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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL

Kim Patroca Kataguiri​, brasileiro, solteiro, deputado federal, RG nº 40.289.548-4, CPF nº 393.134.958-64, residente na SQS 304, bloco G, apto. 104, Brasília - DF, CEP 70337-000, endereço eletrônico dep.kimkataguiri@camara.leg.br, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por meio de seus advogados cuja procuração segue anexa, impetrar

MANDADO DE SEGURANÇA, COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

para fazer cessar coação ilegal da ​Mesa da Câmara dos Deputados ​(CNPJ da Câmara dos Deputados nº 00.530.352/0001-59)​, cujo presidente é o deputado federal Arthur César Pereira de Lira​, brasileiro, casado, advogado, RG nº 687257-SSP/AL, CPF nº 678.210.904-25, com gabinete no Palácio do Congresso, na Praça dos Três Poderes, s/n, Brasília - DF, CEP 70160-900. A Mesa da Câmara integra a pessoa jurídica da ​União ​(CNPJ nº 26.994.558/0001-23), cuja sede fica no Distrito Federal.

Anexo, a procuração, os documentos instrutórios e as guias de custas com seu comprovante de pagamento.

Requer a distribuição deste mandado de segurança a um dos eminentes ministros do STF, a fim de que seja levado à apreciação do Egrégio Plenário, nos termos do art. 5º, V, do Regimento Interno do STF.

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Mandado de Segurança

Impetrante: Kim Patroca Kataguiri - deputado federal

Autoridade coatora: Mesa da Câmara dos Deputados, representada pelo seu presidente, Arthur César Pereira de Lira

Pessoa jurídica à qual a autoridade coatora está vinculada: Câmara dos Deputados (CNPJ nº 00.530.352/0001-59) e União (CNPJ nº 26.994.558/0001-23)

Egrégio Supremo Tribunal Federal Eminentes Ministros

Dos fatos

No dia 24/2/2021, a Mesa da Câmara dos Deputados anunciou que estava em pauta uma proposta de Emenda à Constituição (PEC) cujo objetivo era reformar, dentre outros, o art. 53 da Constituição Federal, a fim de fazer diversas mudanças nas prerrogativas dos membros do Congresso Nacional, impedindo ou dificultando a sua prisão e persecução penal.

Dentre outras mudanças, a PEC determina que deputados e senadores presos em flagrante teriam que ficar custodiados no edifício da Casa legislativa, que não poderiam ser processados criminalmente ou civilmente por palavras (respondendo somente perante a Casa legislativa) e que busca e apreensão envolvendo os membros do Congresso Nacional só poderia ser feitas com autorização do Supremo Tribunal Federal. Dispõe-se também que somente por decisão colegiada do STF poderia ser tomada alguma medida desfavorável aos

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parlamentares. Há ainda outras disposições da PEC, mas elas não são relevantes para o mandado de segurança.

O Impetrante entendeu que a PEC afrontava a Constituição Federal (além de múltiplos dispositivos do Regimento Interno) e, portanto, levantou questões de ordem à Mesa Diretora.

Dentre as afrontas à Constituição Federal, três se destacavam: a) a PEC entrou em pauta sem ter o número mínimo de assinaturas (⅓ dos deputados); tais assinaturas foram colhidas durante o processo de discussão e votação, tanto assim que a PEC só recebeu número (PEC 3/2021) quando já estava em discussão; b) ao impedir que deputados e senadores respondessem civil e criminalmente por palavras, a PEC fere a garantia de inafastabilidade de jurisdição (art. 5º XXXV da Constituição Federal); c) o dispositivo que determina que o STF precisa, sempre, decidir colegiadamente sobre medidas afetando membros do Congresso Nacional viola a competência do STF para dispor, por seu regimento, das atribuições dos órgãos do Tribunal, ferindo a separação dos Poderes, além de atentar contra o dever-poder de cautela que é inerente à atividade jurisdicional.

De maneira sumária, a Mesa da Câmara dos Deputados, oralmente, rejeitou as questões de ordem trazidas pelo Impetrante.

