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Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

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Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Processo: 0793/13

Data do Acordão: 22-05-2013

Tribunal: 2 SECÇÃO

Relator: CASIMIRO GONÇALVES

Descritores: EXECUÇÃO FISCAL OPOSIÇÃO

COMPENSAÇÃO DE CRÉDITOS PEDIDO

DISPENSA GARANTIA

Sumário: Tendo sido apresentada oposição à execução, e encontrando-se

pendente reclamação judicial da decisão do OEF que indeferiu o pedido de dispensa de prestação de garantia, não pode operar-se a compensação por iniciativa da AT nos termos do art. 89º, nº 1 do CPPT.

Nº Convencional: JSTA000P15797 Nº do Documento: SA2201305220793 Data de Entrada: 06-05-2013

Recorrente: FAZENDA PÚBLICA Recorrido 1: A... E OUTRA

Votação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto Integral: Acordam na Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal

Administrativo:

RELATÓRIO

1.1. A Fazenda Pública recorre da sentença proferida no Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto, na qual se julgou procedente a reclamação deduzida, nos termos dos arts. 276º e ss. do CPPT, por A…… e B……., contra o acto de compensação de créditos efectuado no âmbito dos processos de execução fiscal nºs. 3182200601004352 e 3182200601012312 pendentes no Serviço de Finanças de Porto 2. 1.2. A recorrente termina as alegações formulando as conclusões seguintes:

A. Vem o presente recurso interposto da douta sentença que julgou procedente a reclamação de atos do Órgão da Execução Fiscal, interposta nos termos do artigo 276° do CPPT, que teve por objeto o ato de compensação nº 2011 00002140353.

B. Vindo alegado como fundamento da reclamação em apreço o vício de violação de lei (mais concretamente, do artigo 89º do CPPT) e a falta de fundamentação do ato reclamado, a douta sentença

começou por considerar como questão prévia que se

verificavam os pressupostos para a subida imediata a Tribunal da reclamação apresentada e, subsequentemente, julgou a

reclamação procedente, com a consequente anulação do ato reclamado, por entender que o sobredito ato de compensação padece de ilegalidade.

C. Tendo por fim determinado a devolução aos

Reclamantes/Recorridos da quantia que havia sido compensada,

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legal, desde 19/05/2011, data em que ocorreu a notificação da

liquidação, até efetivo e integral pagamento.

D. Ora, ressalvado o devido respeito, com o que desta forma foi decidido, não se conforma a Fazenda Pública, sendo outro o seu entendimento, já que considera que a douta sentença sob recurso padece de erro de julgamento na aplicação do direito, por

violação do disposto nos artigos 89º e 169º do CPPT e dos artigos 52º e 43º da LGT, atendendo às razões que se passa a

desenvolver.

E. Importa desde logo sublinhar que, tal como resulta dos autos, as doutas decisões proferidas na reclamação com o nº 1621/11.1BEPRT determinaram a anulação do ato do órgão da execução fiscal, não por se verificarem os pressupostos legais para o deferimento do pedido de dispensa de garantia, mas sim por falta de fundamentação do ato de indeferimento.

F. Nestes termos, e sempre com o devido respeito pelo labor do Tribunal a quo, somos de parecer que a decisão sob recurso ao ter

assente a ilegalidade do ato de compensação nº 2011

00002140353 na circunstância de os Reclamantes/Recorridos beneficiarem de dispensa de prestação de garantia decorrente da anulação produzida nos autos nº 1621/11.1BEPRT, errou na aplicação do direito, uma vez que a decisão transitada em julgado

que anulou o despacho de indeferimento da dispensa de prestação de garantia, por o ter considerado ilegal, em virtude de este se encontrar ferido de vício de falta de fundamentação, não obvia a

possibilidade do órgão da execução fiscal proferir um novo despacho sobre a mesma questão expurgado do vício que determinou a anulação do anterior ato. Possibilidade essa que lhe assiste em virtude do motivo determinante da anulação ser de caráter formal.

G. Logo, à data em que foi concretizada o ato de compensação

controvertido, os Reclamante/Recorridos não usufruíam de qualquer dispensa de prestação de garantia nos autos de execução em referência.

H. Continuando, e como é sabido, a Administração Tributária está vinculada a aplicar os créditos do contribuinte na compensação das suas dívidas, sendo uma forma de extinção das obrigações que tem lugar quando duas pessoas sejam reciprocamente credor e devedor (cfr. artigo 847º nº 1 do Código Civil), prevendo o artigo 40º da LGT, no seu nº 2, expressamente, a compensação de créditos tributários como forma de extinção da obrigação tributária.

