Título do Tópico*: Saúde Coletiva e Saúde Pública
Objetivo*: Discriminar entre os conceitos de saúde coletiva e saúde pública; conhecer aspectos da história da saúde no Brasil.
Palavras-chave*: Saúde coletiva, saúde pública, história saúde no Brasil, Sistema Único de Saúde, reforma sanitária brasileira.
APRESENTAÇÃO
No tópico anterior você pode perceber que assim como a área da saúde, o conceito concepção de saúde também é bastante complexo. Viu que envolve diferentes interpretações de acordo com o enfoque e olhar de investigação, por exemplo: individual ou social.
Neste tópico, a atenção recairá sob a perspectiva social, sendo abordada a saúde coletiva e a saúde pública, retomando importantes aspectos da história da saúde do Brasil que contextualizam o atual quadro de saúde do país.
Ao final dos seus estudos neste segundo tópico, dentre os cinco do Módulo de Saúde Coletiva, desejamos que você se sinta apto a discriminar entre as concepções de saúde coletiva e saúde pública e que identifique os principais marcos históricos, da saúde coletiva no Brasil.
BONS ESTUDOS!
VAMOS RELEMBRAR
Conforme visto no primeiro tópico, O termo saúde envolve a compreensão do bem estar biopsicossocial e cultural de cada indivíduo, sendo que a saúde coletiva aborda este tema sob um ponto de vista social. Agora vamos nos aprofundar um pouco mais sobre esta concepção de saúde envolvendo a esfera social.
SAÚDE PÚBLICA x SAÚDE COLETIVA
A importância da saúde para a humanidade justifica o grande interesse e
preocupação em defini-la e compreendê-la em termos gerais e específicos. Essa
preocupação levou a diferentes formulações de conceitos sobre saúde, dos quais
dois são de fundamental relevância em termos de interesse por diferentes campos
do conhecimento e em termos de implicações diretas para a vida dos cidadãos de uma sociedade: saúde pública e saúde coletiva.
Neste momento algumas dúvidas já devem ter surgido para você. Em diferentes situações cotidianas ouvimos que a distinção básica entre público e privado é, respectivamente, aquilo que é do grupo/do todo e aquilo que é do indivíduo/particular. Diante disso, e considerando o que foi dito sobre a dimensão social de saúde coletiva, uma provável dúvida seria: "Qual seria a diferença entre saúde coletiva e saúde pública?"
Existem divergências quanto à compreensão e conceitos de saúde pública e coletiva. Contudo, a maioria dos estudiosos convergem quanto a existência de diferenças entre esses dois conceitos, mesmo que estas sejam sutis.
Para iniciar nossa conversa sobre essas concepções sugerimos que preste atenção a dois aspectos divergentes entre elas:
SAÚDE PÚBLICA
→Incorpora o domínio genérico de práticas e conhecimentos organizados institucionalmente em uma dada sociedade, dirigidos a um ideal de bem-estar das populações, envolvendo um conjunto de ações e medidas (dentre elas diagnósticas e de tratamento de doenças) que evitem, reduzam e/ou minimizem agravos à saúde, assegurando condições para a manutenção e sustentação da vida humana.
SAÚDE COLETIVA → Movimento sanitário de caráter social, com ápice em meados dos anos 70, que teve como produto a criação do SUS, que traz dentre suas características a busca por um atendimento em saúde focado na coletividade sem desconsiderar a diversidade.
Estes pequenos trechos sobre saúde pública e coletiva já trazem uma característica importante com relação a questão público x privado, você conseguiu visualizar?
A saúde pública pode ser enquadrada dentro da dimensão pública propriamente dita, contudo a saúde coletiva apresenta um aspecto que extrapola a dimensão pública, uma vez que considera também o particular/específico. Com isso, a saúde coletiva também aplica-se ao setor privado.
Portanto, é correto afirmar que toda saúde pública é coletiva (uma vez que
tem como foco estritamente no todo), mas nem toda saúde coletiva é pública
(considerando que também envolve o olhar para particularidades, podendo envolver o setor privado).
Vejamos mais algumas informações sobre saúde pública e saúde coletiva.
