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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA. Símbolo do reino de Deus na Teologia da Libertação pela leitura da Teologia Sistemática de Paul Tillich Por Daniel Vieira da Silva. São Bernardo do Campo Fevereiro de 2019.

(2) UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA. Símbolo do reino de Deus na Teologia da Libertação pela leitura da Teologia Sistemática de Paul Tillich Por Daniel Vieira da Silva. Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de PósGraduação em Ciências da Religião, para obtenção do grau de Mestre. Orientadores: Dr. Vitor Chaves de Souza Dr. Cláudio de Oliveira Ribeiro. São Bernardo do Campo Fevereiro de 2019.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA. Si38s. Silva, Daniel Vieira da Símbolo do reino de Deus na teologia da libertação pela leitura da teologia sistemática de Paul Tillich / Daniel Vieira da Silva -- São Bernardo do Campo, 2019. 108 p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) --Diretoria de Pós-Graduação e Pesquisa, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo. Bibliografia Orientação de: Vitor Chaves de Souza e Cláudio de Oliveira Ribeiro. 1. Tillich, Paul, 1886-1965 – Crítica e interpretação 2. Símbolos teológicos 3. Reino de Deus 4. Teologia da libertação I. Título CDD 230.

(4) A dissertação de mestrado sob o título “Símbolo do reino de Deus na Teologia da Libertação pela leitura da Teologia Sistemática de Paul Tillich”, elaborada por Daniel Vieira da Silva, foi defendida e aprovada em 06/04/2019, perante banca examinadora composta por Vitor Chaves de Souza (Presidente/UMESP), Helmut Renders (Titular/UMESP) e Deborah Vogelsanger Guimarães (Titular/Faculdade Messiânica).. ____________________________________________________ Prof. Dr. Vitor Chaves de Souza Orientador e presidente da banca examinadora. ___________________________________________________ Prof. Dr. Helmut Renders Coordenador do Programa de Pós-Graduação. Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião Área de concentração: Linguagens da Religião Linha de pesquisa: Teologia das Religiões e Cultura.

(5) AGRADECIMENTOS. Agradeço a Universidade Metodista e ao programa de Ciências da Religião por oferecer um curso de excelência. Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), pelo financiamento desta pesquisa. Agradeço ao meu orientador Professor Doutor Vitor Chaves de Souza, como também, ao Professor Doutor Cláudio de Oliveira Ribeiro o meu orientador no início deste projeto e ao professor Doutor Helmut Renders coordenador do programa. Minha gratidão infinita a minha família que se envolveu direta e indiretamente nesse difícil processo. Interviram financeiramente e de todas as outras formas possíveis que colaborassem para que eu me dedicasse no período do curso, eles fazem as coisas terem um sentido maior. Esses dois últimos anos não podem ser mensurados apenas pelos créditos das matérias cursadas e nem pela produção científica, mas também pelo apoio e a compreensão integral de quem caminhou comigo nesse tempo. Por isso, minha gratidão não tem fim. Muito obrigado. Dedico todo resultado deste trabalho a minha companheira Gabriela Silva. E esse é um adjetivo insuficiente, no entanto, preciso para descrever a parceria que estabelecemos ao longo da vida. Durante todas as dificuldades nossa cumplicidade se mostra mais forte e mais íntima. Obrigado pela generosa atitude de compreender e pelos momentos em que estive perdido e você me conduziu pela mão. Não seria possível sem você. Agradeço ao Deus de muitos rostos, vozes e nomes. Ao Deus da diversidade e do plurarismo. Ao Deus que confundem os sábios e se revela aos loucos. Ao Deus que se faz presente na ausência e também se torna a última esperança para os que têm sede de justiça..

(6) O reino de Deus é semelhante a um grão de mostarda, que um homem tomou e plantou na sua horta, e que cresceu e fezse árvore; e as aves do céu pousaram nos seus ramos..

(7) Esta pesquisa foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).

(8) SILVA, Daniel Vieira. Símbolo do reino de Deus na Teologia da Libertação pela leitura da Teologia Sistemática de Paul Tillich. Dissertação de Mestrado em Ciências da Religião. Diretoria de Pós-Graduação e Pesquisa, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). São Bernardo do Campo, 2019.. RESUMO. A presente dissertação se propõe a investigar as implicações do símbolo reino de Deus na Teologia Sistemática de Paul Tillich para a reflexão latino-americano. Busca-se compreender este reino em meio a tensão da expectativa e realização, também, como uma possibilidade de esperança àqueles que anseiam por justiça e libertação nesse mundo. Faz parte desse processo identificar elementos que se reconheçam nesse reino, cuja característica principal é a relação com os aspectos da vida humana. São expressões que nascem de uma relação do divino com o humano e se culminam em respostas para fragilidades da vida, além de atuar na maneira como experienciamos a religião. Se trata da valorização do que é central na mensagem cristã, sem perder de vista questões que são fundamentais na história e no cotidiano humano. Uma maior compreensão da realidade histórica, por um lado, e também, da própria existência, por outro. No primeiro momento o objetivo é tentar compreender o que é o reino na teologia de Tillich. Depois, trabalhar com o símbolo e o reino como objetos da reflexão. Por fim, a observação do reino de Deus sob a compreensão de um símbolo político será feita em diálogo com a Teologia da Libertação, acompanhando os riscos de uma interpretação que se distância da sua dimensão simbólica.. Palavras-chave: Paul Tillich; símbolo; reino de Deus; Teologia da Libertação..

