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REFLEXÕES SOBRE SAÚDE E EDUCAÇÃO: ANÁLISE DO DISCURSO DAS LETRAS DE MÚSICAS DO GÊNERO FUNK

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International Scientific Journal – ISSN: 1679-9844 Nº 3, volume 13, article nº 8, July/September 2018 D.O.I: http://dx.doi.org/10.6020/1679-9844/v13n3a8

Accepted: 11/05/2018 Published: 30/09/2018

REFLEXÕES SOBRE SAÚDE E EDUCAÇÃO: ANÁLISE DO

DISCURSO DAS LETRAS DE MÚSICAS DO GÊNERO FUNK

REFLECTIONS ON HEALTH AND EDUCATION: ANALYSIS OF THE

SPEECH OF THE LETTERS OF FUNK GENDER MUSIC

Anderson Silvano Gava1, Rosália Maria Netto Prados2

1Universidade de Mogi das Cruzes, UMC, andersongava@yahoo.com.br

2Universidade de Mogi das Cruzes, UMC, rosalia.prados@gmail.com

Resumo – Propomos um estudo sobre canções do gênero funk, mais especificamente sobre o discurso manifestado nas suas letras, e reflexões sobre a educação para a saúde. Verifica-se que, atualmente, esse gênero de música está muito presente na mídia, seja pelas divulgações em redes sociais, seja pela divulgação em rádio e televisão. É entre adolescentes que esse gênero musical tem maior expressão. O discurso musical constitui-se de mecanismos de sedução e efeitos de sentido, subjacentes ao texto verbal. Esta pesquisa trata de uma análise semiótica do discurso que se manifesta nos textos das canções. Das teorias existentes, na Semiótica, este estudo adota a teoria greimasiana, de linha francesa, que tem por objetivo o estudo dos processos discursivos das respectivas práticas sociais e das várias possibilidades de leituras nas relações de comunicação, bem como o estudo da capacidade humana de linguagem e processo de construção do saber compartilhado no contexto contemporâneo. Propomos como objetivos, a análise de descrição das estruturas do discurso, a narrativa, os programas narrativos, sujeitos e objetos de valores, as relações intersubjetivas e os sistemas de valores, ou a axiologia, de acordo com a semântica profunda. Neste estudo, selecionamos três canções, do gênero funk, segundo o critério das mais tocadas nas principais emissoras de rádio e televisão e muito ouvidas entre os adolescentes, a fim de analisarmos alguns valores implícitos. A análise revela que nos textos manifestam-se valores culturalmente aceitos, por isso é necessária a implementação de políticas públicas educacionais e de saúde, para a educação do jovem e a prevenção de doenças.

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Palavras-chave: Contexto Contemporâneo; Discurso; Funk; Semiótica. Abstract – We propose a study on genre songs funk, more specifically on the speech expressed in its texts and reflections on health education. It appears that, currently, this genre of music is very present in the media, in the disclosures in social networks, and in the dissemination of radio and television. Among teenagers that this musical genre has greater expression. The musical discourse consists of seduction mechanisms and effects of meaning underlying the verbal text. This research deals with a speech semiotic analysis manifested in the texts of the songs. Of existing theories in semiotics, the study adopts greimasian theory, of the French line, which aims at studying the discursive processes of their social practices and the various possibilities of readings in communication relations and over the study of human capacity as language and construction process of shared knowledge in the contemporary context. We propose the following objectives, a description and analysis of the discourse structures, the narrative, narrative programs, subjects and objects of values, intersubjective relations and value systems, or axiology, according to the profound semantic. In this study, we selected three songs, of funk genre, according to the criterion of the most played in the radio and television and more heard among teenagers in order to analyze some values systems. The analysis reveals that the texts manifest culturally accepted values, to the implementation of public policies in education and health is necessary for the young a education to disease prevention.

Keywords: Contemporary Context; Speech; Funk; Semiotics

Introdução

O ser humano é um ser de linguagem, mesmo existindo comunicação em outros animais como primatas, baleias e até mesmo o canto dos pássaros, nenhuma das espécies tem o domínio organizado de linguagem como os seres humanos (MITHEN, 2006).

Neste artigo, propõe-se uma análise semiótica de canções de Funk, um gênero musical, para se verificar como se apresentam os valores sobre a saúde e prevenção de doenças na cultura contemporânea entre os adolescentes. Nos textos das canções, por meio dessa perspectiva de análise discursiva, revelam-se sistemas de valores sobre hábitos culturalmente aceitos.

