graciosas selvícolas de tez iodada.

A excelência d a p a r a g e m voou longe... E m 1805 José An-tônio de Siqueira obteve u m a sesmaria, instalando-se n e l a com s u a numerosa família. Atrás d e s s a concessão outras foram feitas e ano a ano c h e g a v a m famílias de além-mar que traziam, n a

cabeça, planos de riqueza muito maiores do que os sacos que carregavam às costas. O povoado i a n u m a série crescente pro-metedora . . .

M a i s tarde vieram alemães. V i e r a m t a m b é m italianos. E, pingando grosso, com todas a s levas p a r a aquele rincão, v i n h a o sangue do africano, do negro que a l m e j a v a a liberdade e não o ouro, do escravo que s e estiolava n a faina do campo s e m ter, ao menos, a esperança de dias melhores . . .

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C I D A D E S E S E R T Õ E S l i

Em passeio aos domingos na moderna praça Saldanha

Ma-rinho alegrada com as notas sonoras de uma banda de música

militar, pode-se ver a confusão de raças e sentir-se o

caldea-mento profundo dos sangues daqueles que pelejaram pelo

en-grandecimento daquela terra. Quasi não se vê um negro retinto.

Surge um tipo bonito — moreno suave, de olhos brejeiros, sorriso

alegre, cabelo oridulante . . .

Os degraus da hierarquia foram galgados rapidamente: a

17 de Novembro de 1837, Santa Maria era, por lei provincial,

guindada à categoria de freguezia; a 17 de Dezembro de 1857,

tornou-se vila e atingiu a ordenada máxima — cidade — em 6

de Abril de 1876.

Quatro bairros — Itararé, Vila Rica, Alto da Eira e Aldeia —

são ligados por ruas largas e bem calçadas por onde correm

céleres confortáveis auto-ônibus sempre pejados de passageiros.

Atestando o grau de cultura dos habitantes existem quatro

livrarias bem sortidas e instaladas — a livraria é a alma das

cidades!

O alemão gosta de chopp, o italiano e o português de vinho,

o mestiço topa tudo, surgindo daí a necessidade de "bars", de

fábricas de cerveja e vinhos. Em casas confortáveis come-se e

bebe-se bem, tão bem como os europeus nas grandes cidades.

Não há falta: nem de "bars", nem de hotéis, nem de

res-taurantes . . .

Os mortos ilustres da terra também recebem ali, o preito de

gratidão do povo. Várias são as hermas colocadas nos pontos

mais floridos da cidade. Dentre todas destaco a do bravo

Coro-nel João Niederauer Sobrinho, o impávido comandante da Guarda

Nacional de Santa Maria da Boca do Monte. Ao estalar a guerra,

em 1864, partiu com sua gente para lutar até morrer, em Vileta,

em conseqüência de um ferimento recebido na diluvial batalha

de Avaí, em 11 de Dezembro de 1868.

Desde que os marcianos assentaram o pé naquele rincão, de

lá nunca mais saíram. O acampamento primitivo acompanhou

a evolução da cidade e hoje Santa Maria é séde de uma Brigada

de Infantaria e os quartéis do 7

o

R. I . e do 5

o

R. A. M. não

envergonham a arquitetura citadina. Pela afabilidade com que é

tratado o soldado, sente-se que aquele povo ama a farda e não

se esqueceu de que um acampamento militar foi a semente

da-quela bonina encantadora . . .

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Entre os costumes interessantes há o seguinte, que me fez lembrar do autor do "Rio de Janeiro no tempo dos Vice-reis", o festejado poeta historiador Luiz Edmundo. Tenho certeza de que ele vendo o que v i classificaria aquilo de casmurrice lusitana. A cidade tem estátuas, livrarias, "bars", hotéis, ruas calçadas, praças ajardinadas, quartéis modernos, clubes, fábricas . . . Apesar-de tudo isto, pela m a n h ã e à tardinha, perambulam, pelas ruas, v a c a s leiteiras, berrando pelos " m a m õ e s " que v ê m atrás cabriolando, puxadas por um indivíduo. Francamente, este cos-tume de uma singeleza campesina não está de acordo com o adeantamento d a cidade que, em c a d a esquina, tem um inspetor

de veículos p a r a regular o tráfego. O contraste é chocante. * * *

i

A cidade adianta-se e muito progredirá ainda sob a

prote-ção d a Virgem Santíssima que lhe deu o nome e que, do alto d a s u a sublime morada, zela pelo s e u destino com inegualável carinho.

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SÃO PAULO — A Capital do progresso

mm L G U E M definiu São Paulo como u m a locomotiva que reboca X A 2 1 carros vazios. N ã o concordei com a idéia. Todavia se re-presentarmos o Brasil n u m a máquina de 22 engrenagens a mais potente e a de maior rendimento seria a figurada por S. Paulo.

A s grandes industrias, os grandes ideais, os grandes em-preendimentos surgem e tomam vulto rapidamente, n a famosa Piratininga. E daí s e propagam com velocidade meteórica por todo o país, atingindo até a s regiões estremenhas. Por isso não

erramos cognominando a grande capital bandeirante — a capital do progresso, ou melhor, o berço do dinamismo brasileiro.

Desde os priscos tempos coloniais S, Paulo, q u a l u m a antena poderosa, irradiava bandeiras p a r a a s regiões mais longínquas e incognoscíveis. Hoje do vale do Tamanduateí não partem ca-çadores de ouro, de pedras e de índios, m a s propugnadores ovan-tes do direito, d a lei e do progresso d a nossa grande pátria. Ban-deirantes de antanho espicharam enormemente a s nossas fron-teiras; paulistas de hoje, honrando a s tradições dos avoengos, procuram safar o pais d a crise hedionda que sufoca o mundo, lutando em prol do ressurgimento d a s nossas possibilidades eco-nômicas e financeiras, enfrentando com energia os problemas vitais de que dependem a nossa liberdade das m ã o s de ferro dos banqueiros alienígenas. E no final o problema é o mesmo : — o ouro. Ontem, ouro p a r a a s bruacas surradas dos conquistado-res; hoje, ouro a m ã o s cheias p a r a os cofres luzídios dos pode-rosos argentários.

De São Paulo caminham a s idéias avançadas. E m São Paulo se forjam a s molas mais seguras do progresso. P a r a São Paulo convergem a s esperanças do resto do Brasil.

Depois de 12 horas de marcha, o trem de ferro vence a dis-tância que separa a s duas cidades mais importantes do país: — Rio de Janeiro e São Paulo.

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A o aproximar d a Paulicéa já s e v a i notando o íácies ondu-lado do terreno onde e l a se ergue e o espírito dinâmico que sus-tenta aquele povo másculo — listras vermelhas de estradas e caminhos que rasgam o sólo em direções várias; c a s a s isoladas, aldeias, vilas, pequeninas cidades semeadas a q u i e a l i a o longo da ferrorvia; pomares, chácaras, campos cultivados, carretas, carros, autos e caminhões que procuram apressados a cidade imensa.

Surgem depois irristados p a r a a amplidão, os coruchéus pon-teagudos d a s igrejas, a s chaminés íumegantes d a s fábricas e o casario branquejante d a colméa gigantesca.

A locomotiva, arfando vitoriosa, pára: — é a estação do Norte. Azáfama. Confusão. Carregadores, hoteleiros, motoristas, uns falando o português, outros arengando u m palavreado luso-italiano.

