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Rev. adm. empres. vol.45 número1

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Academic year: 2018

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9 4 •©RAE • VO L. 4 5 • Nº 1

Poucos temas vêm sendo tão debati-dos pela literatura organizacional con-temporânea como as noções de com-petência e de aprendizagem organiza-cional. A esse respeito assistimos nos últimos anos à produção de uma ex-tensa bibliografia contendo análises teóricas e prescrições práticas oriun-das de diferentes vertentes filosóficas, científicas e epistemológicas. Se de um lado tal dinamismo demonstra um campo teórico fértil, instigante e com-plexo, de outro resulta em um emara-nhado conceitual difícil de ser decifra-do e, por vezes, pouco útil para o avan-ço da teoria e da prática de gestão. A contribuição fundamental da obra or-ganizada por Ruas, Antonello e Boff está no discernimento desse emara-nhado, selecionando aquilo que real-mente interessa ser considerado. Os autores realizam essa tarefa de forma abrangente, didática e recheada de ca-sos elucidativos dos assuntos tratados. Com os 11 trabalhos que compõem a coletânea Os Novos Horiz ontes de Gestão – Aprendizagem

Organizacio-M APEANDO O TERRENO DA APRENDIZAGEOrganizacio-M

ORGANIZACIONAL E DAS COM PETÊNCIAS

Por André Luiz Fischer

Professor da USP

Coordenador do MBA-RH na FIA-USP e do Laboratório de Aprendizagem e Ensino FEA-USP

E-mail: afischer@usp.br

RESENHA M APEANDO O TERRENO DA APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL E DAS COM PETÊNCIAS

nal e Competências, são propostas

duas árduas tarefas. A primeira con-siste em organizar o percurso teórico dos conceitos “aprendizagem organi-zacional” e “competências”, estabele-cendo correntes, classificando-as e analisando-as criticamente. A segun-da busca estabelecer as conexões en-tre esses dois conceitos, temas que, em geral, são tratados pela literatura de forma isolada.

N os d ois cap ít u los in iciais, Antonello e Ruas constroem mapas que nos introduzem nos dois terrenos conceituais. O primeiro analisa a me-tamorfose da aprendizagem organi-zacion al revisan d o a lit er at u r a e identificando seis abordagens para categorizá-la, tendo a mudança orga-nizacional como referência e elemen-to articulador. A amplitude do campo é muito bem demonstrada, assim como as dificuldades para se promover uma síntese conclusiva, ou mesmo definir uma opção orientadora, que se sobres-saia entre as diferentes abordagens. Como reconhece a própria autora, não

se trata de ir em “defesa de uma tese”, mas de uma busca “didático-metodo-lógica” no campo da aprendizagem organizacional.

A complexidade aumenta no segun-do mapa, em que Ruas procura nos guiar para o ponto de intersecção en-tre a aprendizagem organizacional e a noção de competências. A “escola fran-cesa” é esquadrinhada com importan-te passagem por Zarifian, uma vez que este é o autor que melhor contextuali-za o foco em competências contrapos-to à idéia de qualificação. Qualificamos pessoas para a regularidade do mun-do industrial, desenvolvemos compe-tências para condições nas quais pre-domina o caráter eventual do trabalho pós-industrial. Portanto, a competên-cia está sempre em formação, em mo-vimento e aprendizagem. Sem essa contextualização, como bem demons-tra Ruas, o conceito perde sua razão de ser, sua justificativa concreta, tor-nando-se mero artifício gerencial de uso prático duvidoso. O texto de Ruas é corajoso, ao enfrentar o desafio de

OS NOVOS HORIZONTES DE GESTÃO – APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL E COM PETÊNCIAS

De Roberto Ruas, Cláudia Simone Antonello e Luiz Henrique Boff (organizadores).

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JAN./ MAR. 2 0 0 5 • ©RAE • 9 5

ANDRÉ LUIZ FISCHER

articular dois campos que não dialo-gam, inclusive na literatura internacio-nal. Ponto alto do livro, certamente não haverá como falar de gestão por com-petências no futuro sem nos referirmos a esse trabalho.

