A Lei de Peter *
EXPLICAÇÃO DA INCOMPETÊNCIA OCUPACIONAL
A incom petência ocupacional está em tôda parte. Você já notou? Pro- vàvelm ente todos nós já o perce bemos.
Vemos po líticos indecisos posando com o estadistas resolutos e “ fontes autorizadas” que culpam "Im ponderá veis situa cio nais” por suas desinfor mações. São sem lim ite os funcionários pú blicos indolentes e insolentes, os com andantes m ilitares c u ja tim idez de com portam ento desm ente sua re tó ric a encouraçada, e governadores cuja servilidade inata os im pede de governar efetivam ente. Na nossa afe tação, pràticam ente dam os de om bros ao clé rigo im oral, ao ju iz corrupto, ao prom otor incoerente, ao au tor que não sabe escrever e ao professor de português que não sabe soletrar. Nas U niversidades vem os proclam ações assinadas po r adm inistradores cujas próprias com unicações internas são irrem ediávelm ente confusas, e aulas zum bidas po r instrutores inaudíveis ou incom preensíveis.
Vendo incom petência em tod os os níveis de tôd a hierarquia — política, legal, educacional e industrial — le vantei a hipótese de que a causa fôs- se algum a cara cte rística inerente às
LAURENCE J. PETER
Professor associado da Universidade de Educação da C alifórnia do Sul
e
RAYMOND HULL
TRADUÇÃO DE MARQUES DE OLIVEIRA
regras que governam a colocação dos empregados. Assim com eçou meu es tudo sério dos cam inhos pelos quais os em pregados sobem na hierarquia e do que acontece a êies depois da promoção.
Para meus dados cie ntíficos foram colhidas centenas de histórias de ca sos. Eis exem plos típicos.
Arquivo de Administração Municipal, caso n? 17.
J. S. M inion era chefe de manu tenção no Departam ento de Obras P úblicas da Cidade Excelsio. Era fa vorito dos funcionários mais antigos da Prefeitura. Todos louvavam sua afabilidade permanente.
"G osto do M inion” , disse o superin tendente das obras. “ Êle tem ju iz o e é sem pre agradável e c o rd a to ."
Êste com portam ento era apropriado para a posição de M inion: não era ob rigado a planejar nada, portanto, não tinha necessidade de discord ar de seus superiores.
O superintendente de obras apo sentou-se e M inion sucedeu-o. M inion
* (Management Revlew, 1969, Vol. 58, n.° 2) American Management Association, Inc.
continuou a con cord ar com todos. Passava ao seu capataz tôdas as su
gestões que vinham de cim a. Os co n flito s conseqüentes quanto ao plane jam ento, e a continua m udança de planos, logo desm oralizaram o De partam ento. Choveram reclam ações do Prefeito e de outros funcionários, dos con tribu intes e do sindicato dos trabalhadores na manutenção.
M inion ainda diz "s im ” a todo mun do, e leva mensagens soiertem ente para cim a e para baixo entre seus superiores e seus subordinados. No m inalm ente superintendente, na ve r dade faz o papel de mensageiro. O Departam ento de M anutenção ul trapassa periòdicam ente o orçam ento, mas êle não consegue cu m p rir seu program a de trabalho. Em resumo, M inion, capataz com petente, tornou-se superintendente Incompetente.
Arquivo das Indústrias de Serviço, caso n? 3.
E. T in ke r era excepcionalm ente ze loso e inteligente com o aprendiz na G. Reece A uto Repair, Inc. e breve elevou-se a m ecânico diarista. No seu serviço m ostrou excepcional ha bilida de no diag nostica r falhas ocultas e pa c iê ncia in fin ita no corrigi-las. Foi pro m ovido a chefe da oficin a mecânica.
Mas a( seu am or por coisas m ecâni cas e seu perfeicionism o transform am - se em desvantagens. Êle em preenderá qualquer trabalho que ju lg a r Interes sante, não Im portando quão cheia de serviço esteja a casa. “ Nós resolve
remos isto de qualquer je ito ” , d iz .