O s autos correm céleres. O s bondes confortáveis cruzam e m todos os sentidos. A s r u a s e a s avenidas s e a l i n h a m acompa-nhando a s gibosidades do terreno, como s e representasse u m gráfico estatístico. E s s a s ondulações durante a noite oferecem ao forasteiro um panorama magnífico, graças aos anúncios lumi-nosos que surgem inesperadamente ao espectador, a s s i m que êle galga a crista de u m a dobra do terreno. O s prédios parti-culares, os edifícios públicos, a s c a s a s comerciais exibem linhas atraentes, fachadas moderníssimas variando do mais antiquado estilo até ao cubista — bizarro futurismo d a arquitetura. C o m o

sucede n a s grandes cidades neste século utilitário, o limite a atingir se a c h a no infinito e êles sobem, sobem, sobem como a torre de Babel. Por enquanto o Martineli está a cavaleiro dos demais.

O comércio é um encanto. H á de tudo, p a r a tudo e p a r a to-dos — é só imaginar.

O poviléu formiga n a s ruas. No triângulo, elegância. N a s outras vias públicas, movimento, negócios, preços do café, cota-ção do algodão, bolsa... No triângulo e n a a v e n i d a S. João, a s

cigarras; n a s outras, a s formigas e a s a b e l h a s .

O s jardins e os parques geometricamente traçados, encantam de chofre. O Viaduto do Chá, fadado a desaparecer, permite que se observe um belo jardim e que s e espráie a vista pelo v a l e histórico do A n h a m g a b a ú .

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C I D A D E S E S E R T Õ E S 15

O s passeios são inúmeros, porém um não pode ser esque-cido : o do Instituto Butantan. Deve ser visitado p a r a aquilatar-se do g r a u de adiantamento e do esforço empregado pelos dirigen-tes e m pról d a humanidade. O visitante diverte-se, instrue-se e torna-se u m propagador do exemplar e benemérito estabe-lecimento .

A represa de Santo Amaro, o parque d a Aclimação, o jardim de Santana, o jardim d a Luz são locais aprazíveis onde s e pode gozar a s delícias d a v i d a a o a r livre.

* * *

• JOÃO RAMALHO casou-se com uma filha de Tibiriçá, um

dos chefes dos Goianases, e residia nos campos de Piratininga. Utilizando-se de s u a inteligência, m a n o b r a v a com a amizade dos índios em proveito próprio.

Conseguiu Ramalho, de T o m é de Souza, a autorização de fundar, onde habitava, u m a vila com todos os privilégios ineren-tes, a qual se c h a m a r i a V i l a de Santo André, sendo êle, Rama-lho, o Alcaide M ó r .

O s campos de que falámos receberam a denominação de Piratininga e m virtude de serem rasgados pelo rio do mesmo nome que deságua no Tietê, e que depois d a s cheias deixava cozinhando ao sol, grande quantidade de peixes daquele nome.

O padre Manoel d a Nóbrega, que acompanhara T o m é de Souza, primeiro Governador G e r a l do Brasil, resolveu transferir de São Vicente p a r a Piratininga o colégio de jesuítas e p a r a isso escolheu u m a elevação entre os arrôios Tamanduateí e

Anhan-gabaú, a três léguas de Santo André. Calhando s e r a primeira missa celebrada no d i a em que s e comemorava a conversão de São Paulo, recebeu o local o nome do Santo.

A contragosto de Ramalho, Nóbrega conseguiu de Mem de Sá, terceiro Governador G e r a l do Brasil, a transferência do pelourinho p a r a São Paulo, sob o pretexto de que Santo André, s i -tuada n a extremidade do campo, estava exposta às invasões dos selvícolas que s e infiltrassem pela mata próxima.

Foi assim que surgiu a formidável capital dos bandeirantes, talhada a servir de berço a gigantes pela valentia, pela energia, pela cultura e pelo direito.

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Qualquer que s e j a a direção, em território brasileiro, s e en-contram a s pegadas dos bandeirantes, que com arrojo souberam dilatar os horizontes d a pátria. E o povo de São Paulo n u n c a deixou de ser bandeirante. Outrora êle sobraçava a bandeira d a conquista, em busca d a s brenhas d a Amazônia, do chapadão dos Parecís, das cataratas do Guaíra e dos pagos gaúchos; hodier-namente êle carrega a bandeira d a liberdade e do direito.

O s bons fados orientam a história paulista. E quis o destino obrigar o nosso primeiro imperante, o valoroso. D. Pedro I, a executar uma c a v a l g a t a extenuante, abalançar-se do Rio a São Paulo, sacudindo-se num corcel, p a r a às margens do preguiçoso Ipiranga, soltar o memorável grito de "Independência ou Morte!" * * *

São Paulo, berço dos desbravadores do nosso "hinterland"

e formadores d a nossa expressão territorial. São Paulo, cenário da nossa independência política. São Paulo, capital do pro-gresso . E u te saúdo, impetrando ao Onipotente que o grito d a nossa liberdade financeira parta, também, d a s tuas p l a g a s abençoadas.

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O nascimento da C I D A D E M A R A V I L H O S A

^ ^ O M O um largo estuário, a b a r r a d a baía s e e s c a n c a r a v a a o s navegantes oferecendo um abrigo seguro e belo. E m compri-d a s pirógas os tréfegos tamóios cruzavam a s águas compri-d a Guana-bara, visitando a s inúmeras ilhas pitorescas, que de verde

pon-tilhavam aquele vasto manto azulado. C o m esses aborígenes h a v i a m os franceses feito profunda amizade. Num d i a de sol es-caldante, com a s velas enfunadas p e l a brisa marítima surge a

nau que Nicolau Durand de Villegaignon — embrião d a futura cidade que pelos seus encantos maravilhasse a todos os que aqui aportassem. A-pesar-da amizade do gentio, achou o expe-rimentado marinheiro que numa ilha ficaria em melhor seguran-ça e, mostrando ser u m admirador d a prudência, estabeleceu-se

num rochedo liso que, como u m a vedeta, vigia a majestosa en-trada d a barra. Recebeu o penhasco o nome de Ratier e muito mais tarde foi transformado n a atual fortaleza d a L a g e como prova insofismável d a acertada escolha do marujo francês. Ville-gaignon não previra, a-pesar-de ser s e u eterno companheiro, a s artimanhas de Netuno, que, num d i a de briga com suas ninfas, fez crescer assustadoramente a s águas, ameaçando tragar de u m jato o rochedo e todos os seus habitantes. Com tempo safou-se o chefe alienígena e abandonando o arremedo de fortificações que já h a v i a levantado foi buscar alívio em outra ilha — a de Sere-gipe — onde aliado ao pictórico êle encontrara maior estabili-dade p a r a suas ações futuras. E m p e n a c h a d a por mimosas pal-meiras, a interessante ilha ostentava para amplidão duas eleva-ções à guisa de dois imensos e pujantes sêios. Lembrando-se de Coligny, s e u protetor junto ao rei, deu o s e u nome ao forte que naquele sublime recanto a c a b a r a de erguer. Animado pelo espí-rito d a mais cega justiça em relação aos ameríndios, Villegaignon conquistou com facilidade o coração de todos êles, contando em qualquer eventualdiade com gente animada e disposta p a r a