I. Ademais, o respeito pelos princípios da igualdade e da proibição do arbítrio impõem à Administração Tributária a proibição de concessão de moratórias, bem como a suspensão da execução fiscal fora dos casos previstos na lei (cfr. artigos 36º nº 3 da LGT e 85º do CPPT), por força do princípio da indisponibilidade dos créditos tributários, genericamente enunciado no artigo 30º da LGT.

J. O artigo 52º da LGT impede a suspensão da cobrança da

prestação tributária, efetuada no processo de execução fiscal, salvo em casos de pagamento em prestações ou reclamação, recurso, impugnação da liquidação ou oposição à execução que tenha por

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objeto a ilegalidade ou inexigibilidade da dívida exequenda, sempre que exista prestação de garantia idónea nos termos das leis

tributárias.

K. Temos ainda que, o nº 4 desta disposição legal estatui o

procedimento de isenção de prestação de garantia, de acordo com o qual se cria a possibilidade da Administração Tributária, a

requerimento do executado, poder isentá-lo da prestação de garantia nos casos de a sua prestação lhe causar prejuízo irreparável ou existindo manifesta falta de meios económicos revelada pela insuficiência de bens penhoráveis para o pagamento da dívida exequenda e acrescido, desde que, em qualquer dos casos, a

insuficiência ou inexistência de bens não seja da responsabilidade do executado.

L. Sob a epígrafe Compensação de dívidas de tributos por iniciativa

da administração tributária, o artigo 89º do CPPT, dispõe no seu nº 1,

por um lado, que [o]s créditos do executado resultantes de

reembolso, revisão oficiosa, reclamação ou impugnação judicial de qualquer ato tributário são obrigatoriamente aplicados na

compensação das suas dívidas à mesma administração tributária, exceto (...) se estiver a correr prazo para interposição de reclamação graciosa, impugnação judicial, recurso judicial ou oposição à

execução ou estar pendente qualquer dos meios graciosos ou

judiciais referidos na alínea anterior ou estar a dívida a ser paga em prestações, desde que a dívida exequenda mostrar-se garantida na termos do artigo 169º.

M. A compensação de dívidas de tributos por iniciativa da

Administração Tributária depende, portanto, dos seguintes requisitos – cfr. Jorge Lopes de Sousa, in CPPT Anotado e Comentado, I vol., 6ª edição, Lisboa, Áreas Editora, 2011, em nota ao referido artigo 89º:

a) haver um crédito a favor de um contribuinte de que seja devedora a administração tributária, que esteja em fase de execução; b) que esse crédito resulte de reembolso, ou de revisão oficiosa, ou de reclamação graciosa ou de impugnação judicial, ou outro meio administrativo ou contencioso; c) que esse contribuinte seja

simultaneamente devedor de tributos; d) não estar a dívida garantida ou, estando-o, não estiver pendente reclamação graciosa,

impugnação judicial, recurso judicial ou oposição à execução fiscal relativa à dívida do contribuinte, nem estar a dívida a ser paga em prestações.

N. O artigo 169º do CPPT, por sua vez, condiciona a suspensão da execução à constituição de garantia nos termos do artigo 195º, ou à sua prestação nos termos do artigo 199.º, ou então à dispensa de prestação de garantia, dependo das circunstâncias.

O. Ora, os autos demonstram o integral preenchimento dos aludidos requisitos para que a Administração Tributária efetive a

compensação.

P. Considerando, por um lado, que o imperativo legal de cobrança coerciva nasce a partir do momento em que se iniciou o

incumprimento (após o decurso do prazo de pagamento voluntário) e, por outro, que os créditos do executado para com a Administração Tributária são obrigatoriamente aplicados na compensação das suas

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dívidas à mesma entidade, verificados os restantes condicionalismos legais,

Q. a compensação efetuada é legítima porque cumpriu o exigido

por lei, designadamente o disposto no artigo 89º do CPPT, já que, no momento da compensação, não obstante os

Reclamantes/Recorridos terem solicitado a dispensa de prestar garantia, a mesma ainda se encontrava em apreciação, não se mostrando os processos de execução fiscal em causa

suspensos, nos termos do disposto no artigo 169º do mesmo diploma.

R. Como referido, a suspensão da execução fiscal, proibida nos casos não previstos da lei (cfr. artigo 36º nº 3 da LGT), assume um caráter claramente excecional, designadamente, se se tiver em conta os estritos termos e exigências reveladas pelos princípios da

vinculação à lei na atividade administrativa tributária e da

indisponibilidade dos créditos fiscais e proibição da concessão de moratórias no seu pagamento, mormente se estiverem vencidos, afastando quaisquer juízos de oportunidade daquela mesma atividade.