(9) SILVA, Daniel Vieira. Simbol of the kingdom of God in the Theology of Liberation by the Reading of Paul Tillich’s Systematic. Dissertação de Mestrado em Ciências da Religião. Diretoria de Pós-Graduação e Pesquisa, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). São Bernardo do Campo, 2019.. ABSTRACT The present dissertation proposes to investigate the implications of the symbol God’s kingdom in Systematic Theology of Paul Tillich for the Latin American reflection. It seeks to understand this kingdom in midst the tension of the expectation and fulfillment, also, as a possibility of hope for those who yearn for justice and liberation in this world. It is part of this process to identify elements that are recognized with this kingdom, whose main characteristic is the relation with the aspects human’s life. They are expressions that born of a relationship of the divine with the human and culminate in responses to life's fragilities, as well as acting in the way we experience the religion. It is about the valuation what is central to the Christian message, without losing sight issues that are fundamental in human history and daily life. A greater understanding of historical reality, on the one hand, and also, own existence, on the other. In the first moment the goal is to try to understand what is the kingdom in Tillich's theology. Then, to work with the symbol and the kingdom as objects of reflection. Finally, the observation of the God’s Kingdom under the understanding of a political symbol will be made in dialogue with Liberation Theology, accompanying the risks of an interpretation that distances itself from its symbolic dimension.. Key-words: Paul Tillich; symbolism; kingdom of God; Theology of Liberation..

(10) Sumário Agradecimentos ................................................................................................... 5 Introdução..........................................................................................................12 Capítulo I O Reino de Deus na Teologia Sistemática .............................................17 I.1 Uma aproximação do autor: uma contribuição latino-americana à biografia e a Teologia Sistemática de Paul Tillich ........................................................................... 18 I.1.1 A Teologia Sistemática ........................................................................................... 22 I.1.1.1 A escatologia como chave de leitura da obra ...................................................... 25 I.2 A história do reino: como o reino de Deus é desenvolvido na relação com a história 27 I.2.1 O que é história para Tillich ................................................................................... 28 I.2.2 A busca do sentido da história como contexto para o reino de Deus..................... 30 I.2.3 A História e o Demônico......................................................................................... 33 I.2.4 Kairós e Teonomia................................................................................................. 34 I.2.5 A correlação do reino ............................................................................................. 36 I.2.6 O tempo do reino: “fora, dentro e como o fim da história” ................................... 38 I.3 A igreja como representante do reino de Deus e os seus Aspectos fragmentários e antecipatórios .......................................................................................................... 40 I.3.1 A Comunidade Espiritual ........................................................................................ 42 I.3.2 Considerações intermediárias ................................................................................ 43. Capítulo II: O símbolo reino de Deus e suas expressões na existência humana .....46 II.1 A questão do símbolo em Tillich .......................................................................... 47 II.1.1 Uma leitura existencial-ontológica e hermenêutica-ontológica na interpretação linguagem do símbolo .................................................................................................... 50 II.1.2 O símbolo como a linguagem da religião e a sua produção de sentido ................. 53 II.2 O símbolo reino de Deus na Teologia Sistemática ................................................. 54 II.2.1 As qualidades de imanência e transcendência ...................................................... 57 II.3 O símbolo reino de Deus e a sua relação com a existência humana........................ 59 II.3.1 O reino de Deus e a ambiguidade da vida humana ............................................... 60 II.3.2 A vida e suas ambiguidades .................................................................................. 61 II.3.3 A ambiguidade da religião ..................................................................................... 63 II.3.4 O Divino e o Demônico ......................................................................................... 64 II.3.5 O sagrado e o secular (profano) ............................................................................ 65 II.4 O reino de Deus como símbolo e emancipação da vida sem ambiguidade .............. 66 II.5 O Princípio Socialista e o reino como um símbolo político ..................................... 67 II.5.1 Considerações intermediárias ............................................................................... 69. Capítulo III Entre a expectativa e a construção do Reino de Deus .........................71.

(11) III.1 Um referencial da Teologia da Libertação............................................................ 72 III.1.1 Um olhar pelo retrovisor: críticas e contribuições na forma de se fazer teologia 75 III.1.2 O símbolo do reino na Teologia da Libertação ..................................................... 79 III.2 A dimensão política: o reino de Deus como esperança de libertação..................... 82 III.3 Os elementos do símbolo reino de Deus na prática pastoral e cotidiana ............... 87 III.4 A centralidade da vida na realização e utopia ...................................................... 93 III.4.1 Considerações intermediárias .............................................................................. 97. Considerações finais ...........................................................................................99 Bibliografia ................................................................................................................... 104.

(12) INTRODUÇÃO. O símbolo reino de Deus é comum àqueles que possuem uma vivência religiosa no âmbito cristão. Ele se encaixa de forma quase perfeita, seja no começo ou no final de um discurso cristão. Para se referir a razão do presente ou a esperança do futuro, este reino parece acomodar diversas correntes teológicas sem aparentemente provocar grandes choques e contradições. Ou o termo é extremamente claro para quem o ouve, ou, então, a sua abrangência constrói tantos sentidos quanto os requeridos por quem os evoca. Apesar da familiaridade do termo, definí-lo em uma sentença clara e específica, sem diminuir a riqueza e as possibilidades pertencentes ao mesmo, se mostra uma tarefa impossível de se realizar. Quando recorremos aos evangelhos o que podemos afirmar é que tal símbolo preenchia o contéudo da mensagem de Jesus, que, por sua vez, o utilizou em diversos contextos e especialmente por meio de parábolas. O caminho escolhido para tratar sobre o símbolo em questão passa pela seleção de um autor principal: Paul Tillich e o indispensável uso da Teologia Sistemática, sua obra célebre como referencial central. Além de aprofundar o autor e a obra como base do trabalho, há, principalmente, uma aproximação da tratativa feita por Tillich sobre o símbolo reino de Deus com a maneira que a Teologia da Libertação se relacionou com o mesmo símbolo e a sua importância no contexto da América Latina. Trata-se de uma aproximação. 12.