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de-fender o desenvolvimento d a s u a sonhada França Antártica. Consoante a s promessas feitas pelo navegante francês e m s u a pátria, esta colônia seria um refúgio dos calvinistas que em s e u torrão encontrassem a perseguição e a morte a rondar-lhes a s cabeças. A s s i m foi que p a r a cá vieram sacerdotes, homens e algumas mulheres como elementos formadores d a futura cidade francesa. O progresso b a f e j a v a o empreendimento de Ville-gaignon que aumentava, d i a a dia, s e m que os portugueses to-massem u m a medida, contra os intrusos. Favorecendo a o s lusos decidiu um m a u pensamento de Nicolau Durand. E r a um egó-latra o navegante gaulês e não permitia que, em qualquer assun-to, houvesse u m a opinião contrária a s u a . E, pautando-se nesse

procedimento, transmudou-se em perseguidor dos protestantes, afugentando todos os que pensaram encontrar nesta terra virgem um solo adubado p a r a enterrarem a s sementes d a s s u a s idéias religiosas. C o m Deus a n d a v a m os lusos nestas p l a g a s brasilei-ras. Despertaram p a r a guerrear os franceses, justamente n a oca-sião em que a dissídia e a intriga s o l a p a v a m profundamente o prestígio e a autoridade de Villegaignon, implantando no sêio d a s u a gente a indisciplina e o ódio. O terceiro governador geral,

o dinâmico Mem de Sá já viera d a corte com a pulga atrás d a orelha. Aqui chegado, tratou incontinenti d e desalojar os atre-vidos que h a v i a m se estabelecido em terras d a corôa de Por-tugal. F o i feliz no intento e durante dois dias e duas noites a s u a gente investiu com coragem inaudita contra a s muralhas de pedra erguidas pelos franceses que quebravam o ardor belicoso dos atacantes, do mesmo modo que arrefeciam a fúria do m a r em dias de ressaca.

A p ó s a fuga dos gauleses, iniciou-se a obra de devastação. Tudo foi demolido e quabrado, desde que não pudesse ser trans-portado n a s naves p a r a o porto de Santos como foi feito, aliás, com a artilharia e a s provisões aprisionadas. N ã o foi, contudo, a sorte de Mem de Sá completa. Naquela época achava-se e m França o chefe principal que, como novos reforços, v i n h a e m auxílio d a colônia que com tanto mimo estabelecera. M a l os

sol-dados de Mem de S á deixaram a fulgurosa baía, c h e g a v a a gente de Villegaignon disposta a fazer surgir dos escombros a cidade que sonhara. N a expedição l e v a d a a efeito s e convencera Mem de Sá de que a fôrça dos intrujões, como êle os chamava, resi-dia n a amizade e nos arcos possantès dos tamôios. E assim

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pen-C I D A D E S E S E R T Õ E S 19

sando tratou de obter o auxílio desses ameríndios valentes, o que foi conseguido não com pouca dificuldade, pelos incansáveis Nóbrega e Anchieta no interessante e poético armistício de Iperoig. C o m a s pazes feitas com os tamôios, zarpou de Bertioga no d i a de São Sebastião u m a expedição comandada por Estácio de Sá.

Com a velocidade de quelônio movimentou-se a expedição, pois só a 6 de março do mesmo ano — 1565 — abicou n a V i l a Velha, perto do Pão de Açúcar, entrincheirando-se entre êsse morro e o d a U r c a . Pequeninas refregas, emboscadas e combates isola-dos, caracterizaram a permanência de Estácio de Sá naquela réstea de terra pelo espaço de 24 longos meses. Por influência do denodado Manoel d a Nóbrega, resolveu-se Mem de Sá ir em pessoa conquistar o Rio de Janeiro e com respeitáveis reforços aqui chegou aos 18 de Janeiro de 1567. E s t a v a escrito no livro do Destino que o nome do milagroso santo guerreiro — São Se-bastião — constasse d a fundação d a nossa cidade; p a r a isso foi aguardado o d i a 20 p a r a dar-se início à arrazante ofensiva. De assalto em assalto a ousada gente de Mem de Sá ocupou o forte do líruçumiri e em seguida varreu os inimigos d a fortaleza d a ilha do Paranapucuí (atual governador), obrigando aos france-ses a, de cambulhada, procurar seus navios e, com celeridade, dar a s costas à majestosa G u a n a b a r a .

F i n d a a refrega, ainda quentes pelo ardor e p e l a alegria d a vitória, todos tiveram que lamuriar a morte de Estácio de Sá, abatido por uma flecha certeira durante os momentos empolgan-tes do combate. Desta feita não foi Mem de Sá dormir sobre os louros em São Salvador — resolveu êle próprio transmudar em realidade o sonho de Villegaignon. Soldados jesuitas e índios, afanosamente, levantavam fortificações nos dois lados d a b a r r a e abriam c a s a s destinadas ao clero e ao povo. Foi Salvador Cor-reia de Sá nomeado capitão M ó r d a nóvel cidade e com soleni-dade empossado no elevado cargo. O governador entregou ao alcaide-Mór d a cidade a s chaves d a mesma. Êste entrou, fechou a s portas d a cidade, aferrolhando t a m b é m os dois postigos. De-pois de tudo bem trancado, o alcaide-mór chamou pelo coman-dante que ficara do lado de fora, indagando quem e r a .

— Sou o comandante desta cidade de São Sebastião, em nome d'el-rei, e desejo nela entrar — respondeu Salvador Cor-reia de Sá.

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A s portas abriram-se e, pomposamente entrou o séquito do governador d a cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro.

A verdejante e selvagem ilha de Seregipe que Nicolau Du-rand Villegaignon escolheu p a r a abrigar o forte Coligny, foi in-contestavelmente, o berço d a magnífica capital do Brasil.

A s amazonas, p a r a poderem manejar o arco, d e c e p a v a m o seio direito. P a r a montar os 54 canhões de u m forte, o ínclito Gomes Freire de Andrade mandou aplainar a mimosa ilha, ampu-tando-lhe os dois seios que tanta beleza lhe emprestavam.

Hoje, com o nome do marujo francês, a pequena ilha serve de séde à Escola Naval, onde se educa a radiante mocidade a quem está confiada a defesa dos verdes mares do Brasil.

(25)

A NOVA CAPBTAL DE COIAZ

N

O A N O de 1670, Bcrrtolomeu Bueno — alcunhado Anhanguera, o diabo velho, em companhia do s e u filho do mesmo nome, que contava a p e n a s 12 anos de idade, acampou às margens do rio Vermelho, afluente do A r a g u a i a .

C a m p e a v a n a região a tribu dos Goiases, de onde o Estado tirou o nome. Notou o sertanista que os índios possuiam peda-ços de ouro apanhados nos rios das sercanias e, p a r a intimidá-los, derramou aguardente n a r e l v a e lançou-lhe fogo. G a n h o u com este estratagema o respeito dos selvícolas, que temiam o incên-dio dos rios pelo A n h a n g u e r a enraivecido.

Animado com a s auríferas descobertas em Cuiabá, Bartolo-meu Bueno Filho, já com mais de 60 anos no costado, propôs ao Governador Rodrigo César de Menezes fazer u m a batida, atrás do ouro, nos sítios que v i r a em criança, quando a n d a v a n a alhe-ta do p a i .

Durante três anos Bartolomeu errou p e l a mataria insondável s e m topar com um único lugar s e u conhecido de infância. Vol-tou a São Paulo derrotado, esfaimado, abatido, porém animado de u m a inabalável esperança de encontrar os locais que tão anciosamente buscara.

A-pesar-do malogro d a primeira expedição, o governador deu-lhe aso p a r a uma desforra, permitindo-lhe que empreendesse u m a segunda viagem.

Foi desta feita mais feliz. Aprisionou dois Goiases que o guiaram até o sítio onde estivera meio século atrás.

Atufou de ouro, apanhado aos punhados, os surrões que le-v a r a e regressou aos campos de Piratininga onde foi agraciado com o pomposo título de capitão mói d a novel colônia que êle deveria fundar.

Sob a proteção de São João Batista foi eregida a localidade que crescia desmedidamente, à proporção que novas minas e fi-lões i a m sendo descobertos.

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De tal modo floresceu a colônia recenfundada que quasi to-dos os habitantes de Cuiabá emigraram p a r a Goiaz, onde soia en-contrar-se ouro até nos caminhos e que f i c a v a muito mais próxi-m a de São Paulo.

