Daniel Ferreira Lucato
Sistemas do Imaginário: A transformação de dispositivos
industriais em arranjos artísticos.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PUC-SP
Daniel Ferreira Lucato
Sistemas do Imaginário: A transformação de dispositivos
industriais em arranjos artísticos.
MESTRADO EM TECNOLOGIAS DA INTELIGÊNCIA E DESIGN DIGITAL
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Agradecimentos
Agradeço a todos aqueles que até hoje
Para estudar a transformação de dispositivos industriais em arranjos artísticos esta pesquisa faz a análise de um corpus de produção artística. São apresentados os processos que envolvem o desenvolvimento dos objetos, em especial a apropriação, a desconstrução de algumas apropriações, o
DUPD]HQDPHQWRGHVVDVDSURSULDo}HVHSRU¿PDFRQVWUXomRGRVWUDEDOKRVDUWtVWLFRV
Essa apresentação visa colocar o leitor a par desse tipo de produção artística. Em um segundo momento, são feitas comparações entre as propriedades e funções
GRVWUDEDOKRVGHVHQYROYLGRVFRPDVSURSULHGDGHVHIXQo}HVSHUFHELGDVSRUXPD
amostra de espectadores. Com algumas questões recebidas pelos espectadores,
HPRFDVL}HVQDVTXDLVRVWUDEDOKRVHVWLYHUDPH[SRVWRVIRLSRVVtYHOFRQ¿UPDUPRVD
LQÀXrQFLDGRV¿OWURVSHUFHSWLYRVGHFDGDVXMHLWR9LPRVFRPRDSHUFHSomRFRQWULEXL
SDUDDVGLYHUVDVIRUPDWDo}HVGHXPPHVPRWUDEDOKRDUWtVWLFR
2LQtFLRGDSHVTXLVDYLVDGHVWULQFKDUWRGRVRVSURFHVVRVTXHHQYROYHP
DFULDomRGRVWUDEDOKRVDUWtVWLFRV6mRDQDOLVDGDVDVHVSHFL¿FLGDGHVSUHVHQWHVHP
cada etapa da própria produção. Para tanto são utilizados como objetos de estudo
RVWUDEDOKRVSURGX]LGRVDWpHQWmR6mRDSUHVHQWDGDVLPDJHQVFDUDFWHUtVWLFDV
período da carreira artística em desenvolvimento. Como apoio a essa análise são apresentados, ao longo do texto, alguns artistas que contribuíram para que tais
WUDEDOKRVVHMDPUHFRQKHFLGRVQRFDPSRDUWtVWLFR6mRDSUHVHQWDGRVWDPEpPDOJXQV
DUWLVWDVFRQWHPSRUkQHRVEUDVLOHLURVTXHSURGX]HPWUDEDOKRVRVTXDLVSRVVXHP
D¿QLGDGHVFRPRVREMHWRVGHHVWXGRVHMDPHODVYLVXDLVPDVSULQFLSDOPHQWH
conceituais. São artistas que produzem gambiarras com dispositivos industriais
UHFLFODGRVFULDQGRWUDEDOKRVTXHRSHUDPQRHUURQDLQFHUWH]DQDLQRSHUkQFLD
GDQGRDHOHVRXWUDV¿QDOLGDGHVHFDUDFWHUtVWLFDV
$RWpUPLQRGDDQiOLVHGDSURGXomRVmRWUD]LGRVRVUHODWRVGHXPD
amostra de espectadores. O objetivo de analisar o contato do espectador com
RWUDEDOKRDUUDQMRVDUWtVWLFRVpGHPRQVWUDUTXHRVPHVPRVSRGHPSDUWLOKDU
de um momento de criação, formatando funções, articulações, agenciamentos e
SURSULHGDGHVGHDFRUGRFRPRVVHXVSUySULRV¿OWURVSHUFHSWLYRV1HVVDHWDSDVmR
XWLOL]DGDVDVWHRULDVGHDJHQFLDPHQWRVGDGXSOD*LOOHV'HOHX]HH)pOL[*XDWWDULH
os conceitos de imaginário, obra aberta e percepção, com destaque aos autores,
UHVSHFWLYDPHQWH-XUHPLU0DFKDGRGD6LOYD8PEHUWR(FRH0DXULFH0HUOHDX3RQW\
SDUDVHUYLUHPGHDSRLRjKLSyWHVHOHYDQWDGD
UHVHDUFKDOVRSUHVHQWVRPHFRQWHPSRUDU\DUWLVWV%UD]LOLDQVZKRSURGXFHZRUNV
ZKLFKKDYHDI¿QLWLHVZLWKWKHREMHFWVRIVWXG\YLVXDOEXWPRVWO\FRQFHSWXDO7KH\DUH
DUWLVWVZKRSURGXFHUHF\FOHGKDFNVZLWKLQGXVWULDOGHYLFHVFUHDWLQJDUWZRUNVWKDWUXQ
LQHUURUXQFHUWDLQW\DQGLQDFWLYLW\JLYLQJWKHPJRDOVDQGRWKHUFKDUDFWHULVWLFV
$WWKHHQGRIWKHSURGXFWLRQDQDO\VLVDUHEURXJKWUHSRUWVRIDVDPSOH
RIYLHZHUV7KHSXUSRVHRIDQDO\]LQJWKHFRQWDFWEHWZHHQWKHVSHFWDWRUDQGWKH
DUWZRUN±DUWLVWLFDUUDQJHPHQWV±,WLVWRSURYHWKDWWKH\FDQVKDUHDPRPHQWRI
FUHDWLRQIRUPDWWLQJIXQFWLRQVMRLQWVDVVHPEODJHVDQGSURSHUWLHVLQDFFRUGDQFHZLWK
WKHLURZQSHUFHSWXDO¿OWHUV$WWKDWVWDJHWKHWKHRULHVXVHGDUHWKHDVVHPEODJHVRI
GRXEOH*LOOHV'HOHX]HDQG)pOL[*XDWWDULDQGWKHFRQFHSWVRILPDJLQDWLRQSHUFHSWLRQ
DQGRSHQZRUNHVSHFLDOO\IRUDXWKRUVOLNH-XUHPLU0DFKDGRGD6LOYD8PEHUWR(FRH
0DXULFH0HUOHDX3RQW\WRVHUYHDVVXSSRUWWRWKHUDLVHK\SRWKHVLV
Resumo
Abstract
Capítulo I - Percursos
1. Percurso da Pesquisa 2. Percurso Artístico 3. Percurso da Arte
Capítulo II - Objetos de Estudo
2V7UDEDOKRV
2. O Ateliê
3. A Desconstrução
Capítulo III - O Processo Artístico
1. Introdução 2. Apropriação
2.1 Origem dos Objetos 2.2 Objetos Apropriados
4. Repositório
4.1 Armazenar 4.2 Catalogar
4.3 Estado de Hibernação 4.4 Repositórios de Artistas 5. Construção
(VFROKDGRV,WHQV
5.2 Pesquisa e Experimentações 5.3 Gambiarra
5.4 Reciclagem 5.5 Títulos
6. Processos de Seleção
Capítulo IV - O Espectador
1. Articulações e Agenciamentos 2. Percepção e Imaginário 3. O Objeto do Espectador
Economia doméstica. 3 Mobiliário e utensílios de casa. 4Comodidade,
melhoria de haveres. 5Especulação com fundos públicos. 6Acordo,
entendimento.7Combinação fraudulenta; logro, negociata. 8Conveniência.
9Casamento.10ch Amásia. 11 Mat Ordem por que podem ser dispostos
dis.po.si.ti.vo:
adj (lat dispositu+ivo) 1 Próprio para dispor. 2Que contém ordem,
prescrição, disposição; determinativo. sm 1 Regra, preceito. 2Dir Artigo
de lei. 3Qualquer peça ou mecanismo de uma máquina destinados a uma
função especial. 4Inform Cada uma das várias peças úteis ou máquinas
1. Percurso da Pesquisa
A produção artística foi pesquisada durante o curso de graduação
HP$UWHV9LVXDLVFRQFOXtGRQRDQRGH1DTXHODpSRFDFRPRUHTXLVLWR SDUDDREWHQomRGRWtWXORIRLQHFHVViULRGHVHQYROYHUXPWUDEDOKRDUWtVWLFRHXPD PRQRJUD¿D)RLSURGX]LGRXPWUDEDOKRDUWtVWLFRLQWLWXODGR3(/7,(5HXPD PRQRJUD¿DTXHFRQWLQKDGHWDOKHVGRSURFHVVRGHFRQVWUXomRGHVVHWUDEDOKRXP PDSHDPHQWRGRVWUDEDOKRVPDLVVLJQL¿FDWLYRVSURGX]LGRVDRORQJRGRFXUVRHXPD DQiOLVHFUtWLFDVREUHDSUySULDSURGXomR$RWpUPLQRGRFXUVRREVHUYRXVHTXHD SHVTXLVDDEULXQRYRVFDPLQKRVTXHSRGHULDPVHUH[SORUDGRV&KHJRXVHDVVLPD presente pesquisa. (VVDGLVVHUWDomRWUD]GHVVDYH]WRGRVRVWUDEDOKRVWULGLPHQVLRQDLV
produzidos entre os anos de 2006 e 2009 como objeto de estudo.
XPGRVSULQFLSDLVFDPLQKRVDEHUWRVSHODPRQRJUD¿DSURGX]LGD(PERUDQDTXHOH
momento o foco era especialmente na apresentação dos processos de produção de
XP~QLFRWUDEDOKRFRQVWDQWHPHQWHRWH[WRVHGLUHFLRQDYDSDUDRVHVSHFWDGRUHVH
DVUHODo}HVGHVHQYROYLGDVHQWUHRVPHVPRVHRVWUDEDOKRVSURGX]LGRVDWpDTXHOH
instante.
São apresentados alguns relatos de questionamentos recebidos
HPYiULRVPRPHQWRVHPTXHRVWUDEDOKRVIRUDPH[SRVWRVDRS~EOLFRFRPRXPD
maneira de confrontar o objeto percebido por cada espectador com o que de fato
HQYROYHDSURGXomR$FRQVWUXomRGRVWUDEDOKRVSRVVXLGLYHUVRVSURFHVVRVH
HVSHFL¿FLGDGHVPDVRTXHGHIDWR¿FDDGLVSRVLomRGDPDLRULDGRVHVSHFWDGRUHV
são apenas os objetos produzidos. Esses sujeitos constroem para si um objeto,
IRUPDWDGRSHORVVHXVSUySULRV¿OWURVSHUFHSWLYRVDVVLPFRPRRFRUUHFRPRSUySULR
artista no momento da criação.
2. Percurso Artístico
maçarico. Com o passar do tempo outros materiais foram testados nesse mesmo
SURFHVVRSRUpPQHQKXPGHOHVUHVSRQGHXVDWLVIDWRULDPHQWH$VDSURSULDo}HVSRU
outro lado, continuavam a ser realizadas e cada vez mais materiais distintos eram
SRVVXtGRV(PSRXFRWHPSRDSHVDUGHDLQGDQmRVHUHPXWLOL]DGDVHPQHQKXP
WUDEDOKRGLYHUVDVPiTXLQDVFRPHoDUDPDVHUDSURSULDGDV&RPRRIRJRQmR
correspondia muito bem a esses objetos optou-se então por desconstruí-las. Munido com as diversas peças que surgiam das desconstruções, foi iniciada então uma reordenação das peças dos dispositivos industriais em arranjos artísticos.