A música é uma linguagem das artes. É a que possui representação neuropsicológica extensa, segundo Muszkat (2010), que acessa diretamente à afetividade, controle de impulsos, emoções e motivação, podendo estimular a

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memória não verbal por intermédio das áreas associativas secundárias. Desta forma liberando acesso direto ao sistema de percepções integradas, que estão ligadas às áreas vinculadas à confluência cerebral unificando várias sensações. Exemplificando, se especificarmos outras formas sensoriais como o paladar, olfato e visual até mesmo a proprioceptiva, da qual segue das associações de muitas impressões sensoriais ao mesmo tempo, como a lembrança de uma imagem, cheiro, após ouvir determinada música ou som. A ligação desses processos motores e cognitivos envolvidos no processamento da música é chamada de função cerebral (MUSZKAT, 2010).

De acordo com Pereira (2010), é na adolescência que a música tem maior expressão. O significado da importância da música na vida dos adolescentes tem gerado inúmeras pesquisas para investigar esse tema de diversos aspectos e perspectiva.

Muitas das atividades nas quais os adolescentes executam tanto, segundo Pereira (2010), desde de maneira individual como coletiva, é notória a presença da música e é a principal atividade de lazer entre os adolescentes. A música se torna cada vez mais importante, tanto na vida pessoal como social dos indivíduos, é tão importante que pode chegar a influenciar e significar diretamente a vida dos adolescentes.

A adolescência é uma etapa de transição entre a infância e a idade adulta. No Brasil, de acordo com o ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, esse período está dentro da faixa de 12 e 18 anos, divergindo da OMS, Organização Mundial de Saúde, que estabeleceu essa faixa entre 10 e 19 anos. Esta fase da vida é caracterizada pela ocorrência de vários conflitos, mudanças corporais e comportamentais (OLIVEIRA et al, 2009). É, também, neste período que são determinados os padrões de saúde na vida adulta e todas as alterações físicas, psíquicas, comportamentais e sociais que acontecem na adolescência incluindo o amadurecimento das características sexuais e a iniciação da atividade sexual (CRUZEIRO et al, 2010).

Indicadores demonstram que a idade de início da puberdade vem diminuindo e a idade em que o indivíduo atinge a maturidade em relação aos papéis sociais vem aumentando. Desta forma, quando ocorre a iniciação sexual na adolescência, ainda dentro do período de desenvolvimento emocional e cognitivo, essa fase pode introduzir esses indivíduos em um contexto de vulnerabilidade e exposições aos

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riscos como o uso abusivo de álcool, fumo e outros tipos de drogas, contaminação por doenças sexualmente transmissíveis, DST, principalmente a Síndrome da Imunodeficiência, AIDS, gravidez e outros riscos (SÁNCHES, BERTOLOZZI, 2007). É possível verificar, no discurso manifestado subjacente aos textos das canções, que os jovens se expõem a tais riscos.

A música tem influência e produz significados sobre as emoções, comportamento e atitudes dos adolescentes, tendo em vista que a música tem representação sobre seus desejos e problemas desempenhando uma referência poderosa (PEREIRA, 2010). Dentro deste contexto este estudo tem como objetivo analisar como o gênero funk da música contemporânea transmite seu discurso e de que maneira reflete, direta e indiretamente, a vida dos jovens e adolescentes brasileiros e riscos à saúde.

A metodologia de análise das letras de canções do gênero funk sustenta-se na Semiótica, para uma desconstrução do discurso subjacente ao texto e a reconstrução do sentido, a fim de se verificar os sistemas de valores socioculturais contemporâneos.

1. Semiótica

A Semiótica é a ciência que estuda os signos, segundo com Peirce (2005), a teoria da Semiótica é realizada como uma doutrina dos signos, sendo que o signo é algo percebido no lugar de outra coisa material que o representa. Assim, segundo essa teoria, obtemos como fundamentação o objeto percebido pelos sentidos, o interpretante não está presente criando na mente do observador um novo signo e o fundamento que é a ideia que aparece na mente do observador percebendo o signo. Portanto, o mesmo autor diz que o pensamento ocorre dentro de uma sequência de signos o que torna impossível o pensar sem eles.