Enquanto a indústria do ouro foi rendosa, a cidade prospe-rou. Todavia, à medida que a s dificuldades aumentavam n a pes-quisa do fino metal, a cidade fenecia como o vegetal plantado em terreno estéril.

A este respeito escreveu o ínclito e erudito sertanista Couto de Magalhães: "A situação de Goiaz e r a b e m escolhida quando a província e r a aurífera; hoje, porém, quando está demonstrado que a criação do gado e a agricultura v a l e m mais do q u e quanta mina de ouro há p e l a província, continuar a capital aqui é con-denar-nos a morrer de inanição, assim como morreu a indústria que indicou a escolha deste lugar.

A s povoações foram formadas a esmo: a economia política era uma ciência desconhecida, de modo que o govêrno, a i n d a que quisesse, não poderia dirigir com acêrto essas escolhas; hoje, porém assim não é. U m a população de cinco m i l homens,

colo-cada em u m lugar favorável, pode d a r rendimento equivalente a um conto de réis por pessoa, a o ano."

Mais adiante a s s e v e r a : "O comércio aqui vive exclusiva-mente à custa dos empregados públicos e d a fôrça de linha. O s meios de transporte são imperfeitos, a situação d a cidade, encra-v a d a entre serras, faz com que s e j a m péssimas e de difícil trân-sito a s estradas que aqui chegam. E m u m a palavra, Goiaz não só não reúne a s condições necessárias p a r a u m a capital, como ainda reúne muitas p a r a ser abandonada."

Estava o dinâmico general assoberbado p e l a idéia de fazer ' a vida de Goiaz pelo Araguaia, v i a Belém do Pará. O s e u grande problema e r a a navegação do majestoso afluente do Tocantins

que aliás, segundo alguns autores, é o rio principal.

P e n s a v a Couto Magalhães que a navegação do Rio que apar-ta os territórios goiano e matogrossense, e r a a c h a v e do tesouro daquelas plagas. E por isso êle desejou transferir a capital d e Goiaz p a r a a s ribas do A r a g u a i a ; mandou conduzir navios do rio Paraguai através sombrios caminhos; e, certa ocasião, vendo que um vapor não v e n c i a a corredeira, puxou o revólver e orde-nou que o maquinista desse a pressão m á x i m a n a c a l d e i r a . A

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C I D A D E S E S E R T Õ E S 23

embarcação enfrentou o obstáculo e venceu-o. Por pouco o navio não foi pelos ares com u m a explosão n a caldeira.

Do sonho fantástico de Couto Magalhães, atualmente, só restam os cascos dos navios enterrados n a s p r a i a s a r a g u a i a s e montes de ferros desconjuntados atravancando alguns portos. A idéia de fazer Goiaz respirar por Belém foi afastada.

O s atuais dirigentes procuram contacto com o Estado ban-deirante. A o meu ver, pensam acertadamente.

O s Estados de Mato-Grosso e Goiaz e a zona oéste do Pa-raná, p a r a s e desafogarem, têm que fazer s e u comércio por São Paulo.

S. Paulo é u m poderoso polo de onde outrora partiam linhas de força p a r a a conquista d a terra — a s bandeiras; hodierna-mente atrai através d a s u a trama apertada de estradas, os inte-resses dos estados limítrofes.

A s s i m julgando, os homens de govêrno de Goiaz elegeram p a r a n o v a capital Goiânia, que fica a hora e m e i a d a estrada de ferro.

A situação d a futura capital goiana é ótima: — está situada em lugar alto e de fácil acesso a todos os municípios do Estado. Transformando a idéia e m realidade, o atual governador pro-videnciou numerário suficiente p a r a a edificação d a cidade. A s obras cresceram diariamente: — os edifícios públicos já se a c h a m concluídos, assim como os hotéis e a s residências dos funcionários.

Q u e m por aquele local passou h á pouco, s i lá agora voltar verá tudo transmudado como em fita de cinema.

E' mister que os goianos não desanimem, deixando a obra e m meio. E, como u m exemplo digno de ser imitado, cito a m u d a n ç a d a capital mineira de Ouro Preto p a r a Belo Horizonte. E m pouco tempo a belíssima cidade horizontina progrediu tanto que, hodier-namente, pode ser considerada como u m a das principais do Brasil.

Que os goianos s e fixem n e s s a idéia e a levem de vencida enérgica e rapidamente, são os anseios de todos que palpitam por u m Brasil melhor.

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BELO HORIZONTE — A Cidade Recém-nascida

' fi T T^-MOS deixar como está para ver como fica — é o ditado \ f que traduz o pseudo espírito de rotina do mineiro.

N ã o sei como apareceu esta mentira, porque basta visitar o alteroso Estado central p a r a ver-se o progresso em todos os quadrantes.

N a história, temos o exemplo de Tiradentes, o precursor d a nossa liberdade política. S u a ação heróica, desde que a idéia sublime cintiiou no s e u cérebro até a ocasião em que enfrentou a corda que lhe d e v i a apertar a garganta, mostra que êle não concordava com o "vamos deixar como está".

Belo Horizonte, a cidade recém-nascida, como a chamou Ma-noel Bernardez, — o ínclito uruguaio que s e dedica de corpo e a l m a às cousas do Brasil — é prova c a b a l de que o mineiro ó u m amigo do progresso. A p e n a s com 40 anos de existência, já é u m a metrópole considerada entre a s primeiras do nosso vas-to país.

Depois de 605 quilômetros de percurso, o trem se aproxima e vê-se surgir a cidade mimosa e linda "como u m a bela jovem camponesa, reclinada a rir sôbre o colo suave d a s suas colinas. sob o pálio de festa de um céu todo celeste, de u m a diafanei-dade milagrosa.

De início, o lugar onde se assenta a bela cidade foi o "Curral dei Rey", onde vinha reunir-se p a r a matança e venda, o gado roliço d a serra d a Mantiqueira.

Ouro Preto, a antiga capital, com suas relíquias e suas cons-truções apertadas entre a rocha d a serra, não permitia que a cidade s e alargasse e s e modernizasse como e r a conveniente.

O povo montanhês mostrou, com a m u d a n ç a d a capital do seu Estado, o espírito progressista que o anima. Deixou a cidade, onde Dias de Oliveira descobriu ouro capaz de atufar o tesouro luzitano, com a tradição e começou a delinear o traçado d a fu-tura metrópole no Curral d e i R e y . . .

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Ficou Ouro Preto como um verdadeiro museu de s a g r a d a s rerniniscências: o local onde fora o l a r de Tiradentes, que o

Vice-Rei mandou arrazar e semear o s a l n a s suas ruínas; o mo-numento do mártir erigido no mesmo lugar, onde esteve espetada s u a cabeça; a c a s a onde vivera Marilia de Dirceu e a igreja que elevou à glória o Aleijadinho que, a-pesar-de ser u m a verdadeira chaga humana, conseguiu obra tão miraculosa que chegaram a dizer haver sido feita sob a inspiração divina.

E m 1894, pensou-se em transferir a capital e três anos depois foi o govêrno transladado p a r a a nóvel cidade, que começou a prosperar com u m a velocidade fenomenal.

Inicialmente o terreno e r a distribuido gratuitamente ao longo das ruas, com a condição de s e r edificado deniro de u m certo prazo. Hoje êsses mesmos terrenos custam u m a fortuna.

O nome de Belo Horizonte é extraordinário e lhe v a i como u m a l u v a . Basta procurar um alto n a cidade e contemplá-la cuidadosamente: s i fôr de d i a terá diante dos olhos um jardim florido e, s e fôr de noite, um verdadeiro céu iluminado por mi-lhões de estrelas.