2IRUPDWRDWXDODSUHVHQWDGRQHVVDSHVTXLVDpRUHVXOWDGRGHXP
UH¿QDPHQWRTXHFRPHoRXDVHUPROGDGRDSDUWLUGRVSULPHLURVWHVWHVUHDOL]DGRV
com as apropriações. Aos poucos as apropriações foram sendo direcionadas a
GHWHUPLQDGRVJUXSRVGHREMHWRVDRPHVPRWHPSRHPTXHDSURGXomRGRVWUDEDOKRV
IRLHVWDEHOHFHQGRGHWHUPLQDGRVFULWpULRVHSUHIHUrQFLDV+RMHRIRUPDWRGDSURGXomR
se encontra relativamente estável e apresentou poucas mudanças nos últimos anos.
GHREMHWRVLQGXVWULDLVGRFRWLGLDQRVHPTXHKDMDXPDJUDQGHHVFDQGDOL]DomRQR
campo da arte, pois no passado algum outro artista o realizou. De certa maneira
PXLWRVDUWLVWDVSHUPLWLUDPTXHKRMHVHMDPSURGX]LGRVHVVHVWUDEDOKRVHPDLV
TXHWDLVWUDEDOKRVVHMDPUHFRQKHFLGRVFRPRDUWH$VVLPVHQGRDOJXQVGHVVHV
importantes artistas são apresentados nessa pesquisa.
Em um segundo momento são apresentados artistas contemporâneos,
TXHSURGX]HPDWXDOPHQWHSRUHQWHQGHUTXHHVVHVFRPSDUWLOKDPRPHVPR
DPELHQWHYLYHQFLDGR3RULVVRWDPEpPIRUDPHVFROKLGRVDOJXQVDUWLVWDVEUDVLOHLURV
por entender que esses estão mais próximos da mesma realidade e do mesmo
FRWLGLDQR(VVDVGXDVRSo}HVSHUPLWHPXPROKDUKLVWyULFRGDTXLORUHDOL]DGR
anteriormente, que trouxe o campo da arte ao estado atual, assim como permite
XPROKDUPDLVSUy[LPRGDUHDOLGDGHDWXDOGRTXHHVWDVHQGRSURGX]LGRSRURXWURV
London, 1847
Caixa de madeira, croqui, cigarreira e objetos diversos. 18 x 16 x 21 cm
2006
Descrição
O arranjo com diversas partes de dispositivos industriais foi montado dentro de uma
SHTXHQDFDL[DGHPDGHLUD1DWDPSDGDFDL[DQDSDUWHLQWHULRUKiXPFURTXLGRVHX
possível funcionamento.
Necessidades de Montagem
2WUDEDOKRQHFHVVLWDGHXPDEDVHGHDSUR[LPDGDPHQWHPSDUDTXHRPHVPR
¿TXHDFHVVtYHOYLVXDOPHQWHDPDLRULDGRVHVSHFWDGRUHV2VXSRUWHSRGHUiVHUDOJR
Figura 2
Figura 4
ENIAC
Caixas de acrílico, chapas de acrílico e objetos diversos. 40 x 45 x 20 cm
2006
Descrição
Diversas partes de dispositivos industriais estão dispostas dentro de uma caixa de
DFUtOLFRWUDQVSDUHQWHVHSDUDGDVSRUDOJXPDVGLYLV}HVWDPEpPGHDFUtOLFR
Necessidades de Montagem
2WUDEDOKRQHFHVVLWDGHXPDEDVHGHDSUR[LPDGDPHQWHPSDUDTXHRPHVPR
¿TXHDFHVVtYHOYLVXDOPHQWHDPDLRULDGRVHVSHFWDGRUHV2VXSRUWHSRGHUiVHUDOJR
VHPHOKDQWHDXPFXERSDUDTXHVHMDSRVVtYHODRVHVSHFWDGRUHVREVHUYDUWRGRVRV
Figura 7
Figura 9
Biconvexos nº01
Caixa de madeira, pote de vidro, resina e objetos diversos. 60 x 30 x 35 cm
2006
Descrição
8PDUUDQMRFRPGLYHUVDVSDUWHVGHGLVSRVLWLYRVLQGXVWULDLVHVWDD¿[DGRHPXPD
estrutura de resina acrílica, a qual esta disposta dentro de um pote de vidro. Já o pote de vidro esta disposto em uma caixa de madeira.
Necessidades de Montagem
2WUDEDOKRQHFHVVLWDGHXPDEDVHGHDSUR[LPDGDPHQWHPSDUDTXHRPHVPR
¿TXHDFHVVtYHOYLVXDOPHQWHDPDLRULDGRVHVSHFWDGRUHV2VXSRUWHSRGHUiVHUDOJR
Figura 12
Figura 14
Biconvexos nº02
Caixa de acrílico, chapa de acrílico, duas lentes e objetos diversos. 14,5 x 10,5 x 5,5 cm
2006
Descrição
8PFLUFXLWRHOHWU{QLFRHVWDGLVSRVWRGHQWURGHXPDFDL[DGHDFUtOLFR1mRKiDFHVVR
YLVXDODRLQWHULRUGDFDL[DH[FHWRDWUDYpVGHGXDVSHTXHQDVOHQWHVTXHGLVWRUFHPDV
imagens.
Necessidades de Montagem
2WUDEDOKRQHFHVVLWDVHUD¿[DGRQDSDUHGHFRPXPSDUDIXVRIRUQHFLGRSHORDUWLVWD
Figura 17
Figura 19
radioreceptor
Madeira, lentes, lâmpada, potes, resina e objetos diversos. 40 x 27 x 68 cm
2007
Descrição
'LYHUVDVSDUWHVGHGLVSRVLWLYRVLQGXVWULDLVHVWmRD¿[DGDVHPXPDJUDQGHFKDSD
GHPDGHLUDTXHpSUHVDHPXPVXSRUWHGHIHUUR1DSDUWHLQIHULRUHVWmRD¿[DGRV
dois potes de vidro com resina acrílica em seus interiores, uma lâmpada e algumas
SODFDVGHFLUFXLWRLPSUHVVR1DSDUWHVXSHULRUDOpPGDVSHoDVKiWDPEpP
DOJXPDVOHQWHVDWUDYpVGDVTXDLVpSRVVtYHOREVHUYDUGHPDQHLUDGLVWRUFLGDDV
SODFDVGHFLUFXLWRLPSUHVVRSUHVHQWHVQDSDUWHLQIHULRU$OkPSDGDGHYH¿FDUDFHVD
LQLQWHUUXSWDPHQWHSRLVDX[LOLDDYLVXDOL]DomRGDVLPDJHQVDWUDYpVGDVOHQWHV
Necessidades de Montagem
2WUDEDOKRQHFHVVLWDVHUD¿[DGRHPXPDSDUHGHUHVLVWHQWHFRPRDX[tOLRGHTXDWUR
SDUDIXVRVIRUQHFLGRVSHORDUWLVWDDXPDDOWXUDDSUR[LPDGDGHP¿FDQGRDVVLP
DFHVVtYHODPDLRULDGDVSHVVRDVeQHFHVViULRWDPEpPXPDWRPDGDGH9SUy[LPD
DRWUDEDOKRSDUDTXHDOkPSDGDSRVVD¿FDUDFHVD&DVRRHVSDoRH[SRVLWLYRSRVVXD
Figura 22
Figura 24
Dial
Madeira, lente e objetos diversos. 8 x 43 x 8,5 cm
2007
Descrição
Diversas pequenas partes de dispositivos industriais estão dispostas sobre um
VXSRUWHGHPDGHLUD+iWDPEpPXPDOHQWHDWUDYpVGDTXDOpSRVVtYHOREVHUYDUFRP
GHWDOKHVXPDGDVSHoDVXPVHOHWRUGHHVWDo}HVGHUiGLR
Necessidades de Montagem
2WUDEDOKRQHFHVVLWDGHXPDEDVHGHDSUR[LPDGDPHQWHPSDUDTXHRPHVPR
¿TXHDFHVVtYHOYLVXDOPHQWHDPDLRULDGRVHVSHFWDGRUHV2VXSRUWHSRGHUiVHUDOJR
Figura 27
Figura 29
PELTIER 0.1
Mesa de madeira, cubo de vidro, água, mecanismo de congelamento, mecanismo de engrenagens, lâmpada, lentes de aumento, circuitos eletrônicos, display de LCD, led e objetos diversos.
100 x 115 x 62 cm 2007 Descrição 2WUDEDOKRIRLPRQWDGRVREUHXPDPHVDGHPDGHLUD1DSDUWHVXSHULRUKiXPFXER GHYLGURFRPiJXD1DODWHUDOGRFXERKiXPPHFDQLVPRGHHQJUHQDJHQVDFRSODGDV DXPPRWRUHMXQWRDRPHFDQLVPRKiWDPEpPXPVHQVRUGHSUHVHQoD1DSDUWH VXSHULRUGRFXERKiXPPHFDQLVPRGHFRQJHODPHQWRFRPSRVWRSRUXPDSDVWLOKD WHUPRHOpWULFDGLVSRVWDVREUHDOJXPDVSHoDVGHDOXPtQLR6REUHDSDVWLOKDKiXP SURFHVVDGRUGHFRPSXWDGRU1RLQWHULRUGDPHVDHPXPDGDVJDYHWDVKiXP OkPSDGDHDOJXPDVSODFDVGHFLUFXLWRLPSUHVVRTXHSRGHPVHUREVHUYDGDVDWUDYpV GHTXDWUROHQWHVSUHVHQWHVQDSDUWHVXSHULRUGDPHVD&RPSOHWDQGRRWUDEDOKR DOJXPDVSHTXHQDVSDUWHVGHGLVSRVLWLYRVLQGXVWULDLVHVWmRD¿[DGDVSHODPHVD Funcionamento
gavetas. Caso não detecte mais movimentos, após aproximadamente 15 segundos, o sensor corta o fornecimento de energia. Já o mecanismo de congelamento
IXQFLRQDDWUDYpVGHXPWLPHUSURJUDPDGRSUHYLDPHQWH4XDQGROLJDGRDSyV
aproximadamente 15 minutos, e em condições climáticas ideais*, o mecanismo
FRQJHODRSURFHVVDGRUSUHVHQWHVREUHDSDVWLOKDWHUPRHOpWULFD$VSHoDVGH
alumínio, juntamente com a água do cubo, são responsáveis por refrigerar a parte
GHEDL[RGDSDVWLOKDWHUPRHOpWULFDTXHDRFRQWUiULRGDSDUWHVXSHULRU¿FDTXHQWH
Depois de 30 minutos** de funcionamento o mecanismo se desliga e em poucos segundos os processador se descongela.
* O mecanismo só não irá congelar o processador em ambientes com altas temperaturas, e/ou com baixa umidade relativa do ar.
** O tempo de funcionamento do mecanismo de congelamento pode ser ajustado caso o ambiente já possua baixas temperaturas, o que acelera o congelamento, ou caso o ambiente possua altas temperaturas, o que prolonga o tempo necessário para o congelamento.
Necessidades de Montagem
2WUDEDOKRQHFHVVLWDGHXPDWRPDGDSUy[LPDSRGHQGRVHUHVVD9RX9e
LQWHUHVVDQWHWDPEpPTXHRORFDOHVFROKLGRVHMDEHPDUHMDGRHGHSUHIHUrQFLDVHP
Figura 31
Figura 33
Figura 35
Armário de madeira, lentes, leds, motor, circuitos eletrônicos, potes de vidro e objetos diversos.