S. É o que decorre, afinal, da al. b) do nº 1 do artigo 89º do CPPT, a

contrario, o qual impõe que a Administração Tributária efetue a

aplicação de um crédito do executado na compensação das suas dívidas tributárias, desde que a dívida não se mostre garantida nos termos do artigo 169º do CPPT ou não tenha sido concedida a isenção de prestação de garantia nos termos do artigo 52º nº 4 da LGT, mesmo que esteja pendente processo judicial.

T. A compensação controvertida é assim legalmente admissível, diante do disposto no artigo 89º do CPPT, pois sobre os

Reclamantes/Recorridos impendia uma dívida fiscal, reconhecida num ato idóneo à promoção da sua cobrança em relação à sua pessoa, sendo, por esse facto, legalmente exigível e podendo a qualquer momento ocorrer um facto extintivo da prestação tributária em dívida, como seja, a compensação efetuada.

U. Com o pedido de dispensa de prestação da garantia, apresentado pelos Reclamantes/Recorridos, o órgão da execução fiscal não ficou investido, desde logo, na obrigação de suspensão da execução, nem foram pelo mesmo praticados atos ou omissões que criassem de modo causal a expectativa da aceitação ou mesmo da suspensão da execução até prolação de decisão sobre o requerido.

V. Saliente-se ainda que, a compensação prevista no artigo 89° do CPPT se processa automaticamente, uma vez reunidas as condições necessárias à sua concretização.

W. Destarte, reunidos os pressupostos exigidos por lei para que

a compensação operasse, impunha-se à Administração

Tributária, como fez, a obrigação de efetuar a compensação na dívida cuja execução não se encontrava garantida.

X. Sem prescindir, e ainda que assim não se decida, hipótese aventada à cautela por mero dever representação, sempre será de

concluir que a douta sentença sub judicio errou na aplicação do direito, ao ter determinado que a devolução aos

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no montante de € 1.609,89, deveria ser acrescida de juros de mora à taxa legal, desde 19/05/2011, data em que ocorreu a

notificação da liquidação, até efetivo e integral pagamento, porquanto resulta diretamente da lei que, sempre que se esteja perante um

ato ilegal de compensação, deverá haver lugar ao pagamento não de juros de mora, mas sim de juros indemnizatórios, nos

termos da alínea a) do nº 1 do artigo 43º da LGT, por incumprimento do prazo legal de restituição oficiosa dos tributos.

Y. Além disso, de acordo com o disposto no artigo 61º do CPPT, os juros são devidos desde o dia seguinte àquele em que teve lugar a suposta ilegal compensação – in casu 22/05/2011 – até ao momento em que seja elaborada a respetiva nota de crédito a seu favor, já que os mesmos correspondem ao período de tempo em que os

Reclamantes/Recorridos estiveram privados da quantia compensada, por tal ato da Administração Tributária praticado na sobredita

execução fiscal.

Z. Em suma, ao decidir-se como se decidiu, sempre com o

devido respeito pelo labor do Tribunal a quo, a douta sentença sob recurso incorreu em erro de julgamento sobre a matéria de direito, porque fez errada interpretação e aplicação dos

normativos legais supra citados.

Termina pedindo o provimento do recurso e a revogação da sentença recorrida.

1.3. Não foram apresentadas contra-alegações.

1.4. O MP emite Parecer no sentido da improcedência do recurso, nos termos seguintes:

«1. A F. P. interpôs recurso da sentença proferida em reclamação que julgou ser de anular a compensação de créditos efectuada pela AT, mais determinando a devolução de quantia que tinha sido

apurada como reembolso de IRS, acrescida de juros de mora à taxa legal, desde 19-5-11, data em que ocorreu a notificação da liquidação até efectivo pagamento.

Invoca, para tal, e em resumo, a violação do disposto nos arts. 89º e 169º do CPPT, e dos arts. 52º e 43º da L.G.T., para defender que a dita sentença deve ser revogada.

2. Emitindo de novo parecer, ainda que breve, dir-se-á que quanto à questão central, a da referida compensação se corrobora o parecer já emitido pelo M.º P.º em 1ª instância, de que resulta que a posição que se defende no recurso interposto não é de proceder, de acordo até com o já decidido pelo S.T.A., desde logo no ac. de 19-9-2012, proferido no rec. nº 0893/12, acessível em www.dgsi.pt.