Das teorias existentes, na Semiótica, este estudo adota a teoria greimasiana. Foi escolhida essa teoria por que ela se enquadra dentro do perfil de análise de discurso das letras da música popular brasileira contemporânea, pois entendemos que a teoria greimasiana lida com o texto e o sentido do texto. Desta forma, a Semiótica tem como objeto o texto, buscando descrever e explicar de que maneira esse texto diz e de que forma ele se faz dizer e demonstra como se ocorre a

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construção de sentido se utilizando o percurso gerativo de sentido (BARROS, 1990, p. 7).

A Semiótica trabalha no campo da construção de sentido no percurso realizado para a geração de sentido, assim o discurso é visto como uma superposição de níveis de diferentes profundidades articulando-se (BARROS, 1990). Segundo Fiorin, é “uma sucessão de patamares, cada um dos quais suscetíveis de receber uma descrição adequada, que mostra como se produz e se interpreta o sentido, num processo que vai do mais simples ao mais complexo” (FIORIN, 2000, p. 22).

A Semiótica, segundo Greimas (2001), de linha francesa, é a ciência que estuda, não só o universo dos signos, mas a significação. Portanto, o estudo desta deve considerar a transmissão, a conservação, a transformação e a aprendizagem da cultura que são processos que se realizam por meio das práticas em diferentes esferas sociais e que, por sua vez, organizam-se segundo processos discursivos ou processos de significação. É uma Semiótica do discurso.

Esta Semiótica, segundo Bertrand (2003), de linha francesa, é apresentada como modelo de análise da significação, além da palavra, além da frase, na dimensão do discurso, tendo suas raízes na teoria da linguagem, e suas estruturas e concepções da língua como instituição social (Valim et al, 2015). O objeto da Semiótica é a descrição e análise das estruturas significantes que modelam o discurso social e o discurso individual. “A linha divisória está aqui definida: a palavra “signo” desapareceu; é que não se trata mais do signo, mas da significação” (BERTRAND, 2003, p. 15).

Num processo de produção discursiva, como é o caso de uma composição musical, o produto é o texto musical e poético, música e letra. O saber e a significação articulam-se nessa produção. Os discursos, então, refletem sistemas de valores de uma comunidade, pois a visão de mundo de qualquer comunidade sociocultural e linguística, bem como sua ideologia, acha-se sempre em processo de (re) formulação e um constante processo de vir a ser que, paradoxalmente, transmite a seus membros o sentido de estabilidade e de continuidade (PAIS, 2005).

Para Hjelmslev (2006), cuja teoria serviu de base para os estudos greimasianos, o sentido é visto “como substância de uma forma qualquer” (HJELMSLEV, 2006, p. 51), tanto no plano do conteúdo como no plano da expressão, ampliando assim a noção de linguagem, que na Linguística, limitava-se

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ao universo verbal. Essas suas considerações teóricas sobre a linguagem fundamentam a metodologia de análise semiótica do discurso.

Segundo Valim, et al (2015, p. 85), referenciando Greimas e Fontanille (1993), entre o nível profundo semântico do sujeito conhecedor e a instância discursiva, que é a do sujeito do fazer, a enunciação é o lugar de mediação, em que se opera a linguagem. Na instância de enunciação manifesta-se, dialeticamente, a „geração‟, isto é, o sentido gerado pela convocação dos universais semióticos ou linguagens verbais, não-verbais, sincréticas e a „gênese‟, ou seja, pela integração dos produtos da história.

Em sua metodologia, segundo essa perspectiva, a análise semiótica baseia-se nas estruturas do discurso: do percurso narrativo do sentido dos discursos, ou seja, o percurso dos sujeitos em busca de seus objetos de valor e respectivos programas narrativos; da discursividade, ou seja, a tematização, figurativização, tempo e espaço; e da semântica profunda, para o estudo da construção dos sistemas de valores dos sujeitos e das relações de linguagem, vistas como capacidade humana de discursos e suas contradições, bem como, dos processos de construção do „saber social‟, ou seja, do saber compartilhado (PRADOS, 2008).

2. Da modalidade

A modalidade pode ser compreendida como elemento de informação, definindo o modo como o sujeito se relaciona com o predicado dentro de um enunciado, ao passo que a modificação é “uma modificação do predicado pelo sujeito, pode-se considerar que o ato – e, mais particularmente, o ato de linguagem – com a condição de que o sujeito modalizador seja suficientemente determinado, é o lugar do surgimento das modalidades” (GREIMAS, 1976, p.27).