GRIDODQWH7DPEpPpDFLRQDGRRPRWRUID]HQGRFRPTXHDFRUUHLDJLUHDWUDYpVGDV
KDVWHV$SyVDSUR[LPDGDPHQWHVHJXQGRVRWUDEDOKRVHGHVOLJDDXWRPDWLFDPHQWH
FDVRQmRKDMDPDLVPRYLPHQWRVSUy[LPRV
Necessidades de Montagem
2WUDEDOKRQHFHVVLWDGHXPDWRPDGDGH9SUy[LPDSRUpPVHRHVSDoRSRVVXLU
somente tomadas de 220V, o artista enviará junto um conversor de voltagem. É
QHFHVViULRTXHRWUDEDOKRVHMDFRORFDGRHQFRVWDGRSUy[LPRDXPDSDUHGHGLYLVyULD
RXDOJRDOJRVHPHOKDQWHD¿PGHSURWHJHUDVIRQWHVHRV¿RVSUHVHQWHVQDSDUWHGH
Figura 37
Figura 39
radioreceptor 4
Mesa de madeira, circuitos eletrônicos, lente, display, leds, resina, lâmpada, falantes e objetos diversos.
105 X 48 X 45 cm 2008 Descrição 2WUDEDOKRIRLPRQWDGRVREUHXPDPHVDGHPDGHLUD1DSDUWHVXSHULRUKiXPD EDVHGHIHUURTXHVXVWHQWDTXDWURIDODQWHV$LQGDQDSDUWHVXSHULRUKiXPFLUFXLWR HOHWU{QLFRXPOHGXPDHVWUXWXUDHPUHVLQDDFUtOLFDHXPDOHQWHDWUDYpVGDTXDO pSRVVtYHOREVHUYDUDSDUWHLQIHULRUGDPHVD'HQWURGDHVWUXWXUDGDUHVLQDHVWi LQFUXVWDGRXPDUUDQMRGHGLVSRVLWLYRVLQGXVWULDLVHVREUHHODKiXPDOkPSDGD1D
SDUWHLQIHULRUKiXPFLUFXLWRHOHWU{QLFRXPdisplay , um sensor de presença, um mecanismo de rádio e uma fonte de energia.
Funcionamento
2WUDEDOKRSRVVXLXPVHQVRUGHSUHVHQoDTXHTXDQGRGHWHFWDPRYLPHQWRV
SUy[LPRVDFLRQDRUiGLRID]HQGRFRPTXHRVTXDWURIDODQWHVHPLWDPVRQV7DPEpP
são acionados o led, a lâmpada e o display (que apresenta alguns traços verdes). O
2WUDEDOKRQHFHVVLWDGHXPDWRPDGDGH9SUy[LPDSRUpPVHRHVSDoRSRVVXLU
somente tomadas de 220V, o artista enviará junto um conversor de voltagem. O ideal
pTXHRWUDEDOKRVHMDHQFRVWDGRSUy[LPRDXPDSDUHGHRXDOJRDOJRVHPHOKDQWHD
Figura 41
Figura 43
Figura 45
Madeira, circuitos eletrônicos, motor, lente, led, engrenagens e objetos diversos. 13 x 44 x 23 cm
2009
Descrição
2WUDEDOKRIRLPRQWDGRVREUHGXDVWiEXDVGHPDGHLUD1HODVHVWmRGLVSRVWDV
diversas partes de dispositivos industriais, engrenagens, duas placas de circuito impresso, uma lente e um motor. Pelo motor passa uma correia que esta ligada a
WUrVKDVWHV$HVTXHUGDGDWiEXDPHQRUKiXPDSODFDGHPHWDOUHGRQGDRQGHHP
VHXFHQWURKiXPOHGODUDQMD1DSDUWHLQIHULRUGRWUDEDOKRKiXPVHQVRUGHSUHVHQoD
TXHPRQLWRUDRVPRYLPHQWRVDWUDYpVGHXPRULItFLRSUHVHQWHQDWiEXDPHQRUDR
lado da placa de circuito impresso.
Funcionamento
2WUDEDOKRSRVVXLXPVHQVRUGHSUHVHQoDTXHPRQLWRUDRVPRYLPHQWRVSUy[LPRVGD
SDUWHVXSHULRUGRWUDEDOKR4XDQGRDOJXPPRYLPHQWRpGHWHFWDGRRVHQVRUDFLRQDR
PRWRUID]HQGRFRPTXHDFRUUHLDJLUHHQWRUQRGDVKDVWHV2XWUDDomR¿FDSRUFRQWD
do led laranja, que se acende. Toda ação dura aproximadamente 15 segundos, e se
2WUDEDOKRQHFHVVLWDGHXPDWRPDGDGH9SUy[LPDSRUpPVHRHVSDoRSRVVXLU
somente tomadas de 220V, o artista enviará junto um conversor de voltagem. O
WUDEDOKRGHYHVHUD¿[DGRHPXPDSDUHGHFRPWUrVSDUDIXVRVIRUQHFLGRVSHOR
DUWLVWDDXPDDOWXUDDSUR[LPDGDGHP¿FDQGRDVVLPDFHVVtYHODPDLRULDGDV
Figura 47
Figura 49
fotovoltaico
Suporte de madeira, caixa de madeira, led, células solares e objetos diversos. 17 x 30 x 9,5 cm
2009
Descrição
2WUDEDOKRIRLPRQWDGRVREUHXPDSHTXHQDWiEXDGHPDGHLUD6REUHHODHVWmR
dispostos duas placas de circuito impresso e uma caixa de madeira. Na parte superior da caixa estão dispostas duas lentes acopladas a uma peça metálica. Em
a maioria das pessoas. A caixa de madeira pode ser rotacionada de maneira que as
Figura 51
Figura 53
Figura 55
Caixa de madeira, motor, engrenagens, display de lcd, led e objetos diversos. 7 x 16,5 x 16,5 cm
2009
Descrição
$HVWUXWXUDGRWUDEDOKRpXPDFDL[DGHPDGHLUD6REUHHODVHVWmRGLVSRVWDVGLYHUVDV
engrenagens, um display de LCD, uma placa de circuito impresso e uma pequena
OHQWH1RLQWHULRUGDFDL[DKiXPPRWRUHXPVHQVRUGHSUHVHQoD
Funcionamento
O sensor de presença esta disposto logo abaixo da placa de circuito impresso, assim ele monitora os movimentos próximos a parte superior da caixa. Quando o sensor detecta algum movimento ele aciona o motor, fazendo com que o mesmo rotacione
OHQWDPHQWHWRGDVDVHQJUHQDJHQV7DPEpPpDFLRQDGRRdisplay que apresenta alguns caracteres aleatórios na tela. A ação dura aproximadamente 15 segundos e
VHGHVOLJDDXWRPDWLFDPHQWHFDVRQmRKDMDPDLVPRYLPHQWRVSUy[LPRV
Necessidades de Montagem
FULWpULRGDFXUDGRULDQRPRPHQWRGDPRQWDJHPeQHFHVViULRWDPEpPXPDWRPDGD
GH9SUy[LPDDRWUDEDOKRSRUpPVHRHVSDoRSRVVXLUVRPHQWHWRPDGDVGH9
Figura 57
Figura 59
(con) (di) vergentes
Caixa de madeira, placa de acrílico, lentes, parafusos e objetos diversos. 9 x 8 x 8 cm
2009
Descrição
$HVWUXWXUDGRWUDEDOKRpXPDFDL[DGHPDGHLUD1DSDUWHVXSHULRUKiXPDSODFDGH
DFUtOLFRWUDQVSDUHQWH1DSODFDHVWmRD¿[DGDVOHQWHVDWUDYpVGDVTXDLVpSRVVtYHO
REVHUYDURLQWHULRUGDFDL[DGHYiULDVIRUPDVGLVWRUFLGDV1RLQWHULRUKiGLYHUVRV
SDUDIXVRVFRPWDPDQKRVFRUHVHHVSHVVXUDVGLVWLQWDVDOpPGHDOJXPDVPRODVH
arames.
Necessidades de Montagem
2WUDEDOKRQHFHVVLWDGHXPDEDVHGHDSUR[LPDGDPHQWHPSDUDTXHRPHVPR
¿TXHDFHVVtYHOYLVXDOPHQWHDPDLRULDGRVHVSHFWDGRUHV2VXSRUWHSRGHUiVHUDOJR
Figura 62
Figura 64
espectrograma
Suporte de madeira, motor, molas, calculadoras, fonte e objetos diversos. 30 x 51 x 19 cm
2009
Descrição
2WUDEDOKRIRLPRQWDGRVREUHXPDHVWUXWXUDGHPDGHLUD6REUHHODHVWmRGLVSRVWDV
duas placas de circuito impresso ligadas, cada uma, a dois displays de LCD. Há um
PRWRUGLVSRVWRORJRDEDL[RGHDOJXPDVPRODVSUHVDVHQWUHKDVWHVGHPHWDOHXPD SHoDPHWiOLFD3RU¿PDLQGDQDSDUWHVXSHULRUKiXPSHTXHQRERWmRGHSUHVVmR 1DSDUWHLQIHULRUKi¿RVHXPDIRQWHGHHQHUJLD Funcionamento $VDo}HVGRWUDEDOKRVmRDWLYDGDVSHORERWmRGHSUHVVmR4XDQGRDSHUWDGRHOH WUDQVPLWHHQHUJLDHOpWULFDDRVFRPSRQHQWHVGRWUDEDOKR$VVLPRVGRLVdisplays de LCD apresentam números aleatórios em suas telas, enquanto o motor cria
XPFDPSRPDJQpWLFRTXHDWUDLDVPRODVID]HQGRFRPTXHDVPHVPDVYLEUHPH
produzam sons.
DUWLVWDDXPDDOWXUDDSUR[LPDGDGHP¿FDQGRDVVLPDFHVVtYHODPDLRULDGDV
Figura 66
Figura 68
Figura 70
Figura 71
Figura 73
Figura 75
Figura 77
Figura 79
Figura 80
O processo artístico descrito nesse capítulo apresenta desde como
IRUDPFRQVWUXtGRVDWpSRUTXHIRUDPFRQVWUXtGRVRVWUDEDOKRDUWtVWLFRVGHSUySULD
autoria, utilizados como objetos de estudo dessa pesquisa. São as explicações
GLUHWDVRVPRWLYRVTXHOHYDPRDUWLVWDDSURGX]LURVWUDEDOKRVHDVPDQHLUDV
FRPRHOHVVmRIHLWRV2LQtFLRGRSURFHVVRpDDSURSULDomRGHREMHWRV2VREMHWRV
são apropriados como uma maneira de reciclar os excessos e os descartes da sociedade. Essa atitude colabora, de maneira bem pequena, para diminuir o
GHVFDUWHGHOL[RVHPHVSHFLDORVHOHWU{QLFRVQDQDWXUH]D3RUpPRTXHPDLV
LQFRPRGDPHVPRpRGHVFDUWHHPVL6mRREMHWRVERQVFRPPDWHULDLVGXUiYHLV
que poderiam seguir sendo utilizados e aproveitados na função para qual foram
SURMHWDGRVRXHPRXWUDVIXQo}HVGHVGHTXHIRVVHPDGDSWDGRV3RUpPPHVPR
assim muitas pessoas optam pelo descarte. A apropriação age como uma reciclagem, reintroduzindo valores aos objetos relegados pela sociedade.