Por outro lado, constitui jurisprudência reiterada desse Supremo Tribunal que os juros previstos no art. 43º e no art. 100º da L.G.T. visam ressarcir os prejuízos pela privação de importância

indevidamente paga – cfr. acs. do S.T.A. de 3-5-06 no proc. 350/06, de 11-2-09 no rec. 1003/08 e 8-5-2013 no rec. 33/13.

Aliás, no nº 3 al. a) do dito art. 43º tal encontra-se previsto tal,

“quando não seja cumprido o prazo legal de restituição dos tributos”. E no seu nº 4 que a sua taxa é igual à dos juros compensatórios.

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E no dito art. 100º que com à sua atribuição é de dar lugar mesmo em sede de reclamação judicial, e de modo a reconstituir a situação

hipotética que seria ter-se procedido oportunamente à dita restituição. Assim, é de proceder à condenação nos juros a partir da data em que devia ter ocorrido a dita restituição de I.R.S., a que pode

corresponder a indicada na sentença recorrida, e não a de 21-5-11, que corresponde à do acto praticado que foi anulado, conforme ponto 9 do probatório.

3. Concluindo, o recurso parece ser de improceder.»

1.5. Com dispensa de Vistos, dada a natureza urgente do processo, cabe decidir.

FUNDAMENTOS

2. Na sentença recorrida julgaram-se provados os factos seguintes: 1 - Encontra-se pendente no Serviço de Finanças de Porto 2, os PEF nºs. 3182200601004352 e 3182200601012312, em que é executada originária a sociedade C……., Ld.ª, por dívidas de IVA do período de 2005/2011 e Coimas do ano de 2006;

2 - Os dois processos executivos identificados no ponto 1 supra, encontram-se apensos ao processo principal com o nº

3182200501014854 – Cfr. fls. 1, 2, 29 e 30 dos autos de proc.

1621/11.1BEPRT;

3 - Em cobrança coerciva empreendida no processo de execução fiscal nº 3182200501014854 e apensos, foi encetado o procedimento tendente à efetivação da reversão, findo o qual os ora Reclamantes foram citados, em 30 de abril de 2010, na sequência do que, veio a ora Reclamante B……. deduzir Oposição judicial, tendo o também ora Reclamante A... requerido o pagamento da quantia exequenda em prestações;

4 - A Oposição judicial referida no ponto 3 supra, veio a ser autuada neste Tribunal sob o nº 2958/ 10.2BEPRT, encontrando-se pendente; 5 - Em 13 de Janeiro de 2011, a ora Reclamante B……., requereu a dispensa de prestação de garantia, por insuficiência de bens, o que foi indeferido por despacho do Chefe de Serviço de Finanças de Porto 2, datado de 06 de Abril de 2011 – Cfr. fls. 644, 645 e 661 dos

autos de proc. 1621/11.IBEPRT;

6 - Nessa sequência, em 02 de Maio de 2011, a ora Reclamante fez dar entrada no Serviço de finanças de Porto 2, de uma Reclamação no âmbito do processo de execução fiscal nºs. 3182200501014854 e Aps – Cfr. fls. 665 dos autos de proc.º 1621/11.1BEPRT;

7 - No dia 12 de Dezembro de 2011, foi proferida Douta sentença no Proc.º nº 1621/11.1BEPRT, pela qual e em suma, foi anulado o

despacho datado de 06 de Abril de 2011, enunciado no ponto 5 supra – Cfr. fls. 665 dos autos de proc.º 1621/11.IBEPRT;

8 - Dessa Douta decisão foi interposto recurso jurisdicional para o TCA Norte, por parte da Fazenda Pública, o qual, por Douto Acórdão datado de 29 de Fevereiro de 2012 [já transitado em julgado], negou provimento ao recurso – Cfr. fls. 795 a 810 dos autos de proc.º

1621/11.1BEPRT;

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garantia nos termos do artigo 169º do CPPT, em 21 de Maio de 2011, a Administração Tributária procedeu ao ato de compensação nº

2140353/2011, que incidiu sobre o reembolso de IRS do ano de 2010, a que os ora Reclamantes tinham direito, no montante de € 1.609,89, tendo este montante sido aplicado no pagamento parcial da dívida exequenda relativa aos processos de execução fiscal nºs.

