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ÁGORA Revista Eletrônica Dez/2012 GOETHE: O FILÓSOFO QUE NÃO QUERIA SER FILÓSOFO

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ÁGORA Revista Eletrônica etrônica etrônica etrônica Ano VII

Ano VII Ano VII

Ano VIIIIII nº 1 nº 1 nº 1 nº 15555 Dez/ Dez/ Dez/2012 Dez/ 2012 2012 2012 ISSN 1809 1809 1809 1809 4589 4589 4589 4589 P. 174 – 178

GOETHE: O FILÓSOFO QUE NÃO QUERIA SER FILÓSOFO

Marcelo Jose Hanaeur

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Johann Wolfgang von Goethe nasceu na cidade de Frankfurt, na Alemanha, em 28 de agosto de 1749 e morreu em Weimar, no dia 22 de março de 1832. De acordo com Reale (2003, p.396) Johann Wolfgang von Goethe “é o maior poeta alemão. Ele resume em si toda uma época, com suas dificuldades e sua aspirações.” Entre outras coisas, ele foi escritor e dramaturgo e também fez incursões pelo campo da ciência, influenciando todo um período (no caso o romantismo).

Existem algumas particularidades referentes a sua postura e itinerário enquanto pensador que são reveladoras e por conseguinte justificam nossa atenção. Por exemplo, Goethe não queria ser chamado de filósofo e procurava manter distância dos filósofos de profissão. Conforme Abrão e Coscodai (2002, p. 329-330)

Goethe confessava não possuir um “ órgão apropriado para a filosofia” . Mas esse reconhecimento se refere à incapacidade e ao desagrado que ele nutria por reflexões e exposições sistemáticas e abstratas. Na verdade, sua obra oferece em muitas ocasiões a síntese entre a poesia e a filosofia, na qual o conteúdo filosófico não se isola da forma poética em que se expõe, do mesmo modo como essa forma deve em grande medida sua força à sua significação conceitual. Goethe é um exemplo de “ poeta-filósofo” , cujo pensamento não se expressa em conceitos abstratos, mas de forma imediata, intuitiva, sensorial, reivindicando do leitor disposição similar.

Nosso autor não escreveu nenhuma obra filosófica, embora em seus escritos existam diversas idéias filosóficas. Algumas de suas obras tornaram-se parâmetro de referência e grandes símbolos para o pensamento romântico.

Goethe viveu em um período de profundas e radicais mudanças na Europa. Em 1789 ocorre a explosão da Revolução Francesa entre o entusiasmo dos intelectuais mais iluminados de todas as nações da Europa. Em 1792 foi derrubada a monarquia na França e proclamada a República. Em 1793, mais precisamente no mês de agosto, teve início o grande TERROR: a guilhotina, a qual além de matar centenas de pessoas tornou-se símbolo sinistro da morte e exterminou qualquer esperança

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Graduado em Filosofia pela URI Campus de Frederico Westphalen-RS.

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filantrópica, humanista e pacifista que o século das “luzes” havia produzido na Europa. Em 1808 Napoleão Bonaparte ascendeu definitivamente ao poder com a proclamação do Império, e as campanhas militares, que puseram a Europa sob ferro e fogo e subverteram toda a estrutura política e social do Antigo continente, instaurando novo despotismo, fizeram ruir por terra todos os resíduos de esperanças iluministas que ainda restavam. (REALE, 2003, p.13)

Faz-se relevante e contribui significativamente para facilitar a compreensão da primeira fase da obra de Goethe termos presente também um movimento que foi anterior aos acontecimentos acima citados. Entre as décadas de 1770 e 1780, principalmente na Alemanha, se registrava uma intempérie cultural que apresentava as primeiras modificações de vulto que, a médio prazo, levariam a superação total do Iluminismo. Quem era o responsável por tais modificações? O movimento que ficou conhecido como Sturm und Drang, ou seja, “tempestade e Ímpeto”. O sentido dos termos Sturm und Drang precisam ser entendidos como conceito único que significa “tempestade de sentimentos” ou

“efervescência caótica de sentimentos”. Goethe, juntamente com Schiller e os filósofos Jacobi e Herder foram quem deram sentido e relevância histórica e supranacional a esse movimento com suas primeiras produções poéticas e literárias.