(13) temática cujo objetivo é buscar elementos convergentes, assim como pontos que se distanciam entre as duas teologias. A proposta é uma investigação do símbolo em questão na obra citada de Tillich, o que não impede a consulta de outros símbolos relacionados. E, então, fazer uma releitura do símbolo reino de Deus na Teologia da Libertação, aplicando elementos e conceitos tillichianos para tal empreitada, tendo na história e na política os maiores pontos de contato. A escolha do autor se baseia na notoriedade e reconhecimento da sua importância pelas áreas de Filosofia, Teologia e Ciências da Religião, além de outras áreas como Política, Arte e Cultura que se misturam em vários momentos de seu pensamento. Um exemplo dessa importância pode ser encontrado na produção de dissertações e teses sobre o autor. Somente no programa de Ciências da Religião da Universidade Metodista já são quase 30 pesquisas realizadas desde a fundação do curso, além de outras diversas pesquisas em outras universidades brasileiras, como por exemplo, a PUC e UFMG. O que dentre outras coisas demonstra a importância do autor e a possibilidade de diálogo com diversos temas e áreas, não necessariamente relacionadas a Filosofia ou Teologia. Se um autor continua sendo motivo de ampla pesquisa durante tanto tempo é porque o seu pensamento trata sobre temas que continuam a ter relevância e pertinência na compreensão de mundo e principalmente na relação de temas que o ajude a compreendê-lo. Outro indicativo que justifica a pesquisa sobre o autor é a presente e ativa organização do grupo de pesquisa Paul Tillich, fundado em 1993, presidido por Etienne Higuet e vinculado ao programa de Ciências da Religião da Universidade Metodista, dedicado ao estudo de seu pensamento e produção de artigos científicos sobre o tema, por meio da revista Correlatio que se dedica principalmente a temática tillichiana. Quanto ao referencial teórico utilizado convém destacar quase a totalidade de autores brasileiros ou que se estabeleceram residência no país há algum tempo. Essa escolha foi feita inicialmente como uma maneira de delimitar a bibliografia, mas acima de tudo, com o intuito de valorizar às várias pesquisas feitas por esses autores. Esclarecido alguns pontos iniciais cabe agora discorrer mais diretamente sobre o tema. E este consiste na investigação do símbolo reino de Deus na Teologia Sistemática de Paul Tillich e suas implicações sociais, políticas e teológicas desenvolvidas pelo autor, além de pensar a sua relevância na experiência religiosa e na possibilidade de diálogo com. 13.

(14) a Teologia da Libertação. Deste modo, o símbolo é tratado de maneira central na construção da pesquisa, tanto em Tillich que ocupa o maior espaço da mesma, quanto para Teologia da Libertação, que também destaca o reino como um símbolo importante na sua maneira de fazer teologia. Mais do que levantar o significado do reino de Deus, a ideia presente em todo percurso percorrido é de como ele se relaciona, ou se correlaciona, com outros conceitos do autor principal e por autores da Teologia da Libertação que desenvolveram o tema. Logo, a pergunta de como o símbolo do reino de Deus é compreendido na Teologia Sistemática e de que maneira a sua leitura em Tillich e a sua releitura na América Latina por meio da Teologia da Libertação podem colaborar na interpretação dos processos históricos, políticos e sociais, especialmente em nosso contexto, parece ser a pergunta fundamental a ser respondida. Além das possibilidades do surgimento de questionamentos presentes desde o cotidiano até os relacionados à existência humana, que estão implicados na investigação deste símbolo. A relevância direta do tema consiste em se analisar as formas como o reino pode ser apresentado e, ao mesmo tempo, assumir uma representação de esperança e libertação de sistemas causadores de diversas maneiras de opressão e sofrimento. O que o caracteriza também como uma resposta teológica para as perguntas produzidas pela condição humana. A identificação dos principais símbolos apresentados na obra que melhor se articule com o símbolo principal aqui tratado, pode servir como ponto de partida para resposta dessa pergunta. Levando-se em conta que além de uma parte dedicada exclusivamente ao símbolo reino de Deus na obra citada de Tillich, também encontramos referências em várias outras partes da obra. O que justifica a articulação feita com outros símbolos e conceitos tratados pelo autor. Assim, esta pesquisa se propõe a explorar as possibilidades do símbolo reino de Deus na Teologia Sistemática de Paul Tillich, buscando sempre as contribuições e correlações com elementos da vida, sobretudo no encontro de sentido para as inquietações e fragilidades humanas. E de como esse processo pode ser uma fonte produtora de sentido para a experiência do cotidiano e da existência humana. É na relação entre o símbolo reino de Deus e em questões que nascem da condição da existência humana que a hipótese deste trabalho é construída. Na tensão entre a realização e a expectativa, entre o ‘já’ e o ‘ainda não’ que não possui uma linha limítrofe destacada. Assim, desconfiamos que essa linha nem sempre tenha sido tão clara conforme o 14.

(15) momento histórico vivido, inclusive na Teologia da Libertação. A interpretação que Tillich faz em sua obra sobre o tema parece ser uma excelente opção para se trilhar em meio a essa tensão, os elementos oferecidos por ele permitem a valorização da ação humana sem tomar para si os atributos do incondicional. Ou seja, uma leitura tillichiana do símbolo reino de Deus não exime a pessoa de assumir a responsabilidade pelas suas ações, e essas devem ser convergentes com os valores de justiça e equidade contidos no símbolo. Ao mesmo tempo, anuncia a mensagem que esse reino é preparado e oferecido por Cristo e realizado no símbolo do Novo Ser. Na efervescência da Teologia da Libertação essa tensão pode ter sido tentada a romper para o lado da realização. O que seria um risco previsível, já que os frutos plantados não demoraram para aparecer, especialmente ao se incentivar uma leitura popular da Bíblia, por exemplo. A maneira comunitária de se fazer teologia, o que também fomentava a sua prática cotidiana, pode ter favorecido a sensação de uma construção do reino de Deus. O que por um lado diminui a presença do incondicional nessa construção e abre espaço para diversas formas de idolatria, sobretudo de projetos políticos e religiosos. Além disso, corre-se o risco de um certo esgarçamento do símbolo que esvazia sua riqueza e complexidade. Este símbolo foi fundamental para a teologia de Tillich e pode ser um caminho cheio de possibilidades, para entender o encontro do divino com o humano e as expressões dessa relação no contexto latino americano. O trabalho se divide em três capítulos. No primeiro, busca-se uma aproximação do autor e de pontos de seu pensamento que são mais relevantes para o tema tratado, também, as possibilidades de como ele interpreta o símbolo do reino de Deus na Teologia Sistemática. Como ponto de partida há uma breve biografia do autor com notas pessoais e cronológicas que ajudam tanto para apresentar o autor como para compreender como ele construiu a sua linha de pensamento. Além da apresentação dessa obra que é seguida de um recorte que interessa à pesquisa, aqui o reino é trabalhado principalmente em relação com a história, contendo aspectos intra-históricos e trans-histórico em uma expectativa de promessa e realização. A perspectiva antecipatória e fragmentária da igreja como representante do reino no mundo é o item que conclui a parte. No capítulo seguinte a proposta é trabalhar o reino de Deus na condição de um símbolo. Fica reservado para esta parte a análise da função e carcterísticas do símbolo e como o mesmo pode ser resposta para questões que tocam a existência humana, também, 15.

