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Filosofia da Religião I

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Academic year: 2022

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PLANO DE AULA APOSTILADO

Escola Superior de Teologia do Espírito Santo

Filosofia da Religião I Filosofia da Religião I Filosofia da Religião I Filosofia da Religião I

A religião estudada à luz da filosofia

Escola Superior de Teologia do ES

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A Escola Superior de Teologia do Espírito Santo – ESUTES, é amparada pelo disposto no parecer 241/99 da CES (Câmara de Ensino Superior) – MEC

O ensino superior à distância é amparado pela lei 9.394/96 – Artº 80 e é considerado um dos mais avançados sistemas de ensino da atualidade.

Sistema de ensino: Open University – Universidade aberta em Teologia

O presente material apostilado é baseado nos principais tópicos e pontos salientes da matéria em questão.

A abordagem aqui contida trata-se da “espinha dorsal” da matéria. Anexo, no final da apostila, segue a indicação de sites sérios e bem fundamentados sobre a matéria que o módulo aborda, bem como

bibliografia para maior aprofundamento dos assuntos e temas estudados.

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__________ S S S S S S S S u u u um u u u u m m m m m m m á á á árrrr á á á á rrrriiii iiii o o o o o o o o _______ _______ _______ _______

Introdução a uma filosofia da religião... 04

O que é religião... 04

O que é filosofia... 13

O valor da filosofia... 19

Disciplinas da filosofia...21

Formas de ceticismo e seus argumentos...31

Argumentos anti-céticos...37

Como podemos conhecer? ... ... 42

Como são justificadas as crenças? ...52

O relacionamento entre a fé e a razão...58

Bibliografia...68

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I I n n t t r r o o d d u u ç ç ã ã o o a a u u m m a a F F i i l l o o s s o o f f i i a a d d a a R R e e l l i i g g i i ã ã o o

A religião é estudada pela história, pela psicologia, pela fenomenologia, pela psicanálise e pela sociologia. Todas essas ciências estudam metodicamente a consciência religiosa concreta e suas múltiplas objetivasses na história. A filosofia da religião tenta esclarecer a possibilidade e a essência formal da religião na existência humana. Em outras palavras, estuda a consciência do homem e de sua auto compreensão a partir do absoluto enquanto atingível pela inteligência. A filosofia da religião é uma reflexão realizada com a única ajuda da razão, sendo seu objeto a religião e as condições em que esta é possível.

Da mesma maneira que o ato filosófico não fundamenta a existência humana, mas tenta esclarecê-la, assim também a filosofia da religião não fundamenta, nem inventa a religião, mas tenta esclarecê-la, servindo-se das exigências propriamente filosóficas.

A filosofia da religião temática a abertura do homem para o mistério que o envolve de maneira positiva, aceitando-o, ou de maneira negativa, rejeitando-o. Tematiza, pois, a relação do homem com o santo ou luminoso no horizonte da autocompreensão humana.

O objeto da filosofia da religião é a religião. Mas pode a religião ser objeto da filosofia? O que se entende por religião? O que se entende por filosofia?

O Que é Religião?

A primeira vista, pode-se pensar que todos saibam o que se significa com a palavra religião e religioso. Talvez tal pressuposição esteja certa enquanto se refere às manifestações mais ostensivas. Mas quando se trata de precisar logo surgem dificuldades sem fim fixar limites entre o verdadeiramente religioso e o puramente cultural, folclórico social? O que, por exemplo, entre nós, é da essência religiosa numa festa de primeira comunhão, de um casamento na igreja etc, e o que não? Se se trata de manifestações, como descobriremos o que manifestam? Se compararmos o fenômeno religioso com o fenômeno social ou similar, podemos dizer que designamos a estrutura especial do homem definida por sistema de relações com os outros homens. Poder-se-ia descrever o fenômeno religioso como um mundo de estrutura estritamente relacional? na religião, no fundo de toda a situação verdadeiramente religiosa encontra-se a referência aos fundamentos últimos do homem: quanto à origem, quanto ao fim e quanto à profundidade. O problema religioso toca o homem em sua raiz ontológica. Não se trata de fenômeno superficial, mas implica a pessoa como um todo. Pode caracterizar-se o religioso como zona do sentido da pessoa. Em outras palavras, a religião tem a ver com o sentido último da pessoa, da história e do mundo.

Para orientar nossa reflexão filosófica precisamos, desde já, determinar melhor o objeto visado. Desde a Antiguidade, por religião entende-se a relação do homem com Deus ou com o divino. Mas logo a consciência crítica indaga: O que é o homem? O que é Deus? O que vincula a ambos? O que é religião?

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Quando se fala da relação do homem com Deus designa-se, antes de tudo, uma maneira própria de ser do homem. Em relação a o Deus, o homem, na religião, toma a atitude de quem se sente desafiado, de quem experimenta um apelo. A religião realiza-se na existência humana. O apelo de Deus como a resposta do homem verifi- cam-se na existência. O homem sabe-se relacionado e determinado por algo que é maior do que ele mesmo. Assim sua existência religiosa se constitui a partir do divino. Por isso, na filosofia da religião, não se fala só do homem, mas também daquilo que é diferente dele, que o transcende. A partir do divino, a existência humana se especifica como religiosa. Temos, porém, conceito filosófico de Deus?

Como o homem se comporta diante do mistério de Deus?

No discurso religioso ocorrem conceitos que se opõem à filosofia como, por exemplo, revelação e redenção. Esses expressam uma realidade oriunda da transcendência, enquanto religião expressa uma série de atos espirituais e criações culturais do homem. A revelação fala do divino, de algo que penetra na vida; na religião; refere-se a uma realidade de vida e a uma realidade cultural.

Surge então a pergunta: poderá a filosofia tematizar a revelação? Que será da religião sem a revelação?

No cristianismo, por exemplo, a revelação e a penetração do incondicionado no mundo condicionada portanto, a filosofia da religião se confronta com a doutrina da revelação. Quem determinará os limites entre filosofia e teologia? Como será a eventual contradição? Haverá algo em comum entre a doutrina da revelação e a filosofia? Haverá o caminho da síntese? Parece que a tarefa da filosofia da religião é achar este ponto comum para uma solução de síntese interna. Será isso possível, ao menos em relação com o cristianismo?

Por outro lado, não basta relacionar a filosofia com a teologia. Toda a ciência deve ser situada no conjunto das ciências. A filosofia pertence às ciências do espírito.

Poderemos detectar nela três aspectos: a) a filosofia; b) a história; c) a sistemática. Na filosofia desenvolve seu campo de sentido; na história recolhe o material que as ciências do ser apresentam e interpreta, de maneira sistemática e criticamente, os dados.

Em síntese, podemos dizer que, nos últimos séculos, para a filosofia, o fenômeno religioso, praticamente universal na humanidade, no seu conjunto tendeu-se num termo supremo: a Realidade Suprema, de algum modo, transcendente com relação ao homem e ao mundo, mas com o qual o homem pode entrar, de algum modo, em relação pessoal.

Poder-Se-Á Justificar a Religião Perante a Razão?

A filosofia nasceu, na antiga Grécia, como atitude crítica na vida concreta do homem.

Nasceu como tentativa de formular questão da verdade desta vida em sua globalidade. Como a religião era parte desta vida concreta, os filósofos não podiam deixar de formular a questão da verdade da religião, de sua significação para a vida humana e a questão filosófica sobre Deus. Essas o questões foram formuladas no horizonte de pressuposta totalidade, Ora, a pergunta pela realidade em sua

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totalidade inclui a pergunta vá pela possibilidade de tal totalidade. Neste contexto da tematização da unidade de todo o real surgiu a questão filosófica de Deus.

