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Dissertação apresentada à Banca Examinadora

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Academic year: 2019

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Construção do cam po da educação

popular no Brasil:

história e repertórios

Mest rado em educação: História, Política, Sociedade

Pontifícia Universidade Cat ólica de São Paulo

(2)

Construção do cam po da educação

popular no Brasil:

história e repertórios

Dissert ação apresent ada à Banca

Exam inadora

da

Pont ifícia

Universidade Cat ólica de São Paulo,

com o

exigência

parcial

para

obtenção do t ítulo de MESTRE em

educação, sob a orient ação do Prof.

Dr. Kazum i Munakat a.

Pont ifícia Universidade Cat ólica De São Paulo

(3)
(4)

A nossa luta interna de libert ação liga- se profundament e à cultura popular, que assum e no primeiro momento o sentido de desalienação da nossa cultura, sobrepondo os valores culturais estr anhos aos nossos valores criados e elaborados aqui. De Pés no Chão Tam bém se Aprende a Ler, 1963.

Educação Popular é um conjunto de ferram ent as que permitem aos grupos populares refletirem sobre sua pr át ica de luta, compr eender sua dim ensão de classe e buscar os avanços organizativos necessários à nossa caminhada de libert ação.

Algumas notas sobre Educação Popular e Formação, CPT, década de 1980.

Eu acho que é um outro momento em que começa a surgir a idéia que a educação popular para poder fazer esse diálogo mais am plo tem que se tornar educação cidadã. Sem deixar de ser educação popular, m as par a poder ter esse diálogo mais amplo, tant o com form as associativas com as quais ela não tinha tradição de dialogar, quanto com os cidadãos que não est avam organizados em nada.

(5)

Para Maria, minha filha.

Saudação

Ave, Maria! Ave, carne florescida em Jesus.

Ave, silêncio radioso Urdidura de paciência Onde Deus fez seu amor inteligível!

(6)

Agradecim ento

O HOMEM; AS VI AGENS

O hom em, bicho da Terra t ão pequeno chateia- se na Terra

lugar de m uita m iséria e pouca diversão, faz um foguete, um a cápsula, um m ódulo toca par a Lua

desce caut eloso na Lua pisa na Lua

planta bandeirola na Lua experiment a a Lua coloniza a Lua civiliza a Lua hum aniza a Lua.

Lua humanizada: t ão igual à Terra. O hom em chat eia- se na Lua.

Vam os para Mart e – ordena a suas m áquinas. Elas obedecem , o hom em desce em Mart e pisa em Mart e

experiment a coloniza civiliza

hum aniza Mart e com engenho e art e

( ...) Outros planetas rest am par a outras colônias. O espaço todo vira Terra- a-t erra.

O hom em chega ao Sol ou dá uma volta só para t er ver ?

Não- vê que ele inventa

roupa insiderável de viver no Sol. Põe o pé e:

Mas que chato é o Sol, falso touro espanhol dom ado.

Rest am outros sistem as fora do solar a colonizar.

(7)

( est ar á equipado?)

a dificílima dangerosíssim a viagem de si a si m esm o:

pôr o pé no chão do seu coração experiment ar colonizar civilizar hum anizar o homem

descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas a per ene, insuspeitada alegria

de con- viver

Carlos Drum mond de Andrade, As I mpurezas do Branco, 1973.

Aos meus pais, Arm ênio e Amélia, e as minhas irm ãs e irmão, Débora, Marília e Vitor sou m uita grat a pela paciente, generosa e alegre convivência.

Thomaz Ferreira Jensen, pela convivência am orosa e cotidiana. Tam bém pela revisão do text o.

Kazum i Munakat a, pela orientação.

Evelina Dagnino e Circe Maria Fernandes Bittencourt, sou grat a pela leitura do trabalho e pelas importantes contribuições no exame de qualificação. Aos meus com panheiros e companheiras, educadores populares, pelo aprendizado e partilha utópica. Especialmente a Ailton Silva, Fabiana I vo, Carla Dozzi, Suzy Bonfim , Fernando Am érico e Antonio Gouveia.

Aos m oradores e m oradoras do Jardim Jaqueline, Jardim Ângela e Capão Redondo com quem convivi nos últimos anos sou grat a pelo ensino da persistência.

Mar cos Cezar de Freitas, pela leit ura at ent a e cam inho dos Salmos.

Edin Abumanssur, amigo querido que est eve pr esent e quando m ais precisei. Obrigada pela lembrança de haver “ vales” e “ pipas” no amanhã.

Maria Rosa, pelos “ cuidados” durante a prepar ação do trabalho.

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Resum o

Esta pesquisa investigou a construção do cam po da educação popular no Brasil. Apoiados em Doim o ( 1995) definim os o cam po com o um conj unto de significados, valores, sím bolos e proj etos políticos indicadores de um a sociabilidade com um partilhada por grupos e atores políticos, neste caso educadores (as) populares.

Para os fins desta pesquisa, a configuração do cam po da educação popular deu- se pelo estudo e delineam ento de três diferentes repertórios construídos ao longo dos últim os quarenta anos no Brasil. Por repertório da educação popular entendem os a construção partilhada dos projetos históricos e de um “ saber fazer educativo” m ais ou m enos consensuado por educadores (as) expressos por linguagens, valores, idéias e palavras- chave. Estes se form aram e são acom panhados de um perm anente conflito entre um repertório m ínim o, ou seja, o que unifica o cam po, e as disputas no interior desse m esm o cam po que am pliam , diversificam , resignificam e perm item o surgim ento de repertórios divergentes.

O prim eiro repertório abordado circunscreveu- se entre 1960 e 1964 vinculado aos m ovim entos de cultura e educação popular. Distinguim os, portant o, as experiências ou práticas de educação popular no âm bito de um cam po próprio surgido na prim eira m etade da década de 1960. Docum entos produzidos pelos m ovim entos e publicações sobre o tem a subsidiaram o desenho do repertório cuj o centro é o debate sobre o nacionalism o ou a “ consciência nacional” .

O segundo repertório vigente entre as décadas de 1970 e 1980 é expressão da relação orgânica entre educação popular, m ovim entos populares e Com unidades Eclesiais de Base. Os valores e elem entos figurados neste repertório são explicados pelo próprio percurso de organização popular – am pliação dos instrum entos políticos das classes trabalhadoras. Dois instrum entos políticos, desiguais por natureza, m odificaram , de form a determ inante, o cam po da educação popular: a fundação do Partido dos Trabalhadores e o surgim ento de centros de assessoria em educação popular. Utilizam os, para a pesquisa, docum entos e estudos pertinentes ao tem a. No inicio da década de 1990, m arco de construção do repertório atual, com eçaram a acontecer m udanças no cam po da educação popular denom inadas de “ refundação da educação popular” , um “ m ovim ento” revisionista das práticas e concepções do repertório anterior. No últim o e atual repertório pesquisado, construído a partir de entrevistas com educadores (as) populares, docum entos e estudos, indicam os haver um a assim ilação de elem entos discursivos próxim os ao tem a da Terceira Via, agora apropriado pelo cam po da educação popular. Essa assim ilação acontece pela interseção de práticas das “ ONGs m ilitantes” com as fundações em presariais e prefeituras locais, principalm ente daquelas governadas pelo PT.

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Abst ract

This research aim ed at the building up of popular education in Brazil. Based on Doim o ( 1995) we defined the field as a gathering of m eanings, values, sym bols and political projects, all indicators of com m on socialization, shared by groups and political agents, in this case, by popular educators.