(16) verificar se o símbolo do reino de Deus possui algo além dos outros que o torna especial para a teologia cristã. O primeiro ponto trata da questão do símbolo na teologia de Tillich. Desde apontamentos gerais até a sua importância e a sua função de mediação entre o condicional e o incondicional como linguagem da religião, neste segundo caso, em específico dos símbolos religiosos. Seguido das possibilidades de leitura e produção de sentido construído nesse processo simbólico. Dado esses apontamentos gerais aborda-se de forma mais específica como o símbolo de Deus é apresentado na Teologia Sistemática e a importância da sua relação com outros símbolos equivalentes. Por fim, no terceiro e último capítulo a proposta é fazer uma leitura a partir da interpretação de Paul Tillich do símbolo reino de Deus na Teologia da Libertação. De modo que não é a intenção fazer uma abordagem cronológica ou por autor desta teologia, embora haja momentos e em que esses elementos devam ser situados e justificados para uma melhor organização e relação desta parte coma as outras já tratadas. O caminho escolhido para esta tarefa é iniciado com uma síntese histórica e dos principais objetivos da Teologia da Libertação, seguida do símbolo do reino de Deus nesse contexto. O capítulo segue estruturado por uma abordagem do símbolo central que se apoia em três eixos principais: em sua dimensão política, prática e existencial; sempre sob um aspecto de utopia e realização onde os conceitos de construção e utopia do reino são abordados. Como último tópico desta introdução desejo citar o nome do professor Cláudio de Oliveira Ribeiro, um especialista no assunto que me recebeu na condição de orientando no programa e foi o primeiro e um grande motivador desta pesquisa. Infelizmente não foi permitido que trilhássemos juntos o caminho até o final, mas partilho do sentimento de gratidão às aulas e orientações que foram fundamentais para o todo desse processo.. 16.

(17) CAPÍTULO I O REINO DE DEUS NA TEOLOGIA SISTEMÁTICA. Este primeiro capítulo tem por objetivo buscar a reflexão sobre o Reino de Deus na Teologia Sistemática de Paul Tillich. Interessa nesse primeiro momento se aproximar do pensamento do autor com a intenção de encontrar aquilo que melhor emprega o significado do reino. Mesmo utilizando sua obra mais importante como referência central da pesquisa, há momentos em que outros textos de Tillich e de seus importantes leitores no Brasil são utilizados com o intuito de elucidar o caminho a ser trilhado.1 Temos como ponto de partida uma breve biografia do autor com pontos pessoais e cronológicos que ajudam tanto para apresentar o autor como para compreender como ele construiu a sua linha de pensamento. Peculiaridades como a importância do conceito de fronteira e sobre as experiências das duas grandes guerras, sendo a primeira como participante ativo, fato que influenciou na sua carreira pastoral e acadêmica, sobretudo na sua. 1. Em virtude de inúmeras introduções e biografias a respeito de Paul Tillich, propomos apresentar o autor por intermédio de teóricos latino-americanos (o que chamamos de “uma contribuição latino-americana”), para valorizar a pesquisa, sobretudo em solo brasileiro, e também porque o trabalho contemplará, em sua terceira e última parte, a incidência da teologia de Tillich na teologia da América-Latina através pela abordagem do reino de Deus como símbolo.. 17.

(18) forma de fazer teologia. Sendo que é importante não perder de vista este contexto em que foi formado os seus textos teológicos. Sobre a Teologia Sistemática, o destaque fica por conta da construção cuidadosa e detalhista da obra, também a sua importância para a pesquisa teológica no mundo, dado o seu valor e relevância para a teologia contemporânea. Além da apresentação da obra, seguido o recorte de interesse à pesquisa, consta uma sugestão metodológica de leitura que propõe a escatologia como fio condutor para a compreensão da mesma. Há uma ênfase na parte destinada ao reino, onde se encontra a maioria dos textos pesquisados nessa primeira parte do trabalho.2 O reino é trabalhado principalmente em relação com a história, contendo aspectos intra-históricos e trans-histórico. Em uma expectativa de promessa e realização que tem como destino o reino como um telos e a superação total do temporal da história.3 No aspecto existencial apresentam-se algumas ambiguidades inerentes da condição humana, cuja resposta e suplantação das mesmas podem ser encontradas no símbolo que é tema central dessa pesquisa. Por fim, a igreja como representante do reino no mundo é o item que conclui o primeiro capítulo. Nesse ponto a perspectiva antecipatória e fragmentária da igreja é trabalhada, com a intenção de nos ajudar a entender essa possibilidade dupla da função de ocultar e revelar o reino executada por ela.. I.1 Uma aproximação do autor: uma contribuição latino-americana à biografia e a Teologia Sistemática de Paul Tillich Paul Tillich (1886-1965) tem o conceito de fronteira como característica marcante em sua vida, filosofia e teologia. Desde traços fundamentais como lugar em que viveu e nasceu, já que “sua vida se passou em dois continentes, Europa e América do Norte, e sua. 2 3. O tema do reino de Deus aparece com mais ênfase no terceiro volume da Teologia Sistemática. Sendo o telos do Reino o último vir-a-ser da história ou da Vida Eterna em geral. Cf. TILLICH, Paul. Teologia Sistemática, 2014, p. 833.. 18.