Não dá por term inado um serviço enquanto não estiver inteiram ente sa tisfeito com o mesmo.
Está sem pre se introm etendo, rara mente é encontrado na sua escriva ninha. Quase sem pre está muito ocu pado com um m otor aberto e, en quanto o homem que deveria estar fazendo o serviço fica observando, outros operários sentam-se em volta, esperando que lhes sejam dadas no vas incum bências. Como resultado, a oficin a fica abarrotada de serviço, sem pre em confusão, e o prazo de en trega freqüentem ente não é cum prido.
T inke r não pode entender que o cliente comum pouco se im porta com perfeição mas — quer seu carro de volta a tem po! Êle não pode com preender que m uitos dos seus ho mens estão menos interessados em m otores que nos cheques de paga mento. Por isso Tinker não pode dar- se bem nem com seus fregueses, nem com seus subordinados. Era um me cânico com petente mas agora é um chefe de oficin a incom petente.
Com o tem po vi que todos êstes casos tinham uma cara cte rística c o mum. O em pregado tin h a sido prom o vido de uma posição de com petência para uma de incom petência. Vi que, mais cedo ou mais tarde, isto pode ria acontecer a todos os em pregados em tôdas as hierarquias.
Arquivo de Casos Hipotéticos, caso n? 1.
Im agine sua pró pria fáb rica de en rolar pílulas, Pílula Perfeita Ltda. Seu m estre enrolador de pilulas m orre de úlcera perfurada. Você precisa de uma substituição. Naturalmente, você olha para a tropa de enroladores de p ílu las.
A senhorita Oval, d. Elipse, o sr. C ilin dro e o sr. Cubo, todos mostram
vários graus de incom petência. Serão, naturalm ente, inelegíveis para prom o ção. Você escolherá — se tudo o mais
estiver em pó de igualdade — seu enrolador de pílulas, mais com peten te, o Sr. Círculo, e prom ovê-lo-á a mestre.
Suponha agora que o sr. Círculo se dem onstre com petente com o mestre. Mais tarde, quando seu mestre-geral, Legree, fô r elevado a Gerente de Pro dução, o sr. Círculo será escolhido para ocupar o lugar dêle.
Se, por outro lado, o sr. C írculo fô r um m estre incom petente, não obterá mais prom oção. Terá alcançado o que eu cham o de seu “ nível de incom pe tê n cia ” . Lá perm anecerá até o fim de sua carreira.
A lguns em pregados, com o o sr. Ci lindro ou o sr. Cubo, atingem o nível de incom petência no grau mais baixo e nunca são prom ovidos. Alguns, como o sr. Círculo (fazendo de conta que não é um bom m estre), alcançam -no após uma prom oção.
E. Tinker, o chefe da o fic in a de consertos, chegou a seu nível de in com petência no terceiro estágio da hierarquia.
A L E I D E P E T E R
Dessa m aneira m inha análise de centenas de casos de incom petência ocupacional levaram-m e a form ular A
LEI DE PETER:
NUMA HIERARQUIA TODOS OS EMPREGADOS TENDEM A ELE VAR-SE ATÉ SEU NIVEL DE IN COMPETÊNCIA.
Tendo form ulado o princípio, desco bri que Inadvertidam ente achei uma
nova ciência, a hierarcoiogia, estudo das hierarquias.
O têrm o “ hierarquia” era origin à- riam ente usado para descrever o sis tem a de govêrno eclesiástico por sa cerdotes escalonados em postos. O sentido contem porâneo inclui qualquer organização cujos m em bros ou em pregados são dispostos em ordem de pôsto, grau ou classe.
Hierarcoiogia, em bora uma d is c ip li na relativam ente recente, parece ter grande possibilidade de aplicação nos cam pos da adm inistração pública e privada.
Isto se refere a você!
Meu princípio é a chave para o en tendim ento de todos os sistem as hie rárquicos, e portanto para a com pre ensão da estrutura total da civilização. Uns poucos excêntricos tentam evitar envolver-se com as hierarquias, mas todos que estão no com ércio, na in dústria, nos sindicatos, na política, no govêrno, nas fôrças armadas, na re ligião e na educação acabam sendo. Todos são controlados pela Lei de Peter.