Disse Gorceix ser Minas u m corpo de ferro com o coração de ouro. Eu, agora, completo: — e com a a l m a d e flores.

Nas garridas praças e parques, a s coloridas flores engolfam de admiração o espectador — umas miúdas e graciosas, outras grandes e de côres vivíssimas, outras policrômicas e perfumadas.

Parece s e r a l i o reinado de Flora.

De Flora, só não. De Pamona também — as frutas são

deli-ciosíssimas, encantando pelo tamanho, pelo cheiro e pelo sabor adocicado e agradável.

Possue a cidade a mais larga a v e n i d a do Brasil: — a Aveni-da Afonso Pena, que divide a capital em duas partes iguais e é elegantemente ornamentada pelo "ficus benjamini".

Além desta formosa artéria, h á a d a Liberdade, a João Pi-nheiro e muitas outras.

A s ruas, geralmente largas, exibem nomes que recordam os feitos de homens que p e l a União e pelo Estado trabalharam, pres-tam u m a homenagem a o s outros Estados e l e m b r a m a s tribus dos antigos donos d a terra.

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C I D A D E S E S E R T Õ E S 27

O s edifícios do Palácio d a Liberdade, d a s Secretarias, d a s Faculdades, do Fórum, do Correio, do Hospital, a s s i m como todas a s construções d a cidade, apresentam um aspecto moderno inte-ressante e belo.

Ultimamente foram construídos dois hotéis, onde n a d a fale-ce e m conforto e em higiene moderna.

U m vasto cinema, a última p a l a v r a no gênero, n a d a fica a dever às nossas majestosas c a s a s de diversões d a Cinelândia.

Assisti a u m a representação dos cossacos do Don e do K u b a n e fiquei contente em ver o povo mineiro, comumente pouco ex-pansivo, não regatear aplausos a o s artistas. Esquecendo-me por momentos a ação denodada que a q u e l a gente exerceu em toda a História Pátria, julguei que e l a não fosse capaz de inflamar-se pelo entusiasmo.

N ã o falei d a s horizontinas. E s s a s belas mineirinhas deviam ser tratadas em primeiro lugar, mas . . .

F a ç a m os leitores u m a idéia de como devem s e r a s filhas de um recanto onde s e goza um c l i m a de 920 metros de altitude, onde a s flores são a s mais lindas e a s frutas a s m a i s saborosas.

São justamente o que pensam. Fortes, elegantes, mimosas, risonhas e sobretudo rosadas.

Quando elas passam, fica-se extasiado em ver-se tanta graça junta, e, muitas vezes, a n o s s a admiração s e torna até incon-veniente .

Outrora os pais mais abastados e n v i a v a m seus filhos p a r a estudar no Rio de Janeiro e ficavam lá n a s alterosas curtindo a s saudades pelo ente que até aquele momento os acompanhou.

Hoje isso não s e dá m a i s : existem colégios, ginásios e facul-dades que honram o Estado que os possue.

N a ânsia de formar u m a raça forte, o atual govêrno cuida, com um carinho especial, d a educação física, que foi introduzida das escolas primárias aos quartéis.

Depois que se visita a b e l a capital do grande Estado monta-nhês, fica-se amando aquele belo recanto do Brasil que possue todas a s características p a r a s e r a Washington brasileira.

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RECIFE — A VENEZA BRASILEIRA

B R I G A D A pelos arrecifes que agüentam a fúria do oceano, protegendo a costa, e b a n h a d a pelos rios Capiberibe e Be-beribe, que num beijo prolongado se confundem e correm unidos p a r a o pélago profundo, a capital p e r n a m b u c a n a oferece, com

suas explêndidas pontes, um aspecto venesiano.

A elegante e moderna cidade de Recife compõe-se de u m modo geral, de quatro bairros: Santo Antônio, Recife, São José

e B o a Vista. O primeiro desses bairros tem o fácies de u m a ver-dadeira península e liga-se por belíssimas pontes aos bairros de

Recife e São José. E m terra firme fica apenas o de B o a Vista. A cidade é plana, bem edifiçada e magnificamente arruada. A s suas principais praças exibem encantamento e oferecem

bem-estar: a d a República, a do Comércio, d a Independência, Artur Osório, Jaú, Adolfo Cirne, Oliveira Lima, Joaquim Nabuco e mui-tas outras.

Linhas de bondes confortáveis cruzam em todos os quadran-tes e levam-nos até à histórica cidade de Olinda, onde a par das reminiscências do passado se gozam a s delícias duma atraen-te praia, b a n h a d a por um mar furioso que se enovela sôbre a areia a l v a descrevendo ciclóides e volutas em ondas violentas e rápidas. F o i O l i n d a outrora capital do Estado e incendiada pelos holandeses em 26 de Novembro de 1631.

Agradabilíssimos passeios se usufruem em Recife, destacan-do-se de todos êles o d a praia d a Boa-Viagem. Panorama selva-gem, coqueiros flexíveis balonçados pela brisa marítima, o areai extenso e alvinitente, os cajueiros pejados de frutos, a s pitan-gueiras salpicadas de rubro e o mar meigo como a sussurrar à praia um segredo gostoso, constituem um conjunto que agrada, que prende, que se g r a v a p a r a sempre n a retentiva.

Tudo que se desejar encontra-se em Recife: hotéis de pri-meira ordem, cinemas vastíssimos e teatros modernos, faculdades, colégios, c a s a s de chá, campos de esporte, enfim, tudo.

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O porto de Recife é um dos melhores d a América do S u l . A 200 metros do litoral e com uma largura variando de 20 a 60 metros, os arrecifes se desenvolvem n u m a extensão de c e r c a de 4 km., formando magnífico quebra-mar que oferece aos nave-gantes excelente porto — calmo e seguro.

Êsses arrecifes são de origem coralina e se desenvolvem do Estado do Ceará até às proximidades d a cidade de São S a l v a -dor. São oriundos de esqueletos de polipos e ostentam forma variegadas, sendo a s principais a s franjas, a s barreiras e os atolls. A s primeiras se ligam ao continente, de quando em quan-do, por tenuíssimos istmos. A s Segundas formam verdadeiras bar-ragens, deixando, entre elas e o litoral, um c a n a l . O s terceiros. são meras ilhas circulares com u m a lagoa no interior.

Defendido por êsses presentes d a natureza, o porto de Recife abriga navios de todos os calados, exportando açúcar, álcool, algodão, café, peles, tecidos e frutas frescas ou em doce.

D a d a a configuração do nosso continente, o porto de Recife é a primeira m ã o que dá boas-vindas aos navegantes europeus e por isso está-lhe reservado um futuro promissor.

Foi a cidade de Recife visitada, quando a i n d a em embrião, pelos navegadores franceses, ingleses e holandeses.

O inglês Lencaster certa vez ocupou a cidade, em 1595. O comandante português mandou um parlamentar propôr-lhe u m a conferência. O corsário britânico, ao receber o enviado, decla-rou-lhe: "Quando n a d a podem fazer com a e s p a d a recorrem à lín-gua falaz, pois fé e verdade são cousas que não conhecem. E p a r a que havemos de parlamentar ? Com o favor de Deus houvemos a quanto vínhamos, e bem pouco prudente seria deixá-los fazer que nos tirassem com astúcia o que ganhámos com a força."

E mandou dizer que enforcaria o primeiro que trouxesse qualquer proposta.

O s holandeses permaneceram senhores daquele recanto pelo espaço longo de 24 anos.

A-pesar-de tudo isso, sentimos um orgulho formidável ao sa-bermos que todo o comércio e a s principais fortunas de Recife pertencem exclusivamente a brasileiros.