3182200601004352 e 3182200601012312, identificados no ponto 1 supra;

10 - O referido ato de compensação foi notificado aos ora

Reclamantes em 25 de maio de 2011, por cartas registadas [registos n.ºs RQ228503459PT e RY52587862] – ato sob impugnação;

11 - A Petição inicial que motiva os presentes autos foi remetida ao Serviço de Finanças de Porto 4, por telecópia, em 06 de Junho de 2011 – Cfr. fls. 7 dos autos.

3.1. Atendendo a esta factualidade [nomeadamente à pendência de oposição judicial e ao facto de os reclamantes terem pedido, em 13/1/2011, dispensa de prestação de garantia (pedido que embora haja sido indeferido pela AT, dessa decisão de indeferimento foi, em 2/5/2011, deduzida reclamação nos termos do art. 276º do CPPT, na qual veio a decidir-se pela anulação de tal acto de indeferimento)] a sentença concluiu pela ilegalidade da compensação operada pela AT, nos termos do disposto no nº 1 do art. 89° do CPPT (do qual resulta que, tendo o executado reagido por qualquer um dos meios

processuais nele previstos e prestado garantia, ou garantido a

dispensa da sua prestação, a AT não pode prosseguir na decisão de proceder à compensação do crédito).

Ou seja, na tese da sentença recorrida, beneficiando os reclamantes de dispensa de prestação de garantia, a cobrança da prestação tributária não poderia prosseguir, designadamente, por recurso à compensação de créditos.

E, em consequência, a sentença determinou a anulação da compensação de créditos operada pela AT e a devolução aos

reclamantes da quantia de 1.609,89 Euros, apurada como reembolso de liquidação de IRS, acrescida dos juros de mora à taxa legal, desde 19/5/2011, data em que ocorreu a notificação da liquidação, até

efectivo e integral pagamento.

3.2. Discorda a recorrente Fazenda Pública, sustentando, em síntese, que:

a) A decisão proferida na reclamação com o nº 1621/11.1BEPRT determinou a anulação do acto do OEF, não por se verificarem os pressupostos legais para o deferimento do pedido de dispensa de garantia, mas sim por falta de fundamentação do acto de

indeferimento, pelo que, assim sendo, a decisão recorrida ao ter assente a ilegalidade do acto de compensação nº 2011.00002140353 na circunstância de os reclamantes beneficiarem de dispensa de prestação de garantia decorrente de tal anulação, errou na aplicação do direito, pois a decisão que anulou o despacho de indeferimento da dispensa de prestação de garantia, por o ter considerado ilegal, em virtude de este se encontrar ferido de vício (formal) de falta de

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fundamentação, não obvia a possibilidade do órgão da execução fiscal proferir um novo despacho sobre a mesma questão expurgado desse vício.

Daí que, à data em que foi concretizado o acto de compensação controvertido, os reclamante não usufruíam de qualquer dispensa de prestação de garantia nos autos de execução em referência.

b) Prevendo a LGT (nº 2 do seu art. 40º) a compensação de créditos tributários como forma de extinção da obrigação tributária e

considerando a proibição de concessão de moratórias por parte da AT, bem como impossibilidade de suspensão da execução fiscal fora dos casos previstos na lei (cfr. arts. 36º nº 3 da LGT e 85º do CPPT), sendo que o art. 52º da LGT impede a suspensão da cobrança da prestação tributária, efectuada no processo de execução fiscal, salvo nos casos aí indicados e desde que exista prestação de garantia idónea;

E prevendo, igualmente, nº 1 do art. 89º do CPPT, em termos de compensação de dívidas de tributos por iniciativa da AT, que os créditos ali referidos só não são aplicados na compensação, se estiver a correr prazo para interposição de reclamação graciosa, impugnação judicial, recurso judicial ou oposição à execução ou

estiver pendente qualquer desses meios graciosos ou judiciais, desde que a dívida exequenda se mostre garantida na termos do art. 169º, então a compensação efectuada é legítima porque cumpriu o exigido por lei, designadamente o disposto no dito art. 89º do CPPT, já que, no momento da compensação, não obstante os reclamantes terem solicitado a dispensa de prestar garantia, a mesma ainda se

encontrava em apreciação, não se mostrando os processos de

execução fiscal em causa suspensos, nos termos do disposto no art. 169º do mesmo diploma. Ou seja, a compensação controvertida é legalmente admissível, face ao disposto no art. 89º do CPPT, pois sobre os reclamantes impendia uma dívida fiscal, reconhecida num acto idóneo à promoção da sua cobrança em relação à sua pessoa, sendo, por esse facto, legalmente exigível e podendo a qualquer momento ocorrer um facto extintivo da prestação tributária em dívida, como seja, a compensação efectuada, sendo que com o pedido de dispensa de prestação da garantia, apresentado pelos reclamantes o OEF não ficou investido, desde logo, na obrigação de suspensão da execução.