De acordo com Reale (2003, p14) as principais idéias de fundo desse movimento, bem como suas posições são as seguintes:

A natureza é redescoberta, exaltada como força onipotente e criadora de vida. b) Relaciona-se estreitamente com a natureza o ‘gênio” , entendido como força originária: o gênio cria análogamente à natureza e, portanto, não extrai suas normas do exterior, mas é ele próprio norma. c) À concepção deísta da Divindade com Intelecto ou Razão Suprema, própria do iluminismo, começa a se contrapor o panteísmo, ao passo que a religiosidade assume novas formas que, em seus pontos extremos, se expressa no titanismo paganizante do Prometeu de Goethe ou no titanismo cristão da santidade e do martírio de certas personagens de Michel Reinhold Lenz (1751-1792). d) O sentimento pátrio se expressa no ódio ao tirano, na exaltação da liberdade e no desejo de infringir convenções e leis externas. e) Apreciam-se os sentimentos fortes e as paixões calorosas e impetuosas, bem como os caracteres fracos e abertos.

Ao período referente a esse movimento remontam algumas obras de Goethe. São elas: Götz

von Berlichingen, o Prometeu, As dores do jovem Werter, o primeiro Fausto e o primeiro Wilhelm

Mister. Essas obras representam a primeira fase do poeta e escritor. Entretanto, com relação ao

movimento Sturm und Drang, Goethe buscou, especialmente após a sua fase juvenil, subestimar a

importância do movimento e o papel desempenhado por ele no momento histórico, embora, por outro

lado, confessou ter contribuído para o desenvolvimento dele.

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O ímpeto tempestuoso que se percebe no pensamento de Goethe, apesar de ser constante em sua vida, é amenizado em um momento posterior com a volta que o mesmo faz ao clássico. Esse retorno ao clássico, contudo, não deve ser entendido como mera repetição ou imitação dos gregos, mas sim como busca pelo novo a partir ou através do olhar dos antigos gregos. O classismo é o elemento que põe limite, media na percepção intempestuosa. No entanto, esse limite não impede a criação do novo.

Goethe condenou o fenômeno romântico por suas extravagâncias patológicas. Entretanto, mateve-se reservado quanto a condenação da alma do movimento, pois fazia parte da mesma, ele contribuiu com suas obras para a emergência dela.

De acordo com Abrão e Coscodai (2002, p. 331)

Goethe nunca esteve em completa sintonia com as Luzes. De modo sintomático, é um ferrenho crítico de Newton, modelo do Iluminismo. Para Goethe, a luz branca é algo mais puro do que a mera soma de todas as cores, e a escuridão é o oponente da luz, não simplesmente a sua ausência. As cores, então, seriam o resultado dessa luta entre a luz e a escuridão, o que para Goethe, é perfeitamente verificável pela visão.

Assim também é a natureza, não a que e oculta por trás das equações matemáticas, mas a que se dá à visão. Para Goethe a visão e a comparação dos dados observáveis permitem concluir intuitivamente que a natureza se apresenta como forma viva, cujas partes convergem para o todo. Ele visualiza nos seres existentes as formas primitivas (ou protoformas) que engendram, impulsionadas por um dinamismo próprio. Tal força criadora manifesta-se como movimentos opostos de contração e expansão, a primeira fixando as formas em tipos, e a segunda ultrapassando-lhes os limites. Desse processo, que é o de formação e de transformação (ou metamorfose), resultam a diversidade e a unidade da natureza

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.

Dentro de tal unidade da diversidade e diversidade na unidade, cada parte estabelece com outra relações mútuas que não são meramente as de ordem mecânica de causa e efeito. São de simpatia e antipatia, ele denominou “afinidades eletivas” (GOETHE, 2008). Tendo em vista essa concepção, ele relata sua própria experiência.