M uitos dêles, para sermos exatos, podem lo gra r uma prom oção ou duas, mudando de um nível de com petência para outro mais eievado. Mas a com petência naquela nova posição os qua lific a para outra prom oção ainda. Para cada indivíduo, para você, para mim, a prom oção final será de um nível de com petência para outro de incom pe tência.
Assim , dado tem po suficiente — e pressupondo a existência de suficien tes postos na hierarquia — cada em pregado sobe ató seu nível de in com
petência e ali perm anece. O C orolá rio de Peter declara:
Com o tempo, todos os postos tendem a ser ocupados por um empregado que é incompetente para dar conta de seus deveres.
Raramente você encontrará, é claro, um sistem a no qual todos os em pre gados tenham alcançado seu nível de incom petência. Em m uitos casos, al gum a coisa está sendo feita para fa c ilita r os propósitos ostensivos pelos quais a hierarquia existe.
O trabalho é feito pelos empre gados que ainda não alcançaram seu nível de incompetência.
APARENTES EXCEÇÕES
Muitas pessoas a quem m encionei a Lei de Peter não querem aceitá-la. Ansiosam ente procuram — e às vê- zes pensam que encontraram — fa lhas em minha estrutura hierarcoló- gica. Assim , neste ponto, quero fazer uma advertência: Não se deixe enga
nar por exceções aparentes.
A SUBLIMAÇAO PERCUSSORA
"E a respeito da prom oção do W alt B lockett? Êle era irrem ediàvelm ente in com petente, um pêso m orto, então a direção chutou-o escada acima para tirá -lo do cam inho” .
Freqüentem ente ouço ta is pergun tas. Vamos exam inar o fenôm eno que cham ei de sublimação percussora (percussive sublimation). B lockett mu-
dou-se de uma posição de incom pe tên cia para outra de com petência? Não. Êle sim plesm ente fo i tra n sfe ri do de uma posição im produtiva para outra. A gora êle em preende alguma responsabilidade m aior que antes?
Não. Acaso êle realiza mais trabalho na nova posição do que na velha? Não.
A sublimação percussora é uma pseudopromoção. Alguns em pregados
tip o -B lo cke tt de fato acreditam que receberam uma prom oção genuina; outros reconhecem a verdade. Mas a princip al função da pseudoprom oção é enganar pessoas que estão fora da
hierarquia. Quando isto é conseguido,
a m anobra é tid a com o vitória.
Mas o hierarcólogo experim entado nunca será enganado. H ierarcològica- mente, a única m udança que podemos aceitar com o prom oção genuína é a mudança de um nível de competência.
A hierarcologia nos ensina que tôda organização próspera é caracterizada por esta acum ulação de pesos m ortos no nível da direção, com posta de su blim ados percussores e candidatos po tenciais à sublim ação percussora. Uma firm a de fabricação de ferram en tas m uito conhecida tem 25 vice-pre- sidentes!
O ARABÊSCO LATERAL
O arabêsco lateral é outra pseudo prom oção. Sem ser elevado em pôsto — algum as vêzes mesmo sem eleva ção de pagam ento — o em pregado incom petente recebe um título nôvo e maior e é transferido para um es c ritó rio numa parte rem ota do esta belecim ento.
Arquivo de Manufaturas Automotivas, caso n? 8.
W heeler A utom obile Parts, Ltd. de senvolveu o arabêsco lateral mais com pletam ente que m uitas hierarquias. As operações da W heeler estão d iv i didas em m uitas regiões e, em últim a
análise, descobri que 25 dirigentes mais antigos tinham sido banidos pa ra o in te rio r com o vice-presidentes re gionais.
A com panhia com prou um m otel e ordenou a um antigo funcionário que fôsse d irig i-lo .
Outro vice-presidente supérfluo tem estado trabalhando há três anos para escrever a história da com panhia.
C oncluo que quanto maior a hie
rarquia, mais fácil o arabêsco lateral.
