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Rev. adm. empres. vol.45 número4

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Academic year: 2018

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1 2 6 • ©RAE • VO L. 4 5 • N º 4

Composta por dois volumes, a mais recente obra do professor da FEA-USP Jacques Marcovitch, Pioneiros & empreendedores, resgata o

passa-do empresarial brasileiro por meio da narrativa histórica, relatando o percurso de grandes empreendedo-res que transformaram nossa histó-ria econ ôm ica. O au tor an alisa a contribuição da obra de vida de 16 gran des empreen dedores qu e, em su a ép oca, in flu ír am econ ôm ica, social e p olit icam en t e em n osso país. A obra, no entanto, vai muito além do resgate h istórico: os dois volumes trazem importantes contri-buições para a Administração atu-al, especialmente para o campo do empreendedorismo e para a gestão de empresas familiares.

O au tor apon ta, com o pú blico principal de seu livro, os

estudan-UMA LIÇÃO PARA AS GERAÇÕES FUTURAS

Por Marcelo Pereira Binder

Professor da FGV-EAESP e da ESPM.

E-mail: mpb@fgvsp.br

RESENHA UMA LIÇÃO PARA AS GERAÇÕES FUTURAS

tes de Admin istração, qu e podem por meio de suas páginas aprender importantes lições para seu projeto de vida. Afin al, “empreen der n ão con siste apen as em termos idéias próprias, mas em sabermos como os outros, antes de nós, conduziram à p r á t i c a s e u s p r o j e t o s d e vi d a ” (Marcovitch, 2005, p. 22).

A vida desses empreendedores pi-on eiros n os mostra qu e o gran de em p reen d ed or é aqu ele cap az d e identificar e explorar novas oportu-nidades por meio da combinação de recursos existentes em novas formas para atender a novos mercados, se-gu in do o qu e Joseph Sch u mpeter denomina destruição criativa. Olhar esses homens como simples donos do capital seria um reducionismo, e pouco ou nada contribuiria à com-p reen são d o d esen volvim en to d e

n osso país. E mais: poderia fazer com que importantes lições de suas trajetórias passassem despercebidas. O empreen dedor é diferen te da figura de um empresário capaz de ext r air lu cros em seu s n egócios, aproximando-se mais da figura de um agente de mudanças responsá-vel por inovações que transformam a realidade. Os dois volumes, reple-tos de exemplos que ilustram essa afirmação, tornam a leitura bastan-te agradável e envolvem o leitor.

O prazer da leitura do texto é fru-to da escolh a do au fru-tor de n ão se prender a normas acadêmicas tradi-cion ais e rígidas. O au tor adota a perspectiva da nova história para a elaboração dos perfis biográficos, qu e tem em Fern an d Brau del u m dos principais expoentes. Essa me-todologia possibilita uma narrativa

PIONEIROS & EMPREENDEDORES: A SAGA DO DESENVOLVIMENTO NO BRASIL

De Jacques Marcovitch

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O UT./ DEZ . 2 0 0 5 • ©RAE • 1 2 7

MARCELO PEREIRA BINDER

din âmica, qu e mostra os person a-gens em seu contexto de atuação, a evolução dos seus negócios, estilos de gestão, os seus momentos duros e de decepção. O texto desperta no leitor a curiosidade sobre o passado da construção das nossas empresas e o estimula a buscar mais informa-ções sobre os grandes empresários de nossa história. Isso porque, ape-sar da capacidade do autor de resu-m i r c o resu-m gr a n d e h a b i l i d a d e e seletividade as informações sem pre-judicar o entendimento, o espaço de 650 páginas é curto para a riqueza da história dos 16 grandes pionei-ros abordados no livro.