A apropriação vai de encontro ao colecionismo. O colecionador tem um apreço enorme pelos seus itens, mesmo que eles não possuam valor algum no mercado. Muitos colecionam selos, moedas, caixas de fósforo, embalagens
GHDOJXPSURGXWRHVSHFt¿FR6mRSURGXWRVTXHQRYRVFXVWDPSRXFRGLQKHLUR
FROHFLRQDGRUSRUpPVHXVLWHQVSRVVXHPVHPSUHXPJUDQGHYDORUFRQFHLWXDOH
afetivo.E não estou exagerando: para o colecionador autêntico a aquisição de um livro velho representa seu renascimento (BENJAMIN, 1987, p. 229). É esse o tipo
GHSHQVDPHQWRTXHVHWHPVREUHRVREMHWRVDSURSULDGRV1mRpDSHQDVDSRVVH
RXRYDORUVHQWLPHQWDOSRUDGTXLULORVHDUPD]HQiORVDSHVDUTXHLVVRWDPEpP
H[LVWHPDVpWDPEpPXPDPDQHLUDGHGHPRQVWUDURYDORUGRSURGXWRGHVFDUWDGR
GHPRQVWUDUFRPRpSRVVtYHODGDSWiORVSDUDRXWUDVDWLYLGDGHVeGHVWDFDUD
importância do objeto fazendo com que eles renasçam para alguma nova função.
Os objetos apropriados são armazenados. Eles poderiam ser
GLUHWDPHQWHGHVORFDGRVSDUDWUDEDOKRVDUWtVWLFRVPDVVmRDUPD]HQDGRVH
deixados a disposição do artista. A paixão por armazenar - colecionar - obviamente foi transportada para a arte. Mas foi só quando o acúmulo começou a crescer demasiadamente, e precisou de um espaço maior, que se observou a característica de um processo artístico que estava se formando. Observou-se então como as apropriações estavam se tornado parte essencial da produção. Ter uma grande
TXDQWLGDGHGHREMHWRVDGLVSRVLomRSDUDFRQVWUXLUWUDEDOKRVDUWtVWLFRVpFRPRWHU
a disposição todos os itens necessários para resolver algum tipo de problema. É
FRPRDLPDJHPFOiVVLFDGHXPODERUDWyULRFLHQWt¿FRFKHLRGHHTXLSDPHQWRVH
produtos, que servem para o cientista realizar suas pesquisas, seus testes; ou como
GHVFRQVWUXtGRV$GHVFRQVWUXomRWHPSRUREMHWLYRGHVFRQVWUXLUWDPEpPDV
LQIRUPDo}HVGDLQG~VWULDHGRSURGXWRGHFRQVXPR7UDEDOKDUFRPSDUWHVGH
VLVWHPDVGDVPiTXLQDVGLVSRVLWLYRVLQGXVWULDLVSRVVLELOLWDWUDEDOKDUWDPEpP
com as informações e as propriedades dessas máquinas. São criados arranjos
DUWtVWLFRVFRPRXWUDVFRQ¿JXUDo}HVGLIHUHQWHVSDUDDVTXDLVDVSHoDVIRUDP
desenvolvidas. A desconstrução possibilita romper com a indústria e estabelecer
XPQRYRFDPLQKRSDUDRREMHWRRXSDUWHGHOH(ODDEUHDVSRVVLELOLGDGHVGHVH
PDQLSXODULQIRUPDo}HVHFRQKHFLPHQWRWHFQRORJLDXPDYH]TXHHODVDJRUDHVWmR
desconstruídas. É a máxima de se desconstruir para poder reconstruir e reordenar.
A construção envolve essa reordenação. São construídos objetos que fazem alusões a funções. Isso satisfaz os desejos do artista, que intencionalmente projeta possibilidades, funções ou ações que poderiam existir. São como máquinas
TXHSRGHULDPUHDOL]DUDOJXPDVWDUHIDV7RGDYLDDFRQVWUXomRpDSHQDVXPDDOXVmR
DHVVDVSRVVLELOLGDGHV&RPRQRFDVRGRWUDEDOKRHVSHFWURJUDPD,PDJLQRXVH
XPDUUDQMRTXHVHULDFDSD]GHGHFRPSRURUXtGRFDXVDGRSHORSUySULRWUDEDOKRH
apresentar o resultado na tela de um pequeno display2WUDEDOKRIRLFRQVWUXtGR
como se estivesse realmente suprindo as necessidades de uma máquina que
UHDOL]DWDOIXQomR3DUDLVVRIRLQHFHVViULDDDOLPHQWDomRHOpWULFDRUXtGRRV¿RVGH
$OyJLFDFULDWLYDFRQVLVWHQDIRUPDomRGHXPVLVWHPDTXHJHUDVLJQL¿FDGR
a partir de características que o artista lhe concede. É a construção de mundos mágicos decorrentes de estimulação interna e externa recebidas por meio de lentes originais (SALLES, 1998, p. 90).
O problema para o artista que se limita a manipular instrumentos se não inteligentes, pelo menos oriundos das tecno-ciencias, é o de mudar a destinação originária desses modelos que são concebidos para produzir conhecimento e não arte, de transformar as incertezas das ciências em incertezas da sensibilidade, em gozo estético, e esse excesso de clareza, em sombra (COUCHOT, Edmond. In: PARENTE, 1993, p. 46).
2VWUDEDOKRVVmRWRGRVFRQVWUXtGRVWHQGRFRPRLQWHQomRSULQFLSDO
DIRUPDomRGHDOJXPDPiTXLQDLPDJLQDGD2DUUDQMRDUWtVWLFRpXPFRQMXQWR
reordenado de peças de dispositivos industriais. E da mesma maneira, as funções desses dispositivos são igualmente reordenadas nos arranjos. Para isso são buscados objetos que realizam - ou representam - as funções necessárias para o arranjo ser formado. Cecilia Almeida Salles destaca os mundos mágicos criados
SHORVDUWLVWDV1RFDVRSRGHPRVGL]HUGHPDQHLUDSRpWLFDTXHRVWUDEDOKRV
dessa pesquisa são como máquinas mágicas, que possuem funções apenas no pensamento do seu criador10HVPRDTXHOHVWUDEDOKRVSURGX]LGRVTXHUHDOL]DP
algumas ações, na verdade simulam outras tantas funções. No que se refere as
inesperado3$/$71,.$EUDKDP,Q2625,2S$VLQWHQo}HVGHVHMRV LQWXLo}HVQRPRPHQWRGDFRQVWUXomRGRVWUDEDOKRVEXVFDPDVLQFHUWH]DVHRV
desvios dos dispositivos industriais e os transformam em arranjos artísticos.
Com os itens desconstruídos em mãos são projetadas possibilidades funcionais, tecnologias possíveis, improváveis ou mesmo impossíveis. As lacunas
GDWHFQRORJLDVmRH[SORUDGDVVHPTXHVHMDPDWUDYpVGHH[SHULPHQWRVWpFQLFRV
PDVDWUDYpVGHH[SHULPHQWRVDUWtVWLFRVTXHQmRVHSUHRFXSDPHPDWLQJLUR
funcionamento ideal, a máquina idealizada, ou mesmo uma nova tecnologia. Os arranjos artísticos operam no projeto de construção de uma máquina ideal, de uma nova tecnologia ou mesmo de uma nova funcionalidade, mas não atingem a
FRQVWUXomRGHIDWR6mRSHUFRUULGRVRVFDPLQKRVGDLQYHQomRGHDOJRDWpDEHLUD
da construção, sem que se ultrapasse para o outro lado. As possibilidades são projetadas em arranjos artísticos que representam o modelo imaginado pelo seu construtor. São inventadas possibilidades, funções, ações, relações entre peças,
SURSULHGDGHVHQ¿PTXHGHIDWRDSHQDVUHSUHVHQWDPHVWHWLFDPHQWHXPDPiTXLQD
imaginada.
do Botafogo, e a intenção de explorar praias mais longínquas, vieram da descoberta da incrível riqueza do lixo de Barcelona, deixado nas portas das casas, principalmente nos corredores onde eu morava antes de comprar o estúdio que hoje tenho na Espanha. O Bairro Chino, bairro popular e mesmo da prostituição, é uma eterna fonte de material para mim. Joga-se de tudo fora, até a vida inteira de uma pessoa. Um dia encontrei um enorme saco plástico contendo desde certidão de nascimento de uma tal “Dolores Masorrales”, suas recordações, pequenos objetos, cartões-postais, fotos de época e até o recibo da pensão que obtinha do marido morto na guerra civil. Foi uma felicidade, um estranho prazer que senti ao examinar aquela documentação toda, quase como se estivesse roubando ou me apossando daquele ser humano que existiu, amou e sofreu como todos (ANDRADE, Farnese de. In: COSAC, 2005, p. 189).
2VWUDEDOKRVDUWtVWLFRVVmRSURGX]LGRVFRPREMHWRVDSURSULDGRV
Eles são retirados do cotidiano e são transferidos para o ateliê do artista. Essa atividade foi iniciada ainda no curso de graduação em Artes Visuais, e surgiu como uma resposta as limitações encontradas nos materiais experimentados no campo da escultura. A argila, o isopor, o metal e a madeira, todos testados, permitem
TXHVHPDQLSXOHVXDVSURSULHGDGHV2SRQWRGHSDUWLGDSRUpPVmRHVWUXWXUDV
VLPSOHVEUXWDVTXHSUHFLVDPVHUWUDEDOKDGDVVmRHVWUXWXUDVTXHSRVVXHPSRXFDV
LQIRUPDo}HVSRXFRVVLJQRV2LVRSRUpHQFRQWUDGRHPEORFRVRXFKDSDVDDUJLOD
HPEORFRVRXSODFDVRPHWDOHPFKDSDVRXEDUUDVHDPDGHLUDHPWiEXDV-i
alguns objetos observados no cotidiano - objetos industriais - possuíam muito mais informações e signos. Optou-se assim por apropriá-los. Nas primeiras
foi utilizada por algum tempo e depois descartada. Todo objeto tem desta forma duas funções: uma que é a de ser utilizado, a outra a de ser possuído (BAUDRILLARD, 2006, p. 111). A posse de um objeto que já não mais realiza suas
IXQo}HVGL¿FLOPHQWHpGHVHMDGDSHODVSHVVRDV$PDLRULDGRVREMHWRVDSURSULDGRV
apresentam algum tipo de defeito ou dano, mesmo que parcial, em sua estrutura
RXVLVWHPD$IXQomRPDLVGHVHMDGDSHODVSHVVRDVpDGHXWLOL]DUXPREMHWR$
SRVVHQmRpPXLWRGHVHMDGD2VREMHWRVFRPGHIHLWRVQmRUHDOL]DPPDLVDVIXQo}HV
para as quais foram projetadas, dessa maneira, para seus proprietários, perdem a serventia. Isso explica a grande quantidade de objetos com defeito disponíveis a qualquer um. Opta-se assim por apropriar, quando possível, esses objetos. Realizar
DOJXPDDomRIXQomRRXQmRpDSHQDVXPGHWDOKHPHVPRSRUTXHFRQVWDQWHPHQWH
os objetos apropriados possuem algum defeito mínimo e realizam outras funções perfeitamente.