A análise das teorias de estratégia e a competição baseada em compe-tências é o foco do terceiro capítulo. Depois de uma visita aos clássicos de estratégia, reinterpretando o diálogo entre a teoria do posicionamento, em Porter, e a visão da firma baseada em recursos, em Prahalad, os autores en-contram na aprendizagem gerencial o elo necessário para dar conta do ambi-ente dinâmico e imprevisível da atua-lidade. Conjugando a perspectiva da criação do conhecimento de Nonaka e Takeuchi com o pensamento cons-trutivista, analisa-se uma experiência concreta realizada numa grande ins-tituição bancária brasileira visando agregar competências gerenciais es-tratégicas ao seu corpo de gestores.

O último capítulo dessa primeira parte do livro retorna ao plano do in-divíduo, definindo o que é o trabalha-dor do conhecimento e o que caracte-riza o seu modo de trabalhar. Demons-tra que esse processo de Demons-trabalho é maior do que o simples processamen-to de informações, uma vez que im-p lica cogn ição. In t rod u zin d o a cognição em seu modelo, Boff e Abel defendem a idéia de que, se o proces-so de trabalho envolve conhecimento, é, por definição, um processo de auto-desenvolvimento, uma forma particu-lar de a pessoa criar competências ao mesmo tempo em que realiza a sua ta-refa. Um maior detalhamento do que os autores entendem por cognição en-riqueceria as conclusões do artigo.

Na segunda parte da coletânea é abordado um significativo número de casos de aplicação prática dos concei-tos de competências e aprendizagem, a maioria deles voltada para o desen-volvimento gerencial e de executivos.

Cecília Oderich analisa três empresas de diferentes setores de atividade e constata que, embora o conceito ve-nha se disseminando na gestão de Re-cursos Humanos, “ainda está um tan-to confuso na aplicação prática”. Nos programas analisados, a maior fragili-dade está na associação, ainda pouco clara e definida, entre competências organizacionais e individuais.

Constatações semelhantes apare-cem no trabalho de Bittencourt, que trata de um interessante estudo de três empresas cujos gestores são interpela-dos sobre o modo como desenvolve-ram suas competências. A autora per-cebe, como características comuns aos três casos, uma lacuna entre o desen-volvimento das competências indivi-duais e coletivas, e a tendência em ver esse desenvolvimento como evento isolado e não um processo contínuo, e uma preocupação excessiva com lis-tas de atributos. Finaliza demonstran-do que os gestores identificam nas ex-periências informais de aprendizagem suas principais fontes de desenvolvi-mento, valorizando mais o relaciona-mento interpessoal, o autodesenvolvi-mento e os desafios cotidianos do que os programas de treinamento previa-mente estruturados pela empresa.

Um dos aspectos mais controversos do debate sobre gestão de competên-cias está na transição entre a compe-tência individual e organizacional. Embora a intenção inicial da pesquisa de Becker e Lacombe se concentrasse no desenvolvimento da competência empreendedora, as autoras acabam encontrando uma excelente oportuni-dade de explorar essa questão estudan-do gestores de empresas de base tec-nológica incubadas em um centro es-pecializado. O artigo é uma demonstra-ção de como a nodemonstra-ção de competências e seus graus de complexidade podem apoiar as incubadoras no exercício de seu papel prioritário, de transformar seus incubados em empresários.

Complementam a obra dois tex-tos que aplicam linhas teóricas dis-tintas para analisar experiências de aprendizagem. No primeiro, Zimmer e Boff usam do conhecido modelo de Nonaka e Takeuchi para descrever a geração de conhecimento em equi-pes virtuais de trabalho. Os ciclos de conversão do conhecimento são re-conhecidos e as condições capacita-doras, identificadas e avaliadas. O segundo texto encerra a coletânea utilizando uma teoria menos comum em estudos nacionais: a aprendiza-gem na ação, aplicada em um grupo de gerentes do setor de construção civil. Analisando a evolução desses gerentes, os autores observam que essa modalidade de aprendizagem re-velou barreiras culturais que dificul-tam a agregação de competências de inovação.

Referências

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