A filosofia grega pensou a totalidade do real como cosmos. Neste cosmos pensou a presença do divino como fundamento originário (Anaximandro), como ser imutável (Parmênides), como Logos enquanto ordem do mundo (Heráclito), ou ainda como noús enquanto princípio do movimento do mundo (Anaxágoras). A totalidade do real ou do cosmos era pensada a partir da objetividade mundana. A revolução copernicana no pensamento, no fim da Idade Média e no começo dos tempos modernos, consiste na volta para a subjetividade pensante. Tematiza-se o sujeito como condição de possibilidade não só do conhecimento, como também da ação objetiva do homem no mundo. O homem moderno questiona o acesso imediato do real e passa a falar da realidade através da mediação da subjetividade; desenvolve novo método de investigação e conhecimento, apoiando-se unicamente na razão e na experimentação científica.

A grande virada antropocêntrica, na filosofia ocidental moderna, também modificou radicalmente a problemática de Deus. As ciências, visando a dominar a natureza através da descoberta da regularidade dos fenômenos naturais, dispensam a hipótese de causa primeira. Mas o pensamento moderno não consegue pensar a subjetividade humana em seu relacionamento teórico e prático com o mundo sem referência, positiva ou negativa, a Deus. A questão de Deus passa a ser tematizada não mais a partir do mundo, e sim através da mediação do homem e de suas relações com o mundo, ou seja, a partir da subjetividade.

Indaga-se: haverá no homem capacidade subjetiva específica ou dimensão própria que tenha como correlato a religião? Seria tal a priori algo como um sentimento universal e irracional? Ou será religião algo que precede a todos os conteúdos categorias da consciência? Não será que toda a filosofia, enquanto autocompreensão do homem no horizonte de uma razão ontológica transcendental a priori, já implica uma filosofia da religião, ao menos de maneira a temática?

A filosofia da religião, como disciplina própria, é recente. Para sua constituição foi decisiva a filosofia de Kant, o idealismo alemão, a obra do cardeal Newman, de M.

Blondel, a filosofia dialógica de F. Ebner e M. Buber, a fenomenologia de E. Husseri, M. Scheler e a filosofia da existência através de G. Mareei, M. Heidegger e K. Jaspers.

Entre os católicos, em nosso século, destacam-se ainda os estudos de Romano Guardini, J. Maritain, K. Rahner, B. Welte e outros. Constatamos, hoje, a existência de uma linha de investigação, mas não de uma unidade de enfoque.

A filosofia da religião não se confunde à teologia, pois esta tematiza a relação homem-Deus a partir da livre revelação de Deus ao homem, ou seja, a partir de Deus.

Com B. Welte, podemos dizer que a filosofia da religião é filosofia; e filosofia que não se esclarece a partir de outras ciências, mas a partir de si mesma. Quando o homem filosofa, ele mesmo pensa. O pensar filosófico é forma radical da liberdade humana.

A atividade do pensamento exerce-se numa abertura para além do próprio homem, para além de sua subjetividade. Pensar é a busca do encontro do homem com o

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mundo, entre o pensante e o pensado. Com isso, o pensamento vincula-se ao objeto de sua atividade, sem com ele confundir-se. Seu objeto é aquilo que se lhe oferece no mundo. Assim a liberdade do pensar está vinculada ao objeto. O pensar tem compromisso com a realidade. Podemos dizer que o pensamento filosófico deve ser fundado e, ao mesmo tempo, fundante. Deve visar com exatidão o objeto e expressá- lo em conceitos e em linguagem tão precisa que permitam reconhecê-lo. Desta maneira, o pensamento filosófico está vinculado ao ser e à essência do objeto.

O sujeito do filosofar é o homem. Diz Feuerbach que "a religião assenta na diferença essencial que existe entre o homem e o animal, pois os animais não têm nenhuma religião" (A essência do cristianismo, p. 4). O homem existe como compreensão de si mesmo e do ser. Pensando, desenvolve-se a si mesmo. Pensa e indaga a si mesmo indagando o mundo. Indaga à luz do ser, como algo que é. Busca o verdadeiro ser das coisas como globalidade. A indagação filosófica tematiza, pois, o ser do ente.

Nesta perspectiva, a filosofia da religião é diferente das ciências da religião.

Como o pensamento não está limitado à pura facticidade, inclui a questão crítica do verdadeiro ser e do ser inautêntico ou falso do objeto. A reflexão filosófica indaga o fáctico pelo seu ser verdadeiro, ou seja, pela sua verdade. Em outras palavras, o pensamento filosófico não se contenta com as coisas como se apresentam. Sempre está a caminho. Nunca é definitivo, porque o ser do ente manifesta-se inesgotável. Ora, a filosofia da religião tem a religião como objeto de seu pensar. Tenta esclarecer o ser e a essência da religião. Indaga, pois, o que é, propriamente, religião?

A religião é um dado que está aí e não se funda na filosofia. Não é filosofia. Desde Blaise Pascal, costuma-se opor o Deus dos filósofos ao Deus de Abraão, Isaque, Jacó, ou seja, ao Deus de Jesus Cristo. Certamente há influência mútua entre a filosofia e a religião. O filósofo encontra a religião como o diferente, o outro. Mas a religião realiza-se como acontecimento humano, como uma forma da vida humana. São homens que crêem em Deus, rezam, se reúnem em assembléia para o culto. Na fé em Deus, os homens indagam sempre, de alguma forma, a si mesmos. Embora não produzam a religião, cabe-lhes uma liberdade responsável perante mesmos, ou seja, perante a razão crítica.

Radicada na compreensão, que o homem tem do ser e de si mesmo, a religião pode ser considerada como capítulo fundamental da antropologia filosófica. Expressa-se em linguagem humana, em categorias humanas e possibilidades do pensamento humano. Apresenta um aspecto histórico, mas não se reduz a ele. Expressa-se em linguagem fáctica, mas não se reduz ao puro fáctico. No Ocidente. De maneira generalizada, na consciência popular, erroneamente se reduz a realidade ao fato. A religião cristã perdeu sua evidência, assim, na sociedade moderna e na consciência cultural. Tudo isso, entretanto, não justifica o silêncio da filosofia na indagação pelo ser e pela essência da religião. Ao contrário, se se conseguir uma visão da essência da religião consegue-se uma (posição critica em relação ao próprio fato e toma-se possível esclarecer o direito e o sentido da religião na vida humana.

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A existência religiosa do homem desenvolve-se em muitas dimensões, como, por exemplo, a interior e a exterior. Na primeira situa-se a fé e a meditação; na segunda, o culto e a pregação. Como a religião é anterior à filosofia, a reflexão filosófica bus- cará refletir sobre sua maneira de ser e sobre sua essência. Tal reflexão, porém, também terá conseqüências, ou seja, a religião criticamente refletida. Segundo Hegel, a religião e a filosofia tem comum a busca da verdade: "A filosofia tem seus objetivos em comum com a religião por que objetivo de ambas é a verdade, no sentido mais alto da palavra, isto é, enquanto Deus, e somente Deus, é a verdade". Mas, segundo Hegel, a religião se distingue da filosofia enquanto exprime a verdade não sob a forma de conceito, e sim sob a forma da representação e do sentimento. "A religião é a relação com o Absoluto na forma do sentimento, da representação, da fé; e no seu centro que tudo compreende, tudo está somente como algo acidental e evanescente"

(Princípios da Filosofia do Direito, § 270). Em outras palavras, o que na religião é instituído de modo acidental, e confuso, é demonstrado pela filosofia com caráter de necessidade.