(19) história em dois séculos, o 19 e o 20”.4 O seu pensamento também se articulou nesse processo, a “sua visão filosófica do mundo desenvolveu-se entre o essencialismo e o existencialismo, e sua teologia cristã, entre o princípio protestante e a substância católica”.5 O que sempre favoreceu uma reflexão aberta e de forma interdisciplinar com outras áreas do saber. Quanto à sua estrutura familiar, o pai e a mãe nasceram respectivamente na Alemanha oriental e ocidental, fato contribuinte para essa linha em questão. “Segundo ele, o situar-se na fronteira, tão característico de sua biografia, não poderia ser compreendido sem levar em conta estes condicionamentos da infância”.6 Outra demarcação relevante seria entre o finito e o infinito, cujo primeiro, dentre outras características, se apresenta como uma possibilidade de conter o infinito. Essa demarcação na forma de construir e desenvolver as suas obras, permeia as suas reflexões ao longo da vida, especialmente no que diz respeito a teologia e cultura. A sua vida é normalmente dividida em três períodos de atividades na fase alemã. O primeiro período, de 1912 a 1918, é conhecido pelo início do seu pastorado que aponta a sua teologia mais próxima as necessidades e angústia das pessoas. Também é o período que envolve a Primeira Guerra Mundial, quando ele exerceu o serviço de capelania por vários anos. Momento bastante crítico em meio à tragédia e sofrimento de uma longa e devastadora guerra, em que um certo pessimismo existencial o atingiu por meio de experiências que transformaria principalmente a sua maneira de ser pastor e de fazer teologia. O segundo período, por sua vez, dos anos 1919 a 1924, é marcado pela primeira década do pós-guerra, cuja presença do socialismo em seus escritos e ações ganha notável espaço, já que nesse tempo “o socialismo representa para Tillich a esperança da irrupção de um novo tempo”.7 Acontece aqui a sua aproximação com o socialismo religioso. Esse período também é marcado pelo divórcio e o novo casamento que duraria até o fim de sua. 4. PARRELA, Frederick J. Vida e Espiritualidade no pensamento de Paul Tillich. Correlatio, São Paulo, v.3, n.5, p. 48, 2004. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/COR/article/viewFile/1764/1750 Acesso em: 2/11/2018 5 Idem, p. 48. 6 BEIMS, Robert e MUELLER, Enio. Fronteiras e Interfaces: o pensamento de Paul Tillich em perspectiva interdisciplinar. São Leopoldo: Sinodal, 2005, p. 12. 7 Idem, p. 21.. 19.

(20) vida. Um período fértil, no entanto, cheio de desafios pessoais para se manter quando “morou e trabalhou em Berlim entre 1919 e 1924. Nos primeiros meses, sua situação financeira era tão instável que ele foi sustentado por um amigo de sua antiga paróquia”.8 As diversidades de situações sempre foram fartas tanto no aspecto histórico em que viveu, quanto na sua vida pessoal. Já o terceiro e último período dessa fase, de 1924 a 1929, além de muitos textos importantes publicados e uma significativa e intensa atuação acadêmica, “Tillich desenvolve suas principais ideias sobre filosofia da história a partir da categoria do kairós. Acrescenta-lhe uma nova e importante categoria, a do demônico na história”.9 Conceito forjado sob a experiência de um poder político totalitário de sua época, que reivindicava para si a categoria do absoluto na história e que foi interpretado pelo autor como uma forma do demônico. No chamado período de Frankfurt que vai de 1929 a 1933, ele assume uma cátedra em 1929 e permanece lá por cerca de quatro anos onde se reunia em um pequeno círculo de intelectuais notáveis. Nesse período ele se aproxima do movimento socialista cristão e chega a se filiar ao movimento. Entretanto, rompe com o mesmo na desesperança de que não é pela dimensão política que a experiência do kairós acontecerá. Também é um momento no qual a interpretação da história por meio de elementos simbólicos aparece em sua obra A decisão socialista. Em 1933 foi demitido e perseguido pelo regime nazista. Segundo Eduardo Gross ainda sobre esse episódio, é “fato de esta obra ter sido, possivelmente, um dos motivos para a perda da sua cátedra filosófica em Frankfurt”.10 Apesar disso não foge apressadamente, na expectativa de que Hitler seria derrotado em breve. “Sentiuse tentado de entrar para o movimento subversivo da resistência e permanecer em sua terra”;11 e finalmente se vê obrigado a ir embora para os Estados Unidos.. 8. CALVANI, Carlos Eduardo. Vida e Obra de Paul Tillich a partir de seu conexto. In: SOUZA, V. C.; TADA, E. S. (org). Paul Tillich e a linguagem da religião. Santo André: Kapenk. 2018, p. 74. 9 BEIMS, Robert e MUELLER, Enio. Fronteiras e Interfaces: o pensamento de Paul Tillich em perspectiva interdisciplinar. São Leopoldo: Sinodal, 2005, p.25. 10 GROSS, Eduardo. Elementos do pensamento de Schelling na obra de Paul Tillich. Numen: revista de estudos e pesquisa da religião, Juiz de Fora, v. 7, n. 2, 2004, p. 92. Disponível em: https://numen.ufjf.emnuvens.com.br/numen/article/view/717/619. Acesso em: 21/10/2018. 11 PARRELA, Frederick J. Vida e Espiritualidade no pensamento de Paul Tillich. Correlatio, São Paulo, v.3, n.5, p.94, 2004. Disponível em: file:///C:/Users/win%2010/Downloads/1764-3673-1-PB.pdf. Acesso em: 2/11/2018. 20.