Preste atenção nas diferenças:
SAÚDE PÚBLICA
→Costuma se referir a formas de agenciamento político/governamental (programas, serviços, instituições) no sentido de dirigir intervenções voltadas às denominadas “necessidades sociais de saúde”.
SAÚDE COLETIVA → Implica em levar em conta a diversidade e especificidade dos grupos populacionais e das individualidades com seus modos próprios de adoecer e/ou representarem tal processo. E, que não necessariamente, passam pelas instâncias governamentais ditas responsáveis diretas pela saúde pública.
Este segundo conjunto de definições permite verificar que na saúde pública existe uma relação direta com instâncias governamentais (vinculação ao aparelho do estado), o que não ocorre obrigatoriamente com a saúde coletiva.
Dada sua importância ao contexto atual de saúde do Brasil, vamos nos aprofundar um pouco mais no entendimento da saúde coletiva.
Saúde Coletiva
Como visto, a saúde coletiva é um campo teórico e prático que entende a saúde como fenômeno social sendo, portanto, de interesse público (sem restringir-se a ele). Você viu ainda que ela não desconsidera particularidades entre os grupos e a diversidade, contemplando desta forma também, a esfera privada. Nesta perspectiva, a saúde coletiva compreende quatro dimensões:
•
Estado de saúde da população - condições de saúde de grupos populacionais específicos e tendências gerais do ponto de vista epidemiológico (causadores e mantenedores), demográfico, sócio- econômico e cultural;
•
Serviços de saúde - abrangendo o estudo do processo de trabalho em saúde;
•
Investigações sobre a organização social dos serviços e a formulação
e implementação de políticas de saúde;
•
Avaliação de planos, programas e tecnologias utilizadas na atenção à saúde.
Falamos que a saúde coletiva é um campo teórico-prático. E o que exatamente seria isso? Vamos entender um pouco melhor essa dupla face da saúde coletiva.
Sua face relacionada ao campo teórico fundamenta-se pela propagação dos movimentos de reforma da saúde nos centros de estudos, associações profissionais, organizações comunitárias, religiosas e partidos políticos. Tal difusão contribuiu para a formulação e execução de um conjunto de mudanças que ficaram conhecidas como Reforma Sanitária Brasileira (envolvendo releituras das legislações, alterações em currículos de graduação e pós-graduação em cursos da área da saúde, entre outros). Estes movimentos tomaram grandes proporções, levando a transformação profunda na concepção de saúde e seu entendimento como direito de cidadania e dever do estado.
Ainda do ponto de vista do saber, a saúde coletiva se articula em um tripé interdisciplinar: 1) epidemiologia, 2) administração e planejamento em saúde, e 3) ciências sociais em saúde. Este tripé tem um enfoque transdisciplinar, que envolve disciplinas auxiliares para sua formação, tais como: Estatística, Ecologia, Geografia, Antropologia, Economia, Sociologia, e Ciências Políticas, entre outras.
Título do Tópico - SAÚDE PÚBLICA x SAÚDE COLETIVA Subtópico - Saúde Coletiva
Ilustrar esquematicamente o tripé interdisciplinar da saúde coletiva.
Legenda: Tripé interdisciplinar da Saúde Coletiva banhado pelas diversas disciplinas que auxiliam sua fundamentação.
Objetivo: Auxiliar a compreensão dos três eixos da saúde coletiva e a importância
de diferentes disciplinas que lhe dão suporte.
Tripé interdisciplinar da Saúde Coletiva banhado pelas diversas disciplinas que auxiliam sua fundamentação.
Já no campo prático, a saúde coletiva, propõe um novo modo de organização do processo de trabalho em saúde que enfatiza:
• a promoção da saúde
• a prevenção de riscos e agravos
• a reorientação da assistência a doentes, e
• a melhoria da qualidade de vida
Nesta perspectiva, privilegia mudanças nos modos de vida e nas relações entre os sujeitos sociais envolvidos no cuidado à saúde da população.
Alguns consideram a "saúde coletiva" como categoria que abrange a corrente crítica constituída pela Medicina Social, pelo movimento preventivista, representado pelos Departamentos de Medicina Preventiva e Social de diversas Faculdades Médicas e por alguns componentes institucionalizados em nível estatal da própria área da “Saúde Pública”.