Iluminismo e Religião

A religião mão é um fenômeno situado fora do tempo. Não esclarece problemas eternos, mas os que se colocam em determinadas circunstâncias. Hoje nos defrontamos com problemas radicados no , iluminismo ou dele derivados. Com Hegel, podemos caracterizar toda a história ocidental a maneira de processo progressivo da tomada de posse pelo homem de sua liberdade. Esta história da liberdade entrou em nova fase no começo da era moderna, quando a liberdade e o pensamento se tornaram conscientes e críticos acerca de si mesmos. Como se sabe, Kant descreveu o Iluminismo como "a saída do homem da sua minoridade culpada.

A minoridade é a incapacidade de servir-se do próprio entendimento sem a direção de outrem... Sapere aude! Tem a coragem de servir-te do teu próprio entendimento!

Tal é o lema do Iluminismo!" (Crítica da razão pura).

O Iluminismo ainda não está ultrapassado. Surge como processo que perpassa toda a história espiritual do Ocidente. Representa, antes de tudo, um processo de emancipação. O homem liberta-se da tutela da autoridade e da tradição. Quer ver, julgar e decidir por si mesmo. O homem toma-se ponto de referência da realidade, transformando-se em medida do homem e do mundo, o qual é pensado a partir do homem e projetado para o homem.

A virada antropológica moderna modificou, fundamentalmente, toda a nossa realidade sociocultural. No campo político levou ao reconhecimento da liberdade e igualdade de todos os homens, à declaração dos direitos universais do homem e à revolução francesa. Como movimento de democratização, substituindo a ordem social hierárquica e patriarcal pela ordem associativa de membros iguais e livres, provocou profunda crise de autoridade. No campo do conhecimento, as modernas ciências experimentais transformaram totalmente nossa visão de mundo e conduziram ao comportamento racional perante a realidade. Permanece e prevalece o que resiste à crítica racional. A ciência e a técnica dão ao homem pelo menos um

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suposto senhorio sobre as coisas para sua manipulação e o planejamento racional. O resultado é um mundo secularizado despido dos vestígios de Deus.

O iluminismo também repercutiu sobre a religião, de modo especial sobre o cristianismo. Sua imagem do homem e do mundo estava por demais vinculada a uma época definitivamente ultrapassada. Com isso a fé tornou-se objeto de suspeita como ideologia de ordem ultrapassada e como força reacionária.

No Ocidente, o problema da religião adquiriu novas conotações a partir do século XVIII. Talvez se pudesse caracterizar esta nova situação como a ruptura entre o mundo judaico-cristão e o mundo profano, com a emancipação da razão crítica, que visa ao discernimento da verdade da religião. Os pressupostos, no Oriente, são outros. Depois do iluminismo, no Ocidente, também os pressupostos da Idade Média e da Antiguidade perderam sua evidência. Nos tempos modernos, a subjetividade e a razão críticas, no processo de emancipação iluminista, sentiram a necessidade do conhecimento.

No Ocidente, já nos séc. XVII e XVIII, iniciou-se um movimento de emancipação, quando os teólogos aplicaram o método histórico-crítico das ciências profanas à leitura e interpretação da Bíblia. Tornou-se claro o abismo cavado entre as concepções místicas da Bíblia e as concepções próprias da época. O progresso, nas ciências, e conduziu naturalmente a certa demitologização das concepções religiosas.

Da mesma forma o questionamento crítico da metafísica repercutiu nas formulações do cristianismo, cujas doutrinas haviam sido formuladas em linguagem metafísica. A constituição dos Estados moderno como sistemas de garantias da liberdade e do direito e da sociedade moderna como sistema baseado na satisfação de necessidades, levou ao questionamento de tradições morais, sociais, políticas de instituições sociais com as quais a Igreja se havia identificado em grande parte. Assim, com o movimento iluminista, o cristianismo tradicional e ambiental entra em crise.

Aumentada tensão entre a subjetividade crítica e sua interioridade, de um lado e do outro, as instituições religiosas tradicionais. Como conseqüência, dentro da própria Igreja católica, hoje, cresce o número dos que apenas parcialmente ainda se identificam com ela, com sua doutrina e com suas orientações práticas.

Na atual situação do processo de emancipação iluminista encontramos três atitudes unilaterais a respeito do fenômeno religioso.

a) Negação total da religião

É a atitude que declara a religião como consciência falsa ou simples ideologia para, como tal, dever negá-la. Essa atitude encontra-se em Feuerbach, Nietzsche e Freud e em alguns marxistas. Trata-se de atitude com caráter mais romântico que, em Feuerbach, parte da concepção de vida, de vida natural não alienada do homem e da humanidade. Alimenta-se, pois, a saudade do paraíso perdido. Na forma mais cética, como Freud, espera que, no futuro, com o fim da ilusão religiosa, a humanidade esteja em condições de, com a ajuda da ciência e da razão crítica, construir a harmonia total. Esta tendência conduz à liquidação da religião em nome da razão, que pretende ser a única possuidora da verdade, considerando a religião como uma

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ilusão.

Os representantes dessa crítica esperam, com recurso à natureza e à ciência e com o desmascaramento da alienação religiosa, obter a transformação da consciência humana. Vêem a causa dessa alienação na falta de conhecimento científico e na falta de domínio do inconsciente. Enfim, esperam a superação ou o fim da religião com base no domínio tecnológico sobre as forças da natureza.

Evidentemente Marx e Engels se equivocaram. Os pais da moderna crítica da religião tinham confiança exagerada na razão, na ciência e no progresso. O desejo de libertar a humanidade da ilusão de Deus e da tirania da fé religiosa reverteu, ele mesmo, em ilusão. Não só na filosofia, como também na psicologia profunda e na sociologia, hoje se buscam fundamentos para a existência da fé em uma realidade chamada Deus.

Marx negara a religião como ideologia, como instituição social e política reacionária que obstaculiza o progresso da humanidade. Segundo ele, a religião impede a libertação total do homem porque ou justifica o status quo desumano de situações político-sociais ou busca uma reconciliação ilusória, apelando ao além para deixar aqui tudo como está.

Essa forma de crítica da religião tinha força de convencer enquanto se esperava a realização de uma sociedade mais humana e mais justa através do socialismo marxista. Entretanto, hoje, os argumentos outrora aduzidos também perderam sua força. O homem aumentou seu poder sobre a natureza através da ciência e da técnica. Mas não há indícios para sociedade mais humana como simples resultado de tal evolução, tanto no regime capitalista como no socialista. Karl Marx, com base nas tensões sociais da sociedade burguesa, acreditava que transformando a filosofia hegeliana da história e o materialismo através de sua análise da consciência de classe do proletariado, podia constatar tendências para transformações revolucionárias, capacitando o proletariado a ser o sujeito da história. Com o passar do tempo, tanto a teoria como a práxis marxistas perdem sua força de convencimento. Nada garante que o marxismo, hoje, seja menos manipulado a favor dos poderosos do que a religião que outrora criticara, ou seja, que o próprio marxismo não seja uma religião sem Deus.

Em resumo, a negação radical e total da religião hoje se vê em circunstâncias pouco cômodas e deverá rever sua posição ou, pelo menos, diferenciá-la melhor, pois, no mínimo, necessita de autocrítica. Esta tendência confunde a expressão com o expressado, crendo ter esclarecido este quando apenas explicou aquela.

b) Aceitação total da religião

Durante séculos e milênios, a religião era tema na filosofia como qualquer outro. Por isso, todos os grandes filósofos dela trataram de uma ou outra forma. Desde o século XVII, surgem esforços apologéticos para justificar a religião no mundo moderno porque esta (o cristianismo) se distanciou da evolução histórica do mundo técnico- científico. Os limites de tal filosofia da religião aparecem na chamada teologia natural, na filosofia transcendental, existencial e personalista do nosso século.