INVERSÃO DA LEI DE PETER
Uma vez, fazendo o professorado numa universidade, recebi um cartão especial de identificação, em itido pelo Departam ento Contábil da Universida de, qualificando-m e para descontar cheques na livra ria da Universidade. Fui à livraria, m ostrei meu cartão, e apresentei um “ traveler’s c h e c k ” de vinte dólares da A m erican Express.
“ Nós recebem os apenas cheques de fôlha de pagam ento ou cheques pes soais” , disse o caixa da livraria.
"M as êste é m elhor que um c he que pessoal” , disse. “ E m elhor ain da que um cheque da fôlha de paga mento. Posso descontar em qualquer loja, mesmo sem êste cartão especial. O ‘ ‘traveler’s ch e ck” é tão bom quan to dinh eiro .”
“ Mas não é um cheque da fôlha de pagamento, nem um cheque pes soa l” , disse o caixa.
Depois de d is c u tir mais um pouco, pedi para ver o gerente. Êle me ouviu pacientem ente, mas com ar distante, e em seguida declarou perem ptòria- mente: “ Não descontam os “ traveler's che cks” .
Você já deve te r ouvido de hospi tais que gastam tem po precioso pre enchendo pilhas de form ulários antes de atender vítim as de acidente. Você já ouviu falar de enferm eiras que d i zem, “ A corde! Está na hora de tom ar sua pílula contra in sônia!”
Especialm ente entre funcionários in feriores sem podêres discricio ná rios, percebe-se um interêsse obsessivo em fazer com que as form as sejam obser vadas corretam ente, quer as mesmas sirvam a algum propósito útil, quer não. Nenhum desvio, ainda que m íni mo, da rotina costum eira, é perm itido.
Automatismo Profissional
O tipo de com portam ento acima chamo de automatismo profissional. Para o autôm ato profissional é claro que os meios são mais importantes que os fins; a papelada é mais im portante que a finalidade para a qual ela foi destinada. Êle já não se vê mais como existindo para servir o público: vê o público com o a m atéria-prim a que serve para sustentar a êle, às fo r mas, aos rituais e à hierarquia!
O autôm ato profissional, do ponto- de-vista dos seus fregueses, clientes ou vítim as, parece incom petente. En tão você, sem dúvida, fic a rá im agi nando: Como é que tantos autômatos
profissionais conseguem promoção? E o autômato profissional está fora do domínio da Lei de Peter?
Para responder a estas perguntas preciso antes fazer outra: “ Quem de fine com petência?”
Questão de Padrões
A com petência de um em pregado é determ inada não pelos que estão fora,
o s up erior ainda está num nivel de com petência, poderá avaliar seus su bordinados em têrm os de desem pe nho, de trabalho útil — po r exemplo, o fornecim ento de serviços m édicos ou inform ações, a produção de salsichas ou pernas de mesas ou a consecução de sejam quais forem os objetivos de clarados da hierarquia. Isto quer dizer que êle avalia rendimento.
Mas se o sup erior alcançou seu ní vel de incom petência, provávelm ente apreciará seus subordinados em tê r mos de valôres in stitu cio nais: verá com petência no com portam ento que mantém as regras, rituais e fórm ulas dò “status quo” . Diligência, esmêro, cortesia para com os superiores, o papelório interno — serão altam ente considerados. Em resumo, êle avalia
contribuição.
“ Rockman é digno de confiança.” “ Lu brik con tribu i para o andamento
suave do e s c ritó rio .”
“ Rutter é metódico.”
“ A senhorita Trudgen é uma tra balhadora firme e sólida.”
“ A Sra. F rien dly coopera bem com os colegas.”
Em tais exem plos a consistência
interna é valorizada mais altamente que o serviço eficiente: isto é a Inversão da Lei de Peter. O autôm ato pro fis
sional pode também ser cham ado de
Inverso de Peter. Êle inverteu a rela
ção m eios-fim .