The scope of this research considered the fram ing of popular education through the study and defining of the three different approaches constructed along the last 40 years in Brazil. By this we understand the shared building up of historical proj ects and of an “ educational know- how”, fairly agreed upon by educators, expressed in language, values, ideas and key- words. These are form ed and are followed up by constant conflict between a m inim um of background storage, which unifies the field, and perm anent struggles within this field, which enhance, diversify, renam e and allows for the bloom ing of diverse discourse.

The first of these repertoires to be analyzed was lim ited within the 1960 — 1964 period, identified with the popular cultural and educational m ovem ent s. We therefore highlight popular educational experiences and practices considered as part of an individual field, initiated in the first half of the 1960 decade. Docum ents produced by these m ovem ents and published m aterial on this them e, outlined the repertoire centered on the debate between nationalism or “national consciousness” .

The second repertoire, throughout the 1970 — 1980 decade, is the organic relationship between popular education, popular m ovem ents and Basic Ecclesiastical Com m unities. Values and elem ents hereby m entioned are self explained along proper path undertaken in the setting up of popular organizations — the furthering of political instrum ents of the working classes. Two political instrum ents, unequal by nature, significantly changed the field of popular education: the founding of the Workers Party ( PT) and the surging of back up com m ittees for popular education. Docum ents and studies related to the them e were then used.

I n the early 1990’s, landm ark for the construction of present repertoire, change started to take place in popular education, Known as “ refounding of popular education”, a “ revisionist m ovem ent” of previous practices and concepts.

I n the last and present researched repertoire, based on interviews with popular educators, docum ents and papers, we point out an acceptance of discursive elem ents identified with those of the Third Track, currently appropriated by the popular education field. This t akes place in the acceptance of m ilitant NGOs practices, along with local businesses and city governm ents, nam ely of the Worker’s Party.

Key words: Popular education; m ovem ent and popular cult ure; history

(10)

Sum á rio

Glossá rio de Siglas... 1

I nt rodu ção... 15

Metodologia... 24

CAPÍ TULO 1 Movim entos de Cultura e Educação Popular: repertório dos anos 1960 Cont ex to hist órico e for ças política s... 30

O cam po com o território de atuação: região Nordest e e m ovimentos de cultura e educação popular ... 39

CPC da União Nacional dos Estudantes ( UNE): entre São Paulo e Rio de Janeiro... 43

Tem a s e que st õe s: repert ório m ínim o e seus dissensos... 45

Cultura: const rução e realização humana ... 45

Cultura popular: povo, conscientização e nacionalismo ... 48

Dualidade Brasileira e conscientização ... 53

Educação popular: a cultura em sua dimensão educativa ... 55

Organizando a com unidade em pequenos grupos ... 58

Projeto Político... 59

Est ado e movimentos de cultura e educação popular ... 62

Anexo 1 - Repertório mínimo e dissensos dos m ovim entos de Cultura e Educação Popular ... 65

CAPÍ TULO 2 Movimentos de ação diret a e educação popular: Repertório dos anos 1970 e 1980 Cont ex to hist órico e for ças política s... 81

Breves notas sobre a form ação do Partido dos Trabalhadores ... 85

O povo em m ovim en to apre nde... 89

A peda gogia popula r... 96

A educação popu lar ent re 1 9 7 0 e 1 9 8 0 : repe rtório com um e dissensos. ... 99

Educação popular: definições... 99

Autonomia: relação com centros de assessoria, partido e Estado ... 100

Sujeitos das práticas educativas populares: afinal quem é o popular?... 111

(11)

Anexo 2 - Repertório mínimo e dissensos da educação popular: meados da década de

1970 e 1980... 120

CAPÍ TULO 3 Repert ório atual da educação popular Reordenam entos político- culturais nos anos 1990 ... 136

Reformas do Est ado brasileiro e ampliação da sociedade civil: rum o ao consenso neoliberal ... 139

Alguns elem entos do debat e sobre a r efundação da educação popular na Am érica Lat ina ... 144

Bra sil: part icu lar ida des na con st ruçã o do repe rt ório da educação popu lar e confluências... 149

Educação popular, ONGs e a sociedade civil ... 162

O conceito de público não- est at al na educação popular ... 172

A circulação do tem a capital humano e a educação popular ... 181

Consideraçõe s fin ais... 187

Anexo 3 - Traj etória dos educadores e educadoras entr evist adas ... 192

Anexo 4 – I nform ações sobre os espaços ocupados pelos educadores ( as) entrevistados... 196

(12)

Glossá rio de Siglas

ABERJE - Associação Brasileira de Com unicação Em presarial

ABONG - Associação Brasileira de Organizações Não- Governam entais ALN - Aliança Libertadora Nacional

ANAMPOS - Associação Nacional dos Movim entos Populares e Sindicais

ANTEAG - Associação Nacional Trabalhadores de Em presas de Autogestão e Participação Acionária

AP - Ação Popular

API MEC - Associação dos Analistas e Profissionais de I nvestim ento do Mercado de Capitais

CDHEP - Centro de Direitos Hum anos e Educação Popular do Cam po Lim po CEAAL - Conselho Educação de Adultos para Am érica Latina

CEBs - Com unidades Eclesiais de Base

CEDIC - Centro de Estudos, Docum entação e I nform ação

CENDHEC - Centro Dom Helder Câm ara de Estudos e Ação Social CGT - Confederação Geral dos Trabalhadores

CEDEC - Centro de Estudos da Cultura Contem porânea CI MI - Conselho I ndigenista Missionário

CI VES - Associação Brasileira de Em presários para a Cidadania CEPI S - Centro de Educação Popular do Inst ituto Sedes Sapient iae CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CPC – Centro Popular de Cultura CPT – Com issão Pastoral da Terra CPV – Centro Pastoral Vergueiro

CUT - Central Única dos Trabalhadores

EQUI P - Escola de Form ação Quilom bo dos Palm ares

ETAPAS - Equipe Técnica de Assessoria em Pesquisa e Ação Social ETHOS - Instituto de Em presas e Responsabilidade Social

FASE - Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional FI DES - I nstituto de Desenvolvim ento Em presarial e Social

FI ESP – Federação das I ndústrias do Estado de São Paulo

(13)

FMP - Frente Mobilização Popular

FONEP - Fórum Nacional de Educação Popular FPN - Frente Parlam entar Nacional

GI FE - Grupo de I nstitutos, Fundações e Em presas

GLBT - Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais GTDN - Grupo de Trabalho para o Desenvolvim ento do Nordeste I BASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econôm icas I BGE - I nstituto Brasileiro de Geografia e Estatíst ica

I DH - Í ndice de Desenvolvim ento Hum ano

I EDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvim ento I ndustrial I L - I nstituto Liberal

I NCA - I nstituto Caj am ar

I PEA - I nstituto de Pesquisa Econôm ica Aplicada I SEB - Instituto Superior de Estudos Brasileiros I SER – I nstituto de Estudos da Religião

JUC – Juventude Universitária Católica LI BELU - Liberdade e Luta

LOPP - Lei Orgânica dos Partidos Políticos MAB – Movim ento dos Atingidos por Barragens MCP – Movim ento de Cultura Popular

MCV - Movim ento do Custo de Vida MDF - Movim ento Defesa dos Favelados MEB – Movim ento Educação de Base

MEP - Movim ento de Em ancipação do Proletariado MI RE - Mística e Revolução

MJMP – Movim ento Juventude do Meio Popular MOC - Movim ento de Organização Com unitária MOVA - Movim ento de Alfabetização de Adultos MR- 8 - Movim ento Revolucionário 8 de outubro

MST - Movim ento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MTC - Movim ento de Transporte Coletivo

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ONG - Organização Não- Governam ental OP - Orçam ento Participativo

Oscip - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público OSs - Organizações Sociais

PCB - Partido Com unista Brasileiro

PCBR - Partido Com unista Brasileiro Revolucionário PDH - Pastoral dos Direitos Hum anos