A teologia natural é de grande atualidade. Interroga pelo lugar da fé na experiência humana. Mas quando essa teologia quer provar demais, nada prova. Poder-se-á

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perguntar até que ponto a distância de Deus ou de sua ausência não expressam a auto-reclusão do homem. A fé, como fundamento da religião, constitui também ato íntegro e totalmente humano. Tem que se reconhecer como humanamente cheia de sentido e intelectualmente honesta e responsável.

A teologia natural, marcada pela metafísica do século XVIII, parte da natureza da razão compreendida de maneira teleológica, deduzindo afirmações materiais sobre a essência de Deus, do mundo e do homem. Julga, desta maneira, poder fornecer, com os meios e métodos da razão, novo fundamento à religião. Entretanto, isso não mais convence à subjetividade critica moderna. Quis-se buscar verdades absolutas, eternas, fora da história. Ora, depois da aplicação do método histórico-crítico à própria Bíblia, tais objetivos não se justificam mais. Por sua abertura ao ser, a razão conduz necessariamente à religião como expressão de uma dimensão transcendente da existência humana. M. Blondel escreveu que "a expectativa de uma religião é natural". Ora, toda a apologia da religião hoje deverá enfrentar o problema da histo- ricidade.

O objetivo do método transcendental é mostrar que, sem reflexão consciente, pode-se interpretar o homem como aberto para as verdades religiosas historicamente mediadas.

A fundamentação existencialista e personalista da religião, em nosso século, também assenta em pressupostos que perderam sua evidência. Após as duas guerras mundiais tinham uma função crítica, ao menos na Europa. Na teologia católica, o personalismo é um corretivo necessário ao menos para a neo-escolástica. A teologia existencial tomou-se corretivo, entre os protestantes, para o liberalismo cultural dos séculos XIX e XX. Entretanto limitam a religião a uma privatização e a privam, de certo modo, do mundo socio econômico-político. Além disso, assumem atitude de critica unilateralmente negativa para com a evolução técnico-científica.

Em resumo, esta tendência geralmente ocorre entre crentes que praticam a filosofia da religião sob o sinal da concordância. Com diferentes estratégias, querem os representantes dessa tendência mostrar a profunda solidariedade entre razão e religião.

c) Descrição empírica e análise das diferentes concepções e instituições religiosas Com Max Weber, E. Durkheim, Lévy-Bruhl e L. Strauss formaram-se grupos que estudam as religiões do ponto de vista histórico, psicológico, sociológico, da análise da linguagem, enfim, mediante pesquisas empíricas. Contentam-se com descrições e análises detectando as estruturas comuns em fenômenos diferentes. Os representantes desta corrente geralmente interpretam o mundo atual como resultado do processo de secularização, contentando-se com afirmações meramente formais sobre o fenômeno da religião.

Tarefas da Filosofia da Religião

A filosofia da religião atualmente se encontra em situação precária dentro do conjunto. Não deve ser identificada simplesmente com religião filosófica ou com filosofia religiosa. Trata-se de indagação filosófica que usa métodos filosóficos com

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objetivos filosóficos. Mas não é qualquer filosofia capaz de criticar corretamente o mundo humano da fé e da religião. As filosofias que pretendem simplesmente explicar a religião ou reduzi-la a elemento não religioso como libido ou situação sócio econômica alienada não servem. Da mesma maneira, não servem para estabelecer corretamente o sentido da religião hoje as filosofias que se põem diretamente a serviço da fé (são Boa ventura, santo Tomás de Aquino), pois não se trata da simples recuperação de certos dogmas, p. ex., a transcendência do Absoluto, pela filosofia. Cabe investigar se o fenômeno religioso é originário e irredutível no homem, e se leva, por sua natureza, a um termo supremo chamado Deus.

Na questão, se a religião é fenômeno originário no homem, encontramos um afrontamento de posições: a) uma série de teorias que tendem a reduzir o religioso como reflexo de situação deficiente: ignorância, impotência etc., negam sua originalidade e a irredutibilidade. Assim Feuerbach vê a religião como alienação, Marx como ópio do povo, Nietzsche como debilidade gregária e Freud como sobrevivência nociva e patológica da imagem paterna na idéia de Deus; b) outras filosofias reduzem o fenômeno religioso a uma perspectiva exclusivamente racional, seja moral (Kant), seja especulativa (Spinosa, Hegel); c) entretanto a fenomenologia da religião (R. Otto, M. Scheler, M. Eliade e outros) reconhece e começa a descrever as irredutíveis estruturas do sagrado como contraposto ao profano.

Há razões para acreditar que muitas formas tradicionais de religião desapareçam.

Com isso, todavia, não se pode concluir o desaparecimento da religião como tal. Hoje a filosofia da religião deverá formular questões que angustiam os indivíduos, as igrejas e a sociedade. Como? Quais seriam tais questões?

No Ocidente, marcado profundamente pela religião e cultura judaico-cristã, parece haver três questões fundamentais:

a) Entre a tradição religiosa e as experiências da intersubjetividade crítica moderna surgiu um abismo profundo. O processo do iluminismo age de maneira dialética sobre a tradição religiosa: destrói e conserva. Destrói, por exemplo, certas concepções de Deus como o deus que sanciona instituições e regimes políticos indefensáveis por ser indigno de nossa fé. Mas o processo do iluminismo também pode purificar o conceito de Deus e conservar a autêntica tradição da fé. Assim a situação de crise pode reverter em nova oportunidade.

b) A relação do cristianismo e das igrejas para com as religiões não cristãs modificou- se profundamente. Também no Ocidente, o cristianismo deixa de ser a religião que integra a sociedade global. Os pagãos não mais estão fora da sociedade e o cristianismo carece da evidência racional de ser a única verdadeira religião. Tornou- se uma religião ao lado de muitas outras. A tentativa de interpretar todas as religiões não cristãs simplesmente como cifras de uma fé filosófica ou declarar os não cristãos de cristãos anônimos não satisfaz.

c) O lugar e a função da religião e das igrejas no novo mundo político-social modificaram-se radicalmente. O iluminismo, que declara a liberdade de todos como princípio da ética e da política e exige instituições que favoreçam e garantam a

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liberdade e o direito de todos os homens, questiona radicalmente a tradição antiga e medieval. Neste mundo, a filosofia da religião tem papel enquanto dura a exigência de conhecer criticamente a verdade religiosa.

O O Q Qu ue e é é a a F Fi il lo os so of fi ia a

Muitos estudantes não têm muita certeza quanto ao que é a filosofia; na realidade, a maioria das pessoas sabe muito pouco acerca do assunto. Alguns pensam que é uma combinação abstrusa e até mesmo perigosa de astrologia, psicolo- gia e teologia. Outros pensam que os filósofos estão entre a elite intelectual, pessoas de grande sabedoria. Este conceito exaltado da filosofia deve-se, pelo menos em parte, ao fato de que é raramente estudada antes do nível de faculdade. Os estudantes de escolas primárias e secundárias estudam matemática, literatura, ciências, e história, mas não filosofia. Quando os estudantes entram na faculdade, freqüentemente procuram evitar a filosofia por causa da sua alegada dificuldade.

Aqueles que acabam estudando a filosofia na faculdade descobrem que estão discutindo questões técnicas de pouco ou nenhum valor prático evidente. Esta aparente impraticabilidade parece ser motivo suficiente para rejeitar o estudo da filosofia sem mais cerimônias. Este capítulo, no entanto, procurará demonstrar que muitos temores e reservas iniciais a respeito desta disciplina não têm fundamento. é verdade que, de muitas maneiras, o estudo da filosofia é diferente do estudo de qualquer outra matéria. Não se pede da nossa parte que decoremos datas, fórmulas ou regras (ou, pelo menos, estes não são os aspectos mais importantes do estudo).

