• Nenhum resultado encontrado

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIAL RENATO FRANCISCO DOS SANTOS PAULA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIAL RENATO FRANCISCO DOS SANTOS PAULA"

Copied!
420
0
0

Texto

(1)

1

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIAL

RENATO FRANCISCO DOS SANTOS PAULA

Serviço Social, Estado e Desenvolvimento Capitalista

(im)possibilidades neodesenvolvimentistas e projeto profissional

DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL

SÃO PAULO

(2)

2

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIAL

Serviço Social, Estado e Desenvolvimento Capitalista

(im)possibilidades neodesenvolvimentistas e projeto profissional

RENATO FRANCISCO DOS SANTOS PAULA

SÃO PAULO

(3)

3

Serviço Social, Estado e Desenvolvimento Capitalista

(im)possibilidades neodesenvolvimentistas e projeto profissional

DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Serviço Social sob a orientação da Professora Drª Maria Carmelita Yazbek.

São Paulo

(4)

4

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________ Profª Drª Maria Carmelita Yazbek (Orientadora)

_______________________________________________________ Profª Drª Raquel Raichelis Degenszajn (PUC-SP)

_______________________________________________________ Profª Drª Maria Lúcia Martinelli (PUC-SP)

_______________________________________________________ Profª Drª Potyara Amazoneida Pereira Pereira (UnB-DF)

_______________________________________________________ Profª Drª Berenice Rojas Couto (PUC-RS)

_______________________________________________________ Profª Drª Rosângela Dias de Oliveira da Paz (Suplente) (PUC-SP)

(5)

5

AGRADECIMENTOS

O ciclo que se inicia e se encerra com a conclusão da tese e a sua defesa é, sem dúvida, um dos marcos mais significativos na vida de qualquer pesquisador.

Atividade solitária, como se diz de modo corrente no meio acadêmico, é, ao mesmo tempo, resultado de um “coletivismo” que se constrói ao longo de uma trajetória que extrapola os “anos” formalmente estabelecidos para o exercício da atividade. É por isso que estas páginas de agradecimentos são tão fundamentais quanto a própria tese. Todas as interações e interlocuções realizadas ao longo de uma vida profissional e acadêmica se fazem aqui presentes, objetiva ou subjetivamente, logo, as páginas destinadas a lembrá-las são sempre insuficientes, nos obrigando a fazer escolhas justas, contudo, sempre incompletas.

O caminho que escolhi para isso foi tratar a nominata a partir das relações que se estabeleceram de modo mais direto ao objeto e processamento da tese. Assim, destaco em primeiro lugar a (re)acolhida que me foi dispensada no Programa de Estudos Pós-graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) que, desde o Mestrado que conclui nessa mesma casa, me foi um espaço da mais competente interlocução para a produção de saber aliada à consolidação de relações de cumplicidade e muito fraternas que tornaram a árdua busca de conhecimento racional/científico mais leve e prazerosa. Portanto, a todos os professores, trabalhadores e colegas do PEPGSS-PUC-SP meu sincero muito obrigado.

O Serviço Social da PUC-SP (graduação e pós-graduação) tem a importância, de todos nós conhecida e reconhecida, para o Serviço Social brasileiro não apenas por ter sido o nosso primeiro lócus de formação profissional, mas por abarcar e ter abarcado parte significativa dos nossos quadros pensantes mais ativos com suas produções “arrasadoras”. Nesse contexto, o privilégio de ter convivido, ainda que pelas horas restritas às atividades acadêmicas, com os mestres José Paulo Netto e Evaldo Vieira, fez as minhas buscas muito mais amplas e rigorosas, tendo este último se tornado, além de uma fonte de inspiração, um amigo dileto que não se furtou aos meus apelos e se dedicou à leitura dos meus alfarrábios; a tese em forma primitiva. Ao mestre e amigo Evaldo Vieira compartilho que esta tese também é uma tentativa de responder à altura da qualidade de sua interlocução.

Em um lugar não menos destacado, a responsabilidade de responder às expectativas da interlocução de qualidade também se estende à rica orientação de Maria Carmelita Yazbek. Como disse a poetisa, “feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”1, pois não se trata aqui de uma relação formal de orientador/orientando, mas sim de uma forma simbiótica peculiar de tratar o conhecimento onde o respeito unido à admiração recíproca foram seus fios condutores.

(6)

6 Outra relação intelectiva/afetiva deu-se com as mestres e amigas Raquel Raichelis e Rosangela Paz, cujas presenças foram imprescindíveis para que eu nunca pensasse em desistir da caminhada. A primeira, junto com minha orientadora e a querida Maria Lúcia Martinelli, deu ao trabalho os rumos que ele deveria tomar com suas argutas e generosas considerações no rito da qualificação. Meus agradecimentos dão-se na forma das ininterruptas produções que daqui prosseguem na esteira de seus exemplos.

Ao professor Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida, cujo “marxismo impenitente” foi essencial para que eu pudesse incorporar com segurança categorias e rumos analíticos por vezes marginalizados no mundo acadêmico de orientação marxiana e marxista.

Aos professores Marco Aurélio Nogueira e Luís Filgueiras, pelo diálogo que se transformou em contribuição aos meus estudos.

Aos companheiros de caminhada, amigos e colegas, professores Wanderson Fábio de Melo e Eduardo Benzatti do Carmo, que também dispensaram parte de seu precioso tempo para ler e opinar sobre os originais, melhorando em muito o que eu poderia fazer.

Aos companheiros do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) que compartilharam dessa jornada, compreendendo sua importância e com isso aliviando as tensões do nosso exercício profissional nesses espaços.

Aos(Às) companheiros(as) assistentes sociais que, no primeiro desenho da pesquisa, se dispuseram a participar dos grupos focais. Embora a pesquisa tenha amadurecido para outros rumos, as ricas contribuições e seus depoimentos foram fundamentais para que o estudo se concretizasse.

Aos colegas professores, trabalhadores e alunos da Faculdade Projeção de Ceilândia, do Curso de Serviço Social, incentivadores, portanto, cúmplices do começo e, aos colegas professores, trabalhadores e alunos da Universidade Federal de Goiás, cúmplices do final disso tudo.

Aos mestres que, generosamente, aceitaram compor a banca de arguição desta tese em meio a tantas atribuições que se lhes exige o cotidiano.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), pelo apoio na realização do doutorado e da tese.

(7)

7

RESUMO

PAULA, Renato Francisco dos Santos. Serviço social, estado e desenvolvimento capitalista: (im)possibilidades neodesenvolvimentistas e projeto profissional. 420p. Tese (Doutorado em Serviço Social)- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo, 2013.

A presente tese tem como objeto de estudo as particularidades dos projetos desenvolvimentistas contidos na história da evolução do capitalismo brasileiro e suas implicações para o Serviço Social e seus projetos profissionais. Sob a orientação da “economia política” como método, parte do pressuposto de que as relações estabelecidas entre o Estado e as classes sociais são o núcleo duro por onde circulam a legitimidade e a orientação social do Serviço Social como profissão partícipe da divisão social e técnica do trabalho no capitalismo de tipo monopolista. Desta forma, resgata a evolução do debate sócio-histórico sobre o Estado tanto como categoria de análise crítica quanto como “instrumento” de concreção dos interesses de classe por meio do cotejamento aos clássicos da ciência política, dos pensamentos sociológico e econômico universais. Presta-se à análise desses mesmos campos de conhecimento, em sua versão brasileira, para, com isso, induzir a uma perspectiva totalizante que arrola os elementos gerais, particulares e singulares do fenômeno considerado. Trata dos projetos desenvolvimentistas como “momentos de síntese” do processo de evolução do capitalismo nacional com destaque especial para o ciclo atual de acumulação em que se trava um debate sobre a existência ou não de um projeto neodesenvolvimentista, cujos desdobramentos rebatem tanto na reconfiguração do mercado particular de trabalho do Serviço Social, quanto nas suas formas de produzir conhecimento, análises da realidade e orientações ético-políticas relacionadas à sua luta antissistêmica cotidiana.