PI B - Produto I nterno Bruto

PI EP - Proj eto I ntegrado de Educação Popular PJ - Pastoral da Juventude

PNBE - Pensam ento Nacional das Bases Em presariais PO - Pastoral Operária

Pólis - I nstituto de Estudos, Form ação e Assessoria em Políticas Sociais POLOP – Política Operária

PSB - Partido Socialista Brasileiro PSD - Partido Social Dem ocrata PT - Partido dos Trabalhadores PTB - Partido Trabalhista Brasileiro RECI D - Rede de Educação Cidadã SEC - Serviço de Extensão Com unitária

SUDENE - Superintendência do Desenvolvim ento do Nordeste UDN - União Dem ocrática Nacional

UEE/ SP - União Estadual dos Estudantes de São Paulo ULC - Unificação das Lutas de Cortiço

UNE - União Nacional dos Estudantes

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I ntroduçã o

Eu os conheço a todos. Reconheço- os pelas pisadas e por elas sei de seus humores, sentim entos, de suas urgências, preguiças, contentam ento ou aflição. Sei de sua grandeza e m esquinhez. Leio seus passos quando apenas roçam minhas laj es em corridas alegres de pés pequenos ou quando me oprim em com o peso de vidas inteiras. Foi seu tropel incessante que m e despertou do m eu sono de pedr a. Só eu os conheço a todos porque só eu est ou sempr e neles como eles est ão em m im . Eles m e criaram e eu agora os crio. Não os posso fazer como eu os quisera, sempre formosos, felizes, generosos e livres, m as com o m ãe os crio, tais quais m e vieram , acolho-os. Sou seu chão. Vej o tudo e não os julgo, sei apenas que são humanos e m e com ovem . Pela linguagem de seus pés, vou desenleando suas histórias uma a uma. Creio ter compreendido que nisto consiste o serem hum anos, em poderem ser narrados, cada um deles, como um a história.

Maria Valéria Rezende, Vasto Mundo, 2007.

Há alguns anos trabalhei em um a Organização Não- Governam ental (ONG) localizada na cidade de São Paulo. Sua proxim idade com os m ovim entos urbanos, assim com o seu discurso, prática e trajetória dos integrantes, lhe valem a designação de m ilitante - “ ONG m ilitante”1. Neste espaço

acom panhei discussões e encontros na área da educação popular percebendo as leituras políticas, apostas e m otivações que im prim iam sentido à práticas form ativas.

1

Reconhecendo que o term o Organização Não- Governam ent al comporta um a diversidade de organizações, adoto a classificação em pr egada por Gohn (2005a) e Coutinho (2004) , contudo, incorporo um elem ento de diferenciarão entr e as ONGs m ilitantes e centros de educação popular: 1) ONGs militantes - se estruturaram nas décadas de 1970 e 1980 com o espaço de r esist ência e luta contra a ditadura civil-m ilitar. Durante a década de 1990 se legiticivil-m acivil-m cocivil-m o “e sfe ra au tônom a” em relação aos m ovim entos populares ( incluo neste item os centros de educação popular que optaram por esse per curso) ; 2) cent ros de educação popular - tam bém surgiram nas décadas de 1970 e 1980, originários de um forte vínculo com os m ovim entos populares com ações e preocupações educativas. Seguem assessorando os m ovim entos populares, razão de sua existência e perm anência; 3) ONGs surgidas a partir da década de 1990 – est e grupo é bastant e het erogêneo abar cando tem as em ergentes como os am bientais, étnicos, sexuais, et c; além de grupos e fundações em pr esariais.

(16)

A proxim idade e participação em alguns m ovim entos populares2 neste

m esm o período, m e levaram a vivenciar inúm eros encontros, reflexões e discussões em coletivos de form ação. Aos poucos fui elaborando a percepção de haver um a certa desconexão entre as vivências, am bas nom eadas pelo term o “ educação popular”3.

Aparentem ente, essas diferenças se construíam nas leituras sobre a conj untura brasileira e nas conseqüentes apostas político- pedagógicas. Estas últim as se desdobravam , por exem plo, em tem as relevantes para os processo form ativos e em expressões que dem arcavam o pertencim ento a grupos e proj etos, balizando o sentido do “ fazer pedagógico”. A pergunta sobre a real existência e dim ensão dessa desconexão m otivou essa reflexão.

Durante este m esm o processo, a leitura de livros e docum entos produzidos no Brasil desde a década de 1960 por educadores populares e pesquisadores da educação popular, foram m e m ostrando questões, referências, expressões e debates que reapareciam e resignificavam - se nas práticas atuais. Mais do que sim ples aparições, essas referências legitim avam as diferentes apostas e práticas.

A leitura atenta desses docum entos descortinou a “ educação popular” im possibilitando-m e de pensá-la ausente de disputas, isto porque, apesar de um cam po específico, a educação popular possui profundo diálogo, talvez sim biose, com as esquerdas brasileiras.

2 Adoto a definição de Paludo (2001) . Conjunto social de setores das classes trabalhadoras, cuj a pr áxis se orienta pela necessidade e desejo de m elhorar as condições de produção e r eprodução da própria existência e pela per spectiva, m ais ou menos consciente, de construção de novos ordenamentos sociais, econômicos, políticos e culturais na disputa pela direção intelectual e m oral da sociedade.

(17)

Em vez de pensar a educação popular no Brasil em fases ou m om entos, gostaria de reconst ruir parte desse percurso com o um m ovim ento de m uitas “ idas” e “ vindas”, de constantes apropriações e resignificações. Significa, portanto, que o cam po da educação popular suporta disputas e dissensos e que, m uitas vezes, esses são construídos a partir de elem entos que em m om entos anteriores predom inavam com o consenso.

Podem os falar na existência da educação popular no Brasil com o um cam po, conflituoso, produtor de significados e de proj etos políticos? Com o esse cam po respondeu e vem respondendo aos desafios brasileiros? Quem são os suj eitos desse cam po? Com quem dialogam ? Em torno do quê?

Frente a essas questões optei por trilhar o cam inho da reconstrução crítica do cam po da educação popular brasileiro4 em busca de perm anências, m as

tam bém de rupturas, que explicitassem os proj etos políticos e atributos culturais, entendido com o um certo “ saber fazer” educativo, expressos nos diferentes repertórios produzidos ao longo dos últim os quarenta anos.

Por cam po entendem os a existência de um a sociabilidade com um , aflorada pelo senso de pertença a um m esm o espaço com partilhado de relações interpessoais e de atributos culturais, com o signos de linguagem , códigos de identificação, crenças religiosas e assim por diante. Tam bém est ou presum indo certa disposição à participação que, alavancada por conexões interativas entre determ inados grupos e instituições, gera conj untos regulares de ações e fluxos reivindicativos contínuos (Doim o, 1995, p. 68) . A própria literatura sobre a educação popular do século XX se encarregou de nom ear as m ais diferentes e distantes práticas educativas com o popular. Não por acaso as nom eações, em sua grande m aioria, aconteceram a partir das décadas de 1970 e 1980, m om ento em que a educação popular volta a se proj etar nacionalm ente acom panhando a euforia pelos “ m ovim entos populares” e “ m ovim entos urbanos5”.

4 Esta pesquisa não tem a pret ensão de reconstruir a infinidade de práticas

pert encentes ao campo da educação popular. I ndicarem os um percurso abr angent e de construção de repertórios vigentes ao longo dos últimos quarent a anos, que acreditam os, indica as caract erísticas m ar cantes de cada período estudado.