A gora você pode entender as ações dos Inversos de Peter descritas antes. Se o caixa da livraria tivesse acei tado meu “ tra v e le r’s c h e c k ” , eu o te ria considerado prestatlvo. O geren te tê-lo -ia repreendido por te r exce dido sua, autoridade.
Perspectivas de Promoção para os Inversos de Peter.
O Inverso de Peter, ou autôm ato profissional, tem, com o vimos, pouca capacidade para julgam ento indepen dente. Êle sem pre obedece, nunca de
cide. Isto, do ponto-de-vista da hierar
quia, é com petência, então o Inverso de Peter é eleglvei para prom oção. C ontinuará a s u b ir a não ser que a l gum a fatalidade o coloque num pôsto onde tenha de tom ar decisões. A l, êle encontrará seu nível de incom petência.
Vemos portanto que o autom atism o profissional — ainda que você o te nha achado ab orre cido — não é, a fi nal, exceção à Lei de Peter. Como sempre digo a meus alunos: “ A Com petência, com o a Verdade, a Beleza e lentes de contacto, está no ôlho do observador.”
ESFOLIAÇÃO HIERÁRQUICA
Em seguida discu tire i um caso que aos observadores destreinados talvez seja o mais espantoso de tod os: o c a so do trabalhador brilhante, produtivo que não apenas não consegue pro moção, mas é mesmo destituído do seu pôsto.
Deixe-me da r alguns exem plos, en tão explicá-los-ei.
Na Cidade E xcelsior tod os os novos professôres prim ários (m estres-escola) passam por um ano de prova. K. Bu- chm an tinh a sido um brilhante aluno de Inglês na Universidade. No seu ano de exp eriência com o professor de inglês, agiu de m odo a in fu nd ir nos seus alunos seu pró prio entusias mo pela lite ratura clássica e m oder na. Alguns dêles obtiveram cartões de in scrição na B ib lio teca P ública da C i dade E xcelsior; alguns com eçaram a
escarafunchar livrarias e sebos. Fica ram tão interessados que leram m ui tos livros fora da lista de Leituras Per m itidas para as Escolas de Excelsior. Não dem orou muito e alguns pais irados e delegações de duas austeras seitas religiosas visitaram o superin tendente da escola para queixar-se de que seus filh os estavam estudando li teratura “ indesejável” . Buchman foi inform ado de que seus serviços não seriam requisitados no ano seguinte.
A senhorita E. Beaver, uma profes sora prim ária em periodo experim en tal, era altam ente dotada in telectual mente. Sendo inexperiente, pôs em prática o que havia aprendido na Fa culdade a respeito de fazer conces sões às diferenças individuais entre os alunos. Como resultado, seus alunos mais vivos term inaram do is ou três anos de estudo em apenas um.
O d ire to r fo i m uito cortês quando explicou que a srta. Beaver não po deria ser recom endada para co n tra tação perm anente. Êle tinh a certeza de que ela entenderia que havia trans tornado o sistema, não se prendeu ao currículo escolar e criou problem as pa ra as crianças que não iriam encai- xar-se no program a do próxim o ano. Ela rompeu o sistem a o fic ia l de dar notas e o sistem a de edições de livros de texto e causou grave inquietação ao professor que no próxim o ano teria de lid a r com crianças que já haviam com pletado o program a.
Explicação do Paradoxo
Êstes casos ilustram o fato de, em m uitas hierarquias, a supercompetên-
cia ser mais repreensível que a incom petência.
A incom petência com um , com o v i mos, não é m otivo para despedida: é
sim plesm ente um entrave à prom oção. Supercom petência freqüentem ente le va à demissão, porque rompe a hie
rarquia, e dessa form a vio la o primei ro mandamento da vida hierárquica: a hierarquia tem de ser preservada.
Os em pregados pertencem a cin co classes.
Os das classes extrem as — super- com petentes e superincom petentes — são igualm ente sujeitos à demissão. Costum eiram ente são despedidos logo após terem sido em pregados, pela mesma razão: êles tendem a rom per a hierarquia. O desbastam ento dos ex trem os é cham ado esfoliação hierár
quica.