c) Sem prescindir, sempre será de concluir que a sentença errou na aplicação do direito, ao ter determinado que a devolução aos

reclamantes da quantia que havia sido compensada, deveria ser acrescida de juros de mora à taxa legal, desde 19/5/2011, data em que ocorreu a notificação da liquidação, até efectivo e integral pagamento, porquanto resulta directamente da lei que, sempre que se esteja perante um acto ilegal de compensação, deverá haver lugar ao pagamento não de juros de mora, mas sim de juros

indemnizatórios, nos termos da al. a) do nº 1 do art. 43º da LGT, por incumprimento do prazo legal de restituição oficiosa dos tributos ea, além disso, de acordo com o disposto no art. 61º do CPPT, os juros são devidos desde o dia seguinte àquele em que teve lugar a suposta ilegal compensação – in casu 22/5/2011 – até ao momento em que

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seja elaborada a respectiva nota de crédito a seu favor, já que os mesmos correspondem ao período de tempo em que os reclamantes estiveram privados da quantia compensada.

3.3. As questões a decidir prendem-se, portanto, com a legalidade da questionada compensação operada pela AT e com a de saber se há lugar à restituição da importância compensada acrescida de juros de mora à taxa legal, desde 19/5/2011, caso se conclua pela ilegalidade daquela compensação.

Vejamos.

4.1. De acordo com o disposto no art. 89º do CPPT os créditos ali previstos (entre os quais os de reembolso) são obrigatoriamente aplicados na compensação das dívidas do executado cobradas pela AT, excepto nos casos em que (i) esteja a correr prazo para

interposição de reclamação graciosa, recurso hierárquico,

impugnação judicial, recurso judicial ou oposição à execução ou (ii) esteja pendente qualquer desses meios graciosos ou judiciais, ou a dívida esteja a ser paga em prestações, desde que a dívida

exequenda se mostre garantida nos termos do art. 169º do mesmo Código.

Por sua vez, nos termos do disposto nos nºs. 1 e 2 deste art. 169º do CPPT a execução fica suspensa até à decisão do pleito em caso de reclamação graciosa, impugnação judicial ou recurso judicial que tenham por objecto a legalidade da dívida exequenda (…) desde que tenha sido constituída garantia nos termos do art. 195º ou prestada nos termos do art. 199º ou a penhora garanta a totalidade da quantia exequenda e do acrescido, o mesmo sucedendo no caso de, após o termo do prazo de pagamento voluntário, ser prestada garantia antes da apresentação do meio gracioso ou judicial correspondente,

acompanhada de requerimento em que conste a natureza da dívida, o período a que respeita e a entidade que praticou o acto, bem como a intenção de apresentar tal meio gracioso ou judicial.

4.2. O acto reclamado substancia-se num acto de compensação (operada em 21/5/2011, no âmbito da execução fiscal n° 2005/01014854 - à qual estão apensas as execuções n°s.

3182-2006/01004352 e 3182-2006/01012312 -, compensação essa relativa à nota de liquidação do IRS de 2010, no montante de 1.609,89 Euros) e, como resulta do Probatório, os reclamantes foram citados, por reversão, em 30/4/2010, no âmbito da execução fiscal nº

3182200501014854 e apensos e, no seguimento, a reclamante B……. deduziu oposição judicial (pendente sob o nº

2958/10.2BEPRT), tendo o reclamante A……., por sua vez, requerido o pagamento da quantia exequenda em prestações.

Mas em 13/1/2011 a reclamante B…….., requereu a dispensa de prestação de garantia, por insuficiência de bens (nº 4 do art. 52° da LGT).

Este pedido foi indeferido por despacho do OEF (Serviço de Finanças de Porto 2), proferido em 6/4/2011, mas deste despacho de

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CPPT, a qual foi julgada procedente por sentença proferida em 12/12/2011 no TAF do Porto, e que, tendo sido objecto de recurso, veio posteriormente a ser confirmada por acórdão do TCAN, de 29/2/2012.

4.3. Alega a recorrente Fazenda Pública que, quando foi efectuada a compensação, a dívida ainda não estava garantida e que, assim, a compensação efectuada é legítima em face do disposto no art. 89º do CPPT, já que no momento da compensação e não obstante a

reclamante ter solicitado a dispensa de prestar garantia, a mesma ainda se encontrava em apreciação, não se mostrando os processos de execução fiscal em causa suspensos, nos termos do disposto no art. 169º do mesmo diploma.