5 “ Os movimentos sociais urbanos refer em - se a uma nova form a de conflito, ligados

(18)

O esforço de denom inar significa, ele m esm o, a busca da delim itação do cam po. Um cam po em const rução que se volta para o passado em busca de experiências e fatos históricos que com ponham , delim item e afirm em sua identidade. Identificou- se na história da Am érica Latina um a espécie de ancestralidade entendida com o práxis politico- pedagógica associada às lutas contra a opressão.

Nesse sentido é com um à associação entre a educação popular e escolas anarquistas do século XI X ( Pereira, 2000) e Brandão ( 2002) , ou ainda, fixar 1920 com o a “ década fundadora” com a experiência de Sandino na Nicarágua ( Basualdo, 1997) . Brandão (1986) , em um a abordagem antropológica, denom ina de educação popular o saber produzido e circulado por organizações societárias em que o trabalho produtivo não é socialm ente dividido e o poder com unitário está associado à vida social.

A educação popular tam bém foi associada a práticas escolarizadas destinadas às classes populares, bem com o a luta destas pelo acesso a escola. Paiva ( 1973) recua as experiências de educação popular para o período colonial ligada à ação dos jesuítas. Sposito ( 1992) estuda a luta das cam adas populares, sobretudo de m ulheres, pela expansão da escolarização no estado de São Paulo.

Delim itam os o surgim ento do cam po da educação popular no Brasil na década de 1960. I sto porque entre 1960 e 1964 um a parcela significativa da esquerda brasileira, atuando em diferentes espaços, passou a construir e utilizar a educação popular com o ferram enta de organização das classes trabalhadoras6. O term o m ovim ent os de cult ura e educação popular firm

ou-se no território nacional designando e definindo um conj unto de práticas, e porque não, de valores, que tornavam inteligíveis o pertencim ento ao cam po. Neste trabalho distingo práticas ou experiências de educação popular do surgim ento de um cam po próprio form ado na prim eira m etade da década de

que assum em múltiplas form as organizatórias, abarcando diversos tipos de reivindicação e diversas respost as do apar elho est at al. A análise das contradições urbanas torna- se fundament al para sua compr eensão” . ( Gohn, 1979, p. 9) .

6 Utilizo o conceito de classes tr abalhadoras no plural para enfatizar a diversidade no

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1960, que se auto-intitula e se reconhece na const rução com partilhada de um sentido para história (projetos políticos), na escolha dos atores para os quais as práticas devem ser destinadas ( classes trabalhadoras) e num certo “ saber fazer” educativo.

A const rução do projeto político se dá num cam po conflituoso de disputas por significados e validação tanto no interior do cam po, quanto em sua relação com outros atores e proj etos. Por esse m otivo a construção do cam po gesta significados e linguagens que “norm atizam ” um a certa form a de agir e pensar o cam inho de construção do proj eto.

No cam po da educação popular, o pensar e agir com o processo de construção e reconstrução do proj eto, será denom inado por m etodologia. A m etodologia não é, portanto, apenas o cam inho pelo qual se chega a determ inados resultados. É sobretudo, um processo de const rução de significados que delim ita o cam po e cria um “ saber fazer” m ais ou m enos consensuado entre m ilitantes e educadores.

Denom inarem os a const rução partilhada do proj eto histórico e do “ saber fazer” expressos por linguagens e valores, de repert órios da educação popular. Por isso, para cada repertório é possível identificar palavras-chaves que com unicam no interior do próprio cam po.

Este repertório form ou- se e é acom panhado de um perm anente conflito entre o que podem os cham ar de um repertório m ínim o, ou sej a, o que unifica o cam po; e as disputas no interior deste m esm o cam po que além de am pliar e diversificar os repertórios, tam bém perm item o surgim ento de repertórios divergentes no interior do cam po.

Cada m om ento histórico com suas possibilidades, desafios e contradições se apresenta ao cam po da educação popular, tam bém pertencente e construtora desse m om ento, com o novo contexto repleto de conflitos e aberturas para novos repertórios. Estes se com põem no incessante esforço de pensar os desafios e elaborar respostas num quadro m ais am plo das questões nacionais.

(20)

dos repertórios que dizem respeito a própria história do cam po da educação popular.

Ed u ca çã o popu la r : m a r cos h ist ór icos na con st ru çã o do cam po.

Procuram os balizar a const rução do cam po da educação popular no Brasil a partir dos repertórios pesquisados, contextualizando-os em nossa história recente. Foi no cruzam ento entre essas duas fontes - repertórios da educação popular e história do Brasil pertinente aos m om entos pesquisados - que estabelecem os um a periodização para o estudo7.

Pressupondo que as m udanças de repertório indicam um a m ovim entação no cam po em busca de respostas a novas conj unturas e desafios, nos perguntam os quais as conj unturas que produziram alterações substanciais nos repertórios. Um a segunda questão diz respeito aos m ecanism os de construção e atualização dos repertórios, isto é, com o olham os para o cam po num contínuo exercício de reatualização e ruptura?

Podem os falar de um repertório da educação popular entre 1960 e 1964 vinculado aos m ovim entos de cultura e educação popular, estes últim os produzidos e organizados por m ovim entos, partidos e frentes atuantes no período.

O repertório articula o debate sobre nacionalism o e conscientização e é expressão de um a intensa m obilização em torno de um proj eto nacional para o Brasil enraizado na discussão sobre as reform as de base. A interpretação do Brasil dual (m oderno e atrasado) , predom inante em boa parte da esquerda, acabou por influenciar a ação educativa do período. Seu centro de gravitação é a região Nordeste, berço do Movim ento de Cultura Popular, Movim ento Educação de Base, De Pés no chão Tam bém se Aprende a Ler, Sistem a Paulo Freire, entre outros.

No repertório transparece um enorm e desejo de autodeterm inação nacional e um a aposta, ainda que m uitas vezes caricatural e parcial, nos trabalhadores do cam po e da cidade. Foi o início, com m uitas contradições, da busca de

(21)

um a pedagogia8 coerente com o proj eto político am plam ente debatido entre

as esquerdas. A am bigüidade entre o “ ser suj eito” e “ estar incapaz” na definição do popular e no papel atribuído às classes populares, perm eia todo repertório.

O golpe de 1964 transform ou a m aior parte dessas atividades. Muitas delas possuíam estreitos vínculos com gestões m unicipais, com o Recife e Natal. O próprio governo federal de João Goulart, no m om ento que antecede o golpe, organizava um a cam panha nacional a partir da experiência de Angicos tendo Paulo Freire com o coordenador.

Tam bém a partir de 1964 um a parte da esquerda brasileira, anteriorm ente dedicada aos m ovim entos de cultura e educação popular, optou pela luta arm ada subordinando os trabalhos de “organização e conscientização” à nova estratégia política.

Sabem os pelos depoim entos de m uitos educadores e educadoras populares que, m esm o sofrendo alterações profundas, as práticas perm aneceram ativas, não m ais em um a disputa aberta por proj etos políticos, m as com o resistências elaboradas no “ subterrâneo” do dia-a- dia. Não ignoram os que esta pesquisa apresenta um a lacuna entre 1964 e m eados de 1970. Os docum entos encontrados pós-golpe de 1964, datam de 1977 em diante. Essa busca exigiria um a exaustiva pesquisa oral descobrindo a especificidade educativa das práticas populares organizadas durant e este período que corresponde à agudização da repressão do regim e aut oritário - do AI - 5, dezem bro de 1967, ao assassinato de Wladim ir Herzog em 1975.

A partir da segunda m etade da década de 1970 e na década de 1980 o cam po volta a sofrer m udanças com a organização e “aparecim ento” dos m ovim entos populares. Neste período a educação popular novam ente adquire proj eções nacionais e os “ m ovim entos urbanos” e Com unidades Eclesiais de Base ( CEBs), serão os espaços prioritários para a prática educativa9.