Como a Mesa é o órgão administrativo máximo da Câmara dos Deputados, não há mais a quem recorrer, no âmbito administrativo. O Plenário não tem competência para desfazer o indeferimento de uma questão de ordem pela Mesa.

Assim, considerando que o Impetrante, como deputado federal, tem interesse e legitimidade para impetrar mandado de segurança a fim de ver preservado o devido processo legislativo, optou por impetrar o presente mandado de segurança.

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Primeiramente, temos que esclarecer que, de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, um membro do Congresso Nacional tem legitimidade para impetrar mandado de segurança contra ato da Mesa que fira a as normas constitucionais sobre processo legislativo.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal entende que, quando há deliberação de PEC que seja contrária a uma das chamadas “cláusulas pétreas” da Constituição Federal (os limites de reforma impostos pelo Poder Constituinte Originário ao Poder Constituinte Derivado), é possível, de forma excepcional, um controle preventivo judicial de constitucionalidade. Este controle, sempre feito na via incidental, visa preservar o direito do membro do Congresso Nacional de ver observado o devido processo legislativo, do qual faz parte a não deliberação de PECs que firam cláusulas pétreas.

Nos casos em que o STF admite mandado de segurança com tal finalidade, o controle é feito, como dito, pela via incidental. O pedido não é a declaração de inconstitucionalidade abstrata de uma PEC (o que seria vedado pela Súmula 266 do STF), mas sim a concessão de segurança para paralisar o processo legislativo. A inconstitucionalidade material da PEC por ferir cláusula pétrea é causa de pedir e fundamento do acórdão, não constituindo pedido nem parte do dispositivo do acórdão.

No presente caso, é exatamente isso que se almeja. Temos, portanto, todos os requisitos presentes para fazer o excepcional controle preventivo judicial de constitucionalidade. Temos:

● O Impetrante é deputado federal;

● A autoridade coatora é a Mesa da Câmara dos Deputados (o que torna o STF competente para julgar o mandado de segurança, nos termos do art. 102, I, ​d​, da Constituição Federal);

● O que está sendo deliberado pela Câmara dos Deputados é uma PEC, e não outra espécie normativa;

● O ato da autoridade coatora fere diretamente a Constituição Federal (e não o regimento interno da Câmara dos Deputados);

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● O pedido visa garantir o devido processo legislativo, o que inclui o direito de não participar de processo legislativo em detrimento das limitações materiais ao poder de reforma da Constituição Federal.

Portanto, repetimos, todos os fatores necessários ao conhecimento de mandado de segurança que pede o excepcional controle preventivo de constitucionalidade estão presentes.

Nesse sentido, citamos a jurisprudência deste STF:

O STF admite a legitimidade do parlamentar – e somente do parlamentar – para impetrar mandado de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de lei ou emenda constitucional incompatíveis com disposições constitucionais que disciplinam o processo legislativo.

[MS 24.667 AgR, rel. min. Carlos Velloso, j. 4-12-2003, P, DJ de 23-4-2004.]

= MS 32.033, rel. p/ o ac. min. Teori Zavascki, j. 20-6-2013, P, DJE de 18-2-2014

MANDADO DE SEGURANÇA – NÃO CONHECIMENTO – INTERPOSIÇÃO DE RECURSO DE AGRAVO – PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO – CONTROLE JURISDICIONAL DE SEU “ITER” PROCEDIMENTAL – LEGITIMIDADE ATIVA, PARA ESSE EFEITO, RECONHECIDA A QUALQUER MEMBRO DAS CASAS DO CONGRESSO NACIONAL – PRECEDENTES – POSSIBILIDADE DESSA FISCALIZAÇÃO JUDICIAL, DESDE QUE EVIDENCIADA A EXISTÊNCIA DE ALGUMA DAS SITUAÇÕES PREVISTAS NO ART. 60 DA LEI FUNDAMENTAL, QUE CONFIGURAM LIMITAÇÕES AO EXERCÍCIO DO PODER DE REFORMA DA CONSTITUIÇÃO – (...) O processo de formação das leis ou de elaboração de emendas à Constituição revela-se suscetível de controle incidental ou difuso pelo Poder Judiciário, sempre que, havendo possibilidade de lesão à ordem jurídico-constitucional, a impugnação vier a