Palavras-Chave: Estado. Desenvolvimento Capitalista. Serviço Social.

(8)

8

ABSTRACT

PAULA, Renato Francisco dos Santos. Serviço social, estado e desenvolvimento capitalista: (im)possibilidades neodesenvolvimentistas e projeto profissional. 420p. Tese (Doutorado em Serviço Social)- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo, 2013.

The current thesis has as object of study the particularities of those developmentalist projects, present in the history of the evolution of Brazilian capitalism as well as its implications in Social Work and its professional projects. Under the lights of the ‘political economy’ as a method, it departs from the assumption that the relationships established between State and the social classes are the hard core through which circulate the legitimacy and the social orientation of Social Work as a participating profession of the social and technical division of monopolist capitalism. That way, it recovers the evolution of the socio-historical debate on State not only as a category of critical analysis but also as an ‘instrument’ that makes concrete the class interests through the collation to the Political Science canon as well as to the sociological and economic thoughts taken as universal. It also lends itself to the analysis of such fields of knowledge in its Brazilian version in order to induce to a totalizing perspective that does not abstain from listing the general and particular elements of the phenomenon in question. It regards the developmentalist projects as ‘moments of synthesis’ of the evolutionary process of the national capitalism with special emphasis on the current cycle of accumulation in which there is a debate on the existence or not of a neo-developmentalist project whose deployments hold in check the reconfiguration of the private job market of Social Work as well as its ways of producing knowledge, analysis of the reality and ethical-political orientations, in its daily anti-systemic struggle.

(9)

9

RÉSUMÉ

PAULA, Renato Francisco dos Santos. Serviço social, estado e desenvolvimento capitalista: (im)possibilidades neodesenvolvimentistas e projeto profissional. 420p. Tese (Doutorado em Serviço Social)- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo, 2013.

Cette thèse a comme objet d’étude les particularités des projets développementalistes présents dans l’histoire de l’évolution du capitalisme brésilien et ses implications pour le Service Social et ses projets professionels. Sous l’orientation de “l’économie politique” comme méthode, cela part de l’hypothèse que les rélations établies entre l’État et les classes sociales sont le noyau dur par où circulent la légitimité et l’orientation sociale du Service Social en tant que profession participante de la division sociale et technique du travail dans le capitalisme monopoliste. Ainsi, cela délivre l’évolution du débat sociohistorique en tant que catégorie d’analyse critique et aussi en tant qu’instrument de concrétisation des intérêts de classe à travers le rapprochement aux classiques des Sciences Politiques, des pensées sociologique et économique universelles. Cela se prête à l’analyse de ces champs de connaissance dans sa vérsion brésilienne afin d’induire à une perspective totalisante qui ne se abstient pas d’enrouler les éléments généraux, particuliers et singuliers du phenomène en question. Cella s’occupe des projets développementalistes en tant que “moments de synthèse” du processus d’évolution du capitalisme national, notamment en ce qui concerne le cycle actuel d’accumulation où il y a un débat à propos de l’existence ou pas d’un projet néo-développementaliste dont les dédoublements rebattent dans la reconfiguration du marché particulier de travail du Service Social et aussi dans ses manières de produire connaissance, analyses de la réalité et orientations étiques politiques à sa lutte anti-systémique quotidienne.

(10)

10

LISTA DE QUADROS E FIGURAS

Quadro 1– Trajetória intelectual de Nicos Poulantzas (o conceito de Estado capitalista) 109 Quadro 2– Os 20 maiores grupos econômicos no Brasil, em receitas totais e áreas de

atuação de suas controladas (2009) 283

Quadro 3– Tendências predominantes no debate profissional sobre “Estado” e temas afins 342

Figura 1– Dupla estratégia da campanha OIT para estender a cobertura da Seguridade Social –

(11)

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Taxas anuais de crescimento econômico – Brasil – 1920 a 1945 188

Tabela 2 - PEA versus PNB/ano – Brasil – 1976 a 1978 203

Tabela 3 - Apropriação da riqueza – Brasil - 1981, 1990, 1999 208

Tabela 4 - Despesas do governo central (% do total) - Brasil - 1994 a 2010 262

Tabela 5 - Participação da indústria no emprego (% do total) 273

Tabela 6– Donos últimos que exibiram maiores ganhos de centralidade na

Reconfiguração das teias societárias entre 1996 e 2009 281

Tabela 7– Programas apoiados pelo FMI na Europa 382

Tabela 8– Cooperação oferecida pelo Brasil 2005-2009 383

(12)

12

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Balanço de ACs julgados versus distribuídos no Cade com tempo médio –

2000 a 2011 240

Gráfico 2 - Tempo médio de tramitação dos ACs no SBDC (em dias) – 2005 a 2011 240

Gráfico 3 - Composição e crescimento do estoque financeiro global (em trilhões

de dólares%) 246

Gráfico 4 - Estoques da dívida externa (em % do RNB) – América Latina e Caribe,

e Brasil - de 1980 a 2010 250

Gráfico 5 - Serviço da dívida (capital + pagamento de juros) – Brics – 1995 a 2010

(em bilhões de dólares) 251

Gráfico 6 - Serviço da dívida total (% das exportações de bens, serviços e renda) –

Brics – 1995 a 2010 251

Gráfico 7 - O investimento estrangeiro direto nas regiões emergentes – 1990-2005

(em %) 252

Gráfico 8 - Ingressos líquidos de investimento estrangeiro direto

(em bilhões de dólares) 253

Gráfico 9 - PIB per capita (US$ atualizados) – Brasil - 1995 a 2011 256

Gráfico 10 - PIB na cotação atual do dólar – Brics – 1995 a 2011

(em bilhões e trilhões de dólares) 257

Gráfico 11 - Inflação (%) – Preço para o consumidor – Brasil - 1995 a 2011 258

Gráfico 12 - Inflação (%) – Preço para o consumidor – Brics, América Latina e

Caribe - 1995 a 2011 259

Gráfico 13 - Taxa de juros Selic acumulada anual e média mensal – Brasil –

1995 a 2012 260

Gráfico 14 - Dívida Interna (R$) – Brasil - 1994 a 2010 (em trilhões de real) 261

Gráfico 15 - Credores da dívida interna (%) – Brasil - abril de 2010 261

Gráfico 16 - Participação da indústria de transformação no PIB - Brasil,

economias desenvolvidas e economias em desenvolvimento no ano 2000 271

Gráfico 17 - PIB e subsetores (com ajuste sazonal) - Taxa (%) do primeiro

trimestre de 2012 em relação ao trimestre imediatamente anterior 272

Gráfico 18 - Valor adicionado real – PIB, agropecuária, mineração e

indústria de transformação: 2002-10 (índice 2002 – 100) – Brasil 274

(13)

13

(média móvel 4 anos) – Brasil 274

Gráfico 20 - Participação no valor das exportações, segundo o fator

agregado: 2002-10 (%, média móvel 4 anos) – Brasil 275

Gráfico 21- Dependência tecnológica: 1996-2010 (%) – calculado com

US$, valores constantes em 2010 – Brasil 276

Gráfico 22– Trajetória do Gasto Social Federal – 1995 a 2010 291

Gráfico 23– Taxas de Crescimento Real do Gasto Social Federal e do PIB,

1995 a 2010 293

Gráfico 24– Taxas de Crescimento Real do Gasto Social Federal e do PIB,

(14)

14

LISTA DE SIGLAS

ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social Ambev – Companhia de Bebidas das Américas

ANAS – Associação Nacional de Assistentes Sociais BC – Banco Central

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

Bird – Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento BM – Banco Mundial

BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social BNH – Banco Nacional de Habitação