* * *

Em virtude da vontade ardorosa com que os alienígenas

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convenien-C I D A D E S E S E R T Õ E S 31

temente fortificado. Ainda hoje se vêem as ruínas das fortalezas

que foram eregidas em defesa da Pátria e que hodiernamente,

consumidas pelo tempo, somente dão uma pálida idéia das lutas

gigantescas que ali se travaram.

BRUM — Artilhado com 48 canhões defendia a entrada do

magnífico porto de Recife. Outrora, em 1630, com o nome de São

Jorge, resistiu galhardamente ao ataque bátavo. Atualmente está

sendo reconstruído para agasalhar uma unidade do Exército.

SANTO ANTÔNIO DO BURACO — com 23 peças guardava

a ourela litorânea entre Olinda e Recife.

FORTE DO MAR — Situado na ponta sul de Recife cruzando

fogos com os dois primeiros.

SANTA CRUZ — com 23 canhões. Construido pelos

holan-deses na extremidade sul da ilha de Itamaracá impedia que os

navios corsários ali fizessem base para em seguida investir

con-tra a cidade.

* * *

Pernambuco comemora neste mês o 4

o

centenário da sua

colonização.

O progressista Estado Nordestino encerra, por si só, as

pá-ginas mais brilhantes da história do Brasil colonial.

Páginas de ouro rutilante ali escreveram o brasileiro Vidal

de Negreiros, o português Fernandes Vieira, o índio Felipe

Ca-marão e o negro Henrique Dias, na luta que sustentaram contra

o holandês invasor.

Antes da nossa independência o povo pernambucano em

1817 já esboçava os seus ideais republicanos. Além desta

glo-riosa data, nas suas efemérides ainda se encontram 1822, 1824

e

1848 que lembram: a luta contra os portugueses na ânsia da

li-berdade, a Federação do Equador e a célebre revolta praieira

onde tombou com glória Nunes Machado.

O 4

o

centenário da colonização de Pernambuco, comemorado

em 1935, foi uma data que interessou não só aos filhos daquela

terra sublime mas a todos os brasileiros dignos dêste nome.

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PELOTAS — Cidade que é um mimo

P O R um tris Pelotas não s e v i u com a s credenciais d u m a Ve-neza a o S u l p a r a fazer figa à V e n e z a do Norte — Recife — que e n g a l a n a a s margens dos históricos Capiberibe e Beberibe. A "princesa do s u l " erigida entre o arrôio Santa Bárbara e a mar-gem esquerda do c a n a l S. Gonçalo não possue canais o u arrôios que a atravessem, por onde a s faluas e a s gôndolas pudessem poeticamente navegar, mas, também, não pode queixar-se das

la-deiras e elevações que dificultem o tráfego dos bondes e auto-móveis — s e u chão é de u m a p l a n u r a adorável, quebrada, de longe em longe, por u m a dobra quasi imperceptível.

N ã o n a s c e u Pelotas debaixo dos olhos severos de Marte, como sucedeu à quasi totalidade d a s suas irmãs, m a s s i m aben-çoada por C e r e s e encantada pelos sons d a flauta do travesso Pan. D a s últimas rugas d a Serra do Tapes, êsses deuses acena-vam, a o s habitantes de São Pedro do Rio Grande, a s promessas esperançosas de um porvir belíssimo.

Expulsos os espanhóis, alguns moradores do Rio G r a n d e en-caminharam-se p a r a São Gonçalo, atraídos pelos sons agudos

de P a n e o sorriso acolhedor de Ceres, e a 6 de julho de 1780 estava fundada a cidade. G o v e r n a r a a Província o Capitão José Marcelino de Figueiredo, que doou aquele rincão, com a obriga-ção de cultivá-lo, a Manoel C a r v a l h o de Souza.

A transhumância foi feita — de tòdos lados chegaram reba-nhos: a relva e r a boa. Por felicidade daquele núcleo rural apa-receu um cearense de nome José Pinto Martins que, a todos, en-sinou o fabrico do xarque — êle devia dizer jabá — e com tal facilidade aprenderam os gaúchos e s s a nóvel indústria que rapi-damente prosperaram. E' verdade que o odor dos saladeiros não é n a d a agradável, m a s o que se consegue sem sacrifícios não tem efeito duradouro . . .

N ã o sabemos porque recebeu a cidade o nome de Pelotas. Pelota é u m a embarcação rudimentar feita com o couro de boi

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curtido. — Teria vindo o nome do fato de usarem os seus

pri-meiros habitantes essas embarcações?

— "Chi lo sa?"

Sabe-se que de início o povoado foi colocado sobre a

pro-teção de São Francisco de Paula, o milagroso santo que tanto

ajudava os portugueses a vencer os pérfidos espanhóis. Antônio

Gomes Moreira e sua família, após sacrifícios continuados,

con-seguiram trazer da Colônia do Sacramento, uma imagem do

orago com o mais firme propósito de patentear-lhe sua devoção

e deixar, no novo estabelecimento, uma lembrança que atestasse

a presença dos lusos nas barrancas do encancarado rio da

Prata . . .

A empresa ia de vento em popa. Dia a dia aumentavam as

naves no pôrto e os 55 km. que separavam Pelotas do Rio Grande

eram navegados com uma freqüência notável. Com o

pro-gresso — o ouro — vêm os títulos: a 6 de Dezembro de 1830 foi

elevada à categoria de vila e a 27 de Junho de 1835 à de cidade.

A evolução da fonte de renda continuou a se processar: da

carne passaram ao peixe; do peixe às frutas e hoje Pelotas quasi

que conserva tudo.

Na última vez que estive em Pelotas, assisti a um fato

inte-ressante : o embarque de fardos de "mandim" (bagre) para

Ma-ceió. Sabendo quão piscoso é o nordéste, fiquei deveras surpreso

em averiguar que o Estado de Alagoas importava peixe sêco.

Será que lá não haja alguém que saiba o que o cearense Martins

ensinara aos gaúchos ? Ou será que o bagre sulino tem um "tic"

de sabor especial em similitude ao que encontramos no

baca-lhau estrangeiro para desmoralizar o pirarucú ?

Por muitos anos Pelotas foi o empório comercial do Rio

Grande do Sul; porém o bom exemplo é também imitado e Pelctas

viu seu prestígio abalado. As margens alagadiças que debruam

os rios e lagoas salvaram-na — o arroz deu-lhe novo impulso

para cima. E em 1907 já se podia considerar a "princesa do sul"

como o maior produtor dêsse utilíssimo cereal que tanto vigor

empresta aos amarelos.

Pelotas é um mimo. Ruas largas e bem edifiçadas.

Aveni-das amplas e arborizaAveni-das. Praças ajardinaAveni-das com gôsto,

fazen-do ambiente aos artísticos monumentos. Parques

interessantíssi-mos como o Souza Soares. Belíssimo prado de corrida.

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C I D A D E S E S E R T Õ E S 35

Confortáveis cinemas e teatros. Ótimas casas comerciais onde nada falta. Enfim Pelotas tem tudo mistér a uma cidade moderna, sadia e progressista. E' forte pelo seu clima benéfico e é bela, graças ao esforço desenvolvido. pelos seus filhos para dar-lhe a vestimenta que uma princesa merece . . .

Uma única cousa causava desgosto aos pelotenses — era o porto. Verdadeiras palafitas com velhos pardieiros em cima ser-vindo de armazéns eram a sala de visita da famosa princesa...

Hodiernamente um magnífico cais, quasi concluído, fará desa-parecer o aleijão que tanto enfeiava o berço da mulher que, entre todas da terra, conseguiu em memorável certamen, o lau-rel — a mais bela. Para avaliarmos o alto alcanse dêsse título,

lembremo-ncs que, por êle, f o i feita a guerra de Tróia... Os patrícios de "Miss Universo", compreendendo o alto galardão por êle conquistado, ergueram expressiva coluna para assinalar aos pósteros a vitória obtida.