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ser suscitada por membro do próprio Congresso Nacional, pois, nesse domínio, somente ao parlamentar – que dispõe do direito público subjetivo à correta observância das cláusulas que compõem o devido processo legislativo – assiste legitimidade ativa ‘ad causam’ para provocar a fiscalização jurisdicional. – O exercício do poder reformador, embora passível de controle jurisdicional, há de considerar, unicamente, as normas de parâmetro que definem, em caráter subordinante, as limitações formais (CF, art. 60, “caput” e § 2º), as limitações circunstanciais (CF, art. 60, § 1º) e, em especial, as limitações materiais (CF, art. 60, § 4º), cuja eficácia restritiva condiciona o processo de reforma da Constituição.

(MS 34722 AgR, Relator(a): CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 20/09/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-217 DIVULG 04-10-2019 PUBLIC 07-10-2019)

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO – CONTROLE JURISDICIONAL DE SEU “ITER” PROCEDIMENTAL LEGITIMIDADE ATIVA, PARA ESSE EFEITO, RECONHECIDA A QUALQUER MEMBRO DAS CASAS DO CONGRESSO NACIONAL – PRECEDENTES – POSSIBILIDADE DESSA FISCALIZAÇÃO JUDICIAL, DESDE QUE EVIDENCIADA A EXISTÊNCIA DE ALGUMA DAS SITUAÇÕES PREVISTAS NO ART. 60 DA LEI FUNDAMENTAL, QUE CONFIGURAM LIMITAÇÕES AO EXERCÍCIO DO PODER DE REFORMA DA CONSTITUIÇÃO – I(...)

(MS 34635 AgR, Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 10/10/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-249 DIVULG 14-10-2020 PUBLIC 15-10-2020)

MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRADO CONTRA ATO DO PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, RELATIVO À TRAMITAÇÃO DE EMENDA CONSTITUCIONAL. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DE DIVERSAS NORMAS DO REGIMENTO INTERNO E DO ART. 60, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRELIMINAR:

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IMPETRAÇÃO NÃO CONHECIDA QUANTO AOS FUNDAMENTOS REGIMENTAIS, POR SE TRATAR DE MATÉRIA INTERNA CORPORIS QUE SÓ PODE ENCONTRAR SOLUÇÃO NO MBITO DO PODER LEGISLATIVO, NÃO SUJEITA À APRECIAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO; CONHECIMENTO QUANTO AO FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL. MÉRITO: REAPRESENTAÇÃO, NA MESMA SESSÃO LEGISLATIVA, DE PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL DO PODER EXECUTIVO, QUE MODIFICA O SISTEMA DE PREVIDÊNCIA SOCIAL, ESTABELECE NORMAS DE TRANSIÇÃO E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS (PEC Nº 33-A, DE 1995)(...) Entretanto, ainda que a inicial não se refira ao § 5º do art. 60 da Constituição, ela menciona dispositivo regimental com a mesma regra; assim interpretada, chega-se à conclusão que nela há ínsita uma questão constitucional, esta sim, sujeita ao controle jurisdicional. Mandado de segurança conhecido quanto à alegação de impossibilidade de matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada poder ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa. II - Mérito. 1. Não ocorre contrariedade ao § 5º do art. 60 da Constituição na medida em que o Presidente da Câmara dos Deputados, autoridade coatora, aplica dispositivo regimental adequado e declara prejudicada a proposição que tiver substitutivo aprovado, e não rejeitado, ressalvados os destaques (art. 163, V). 2. É de ver-se, pois, que tendo a Câmara dos Deputados apenas rejeitado o substitutivo, e não o projeto que veio por mensagem do Poder Executivo, não se cuida de aplicar a norma do art. 60, § 5º, da Constituição. Por isso mesmo, afastada a rejeição do substitutivo, nada impede que se prossiga na votação do projeto originário. O que não pode ser votado na mesma sessão legislativa é a emenda rejeitada ou havida por prejudicada, e não o substitutivo que é uma subespécie do projeto originariamente proposto. 3. Mandado de segurança conhecido em parte, e nesta parte indeferido.