Não há pesquisa de campo nem experiências de laboratório, nem necessidade alguma de comprar quaisquer equipamentos técnicos tais como uma régua de cálculo ou um microscópio.

O que é necessário para alguém ser um bom filósofo? Em várias ocasiões, todas as pessoas filosofam. Este fato significa que um curso de filosofia não é uma tentativa de ensinar alguma coletânea incomum de fatos, ou de fornecer uma habilidade totalmente nova. É, pelo contrário, um esforço no sentido de ajudar o estudante a melhorar uma capacidade que já possui e que, de vez em quando, exerce por conta própria. Este filosofar ocorre sempre que alguém reflete, ou sobre as pressuposições fundamentais do pensamento e da ação, ou sobre os fins para os quais a conduta da vida humana deve ser dirigida.

Suponhamos que você e um amigo estejam debatendo a nutrição. Os dois expressam preocupação porque o emprego generalizado de pesticidas e aditivos na produção de gêneros alimentícios tem efeitos sérios e danosos sobre o corpo humano. Você observa que o aumento da ocorrência do câncer na sociedade moderna tem conexão direta com o crescente emprego de produtos químicos. Até esta altura, sua discussão não tem sido filosófica, mas, sim, biológica. Então, porém, seu amigo observa que o governo tem a responsabilidade de proibir a aplicação de tais agentes a gêneros

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alimentícios, visto que todas as pessoas são obrigadas a preservar a vida. Você discorda, e assevera que o sumo-bem não é a preservação da vida. Além disto, você argumenta, o governo não tem obrigação alguma em relação a seu povo além da não- interferência nos seus negócios particulares. Sua discussão agora voltou-se a questões filosóficas. Você está levantando as questões da "obrigação" e do "fim" ou "significado da vida."

A Natureza da Inquirição Filosófica - O Problema da Definição

O lugar lógico para começar o estudo da filosofia é uma definição da disciplina. Nou- tras disciplinas, definir a natureza da matéria é usualmente fácil e livre de controvérsia. Tal não é o caso com a filosofia. Alguns filósofos têm argumentado que a pergunta filosófica central e mais fundamental é a própria natureza da filosofia. As definições e as exposições da filosofia têm sido radicalmente diferentes entre si, até mesmo entre filósofos praticantes. Freqüentemente, um grupo de filósofos pensa que outro grupo está gravemente enganado quanto à tarefa da filosofia. Alguns dizem que a filosofia é a "rainha das ciências," a ciência mais geral e universal em contraste com as ciências específicas tais como a física ou a biologia. Outros negam que a filosofia seja uma ciência. Alguns têm argumentado que a filosofia nos informa acerca das partes constituintes fundamentais do mundo, ao passo que outros filósofos têm rejeitado até mesmo a possibilidade de semelhante pesquisa. Alguns dizem que a filosofia é basicamente uma atividade racional, centralizando-se na argumentação e na avaliação crítica das evidências. Mas ainda outros têm negado que o uso da razão é essencial ou que existam quaisquer argumentos convincentes na filosofia. Logo, um relato simples, compreensivo e exato da filosofia teria de incluir uma multidão de pontos de vista e práticas aparentemente inconsistentes.

Uma solução possível seria pedir a alguém que está fora da filosofia — por exemplo, um historiador das idéias que simplesmente observasse aquelas atividades que vários filósofos consideram filosóficas, que notassem suas características em comum, e construísse uma definição neutra baseada nestas características. Semelhante pedido certamente não seria impossível para um historiador bem treinado que também fosse filosoficamente astuto. Mesmo assim, esta idéia supõe que há algum grupo de características ou propriedades em comum a tudo que usualmente tem sido chamado de "filosofia." Além disto, semelhante definição somente descreveria aquelas atividades que tradicionalmente têm sido chamadas de "filosofia", e estamos querendo saber mais do que isto quando indagamos sobre a natureza da filosofia.

Estamos procurando uma definição que determinará o que é a filosofia e, além disto, a boa filosofia.

Outro lugar onde poderíamos começar em nossa busca de uma definição da filosofia é o dicionário. Ali, ficaríamos sabendo que a palavra filosofia é derivada de duas palavras gregas que querem dizer "amando a sabedoria." Esta idéia da sabedoria era central no pensamento dos antigos. Neste conceito da filosofia, o papel primário da filosofia era a educação moral. Ou seja, a filosofia devia ensinar a vida virtuosa. Até mesmo os aspectos mais abstratos da filosofia desempenhavam seu papel em atingir este alvo, porque o conhecimento e o entendimento faziam parte da vida virtuosa. De

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acordo com os filósofos gregos, o homem ignorante não pode ser genuinamente feliz.

Sócrates, cuja máxima: "A vida não examinada não é digna de ser vivida" é freqüentemente citada, foi a concretização do filósofo ideal, ou amante da sabedoria.

O conceito clássico da filosofia ("conhecer o bem é praticá-lo") também fazia parte central do pensamento dos dois maiores filósofos gregos, Platão e Aristóteles. Mesmo assim, esta abordagem filosófica tem sido cada vez menos influente nos séculos recentes. Se você fosse ler as revistas de filosofia hoje, perceberia que não desempenham nenhum papel de destaque na educação ética.

Sendo assim, é impossível elaborar uma definição da filosofia? Pensamos que não, pois é possível apontar a dificuldade radical que leva a tais conceitos diversos acerca da filosofia. Tendo feito isto, poderemos dar uma definição que, embora reflita reconhecidamente um ponto de vista específico quanto àquela dificuldade radical, terá utilidade geral.

Filosofia Analítica e/ou Especulativa

Qual, pois, é a dificuldade radical em definir a filosofia? Colocada em termos simples, é o desacordo entre os filósofos quanto à questão se a filosofia se ocupa somente com a análise de conceitos e pressuposições, ou se é algo mais. A maioria dos filósofos que trabalha no ., ramo hoje, concordaria que a filosofia é algo mais, mas discordaria acerca da natureza exata desse algo mais. Examinemos, mais de perto esta disputa.

A filosofia analítica ou análise conceptual. A análise conceptual é a crença de que a única preocupação da filosofia, ou, pelo menos uma preocupação central dela, é o estudo analítico dos conceitos. O trabalho da filosofia é definir termos filosóficos e científicos, e esclarecer a linguagem das idéias. O filósofo é um analista, mas não no mesmo sentido que um cientista. O cientista procura explicar sistematicamente o mundo em que vivemos. A fim de levar a efeito sua tarefa, deve usar observação e experimentação cuidadosamente controladas. O alvo do filósofo analítico, porém, é bem diferente. Examina as pressuposições e conceitos básicos que são empregados pelo cientista, pelo moralista e pelo teólogo. O filósofo procura elucidar os conceitos e princípios metodológicos que os cientistas empregam de modo não crítico. A filosofia analítica não se ocupa apenas com o cientista, o moralista, e o teólogo. Cada uma das áreas principais de pesquisa tem termos e princípios básicos que precisam de elucidação. Freqüentemente, tais pesquisas são chamadas metafilosóficas.

Objeções à filosofia analítica. Embora a filosofia analítica esteja na moda hoje nos países onde se fala inglês, nem todos os filósofos estão igualmente contentes com ela.

Alguns acham que a filosofia analítica enfatiza demasiadamente as questões do significado e deixa de enfatizar as questões da verdade. Além disto, há um grande grupo de pessoas que sustenta a opinião que o princípio da verificação, um conceito- chave da filosofia analítica, não é um teste fidedigno nem do significado nem da relevância.