(21) Submetido em um exílio não desejado, o teólogo alemão enfrenta a dificuldade de ter que se adaptar a outra língua e cultura. Ele continua a lecionar teologia e filosofia em faculdades americanas e a produzir e traduzir textos importantes. Embora nesse primeiro momento ainda não tivesse certeza de quanto ficaria por lá de fato, era uma situação terrível causada pelo regime nazista na qual prestigiados intelectuais se viam em uma terra estrangeira em condição muito distante das suas carreiras acadêmicas em tempos de paz. Agora tem de se adaptar a uma nova realidade de recomeços e incertezas de suas vidas. Em 1948 Tillich visita a Alemanha pela primeira vez depois da guerra. Volta aos Estados Unidos ainda com mais prestigio, onde permanece até o fim de sua vida. É a partir dos anos de 1950 que ele, a pedidos, começa a reunir os seus textos que dariam origem a sua principal obra: Teologia Sistemática. Em 1951 é publicado o primeiro volume, contendo as primeiras duas partes, ‘A Razão e a Revelação’ e ‘O Ser e Deus’, e que foi logo recebido como um clássico. Inicialmente estava previsto somente um segundo volume, que depois acabou sendo desdobrado em dois. Em 1957 aparece, enfim, o segundo volume, contendo somente a terceira parte, ‘A Existência e o Cristo’. O terceiro e último volume terá que esperar ainda outros seis anos, sendo publicado somente em 1963. Contém a quarta e a quinta partes, ‘A Vida e o Espírito’ e a ‘História e o Reino de Deus’. Quando completa, a Teologia Sistemática foi saudada como uma das mais importantes obras da história da Teologia.12. A obra chega ao Brasil em 1984 e é revisada em 2005. Essa é a principal obra de Tillich e uma imprescindível Teologia Sistemáticas cristã. Trata-se de uma tentativa de reunir e organizar os conteúdos da fé cristã, tarefa que parece sempre incompleta. Também “entender o que faz do cristianismo uma fé diferente das outras religiões”.13 A sistemática busca ordenar e a afirmar aquilo que foi revelado pelo conteúdo bíblico e nas doutrinas fundamentais do cristianismo. Quanto a tradução para o português de outras obras: Foi nos anos 80, a partir da publicação da Teologia Sistemática (três volumes em um, tradução de Getúlio Bertelli e co-edição da Sinodal e Paulinas) que a obra de Tillich passou a ser mais divulgada no Brasil. A partir de então, outras traduções apareceram. A ASTE publicou Perspectivas da Teologia Protestante nos séculos XIX e XX em 1986 e História do Pensamento Cristão em 1988 (ambos traduzidos por Jaci Maraschin) e a Sinodal lançou Dinâmica da Fé, com tradução de Walter Schlupp em 1989.. 12. BEIMS, Robert e MUELLER, Enio. Fronteiras e Interfaces: o pensamento de Paul Tillich em perspectiva interdisciplinar. São Leopoldo: Sinodal, 2005, p.34-35. 13 PINHEIRO, Jorge. Teologia Bíblica e Sistemática: o ultimato da práxis protestante. São Paulo: Fonte Editorial, 2012, p.15.. 21.

(22) Em 1992 é publicado A Era Protestante, seguindo-se um vácuo de lançamentos até 2004 quando a Editora Novo Século publica Amor, Poder e Justiça.14. Paul Tillich faleceu em 1963 em Chicago sendo produtivo até o final de sua vida. Após essa breve síntese para situar o autor, cuja tarefa pretendia compreender e tornar mais claros alguns conceitos complexos acerca da vida humana, cabe agora adentrar em seu sistema teológico com a intenção da apresentação de alguns pontos principais de seu pensamento teológico.. I.1.1 A Teologia Sistemática. A visão teológica fundamental proposta por Tillich “se constrói sobre as bases lançadas pela filosofia da religião”15, segundo Enio Mueller, por meio de seu método e interesse comum do sentido último nas produções humanas de ambas as áreas. Além do ponto de vista individual de sua teologia, ela sempre será existencial e contextual, com os temas da existência e da interação histórica conectadas. De modo que coloca a Teologia Sistemática como teologia confessional por “penetrar no significado dos símbolos cristãos”16 que envolve um ponto de vista apologético e o da correlação. O método da correlação utilizado na composição da Teologia Sistemática “começa com uma análise da situação humana de onde surgem as questões existenciais e demonstra que os símbolos usados pela mensagem cristã, são autênticas respostas a essas perguntas”.17 É a experiência da sua própria existência que tornam as reflexões existenciais, pois ela traz em si algo comum a natureza em sua forma mais abrangente, cujas respostas são. 14. CALVANI, Carlos Eduardo. A recepção do pensamento de Tillich no Brasil. Correlatio, São Paulo, v.3, n.6, p.154, 2004. Disponível em file:///C:/Users/win%2010/Downloads/1764-3673-1-PB.pdf. Acesso em: 11/11/2018 15 BEIMS, Robert e MUELLER, Enio. Fronteiras e Interfaces: o pensamento de Paul Tillich em perspectiva interdisciplinar. São Leopoldo: Sinodal, 2005, p.68. 16 TILLICH apud MUELLER. Fronteiras e Interfaces: o pensamento de Paul Tillich em perspectiva interdisciplinar. São Leopoldo: Sinodal, 2005, p.71-72. 17 HIGUET, Etienne A. O método da Teologia Sistemática de Paul Tillich: A relação da razão e da revelação. Estudos da Religião, SBC, ano X, n°10, julho 1995, p. 40.. 22.