A Semiótica greimasiana terá sempre como objeto de análise um signo podendo ser texto verbal, não-verbal e sincrético, ou seja, tudo que conduz a um sentido, se organizando metodologicamente voltado na relação entre sujeito e objeto, sendo que ambos possuem um investimento semântico de desejo, equiparando-se o sujeito ao ser querente (ativo) e o objeto ao ser querido (SILVA, 2009)

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Para Fiorin (2000), a Semiótica somente existe dada a relação do sujeito com um objeto, assim um sujeito só existe na medida em que ele está se relacionando com um objeto. Desta forma quando o sujeito possui seu objeto, o sujeito está em conjunção com seu objeto e quando ele não possui, o sujeito está em disjunção (SILVA, 2009).

Os objetos possuem determinado valor, assim o sujeito procura não o objeto em si, mas o valor nele agregado. No funk, manifestam-se valores culturais, por exemplo, nas letras de canções, o discurso manifestado é o do relacionamento sexual, em que se apresenta um sujeito do discurso (um homem) em busca do objeto de valor, quer relacionar-se com as chamadas “novinhas” (objeto), que podem lhe proporcionar sexo casual (valor).

A semiótica greimasiana trabalha com quatro modalidades, essas modalidades são capazes de entender os predicados funcionais do discurso narrativo. Segundo Greimas (1976), as modalidades virtualizantes são o querer e o

dever, as atualizantes são o poder e o saber.

Desta forma o querer e o dever, estabelecem a relação entre o actante-sujeito (A1) e o actante-objeto (A2). “O querer, da mesma forma que o dever, parece constituir uma condição prévia virtual da produção de enunciados, de fazer ou de estado” (GREIMAS, 1976, p.36).

O saber está relacionando o destinador (A3) com o actante-destinatário (A4) e por final o poder está relacionando o actante-adjuvante (A5) com o actante-opositor (A6). Tais modalidades caracterizam-se na etapa da narratividade do discurso (GREIMAS, 1976).

3. Análise discursiva de canções do gênero Funk

Neste estudo, foram selecionadas 3 (três) músicas, no âmbito da música popular brasileira contemporânea, de forma aleatória do gênero musical Funk. Essas músicas foram escolhidas de forma como o seu tema e letra se adequam ao objeto de estudo e reflexão sobre a saúde e prevenção de doenças.

Foi realizada a análise do discurso das letras das músicas “Novinha Safadinha”, “Parará Tibum”, “Doidona de Tequila”. Observamos nas letras partes semelhantes em relação ao sexo casual e ao consumo exagerado de álcool como

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podemos ver a seguir nas partes das letras. Analisamos, primeiramente, as letras do estilo musical Funk no qual foi observado a palavra “novinha”, uma referência a meninas na fase da adolescência.

Música 1. “Novinha Safadinha” Novinha safadinha Mc Tarapí que fez pra tu

Quero ver, quero ver Tu escorregando com o bumbum

Quero ver, quero ver Tu escorregando com o bumbum

Já passei um pouquinho de óleo Pra você deslizar com o seu bumbum

Quero ver, quero ver, quero ver, quero ver, quero ver, quero ver Tu escorregando com o bumbum

Quero ver, quero ver, quero ver, quero ver, quero ver, quero ver Tu escorregando com o bumbum1

Musica 2. “Parará Tibum” Eu vou, eu vou Eu vou, eu vou, eu vou

Sentar agora eu vou Eu vou, eu vou, eu vou

Sentar agora eu vou Parara tibum, parara tibum

Eu vou, eu vou Deixa, senta Menino não se esqueça Mexer com essa novinha Vai te dar dor de cabeça2 Música 3. “Doidona de Tequila”

Novinha tu tá chapada Novinha tu tá doidinha Tu tá loucona de tequila Toma, toma, toma, toma Toma, toma, toma, toma Tu tá loucona de tequila Vem cá menina rebolando de sainha

O dj do baile vai te deixar suadinha Tão vem na minha, vem na minha O bonde taca, taca, taca elas se amarra

Toma, toma, toma, toma Toma, toma, toma, toma Tu tá loucona de tequilaa3

Percebemos inicialmente, no nível superficial do texto, como ocorre o processo de comunicação:

1

MC Tarapi. Disponível em < http://www.vagalume.com.br/mc-tarapi/novinha-safadinha-escorrega.html >

2

Spatilha 37. Disponível em < http://www.vagalume.com.br/sapatilha-37/eu-vou-eu-vou-parara-tim-bum.html>

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Emissor (compositor) Mensagem (texto) Receptor (público)

A metodologia de análise semiótica apresenta valores que se manifestam nos discursos subjacentes aos textos das canções. Propõe a reconstrução do processo discursivo, a fim de se verificar o percurso do sentido que se constituiu no texto.