8 “ Em toda práctica educativa existe um saber im plícito, no siem pre t em atizado, que

forma parte del acervo cultural de la sociedad y referida al “ saber educar” ; en la m edida em que esse saber se vuelve obj eto de r eflexión, hay pedagogia” . ( Carrillo, 2004, p. 55) .

9 Os movimentos e pastorais sociais atuant es no meio rural, como a CPT e o MST,

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O período foi m arcado pela am pliação da sociedade civil através da organização de diferentes instrum entos políticos das classes t rabalhadoras e pela refuncionalização de antigos espaços vinculados as classes dom inantes com o a I grej a no Brasil que j á tendia ao trabalho popular no período anterior. Esse processo desencadeou um “ percurso” da organização popular distinto do anterior: aparecim ento de m ovim entos com alcance local; a articulação destes em m ovim entos nacionais; o m ovim ento operário dos “ autênticos” ; e a fundação de um partido de m assa (Partido dos Trabalhadores) .

O repertório da segunda m etade da década de 1970 e da década de 1980 afirm ou as classes trabalhadoras com o suj eitos de seu processo político e pedagógico. Palavras com o autonom ia, dem ocracia de base, poder popular, saber popular e troca de experiência nos inform a um novo m om ento do cam po. Verem os com o algum as dessas referências estiveram carregadas de am bigüidade, com o a idéia de autonom ia e com unidade.

A principal m atriz articuladora desse repertório foram as Com unidades Eclesiais de Base, e a influência, nesse sentido convergente, da Pedagogia do Oprim ido de Paulo Freire publicada no Brasil em 1970.

Com o avançar da década de 1980 e da redem ocratização da sociedade brasileira, as relações entre Estado10 e a sociedade civil11 foram se alterando

e novos dilem as surgiram .

É possível fazer educação popular dentro da escola? Os m ovim entos populares devem participar do PT? De que form a? Os centros de assessoria12

docum entação consultada, quase em sua m aioria produzida por m ovim entos, centros de educação popular e pastorais atu antes no m eio urbano.

10 Defino Estado em sentido restrito “sociedade política” : aparelhos militares e

burocráticos de dom inação e coerção ( Est ado- coerção) . ( Coutinho, 2003) .

11 Defino a sociedade civil com o aparelhos privados, local de construção da

hegem onia ( direção política e construção de consenso) e esfera de m ediação entr e a infra- estrutura econômica e a sociedade política. Na t eoria do “Est ado am pliado” gram sciana a sociedade política ou o Estado- coerção e a sociedade civil, local de produção do consenso par a a dominação, est ão situados na superestrutura em bora em penhem funções diferentes na organização e reprodução do poder. Nas sociedades de tipo “ ocidental” no qual a sociedade civil é forte e com plexa devido ao alto grau de socialização da política, o Est ado tende a ser m ais hegemônico- consensual, em bora o uso da coerção sej a perm anentem ente utilizado. ( Coutinho, 2003) .

12 Juridicam ente não há distinção entre ONGs e centros de assessoria de educação

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devem se dissolver integrando os m ovim entos ou devem constituir um a esfera própria? Devem os centros de assessoria e m ovim entos populares participar de gestões m unicipais do Partido dos Trabalhadores?

Essas eram questões vivas para os diversos grupos que encontravam na educação popular um im portante referencial de form ação e organização. O debate em torno desses desafios foi com pondo o repertório da década de 1980 e abrindo cam inhos que adentraram os anos 1990.

A partir da década de 1990 o cam po voltou a sofrer alterações significativas desem bocando no cham ado processo da “refundação da educação popular” . Um “ m ovim ento” revisionista das práticas e concepções vigentes até fins da década de 1980. Verem os com o esse processo foi m arcado por m udanças bastante significativas no cam po da educação popular trazidas, principalm ente, pelas experiências de educação e participação em prefeituras petistas e por ONGs que se consolidaram com o um a “esfera própria” em relação ao m ovim entos populares.

I sso porque era um pouco a marca da educação popular num m om ento. A grande novidade que o exer cício de governo nos possibilitou foi justam ente um reconhecim ento de uma diversidade m aior de interlocutor.

Em um momento em Santo André eu cheguei a conclusão, depois de escut ar m uita gente, qu e t alvez fosse m elhor, em vez de se falar part icipação popular, agente poderia falar em par ticipação cidadã que eram um t ipo de m atriz discursiva que er a capaz de as pessoas se identificarem. (Pedro Pontual, entrevista) .

A refundação da educação popular est á inscrita no que Dagnino ( 2004) denom inou de “ confluência perversa”. O m ovim ento de luta pela am pliação dos direitos das classes t rabalhadoras e de afirm ação de um novo ordenam ento social encontrou um m ovim ento oposto – aprofundam ento do neoliberalism o no Brasil.

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O atual repertório da educação popular com porta elem entos que estão na interseção entre os dois m ovim entos acim a citados. Significa que o cam po vem assim ilando referencias do discurso neoliberal próxim o ao da Terceira Via.

Nessa nova conj untura, novos repertórios surgiram . Suas possibilidades de resistir e propor alternativas à hegem onia neoliberal trouxeram novos im passes e conflitos para o cam po da educação popular, acirrando disputas em torno de projetos e significações.

Na busca por respostas houve um a redefinição do cam po. Grupos prom ovem novas leituras que deslegitim am significados e proj etos que em m om ento anteriores predom inaram ; outros buscam atualidade na perm anência de alguns elem entos presentes em repertórios anteriores.

Definim os, portanto, com o m arco para form ação dos repertórios atuais, a década de 1990. Significa que m uitas das questões colocadas para o repertório anterior se desenrolaram e se afirm aram com o cam inho prioritário, m esm o que interpretações e práticas dissidentes disputassem o cam po. Por sua própria história, o atual processo de construção do cam po da educação popular não é retilíneo ou consensual, pelo contrário, é m arcado por um a verdadeira “guerra de significados e legitim ações” em torno de proj etos políticos, espaços e instituições de atuação; propostas político-pedagógicas, e atores para as quais as práticas devem ser destinadas.

M e t odologia

A investigação prioriza a análise histórica da form ação dos repertórios que com põem o cam po da educação popular no Brasil. Por repertórios entendem os o proj eto histórico e um certo “ saber fazer educativo” expressos por linguagens e valores partilhados pelos diversos agrupam entos políticos e instituições atuantes no cam po da educação popular.

A seleção e leitura da bibliografia sobre educação popular no Brasil nos aj udaram a fazer um a prim eira aproxim ação da história da educação popular em nosso país, identificando tam bém , certas “ tendências” para os diferentes períodos.

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estudos bibliográficos sobre os diferentes m ovim entos de cultura e educação popular indicavam convergências decisivas.

Tornou-se necessário recorrer a docum entos produzidos por estes m esm os m ovim entos com o intuito de conferir a existência de elem entos com uns, ou sej a, um repertório m ínim o que com punha o cam po ent re 1960 e 1964. Selecionam os um conj unto de docum entos produzidos pelos diferentes m ovim entos políticos com caráter educativo, entre eles: Centro Popular de Cultura da UNE (CPC) – coordenação nacional; Movim ento Educação de Base ( MEB) ; CPC de Belo Horizonte; Movim ento de Cultura Popular (MCP) ; Cam panha de Pés no Chão Tam bém se Aprende a Ler; Sistem a Paulo Freire e as resoluções do I Encont ro Nacional de Alfabetização e Cultura Popular que se realizou em Recife de 15 a 23 de setem bro de 1963.