$OJXQVREMHWRVWHPGHIHLWRVWmRVXSHU¿FLDLVTXHSRXFRDOWHUDPDVVXDV
funções; mas mesmo assim são descartados. Uma lavadora de roupas apropriada, por exemplo, realizava quase todas as suas funções. O problema era que no
PRPHQWRGDODYDJHPHODVROWDYDyOHROXEUL¿FDQWHMXQWRDiJXDHRVDEmR(ODIRL
OHYDGDDXPWpFQLFRSRUGLYHUVDVYH]HVPDVFRPRRSUREOHPDSHUVLVWLXRSWDUDP
FRQWDVRVFRQVWDQWHVDMXVWHVQRWpFQLFRHDVSHoDVTXHSUHFLVDPVHUUHSRVWDV
WDOYH]FXVWHPDSUR[LPDGDPHQWHRXDWpPDLVGRTXHRYDORUGHXPPRGHORQRYR
,VVRVHPFRQWDUTXHRPRGHORQRYRpGRWDGRGHXPDWHFQRORJLDPDLVUHFHQWH
realiza algumas funções diferentes, tem um design mais “interessante”. Os modelos
QRYRVVmRVHPSUHXPPRGHOR³PHOKRUDGR´GRVPRGHORVDQWLJRVSHORPHQRVpLVVR
TXHRFRPpUFLRHDLQG~VWULDYHQGHPSDUDDSRSXODomR$RSomRSHORGHVFDUWHGHVVD
máquina foi por questões econômicas2. Em diversos casos, ai já abrindo para todos RVWLSRVGHPiTXLQDVpUHDOPHQWHPXLWRPDLVFDURVXEVWLWXLUDVSHoDVHSDJDUD PmRGHREUDGRTXHDGTXLULUXPDQRYD+RMHWDPEpPpFRPXPDIDOWDGHPmRGH REUDHVSHFLDOL]DGDHLJXDOPHQWHGLItFLODFKDUSHoDVGHUHSRVLomRSDUDGHWHUPLQDGDV PiTXLQDV,VVRWDOYH]RFRUUDGHYLGRDEDL[DSURFXUDGDVSHVVRDVMiTXHRYDORUp PXLWRDOWRRXVHMDSDUHFHKDYHUDtXPFLFORYLFLRVRTXHID]FRPTXHDVXEVWLWXLomR VHMDDPHOKRUVDtGD
A máquina de lavar louças, que apresentava o defeito de lançar óleo na lavagem, foi então apropriada e deslocada ao ateliê. Lá observou-se que diversos componentes e subsistemas permaneciam íntegros, como duas bombas d’água, um botão seletor com timer analógico, uma resistência que servia para aquecer a água,
HQWUHRXWURVVHPFRQWDURVPHWURVGHPDQJXHLUDHGH¿RVRVSDUDIXVRVSRUFDV
tipo de defeito ou dano e realizavam normalmente as funções esperadas. Um caso típico são os telefones celulares. Eles são descartados pelas pessoas, mas
QRUPDOPHQWHUHDOL]DPFKDPDGDVPDQGDPPHQVDJHQVGHWH[WRSRVVXHPDJHQGD
WHOHI{QLFD2GHIHLWRQHVVHFDVRpTXHHOHVQmRSRVVXHPDV~OWLPDVQRYLGDGHV
(VVHPHUFDGRpUHDOPHQWHDOJRDVHUGHVWDFDGRSRLVGHWHPSRVHPWHPSRVFXUWRV
- os fabricantes lançam uma enxurrada de modelos com novas funções e design.
,VVRSDUHFHLQÀXHQFLDUDVSHVVRDVGHWDOPDQHLUDTXHHODVVHGHVID]HPGRVVHXV
modelos ultrapassados para adquirirem os mais novos, aqueles que possuem a
WHFQRORJLDPDLVDYDQoDGDHRGHVLJQPDLVGHVHMDGRQRPRPHQWR3RUpPLVVRQmR
VHOLPLWDDRWHOHIRQHVFHOXODUHV-iQDGpFDGDGH*RUGRQ0RRUHIXQGDGRUGD
,QWHOIH]DSUHYLVmRGHTXHXPFKLSLULDGXSOLFDUDFDSDFLGDGHGHSURFHVVDPHQWR
DFDGDPHVHV$SUHYLVmRVHFRQ¿UPRXWDQWRTXH¿FRXFRQKHFLGDFRPRDLei de Moore/(,$VVLPDOpPGHFHOXODUHVRVFRPSXWDGRUHVPRQLWRUHV WHOHYLVRUHVDSDUHOKRVGHVRPVySDUDFLWDUDOJXQVH[HPSORVVmRDSURSULDGRVHP
perfeito estado de funcionamento; claro que se comparados aos modelos atuais as
VXDVFRQ¿JXUDo}HVVmRtQ¿PDV9DOHGHVWDFDUTXHDOpPGHIDWRUHVHFRQ{PLFRVH
WHFQROyJLFRVRXWURVIDWRUHVSRGHPLQÀXHQFLDURGHVFDUWHGHREMHWRVFRPRIDWRUHV
SVLFRVVRFLDLVSDWROyJLFRVHWF2IDWRpTXHKRMHHPGLDFDGDYH]PDLVRVREMHWRV
HVWmRVHQGRGHVFDUWDGRVVHPPRWLYRVPXLWRVpULRVDSyVSRXFRSHUtRGRGHXVR
WHPGXDVH[SOLFDo}HVVLPSOHV$SULPHLUDTXDVHTXHyEYLDpTXHDVVLPQmRp
QHFHVViULRGHVSHQGHUGLQKHLURSDUDDGTXLULORV(PXPVHJXQGRPRPHQWRpTXH
esses objetos estão em vias de serem descartados nos lixos. Isso iria contribuir, mesmo que em pequena escala, para poluir ainda mais o meio ambiente. A
UHXWLOL]DomRGHOHVHPWUDEDOKRVDUWtVWLFRVpXPDHVSpFLHGHUHFLFODJHPGDTXLORTXH
iria para o lixo. Como um adendo, quase que um bônus, os objetos descartados
SHODVSHVVRDVWUD]HPFRQVLJRLQIRUPDo}HVPHPyULDVKLVWyULDV0XLWRVGHOHV
SRVVXHPPDUFDVULVFRVPDQFKDVIXURVHGDQRVeSUD]HURVRWHUHVVDFRQ¿UPDomR
visual de que o objeto pertenceu a outra pessoa, fez parte da vida de outra pessoa.
eXPSUD]HUVHPHOKDQWHDRGHVFULWRSHORDUWLVWDEUDVLOHLUR)DUQHVHGH$QGUDGH
TXDQGRVHDSURSULRXGHGRFXPHQWRVIRWRVHREMHWRVGHXPDPXOKHUHVSDQKROD
2.1 Origem dos Objetos
Hoje os objetos são apropriados de quatro maneiras diferentes: são
UHWLUDGRVGRGLDDGLDGRDUWLVWDUHFROKLGRVSHODFLGDGHUHFHELGRVFRPRGRDomRGH
SUySULDUHVLGrQFLDFRPR¿RVSDUDIXVRVWRPDGDV(PVHJXLGDFRPHoDUDPDVHU
DSURSULDGRVREMHWRVSRVVXtGRVTXHQmRIXQFLRQDYDPPDLVSRUpPQmRWLQKDPVLGR
descartados e estavam ajuntando poeira em algum canto da casa, como lanterna,
FDOFXODGRUDUiGLRGHSLOKDSHoDVGHFRPSXWDGRU1HVVDpSRFDHVWDYDHPFXUVR
DJUDGXDomRHP$UWHV9LVXDLVHRVSULPHLURVWUDEDOKRVFRPHVVHVPDWHULDLV
começaram a ser desenvolvidos. Assim que colegas entraram em contato com
RVWUDEDOKRVDOJXQVGHOHVRIHUHFHUDPREMHWRVVHPHOKDQWHVTXHWDPEpPHUDP
SRVVXtGRVHQmRWLQKDPPDLVXWLOLGDGH,QLFLRXVHDVVLPDSUiWLFDGHDFHLWDUGRDo}HV
GHWHUFHLURV2FRQVWDQWHGHVHQYROYLPHQWRGRVWUDEDOKRVFRPHoRXDJHUDUDOJXPDV
QHFHVVLGDGHVTXHQmRHUDPVXSULGDVSRUQHQKXPREMHWRSRVVXtGRRTXHOHYRX
depois de uma certa resistência3DSUiWLFDGHDGTXLULUDOJXQVREMHWRVHVSHFt¿FRV SDUDFRPSOHPHQWDURWUDEDOKRHPDQGDPHQWR$VHJXLUVmRDSUHVHQWDGDVDVTXDWUR
YLDVSRURQGHFKHJDPRVREMHWRVDRDUWLVWD
Objetos do Cotidiano
1RLQtFLRGDVDSURSULDo}HVHUDPUHFROKLGRVREMHWRVGRFRWLGLDQR
Depois foram feitas pequenas incursões nos armários da casa, onde foram
HQFRQWUDGDVODQWHUQDFDOFXODGRUDUiGLRGHSLOKDWHOHIRQHFHOXODUFRQWUROHGH
SRUWmRHOHWU{QLFRDODUPHGHFDUURVTXHMiKDYLDPVLGRYHQGLGRVGLYHUVDVSHoDV
de computadores. Eram objetos que estavam armazenados mas que não eram mais utilizados e tampouco seriam no futuro. Depois desse período inicial
passou-VHDREVHUYDUPHOKRURVREMHWRVTXHHUDPXWLOL]DGRVQDFDVDHDRSULPHLURVLQDO
de que não eram mais desejados eram transferidos ao ateliê. Como foi o caso da
PiTXLQDGHODYDUORXoDVFLWDGDDQWHULRUPHQWH(VVDDomRVHPDQWpPDWpKRMH
PDVMiQHPpSUHFLVR¿FDUPRQLWRUDQGRRVREMHWRV6HXPREMHWRDSUHVHQWDDOJXP
defeito as pessoas da casa já o colocam na porta do ateliê. O mesmo ocorre com outros objetos que não precisam apresentar defeito para serem descartados, como os potes de vidro. Eles são usados pela indústria para armazenar algo,
HVSHFLDOPHQWHDOLPHQWRVTXDQGRRDOLPHQWRDFDEDHRSRWHSHUGHDVHUYHQWLDHOHp
automaticamente direcionado para o ateliê.
Objetos Recolhidos
8PDTXDQWLGDGHQmRPXLWRJUDQGHGHREMHWRVpDSURSULDGDGDV
mais variados. Renato Bueno escreveu em um blog o relato do que acabara de presenciar:Ouvi um barulho, fui pra janela e lá estava uma gloriosa caixa de Windows 95, junto com disquetes e manuais, despejada em uma caçamba de
entulhos. Sensacional.(OHSURVVHJXHRVHXUHODWRHUHOHPEUDRXWURIDWRVHPHOKDQWH
ocorrido em 2008 na mesma rua, quando um motorista desceu, abriu o porta-malas, saiu de lá com um belo monitor CRT (de tubo) e jogou sem dó em outra caçamba de entulho (BUENO, 2010).
,QIHOL]PHQWHSRUpPRGHVFDUWHGHOL[RQmRVHUHVWULQJHDVFDoDPEDV
Muitas pessoas em uma atitude insensata descartam o lixo diretamente nas ruas da
FLGDGH2SUREOHPDpWDQWRTXHDSUHIHLWXUDGH6mR3DXORUHFHQWHPHQWHHOHYRXD
PXOWDSDUDHVVHWLSRGHLQIUDomRTXHSDVVRXGH5SDUDDWp5PLOPDLVD
apreensão do veículo utilizado para tal tarefa (GAVIOLI, 2010). Em contrapartida as
SROtWLFDVS~EOLFDVSDUDGHVFDUWHGHOL[RHPHVSHFLDORVHOHWU{QLFRVDLQGDFDPLQKDP
DSDVVRVOHQWRVQR%UDVLO3RUpPDOJXPDVERDVLQLFLDWLYDVVXUJLUDPQRV~OWLPRV
anos. A prefeitura da cidade de São Paulo recentemente criou os EcoPontos, que são diversos locais na cidade onde as pessoas podem descartar gratuitamente todos os resíduos da construção civil, desde cimento, entulho e tijolo, restos de azulejos e madeiras. Móveis velhos, sobras de poda de árvore e outros materiais volumosos.