Conforme o princípio da verificação, uma declaração é significativa somente se é pu-

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ramente definidora ou, senão, averiguável por um ou mais dos cinco sentidos. Todas as demais declarações, inclusive as éticas, teológicas e metafísicas, não fazem sentido.

Sabemos, porém, por motivos independentes, que muitas proposições consideradas sem sentido de conformidade com os critérios da verificação são, na realidade, significativas. Até mesmo filósofos analíticos já notaram os problemas do princípio da verificação, e têm trabalhado para revisá-lo.

A análise e a elucidação das proposições, portanto, é, reconhecidamente, uma tarefa vital para a filosofia. Alguns pensadores, no entanto, indicam que a preocupação com a elucidação de proposições filosóficas pode eclipsar outras preocupações importantes da filosofia. Podemos gastar tanto tempo definindo os termos numa declaração que perdemos de vista a veracidade da declaração.

A filosofia especulativa. A filosofia especulativa é o segundo ramo da pesquisa filosófica. Ela, também, tem uma história longa e nobre, embora recentemente tenha chegado a ser desfavorecida, especialmente na tradição anglo-americana da filosofia.

De fato, rotula algum ítem de argumento filosófico hoje como "filosofia especulativa"

é estigmatizá-lo.

A filosofia especulativa movimenta-se numa direção bem diferente da filosofia analítica. Ao passo que a filosofia analítica se interessa em analisar os alicerces do conhecimento, a filosofia especulativa, pelo menos nas formas mais extremas, está ocupada na sintetização dos resultados da pesquisa conceptual, a fim de formar um conceito compreensivo integradora da realidade. O alvo final de um ramo da filosofia especulativa é explicar sistematicamente as partes constituintes fundamentais do mundo e da realidade, e definir o lugar apropriado do homem e das suas atividades neste mundo. Logo, a filosofia especulativa nalgumas das suas formas vai além da mera descrição de como é o mundo e como os homens agem, até como o mundo deveria ser e como os homens deveriam agir. Logo, pelo menos parte da filosofia especulativa tem duas preocupações que são estranhas à filosofia analí- tica mais severa. Primeiramente, há uma tentativa para integrar todo o conhecimento num único conceito da realidade, que abrange a tudo. Em segundo lugar, há um esforço no sentido de formular um sistema unificado de valores religiosos, morais e estéticos.

A filosofia analítica e a especulativa não são necessariamente opostas uma à outra.

Os vários campos que compõem a filosofia contém questões tanto conceptuais quanto especulativas. Por exemplo, na ética temos questões conceptuais que tratam da análise de termos-chaves tais como "bom," "errado," "responsabilidade,"

"liberdade," e "louvor." Do outro lado, há as questões especulativas do sumo bem, da capacidade do homem para agir altruisticamente, e de se uma mentira é "certa" em determinada ocasião. Mesmo assim, a filosofia crítica ou analítica deve preceder a filosofia especulativa no sentido de que a pessoa deve entender os conceitos antes de poder formular princípios fundamentais do conhecimento, da ação e do destino.

Objeções à filosofia especulativa. Independentemente da possível natureza complementar da filosofia analítica e da especulativa, a filosofia especulativa tem sido submetida a ataques severos e consistentes, mais notavelmente na tradição anglo-americana. Por que isso? Em muitos aspectos as perguntas da filosofia especulativa são muito mais interessantes e relevantes do que aquelas da filosofia

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analítica. As perguntas especulativa às "grandes perguntas," as perguntas que são importantes a todos nós, tais como: Quais são os alvos da educação? Qual é o papel das artes numa sociedade democrática? Qual é o padrão correio da moralidade?

Estas perguntas afetam a todos. As perguntas da filosofia analítica, no entanto, freqüentemente parecem estéreis e sem importância. Por que, portanto, os filósofos rejeitariam as questões genuinamente interessantes da sua disciplina?

Há um número de razões porque a filosofia especulativa tem sido submetida a ataques. Primeiramente, há alguns filósofos que acreditam que a integração de todo o conhecimento e todos os valores é uma impossibilidade. Semelhante tarefa exige uma mente onisciente e infalível, e pede demais da parte da filosofia. Em segundo lugar, um bom número de filósofos sustenta que a filosofia especulativa não somente é impossível como também é um contra-senso — uma pseudo-ciência sem conteúdo real. Esta alegação é mais forte do que a primeira, e usualmente é baseada na asseveração de que estas perguntas especulativas nunca poderão ser decididas com base na experiência do homem.

Onde, pois, isto deixa os filósofos modernos? Pelo menos duas conclusões podem ser tiradas. Primeiramente, independentemente de como a pessoa resolve a questão especulativa, a filosofia diz respeito à análise sistemática de conceitos fundamentais.

Em segundo lugar; a filosofia especulativa inclui perguntas que tradicionalmente têm sido chamadas normativas bem como genuinamente especulativas. As perguntas normativas pedem respostas tanto prescritivas quanto descritivas — aquilo que deve ser, bem como aquilo que é. Por exemplo, quando alguém pergunta se o aborto é correio, ele ou ela não deseja simplesmente saber o que a maioria das pessoas defrontadas com esta situação está fazendo. Ele ou ela quer uma resposta que inclui um "deve", independentemente daquilo que os outros estão fazendo.

Características da Pesquisa Filosófica

Antes de terminar a discussão sobre a definição, será útil declarar algumas das características da pesquisa filosófica.

1. As disputas filosóficas não são provocadas por uma falta de informações fatuais.

De modo geral, argumentos filosóficos surgem mesmo quando há concordância quanto a todos os fatos entre as partes em conflito. As disputas são, pelo contrário, desacordos quanto à interpretação, ou ao valor. Como ilustração, suponhamos que duas pessoas estão disputando acerca dos respectivos méritos de dois automóveis.

Estão de acordo sobre itens tais como o custo dos carros, quilometragem por litro, e a velocidade de aceleração. Mesmo assim, não podem concordar sobre qual dos dois carros é o melhor. Logo, o problema não é diretamente, pelo menos, um problema tatuai.

2. Os problemas filosóficos raramente são solucionados por um apelo aos fatos.

Embora seja sempre possível que algum fato ou grupo de fatos possa resolver uma disputa filosófica, é altamente improvável. Voltemos para nosso desacordo acerca dos automóveis. Suponhamos que algum novo estudo tatuai fosse publicado, comparando certo número de aspectos diferentes dos dois carros. Além disto, suponhamos que o primeiro carro tivesse um desempenho melhor do que o segundo

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em todos os aspectos. O fã do segundo carro talvez achasse difícil continuar dando seu apoio a este carro e mudasse sua lealdade ao primeiro carro.

Semelhante reviravolta de eventos, no entanto, é improvável por duas razões.

Primeiramente, é improvável que semelhantes informações unilaterais surgissem.

Como regra geral, as evidências são mais ambíguas, e favorecem um dos lados aqui, e o outro lado, ali. Em segundo lugar, visto que a disputa surgiu devido a considerações não puramente fatuais, o fã do segundo carro ainda pode manter a superioridade do carro dele apesar das conclusões. Podemos imaginar que o argumento fosse do seguinte tipo: "Minha família sempre guiou Chevrolets, e sempre nos serviram bem. Não se abandona um velho amigo. Não vou mudar de lealdade agora."

As duas características discutidas até esta altura demonstram que a filosofia não trata meramente da simples descrição empírica.