(23) construídas pela teologia levando-se em conta a situação presente. A experiência é fundamental no fazer teológico porque é por meio dela, segundo Etienne Higuet, que “apropriamo-nos da verdade”18 atuando como mediadora da revelação. A Teologia Sistemática possui cinco partes e, conforme faz notar Enio Mueller, “cada parte tem dois temas ligados por um e”,19 sendo um filosófico e outro teológico que juntos compõe a correlação entre Deus e o ser humano. “Procedimento recorrente de Tillich é a análise semântica dos termos e conceitos tradicionais em teologia, identificando seus potenciais e limites”.20 Com isso, constitui-se uma teologia que não tem o intuito de ser uma dogmática, mas de atuar como um ponto de encontro e um ponto de partida. Tal atuação explora os limites e potenciais de termos tradicionalmente tratados pela teologia e, por meio da obra, pode-se expandir os seus sentidos, inclusive na forma de diálogos com outras áreas do conhecimento. A introdução da obra apresenta o seu objetivo. A fonte principal é a Bíblia. Entretanto, destaca-se o importante papel da experiência no fazer teológico. Além do seu princípio crítico, que “deve ser formal, ou seja, interior a todo conteúdo”.21 Por meio deste princípio pode-se identificar o que é teológico, a saber, as preocupações últimas: “aquilo que determina nosso ser e não-ser”.22 Desta maneira, as fontes da obra têm em sua centralidade a mensagem bíblica, principalmente a revelação de Cristo como o Novo Ser. Dentre outras fontes como a história da religião, a tradição e a filosofia são utilizadas pelo interesse comum acerca da compreensão da vida e do ser humano, seja em sua contribuição direta ou pela sua crítica. A primeira parte Razão e Revelação trata da “revelação como fundamento da razão”.23 Ela revela o fundamento do ser que supera os conflitos da razão humana e que se. 18. Idem, p. 45. BEIMS, Robert e MUELLER, Enio. Fronteiras e Interfaces: o pensamento de Paul Tillich em perspectiva interdisciplinar. São Leopoldo: Sinodal, 2005, p.73. 20 SANTOS, Joe Marçal Gonçalves dos Santos. Uma apologia do diálogo: Claude Geffré lendo Paul Tillich. Horizonte, Belo Horizonte, v.13, n.40, p.1880, 2015. Disponível em http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/viewFile/P.2175-5841.2015v13n40p1870/9034. Acesso em: 27/11/2018 21 BEIMS, Robert e MUELLER, Enio. Fronteiras e Interfaces: o pensamento de Paul Tillich em perspectiva interdisciplinar. São Leopoldo: Sinodal, 2005, p.76. 22 TILLICH apud MUELLER. Fronteiras e Interfaces: o pensamento de Paul Tillich em perspectiva interdisciplinar. São Leopoldo: Sinodal, 2005, p.76. 23 BEIMS, Robert e MUELLER, Enio. Fronteiras e Interfaces: o pensamento de Paul Tillich em perspectiva interdisciplinar. São Leopoldo: Sinodal, 2005, p.77. 19. 23.

(24) encontra em uma condição alienada. A revelação é marcada pelo mistério que se mostra e se esconde, no sentido de sempre que captamos a revelação ela tem algo novo a revelar. Nossa condição alienada constituída pela negatividade e positividade inerente a si mesma não nos permite o alcance pleno da revelação desse mistério; por isso, ela se dá parcialmente. A revelação ocorre por meio de uma mediação humana e pode ocorrer em todo tipo de espaço, além da sua dinâmica que é histórica e dividida em estágios preparatórios e finais, ou seja, a sua percepção está relacionada diretamente à história. A segunda parte trabalha sobre O Ser e Deus trata de “uma análise da essência humana entre ser e não-ser, pessoa e mundo, sujeito e objeto”.24 O texto prioriza a relação da finitude humana com a infinitude divina. Já na terceira parte, A Existência e o Cristo, a pergunta existencial e a resposta dessa realidade se mostra central em toda Sistemática. “Nesse evento Deus revela seu modo de se revelar”,25 ao se tornar carne no próprio Cristo e uma resposta incondicional para a existência humana. A quarta parte A Vida e o Espírito trata sobre a vida e suas ambiguidades e o Espírito como resposta a essa condição ambígua. Por fim, a quarta parte contém A História e o Reino de Deus (tema central da nossa pesquisa). A história em relação ao símbolo do reino de Deus responde às estruturas e ambiguidades históricas e apresenta-se como o eixo central desse sistema. “Nesta interpretação, ao símbolo do reino de Deus são associadas várias conotações: política social, personalista, universal”.26 Em uma perspectiva imanente e transcendente do símbolo, temporal e eterno, o foco se volta aos temas que, antes de serem organizados na Sistemática, foram construídos “nos anos vinte que foram muito produtivos academicamente, pois é durante essa década que se solidificam os conceitos de kairós, de demônico, a tríade aotonomia-teonomiheteronomia”.27 Esses são conceitos importantes que, mais tarde, em nossas reflexões, culminarão no símbolo reino de Deus.. 24. Idem, p.80. SANTOS, Joe Marçal Gonçalves dos Santos. Uma apologia do diálogo: Claude Geffré lendo Paul Tillich. Horizonte, Belo Horizonte, v.13, n.40, p.1880, 2015. Disponível em http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/viewFile/P.2175-5841.2015v13n40p1870/9034. Acesso em: 27/11/2018 26 BEIMS, Robert e MUELLER, Enio. Fronteiras e Interfaces: o pensamento de Paul Tillich em perspectiva interdisciplinar. São Leopoldo: Sinodal, 2005, p.94. 27 CALVANI, Carlos Eduardo. Vida e Obra de Paul Tillich a partir de seu conexto. In: SOUZA, V. C.; TADA, E. S. (org). Paul Tillich e a linguagem da religião. Santo André: Kapenk. 2018, p.73. 25. 24.