BPC – Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social Bric – Brasil, Rússia, Índia e China (países em desenvolvimento) Cade – Conselho Administrativo de Defesa Econômica

CEB – Comunidade Eclesial de Base

Cepal – Comissão Econômica para América Latina e Caribe CEF – Caixa Econômica Federal

CFESS – Conselho Federal de Serviço Social CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CRAS – Centro de Referência de Assistência Social

CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social DC – Desenvolvimento de Comunidade

DOC – Desenvolvimento e Organização de Comunidade DEM – Democratas (partido político)

DRU – Desvinculação de Receitas da União Eletrobras – Centrais Elétricas Brasileiras S.A. EI – Empreendedor Individual

FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador

FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço FHC – Fernando Henrique Cardoso

Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo FMI – Fundo Monetário Internacional

Geia – Grupo Executivo da Indústria Automobilística GSF – Gasto Social Federal

(15)

15 Ipea – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

Iseb – Instituto Superior de Estudos Brasileiros JK – Juscelino Kubistchek

LBA – Legião Brasileira de Assistência

MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MP – Medida Provisória

OMC – Organização Mundial do Comércio OIT – Organização Internacional do Trabalho ONU – Organização das Nações Unidas

PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

Paeg – Programa de Ação Econômica do Governo Castelo Branco PASEP – Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público PBF – Programa Bolsa Família

PCB – Partido Comunista Brasileiro

PCUS – Partido Comunista da União Soviética PDS – Partido Democrático Social

PEA – População Economicamente Ativa PEP – Projeto Ético-Político-Profissional

Petrobras – Companhia de Petróleo Brasileiro S.A. PIB – Produto Interno Bruto

PIS – Programa de Integração Social

PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro PNB – Produto Nacional Bruto

PND – Plano Nacional de Desenvolvimento PNDH – Plano Nacional de Direitos Humanos

Pnud – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PP – Partido Progressista

Protec – Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica PRR – Partido Republicano Rio-Grandense

PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira Psol – Partido do Socialismo e Liberdade

PSTU – Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados PT – Partido dos Trabalhadores

(16)

16 SDBC – Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência

SESC – Serviço Social do Comércio SESI – Serviço Social da Indústria

SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SPVEA - Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia Sudam – Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia

Sudene – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste SUS – Sistema Único de Saúde

SUAS – Sistema Único de Assistência Social UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura Unicamp – Universidade de Campinas

Unctad – Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

(17)

17

SUMÁRIO

NOTAS INTRODUTÓRIAS 20

Capítulo I

ESTADO E RAZÃO MODERNA 52

1.1 A problemática do Estado 61

1.2 Problematizações mais visitadas: exemplos de evolução do pensamento sobre

o Estado 64

1.2.1 De Maquiavel a Hegel 67

1.2.2 Marx e os marxistas 78

1.2.3 A tradição liberal 129

Capítulo II

DESENVOLVIMENTO E CAPITALISMO: ESBOÇO DE INTERPRETAÇÃO

HISTÓRICA 156

2.1 Estado e desenvolvimento 162

2.1.1 Desenvolvimentismo no Brasil 165

2.1.2 Momentos de síntese da acumulação capitalista: o desenvolvimentismo

brasileiro 170

2.1.2.1 Expressões inaugurais: protoformas 171

2.1.2.2 A crise do café 185

2.1.2.3 A Era Vargas 187

2.1.2.4 O Plano de Metas de Juscelino Kubistchek 194 2.1.2.5 O desenvolvimentismo autocrático burguês 199 2.1.3 Um interlúdio para a redemocratização: protoformas do ajuste neoliberal 202

2.1.3.1 O Plano Cruzado (1986) 203

2.1.3.2 O Plano Bresser (1987) 206

2.1.3.3 O Plano Verão (1989) 206

2.1.3.4 Os Planos Collor I e II (1990 – 1991) 206

(18)

18

Capítulo III

CONTINUIDADE E RUPTURA: NOVO-DESENVOLVIMENTISMO OU

NEOLIBERALISMO À BRASILEIRA? 212

3.1 Modo de produção, expropriação e fluxos do capital 224 3.2 Acumulação, fetichismo e a crítica marxista ao desenvolvimento 234

3.3 Dependência (Sistema de Reciprocidades) e a nova roupagem do neoliberalismo 244 3.3.1 Continuidade e ruptura: novo-desenvolvimentismo ou neoliberalismo

à brasileira? 255

3.3.1.1 Primeira fase do novo ciclo: fase contrarreformista 256 3.3.1.2 Segunda fase do novo ciclo: fase de consolidação do

neoliberalismo à brasileira 263

3.4 A Política Social do neoliberalismo à brasileira: fugindo às injunções lineares 285

Capítulo IV

SERVIÇO SOCIAL NAS TRAMAS DO NEOLIBERALISMO À BRASILEIRA:

PASSADO, PRESENTE E FUTUTO 304

4.1 Das origens às tentativas de ressignificação 306

4.2 Construções pós-intenção de ruptura 325

4.2.1 Análises críticas sobre a reestruturação produtiva e a recomposição

do pensamento liberal 343

4.2.2 Análises críticas sobre a contrarreforma 358

4.2.3 Análises críticas sobre o terceiro setor 360

4.2.4 Análises críticas sobre a assistência e a proteção social 363 4.3 Neodesenvolvimentismo (?) e o projeto profissional: ameaça ou possibilidade? 368

À GUISA DE CONCLUSÃO 400

(19)

19

O correr da vida embrulha tudo.

A vida é assim: esquenta e esfria,

aperta e daí afrouxa,

sossega e depois desinquieta.

O que ela quer da gente é coragem.

(20)

20

NOTAS INTRODUTÓRIAS

Para algumas pessoas, as tarefas aparentemente mais simples tornam-se as mais complexas quando têm de ser colocadas em prática. Os produtos acadêmicos, quase sempre, costumam sofrer desse mal. O batismo de uma tese — no caso a finalização com seu título — é um exercício tão descontraído quanto complexo. O produto que ora apresentamos para ser posto em análise pelo Programa de Estudos Pós-graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PEPGSS-PUC-SP), como síntese de um curso de doutorado, não se furtou a tal dualidade. Seu título não é autoexplicativo, porém, amplamente sugestivo.

Antes de refletir o conteúdo da tese, o título anuncia — ao menos no campo das expectativas de seu autor — a articulação entre categorias científicas, de um lado, relativamente desgastadas no campo das ciências sociais e humanas por serem recalcitrantes, pois fundantes da área chamada humanidades e, por outro, componentes categoriais insuficientemente tratados no âmbito do Serviço Social brasileiro e menos ainda como manifestações, para além de fenomênicas, em relação ininterrupta. O comum é encontrarmos abordagens que isolam esses elementos ou quando os articulam entre si não os agregam a outras categorias de maior amplitude, e, na maioria das vezes, são tratados de modo apenas descritivo ou apenas ensaístico. A escolha dessa aventura consequente deu-se com plena consciência de sua complexidade, suas dificuldades, seus limites, mas também com consciência de suas possibilidades e do flanco teórico, metodológico e político que se abre como contribuição aos debates interno e externo à categoria profissional dos assistentes sociais brasileiros. Ambos os motivos foram mais estimuladores que temerários.

Serviço Social, Estado, desenvolvimentismo, capitalismo e projeto profissional costumam frequentar a produção sociológica do tempo presente em cotejamento histórico com o que há de clássico e tradicional no tempo passado. Não se explicam por si. Devem mesmo associar-se internamente e a outras categorias, como modo de produção, sociedade, classes sociais, questão social, políticas públicas, etc. e fazer valer-se de recursos epistemológicos da História, da Economia Política e da Economia, da Ciência Política e da Filosofia Política, do Direito, da Filosofia, da Sociologia, da Antropologia, da Psicologia, e até das “Ciências Duras”, em alguma medida. Juntos, devem ser contextualizados conjunturalmente, em explícita evidência das mediações que se lhes articulam e atribuem nexos, permitindo transcender da sua materialização à abstração e de modo contrário.