Porém, apesar de ser certo que a dívida ainda não estava garantida quando foi operada a compensação, também é certo que não o podia estar, porque se encontrava pendente a mencionada reclamação judicial da decisão do OEF do Serviço de Finanças do Porto-2, a qual tinha como objecto, precisamente, tal pedido de dispensa de

prestação de garantia interposto pela executada B……..

Na verdade, tendo a decisão da 1ª instância [que anulou, por vício de forma - falta de fundamentação -, o despacho de indeferimento do pedido de dispensa de prestação de garantia], sido proferida apenas em 12/12/2011 e tendo, aliás, o acórdão do TCAN que a confirmou sido proferido apenas em 29/2/2012, fica claro que, na data em que a AT operou a compensação questionada, estava, ainda, pendente a falada reclamação judicial da decisão do OEF do Serviço de Finanças do Porto-2 que indeferira o pedido de dispensa de prestação da

garantia. (E embora só a reclamante B……. tenha efectuado o pedido de isenção de prestação de garantia, há que atentar em que a compensação se efectivou sobre reembolsos relativos ao IRS do agregado familiar (sendo que, nos termos do disposto no art. 13° n°s. 2 e 3, al. a), do CIRS, existindo

agregado familiar, o imposto é devido pelo conjunto dos rendimentos das pessoas que o constituem, e que os pressupostos do facto tributário devem ter-se por preenchidos em relação a ambos os cônjuges ter-sem que ter-se torne

necessário estabelecer a titularidade de cada parcela do rendimento englobado para efeitos de tributação, sendo ambos solidariamente responsáveis pelo cumprimento da dívida tributária nos termos e para os efeitos do art. 21° n° 1 da LGT).)

Ou seja, a compensação foi efectuada pela AT antes de ter sido

decidido, com força definitiva de caso julgado, se a reclamante estava ou não dispensada da prestação de garantia.

E tal circunstância não é irrelevante.

Com efeito, e como esclarece o cons. Jorge Lopes de Sousa, «o

pedido de dispensa de prestação de garantia tem o mesmo efeito que o pedido de prestação de garantia a nível do prosseguimento da execução fiscal, que fica suspensa provisoriamente, como se

depreende do nº 7 deste art. 169º, conjugado com o nº 6 (nºs 3 e 2, respectivamente, na redacção inicial, de que resulta que a execução só prossegue depois de decorrido o prazo de prestação de garantia sem que esta seja prestada». ( Código de Procedimento e de Processo Tributário, Anotado e Comentado, 6ª ed., Áreas Editora, 2011, Vol. III, anotação 7 ao art. 169º, p. 219. )

(11)

Supremo Tribunal Administrativo, nomeadamente nos acórdãos do Pleno da Secção do Contencioso Tributário, de 28/10/2009, rec. nº 694/08 e dos acórdãos da Secção do Contencioso Tributário, de 22/4/2009, rec. nº 277/09, de 17/12/2008, rec. nº 997/08 e de

25/6/2008, rec. nº 464/08, de 31/1/2012, rec. nº 26/12, de 23/5/2012, rec. nº 452/12, de 12/9/2012, rec. nº 895/12, de 19/9/2012, rec. nº 893/12.

Ora, como se referiu no acórdão de 22/4/2009 «para efeitos de

compensação de dívidas de tributos, por iniciativa da administração tributária (…) deve equiparar-se, à pendência dos meios processuais ou procedimentais aí elencados, o não decurso dos respectivos prazos» sendo que «isto tanto vale quanto aos meios impugnatórios propriamente ditos (reclamação, impugnação, recurso ou oposição) como aos procedimentos tendentes à prestação de garantia, por um argumento de identidade de razão e sob pena de se desvirtuar a ratio legis que a excepção à possibilidade de compensação constante da parte final do nº 1 do artigo 89º pretende acautelar, que parece ser o de a compensação só se dever efectuar relativamente a dívidas sobre as quais não haja controvérsia» e sendo que «a dedução de oposição indica a existência de controvérsia acerca da dívida que a

Administração Fiscal pretende executar, facultando a lei o direito ao executado de, na pendência em sede administrativa ou judicial do pleito, obstar a que a execução prossiga através da prestação de garantia ou obtendo a sua dispensa.