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(MS 22503, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 08/05/1996, DJ 06-06-1997 PP-24872 EMENT VOL-01872-03 PP-00385 RTJ VOL-00169-01 PP-00181)

MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO – IMPUGNAÇÃO DEDUZIDA CONTRA DELIBERAÇÃO EMANADA DO SENHOR PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS QUE, RESOLVENDO QUESTÃO DE ORDEM, DEFINIU O CONTEÚDO E O ALCANCE DA EXPRESSÃO “DELIBERAÇÕES LEGISLATIVAS” INSCRITA NO § 6º DO ART. 62 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA – TEMA QUE EXTRAVASA OS LIMITES "INTERNA CORPORIS" DAS CASAS LEGISLATIVAS – POSSIBILIDADE DE CONTROLE JURISDICIONAL DOS ATOS DE CARÁTER POLÍTICO, SEMPRE QUE SUSCITADA QUESTÃO DE ÍNDOLE CONSTITUCIONAL – DIREITO PÚBLICO SUBJETIVO DO PARLAMENTAR À CORRETA ELABORAÇÃO, PELO PODER LEGISLATIVO, DAS LEIS E DEMAIS ESPÉCIES NORMATIVAS – (...) Os membros do Congresso Nacional dispõem, em caráter exclusivo, de legitimidade ativa “ad causam” para provocar a instauração do controle jurisdicional sobre o processo de formação das leis e das emendas à Constituição, assistindo-lhes, sob tal perspectiva, irrecusável direito subjetivo de impedir que a elaboração dos atos normativos, pelo Poder Legislativo, incida em desvios inconstitucionais, podendo insurgir-se, por tal razão, até mesmo contra decisões que, emanadas da Presidência da Casa legislativa, hajam resolvido questões de ordem pertinentes ao “iter” procedimental concernente à atividade legislativa do Parlamento. Precedentes. POSSIBILIDADE DE CONTROLE JURISDICIONAL DA DELIBERAÇÃO PARLAMENTAR QUANDO OCORRENTE SITUAÇÃO CONFIGURADORA DE LITÍGIO CONSTITUCIONAL – O Poder Judiciário, quando intervém para assegurar as franquias constitucionais e para garantir a integridade e a supremacia da Constituição, desempenha, de

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maneira plenamente legítima, as atribuições que lhe conferiu a própria Carta da República, ainda que essa atuação institucional se projete na esfera orgânica do Poder Legislativo. Questões políticas. Doutrina. Precedentes. (...)

(MS 27931, Relator(a): CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 29/06/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-172 DIVULG 07-07-2020 PUBLIC 08-07-2020 REPUBLICAÇÃO: DJe-259 DIVULG 27-10-2020 PUBLIC 28-10-2020)

CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CONTROLE PREVENTIVO DE CONSTITUCIONALIDADE MATERIAL DE PROJETO DE LEI. INVIABILIDADE. 1. Não se admite, no sistema brasileiro, o controle jurisdicional de constitucionalidade material de projetos de lei (controle preventivo de normas em curso de formação). O que a jurisprudência do STF tem admitido, como exceção, é “a legitimidade do parlamentar - e somente do parlamentar - para impetrar mandado de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de lei ou emenda constitucional incompatíveis com disposições constitucionais que disciplinam o processo legislativo” (MS 24.667, Pleno, Min. Carlos Velloso, DJ de 23.04.04). Nessas excepcionais situações, em que o vício de inconstitucionalidade está diretamente relacionado a aspectos formais e procedimentais da atuação legislativa, a impetração de segurança é admissível, segundo a jurisprudência do STF, porque visa a corrigir vício já efetivamente concretizado no próprio curso do processo de formação da norma, antes mesmo e independentemente de sua final aprovação ou não. (...)