352-(726$RXWUDERDLQLFLDWLYDpXPDSDUFHULDGD6HFUHWDULDGR0HLR
DLQGDSHUPLWHTXHXPDSHVVRDTXHWHQKDXPHVWDEHOHFLPHQWRTXHUHFHEHRXUHFLFOD
lixos eletrônicos possa se cadastrar e fazer assim parte do projeto4(E-LIXO, 2010).
Recebidos de Terceiros
8PDJUDQGHTXDQWLGDGHGHREMHWRVDSURSULDGRVDWpRPRPHQWRIRUDP
recebidos como doação. São objetos, que assim como os demais, teriam o lixo como
GHVWLQRSURYiYHO$GLIHUHQoDQHVVHFDVRpTXHDVSHVVRDVVmRPDLVVHQVDWDVHDR
LQYpVGHGHVFDUWDUHPVHXVOL[RVSHODFLGDGHRXPHVPRHPOL[RVFRPXQVSURFXUDP
uma alternativa viável. As doações são recebidas de pessoas que tiveram contato
FRPRVWUDEDOKRVHVHLQWHUHVVDUDPHPFRODERUDU$OJXPDVSHVVRDVRSWDPSRU
GRDUREMHWRVVLPLODUHVDRVYLVWRVQRVWUDEDOKRVHQTXDQWRRXWUDVRIHUHFHPWRGRVRV
objetos que possuem em sua residência e que não são mais utilizados. Para elas
DGRDomRSDUDRDUWLVWDpXPDWRGHUHFLFODJHP$VGRDo}HVVmRUHDOL]DGDVSRU
SHVVRDVSUy[LPDVFRQKHFLGDVTXHFRQKHFHPRVWUDEDOKRVRXDRPHQRVVDEHP
TXHHVVHVREMHWRVGRDGRVVHUmRXWLOL]DGRVSDUD¿QVDUWtVWLFRV$LQIRUPDomRVREUHD
GRDomRWDPEpPpHVSDOKDGDSHORWUDGLFLRQDOERFDDERFDHDOJXQVGHVFRQKHFLGRV
GDVGRDo}HVpTXHHODVQmRVmREXVFDGDVSHORDUWLVWD(ODVVXUJHPGHPDQHLUD
HVSRQWkQHD1mRKiTXDOTXHUWLSRGHFRQWDWRSUpYLRFRPRVREMHWRVVyVHWHP
FRQWDWRTXDQGRHOHVFKHJDPHPPmRV$VVLPGLYHUVDVDJUDGiYHLVVXUSUHVDV
ocorrem nessas doações.
Adquiridos Comercialmente
$PHGLGDTXHRVWUDEDOKRVIRUDPVHQGRGHVHQYROYLGRVDOJXPDV
QHFHVVLGDGHVFRPHoDUDPDVXUJLU(PDOJXQVFDVRVSRUpPQmRHUDSRVVtYHOVXSULU
as necessidades com os objetos possuídos. Tampouco era possível aguardar que
HVVHLWHPHVSHFt¿FRFKHJDVVHFRPRGRDomRIRVVHHQFRQWUDGRSHODFLGDGHRXQD
própria residência. Se tornou necessário adquiri-los comercialmente.
DOLPHQWtFLDRVXWLOL]DPSDUDDUPD]HQDUDOLPHQWRVFRPRD]HLWRQDVPROKRV$R
WpUPLQRGRDOLPHQWRRSRWHpDSURSULDGR3RUpPDVFDUDFWHUtVWLFDVGHVVHVSRWHV
XWLOL]DGRVSHODLQG~VWULDDOLPHQWtFLDVmRVHPHOKDQWHV$PDLRULDWHPWDPDQKR
IRUPDWRHFLUFXQIHUrQFLDDSUR[LPDGDV(PXPWUDEDOKRFHUWDYH]VHIH]
necessário um pote de vidro maior. Foi visitada então uma casa especializada
HIRUDPDGTXLULGRVGLYHUVRVPRGHORVFRPWDPDQKRVIRUPDWRVHFLUFXQIHUrQFLDV
distintas, maiores dos que as dos potes já possuídos. Essa opção por adquirir
YiULRVLWHQVWDPEpPHYLWDTXHVHMDQHFHVViULDQRYDYLVLWDDORMDHPXPSHTXHQR
período de tempo. Na ocasião foram adquiridos mais ou menos seis exemplares. Recentemente, aproveitando a visita a um mercado, foram adquiridos mais dois
H[HPSODUHV(VVDVSRXFDVDTXLVLo}HVVmRVX¿FLHQWHVSDUDSUHHQFKHUTXDOTXHU
necessidade por potes de vidro por um bom período de tempo, basta ver que os seis
H[HPSODUHVIRUDPDGTXLULGRVDPDLVGHGRLVDQRVHDWpRPRPHQWRDLQGDUHVWDP
dois exemplares da primeira compra.
Os itens adquiridos por unidade são aqueles que respondem a uma
QHFHVVLGDGHWpFQLFDHVSHFt¿FDJHUDOPHQWHUHVSRQViYHLVSHORIXQFLRQDPHQWR
GHDOJXPWUDEDOKR8PH[HPSORVmRRVVHQVRUHVGHSUHVHQoD1RPHUFDGRKi
modelos bivolt, com 110V ou 220V; com diferentes ângulos de alcance; com ou
VHPIRWRFpOXODFRPWLPHUUHJXODGRGHIiEULFDRXFRPUHJXODJHPPDQXDO$VVLP
casas especializadas ou em grandes lojas comerciais. Se possível - e necessário - são buscados produtos usados. Para isso opta-se por pequenas lojas de produtos
XVDGRVHDLQWHUQHWRQGHDOJXPDVSHVVRDVSURFXUDPJDQKDUDOJXPGLQKHLUR
vendendo itens não mais utilizados, como foi o caso das aquisições de máquinas
IRWRJUi¿FDVDDOJXQVDQRVDWUiVSRUH[HPSOR1DpSRFDHODVIRUDPDGTXLULGDVSRLV
VHIH]QHFHVViULDDXWLOL]DomRGHDOJXPDVOHQWHVHPXPWUDEDOKR)RUDPDGTXLULGRV
aproximadamente seis modelos de máquinas antigas, que não funcionavam mais, com o intuito de extrair suas lentes. Após a utilização das lentes outras tantas peças surgiram, como pequenas molas, parafusos e engrenagens. Assim, a aquisição de
GHWHUPLQDGRVREMHWRVpUHDOL]DGDSDUDVXSULUDVGHPDQGDVSRULWHQVTXHQmRVmR
SRVVXtGRVHTXHGL¿FLOPHQWHVHUmRSRVVXtGRVQRSHUtRGRHPTXHRWUDEDOKRTXH
gerou a necessidade esta sendo desenvolvido.
2.2 Objetos Apropriados
RULJHQVGRVREMHWRVVmRGLVWLQWDVPDVRVSRWHVGHYLGURVmRVHPHOKDQWHVVmRR
mesmo tipo de objeto. A seguir são apresentados diversos objetos já apropriados,
LQGHSHQGHQWHGHVXDVRULJHQVDJUXSDGRVGHDFRUGRFRPDVVXDVVHPHOKDQoDV
Muitos desses objetos passaram por diversos processos após serem apropriados
SURFHVVRVHVVHVTXHVHUmRDSUHVHQWDGRVDRORQJRGHVVHFDStWXOR3RUpPQHVVH
PRPHQWRpDSUHVHQWDGDDSHQDVXPDOLVWDJHPGDTXLORTXHMiIRLDSURSULDGR
LQGHSHQGHQWHGHVXDVRULJHQVGHMiWHUHPVLGRRXQmRXWLOL]DGRVHPXPWUDEDOKR
e independente de quais processos eles passaram ou não. A listagem apresenta
VRPHQWHRÀX[RGHHQWUDGDGHREMHWRVQRDWHOLr
Máquinas:Computadores, peças de computadores, mouses, teclados, drives de disquete, scanner, impressoras, monitores CRT, ventiladores, televisão, ferros de
SDVVDUURXSDPiTXLQDGHODYDUORXoDVDSDUHOKRVGHVRPWRFDGRUHVGH03
GLVFPDQSHQGULYHV¿OWURGHDTXiULRERPEDG¶iJXDGHDTXiULRFDOFXODGRUDV
telefones celulares, controles remotos, controles de portão eletrônico, central de alarme, sensores de presença, fontes de energia, conversor de energia,
YLGHRFDVVHWHVGYGSOD\HUVHFDGRUHVGHFDEHORPiTXLQDVIRWRJUi¿FDVPLFUR
RQGDVPLFURUHWt¿FDVQHEXOL]DGRUHQWUHRXWURV
Móveis:$UPiULRGHOLYURVDUPiULRVGHFR]LQKDDUPiULRVGHEDQKHLURRXWURV
PDGHLUDYLGURHDFUtOLFRDOpPGHXPSHTXHQRDTXiULR
Objetos Diversos:3LOKDVLVTXHLURVGLVTXHWHVFDQRVPDQJXHLUDVPDoDQHWDV OkPSDGDV¿RVWRPDGDVOXSDVHQWUHRXWURV
Elementos de Apoio:5HVLQDVDFUtOLFDVSDUD¿QDVJiVKpOLRYHUQL]HVVHODGRUDVH
tintas acrílicas.
Os itens apresentados são aqueles - lembrados - que já foram
DSURSULDGRV4XDQGRXPLWHPIRLDSUHVHQWDGRQRSOXUDOVLJQL¿FDTXHPDLVGHXP
LWHPGHVVHWLSRIRLDSURSULDGR$GLYLVmRHPJUXSRVGHVHPHOKDQWHVIRLUHDOL]DGDFRP
o objetivo de se destacar a diferença entre os objetos apropriados. Esses são os
REMHWRVRXHOHPHQWRVDSURSULDGRVHPXPSULPHLURPRPHQWRFRPRHOHVFKHJDPQR
ateliê, antes de passarem por qualquer tipo de processo.