Marcovitch selecionou os pionei-ros não somente porque eles obti-veram sucesso financeiro, mas tam-bém por su as características mar-cantes, tipificando o homem de ne-gócios, refletindo a estrutura econô-mica, as possibilidades e dificulda-des de uma época. No primeiro vo-lu me en con tramos os Prado, qu e rep resen t am a p assagem d e u m a econ omia primária e exportadora para uma economia industrial e ur-b an a; N am i Jafet , p r ecu r so r d a industria têxtil no país, que alterou as práticas comerciais do varejo; e Francisco Matarazzo, que personi-ficou a imagem do industrial moder-no da época e representou a forma-ção da grande industria e do cresci-mento por meio da verticalização, quando a economia ainda era caren-te de infra-estrutura. O autor tam-bém escreve sobre o arquiteto Ra-mos de Azevedo – grande empresá-rio da construção –, que, numa épo-ca em que os tijolos eram itens de importação, mudou a paisagem do estado, além de ter sido um dos fun-dadores e professor da Escola Poli-técnica; Jorge Street, um visionário do campo social, que trouxe como inovação a mudança nas relações da in d ú st r ia com os t r abalh ad ores;

Roberto Simonsen, um “intelectual de ação” que, além do sucesso como empresário, foi membro da Acade-mia Brasileira de Letras; Jú lio Mes-qu ita, fu n dador do jorn al O Estado de S. Paulo, qu e in flu en ciou a

opi-n ião pública e deu forte apoio à cria-ção da Un iversidade de São Pau lo; Leon Feffer, que começou como co-m ercian t e d e p ap el e, p ost er ior-men te, apostou n a tecn ologia para criar a atu al Cia. Su zan o de Papel e Celu lose e, como líder comu n i-t ár io, aju d ou a cr iar o Hosp ii-t al Albert Ein stein .

No segundo volume encontramos o barão de Mauá – criador da pri-meira grande indústria nacional, do primeiro grande banco e da primei-ra estprimei-rada de ferro –, um homem que conheceu a falência e grandes suces-sos, in clu sive in tern acion almen te; Luiz de Queiroz, precursor do agro-negócio no Brasil e fundador da Es-cola de Agronomia da USP, que leva o seu nome; Attilio Fontana, meni-no pobre, sem curso primário com-pleto, que prosperou no comércio de suínos e fundou o frigorífico Sadia; Valentim dos San tos Din iz, fu n da-dor do Gru po Pão de Açú car qu e, em su a época, alterou a operação d o varejo b r asileiro ; Gu ilh er m e Gu in le, gr an d e in cen t ivad o r d a p esq u isa, q u e fico u n a h ist ó r ia como o don o da Compan h ia Docas d e Sa n t o s . E, a i n d a , o s La fe r-Klabin , respon sáveis pela primeira gran de in dú stria de celu lose brasi-leira; José Ermírio de Moraes, qu e se ju n tou ao sogro n o desen volvi-men to do Gru po Votoran tim, pre-sen te em vários setores da econ o-mia; e os Gerdau -Joh an n peter, qu e, de u ma fábrica de pregos, criaram u m gru po brasileiro in tern acion a-lizado.

Fizeram p arte d o p erfil d esses homens as características próprias dos empreendedores: visão de

futu-ro, sen sibilidade estratégica, forte disposição para o trabalho, flexibi-lid ad e, cap acid ad e d e flexibi-lid ar com grandes incertezas e, sobretudo, ca-pacidade de inovar. Foram persona-gens que desempenharam um papel ativo na vida nacional, de vidas sig-nificativas, cuja trajetória tem mui-to a ensinar às gerações atuais. Fo-ram capazes de desenvolver recur-sos humanos para a gestão de suas empresas e mostraram que o conhe-cimento é tão importante quanto os recursos.

Dos empreendimentos abordados no primeiro volume, apenas a Cia. Suzano de Papel e Celulose e a em-presa O Estado de S. Paulo prospe-raram até os dias atuais. As outras empresas não conseguiram se adap-tar aos novos tempos e não tiveram nos sucessores os gestores capazes de dar continuidade à obra dos fun-dadores. No segundo volume, à ex-ceção de Mauá, todas as empresas são hoje grandes grupos com forte presença na economia brasileira.

A obra também remete à discu s-são sobre gestão de empresas fami-liares, u ma vez qu e n o Brasil a fa-mília marcou a vida empresarial e, ain da atu almen te, as maiores em-presas são familiares. Assim, trata-se de tema relevan te n o país para o campo da Admin istração. Dar con -tin u idade à empresa por meio de u m sistema capaz de man ter a boa gest ão sem p erd er as for ças qu e advêm da em presa fam iliar é u m desafio para os gestores e u m fen ô-men o a ser estu dado pelos acadê-micos brasileiros.

Referências

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