(MS 32033, Relator(a): GILMAR MENDES, Relator(a) p/ Acórdão: TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 20/06/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-033 DIVULG 17-02-2014 PUBLIC 18-02-2014 RTJ VOL-00227-01 PP-00330)

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CONSTITUCIONAL. MESA DO CONGRESSO NACIONAL. SUBSTITUIÇÃO DO PRESIDENTE. MANDADO DE SEGURANÇA. LEGITIMIDADE ATIVA DE MEMBRO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS EM FACE DA GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO LEGISLATIVO. HISTÓRIA CONSTITUCIONAL DO PODER LEGISLATIVO DESDE A ASSEMBLÉIA GERAL DO IMPÉRIO. ANÁLISE DO SISTEMA BRASILEIRO BICAMERALISMO. CONSTITUIÇÃO DE 1988. INOVAÇÃO - ART. 57 §5º. COMPOSIÇÃO. PRESIDÊNCIA DO SENADO E PREENCHIMENTO DOS DEMAIS CARGOS PELOS EQUIVALENTES EM AMBAS AS CASAS, OBSERVADA A ALTERNCIA. MATÉRIA DE ESTRITA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DESTE TRIBUNAL. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAR NORMA INTERNA - REGIMENTO DO SENADO FEDERAL - PARA INTERPRETAR A CONSTITUIÇÃO. SEGURANÇA CONCEDIDA.

(MS 24041, Relator(a): NELSON JOBIM, Tribunal Pleno, julgado em 29/08/2001, DJ 11-04-2003 PP-00038 EMENT VOL-02106-02 PP-00376)

Assim, não temos dúvida sobre a admissibilidade deste mandado de segurança. Passemos à análise do mérito.

Há três afrontas ao texto da Constituição Federal. O primeiro deles, que é mais grave, é a afronta a uma garantia individual.

O art. 5º, XXXV da Constituição Federal, prevê que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. O sentido do comando normativo é impedir que um determinado ato exclua os efeitos dele decorrente da apreciação judicial, tal e qual ocorria, na ordem constitucional anterior, com alguns dos Atos Institucionais (de triste memória), que impediam que o Poder Judiciário analisasse se os seus efeitos feriam algum direito.

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Por conta deste tipo de disposição, um funcionário público cassado pela ditadura militar não podia requerer tutela judicial para proteger seus direitos, dentre outros vários exemplos que podemos dar.

A ordem constitucional inaugurada em 1988 vedou tal expediente. Não há como excluir da apreciação do Poder Judiciário uma lesão a direito. Um ato normativo (mesmo uma PEC) não pode determinar que os seus efeitos ou atos nele baseados sejam afastados do Poder Judiciário. Isto é uma garantia fundamental individual (portanto, cláusula pétrea, nos termos do art. 60 §4º, IV da Constituição Federal) que serve para que os cidadãos não tenham os seus direitos violados. Se houver violação a direito, o cidadão poderá, sempre, levar o caso à apreciação do Poder Judiciário.

Pois bem, imaginemos que a PEC seja aprovada e promulgada. Neste caso, a nova redação do art. 53, ​caput​, da Constituição Federal seria a seguinte:

“Os Deputados e Senadores são invioláveis civil e penalmente por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos, cabendo, exclusivamente, a responsabilização ético-disciplinar por procedimento incompatível com o decoro parlamentar.”

O vocábulo "exclusivamente" deixa claro que não há possibilidade de responsabilização civil ou penal, ao contrário do que ocorre hoje, em que há imunidade, mas, caso haja excesso ou desvirtuamento da imunidade parlamentar, o Poder Judiciário pode (excepcionalmente), proceder à responsabilização civil ou penal.

O resultado é que, se a PEC for aprovada, um cidadão não teria como se defender de um deputado ou senador que ataque a sua honra. Caso haja um ataque à honra de alguém, a máxima consequência será a cassação do mandato, pela Casa legislativa. Evidentemente, cassar um mandato não é algo inconsequente ou banal, mas o fato é que o cidadão não poderá ir ao Poder Judiciário e obter tutela para reparar o direito ferido - exatamente o que o art. 5º, XXXV da Constituição Federal pretende evitar.

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Em suma: uma lesão a direito não poderá ser levada à apreciação do Poder Judiciário.