2.3 Apropriações na Arte
Ao se falar de apropriações nas arte visuais se torna obrigatório falar
GRDUWLVWDIUDQFrV0DUFHO'XFKDPSHRVVHXVready-mades3RUpPDFHLWDPRV
que a apropriação nas artes visuais sempre existiu de alguma maneira. Já na
SUpKLVWyULDRKRPHPVHDSURSULDYDGHHOHPHQWRVGDQDWXUH]DHGHVHXVPRGRV
GHYLGDSDUDUHDOL]DUGHVHQKRVHPFDYHUQDV1DDUWHHJtSFLDJUHJDURPDQD
URPkQWLFDQRUHQDVFLPHQWRHQ¿PRKRPHPWDPEpPUHWUDWDYDVHXVPRGRVGH
vida, as paisagens da natureza, os animais, a sua religiosidade. Eram realizados
WUDEDOKRVDUWtVWLFRVTXHVHDSURSULDYDPGHLPDJHQVHWHPDVGRFRWLGLDQRGDTXLOR
TXHHUDYLYHQFLDGRSHODVSHVVRDVGDpSRFD/HRQDUGRGD9LQFLSRUH[HPSORVH
apropriou de informações que ele possuía, advindas da ciência, da biologia, dos
HVWXGRVGRFRUSRKXPDQRGDPDWHPiWLFDGDHQJHQKDULDSDUDGHVHQYROYHUVXDV
SLQWXUDVHGHVHQKRV0DLVDGLDQWH3DEOR3LFDVVRH*HRUJHV%UDTXHSHUFXUVRUHV
do cubismo, realizaram diversas colagens de objetos em suas pinturas, sendo os
PHVPRVFRQVLGHUDGRVWDPEpPRVSHUFXUVRUHVGDFRODJHPQDDUWHPRGHUQD2TXH
IH]FRPTXH'XFKDPSWHQKDVLGRFRORFDGRHPGHVWDTXHpRIDWRGHHOHVHDSURSULDU
de um objeto do cotidiano e apenas transportá-lo ao ambiente artístico, sem realizar
UHVSRQViYHOSRUTXHEUDUFRPPXLWRVSDUDGLJPDVPDVWDPEpPIRLUHVSRQViYHOSRU
expandir ainda mais o campo artístico.
1DVGpFDGDVGHHGLYHUVRVDUWLVWDVH[SORUDUDPDVDSURSULDo}HV
QDVDUWHVYLVXDLV$QG\:DUKROVHDSURSULRXGHtFRQHVSRSXODUHVFRPR0DULO\Q
Monroe(Figura 84) e as latas de sopa Campbell (Figura 85)SDUDUHDOL]DUVHULJUD¿DV
e imortalizar essas imagens. O artista norte-americano se apropriou das imagens
GHDUWLJRVGHFRQVXPRGHURVWRVIDPRVRVSDUDUHDOL]DUSURGXo}HVHPVpULH&ODHV
2OGHQEXUJFULRXXPDVpULHGHREMHWRVVREDWHPiWLFDGDVFRPLGDVDPHULFDQDV
LQGXVWULDOL]DGDVFRPRODQFKHVGRFHVHVRUYHWHV(Figura 86)5REHUW5DXVFKHQEHUJ
assim como Picasso e Braque, explorou a colagens na pintura (Figura 87). Ele trouxe diversos elementos externos - do cotidiano - para as telas, como pneus,
Figura 82
0DUFHO'XFKDPSFonte, 1917.
Figura 83
ou seja, artistas que se apropriaram dos seus cotidianos, das suas experiências,
GDTXLORTXHHUDYLVWRHYLYHQFLDGRQDpSRFD
Figura 86
Figura 85
$QG\:DUKROCampbell’s Soup I,
1968.
Figura 84
utilização de elementos do cotidiano para a construção de objetos artísticos6.
...pode-se dizer que as vassouras, os baldes, os utensílios domésticos, os produtos de limpeza, as latas de óleo, as garrafas de plástico, reunidos em painéis ou vitrines, contam tanto a história do mundo do consumo e do descartável, como também a da experiência individual de um ex-empregado doméstico. As série incontáveis de navios construídos em madeira ou bordados em grandes estandartes dizem-nos do ex-marinheiro. Os nomes das pessoas gravados no manto são aquelas que o artista conheceu. Os cobertores e uniformes dos internos, usados como matéria-prima do “Manto da Apresentação” e de outros trabalhos de bordado, registram o espaço e o tempo de sua loucura (MACIEL, 2004, p. 19).
$UWKXU%LVSRGR5RViULRWHYHXPYLGDFRQWXUEDGDHSDVVRXERDSDUWH
dela internado em instituições psiquiátricas. Foi lá que ele passou a construir objetos
FRPGHVFDUWHVGDVRFLHGDGHUHVWRVOL[RVVXFDWDVUHFROKLDLWHQVHSRVWHULRUPHQWH
os reordenava (Figura 88). Ele mesmo denominou o acúmulo de objetos como “registros de minha passagem sobre a terra”, ou seja, um conjunto de todas as coisas do mundo que, segundo ele, seria apresentado a Deus no dia do julgamento ¿QDO0$&,(/S(UDPREMHWRVGRVHXFRWLGLDQRTXHUHÀHWLDPDTXLORTXH
HOHYLYLDRXWLQKDYLYLGRDVH[SHULrQFLDVDVSHVVRDVTXHHOHFRQKHFHXDRORQJRGD
$HVWpWLFDGRVVHXVWUDEDOKRVpDOJRTXHLPSUHVVLRQDTXDQGRVH
WHPFRQWDWRSHODSULPHLUDYH]SRLVVmRPXLWRVHPHOKDQWHVDHVWpWLFDGHDUWLVWDV
que exploraram as apropriações de elementos do cotidiano. A Roda da Fortuna (Figura 89SRGHVHUPXLWREHPFRPSDUDGDD5RGDGH%LFLFOHWDGH'XFKDPSH VHXVDUUDQMRVGHFROKHUHVFDQHFDVFKLQHORVJDUUDIDVHRXWURVREMHWRVGRFRWLGLDQR
dispostos sobre um tablado de madeira (Figura 90), podem ser comparadas
FRPDVFRODJHQVGH5DXVFKHQEHUJ$VFULDo}HVGREUDVLOHLURVmRUHRUGHQDo}HV
repletas de acúmulos de objetos e de informações. São construções simples,
GHXPDSHVVRDTXHDSDUHQWHPHQWHQmRWLQKDPXLWRRXQHQKXPDFRQVFLrQFLD
concreta do que era realizado, principalmente da sua importância artística; ele os
Figura 88
WUDWDGDVSRU$UWKXU%LVSRGR5RViULRGHXPDPDQHLUDQDWXUDOVLPSOHVFRPRVH
fosse uma missão de vida a ser cumprida, sem que fosse preciso levantar grandes
TXHVW}HVDUWtVWLFDV$HVWpWLFDGRVVHXVWUDEDOKRVVXVWHQWDPDVXDSURGXomR artística. $VDSURSULDo}HVGHPiTXLQDVSRUDUWLVWDVWDPEpPSUHFLVDPVHU GHVWDFDGDV-HDQ7LQJXHO\FRQVLGHUDGRXPGRVIXQGDGRUHVGDDUWHFLQpWLFDWDPEpP IRLXPGRVIXQGDGRUHVGRPRYLPHQWR1HR5HDOLVWDQDGpFDGDGH2JUXSR SURFXUDYDWUDEDOKDUFRPPDWHULDLVGRFRWLGLDQRRVGHVFDUWHVGDVRFLHGDGH2DUWLVWD VXtoRFULRXWUDEDOKRVFRPHQJUHQDJHQVURGDVFRUUHLDVPRODVHGLYHUVRVRXWURV
objetos, agrupados em um arranjo (Figura 91(OHWDPEpPGHVHQYROYHXPiTXLQDV
que foram colocadas em fontes e são responsáveis por movimentar e jorrar água (Figura 92). Os objetos apropriados do cotidiano foram sempre acoplados para criar algum tipo de máquina, que realizam ou não uma tarefa. Um dos seus mais famosos
WUDEDOKRV+RPDJHWR1HZ<RUNUHXQLXELFLFOHWDVVLQRVH[WLQWRUHVGHLQFrQGLR
Figura 89
$UWKXU%LVSRGR5RViULR
Roda da Fortuna, s.d..
Figura 90
$UWKXU%LVSRGR5RViULR
uma referência quando se fala de críticas as sociedades industrial e de consumo, e a exploração desses elementos em objetos artísticos.
1R%UDVLOWHPRVPXLWRVDUWLVWDVTXHDWXDOPHQWHWUDEDOKDPFRP
apropriação de máquinas. Destaco os contemporâneos Barrão, Luiz Zerbini e Sergio
0HNOHUFULDGRUHVGRJUXSR&KHOSD)HUUR2VDUWLVWDVH[SORUDPRDXGLRYLVXDOFRP
REMHWRVGRFRWLGLDQRFRPROLTXLGL¿FDGRUPRWRUFDL[DGHVRPDSDUHOKRGHVRP
WHOHYLVRUDPSOL¿FDGRUSHGDOGHGLVWRUomRRVFLODGRUGHIUHTXrQFLD)LJXUD
)UHTXHQWHPHQWHRVWUDEDOKRVWRFDPDOJXPVRPFULDGRSHORJUXSRRXUHSURGX]HP
RVRPGDVVXDVSUySULDVPDTXLQDULDV$HVWpWLFDGRVWUDEDOKRVWDPEpPpDGH
agrupar diversos elementos em um arranjo. No caso do grupo carioca a maioria dos
WUDEDOKRVUHDOL]DPDOJXPDDomRRXIXQomRJHUDOPHQWHDVVRFLDGDVDHPLVVmRRX
Figura 92
-HDQ7LQJXHO\Fontaine, 1980.
Figura 91
improviso por conta das experimentações sonoras. As apropriações, nesse caso,
VmRGRVREMHWRVFRPXQVGRFRWLGLDQRGHWRGRV6mRWDPEpPGHREMHWRVSHUWLQHQWHV
DRPXQGRGDP~VLFDFRPRLQVWUXPHQWRVPXVLFDLVHHTXLSDPHQWRVSDUDPRGL¿FDU
RVVRQV(SRU¿PHOHVWDPEpPDFDEDPVHDSURSULDQGRGRVVRQVTXHHVVHVREMHWRV
emitem.
1DKLVWyULDGDDUWHpSRVVtYHOREVHUYDUDUWLVWDVTXHVHGLVSXVHUDP
a observar e extrair de seus cotidianos elementos, informações e objetos para
DX[LOLDUDVVXDVFULDo}HVVHMDPQDVFRODJHQVGRLQtFLRGRVpFXORSDVVDGR
sejam nas apropriações realizadas por artistas contemporâneos. Hoje em dia a evolução tecnológica despeja mais e mais produtos ao alcance da população e
Figura 93
&KHOSD)HUURJardim ElétricoVG'HWDOKHGH
informações, funções e utilidades desses objetos comuns.
3. Desconstrução
Os artistas revolucionários de nossos dias serão inventores, ou não serão; mas inventores, como os arcaicos, que, tocados da ingenuidade das crianças que criam, destruindo seus brinquedos, e nutridos de pura
LPDJLQDomRGHVLPHVPRVVHHVTXHFHPjHWHUQDSURFXUDGDSHGUD¿ORVRIDO
nos equívocos alambiques onde ciência e magia ainda hoje se confundem
(PEDROSA, Mário. In: OSORIO, 2004, p. 152).