Um outro monumento que não pode ser esquecido é o obe-lisco levantado em 1884 que, nas vascas do império, já comemo-rava a cbra de um republicano.

Numa das faces da pirâmide, encimada pelo barrete simbó-lico, lê-se, numa p l a c a : "Os republicanos de Pelotas recomendam aos viandantes a memória de Domingos José de Almeida". Êsse cidadão, assim relembrado pelos pelotenses, nasceu em Minas Gerais, onde, segundo afirma, sofreu o labéu da escravidão, f c i vice-presidente e Ministro da Fazenda da República do Piratiní e fundador da cidade de Uruguaiana. Morreu em Pelotas a 6 de Maio de 1871, com a idade respeitável de 74 anos.

Vimos o célebre desenvolvimento material do rincão de Lobo a Costa e não podíamos deixar de referir-nos à evolução

espiri-tual ! Ela se processou com o mesmo ritmo, a 5 de Março de 1876 foi, como prova real do grau cultural do povo, instalada uma biblioteca pública que conta hoje com mais de 40 m i l vclumes. Barnasque, nas Efemérides Rio-Grandenses, a êsse respeito diz :

"O traço característico de acentuada tendência intelectual do povo pelotense, não podia prescindir, nessa época já adiantada da sua formação, do livro, pois, como nos versos do poeta : "o livro caindo nalma é louro que faz a palma, é chuva que faz o mar".

Oxalá continue Pelotas sempre assim : caída de amores por Mercúrio, sem se esquercer de Minerva.

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PÔRTO ALEGRE — A Enamorada do Cuaíba

U A S I não te conhecia. Porto Alegre. N ã o te deixei a i n d a

criança p a r a te v e r agora, moça, bela, fascinante e feiticei-r a . Vi-te há seis anos somente e a tfeiticei-ransfofeiticei-rmação foi de pasmafeiticei-r. Arrombadas a s vielas e becos sórdidos e soturnos, surgiram a s avenidas l a r g a s e álacres; aterradas a s várzeas alagadiças, p a r a infortúnio dos anofelíneos despontaram estádios e casinos; higienizadas a s lezirias marginais do amorenado Guaíba, apa-receram a s praias artificiais, arremedando a s nossas carioquíssi-mas do Leblon, I p a n e m a e Flamengo, com ótima fita de cimento armado, por onde correm, cruzando-a ameudadamente, os ônibus e automóveis, levando pessoas ávidas de gozar o frescor, o pin-turesco e o encantamento de u m a paisagem belíssima, onde se confundem m i l nuances, tons e semi-tons, matizada p e l a Natureza e a s tonalidades, umas berrantes outras esmaecidas, levadas

p e l a m ã o do homem: n a s praias, n a estrada, no casario moderno que s e perfila olhando a fantástica guéla potámica.

A transformação foi "de fond e n comble". Até os teus hábi-tos tão característicos foram mudados. E dificilmente s e v ê e m aqueles tipos de bombachas e esporas de enormíssimas rosetas tilintando n a s calçadas d a r u a d a Praia ou chupando a b o m b a de chimarrão nos teus aristocráticos "bars". Hoje, a s tuas ruas,

a s tuas avenidas, os teus confortáveis cinemas e imponentes casinos dão lições de civilidade, a c a d a instante, ao estranho mais exigente. Tudo respira modernismo e alta elegância, desde a s moças que cruzam a s ruas até a s c a s a s de chá, de café, de mo-das, de qualquer outro comércio mesmo a s livrarias onde n a d a

se obtém p a r a gôzo do corpo e tudo p a r a alegria do espírito. Parece que estás sendo bafejada por um elemento divino ! Q u e m será ? Será São Francisco de Assis, orago sob cuja proteção foste colocada desde o berço ? — O u será u m a graça concedida pela boníssima e bela Senhora dos N a v e g a n t e s ?

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Dize-me, Porto Alegre, pois quero rezar ao teu protetor p a r a

que continues c a d a vez mais linda, próspera e feliz. Deves estar

contentíssima com teu fundador, aquele zangadíssimo e

atrabiliá-rio oficial português, Manoel Jorge Gomes de Sepúlveda, que

para aí foi com o nome de José Marcelino de Figueiredo, fugindo da exigência inglesa que o queria para, n a forca, pagar a v i d a

do oficial inglês que matara em duelo . . .

Recordas-te dêle ?

Com certesa, sim. Bateu o pé. N ã o concordava com a v i d a

insulada de V i a m ã o : queria uma porta de saída, por onde

pu-desse respirar a plenos pulmões, por onde, no dorso do Guaíba ou do Jacuí, demandasse o caminho d a metrópole ou do interior

da Província. E seu primeiro ato foi mudar a séde do Govêrno

para o porto dos Casais, mandando às urtigas a opinião daqueles que não estivessem de acordo.

Hoje, quando admiramos o teu cais concorridíssimo e

azafa-moso, onde navios enormes encostam sem temor; o aclivoso e ondulado terreno que liga a planície marginal do Guaíba à parte

alta d a cidade onde se a c h a a Hidráulica, coalhado de c a s a s a s mais variegadas, de estilos os mais heterogênios ficamos

conten-tes, linda Porto Alegre, com a teimosia do teu fundador e o espírito

eclético dos teus filhos, que tudo souberam escolher sem s e atar

a preconceitos estéreis e a regras rígidas.

Crescente, Porto Alegre, como u m a criança c r e a d a à larga, no campo, sob o impulso único d a ação vivificante d a Natureza.

E teus filhos, procurando belezas com que te ataviar, a g i r a m iso-ladamente, sem s e cingir a um estilo único, exibindo ao visitante

a politecnía notável que deve ser um dos teus principais motivos

de orgulho de cidade moderna.

Falando do esforço dos teus filhos, não podemos esquecer a

obra fenomenal que é a Hidráulica — fator número um d a tua

atividade. A água imunda e prenhe de bactérias, que o Guaíba

te dá, só como veneno poderia ser ingerida. Depois de passar

pelos depósitos de decantação e pelos filtros poderosos, e de

so-frer a ação benéfica do cloro, torna-se p u r a e cristalina, e pronta

a ser distribuída em profusão. E que impressão b e l a dá o jardim

da Hidráulica, escondendo a rusticidade d a maquinaria com o

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C I D A D E S E S E R T Õ E S 39

E' do alto d a Hidráulica que s e pode apreciar, gostosamente, todas a s tuas formas: u m a s inteiramente femininas, como a s praças, os pomares e a s torres d a s igrejas; outras masculiniza-das como a s chaminés d a s fábricas que toldam de fumaça o teu céu formoso... E, ao longe, u m a confusão de águas achoco-latadas com a mataria rutilantemente verde, entremeando-se, e formando braços e ilhas, onde os antigos v i r a m o formato de u m a m ã o aberta, dando origem ao nome Viamão...

O miscegenismo dos teus filhos, contrariando todas leis etno-gráficas, deu-te a força e a beleza que herdaste dos primeiros c a s a i s açorianos, dos alemães que vieram depois, dos italianos ávido por boas terras, do índio que habitara o pago e do próprio negro humilde que trabalhava escravizado.

Lembrando a pujança d a raça, lá estão a atestar s e u alto valor os monumentos grandiosos do Marquês de Herval, de Bento Gonçalves, de Júlio de Castilhos... e o pálido mármore, inau-gurado p e l a princesa Isabel, daquele que p a r a ti conquistou o tí-tulo invejável de " l e a l e valorosa".