A jurisprudência do STF não admite sequer a limitação irrazoável do dever-poder geral de cautela dado pela Constituição Federal ao Poder Judiciário, que dirá da limitação para o Poder Judiciário analisar, no mérito e de forma definitiva, lesão a direito. Assim:

Poder de cautela. Judiciário. Além de resultar da cláusula de acesso para evitar lesão a direito – parte final do inciso XXXV do art. 5º da CF –, o poder de cautela, mediante o implemento de liminar, é ínsito ao Judiciário.

[ADPF 172 MC-REF, rel. min. Marco Aurélio, j. 10-6-2009, P, DJE de 21-8-2009.]

E mesmo quando o STF admitiu uma vedação legal ao dever-poder geral de cautela (não à apreciação de mérito de uma suposta lesão de direito), o fez deixando claro que a análise de mérito não pode ser retirada da competência do Poder Judiciário (garantia de pleno acesso à jurisdição, nas palavras do eminente ministro Celso de Mello). Assim:

Importância do controle jurisdicional da razoabilidade das leis restritivas do poder cautelar deferido aos juízes e tribunais. Inocorrência de qualquer ofensa, por parte da Lei 9.494/1997 (art. 1º), aos postulados da proporcionalidade e da razoabilidade. Legitimidade das restrições estabelecidas em referida norma legal e justificadas por razões de interesse público. Ausência de vulneração à plenitude da jurisdição e à cláusula de proteção judicial efetiva. Garantia de pleno acesso à jurisdição do Estado não comprometida pela cláusula restritiva inscrita no preceito legal disciplinador da tutela antecipatória em processos contra a Fazenda Pública. Outorga de definitividade ao provimento cautelar que se deferiu, liminarmente, na presente causa. Ação declaratória de constitucionalidade julgada procedente para confirmar, com

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efeito vinculante e eficácia geral e ex tunc, a inteira validade jurídico-constitucional do art. 1º da Lei 9.494, de 10-9-1997, que "disciplina a aplicação da tutela antecipada contra a Fazenda Pública".

[ADC 4, rel. p/ o ac. min. Celso de Mello, j. 1º-10-2008, P, DJE de 30-10-2014.]

E também, desta feita em acórdão da lavra do eminente ministro Sepúlveda Pertence:

O proibir-se, em certos casos, por interesse público, a antecipação provisória da satisfação do direito material lesado ou ameaçado não exclui, evidentemente, da apreciação do Poder Judiciário a lesão ou ameaça a direito, pois ela se obtém normalmente na satisfação definitiva que é proporcionada pela ação principal, que, esta sim, não pode ser privada para privar-se o lesado ou ameaçado de socorrer-se do Poder Judiciário.

[ADI 223 MC, rel. p/ o ac. min. Sepúlveda Pertence, voto do min. Moreira Alves, j. 5-4-1990, P, DJ de 29-6-1990.]

E ainda, de acordo com o eminente ministro Eros Grau:

As garantias constitucionais do direito de petição e da inafastabilidade da apreciação do Poder Judiciário, quando se trata de lesão ou ameaça a direito, reclamam, para o seu exercício, a observância do que preceitua o direito processual (art. 5º, XXXIV, a, e XXXV, da CF/1988).

[Pet 4.556 AgR, rel. min. Eros Grau, j. 25-6-2009, P, DJE de 21-8-2009.]

Tentemos agora dar exemplos mais concretos de como a PEC impediria o acesso à jurisdição.

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Na Pet 7174, o STF julgou o caso de um parlamentar que teria, em discurso, injuriado alguns membros da classe artística, chamando-os de “vagabundos” e dizendo que eles “assaltam os cofres públicos”. Isto fez com que o parlamentar fosse alvo de queixa-crime, recebida pelo STF.

Deixemos o mérito de lado. O fato é que o parlamentar será julgado, ou seja, o Poder Judiciário dirá, fundamentadamente, se houve ou não uma lesão a direito. O julgamento pacificará a sociedade; se houve lesão, a ela será dado remédio; se não houve, isto será devidamente declarado.