Observamos que se manifestam nas letras das músicas, sistemas de valores socioculturais sobre a permissividade de sexo com adolescentes jovens, “novinhas”. Nas duas primeiras músicas, é explícita a exploração sexual das “novinhas” (adolescentes) com as frases “Tu escorregando com o bumbum” e “Sentar agora eu vou” no qual se dá a conotação sexual, embora implícito. E, pela tematização do texto, verifica-se que não se manifesta nenhum discurso para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.

A frase da música 3, “Vem cá menina rebolando de sainha”, também, demonstra a exploração da sexual e vulgarização da figura feminina. Ainda na música 3, observamos outra problemática o uso abusivo de álcool, percebemos isso nas frases “Novinha tu tá chapada” e “Novinha tu tá doidinha”, em que a expressão chapada é uma gíria utilizada para pessoas embriagadas e a palavra “doidinha” também expressa essa conotação.

Seguindo esse raciocínio, o sujeito será o público masculino, que escuta esse gênero musical, que está relacionado ao sexo casual ao prazer que eles podem proporcionar para quem se relaciona com as mesmas, sendo o destinador, também, a palavra “novinha”. O destinatário, o público, neste caso pode existir mais de um oponente que são: os valores familiares, a religião e o nível educacional do destinatário. O adjuvante nesse são os músicos e compositores do funk que transmitem e demonstram a permissividade a essa prática.

Desta forma, o público é levado pelo Destinador-manipulador a dever e querer se relacionar com essas meninas, e encontra-se dentro das modalidades atualizantes querer/fazer e poder/fazer, pois segundo o discurso manifestado na música, o indivíduo irá querer se relacionar com as meninas e pode obter sexo casual com elas.

Fig. 1. Análise semiótica da narrativa do discurso

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Público Palavra “Novinha”

Adjuvantes (A5): Músicos e compositores de Funk

Público (A1) Objeto (A2)

Sexo com adolescentes Opositores (A6): Valores Familiares, religião

e nível educacional do público Fonte: O Autor

Nessa análise observou-se que o destinatário e o sujeito são os mesmos, que é o público masculino, que recebe a mensagem e que, por sua vez, transmite a intenção de obter sexo com adolescentes, tendo em vista que o principal objeto de desejo seria o prazer que essas adolescentes possam lhe proporcionar.

Considerando esse grupo dos adolescentes, um grupo de risco, essa mensagem que as letras de funk revelam trata de sérios problemas sociais como o aumento de DSTs e gravidez na adolescência, de forma que em nenhum momento os músicos ou letras relatam sobre o uso de preservativos, ou medidas de prevenção, outro fator de risco é o uso abusivo do álcool podendo causar dependência.

Em um país como o Brasil, que possui uma população cerca de 45 milhões de adolescentes, sendo que dessa população, cerca de 17 milhões, pertencem ao sexo feminino, e nasce cerca de 1 milhão e 200 mil crianças de adolescentes por ano (IBGE, 2010). Embora, no Brasil, não existam muitas informações sobre o domínio de adolescentes com DST e as estimativas dos números de casos estão muito abaixo das expectativas, pode ser por que somente a AIDS e a Sífilis sejam de notificação compulsória.

Nota-se que, no país, a faixa etária com maior incidência de AIDs, em ambos os sexos, é a de 25 a 49 anos, entretanto em jovens de 13 a 19 anos, é a única faixa etária no qual o número maior de casos é em mulheres. Dados apontam que os jovens possuem mais conhecimento sobre a prevenção da AIDS e outras DSTs. Existe uma tendência do crescimento da AIDS, ou também, conhecida como HIV. A forma de transmissão que ainda prevalece entre os jovens maiores de 13 anos de idade é a sexual, 86,8% dos casos registrados. Em 2012, foram em mulheres e

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decorrentes de relações heterossexuais com portadores da doença, já nos jovens do sexo masculino ocorreram 43,5% dos casos decorrentes de relações sexuais heterossexuais, 24,5 % por relações homossexuais, 7,7% por relações bissexuais e 24,3% por transmissão sanguínea e vertical que é a transmissão durante a gestação (BRASIL, 2010).