3. A filosofia freqüentemente se ocupa mais com o método do que com o conteúdo teorético. Certo número de filósofos tem argumentado que a filosofia não tem nenhum conteúdo e assunto dela mesma. Logo, não se preocupa primariamente com o conteúdo teorético. É, pelo contrário, uma disciplina da segunda ordem, que examina o método e os conceitos de disciplinas da primeira ordem tais como a biologia, a história, e a educação. Neste sentido, a filosofia é mais o desenvolvimento de uma perícia do que a aquisição de um corpo de conhecimento.

4. Um dos alvos principais da filosofia é a elucidação. Uma marca distintiva da pesquisa filosófica é o pensamento rigoroso que procura a clareza intelectual. Alguns filósofos contemporâneos analíticos têm feito um esforço para demonstrar que um bom número de enigmas filosóficos são causados por linguagem pouco clara ou por interpretações erradas, e, portanto, são dissolvidos ao invés de solucionados, ao serem analisados corretamente.

5. A filosofia está ocupada com a reflexão crítica sobre a justificação e a evidência. A filosofia avalia os argumentos e aquilata as pressuposições e as reivindicações de veracidade. É por isso que o estudante com uma boa cabeça para argumentação usualmente terá sucesso na filosofia.

6. A pesquisa filosófica centraliza-se numa busca da verdade ^acerca de questões cruciais que são perenemente discutidas por homens quê pensam. Estas questões são cruciais em dois aspectos. Primeiramente, são questões fundamentais ou básicas, tais como: O homem é livre? ou: Por qual princípio nós agimos? Em segundo lugar, as questões aplicam-se a mais de um campo de pesquisa. Por exemplo, quando perguntamos acerca da natureza do conhecimento, estamos interessados no relacionamento entre o conhecimento científico, o conhecimento matemático, e o conhecimento religioso. Estes tipos de conhecimento precisam do mesmo tipo de justificativa, ou há diferenças importantes nas exigências de evidências e certeza para os vários campos?

7. A análise e explicação filosóficas envolvem apelos a sistemas de princípios. Esta característica dá à filosofia tanto sua profundidade quanto sua largura. Uma resposta filosófica visa ser consistente com um grupo de princípios que são considerados

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verdadeiros e que se aplicam aos fenômenos em pauta. O filósofo procura fornecer respostas que apelam a um sistema de princípios, à luz dos quais o caso em pauta possa ser explicado. Um exemplo claro disto é a explicação nomológica, ou da "lei abrangente," na ciência.

8. Parte da filosofia ocupa-se com a natureza da "existência," ou da realidade. A filosofia estuda não somente como sabemos (epistemologia) mas também o que sabemos acerca da realidade (metafísica). Embora alguns filósofos sustentem que a busca da realidade fundamental está além do alcance da filosofia, outros insistem que é uma atividade filosófica importante, senão essencial.

O O V V al a lo or r d da a F Fi il lo os so of fi i a a

devemos responder à pergunta: Para que estudar a filosofia? Alguns filósofos considerariam tal pergunta indigna de receber uma resposta, e a indicativa da mentalidade pragmática, norte-americana que quer saber: "Que vantagem tiro eu disto?" e "Que bem me fará?" Tais filósofos diriam que a filosofia tem sua própria justificação inerente; não precisa de qualquer justificativa instrumental ou externa. Se um não-filósofo não entende nem estima as questões que interessam ao filósofo, o problema é seu. As perguntas do não-filósofo indicam sua ignorância e falta de apreciação pela sofisticação da mente humana.

Semelhante condenação com ares de superioridade é apressada e severa. é possível enumerar alguns bons motivos para se dedicar ao estudo da filosofia.

Compreender a Sociedade

A compreensão e a apreciação da filosofia ajudarão a pessoa a compreender sua sociedade. A filosofia tem uma influência profunda sobre a formação e o desenvolvimento de instituições e de valores. Não devemos subestimar a importância de idéias em moldar a sociedade. Por exemplo, o respeito com que se trata o indivíduo e a liberdade são, em grande medida, o produto do pensamento ocidental. A filosofia nos ajuda a perceber o que está envolvido nas "grandes perguntas" que indivíduos e sociedades devem fazer.

Libertar do Preconceito e do Bairrismo

Os elementos críticos e aquilatadores da filosofia podem ajudar a libertar a pessoa das garras do preconceito, do bairrismo, e do raciocínio inferior. Na reflexão filosófica podemos colocar-nos à certa distância das nossas crenças e das crenças dos outros, e enxergá-las com certo ceticismo. Leremos jornais e revistas de modo mais crítico, o que nos deixará menos suscetíveis à propaganda. A filosofia pode nos

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ajudar a não nos deixarmos iludir pelas evasivas e omissões das técnicas políticas e publicitárias. Numa democracia há a necessidade de desenvolvermos um ceticismo saudável acerca das nossas crenças e das crenças dos outros, bem como a capacidade de reconhecer boa argumentação e evidência. Não se quer dizer com isto que devemos nos tornar totalmente céticos ou agnósticos. Muito pelo contrário, aquelas crenças que passam o escrutínio da avaliação racional devem ser sustentadas com a máxima confiança.

O Valor Prático - A despeito da natureza abstraía de grande parte da filosofia, ela pode ser útil na vida de todos os dias. Decerto, a ênfase que os antigos davam à

"sabedoria" como o alvo da filosofia era correia. Não haveria razão de ser em procurarmos a clareza em todos os nossos conceitos fundamentais se esta clareza não nos oferecesse ajuda à nossa vida, nem contribuísse à obtenção da sabedoria acerca da qual falamos. Por exemplo, discussões éticas que tratam de princípios de ação talvez pareçam removidas da arena da vida verdadeira, mas não estão. Imaginemos que você esteja considerando um aborto. Sua decisão será grandemente influenciada pela sua crença de se a ação deve ser orientada pela conveniência ou pelo dever. Até mesmo quando Deus nos deu mandamentos diretos, podemos examinar a jus- tificativa que Deus dá destes mandamentos. Visto que Deus é tanto moral quanto .racional, Seus mandamentos não são o resultado de uma vontade arbitraria. Além disto, visto que a Escritura não preceitua toda a ação em termos específicos, precisamos de orientação a respeito da aplicação de princípios bíblicos e morais à ação. Na realidade, a filosofia é intensamente prática.

O Desafio Cristão - O cristão tem interesse específico pela filosofia, e a responsabilidade de estudá-la. A filosofia será tanto um desafio à sua fé quanto uma contribuição ao jcu entendimento da fé. Alguns cristãos sentem suspeita da filosofia porque ouviram histórias acerca doutras pessoas que perderam sua fé através do estudo da filosofia. Foram aconselhados a evitar a filosofia como a peste. Após reflexão séria, fica sendo claro que este conselho não é sábio enfrentar o desafio intelectual levantado contra ele. O resultado de tal desafio não deveria ser a perda da fé, mas, sim, a possessão, de valor inestimável, de uma fé bem arrazoada e madura.

Além disto, há conseqüências sérias de uma falta de consciência de padrões contemporâneos de pensamento. Ao invés de ficar isenta de sua influência, a pessoa fica sendo a vítima inconsciente deles. Infelizmente, há um número grande demais de cristãos que sustentam crenças que são hostis à fé cristã, e não têm consciência do fato. Visto que toda a verdade é verdade de Deus, e visto que a filosofia e uma busca da verdade então, a filosofia contribuirá ao nosso entendimento de Deus e do Seu mundo.

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Di D is s ci c ip pl li i n n a a s s d d a a F Fi il lo os s of o fi ia a

Conforme vimos no capítulo anterior uma definição da filosofia é tanto difícil quanto controvertida. Até mesmo os "profissionais" do ramo discordam entre si quanto à natureza exata da filosofia. Apesar disto, a situação é bem diferente quando nos dedicamos a especificar as divisões ou áreas da filosofia. Aqui, os filósofos estão geralmente de acordo entre si. Neste capítulo faremos um levantamento destas áreas principais, para dar uma idéia de que tipo lê questão caberá a cada domínio. Há duas abordagens à filosofia, a analítica e a especulativa.