Agora vamos analisar mais uma característica da própria produção
DUWtVWLFD2VSULPHLURVWUDEDOKRVGHVHQYROYLGRVFRPREMHWRVDSURSULDGRV
DSUHVHQWDYDPXPDFDUDFWHUtVWLFDLPSRUWDQWHTXHVHPDQWpPDWpKRMHDGH
transformar o objeto apropriado de alguma maneira. Transformar no sentido de
DOWHUDUDVFDUDFWHUtVWLFDVSURSULHGDGHVDRLQYpVGHVLPSOHVPHQWHGHVORFiORVDRV
WUDEDOKRVDUWtVWLFRV
2VSULPHLURVWUDEDOKRVUHDOL]DGDVQRFDPSRDUWtVWLFRHUDPREMHWRV
)RUDPUHDOL]DGDVH[SHULrQFLDVFRPSHoDVGHPHWDO¿RVHRXWURVWLSRV
GHSOiVWLFRV$PDLRULDSRUpPQmRUHVSRQGHXVDWLVIDWRULDPHQWHDHVVHSURFHVVR
Alguns plásticos foram simplesmente consumidos pelo fogo, enquanto outros
GHPRUDYDPDGHUUHWHUH¿FDYDPFRPXPDFDPDGDGHIXOLJHPDSDUHQWDQGRWHUHP
VLGRFKDPXVFDGRVSHORIRJR$OJXPDVSHoDVPHWiOLFDVSRVVXtDPDOJXPWLSRGH
SURWHomRQDFDPDGDH[WHULRUXPWLSRGHUHVLQDRTXHOKHVFRQFHGLDWDPEpP
XPDFDPDGDGHIXOLJHP2XWURVPHWDLVGL¿FLOPHQWHHUDPDOWHUDGRVSHORIRJRSRLV
fogo foi sendo deixada de lado. Isso porque muitos dos objetos que estavam sendo apropriados eram máquinas, eletrônicos, e seus elementos de plásticos e de metais não respondiam muito bem ao fogo.
'LDQWHGDVOLPLWDo}HVHQFRQWUDGDVSDUWLXVHSDUDXPDQRYDHVWUDWpJLD
a desconstrução. A maioria das máquinas possuem um envólucro, geralmente de plástico, que não respondiam satisfatoriamente ao fogo, por isso eram retiradas.
$VSHoDVSUHVHQWHVQRLQWHULRUWDPEpPQmR¿FDYDPSODVWLFDPHQWHLQWHUHVVDQWH
DSyVDXWLOL]DomRGRIRJR3RUpPDVSHoDVLQWHUQDVVHPVHUHPPDQLSXODGDVSHOR
fogo, já possuíam uma plasticidade admirável. Optou-se então por dar continuidade a desconstrução para ter acesso a todas as peças dos mecanismos industriais. Os primeiros itens obtidos foram alguns circuitos impressos, pequenas molas,
HQJUHQDJHQVSDUDIXVRV&RPHVVH³DFKDGR´LQLFLRXVHDGHVFRQVWUXomRGHWRGDV
DVPiTXLQDVSRVVXtGDV(VVHSURFHVVRIRLVHLQWHQVL¿FDQGRGHPDQHLUDTXHDOJXQV
itens eram sequencialmente desconstruídos, gerando assim peças extremamente pequenas. Um videocassete, por exemplo, foi apropriado e desconstruído ao
extremo. Foi retirado seu envólucro e as suas peças internas foram desmembradas; cada engrenagem, correia, circuito impresso, tudo foi retirado.
-iFRPDOJXQVWUDEDOKRVDUWtVWLFRVSURGX]LGRVDRVSRXFRVRSWRXVH
RSomRVHGHXTXDQGRIRLQHFHVViULRHPXPWUDEDOKRDXWLOL]DomRGHXPPRWRUTXH
JLUDVVHHQJUHQDJHQV)RLH[WUHPDPHQWHGLItFLOUHRUGHQDUDVHQJUHQDJHQVHWDPEpP
selecionar um motor que possuísse uma rotação compatível com as pequenas
SHoDV$URWDomRPXLWRIRUWHGDQL¿FDYDDOJXPDVIUiJHLVHQJUHQDJHQVHXPD
rotação muito baixa não conseguia movimentar as engrenagens. Nesse momento foi lembrado que por diversas vezes foram encontrados conjuntos de motores e engrenagens já montados em alguns objetos, como no videocassete, mas eles foram desconstruídos. Se ao menos um dos conjuntos de motores e engrenagens encontrados tivessem sido preservados o problema estaria resolvido. A partir daí, no momento da desconstrução de qualquer máquina são observados os conjuntos de peças - os subsistemas industriais - que podem ser aproveitados.
A desconstrução atinge quase que a totalidade de itens apropriados. As máquinas são sempre desconstruídas, tanto as apropriadas do cotidiano, as recebidas como doação, as encontradas pela cidade, quanto as adquiridas comercialmente. Uma fonte de energia adquirida comercialmente, por exemplo,
WHPVHXHQYyOXFURGHSOiVWLFRVXDFDUFDoDUHWLUDGD,VVRpIHLWRSDUDIDFLOLWDU
D¿[DomRHWDPEpPSDUDTXHDPHVPDVHDGHTXHSODVWLFDPHQWHDRVGHPDLV
LWHQVXPDYH]TXHRVRXWURVHOHPHQWRVGRWUDEDOKRVmRSDUWHVGHREMHWRV
(QWHQGHVHTXHDGHVFRQVWUXomRQmRpDSHQDVGDHVWUXWXUD
PDVWDPEpPHWDOYH]PDLVLPSRUWDQWHpDGHVFRQVWUXomRGDVLQIRUPDo}HV2
REMHWLYRpVHPHOKDQWHDRVPRWLYRVGDWUDQVIRUPDomRDWUDYpVGRIRJRWUDQVIRUPDU
desconstruir, alterar os signos dos objetos presentes no cotidiano construídos e desenvolvidos pela indústria. A desconstrução transforma as informações e permite o surgimento de outros signos. Um secador de cabelo possui seus signos. Já as
VXDVSDUWHVVHSDUDGDVSRVVXHPRXWURV2YHUQL]pSURGXWRYHQGLGRFRPHUFLDOPHQWH
SDUDSURWHJHUHGDUEULOKRDPDGHLUDTXDQGRXWLOL]DGRSDUDLQFUXVWDUREMHWRV
metálicos suas funções e características são desconstruídas. A desconstrução permite que as informações industriais, de consumo, de objeto comercial, de produto
GRFRWLGLDQRPHVPRTXHHPSDUWHVVHMDPPRGL¿FDGDVDOWHUDGDV(VVHSURFHVVR
desconstrói as informações para que, posteriormente, as outras informações que
VXUJHPQDGHVFRQVWUXomRVHMDPUHRUGHQDGDVHPXPWUDEDOKRDUWtVWLFR
A seguir são apresentados aqueles mesmos grupos de objetos
DSURSULDGRVDJRUDFRPH[HPSORVGRTXHVHREWpPQDGHVFRQVWUXomR7.
Máquinas:são obtidos na desconstrução parafusos, botões, molas, engrenagens, displays de LCD, displaysDQRGRHFDWRGR¿RVOHGVOkPSDGDVFLUFXLWRV
HVSHFt¿FRVGHVHQYROYLGRVSHODLQG~VWULDSDUDFRPSRUDHVWUXWXUDFRPRSHoDV
GHPHWDOSOiVWLFRHERUUDFKD
Móveis: os móveis apropriados geram tábuas, pedaços de madeira, gavetas,
HVWUXWXUDVGHPDGHLUDDPDGHLUDWDPEpPSRGHVHUIXUDGDFRUWDGDOL[DGD
HQYHUQL]DGDWHUVXDIROKDUHWLUDGDHQ¿PWXGRLVVRGHDFRUGRFRPD
necessidade no momento da construção de um objeto;
Objetos de Contenção: Os potes e caixas tem a estrutura pouco manipuladas,
HVSHFLDOPHQWHRVGHYLGURPDVPHVPRDVVLPKiXPDGHVFRQVWUXomRGDV
utilidades industriais, uma vez que agora eles são utilizados para armazenar
HOHPHQWRVFRPRUHVLQDDFUtOLFDHSDUD¿QDTXHTXDQGRFRORFDGRVQRVSRWHVVH
SUHQGHPHGL¿FLOPHQWHVDHPGHOiGHGHQWURVHPGDQL¿FDUDHVWUXWXUD$OJXQV
SRWHVGHYLGURWDPEpPVHUYHPFRPRPROGHVSDUDVHUHPFULDGRVEORFRVGH
resina.
Objetos Diversos:(OHVVmRGHVFRQVWUXtGRVVHSRVVtYHO0XLWRVGHOHVMiFKHJDP FRPRIUXWRGHXPDGHVFRQVWUXomRDQWHULRUFRPRPDoDQHWDV¿RVPDQJXHLUDV
GHFKXYHLURRXVHMDHUDPSDUWHGHDOJXPRXWURREMHWRRXWURVVmRIUXWRVGD
GHVFRQVWUXomRFRPRDVOHQWHVREWLGDVGHOXSDVHSRU¿PDOJXQVQmRVmR
GHVFRQVWUXtGRVHPQHQKXPPRPHQWRFRPRpRFDVRGDVOkPSDGDV
Elementos de Apoio: Eles são testados e/ou utilizados para realizar outras
IXQo}HVGLIHUHQWHVGDTXHODVSHODVTXDLVHOHVVmREXVFDGRVQRFRPpUFLR$
2LPSRUWDQWHQRSURFHVVRpWHQWDUGHVFRQVWUXLUDVLQIRUPDo}HV
projetadas pela indústria e as informações que os ligam a objetos comerciais. Essa
HWDSDpXPDWHQWDWLYDGHDIDVWDURVREMHWRVDSURSULDGRVGRDPELHQWHGHSURGXomR
industrial e consumo. A desconstrução proporciona uma grande quantidade de itens e informações que posteriormente são utilizadas e reordenadas. Essa etapa
GRSURFHVVRWDPEpPSURSRUFLRQDRFRQWDWRFRPYiULDVWHFQRORJLDVXWLOL]DGDVSHOD
LQG~VWULDVHMDPHPREMHWRVUHFHQWHVVHMDPQRVDQWLJRV2IDWRpTXHLVVRFRQWULEXL
para o aprendizado sobre os objetos e seus mecanismos. São informações valiosas que auxiliam a construção dos objetos uma vez que são apropriadas as peças e suas tecnologias.
4. Repositório
A medida que as apropriações, no início do projeto, foram sendo
LQWHQVL¿FDGDVRVREMHWRVFRPHoDUDPDVHDFXPXODUQRDWHOLr$DSURSULDomRHUD
mais intensa que a produção artística, ou seja, a quantidade de objetos apropriados
armazenar e catalogar.
Um colecionador possui sua coleção. Para o conjunto de apropriações
IRLGDGRRQRPHSRpWLFRGHUHSRVLWyULR2WHUPRIRLWUD]LGRGDLQIRUPiWLFDPDLV HVSHFL¿FDPHQWHGDSUySULDH[SHULrQFLDMXQWRDRVRIWZDUH/LQX[TXHpXPVLVWHPD RSHUDFLRQDOGHFyGLJRDEHUWR$PHFkQLFDGRVUHSRVLWyULRVpVLPSOHVHPXP VHUYLGRUQDLQWHUQHW¿FDPDUPD]HQDGRVGLYHUVRVSDFRWHVGHVRIWZDUHVTXHSRGHP VHUDFHVVDGRVEDL[DGRVHLQVWDODGRVQRFRPSXWDGRU(VVHVORFDLVVmRFKDPDGRV GHUHSRVLWyULRVGHVRIWZDUHV+iGLYHUVRVUHSRVLWyULRVSDUDDVPXLWDVGLVWULEXLo}HV GH/LQX[EHPFRPRKiGLYHUVRVRXWURVWLSRVGHUHSRVLWyULRSDUDRXWURVVLVWHPDVH VRIWZDUHV1DSURGXomRDUWtVWLFDDPHFkQLFDpVHPHOKDQWHRUHSRVLWyULRPDQWpP
os itens apropriados - já desconstruídos, se for o caso - a disposição para serem utilizados quando necessário. O ateliê funciona como um repositório de itens que
VHUYHPDFRQVWUXomRGHWUDEDOKRVDUWtVWLFRV
4.1 Armazenar