Agora imaginemos que o parlamentar só possa responder perante a Casa legislativa. Mesmo que a Casa entenda por bem expulsá-lo (algo muito raro), o crime contra a honra não seria punido e as vítimas não teriam uma sentença penal condenatória para executar civilmente e obter reparação. A sociedade ficaria exposta a um crime e as vítimas ficariam sem obter direito de reparação por violação à sua honra (que, aliás, também é direito fundamental, nos termos do art. 5º, X da Constituição Federal).

Outro exemplo, também sem a menor pretensão de discutir o mérito: um deputado federal é acusado de editar maliciosamente um vídeo, dando às palavras de alguém um teor racista. O Querelante alega que, se o vídeo fosse analisado na íntegra, suas palavras jamais teriam tal contexto.

É imprescindível que o Poder Judiciário analise o caso. Ou bem o Querelante está certo e, portanto, sua imagem e honra foram gravemente e criminosamente violadas, o que torna necessária a aplicação de sanção penal para reparação social e permite ao Querelante execução da sentença penal condenatória para obter reparação aos seus direitos lesados, ou o Querelado está com a razão e não houve violação de direito algum (o que também tem que ser declarado pelo Poder Judiciário).

Se não há possibilidade de julgamento, a sociedade jamais saberá se houve ou não um crime. Eventual vítima jamais será reparada. O acusado, se for absolvido, jamais poderá dizer-se inocentado pelo Estado-juiz.

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Afastar, portanto, a possibilidade de aferição da existência de crimes e atos ilícitos em geral do Poder Judiciário é a receita certeira para instaurar o caos social e para concretizar todo o tipo de lesão a direito, o que é vedado pela Constituição Federal.

Assim, a PEC 3/2021 extrapola o poder de reforma dado ao Congresso Nacional e viola de maneira muito clara uma das limitações constitucionais ao Poder Constituinte Derivado. Para concluir, citamos acórdão do STF da lavra do preclaro ministro Ayres Britto:

A eficácia das regras jurídicas produzidas pelo poder constituinte (redundantemente chamado de "originário") não está sujeita a nenhuma limitação normativa, seja de ordem material, seja formal, porque provém do exercício de um poder de fato ou suprapositivo. Já as normas produzidas pelo poder reformador, essas têm sua validez e eficácia condicionadas à legitimação que recebam da ordem constitucional. Daí a necessária obediência das emendas constitucionais às chamadas cláusulas pétreas.

[ADI 2.356 MC e ADI 2.362 MC, rel. p/ o ac. min. Ayres Britto, j. 25-11-2010, P, DJE de 19-5-2011.]

= ADI 939, rel. min. Sydney Sanches, j. 15-12-1993, P, DJ de 18-3-1994

A segunda violação constitucional da PEC 3/2021 se dá quando a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados decidiu por bem pautar a PEC sem ter o número mínimo de assinaturas, colhendo-as durante a discussão.

Em um primeiro momento, isto pode parecer uma questão regimental e, portanto,

interna corporis​, alheia à jurisdição. Insistimos que não é o caso. A Constituição Federal deixa muito claro que, para propor uma PEC, é preciso ⅓ de apoiamento dos membros de uma Casa do Congresso Nacional.

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A proposição de uma matéria é o primeiro passo, que antecede, obviamente, a sua deliberação. Não é possível deliberar sobre algo que não está proposto e que, portanto, ainda não existe. O Poder Legislativo não delibera sobre o nada!

De novo, isto não é um mero detalhe: a Constituição Federal não rege minuciosamente o processo legislativo - isto é matéria de regimento interno do Poder Legislativo - mas, sem dúvida, a Constituição dá diretrizes básicas, inclusive sobre quem pode começar um processo legislativo.

Quem começa o processo legislativo de PEC é (dentre outros) ⅓ dos membros de uma Casa do Congresso Nacional. Sem isso, não há PEC e se não há PEC, não há deliberação possível. A coleta de ⅓ de assinaturas está bem longe de ser mero detalhe, passível de ser feita no curso da deliberação pelos órgãos da Câmara dos Deputados; longe disso, ela é requisito essencial para que o processo legislativo (da qual a deliberação é parte posterior em relação à propositura) possa começar.