Daí que, a privação de um direito de crédito ao contribuinte, sem que se encontrem esgotados todos os meios de defesa que tem ao seu dispor, não se mostre como legalmente admissível, sob pena, até, de violação dos princípios da igualdade e do direito a uma tutela

jurisdicional efectiva (artigos 13º, 20º e 268º, nº 4 da CRP).» (Como igualmente salienta o cons. Jorge Lopes de Sousa, «a proibição de efectuar a compensação se pender reclamação graciosa, impugnação judicial, recurso judicial ou oposição à execução da dívida exequenda exprime uma intenção legislativa de a compensação só se dever efectuar relativamente a dívidas sobre as quais não haja controvérsia» (ob. cit., Vol. I, anotação 9 ao art. 89º, p. 730). )

Isto é, na «na pendência do prazo para prestar a garantia cuja fixação

foi solicitada para suspender a execução, esta devia ter permanecido suspensa, sem que no seu âmbito pudessem ser praticados actos ofensivos do património do contribuinte – como o é manifestamente a compensação por iniciativa da administração tributária (art. 89º nº 1 do CPPT), na medida que o priva de um crédito a que tem direito sem para tal ter de consentir» [cfr. o citado acórdão do STA, bem como o

ac. de 15/2/2012, rec. nº 089/12, no qual se considerou que a prática de acto de compensação de crédito por iniciativa da administração tributária, após a oportuna apresentação de requerimento para

prestação de garantia e antes da sua apreciação, viola o princípio da boa fé que deve presidir à actividade administrativa (art. 6º-A do CPA e art. 266º da CRP), porque frustra a legítima expectativa de

apreciação da pretensão, ancorada no princípio da decisão]. Improcede, pois, nesta parte (Conclusões A a W), o recurso.

(12)

5. Quanto à questão de saber se há lugar à restituição com juros de mora à taxa legal, desde 19/5/2011, como consta da sentença

recorrida, ou desde 21/5/2011, como pretende a recorrente (cfr. Conclusões X e Y), diremos, desde já, que tem razão a recorrente. Com efeito, sendo certo que os juros previstos nos arts. 43º e 100º da LGT visam ressarcir os prejuízos pela privação de importância

indevidamente paga (cfr. acs. do STA, de 3/5/06, proc. nº 350/06, de 11/2/09, proc. nº 1003/08 e de 8/5/2013, no proc. nº 33/13), na al. a) do nº 3 do citado art. 43º prevê-se o pagamento de juros

indemnizatórios «Quando não seja cumprido o prazo legal de

restituição oficiosa dos tributos», sendo a respectiva taxa igual à dos juros compensatórios (nº 4 do mesmo artigo). E também o citado art. 100º impõe a obrigação de a AT reconstituir a situação que existiria se não tivesse sido cometida a ilegalidade, compreendendo o

pagamento de juros indemnizatórios, nos termos previstos na lei. No caso, a sentença recorrida anulou o acto da compensação e determinou a consequente devolução aos reclamantes da quantia que havia sido compensada, no montante de 1.609,89 Euros, acrescida de juros de mora à taxa legal, desde 19/5/2011, data em que ocorreu a notificação da liquidação, até efectivo e integral pagamento.

Ora, da conjugação dos citados normativos o que resulta é que,

perante o acto ilegal de compensação, haverá lugar ao pagamento de juros indemnizatórios, nos termos da dita al. a) do nº 3 do art. 43º da LGT, por incumprimento do prazo legal de restituição oficiosa do tributo (IRS) objecto da compensação ilegal, juros que, no caso, serão devidos desde o dia seguinte àquele em que a mesma

compensação ocorreu (22/5/2011) – cfr. o nº 3 do art. 61º do CPPT, ou seja desde o dia seguinte àquele em que os reclamantes

estiveram privados da quantia compensada e até ao momento em que seja elaborada a respectiva nota de crédito a seu favor.

O recurso procede, portanto, mas apenas nesta medida. Improcedendo no mais.

DECISÃO

Nestes termos acorda-se em, dando apenas parcial provimento ao recurso:

a) Confirmar a sentença recorrida, na parte em que determinou a anulação da compensação de créditos operada pela AT e a

devolução aos reclamantes da quantia de 1.609,89 Euros, apurada como reembolso de liquidação de IRS.

b) Revogá-la na parte em que ordenou que a restituição da quantia apurada como reembolso de liquidação de IRS seja acrescida dos juros de mora, à taxa legal, desde 19/5/2011, julgando-se agora que tais juros são os juros indemnizatórios devidos desde 22/5/2011, à taxa legal respectiva.

Custas pela recorrente, na proporção do decaimento.

Lisboa, 22 de Maio de 2013. - Casimiro Gonçalves (relator) -

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