Eu buscava libertar-me interiormente de toda influência estranha, observar o mundo exterior com amor e deixar que todos os seres agissem sobre mim, cada um a seu modo (...). Daí resultou um maravilhoso parentesco com cada objeto da natureza e um acordo íntimo, uma harmonia tão perfeita com o conjunto, que toda a alteração (...) me afetava profundamente.

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De outro ponto de vista, mais precisamente no de Giovani Reale (2003, p40), “ A natureza (na concepção de Goethe, a

qual é pensada de uma maneira organicista levada às suas últimas conseqüências) é toda viva, até nos seus mínimos

particulares. A totalidade dos fenômenos é vista como produção orgânica da “ forma interna” . Uma polaridade de forças

(contratação e expansão) origina as diversas formas naturais, que assinalam acréscimo e produzem elevação progressiva.

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Em Goethe a concepção de relação entre opostos é fundamental para compreender algumas das peculiaridades de seu pensamento, inclusive a moral. É na relação de opostos, na contradição, luz e escuridão, contração e expansão que está a força dinâmica da vida. A ação moral do homem é regida também pela ação dessa força de oposição. A ação moral acontece e deve ser considerada na oposição entre bem e mal. Essa força que se manifesta apenas na forma de contradição Goethe chama de demoníaco.

É importante que se tenha presente, contudo, que a moral no período romântico, sobretudo após a Revolução Francesa, sofre modificações. De uma moral centrada nos valores da nobreza (como foi durante a Idade Média até a Revolução Francesa) passa-se para a moral dirigida e direcionada por princípios burgueses. Assim, por exemplo, começa a ser valorizado o trabalho e o trabalhador (braçal) não é mais única e exclusivamente o escravo. Goethe carrega em suas obras o anseio permanente pela liberdade, pela igualdade e justiça vivido nessa época. Talvez seja por isso que nelas se perceba o conflito constante, o contraste e as relações de oposição como motores das relações da vida, como a própria força que dinamiza a vida.

Goethe não escreve nenhuma teoria especificamente moral. Não desenvolve nenhuma diretriz da ação humana, por exemplo. A moral como apresentamos acima só pode ser captada no contexto de suas obras. Sua contribuição no que diz respeito tal campo talvez advenha da representação que faz do drama que o homem enfrenta na vida. Nesse sentido pode ser compreendida a sua obra principal.

A obra que encerrou o último estágio e definiu o estilo do pensamento de Goethe foi o poema Fausto, escrito em 1806. Nesta obra o Dr.Fausto, um senhor já na velhice, reconhece que todos os conhecimentos que havia acumulado foram em vão. Invoca, então, o diabo Mefistófeles e com ele sela um pacto: vende-lhe a alma em troca de rejuvenescimento, prazeres terrenos, riqueza e poderes ilimitados. É neste contexto que surge uma pergunta que se estende até a atualidade, e a qual nos impele a refletir sobre a tragédia humana: de que adianta ao homem conquistar todas as coisas do mundo se nesse processo de conquista ele acaba perdendo a própria vida? Tal obra trata-se de legado fundamental para o estudo da moral não só no contexto romântico, mas também no atual, na medida em que leva o homem a ponderar acerca das decisões e ações que toma na vida.

Na seqüência é apresentada uma relação com as principais obras de Goethe.

Principais obras de Goethe:

- Götz von Berlichingen - 1773

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- Prometheus - 1774

- Os Sofrimentos do Jovem Werther - 1774 - Egmont - 1775

- Ifigênia em Taúrides - 1779 - Torquato Tasso - 1780 - Reineke Raposo - 1794

- Xenien (em conjunto com Friedrich Schiller) - 1796 - Fausto - 1806

- Hermann e Dorothea - 1798

- Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister - 1807 - Faust II - 1833

BIBLIOGRAFIA

ABRÃO, Bernardete Siqueira; COSCODAI, Mirtes geda. Hi stória da Filosofia. São Paulo: Best Seller, 2002.

GOETHE, Wolfgang. As afinidades el etivas. Tradução: Leonardo Froes. São Paulo: Nova Alexandria, 2008.

REALE, Giovanni. História da filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Paulus, 1991.

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