Um Exemplo Formidável
Já deácrevi o destino de alguns em pregados supercom petentes. Eis ago ra um exem plo de superincom petên- cia.
A srta. Saucier fo i em pregada com o vendedora na seção de utensílios da Loja Lomark. Desde o com êço ela vendeu menos que a quantidade média de m ercadorias. Sòmente isto não te ria sido m otivo para dem issão, pois m uitos outros vendedores estavam abaixo da média. Mas os anteceden tes da srta. Saucier eram terríveis: apertava as teclas erradas na caixa registradora, aceitava cartões de c ré d ito dos concorrentes e — pior ain da — colocou papel carbono com o lado errado para cim a quando pre enchia um form ulário de contrato de venda. Daí deu um je ito de entregar ao freguês o original do contrato. Êle foi-se com as duas vias (uma na fren te da fôlha e outra, Invertida, no verso) e ela acabou ficando sem nenhuma.
Mas pior de tudo é que era insolente com seus superiores. Foi despedida dentro de um mês.
O esfoliado superincom petente deve te r duas características im portantes:
1. Êle não consegue produzir (out- put)
2 . Êle não consegue sustentar a consistência interna da hierarquia (input)
Esfoliação é o seu Caso?
Vemos então que a supercom pe- tên cia e a superincom petência são igualm ente censuráveis pela hierar quia típ ica .
Vemos, tam bém , que os esfoliados hierárquicos, com o todos os outros em pregados, estão sujeitos à Lei de Peter.
Diferem dos dem ais por serem os únicos tipo s que, sob as condições presentes, estão sujeitos à dem issão.
Você gostaria de estar em outro lu gar? Sua atual localização no serviço m ilitar, na escola ou no com ércio foi escolhida po r você ou você é vítim a de pressão legal ou da fam ília ? Com planejam ento e determ inação você,
também, pode tornar-se ou supercom -
petente ou superincom petente.
A MÃO PATERNA
A lguns pro prie tário s de emprêsas fa m iliares antiquadas costumavam tra ta r seus filh o s com o em pregados nor mais. O rapaz com eçava na base da hierarquia e subia de acôrdo com a Lei de Peter. Aqui, naturalm ente, o am or do pro prie tário pela sua hierar quia, seu desejo de m antê-la e fic ie n te e lucrativa, e seu severo sentim en to de ju s tiç a contrabalançavam suas naturais ^feiçõe s fam iliares.
Freqüentemente, no entanto, o pro prietário de tal negócio trazia seu filh o até um alto nível, com a idéia de que, com o tem po, sem ga lgar os postos, êle poderia assum ir o com an do suprem o ou, com o se diz, “ calçar os sapatos do pa i” .
Êste tip o de colocação, portanto, cham o de a “ mão paterna” .
Há dois meios princip ais pelos quais a mão paterna é executada. Um em pregado efetivo pode ser de m itido ou rem ovido pelo arabêsco lateral ou por sublim ação percussora para dar lugar ao “ penetra” . Ou, mais comumente,
uma nova função, com título expres
sivo, é cria da para o novato.
A Explicação do Método
A mão paterna é m eram ente um exem plo em escala m enor da situa ção que existe sob o sistem a de cas tas, onde alguns indivíduos favo re ci dos entram numa hierarquia por cim a da barreira de classe, ao invés de pelo princípio da hierarquia.
A adm issão de novos em pregados num alto nível pode algum as vêzes au m entar a produção. A mão paterna, portanto, não desperta m al-estar fora da hierarquia.
No entanto, a chegada do “ penetra” provoca, em certo grau, ressentim en to nos outros membros da hierarquia. Na realidade, os em pregados têm sus- ce tib ilid a d e sentim ental (Tendência de Peter) pelo processo de prom oção pelo qual êles próprios subiram e esperam sub ir mais. Tendem a ressentir-se de colocações feitas por outros meios.
O negócio fam iliar, con tro la do por um homem com autoridade para c o lo ca r seus filh os nos mais altos postos, é, hoje em dia, quase raridade. T oda
via, a mão paterna ainda é executada do mesmo modo, apenas o novato não precisa ser parente do funcionário que o indica.