(21)

21 aprendizes, mas se dá também porque a circunscrição metodológica de um objeto que se constitui de modo relacional é, na maioria das vezes, relativa. Isso porque se referencia em “fatos móveis”, mutáveis e dependentes de inúmeras variáveis.

Essa sentença ajuda a entender as dificuldades e idiossincrasias da definição de um objeto que se constrói em um processo histórico em curso, contudo não é suficiente para justificar sua apresentação “difusa”, como pode parecer ser. Por isso, manteve-se aqui a usual escolha de algumas indagações provocativas e indicativas de possíveis lacunas no vasto campo de conhecimento que utiliza de modo recorrente as cinco categorias em suas elaborações2.

Não é necessário precisar se foram os incômodos originados pela observação crítica e pela prática cotidiana que motivaram as perguntas norteadoras ou se foi a ausência preliminar de respostas. É um dilema similar ao do “ovo e a galinha”, que, embora exista concretamente, ao ser real, sua solução imediata mostra-se indiferente para o que se pretende, ainda que um raciocínio lógico possa se impor como recurso, pois o que nos incomodava primeiro era uma problemática que insistia em nos provocar: a problemática teórico-prática do Estado. O que isso quer dizer? Significa que há correntes de ideias em torno do Estado que remetem a formulações teóricas sobre seus significados e significantes constantemente contrastadas.

Do mesmo modo, esses contrastes criam vida e tomam corpo quando se referenciam na realidade mesma, com seus “homens concretos e suas vidas concretas”. Ou, se preferirmos os termos de um intelectual de maior envergadura, considerar-se-á que a problemática é “o conjunto de perguntas, ideias e suposições que delimitam o terreno no qual se produz determinada teoria, terreno que nem sempre é visível na superfície do discurso teórico, e que, no entanto, determina as condições e as possibilidades de enunciados desse discurso”, ou numa outra opção: “a problemática é a unidade profunda de um pensamento teórico ou ideológico”3. E isso nos mostra que há uma problemática ancestral em torno do Estado que foi precursora de conhecimentos racionais modernos como os da Ciência Política ou da Filosofia Política. Isto sim antecede, a nosso ver, o dilema da galinha com seus ovos.

A temática não esgotada do Estado, por se atrelar a relações sociais concretas, atravessa como lâmina a vida cotidiana desde o trabalhador humildemente iletrado até os PhDs das mais complexas ciências, desafiando-os como a esfinge que espera para devorar os que não decifram seus enigmas, pois, como referiu Marx, “o modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e intelectual”4 conformando a consciência dos homens e o modo como esses tomam consciência da vida.

2 São elas: Serviço Social, Estado, Desenvolvimentismo, Capitalismo e Projeto Profissional.

3 ALTHUSSER (1965). In: BOITO JR, Armando. Estado, política e classes sociais: ensaios teóricos e

históricos. São Paulo: Unesp, 2007.

4 MARX. Karl. Contribuição à crítica da economia política. Tradução de Florestan Fernandes. São

(22)

22 Ao chegar ao nosso terreno — o campo do Serviço Social — essa problemática inacabada (por ter como base um objeto inacabado) vai ganhando aderência de diferentes matizes. Atrela-se ao Serviço Social por ser inevitável como um elemento, que justifica sua existência como profissão na divisão social e técnica do trabalho, ao mesmo tempo em que lhe condiciona a legitimidade. Disso decorre o primeiro enigma da esfinge: Como nos apropriamos de tal problemática? Como o Serviço Social se apropriou da problemática teórico-prática do Estado? E, numa imanente reciprocidade, cabe a dúvida invertida: Como o Estado, em suas metamorfoses ininterruptas, apropria-se e relaciona-se com o Serviço Social?

As respostas não estão prontas. Elas vão sendo descobertas nos caminhos que conduzem a investigação. Ou, como nos lembra Marx: “Não há entrada já aberta para a ciência”. E delas — das respostas — vamos selecionando o que de fato nos interessa inquirir com mais vigor no momento, que nada mais é do que o próprio objeto de estudo: as particularidades dos projetos desenvolvimentistas contidos na história da evolução do capitalismo brasileiro e suas implicações para o Serviço Social e seus projetos profissionais. Esta sim, de fato, é uma forma mais precisa de interpelar o modo como o processo relacional entre o Estado e a profissão se manifestam no concreto da vida e no subjetivo das relações.

A inquietação sobre o tratamento dispensado pelo Serviço Social à problemática teórico-prática do Estado impôs-se com tal força que não pôde ser eliminada como pano de fundo. Ambos — Serviço Social e Estado — são suficientemente relacionais e, por isso mesmo, apresentam quantidade relativa de estudos, pesquisas, ensaios, em torno de si, que pudemos utilizar como ponto de partida. “A galvanização necessária para constituição do objeto se fez possível quando o referenciamos a formação social particular que o inscreve em sua dinâmica: a formação social capitalista e, sua base constitutiva: o desenvolvimento capitalista de feições monopólicas”5. Nele, encontramos de modo cíclico, em momentos de síntese, um fenômeno particular historicamente determinado: o chamado desenvolvimentismo.

Esse último é tomado como a ação peculiar do desenvolvimento imanente das sociedades de tipo capitalista monopolista, que prescreve um conjunto de medidas voltadas para a manutenção e aperfeiçoamento de si mesmo, provocando mudanças nas relações sociais, na

5 A constituição do Brasil como sociedade capitalista, embora tenha seus traços particulares e singulares,

não abdicou das características universais desse modo de produção, ou, como afirma Trotsky: “Não é

verdade que a economia mundial represente apenas a simples soma de frações nacionais uniformes. Não é

verdade que os traços específicos não passem de um ‘complemento dos traços gerais’, uma espécie de

verruga no rosto. Na realidade, as particularidades nacionais formam a originalidade dos traços fundamentais da evolução mundial (...) não se pode reorganizar nem mesmo compreender o capitalismo nacional sem encará-lo como parte da economia mundial. As particularidades econômicas dos diferentes países não têm uma importância secundária. Basta comparar a Inglaterra e a Índia, os Estados Unidos e o Brasil. Os traços específicos da economia nacional, por mais importantes que sejam, constituem, em

escala crescente, os elementos de uma unidade mais alta que se chama a economia mundial”. In:

(23)

23 luta entre e intraclasses. É no escopo desse produto histórico que as articulações mais evidentes entre o Serviço Social e o Estado se mostram, mesmo na realidade brasileira.

Não é por acaso que a origem do Serviço Social como profissão está atrelada ao conjunto de medidas desenvolvimentistas empregadas pelo Estado burguês quando leva a cabo seus intentos de modernização nos idos dos anos 1930. E também não é por acaso que tanto a requisição formal pelo Estado de “trabalhadores sociais” quanto o debate em torno desse processo se repõem na contemporaneidade.

Encontramos, nesses tempos, um mundo igual, mas diferente. Igual porque as características estruturais do processo de acumulação capitalista, que não podem prescindir do desenvolvimento, insistem em permanecer: a expropriação do trabalho, a expansão dos níveis de acumulação, etc. Diferente porque as forças produtivas se encontram num estágio mais elevado, causando inflexões diretas na conjuntura e no desenho ideopolítico das classes e dos Estados, afetando sua própria maneira de existir6.

No Brasil, se vê mais do mesmo quando identificamos que a necessidade de concertação entre Estado e mercado, Estado e classes permanece desde o Império, passando pela Primeira República, pelo Estado Novo, pela ditadura civil-militar até a redemocratização contemporânea, porém se renova com o impulso dos avanços técnicos e tecnológicos, de uma nova morfologia no mundo do trabalho, nas interpenetrações do capital desterritorializado nos Estados nacionais, nas roupagens que assumem as políticas públicas, e, como não poderia deixar de ser, pelas características e pelos efeitos das crises sistêmico-estruturais do capitalismo monopolista de cariz financista7.