Se admitirmos que a Mesa da Câmara dos Deputados possa “flexibilizar” o processo legislativo para deliberar sobre uma PEC que não tem o número mínimo de assinaturas (tanto que, no começo da sua deliberação, não tinha sequer número!), admitiremos, necessariamente, a “flexibilização” do art. 60, I da Constituição Federal. Admitir que as assinaturas possam ser colhidas ​a posteriori do início da discussão é admitir que a Mesa pode dar início à discussão de algo que não existe como proposta legislativa.

A Constituição Federal, mesmo não sendo minuciosa no processo legislativo, traz requisitos básicos a serem observados. Primeiro, propõe-se a PEC, depois se delibera sobre ela. O art. 60, I, da Constituição Federal, não é mero detalhe.

A terceira afronta ao texto constitucional se dá quando a PEC determina que somente por deliberação colegiada o STF pode tomar medida contra membro do Congresso Nacional. Diz o texto proposto:

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(...)

§ 12 A medida cautelar deferida em desfavor de membro do Congresso Nacional que afete, direta ou indiretamente, o exercício do mandato e as funções parlamentares:

I – somente produzirá eficácia após a confirmação da medida pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal;

II – não poderá ser deferida em regime de plantão forense

Às vezes, não é possível reunir o colegiado imediatamente, sendo necessário que o relator ou o presidente tome uma medida que será submetida posteriormente ao Plenário ou à Turma, para ratificação. Impedir tal expediente é limitar o dever-poder geral de cautela, que é inerente à prestação jurisdicional, bem como afrontar o poder dos Tribunais de se organizar por Regimento Interno, o que significa menoscabar a separação dos Poderes.

É comum que, no período de férias, apenas o presidente do STF exerça as funções jurisdicionais, em regime de plantão. A ele cabe tomar as medidas urgentes, que serão depois submetidas ao Plenário pelo relator. Se o texto da PEC for aprovado nestes termos, um eventual crime, mesmo que muito grave, cometido por deputado ou senador no período de férias do STF terá sua apuração e prevenção fortemente prejudicadas.

Por fim, parece claro que estão presentes os requisitos para uma tutela de urgência. Não só há grande probabilidade de direito, mas também há considerável perigo na demora, já que, se a tramitação continuar, a PEC continuará a tomar a pauta da Câmara dos Deputados (e possivelmente do Senado), tomando tempo de temas importantes. Ainda, se a PEC for aprovada e promulgada, podemos ter sérias consequências; a promulgação de uma PEC inconstitucional e a consequente impunidade que dela pode advir até posterior declaração de inconstitucionalidade por este STF pode lançar o país em um caos jurídico e contribuir para a insegurança geral.

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Ante o exposto, pedimos:

a) concessão de tutela de urgência, a fim de impedir que a apreciação da PEC 3/2021 continue até que haja julgamento de mérito pelo STF;

b) Intimação do Procurador-Geral da República, para que atue em todos os atos do processo;

c) Citação da União e da Câmara dos Deputados;

d) Notificação do presidente da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados;

e) Concessão de segurança, a fim de garantir o direito do Impetrante ao devido processo legislativo, que está sendo violado pela tramitação da PEC 3/2021, determinado-se, por consequência, o seu arquivamento.

Anexo, os seguintes documentos, além da procuração:

1) Texto da PEC 3/2021; 2) Ficha de tramitação;

3) Ata da sessão de 24/2/2021

4) Cópia do regimento interno da Câmara dos Deputados;

As intimações devem ser feitas em nome do advogado do Impetrante, Paulo Henrique Franco Bueno, inscrito na OAB/SP nº 312.410 e no CPF/ nº 368.842.568-50, com endereço na Av. Major Sylvio Magalhães Padilha, 5200, São Paulo – SP, CEP 05693-000.

Dá-se à causa o valor simbólico de R$1.000,00.

Paulo Henrique Franco Bueno OAB/SP 312.410

Referências

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