O que corrobora com a preocupação sobre as mensagens que as letras das músicas do gênero funk possam transmitir, de forma que observamos que as “novinhas” estão enquadradas nesse grupo de risco de pessoas portadoras da AIDS, outra questão que este estudo levanta são as consequências do alcoolismo na adolescência.

O início do uso do álcool precocemente é um dos fatores mais significantes em problemas futuros de saúde, socioculturais e econômicos, se o consumo iniciar antes dos 16 anos aumenta relativamente o risco de beber exageradamente quando adulto em ambos os sexos (LARANJEIRA, HINKLY, 2002). O consumo excessivo de álcool e outras drogas aumentam a vulnerabilidade dos adolescentes, contribuindo para que os jovens não adotem práticas preventivas nas relações sexuais (ALBUQUERQUE et. al., 2014).

A Organização Mundial de Saúde, OMS, demonstra que o álcool é a substância psicoativa mais consumida no mundo, mesmo com as diferenças socioeconômicas e culturais existentes entre os países (CARLINI-COTRIM, 1999). No Brasil, é a SPA, substância psicoativa, mais usada em todas as faixas etárias; e o consumo vem aumentando entre os adolescentes, principalmente, na faixa etária de 12 a 15 anos de idades e entre as meninas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001 e 2004).

Em 2007, foi realizado o I Levantamento Nacional sobre os padrões de consumo de álcool na população brasileira, demonstrando que 9% dos adolescentes bebem com frequência, ou seja, mais de uma vez por semana sendo 12% adolescentes do sexo masculino e 6% do sexo feminino. Nos últimos anos, ocorreram mudanças no padrão do consumo de bebidas alcoólicas por menina, essa mudança vem despertando maior atenção, estudos apontam que as adolescentes estão se aproximando da quantidade consumida por adolescentes do sexo masculino (CARLINI et al., 2010).

Se considerarmos que a população jovem é mais vulnerável a sofrer acidentes de trânsito, diversos estudos apontam a necessidade de demonstrar que

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alguns comportamentos de risco podem ocasionar acidentes (ANDRADE, et al, 2003). A morte de menores de idade nos EUA é mais associada ao consumo de álcool do que a todas as outras substâncias psicoativas ilícitas juntas, é de conhecimento que acidentes de trânsito é a principal causa de mortalidade entre jovens de 16 a 20 anos de idade (NHTSA, 2001).

Segundo Andrade et al (2003), a falta de experiência em conduzir veículos, a impulsividade, necessidade de autoafirmação, perante o grupo que são características da juventude, além de que os jovens consomem com mais frequência álcool e drogas ilícitas que adultos, apresentam a tendência de exceder mais facilmente os limites de velocidade e de desrespeitam outras normas de segurança no trânsito o que pode aumentar as chances de ocorre acidentes (ANDRADE, et al, 2003).

Diante desses fatos, transmitir mensagens através da música em que se embriagar é algo normal e parte da diversão, passando a imagem que exceder no consumo te faz pertencer a um grupo pode ocasionar o aumento do índice de mortalidade de jovens brasileiros no trânsito

3.1. Conclusão

Este estudo apontou o discurso revelado nos textos das músicas do gênero Funk, sobre o uso. E, pelo discurso, é possível inferir-se que há riscos de uso de drogas lícitas na adolescência e se refletir sobre a saúde pública dos adolescentes no Brasil.

Desta forma, conclui-se que, por meio das letras de canções, são reproduzidos sistemas de valores da cultura e educação presentes no contexto das práticas sociais dos adolescentes. Verifica-se, assim, a importância da educação para a prevenção de doenças, que se manifestarão ao longo da vida, devido a hábitos culturalmente aceitos.

Essa reflexão é de responsabilidade de pais e de professores, como também é importante a implementação de políticas públicas educacionais e de saúde por parte do Estado, para a educação do jovem e prevenção de doenças

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Referências

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Referências

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