6Ou, como referiu Iamamoto: “O ‘moderno’ se constrói por meio do ‘arcaico’, recriando nossa herança

histórica patrimonialista ao atualizar marcas persistentes e, ao mesmo tempo, transformando-as no contexto de mundialização do capital sob a hegemonia financeira. As marcas históricas persistentes ao serem atualizadas se repõem modificadas ante as inéditas condições históricas presentes, ao mesmo tempo que imprimem uma dinâmica própria aos processos contemporâneos. O novo surge pela mediação do passado, transformado e recriado em novas formas nos processos sociais do presente. A atual inserção

do país na divisão internacional do trabalho, como um país de economia dita ‘emergente’ em um mercado

mundializado, carrega a história de sua formação social, imprimindo um caráter peculiar à organização da produção, às relações entre o Estado e a sociedade, atingindo a formação do universo político-cultural das classes, grupos e indivíduos sociais. Tais desigualdades revelam o descompasso entre temporalidades históricas distintas, mas coetaneamente articuladas, atribuindo uma marca histórica particular à formação social do país. Afetam a economia, a política e a cultura, redimensionando simultaneamente nossa herança histórica e o presente. Imprimem um ritmo particular ao processo de mudanças em que tanto o novo quanto o velho se alteram em direções contrapostas: a modernidade das forças produtivas do

trabalho social convive com padrões retrógrados nas relações de trabalho, radicalizando a ‘questão social’ ”. IAMAMOTO, Marilda Villela. Trabalho e indivíduo social: um estudo sobre a condição operária na agroindústria canavieira paulista.São Paulo: Cortez, 2001. p. 101-102.

7 Por crise estrutural ou sistêmica entendemos, em conformidade com Mészáros, que se refere a uma

condição que ‘afeta a totalidade de um complexo social em todas as relações com suas partes constituintes ou subcomplexos, como também a outros complexos aos quais é articulada’ (...) Põe em questão a própria existência do complexo global envolvido, postulando sua transcendência e sua substituição por algum complexo alternativo (...). Uma crise estrutural não está relacionada aos limites

(24)

24 É esse quadro que, ao responder a novas manifestações do capital, repõe a necessidade de reconfiguradas medidas de desenvolvimento que incluem também o debate sobre a relação das profissões com a sociedade em que se inserem, pois, assumindo uma nova forma de objetivação, o capital impõe dali em diante a universalização do trabalho.

O chamado novo-desenvolvimentismo, no Brasil, surge em um cenário controverso que aponta, ao mesmo tempo, de um lado, o desgaste do ideário neoliberal e do insucesso das medidas de contrarreforma dos anos 19908, e, de outro, a vitória desse mesmo ideário atestada pelas características de um novo ciclo de desenvolvimento capitalista, no qual capital e trabalho reordenam suas relações nos limites da revolução passiva, segundo os termos gramscianos9. É uma alternativa que se coloca muito mais no plano ideopolítico e no imaginário coletivo do que no campo das medidas econômicas de reversão reais dos postulados neoliberais.

Se, nos idos dos anos 1930, o projeto desenvolvimentista burguês encontrava coerência e atos de reciprocidade com o projeto profissional dos assistentes sociais, na contemporaneidade o novo-desenvolvimentismo promove um discurso de renovação das políticas de tratamento das refrações da “questão social”, o que o impele a requisitar assistentes sociais para operá-las, como sempre tem sido, mas se depara com um projeto profissional criticamente antagônico às suas bases estruturais de legitimação.

Há então uma ruptura do Serviço Social com projetos burgueses de desenvolvimento? Tal resposta não pode ser dada ao sabor do maniqueísmo corrente: “sim” ou “não”. Há, de um lado, uma intenção de ruptura desde o Movimento de Reconceituação, como demonstra José Paulo Netto em sua tese sobre a Ditadura e o Serviço Social que se concretiza pela aquisição e “utilização” de um cabedal teórico-metodológico de bases marxianas e marxistas refletidas no Código de Ética Profissional, na lei que regulamenta a profissão, nas Diretrizes Curriculares da formação profissional, na produção acadêmico-científica e nos posicionamentos políticos individuais ou coletivos do corpo profissional, mas há, ao mesmo tempo, e, contraditoriamente, uma aderência relativa ao que há de civilizatório no exercício prático dos postulados da

8

Não há entre os analistas da economia política brasileira um consenso que ateste se a implantação do neoliberalismo no Brasil foi exitosa ou fracassada. O que podemos encontrar com recorrência são afirmações que se referem ao seu êxito no que tange às intenções de desmonte do Estado, retração de direitos e ampliação da dependência externa. Não obstante, no que se refere a suas promessas de socialização de bem-estar, é evidente o seu fracasso, pois as medidas que arrolamos foram motivações

suficientemente competentes para ampliar o fosso social das desigualdades. Se essa dialética “sucesso x fracasso” pode, à primeira vista, parecer incongruente, uma análise mais atenta nos mostra que se trata de

um binômio que converge para o mesmo fim, qual seja a implantação de reformas regressivas na estrutura dos Estados nacionais de capitalismo pouco avançado, denominado argutamente por Behring (2003) de

“contrarreforma”.

9Segundo Coutinho, “uma revolução passiva implica sempre a presença de dois momentos: o da

‘restauração’ (trata-se sempre de uma reação conservadora à possibilidade de uma transformação efetiva e

(25)

25 democracia burguesa, a exemplo da defesa dos direitos humanos, dos preceitos em defesa da diversidade e do pluralismo das ideias, isto sem falar nas diretrizes relativas ao modus operandi da profissão como a qualidade dos serviços prestados, o incentivo ao protagonismo e à participação popular na agenda pública, o sigilo profissional, o direito dos usuários de serviços sociais à informação, etc.

O projeto burguês, portanto, para se realizar, não precisa abrir mão desse segundo conjunto de “características” da profissão. Ao contrário, pode conviver com elas e tomá-las ainda como parte de suas estratégias de coerção ideopolíticas, fomentando a ilusão que nos leva a tentar humanizar o inumano10. Do mesmo modo, podemos tomá-las como parte constituinte

das táticas necessárias à construção de um projeto societário alternativo presente no conteúdo interno dos movimentos sociais antissistêmicos, cuja adesão dos estratos profissionais críticos é inequívoca.

Fica confirmada, deste modo, para nós, a necessidade de prosseguirmos problematizando o Estado e suas relações a partir da escolha de elementos relacionais que expressam uma totalidade concreta. As respostas sempre provisórias para as indagações originárias que já citamos começam a fazer sentido quando se defrontam de modo arterial com as singularidades das categorias basilares da investigação.

Por isso quando perguntamos: Qual o tratamento dispensado pelo Serviço Social brasileiro à problemática teórico-prática do Estado, somos alçados inevitavelmente a uma formulação mais específica, mais próxima da realidade objetiva que concretiza a profissão: De que modo o Serviço Social brasileiro tem se relacionado com as transformações recentes, na estrutura jurídico-política de nosso Estado, consubstanciadas num ciclo peculiar de desenvolvimento capitalista?

Conferindo ainda mais precisão ao objeto, colocando-o em outro ângulo, a indagação nos induz a prosseguir admitindo algumas premissas fundamentais. A primeira delas é que tratamos o Serviço Social como uma especialização do trabalho coletivo, inserido na divisão social e técnica do trabalho. A segunda, mas não menos importante, é que suas demandas legitimadoras estão relacionadas às diferentes formas de enfrentamento das múltiplas variáveis da “questão social”. Também se destaca o fato de que é na estrutura jurídico-política do Estado que repousa a rede de inter-relações entre a base material de uma determinada sociedade e suas várias instituições e onde suas formas de consciência são localizadas, como não nos deixa esquecer Mészáros11.