Este corpo docum ental foi publicado por Osm ar Fávero ( 2001) e está organizado em seis partes: idéias geradoras; conceitos assum idos; sistem a Paulo Freire; Movim ento de educação de base; esforços de união e integração; e revisão dos anos 60, nos anos 60.

A fim de identificar elem entos que com punham um repertório m ínim o, m as tam bém possíveis dissensos, adotam os com o critério para a análise dos docum entos a repetição de tem as, quest ões e referências. Em seguida verificam os com o essas questões eram tratadas pelos m ovim entos.

Esse trabalho resultou na organização de nove quadros. Quadro I – Polarização ideológica na produção, circulação e consum o cultural; Quadro I I – Cultura: construção e realização hum ana; Quadro I I I – Conscientização; Quadro I V – Proj eto político; Quadro V – Nucleação com o form a de organização política; Quadro VI – Nacionalism o e cultura; Quadro VI I – Realidade com o ponto de partida; Quadro VI I I - Relação entre agentes e classes populares; Quadro I X – Definição cultura popular ( anexo 1) .

Essas referências foram t om adas com o elem entos cent rais e aprofundadas a partir da tentativa de contextualizá-las no período histórico em que foram gestadas.

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repertório anterior. Neste sentido nos perguntam os novam ente que elem entos com punham esse novo m om ento repertório.

O CEDIC localizado da PUC/ São Paulo foi o prim eiro arquivo consultado. Neste encontravam -se duas caixas rotuladas com o educação popular. Os docum entos foram lidos e selecionados de acordo com os seguintes critérios: data, docum entos produzidos nas décadas de 1970 e 1980: docum entos que abordassem aspectos educativos em sua am pla dim ensão (relatórios de encontros, sistem atização de experiências educativas, convites para cursos de form ação ou encontros, textos de reflexão sobre a educação popular, dentre outros).

O segundo Centro de pesquisa consultado foi o Centro de Docum entação Pastoral Vergueiro ( atual Centro Vergueiro) , localizado no bairro da Bela Vista, cidade de São Paulo. O CPV foi fundado em 1972 para docum entar as lutas do m ovim ento popular e sindical e em 1982 se encarregava de cursos form ativos na área da educação popular, fazendo, portanto, parte da história narrada.

No arquivo, dentre as m uitas pastas com especificidades no interior do cam po educativo popular, com o pesquisa-ação ou com unicação popular, encontram -se 7 pastas rotuladas com o educação popular. Cada pasta contém um a quantidade grande de m aterial.

A análise dos docum entos buscou a identificação do repert ório através de tem as, questões e referências recorrentes nos docum entos e, novam ente, suas diferentes interpretações. Estes foram produzidos por diferentes grupos de educadores populares, tam bém em diferentes encontros e por fim , em diferentes localidades do Brasil. Tam bém encontram os docum entos do Fórum Nacional de Educação Popular (FONEP), organização nacional com posta por diferentes centros de educação popular e m ovim entos populares espalhados pelo Brasil.

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Proj eto político; Quadro IX - Atores políticos para quais as práticas são destinadas e Quadro X - Mem ória e experiência dos trabalhadores: cam inho m etodológico.(anexo 2).

Os docum ent os analisados entre m eados da década de 1970 e final de 1980 nos m ost raram que m udanças significativas no repert ório com eçavam a acontecer no fim da década de 1980 e inicio da década de 1990. A literatura sobre educação popular no Brasil indicava esse m esm o percurso sint etizado na cham ada “ refundação da educação popular” .

I ndicam os com o m om ento de m udança do repertório vigente entre m eados da década de 1970 e 1980, o início dos anos 1990 e analisam os esse m ovim ento de transição a partir dos m ateriais sobre a “ refundação da educação popular” produzido pelo CEAAL e por outros autores, análise das entrevistas sem i-estruturadas com educadores e educadoras populares atuantes em diferentes “espaços” e out ros textos escritos por m ovim entos populares e educadores.

As entrevistas organizadas em dois eixos: reconstrução da traj etória com o educador (a) popular e práticas atuais, e horizonte de transform ação possíveis e desejáveis, têm com o obj etivo principal descobrir com o os entrevistados constróem suas práticas e interpretações sobre o cam po da educação popular a partir da década de 1990.

Utilizam os a técnica de entrevista sem i- estruturada no qual “ o pesquisador organiza um conj unto de questões sobre o tem a que está sendo estudado, m as perm ite, e às vezes até incentiva, que o entrevistado fale livrem ente sobre assuntos que vão surgindo com o desdobram entos do tem a principal” ( Pádua, 2003, p.67). O roteiro proposto abordou as seguintes questões: a) dados de identificação do entrevistado: nom e, idade, sexo, instituição em que atua, form ação, data e local da entrevista; b) convite a falar da trajetória com o educador (a) popular; c) contar proj eto/ trabalho que está desenvolvendo atualm ente; d) com o o trabalho atual da sua instituição/ m ovim ento se insere ( representa) num proj eto político m ais am plo?

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dos Trabalhadores Desem pregados); ONG fundada em 1984 – I nstituto Pólis; um a instituição que está ente um a ONG e um centro de assessoria – Centro Gaspar Garcia de Direitos Hum anos; e a política pública de m obilização e educação popular do governo federal de Luis I nácio Lula da Silva – Rede de Educação Cidadã ( RECI D) .

* * *

O trabalho está organizado em cinco partes. I ntrodução, três capítulos e considerações finais. No prim eiro capítulo o leitor encontrará um a análise contextualizada do repertório da educação popular vigente entre 1960 a 1964, período correspondente à form ação do repertório inicial do cam po no Brasil.

O segundo capítulo trata do repertório da educação popular iniciado em m eados de 1970 e segue até a década de 1980. A fim de buscar perm anências e rupturas na construção do cam po da educação popular, indicam os alterações significativas no fim do período. Estas se m ostraram com o possibilidades abertas para o repertório posterior.

Por fim , no terceiro e últim o capítulo, tratam os de alguns dos im passes atuais do cam po da educação popular no Brasil, utilizando estudos, docum entos e entrevistas a partir da década de 1990.

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CAPÍ TULO 1

Movim ent os de Cultura e Educação Popular:

repert ório dos anos 1960

(...) Uma educação pela pedr a: por lições;

Para aprender da pedr a, freqüent á- la; Capt ar sua voz inenfática, impessoal ( pela dicção ela começa as aulas) . A lição de moral, sua resist ência fria ao que flui e a fluir, a ser m aleada; a de poética, carnadur a concret a; a de economia, seu adensar- se com pact a: lições da pedra (de fora para dentro, cartilha m uda) , par a quem soletrá- la.

João Cabral de Melo Neto, A educação pela pedra, 1966.

Denom inam os m ovim entos de cultura e educação popular os projetos ou program as de educação não- form al, isto é, não inseridos no sistem a regular de ensino, presentes no Brasil entre 1960 e 1964. São características dos m ovim entos educativos: a) o público destinatário é, em sua m aioria, adultos das classes t rabalhadoras vivendo em condições de extrem a pobreza no m eio urbano ou rural, com ênfase para este segundo; b) am pla participação de organizações de esquerda no quadro de educadores; c) o centro do processo de ensino- aprendizagem é alfabetização, agregando outras atividades culturais; d) oposição político-pedagógica à educação de adultos desenvolvida na Am érica Latina no pós- Segunda Guerra Mundial sob orientação da UNESCO, dentre elas, o desenvolvim ento com unitário e extensão rural; e) os educadores são, em sua m aioria, estudantes universit ários pertencentes às classes m édias.