Deixe-me c ita r um exem plo típico.
Arquivo de Mão Paterna, caso n? 7
A. Purefoy, Diretor do Departamen to de Saúde e Higiene da Cidade Ex celsior, descobriu que ao final do ano financeiro te ria alguns fundos inespe rados. Os cidadãos não tinham s o fri do epidem ias; o rio E xcelsior não t i nha, com o sem pre fazia, transbordado do leito e obstruído o sistem a de dre nagem; ambos os diretores assisten tes (um para saúde e outro para hi giene) eram homens de m entalidade econôm ica, zelosos e com petentes.
Assim sendo, os fundos orçam entá rios não tinham sido gastos. Purefoy percebeu que, se não entrasse im e diatam ente em ação, sofreria um corte no orçam ento do ano vindouro.
Decidiu c ria r uma te rc e ira d ire to ria assistente cuja incum bência fôsse organizar um Program a de A n ti-S u je i ra e de Embelezamento. Para preen c he r o nôvo cargo êle contratou W. P ickw ick, jovem diplom ado da Fa culdade de A dm inistração de Emprê- sas da sua pró pria universidade.
Pickw ick, por sua vez, crio u onze novos postos: um supervisor anti-su je ira, seis inspetores de sujeira, uma equipe de três garôtas e um secretá rio de relações públicas.
N. W ordsworth, o S.R.P. 1, orga nizou concursos escolares de redação, concurso de “ jin g le s ” 2 e de carta zes, para adultos, e encom endou dois
film es, um de propaganda anti-sujeira e outro sôbre embelezamento da cid a de. Os film es deveriam ser feitos por um produtor pa rticu la r que tinh a esta do no Grêmio Dram ático Universitário
com W ordsworth e Pickw ick.
Tudo funcionou bem: o D iretor Pu refoy ultrapassou seu orçam ento e te ve êxito na obtenção de m aiores ver bas para o próxim o ano. 3
Substitutos Modernos do Pai
Hoje em dia, os governos am plia ram a situação do “ sapato do pa i” . Concessões federais são oferecidas pa ra muitas finalidades novas — Guerra à Poluição, Batalha contra a Sujeira, Luta contra o A nalfabetism o, Combate à Solidão, Campanha pelos Filhos Na turais e pesquisas quanto aos Poten ciais Recreativos das Viagens Interpla netárias para os Menos Favorecidos Culturalmente.
Tão logo é oferecido dinheiro, um cam inho precisa ser encontrado para gastá-lo. Um nôvo cargo é criado — C oordenador da A ntipoluição, Diretor de A lfabetização, Conselheiro de Se leção de Livros, O rganizador dos Pro jetos da Felicidade e Bem-Estar dos Cidadãos mais Velhos ou O Que Quer Que Você Imagine. Alguém é convo cado para ocu pa r a posição e para usar, se não fô r apenas para preencher, os sapatos.
1. N .T . — S.P.R. — Secretário de Re lações Públicas.
2. N .T . — "Jingles” , literalmente — ri ma. Sfio os anúncios curtos, gravados em discos que sâo ' ‘martelados" pelo rádio.
3. N .T . — Evidentemente, o exemplo nfto se aplica ao Brasil Grande, uma vez que a nova mentalidade orçamentária im pede êsses descalabros tão com uns no passado.
O “ penetra” pode ou não resolver o problem a que fo i incum bido de solu cionar. Isto não im porta. O ponto im portante é que deve ser capaz, e ter desejo de gastar o dinheiro reserva do.
Tal situação está de acôrdo com a Lei de Peter. Com petência ou incom petência é irrelevante desde que os sapatos estejam preenchidos. Se forem
preenchidos com petentem ente o “ pene tr a " será com o tem po elegivel para s ub ir e, saindo dêles, encontrar seu nível de incom petência num plano mais elevado.
CONCLUSÃO
As exceções aparentes não são ex
ceções. A Lei de Peter se aplica a
todos os em pregados em tôdas as hie rarquias.