10 Já que tais características, quando referenciadas pelo modo capitalista de reprodução das relações

sociais absorvem, de modo ineliminavelmente aderente, as feições estruturantes desse modo, o que implica a primazia do capital sobre o trabalho redundando num tipo de produção catastrófica, destrutiva e desumana conforme demonstra Mészáros (2002).

11 MÉSZÁROS, István. Filosofia, ideologia e ciência social: ensaios de negação e afirmação. São Paulo:

(26)

26 Com esses pressupostos, fica mais fácil realizar a opção metodológica de circunscrever a investigação aos resultados do produto histórico produzidos no campo relacional entre Serviço Social e Estado, notadamente pelo modo como ambos participam dos projetos peculiares do desenvolvimento capitalista. Por isso, perseguir parte dessas respostas implica, ainda, dialogar com os elementos constitutivos gerais e particulares das transformações no processo de reprodução social dos sujeitos individuais (os profissionais) e coletivos (as entidades da categoria e de fora dela), ou, em outros termos, agregar outros pressupostos necessários à análise da relação Serviço Social — Estado — Desenvolvimento, quais sejam: a) buscar o sentido e a inteligibilidade da profissão na história da sociedade da qual ela é parte e expressão; b) guiar-se pelo primado da produção e reprodução social, pois é nela e a partir dela que os indivíduos se tornam sujeitos históricos, e; c) conferir centralidade a história, pois é nela que se encontra a chave heurística da problemática anunciada.

Esses três pressupostos já foram arrolados por Iamamoto (2003, p. 151)12 como fundamentais às análises da relação Serviço Social — Estado — Desenvolvimento capitalista, o que nos leva a indagar o que há de inédito, então, na reflexão proposta, uma vez que a referência em que mais nos apoiamos — a produção de Iamamoto — já nos adiantou tais chaves heurísticas?

Ora, os três pressupostos ancoram-se na realidade concreta e objetiva. Sendo assim, o caráter metamórfico das relações e processos sociais: conjunturas e estrutura, atendem às requisições do seu tempo histórico. Deste modo, nunca haverá um conhecimento acabado sobre tais relações, necessitando, antes, ser constantemente revisitado e referenciado a um tempo histórico. Ademais, buscamos demonstrar, no desenrolar de toda nossa argumentação, que o período recente do Estado brasileiro é particularmente rico em seu processo de rearranjo interno e externo, devido ao modo como se reconfiguraram as correlações de forças nele, movimentando de modo singular as relações entre as classes e as frações de classe.

Da contrarreforma do Estado praticada pelo Presidente da República Fernando Henrique Cardoso até o novo-desenvolvimentismo do Presidente Lula da Silva e da presidenta Dilma Roussef, transformações significativas aconteceram, na estrutura jurídico-política do Estado, que não foram suficientemente tematizadas no espectro do Serviço Social brasileiro, nem o serão ainda, simplesmente por estarem em curso. O que nos dá a medida exata dos limites da tese sem prejuízo da sua relevância como parte dos estudos contemporâneos sobre o tema.

Do ponto de vista exterior ao Brasil, também se registram mudanças significativas, no cenário mundial, avalizadoras da escolha temporal da proposta. Essas mudanças vão desde a implementação dos imperativos da mundialização do capital, sentida, sobretudo, nos anos 1990, até os marcos daquela que tem sido apontada como a mais grave crise estrutural desde 1929: a

12 IAMAMOTO, Marilda Villela. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação

(27)

27 crise sistêmica dos anos 1970, com uma erupção incontestável, em 2008, e que ainda penaliza milhares de pessoas em todo o mundo, incluindo países de capitalismo avançado. Quais elementos desse processo global têm interferência direta ou indireta nos trâmites do Estado brasileiro, no período em questão? Ou seja, impõe-se também para nós o imperativo de articular, analiticamente, a dialética das mudanças dentro e fora do País, considerando a perspectiva de uma totalidade social cujos limites extrapolam as condições imediatas de reprodução do gênero humano.

Do ponto de vista interno à profissão, consideramos que as diretrizes do projeto profissional crítico do Serviço Social brasileiro, expressas no Código de Ética da Profissão, na sua Lei de Regulamentação e nas Diretrizes Curriculares da formação profissional, necessitam ainda de elementos que lhes agreguem valor teórico-prático para sua efetiva disseminação hegemônica na formação e no exercício profissional, visto que a reposição do debate sobre o desenvolvimento capitalista e seus ciclos particulares recentes apresentam tais virtudes em potencial.

Não tratamos aqui de uma consideração retórica ou de desejo político. São as transformações recorrentes na conjuntura e na estrutura que requisitam a construção dialética, portanto, histórica, de táticas e estratégias que reconfigurem nossas dinâmicas internas, conforme as requisições de um mesmo real-histórico. Os elementos de análise do projeto profissional crítico sugeridos por uma ontologia do ser social possibilitam o entendimento dos aspectos gerais e particulares das sociedades e Estados que operam na ordem do capital, desde que se mantenham no campo da “ortodoxia marxista”13.

Todavia, isso não implica dizer que as estratégias e táticas de enfrentamento ao padrão de sociabilidade imposta, desse modo, são imutáveis ou passíveis de um único tratamento ideopolítico e teórico-prático.

Ao contrário, nem sempre as mudanças provocadas pelo próprio capital visando à sua (re)acomodação diante das transformações na sociedade são favoráveis ao projeto profissional crítico ou mesmo de modo inverso. O que nos exige vigilância e reconstrução permanente de tais estratégias e táticas, avançando/agregando conteúdos e inovando em formas de ação.

Esse é o escopo motivador do estudo que só adquire sentido no nível lógico se associado ao que existe como produto histórico no campo das análises de matriz marxiana e marxistas. Portanto, é um esforço que, caso se consagre acabado, será apenas parcialmente bem-sucedido.

13 Segundo Lukács, a ortodoxia marxista diz respeito à fidelidade ao método de Marx. Nesse sentido,

(28)

28

Sobre o método

As aproximações aqui contidas relativas ao método proposto pelo estudo da crítica da economia política, nos leva a pensar as particularidades dos projetos desenvolvimentistas que caracterizam a história da evolução do capitalismo brasileiro e suas implicações para o Serviço Social e seus projetos profissionais a partir da nucleação das categorias de totalidade, contradição e mediação (NETTO, 2011, p. 58)14.

A totalidade em questão apresenta-se como uma complexidade composta em processo histórico plurissecular plasmada em complexidades partícipes de seu processo de constituição. Isto é, uma totalidade concreta, que nada mais é do que a própria sociedade burguesa.

Essa sociedade específica, quando tomada nas suas formas dinâmicas de realização, convoca como fulcro sustentador as relações materiais de produção, determinadas, nesse caso, pelo capital e, a depender das condições históricas que encontram, imprimem sentido à entificação do capitalismo e seu núcleo precípuo de dominação: o Estado burguês.

Isso significa dizer que o recurso à totalidade se impõe como modo de alcançar a realidade como síntese de múltiplas determinações, por ser concreta, unidade do diverso (MARX, 2011)15, característica fundante e necessária ao estudo de formações sociais. É o mesmo que considerar o resgate da realidade ontológica como realidade determinada pelas condições materiais de existência condicionadas à processualidade da história. Ou, como afirmou Lukács (2007, p. 59 ):

[A totalidade] é uma unidade concreta de forças opostas em uma luta recíproca (...) significa que, quer em face de um nível mais alto, quer em face de um nível mais baixo, ela resulta de totalidades subordinadas e, por seu turno, é função de uma totalidade e de uma ordem superiores (...) Enfim, cada totalidade é relativa e mutável, mesmo historicamente: ela pode esgotar-se e destruir-se — seu caráter de totalidade subsiste apenas no marco de circunstâncias históricas determinadas e concretas.16

Assim, a formação social brasileira não se processa alheia à universalidade do capitalismo, e nem mesmo se absteve da criação de traços particulares e singulares que a distinguiram de outras formações congêneres. Em outros termos: Se as regras gerais do sistema

14 Como apontado por NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx. São Paulo:

Expressão Popular, 2001. p. 58.