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C A C H O E I R A — A Princesa do jacuí

A

F O R M O S A cidade de Cachoeira, hoje com o título de "Prin-ceza do Jacuí", foi outrora cognominada "Duqueza d a Cam-panha", quando a p e n a s ostentando a beleza natural d a s u a pri-vilegiada situação geográfica, não sofrerá ainda a ação dinâ-m i c a d a força de vontade dos hodinâ-mens. A o receber todos os re-quesitos de conforto de u m a uib moderna, por certo teria que subir de galardão e passou de duqueza a princeza.

Deve-se a fundação de C a c h o e i r a aos impávidos Dragões de Rio Pardo que não pouparam esforços n a defesa d a pátria ainda e m formação e, n a s longas c a v a l g a d a s que faziam i a m semeando cidades nos pousos em que seus penosos deveres os obrigavam a parar. E à beira de u m a fogueira onde fervia a cha-leira, iam-se aglomerando a s famílias dos soldados e os nati-vos, p a r a formarem o núcleo d u m a futura cidade. O s índios bofucarís, aldeiados no local onde a "princeza" hodiernamente tem s e u trono, acolheram os primeiros desbravadores e com eles prepararam a m a s s a com que edificariam a futurosa V i l a Nova de S. João de Cachoeira, a 26 de Abril de 1819.

íncolas e lusos já habitavam em 1770 a s terras banhadas pelo tréfego Jacuí, procurando obter delas o sustento diuturno, sob a proteção de N. S. d a Conceição que, em s u a igrejinha modesta e garrida, l i v r a v a s e u pequeno povo dos males terre-nos, fazendo-lhe a v i d a fácil e alegre num ambiente de fartura.

O belo rincão ondulantemente se prolonga por todos os qua-drantes, cortado pelas águas, ora blandífluas ora impetuosas, do Jacuí, e cercado em hemicírculo por um forte aclive verde jante que constitue a r a m p a p a r a o planalto, tendo em evidência o cêrro Botucaraí que o viandante vê de longe e imagina a s be-lezas que de c i m a dêle poderá abranger com o olhar — campos virentes, bosques, fazendas, vilas e a s listras vermelhas d a s es-tradas correndo daqui pralí, como se fossem fitas jogadas por m ã e s iraquinas de uma deusa boa.

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N ã o há quem se não prenda de amores p e l a terra, admi-rando a s belezas que o chão e o céu encerram. E em C a c h o e i r a tudo é assim rico, pujante e belo. Desde os arrosais que s e ex-tendem n a s miríficas planícies, fontes de fortuna e felicidade, até nos campos onde pasta o gado — tudo é encanto, é pujança, é progresso, é força.

E' pequena a altitude de Cachoeira — 70 metros a p e n a s aci-ma do nivel do aci-mar. Mas como s e parece alta ao contemplá-la de longe, vendo de relance o casario policrômico a galgar a s encostas do morrete onde está erguida e a igreja vetusta e mi-mosa que atesta a fé católica do s e u povo.

Bem com os anjos e os santos devem estar os habitantes de Cachoeira. H á vários templos. Romanos e luteranos têm onde lenificar suas máguas, pedir bênçãos do céu e implorar miseri-córdia para os seus sofrimentos. E parece que Deus sempre es-cuta os devotos, porque neste torrão tudo corre bem. O c l i m a é bom e há saúde. A terra é farta e ninguém é pobre. N ã o existe em Cachoeira o miserável n a justa acepção do termo. E quão difícil é ao forasteiro conseguir alguém que queira um emprêgo doméstico. Por que trabalho s e não há fome ?

Se a Natureza é bela, o povo não o é menos. S a n g u e ger-mânico e italiano deu a êle vigor e cores s a d i a s . E' difícil to-par-se com uma pessoa feia. H á um talisman que faz os homens mais fortes e decididos e a s mulheres mais belas e prazenteiras. E os casamentos se fazem com facilidade. E a estatística a c u s a sempre mais gente, gente que o Brasil poderá contar com e l a pelo físico, pelo civismo, pela moralidade.

Falando em matrimônio não devo silenciar um fato. Rara-mente consegue um oficial servir n a guarnição aqui s e d i a d a sem prestar direitinho suas contas com Cupido. Anualmente alguns aspirantes caem no anzol d a s noivas acompanhados dos tenen-tes e capitães que, em cousas de amor, sairam vitoriosos em outras plagas.

H á aqui um filtro misterioso que só a s mocinhas e quiçá s u a s m a m ã e s conhecem.

Existe em todos acentuado espírito esportivo, Tudo é prati-cado: o remo salutar, o tênis aristocrático, o movimentado baskt-ball, o bruto íoot-baskt-ball, o atletismo, o hipismo e a natação. Gente de ambos os sexos, casados e solteiros, crianças e adultos

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nem-se na Sociedade Concórdia onde, numa atmosfera sadia e de bom gosto, se aprimora e aperfeiçoa a raça.

O sentimento de brasilidade tomou conta do povo que está pronto para v i r à r u a desfilar perante à bandeira pátria, numa afirmação altisonante de que a nossa raça, bem brasileira, cal-deada com os mais heterogêneos elementos, está-se modelando com uma alma única — aquela que há de fazer o ideal do povo brasileiro tão grande como o Brasil considerado apenas expres-são territorial, tão belo como o Brasil visto somente pelo prisma das suas rqiuezas naturais.

Exprimindo bem o caráter do povo corre, banhando a cida-de, o Jacuí — quieto, calmo, deslizando mansamente suas águas pelo leito que vem de há muito cavando. Jogue-lhe chuvas nas cabeceiras e êle arrebenta em fúria, alagando as planícies r i -beirinhas, carregando casas, animais, pessoas, enfim tudo que encontra, sem que ninguém possa detê-lo. Várias vezes o povo cachoeirense provou que, ofendido nos melindres seus ou na de-fesa d a justiça, não há quem possa conter sua bravura e sua impetuosidade.

Santos Pedroso com 35 homens desbaratou a guarnição es-panhola de S. Marinho e ocupou essa missão. Borges do Canto, investindo com f ir mesa e tenacidade, deu ao Brasil toda a pu-jante zona das missões jesuíticas. São assim os cachoeiranos...

* # *

A cidade é calçada, bem calçada a asfalto e

paralelepípe-dos. H á água encanada e esgoto. Luz regular. Bom comércio. Ótimas praças artisticamente ajardinadas. As flores em Cachoei-ra nada ficam dever às de Petrópolis em tamanho, perfume e be-leza. As hortências formam bouquets enormes de rico matiz que cambia do azul claro ao rosa avermelhado. As frízias, peque-ninas flores que não v i alhures, têm aroma indizível. As palmas de Santa Rita nascem como mato e ostentam fulgor impar. As dálias são enormes. Os amores-perfeitos, as violetas, os mioso-tis apresentam-se em profusão, grandes e formosos. E' aqui o reinado de Flora. E os cachoeirenses não se esquecem disso ele-gendo anualmente a sua rainha da Primavera, escolhida a pêso de ouro, pois que os votos- são comprados em benifício do Hos-pital de Caridade — instituição modelar considerada a primeira no interior do Estado.

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H á casas de apartamentos. Transportes fáceis — fluvial, ferro e rodoviário. Bom cinema. Cinco bancos. Três jornais. Ü m jardim p a r a a petizada com os mais variegados brinquedos. H á de tudo que é bom, moderno e confortável. Só falta uma cou-s a — h o t e l . O adiantamento de Cachoeira ecou-stá exigindo um ho-tel melhorzinho, p a r a que os forasteiros n a d a de m a l tenham a dizer da "Princeza do Jacuí". Uma princeba só merece elogios...

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