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prom ovido pela prefeitura de Recife sob a adm inistração de Miguel Arraes; o Centro Popular de Cultura ( CPC), ligado a UNE e a cam panha potiguar De Pés No Chão Tam bém se Aprende a ler, im plem entada durante a gestão de Dj alm a Maranhão. Nosso t rabalho consistiu em , à luz do contexto histórico, recuperar alguns dos elem entos que com põe o repertório destes m ovim entos. Conte xto histórico e forças políticas

Estudos recentes ( Ferreira; Reis, 2007 e Ferreira, 2001) vem recolocando a participação das classes trabalhadoras entre 1946 e 1964 em novos term os - a intensa e cont urbada experiência dem ocrática não teria sido protagonizada por suj eitos com pletam ente apáticos, cont rolados e subordinados ao Estado. Contesta- se a im agem do cam ponês im erso em um m undo de relações pessoais no qual a obediência e subserviência eram regras, conform ando um exército de m ão de obra igualm ente passivo nas cidades. Nesta leitura, as lutas cam ponesas recentes, fins do século XI X e século XX, são tidas com o atos de insubordinação, revolta contra a ordem estabelecida ou busca de novos ordenam entos sociais pautados pela solidariedade. É o caso de Canudos na Bahia e do Contestado em Santa Catarina no início do século XX. ( Boneti, 2007) .

Em segundo lugar, os estudos sobre os trabalhadores no m eio urbano13

indicam um a relevante organização de partidos políticos, frentes parlam entares, cam panhas, m ovim entos estudantis e grupos de cultura e educação popular.

A agitação no Brasil durante esse período se inseri nas constantes insubordinações do pós- segunda guerra m undial. A revolução cubana, as lutas nacionalistas africanas, os partidos com unistas, enfim , a disputa por proj etos distintos estava m undialm ente declarada.

Se o Brasil viveu reflexos desse m ovim ento m ais am plo, as particularidades nacionais tam bém abriram possibilidades para em ergir um conj unto de organizações no cam po e na cidade.

13 Ver Nacionalism o e reform ismo radical (1954-1964) , organizado por Jorge Ferr eira

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Nesse sentindo, os argum entos construídos por Oliveira ( 2003) indicam que a tendência do aum ento da exploração dos trabalhadores no período produziu um a contra-tendência de luta pela am pliação de direitos.

A exploração dos trabalhadores do cam po e da cidade esteve associada ao m odelo de industrialização brasileiro que com binou relações não-capitalistas de produção no cam po e tam bém na cidade, com as crescentes relações capitalistas de produção.

No cam po, local de m aior atuação dos m ovim entos de cultura e educação popular, a oferta elástica das terras e da m ão de obra m anteve um padrão “ prim itivo” de organização, preservando a estrutura fundiária brasileira que abastecia a cidade de trabalhadores e de alim entos produzidos a baixo custo. Por sua vez, a reprodução dos trabalhadores urbanos dependia do custo da alim entação e da rede de serviços nas cidades não propriam ente urbana. A produção industrial realizada no m ercado interno tinha um a característica duplam ente concentracionista: criou- se um setor de ponta que dinam izou a econom ia, com o a industria autom obilística, e concentrou a renda nas cam adas m édias e altas, ao m esm o tem po em que aum entou o em pobrecim ento dos trabalhadores.

Neste contexto, o debate em torno do padrão de desenvolvim ento nacional form ou o pano de fundo sob o qual diferentes posições políticas construíram -se. Para além do nacionalism o, sem dúvida o grande “ sentim ento” da prim eira m etade da década de 1960, alguns agrupam entos políticos influenciados pela revolução Cubana iniciaram percursos de radicalização, dentre estes as Ligas Cam ponesas.

Mas foi em 1961 com a renúncia de Jânio Quadros à presidência da República e o im passe para a sua sucessão, que o debate em torno das questões nacionais ganhou m aior densidade.

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Frente à crescente m obilização popular, a saída encontrada foi a instauração do regim e parlam entarista im posto ao congresso brasileiro por um a j unta m ilitar, evitando que João Goulart, liderança petebista e vice-presidente, assum isse o cargo.

Graças à m obilização popular pela realização do plebiscito, o país retornou ao sistem a presidencialista em 1963. As pressões sobre João Goulart aum entaram , sobretudo por set ores nacionalistas e com unistas que defendiam e im pulsionavam as reform as de base. Os conflitos no cam po e as greves no m eio urbano apontavam para a radicalização do proj eto nacional e para luta pela am pliação dos direitos políticos das classes trabalhadoras, com o direito de voto ao analfabeto, legalidade do PCB e extensão dos direitos trabalhistas aos trabalhadores do cam po. (Toledo, 1987).

Foi no intenso debate sobre seu conteúdo que as reform as de base foram ganhando contorno e sentido. Debatia- se em universidades, partidos, I grej as, m ovim entos de cultura e educação popular e jornais com o sem anário Brasil Urgente, anim ado pelo dom inicano Frei Carlos Josaphat .

Eram reform as que traziam para o centro da discussão as estruturas arcaicas socioeconôm icas de um país que desejava ser “ m oderno”: a regulam entação da propriedade rural, inclusive a disciplinação do arrendam ento de terras e a desapropriação por interesse social, além do estatuto do trabalhador rural. Despontou no cenário nacional o debate sobre a exploração no cam po e explicitou- se a com posição política da Câm ara Federal form ada m aj oritariam ente por proprietários rurais e conservadores filiados ao PSD e UDN.

As ligas cam ponesas e os sindicatos rurais organizados pela I grej a e por com unistas pressionaram pelas m udanças no cam po. O PCB e o Partido Operário Revolucionário (POR) deslocaram m ilitantes para a região Nordeste e a crescente organização dos trabalhadores rurais avolum ou os conflitos pela terra. (Neto, 2007) .

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As duas prim eiras orientações aglutinaram - se na Frente Mobilização Popular ( FMP) representada pela Confederação Geral dos Trabalhadores ( CGT) , Ligas Cam ponesas, Frente Parlam entar Nacional (FPN) e UNE, além de outras correntes de esquerda.

Os m ovim entos de Cultura e Educação popular surgiram com o diálogo e resposta a essa conj untura. Diferentes agrupam entos políticos situados entre “ radicais” e “ nacional - reform istas”, possuíram em com um a aposta no trabalho de educação e cultura com o capaz de articular e construir consensos em torno de proposta políticas. Podem os, port anto, falar em projetos políticos- pedagógicos na m edida em que esses m ovim entos articularam à esfera pedagógica, entendida com o educação política, a discussão de proj eto nacional m esm o que pouco refletido e sistem atizado.

O intenso debate político e econôm ico em torno das reform as de base e do m odelo econôm ico encontrou seu correspondente no plano da cultura. Pela prim eira vez agrupam entos políticos que desej avam transform ar a realidade brasileira form aram um “grande m ovim ento” de intervenção cultural.

Na história brasileira é recorrente a associação entre o desejo de ser m oderno e a suposta incapacidade intelectual das classes t rabalhadoras. Essas supostam ente retraíam a possibilidade de m odernização num duplo j ogo representado pelo despreparo para as dem andas dem ocráticas e a m á qualificação profissional no m eio urbano e rural. Wanderley ( 1984 e 1994) , Germ ano ( 1989) e Brandão ( 1983) apontam a supervalorização da educação com o inst rum ento de m udança social. Wanderley e Brandão denom inam essa concepção de culturalista; Germ ano caracteriza- a com o culturalism o ou otim ism o pedagógico.

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Os m ovim entos t am bém apresentaram um a certa continuidade com a interpretação das classes trabalhadoras com o atrasadas, desconhecedoras e carentes da cultura m oderna14. Se no cam po da educação popular a ruptura

com essa interpretação só aconteceu duas décadas adiante, elem entos de contestação j á estavam presentes nos anos 1960 - ainda que a relação entre objetividade e subj etividade15 fosse feita de form a bastante esquem ática,

com o atesta o m odelo predom inante no CPC em que a cultura elaborada pelos trabalhadores era sim ples reflexo dos valores im perialistas, a percepção dos trabalhadores sobre a realidade que os envolvia passou a ser fundam ental para alguns agrupam entos de esquerda.