15Nesse sentido, é suficientemente conhecido o célebre excerto de Marx: “O concreto é concreto porque é

síntese de múltiplas determinações, isto é, unidade do diverso. Por isso o concreto aparece no pensamento como processo de síntese, como resultado, não como ponto de partida, ainda que seja o ponto de partida

efetivo e, portanto, o ponto de partida também da intuição e da representação”. (In: MARX, Karl.

Grundisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da economia política. São Paulo: Boitempo Editorial, 2011. p. 54).

16 LUKÀCS, Georg. As tarefas da filosofia marxista na nova democracia. In O Jovem Marx E Outros

(29)

29 de produção generalizada de mercadorias permaneceram presentes na constituição da sociedade capitalista brasileira, do mesmo modo penetraram as condições históricas objetivas dadas preliminarmente, plasmando, em momentos de síntese, não apenas a sua universalidade como também a formação e conformação do Estado burguês brasileiro que, desde a sua gênese até a atualidade, funciona como agente das “revoluções passivas” que marcam sua história17.

Essas revoluções pelo alto, embora acomodem interesses de classes, não suprimem a luta a elas inerentes; deste modo, não podem ser entendidas como sinônimo de contrarrevolução e nem mesmo de contrarreforma, mas sim de um “reformismo pelo alto” (COUTINHO, 2008, p. 93)18. A persistência desse traço no desenvolvimento do capitalismo brasileiro nos leva, então, a pensar o método sem a interferência do determinismo economicista típico da II Internacional ou do stalinismo19. Isso significa que:

17 As regras gerais do sistema generalizado de produção de mercadorias estão mais bem detalhadas no

Livro I, volume II de O Capital no item: Formas de Existência da Superpopulação Relativa. A Lei Geral da Acumulação Capitalista,onde Marx assim a resume: “Quanto maiores a riqueza social, o capital em função, a dimensão e energia de seu crescimento e consequentemente a magnitude absoluta do proletariado e da força produtiva de seu trabalho, tanto maior o exército industrial de reserva. A força de trabalho disponível é ampliada pelas mesmas causas que aumentam a força expansiva do capital. A magnitude relativa do exército industrial de reserva cresce portanto com as potências da riqueza, mas, quanto maior esse exército de reserva em relação ao exército ativo, tanto maior a massa da superpopulação consolidada, cuja miséria está na razão inversa do suplício de seu trabalho. E, ainda, quanto maiores essa camada de lázaros da classe trabalhadora e o exército industrial de reserva, tanto maior, usando-se a terminologia oficial, o pauperismo. Esta é a lei geral, absoluta, da acumulação capitalista. Como todas as outras leis, é modificada em seu funcionamento por muitas circunstâncias que

não nos cabe analisar aqui”. (In: MARX, Karl. O capital. Livro I, v. II, Capítulo XXIII: A Lei Geral da Acumulação Capitalista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. p. 747). Do mesmo modo, a história

do desenvolvimento capitalista brasileiro, ao articular particular e geral, não é tratada como “evolução de

um movimento anterior que se desenvolve segundo as leis da natureza”, mas sim no processo de

desenvolvimento real que a engendra. Ver MARX, Karl. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. In: Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleção Os Pensadores).

18 COUTINHO, Carlos Nelson. Contra a corrente: ensaios sobre democracia e socialismo. São Paulo:

Cortez, 2008.

19Mészáros afirma: “O ‘dogmatismo stalinista’ rejeitado [por Lukács] foi definido mais uma vez,

primeiro em termos metodológicos: como a ‘ausência de mediação’, a reificadora ‘confusão da tendência com o fato realizado’, ‘a subordinação mecânica da parte ao todo’, a afirmação de um ‘relacionamento imediato entre os princípios fundamentais da teoria e os problemas da época’, a ‘restrição dogmática do

materialismo dialético’ e, mais importante, como crença errônea de que o ‘marxismo era uma reunião de dogmas’. Lukács também declarou categoricamente que o único modo de exercer influência ideológica era a ‘crítica imanente’, que coloca as questões metodológicas em primeiro plano”. (In: MÉSZÁROS,

István. Para além do capital. São Paulo: Boitempo Editorial, 2005 e MÉSZÁROS, István. O poder da ideologia. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004). Quanto ao determinismo economicista, fatorialista e evolucionista, da II Internacional, sobram as críticas também feitas pelo próprio Lukács, quando afirma que os motivos econômicos não são o que distingue o marxismo da ciência burguesa, mas sim a perspectiva da totalidade (Ver História e Consciência de Classe) e também Lênin quando se refere à

complexidade que envolve o “desenvolvimento desigual” típico do capitalismo que se exacerba em sua

(30)

30

(...) a totalidade concreta e articulada que é a sociedade burguesa é uma totalidade dinâmica— seu movimento resulta do caráter contraditório de todas as totalidades que compõem a totalidade inclusiva e macroscópica. Sem as contradições, as totalidades seriam totalidades inertes, mortas — e o que a análise registra é precisamente a sua contínua transformação. A natureza dessas contradições, seus ritmos, as condições de seus limites, controles e soluções dependem da estrutura de cada totalidade — e, novamente, não há fórmulas/formas apriorísticas para determina-las: também cabe à pesquisa descobri-las. (NETTO, 2011, p. 58)20.

Nesse movimento é que o método nos invoca a apreender as contradições que, originadas na base material da infraestrutura econômica, portanto, como fator ontológico primário da socialidade (MARX, 2008)21 partem para novos graus de complexidade, sobretudo pela generalização da política diante de um contexto social saturado de novas determinações, fazendo com que as lutas de classes — expressando relações de poder e de interesses se espraiem — por meio da ideologia, da cultura, da política, da religião, etc., — por toda a superestrutura (GRAMSCI apud COUTINHO, 2006)22, onde o jogo de interrelações entre a base material de determinada sociedade e suas várias instituições e formas de consciência podem, assim, ser localizadas (MÉSZÁROS)23. Isso confere centralidade ao terceiro elemento do núcleo duro do método, que são as mediações. Elas impedem o imediatismo na consideração da totalidade. Deste modo,

(...) uma questão crucial reside em descobrir as relações entre os processos ocorrentes nas totalidades constitutivas tomadas na sua diversidade e entre elas e a totalidade inclusiva que é a sociedade burguesa. Tais relações nunca são diretas; elas são

mediadas não apenas pelos distintos níveis de complexidade, mas, sobretudo, pela estrutura peculiar de cada totalidade. Sem os sistemas de mediações (internas e externas) que articulam tais totalidades, a totalidade concreta que é a sociedade burguesa seria uma totalidade indiferenciada — e a indiferenciação cancelaria o

caráter do concreto, já determinado como “unidade do diverso”. (NETTO, 2011, p. 58)24.

Portanto, um conjunto de mediações se coloca ao corolário de busca entre as determinações que fundam as disputas de interesses na sociedade com suas bases materiais e os

20 Como apontado por NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx. São Paulo:

Expressão Popular, 2001. p. 58.

21 MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. Prefácio. Tradução de Florestan

Fernandes. São Paulo: Expressão Popular, 2008.

22 COUTINHO, Carlos Nelson. O conceito de sociedade civil em Gramsci e a luta ideológica no Brasil de

hoje.In: ______. Intervenções: o marxismo na batalha de ideias. São Paulo: Cortez, 2006.

23 MÉSZÁROS, István. Filosofia, ideologia e ciência social: ensaios de negação e afirmação. São Paulo:

Ensaio, 1993.