Mas para entender um pouco melhor isso é preciso retroceder um pouco na história, visitando alguns marcos sociais importantes que contextualizam o quadro atual da saúde coletiva no Brasil.
Breve passeio à história da Saúde no Brasil: Um enfoque na saúde coletiva
É possível situar o início da saúde coletiva com um movimento político em meados dos ANOS 70, o qual teve como protagonista a crise da saúde, dentro do contexto das lutas pela democratização do país.
Alguns estudos, como os de Nunes (1994) defendem um período anterior (meados dos anos 50), marcado por movimentos iniciados no Chile e no México.
Estes movimentos tiveram reflexos importantes nos países da América Latina, dentre eles o Brasil e envolviam reformas vinculadas a um projeto pedagógico tendo um enfoque mais preventivo. Criticava-se a biologização do ensino, das práticas individuais e centradas no hospital, defendendo-se uma visão mais completa do indivíduo. Esses movimentos teriam sido fundamentais para a origem da concepção biopsicosssocial, da incorporação de outras disciplinas na graduação em medicina (epidemiologia, ciências da conduta, administração de serviços de saúde, bioestatística, dentre outras), e do projeto preventista que ficou conhecido como "medicina comunitária" (Nunes, 1994).
A união desses entendimentos quanto ao início da saúde coletiva no Brasil e uma extensão desta a períodos mais recentes permite identificar três períodos sócio- históricos importantes, considerando os avanços da saúde coletiva no Brasil. Veja cada um deles.
Título do Tópico - SAÚDE PÚBLICA x SAÚDE COLETIVA
Subtópico - Breve passeio à história da Saúde no Brasil: Um enfoque na saúde coletiva
Ilustrar, por meio de linha do tempo, alguns marcos históricos importantes no percurso da estruturação do campo da saúde coletiva no Brasil.
Legenda: Linha do tempo: Percurso da estruturação do campo da Saúde Coletiva no Brasil
Objetivo: Pontuar e auxiliar a fixação de alguns marcos históricos importantes no
percurso da estruturação do campo da saúde coletiva no Brasil.
Linha do tempo: Percurso da estruturação do campo da Saúde Coletiva no Brasil
O primeiro período, iniciado em meados dos anos 50, compreende uma fase que se estendeu por cerca de quinze anos, marcada pelo início do "projeto preventista". A segunda fase, até o final dos anos 70, não isola os ideais preventistas, mas reforça a perspectiva de uma "medicina social", fortalecendo os movimentos a caminho da saúde coletiva (mesmo que ainda distantes de seu formato atual). A partir dos anos 80, a "saúde coletiva" ganha efetivamente força e estrutura-se, culminando na criação do Sistema Único de Saúde (Nunes, 1994).
Esta linha do tempo apresenta apenas alguns dos marcos históricos desse
período. Você poderá complementar e aprofundar seus conhecimentos com a leitura
dos textos referenciados ao final neste tópico; acessando uma linha do tempo
interativa sugerida na seção "Vale a Pena Conferir"; ou ainda, pesquisando outros
materiais.
RESUMO
Neste tópico apresentamos a você as diferenças entre a saúde púbica e a saúde coletiva. Você estudou que a saúde pública, com foco, no diagnóstico e tratamento das doenças, envolve o âmbito social, considerando a população em sua totalidade, além de vincular-se ao setor público (vinculada ao aparelho do Estado).
Estudou também que a saúde coletiva, embora também faça uma leitura sob uma perspectiva social, considera as particularidades, não estando vinculada unicamente a esfera pública.
De uma maneira geral, pode-se dizer que a SAÚDE COLETIVA surge para designar novos conteúdos e projeções que resultou do movimento sanitarista latino- americano e da corrente da reforma sanitária no Brasil. Pode-se ainda entender que o SUS originou-se desses movimentos de reformas.
Na prática, a saúde coletiva requer do profissional uma atitude que vai além da observação, diagnóstico e prescrição de tratamento ao paciente, incluindo a análise do processo saúde-doença de uma dada coletividade, considerando o contexto sócio-histórico ao qual ela está inserida.
Esperamos ter tornado mais suave seu percurso no aprendizado da discriminação entre os conceitos de saúde pública e saúde coletiva, e da compreensão de alguns marcos históricos da saúde pública no país (particularmente aqueles vinculados ao desenvolvimento da saúde coletiva).