Ética

Talvez a área mais conhecida da filosofia seja o estudo da ética. Dificilmente passa um dia sem sermos confrontados com questões da moralidade. Vou falsificar minha declaração de imposto de renda? O aborto é correto? Embora a filosofia geralmente trate de coisas abstratas, este certamente não é o caso da ética. As questões da teoria ética são perguntas práticas, problemas que tocam na vida de todos os dias.

Embora o uso que o filósofo faz do termo ética se assemelhe em muitos aspectos ao uso comum da palavra, há, também, diferenças. Quando o homem do povo fala da ética, usualmente se refere a uma coletânea de regras ou princípios mediante os quais é ou permitido ou proibido de comportar-se de certas maneiras. Por exemplo, quando falamos da "ética pastoral," geralmente nos referimos a regras ou princípios que governam o comportamento do ministro para com seus paroquianos ou para com outros ministros. Ou, se falamos da necessidade da "ética dos negócios,"

referimo-nos a um código que regula, ou que deve regular, as ações dos negociantes para com seus fregueses, empregados e concorrentes.

Os filósofos também empregam a palavra ética neste sentido. Por exemplo, quando o filósofo fala da "ética cristã," comumente quer dizer aqueles princípios que guiam as

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ações dos cristãos, princípios tais como aqueles registrados nos Dez Mandamentos e no Sermão da Montanha. O filósofo, no entanto, também emprega a palavra num sentido mais amplo. Mais geralmente, emprega o termo para denotar um campo da filosofia. Aqui, a ética é uma - matéria teorética. Pode ser distinguida das normais divisões da filosofia primariamente por aquilo acerca de que teoriza. Ao passo que o epistemólogo teoriza acerca do conhecimento, e o esteta acerca da beleza, o filósofo moral está interessado na natureza da vida virtuosa, no seu valor último, e na propriedade de certas ações e estilos de vida.

A ética é parcialmente uma atividade analítica ou meta-ética. A meta-ética denota a busca dos significados de certos termos-chaves que aparecem em declarações éticas, declarações estas que atribuem louvor ou culpa a ações. Uma lista parcial destes termos incluiria: "bom," "errado," "certo," "responsável," "deve," e "deveria."

Do outro lado, há muitos filósofos que sustentam que a ética também é um inquérito normativo. Estes filósofos alegam que as teorias éticas recomendam, avaliam, e justificam a escolha de certas ações. Avaliam alvos e, em última análise, modos de vida como sendo moralmente valiosos. A ética está preocupada em fazer mais do que simplesmente descrever como as pessoas agem. Quer preceituar. Ou seja: está interessada em atribuir modos de ação que devem ser seguidos ou louvados.

Recentemente tem sido argumentado que princípios de ação universais ou absolutos são impossíveis. As regras éticas, na melhor das hipóteses, dependem da situação ou da cultura. Este conceito de ética é chamado de relativismo moral ou ético. Situation Ethics, de Joseph Fletcher, é um bom exemplo deste tipo de filosofia moral. Segundo Fletcher, "toda e qualquer coisa é certa ou errada, de acordo com a situação," tudo depende de se a pessoa age na base do amor (ágape}.

A busca de regras universais de ação tem sido atacada de outra direção, também. Um grupo de filósofos, geralmente dentro da escola analítica do positivismo lógico alega que as declarações de princípios morais não preceituam, pelo menos não nalgum sentido direto. Pelo contrário, expressam a aprovação ou desaprovação pessoal.

Dizer, portanto, "Matar é errado," é meramente expressar seu próprio desagrado como o assassinato. É verdade que a declaração aconselha uma política semelhante para outras pessoas, mas estas não estão obrigadas a aquiescer. Esta forma de teoria ética é chamada emotivismo, e é exposta por A. J. Ayer e C. L. Stevenson.

A Filosofia Social E Política

A filosofia social e política está estreitamente relacionada com a ética. Ao passo que a ética diz respeito às ações dos indivíduos, a filosofia especial e política está interessada nas ações de um grupo ou sociedade. A grosso modo, as reflexões filosóficas a respeito da sociedade encaixam-se em duas classes distintas, porém estreitamente relacionadas entre si. A primeira classe procura examinar por que a sociedade é como é. Por que a guerra, o crime, e a pobreza existem? Se estas reflexões forem seguidas e classificadas, será descoberto que fazem parte das disciplinas da psicologia, da antropologia, da sociologia, da ciência política, e das ciências econômicas. A segunda classe de reflexões filosóficas sonda os alvos da sociedade e o papel que o estado pode desempenhar em realizar estes alvos. Este segundo tipo de pesquisa é chamado filosofia social ou política.

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Deve ser notado que, embora os dois tipos de pesquisa distinguidos supra sejam logicamente independentes entre si, na prática é bem difícil estar preocupado com um dos tipos e não com o outro. Alguém pode ser um sociólogo sem se ocupar com a filosofia social e política, ou praticar a filosofia política sem ser um economista ou cientista político.

O filósofo social e político analisará conceitos tais como a autoridade, o poder, a jus- tiça e os direitos individuais. Obviamente, semelhante análise tem estreito relacionamento com a teoria ética. A filosofia social e política, porém, está interessada em mais do que a mera teoria. Trata de perguntas tais como: Quem deve governar a sociedade? A obrigação política é comparável com outros tipos de obrigação? São compatíveis a liberdade e a organização? Qual é o significado da democracia, e é ela uma forma justificável de governo? Qual deve ser o papel do governo numa comunidade corretamente organizada? Aqui também, embora estas perguntas sejam teoréticas, têm enorme importância prática.

A Estética

A estética faz parte essencial da teoria de valores, ou da axiologia. Nalguns pontos toca também em questões éticas ou sociais e políticas. A análise de idéias tais como beleza, gosto, e arte, e como empregamos estes termos é fundamental para este ramo da filosofia.

Assim como nas demais áreas da filosofia, há perguntas que vão além da mera análise de conceitos estéticos. Questões de estilo, da intenção do criador, e da natureza da criatividade na arte são apenas uma parte da estética. Uma das questões mais interessantes na estética diz respeito à crítica de obras de arte. O que produz uma boa poesia? Uma bela pintura? Uma sinfonia comovente? Como se distinguem a interpretação e a avaliação? Alguns filósofos têm procurado examinar o lugar da arte numa sociedade estável ou seu papel de transformação em uma sociedade corrupta.

Infelizmente, a maioria dos estudantes principiantes recebem pouco ou nenhum contato com esta divisão dentro da filosofia, embora seja uma das mais interessantes.

A Lógica

Dalgumas maneiras, a área mais fundamental da filosofia é a lógica, visto que a filosofia é uma pesquisa lógica, e visto que a lógica expõe sistematicamente as leis do pensamento e do argumento.

A maioria das pessoas não emprega argumentos lógicos e dedutivos com premissas e conclusões estruturadas. Não se quer dizer com isto que seus argumentos não poderiam ser resumidos assim; mas na discussão comum, é desnecessária semelhante formalização. Logo, há necessidade de princípios lógicos mediante os quais possamos avaliar argumentos informais. A maioria dos cursos da lógica começa com uma discussão de falácias informais, ou seja: de erros de argumentação em conversa comum.

Algumas das falácias mais comuns são o apelo à autoridade ao invés de apelar à evidência para sustentar a posição, e o ataque contra o homem (chamado argumentam ad hominem) ao invés de opor-se à sua justificação ou evidência. Por

Referências

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