24 Como apontado por NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx. São Paulo:

(31)

31 sujeitos coletivos que dão vida e forma às categorias que queremos colocar em relação. Assim, Estado, desenvolvimento capitalista e desenvolvimentismo compõem uma unidade complexa e contraditória de um mesmo movimento, voltado, sobretudo, às dinâmicas de acumulação que analisamos detalhadamente e, em seguida, suas articulações endógenas e exógenas em interação com um produto histórico particular da divisão social do trabalho que é o Serviço Social e seus projetos profissionais. O elo que garante tais articulações não é senão o Estado, que se materializa na realização de programas de administração da vida social sumarizados nos governos que resultam das disputas societárias mais amplas.

Sendo, o governo, a forma fundamental que a classe dominante encontra para legitimar-se enquanto claslegitimar-se e enquanto dominante pela tomada hegemônica do Estado, os programas e projetos governamentais assumem, assim, a forma mais evidente, porém não a única, de expressar os interesses desse bloco no poder. Esses programas e projetos assumem a prevalência da política econômica burguesa na medida em que esta se estrutura no processo de fetichização de toda a produção, e, por consequência de toda a vida social, impedindo a crítica de sua economia política.

Esta última, por sua vez “se inicia pela mercadoria, no momento em que se trocam alguns produtos por outros” (ENGELS, 2011, p. 283)25 o que, de per si, implica uma relação e a conformação subsequente de relações recíprocas que fazem toda a produção ser socialmente determinada (MARX, 1978, p. 103)26. A política econômica burguesa, por seu turno, funda-se no mito que confere autonomia tanto à mercadoria quanto à individualização das relações sociais de produção originárias de um processo evolutivo natural e inequívoco, com uma história fatalista e unilateral. (id., ibid.)27.

Com isso, torna-se imperativo colocar em exame as medidas econômicas propostas pelos governos burgueses como a melhor forma de desvendar, em suas contradições, os seus nexos internos e o modo como se articulam aos “complexos do complexo” social macroscópico na esteira da luta entre e intraclasses, do qual o Serviço Social é parte e expressão.

25 ENGELS, Friedrich. Comentários sobre a contribuição à crítica da economia política de Karl Marx. In:

MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Expressão Popular, 2011.

26 MARX, Karl. Introdução à crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleção

Os Pensadores).

27 Na mesma Introdução à Crítica da Economia Política, (1978, p. 103-104), Marx ironiza esse processo

de fetichização e a-historicidade, em David Ricardo e Adam Smith e seus seguidores, quando afirma: “O

caçador e o pescador, individuais e isolados, de que partem Smith e Ricardo, pertencem às pobres ficções das robinsonadas do século XVIII (...) Os profetas do século XVIII, sobre cujos ombros se apoiam inteiramente Smith e Ricardo, imaginam este indivíduo do século XVIII — produto, por um lado, da decomposição das formas feudais de sociedade e, por outro, das novas forças de produção que se desenvolvem a partir do século XVI — como um ideal, que teria existido no passado. Veem-no não como um resultado histórico, mas como ponto de partida da História, porque o consideravam como um indivíduo conforme à natureza — dentro da representação que tinham de natureza humana —, que não se originou historicamente, mas foi posto como tal pela natureza. Esta ilusão tem sido partilhada por todas as

(32)

32

Com este método, partimos sempre da relação primeira e mais simples que existe historicamente, de fato; portanto, aqui, da primeira relação econômica com a qual nos encontramos. Depois procedemos à sua análise. Pelo próprio fato de se tratar de uma relação, está implícito que há dois lados que se relacionam entre si. Cada um desses dois lados é estudado separadamente, a partir do que se depreende de sua relação recíproca e sua interação. Encontramo-nos com contradições que exigem solução. Porém, como aqui não seguimos um processo de reflexão abstrato, que se desenvolve exclusivamente em nossas cabeças, mas uma sucessão real de fatos, ocorridos real e efetivamente em algum tempo ou que continuam ocorrendo, essas contradições também estarão determinadas na prática, onde, provavelmente, também será encontrada sua solução. E, se estudarmos o caráter dessa solução, veremos que se

consegue criar uma nova relação, cujos dois lados opostos teremos agora que desenvolver, e assim sucessivamente. (ENGELS, 2008, p. 282-283)28.

Desse modo, recorremos ao modo lógico de análise, para buscar, no processo de desenvolvimento do capitalismo brasileiro, “as soluções” apresentadas pelo bloco no poder, conforme apontara Engels, para dirimir suas contradições imanentes29.

Por serem muitas e variadas, pelo contexto histórico, escolhemos um tipo específico de alternativa (solução) tratada aqui como momento de síntese que se origina da negação (parcial) das lógicas operantes do sistema capitalista (pelas suas crises imanentes e seus limites) em confronto com sua afirmação mesma (autorreprodução e expropriação do trabalho), e que se volta para a ampliação ininterrupta dos níveis de acumulação.

Assim, os programas e projetos econômicos dos governos burgueses são pensados como produtos históricos tipificados conjunturalmente, porém, plasmados na dinâmica própria do desenvolvimento capitalista, sobretudo, na fase dos monopólios. Com isso, procuramos não conferir autonomia ao modo analítico lógico perante a história, afinal:

[O método lógico] não é, na realidade, senão o método histórico despojado unicamente de sua forma histórica e das casualidades perturbadoras. Lá, onde começa essa história, deve começar também o processo de reflexão; e o desenvolvimento posterior desse processo não será mais que a imagem refletida, de forma abstrata e teoricamente consequente, da trajetória; uma imagem refletida corrigida, porém corrigida de acordo com as leis da própria trajetória histórica; e, assim, cada fator pode ser estudado no ponto de desenvolvimento de sua plena maturidade, em sua

forma clássica. (ENGELS, 2008, p. 282-283)30.

28 ENGELS, Friedrich. Comentários sobre a contribuição à crítica da economia política de Karl Marx. (In:

MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Expressão Popular, 2011).

29Nesse sentido, podem ser situados tanto os processos históricos de “modernização conservadora”

registrados ao longo da história dos países capitalistas, incluindo o Brasil, quanto os “reformismos às avessas”: os contrarreformismos. O reformismo real, criação das esquerdas, também é alternativa que

depende das injunções históricas, como, por exemplo, no advento da social-democracia.

30 ENGELS, Friedrich. Comentários sobre a contribuição à crítica da economia política de Karl Marx. (In

Referências

Documentos relacionados

Através de um estudo de corte transversal realizado com mulheres mastectomizadas unilateralmente dois questionários específicos foram utilizados: functional

b) Nos lotes classificados como sucatas aproveitáveis ou sucatas aproveitáveis com motor inservível (motor suprimido): empresas do ramo do comércio de peças

O objetivo desta pesquisa foi analisar a compreensão dos adolescentes de uma escola pública sobre prevenção e transmissão das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST)

OBSTETRICA DR NAZY FUAD IBRAHIM BELO HORIZONTE ✓ INSTITUTO HERMES PARDINI BELO HORIZONTE ✓. ORTOCLINIC BELO

O resumo da análise de variância para a altura de plantas (AP), comprimento de caule (CC), diâmetro de caule (DC), volume de raiz (VR), comprimento de raiz (CR) e número de

Com efeito, aos concelhos de Boticas, Murça, Sabrosa, Mesão Frio, Resende, Paredes de Coura, Armamar, Tabuaço, Carrazeda de Ansiães, Meda, Sever do Vouga, Fornos de Algodres, Penela,

Para além de ser uma das principais competências que um indivíduo deve adquirir e desenvolver ao longo do seu percurso escolar, constituindo-se mesmo como um dos indicadores

Tanto A Compadecida, de George Jonas como Os trapalhões no Auto da Compadecida, de Roberto Farias, absorvem por completo o caráter farsesco do texto de Suassuna e encerram com