Nos próximos tópicos, você conhecerá um pouco mais sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), a partir da apresentação de seus antecedentes históricos, princípios e diretrizes.
Até lá!
REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão de Investimento em Saúde.
Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem: Cadernos do Aluno: Saúde coletiva. 2 ed. rev. Brasília : Ministério da Saúde, Rio de Janeiro : Fiocruz, 2002.
Gomes, M S. História da saúde pública no Brasil. Disponível em:
<http://prezi.com/8twazfpqn_tt/historia-da-saude-publica-no-brasil/>. Acessado em: 29/28/2014.
Nunes, E. D. Saúde coletiva: História de uma ideia e de um conceito. Saúde e
Sociedade, 3(5): 5-21, 1994.
O Campo da Saúde Coletiva. Instituto de Saúde Coletiva / UFBa. Disponível em:
<http://www.isc.ufba.br/isc_saude.sp>
Pain, J. S. e Almeida Filho, N. de. Saúde coletiva: Uma "nova saúde pública" ou campo aberto a novos paradigmas? Revista de Saúde Pública, 32(4(> 299-316;
1998.
Saúde Pública. Disponível em:
<http://www.saudepublica.cict.fiocruz.br/html/pt/oqesp.html>
Souza Campos, G. W. de. Saúde pública e saúde coletiva: Campo e núcleo de saberes e práticas. Sociedade e cultura, 3(1-2); 51-74, 2000.
Exercícios
1) (UFAL - 2012/COPEVE - Caderno de Saúde Coletiva e Ambiente) A Saúde Coletiva é como um campo de práticas teóricas e de intervenções concretas na realidade que tem como objeto o processo saúde-doença nas coletividades (AUGUSTO, 2003). Sobre a Saúde Coletiva, é incorreto afirmar:
a) a compreensão da saúde a partir da Saúde Coletiva leva em consideração as dimensões biológicas, sociais, psíquicas e ecológicas, articulando, assim, o individual com o coletivo. (feedback: Resposta incorreta, pois os conteúdos que contemplam afirmações verdadeiras sobre a saúde coletiva estão descritos nas alternativas "a", "b" e "d")
b) a Saúde Coletiva trouxe um novo enfoque para o entendimento do processo saúde-doença, visto como algo em permanente transformação, cuja ação se dá num meio que não é somente reativo, mas, sobretudo, transformável.
(feedback: Resposta incorreta, pois os conteúdos que contemplam afirmações verdadeiras sobre a saúde coletiva estão descritos nas alternativas "a", "b" e "d")
c) a Saúde Coletiva numa concepção de Saúde Ambiental foi moldada unicamente num modelo que alinha os riscos físico-químicos ao processo saúde-doença das populações. (feedback: Parabéns, você acertou! Porque os conteúdos que contemplam afirmações verdadeiras sobre a saúde coletiva estão descritos nas alternativas "a", "b" e "d")
d) na Saúde Coletiva, procura-se olhar a saúde a partir da Medicina Social que
vai entender o processo saúde-doença pensando a produção e distribuição de
agravos à saúde em suas várias formas, dimensões e conteúdos presentes
na sociedade. (feedback: Resposta incorreta, pois os conteúdos que
contemplam afirmações verdadeiras sobre a saúde coletiva estão
descritos nas alternativas "a", "b" e "d")
Vale a pena conferir
"Políticas de saúde no Brasil: Um século de luta pelo direito à saúde" (2006 - dirigido por Renato Tapajós) é um documentário realizado pelo Ministério da Saúde em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e a Universidade Federal Fluminense, que apresenta a história das políticas de saúde do Brasil, articulando-a com a história política brasileira. Destaca os mecanismos que foram criados para sua implementação, desde as Caixas de Aposentadoria e Pensões até a implantação do Sistema Único de Saúde.
Confira também a linha do tempo interativa "História da Saúde Pública no Brasil" desenvolvida pelo Prof. Ms. Marcelo Salcedo Gomes e disponível na internet para acesso online.
Fonte: http://prezi.com/8twazfpqn_tt/historia-da-saude-publica-no-brasil/