Esse fato só foi possível pela em ergência das classes trabalhadoras no cenário nacional e o rom pim ento, ainda que parcial, de um a parcela da classe m édia brasileira, em sua m aioria jovens estudantes, com um a visão predom inante que excluía os trabalhadores da arena política.

Buscar com preender e criar um a cultura nacional que “sustentasse” a independência econôm ica e política com o m eio e expressão de hom ens conscientes e enraizados foi a grande obstinação dos m ovim entos. Esse foi o sentido m ais usual da expressão “ autêntica”.

M ovim e n t os de cult u r a e e du ca çã o popu la r e gr u pos polít icos.

Os m ovim entos de cultura e educação popular foram espaços que abrigaram j ovens m ilitantes de diferentes agrupam entos políticos. Dentre as forças políticas com relevância no Brasil dos anos 1960, exerceram influência sobre os m ovim entos de cultura popular o PCB; a Ação Popular ( AP); a UNE; o I nstituto Superior de Estudos Brasileiros ( I SEB) e as gestões m unicipais das cidades de Recife e Natal, representantes de um certo nacionalism o-antiim perialista.

14

A ciência/ escolarização, a industrialização e a urbanização foram os três grandes pilares que acom panharam o seu desenvolvimento e que car acterizaram o mundo m oderno e sua busca incessant e de m ais ordem, progresso e modernização. ( Paludo, 2001, p. 22) .

15 Adoto o conceito de subjetividade elaborado por Carrilo (2004, p.38) . “ La categoría

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É tam bém im portante assinalar que entre 1962 e 1964, criticas ao PCB desaguaram num m ovim ento de renovação da esquerda brasileira. A Organização Revolucionária Marxista- Política Operária fundada em 1961, a AP ( 1962) e as próprias Ligas Cam ponesas expressam essa ruptura.

Não é obj etivo do trabalho analisar esses diferentes agrupam entos políticos, irem os destacar apenas os posicionam entos sobre a estratégia política defendida entre 1960 e 1964.

Segundo Silva e Santana (2007) , o período que se abre entre 1954 e 1964, foi de intensa participação do PCB no m ovim ento sindical, articulando- se com outras forças políticas com o o PTB.

A tese sobre o Brasil dual defendida pelo PCB e divulgada em m arço de 1958 na Declaração sobre a polít ica do Part ido Com unist a Brasileiro, reforçava a revolução brasileira em duas etapas. A prim eira delas consistia nas reform as dem ocráticas- burguesas nacionais. A segunda seria a passagem para o com unism o. O apoio do partido à candidatura de Kubitschek e do Marechal Henrique Lott em 1960, m arcou um novo m om ento em que a defesa da via insurrecional foi substituída pelas reform as e pela luta pela legalidade.

Os autores apontam , ainda, divergências em relação ao papel da burguesia na revolução burguesa. Um a ala m inoritária do partido denunciava o acordo com a burguesia “entreguista” e propunha a aliança com os t rabalhadores. A instauração do com unism o a partir de duas etapas se traduziu no apoio à reform as de base com o form a de acelerar a consolidação do capitalism o no Brasil. Dentre as reform as, a agrária apareceu com o central um a vez que os resquícios feudais presentes no cam po brasileiro eram o grande entrave para a revolução nacionalista na interpret ação do PCB. Pressionando pelas reform as de base, o PCB, a partir de 1962, estabeleceu um a relação bastante conflituosa com Jango.

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A Ação Popular, organizada entre 1962 e 1963 a partir de um a dissidência da JUC de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia tam bém defendia um a revolução socialista im ediata e, diferente da vivida na União Soviética, um socialism o dem ocrático ( Sales, 2007) . A AP exerceu forte influência na UNE - entre 1962 e 1964 os seus presidentes pertenciam todos à AP. Os docum entos sobre cultura e educação popular produzidos durantes o período estudado, registraram um a forte influência das concepções cristãs vindas da Juventude Universitária Católica.

As Ligas Cam ponesas apareceram em 1955 no Engenho Galiléia, Pernam buco. Assim denom inadas pela com paração com as antigas ligas articuladas no Nordeste pelo PCB no período pós 1945, as Ligas tiveram sua base social form ada por foreiros ( Bastos, 1984) . Os foreiros, assim denom inados por com binarem o pagam ento do aluguel de terras com o trabalho gratuito nas terras do proprietário, cresceram na franj a da econom ia algodoeiro-pecuário que acabou subordinando a sua própria form a de reprodução à econom ia açucareira, incapaz de com pet ir com a produção Caribenha. A econom ia açucareira, com o única form a de sobrevivência, ainda que de form a m arginal, passou a adotar form as não-capitalistas de reprodução da força de trabalho, t ípicas da econom ia algodoeiro- pecuária ( Oliveira, 1987).

O foro, form a de pagam ento da terra arrendada em dinheiro, era pago através da produção de algodão, cultura industrial, e se com binava com relações de trabalho não-assalariadas com o o cam bão - pagam ento em form a de trabalho gratuito nas terras do proprietário.

“ Reform a agrária na lei ou na m arra” : As Ligas foram radicalizando seu proj eto e suas form as de m obilização. A revolução cubana abriu um novo cam inho para os m ovim entos cam poneses m ostrando ser possível um processo revolucionário fora dos m oldes da revolução burguesa defendida pelo PCB e num a econom ia parcam ente industrializada. Neste cam inho as Ligas Cam ponesas organizaram um centro de treinam ento m ilitar em Goiás e passaram a desenhar um instrum ento político que aglutinasse m ovim ento de m assa e um partido centralizado. ( Grynszpan; Dezem one, 2007).

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desenvolvim ento o Instituto foi se form ando com o espaço de reflexão, m as tam bém de intervenção política.

A partir de 1960, o I SEB sofreu um a radicalização com um grupo m ais à esquerda na direção, principalm ente Álvaro Vieira Pinto e Nelson Werneck Sodré. Segundo Toledo ( 2007) o I nstituto se tornou um im portante espaço para a intelectualidade progressista unificando nacionalistas e socialistas. Muitas das posições defendidas pelo PCB com o a etapa dem ocrático-burguesa, a organização de um a frente am pla capaz de enfrentar a contradição principal, nação e anti-nação, e o atraso do cam po feudal com o em pecilho para m odernização, eram defendidas pelo I SEB de Álvaro Vieira Pinto. Segundo o m esm o autor, o Partido Com unista e Vieira Pinto, tam bém concordavam na definição da classe que se tornaria hegem ônica e conduziria a frente am pla: os operários brasileiros.

O I SEB participou ativam ente da cam panha pela legalidade, pela restauração do presidencialism o e pelas reform as de base. Em 1962 a criação do “ com ando dos trabalhadores intelectuais” reuniu m em bros do Partido Com unista, intelectuais do I SEB e integrantes do CPC da UNE.

Na configuração das forças políticas atuantes no Brasil entre 1960 e 1964 podem os afirm ar que a partir de 1960, o PCB e o I SEB se tornam im portantes interlocutores, afinal lutaram lado a lado na cam panha pela legalidade, nas m anifestações pela volta ao presidencialism o e pelas reform as de base.

É difícil avaliar a influência de cada agrupam ento político nos m ovim entos de cultura e educação popular. Em sua m aioria as experiências abrigaram diferentes grupos organizados nacionalm ente e, com o vim os acim a, com leituras distintas sobre a realidade brasileira.

Referências

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