(25) I.1.1.1 A escatologia como chave de leitura da obra. Segundo Etienne Higuet, não apenas na parte sobre o Reino de Deus e a História, mas em toda obra da Teologia Sistemática, a escatologia presente é essencial na construção de todo o sistema teológico. A escatologia, aqui, não remete exclusivamente ao fim, mas “já se encontra, de algum modo, no interior do tempo presente”28, em sentido diretivo e crítico, o qual nos permite experimentar no agora aquilo que aguardamos se realizar de forma definitiva. A possibilidade de perceber a escatologia “como fio condutor e chave de interpretação”29 em todas as partes da Sistemática segue como orientação ou uma chave de leitura. Além da questão do ser, “só são teológicas aquelas afirmações que tratam de seu objeto na medida em que este possa se tornar para o ser humano uma questão de ser e nãoser”.30 Essa afirmação exerce a sua potencialidade e criação, o que permite o acesso a finalidade da sua ação particular, este também caminha para um “desenvolvimento histórico em direção ao fim último ou Eschaton”,31 uma superação total da sua negatividade. Embora a liberdade humana seja capaz de desviar este fim último, ela retorna à história uma condição de uma nova ambiguidade. Nesta criação, não olhamos a partir do começo, mas a partir do seu fim, sendo esse o ponto de partida, o Eschaton presente na criação do ser. Segundo Rui Josgrilberg, “Tillich vê a criatividade como uma relação básica entre Deus e o mundo”.32 Sendo que, “por outro lado, na visão criadora de Deus, a criatura está presente em totalidade, de sua origem a sua plenitude”.33 Isso é o que causa o desejo presente pela volta ao infinito, ao ponto que. 28. HIGUET, Etienne. A teologia de Paul Tillich: utopia, esperança e socialismo. São Paulo: Fonte Editorial, 2017, p. 25. 29 Idem, p. 25. 30 CUNHA, Carlos Alberto. Teologia de fronteira: aportes do método da correlação de Paul Tillich. Correlatio, São Paulo, v.15, n.2, p.154, 2016. Disponível em file:///C:/Users/win%2010/Documents/Daniel/Metodista/Mestrado/Qualifica%C3%A7%C3%A3o/Artigos/Teologia%20da%20Fronteira.pdf: 07/11/2018 31 HIGUET, Etienne. A teologia de Paul Tillich: utopia, esperança e socialismo. São Paulo: Fonte Editorial, 2017, p. 29. 32 JOSGRILBERG, Rui de Souza. Ser e Deus no pensamento de Paul Tillich. In: SOUZA, V. C.; TADA, E. S. (org). Paul Tillich e a linguagem da religião. Santo André: Kapenk. 2018, p.101. 33 HIGUET, Etienne. A teologia de Paul Tillich: utopia, esperança e socialismo. São Paulo: Fonte Editorial, 2017, p. 32.. 25.

(26) a criatividade, o ato de criar, tornar-se-ia uma ação divina emprestada para o ser humano nessa relação com o Criador e o mundo. Em O Novo Ser em Cristo superar-se “a alienação existencial, restabelecendo a unidade universal com Deus”.34 Unidade que permite o sentido à vida da criação: Cristo traz o seu reino e consigo aquilo que tinha sido separado, o que permite ao ser humano se envolver com o Novo Ser e realizar em parte esse Escathon, como também participar de um destino final ao presente. Desta forma, exerce-se, segundo Claudio R. de Oliveira, um “juízo último, na permanente transição do temporal ao eterno, revela o negativo e o destitui de valor criativo e eterno”.35 Essa “presença do Espírito Divino como realidade do Fim dos Tempos”36 é o que elevaria a vida para além da essência e existência. O Novo Ser que é Cristo se realiza na Comunidade Espiritual com o julgamento que aponta para a escatologia no seu julgar. Essa Comunidade se manifesta na igreja universal que atua como representante do reino de Deus mediante a “movimentos críticos e proféticos dentro da própria igreja”.37 O que sustenta e possibilita a sua existência e ação é a atuação do espírito renovador. “O Espírito renova ao mesmo tempo o indivíduo e a sociedade”,38 renovação que se baseia na fé e no amor. A preparação da história para receber o reino é condição não dispensada na realização do kairós. “Na vida do reino o Espírito manifesta-se enfim na dinâmica da história universal”.39 Novamente a igreja se torna importante como parte da preparação devido a sua função profética e na representação desse reino no momento kairótico. É a vocação de participação na luta das condições para se receber o reino que transcende e se realiza. Nessa realização, o sentido escatológico acontece no sentido da história, a Vida Eterna. O Escathon abarca o temporal e o eterno. Porém, o temporal não é desintegrado: ele é unido no. 34. HIGUET, Etienne. A teologia de Paul Tillich: utopia, esperança e socialismo. São Paulo: Fonte Editorial, 2017, p. 33. 35 RIBEIRO, Cláudio de Oliveira. Para Além da História: a relação entre Reino de Deus e história em Paul Tillich. Correlatio, São Paulo, v.7, n.13, p.127, 2016. Disponível em: file:///C:/Users/win%2010/Downloads/1674-3410-1-PB.pdf. Acesso em: 20/11/2018 36 HIGUET, Etienne. A teologia de Paul Tillich: utopia, esperança e socialismo. São Paulo: Fonte Editorial, 2017, p. 35. 37 MAGALHÂES, Antonio Carlos de Melo. A história e o reino de Deus na teologia de Paul Tillich. Estudos da Religião, SBC, ano X, n°10, julho 1995, p.115. 38 HIGUET, Etienne. A teologia de Paul Tillich: utopia, esperança e socialismo. São Paulo: Fonte Editorial, 2017, p. 36. 39 Idem, p. 37.. 26.

(27) elemento eterno, sendo este último o grande sentido dessa relação. Trata-se do fim da negatividade da vida, onde o não-ser é julgado e completamente vencido, finalmente o ser humano supera a sua alienação.. I.2 A história do reino: como o reino de Deus é desenvolvido na relação com a história A influência de Schelling em Tillich (e a reinterpretação feita por ele dos aspectos da filosofia) é um fato reconhecido, inclusive pelas duas teses escrita sobre o autor. Um exemplo dessa relação é a análise dos símbolos utilizada por Tillich para uma interpretação da dinâmica da história, “que é representado pela dinâmica entre ‘heteronomia’, ‘autonomia’ e ‘teonomia’”.40 A teonomia seria a condição ideal da dinâmica da história. Ela não buscaria um sentido, pois ela própria “se caracterizaria pela vivência ou pela presença do sentido”.41 Aqui é possível estabelecer uma relação entre sentido e liberdade, embora de uma forma um tanto idealista. O símbolo do reino de Deus não é uma resposta pronta e garantida para o sentido da história. Os elementos dessa resposta podem ser “suprimidos e então o sentido do símbolo é distorcido”.42 Isso ocorre pelo favorecimento de um de vários aspectos que um determinado grupo religioso e histórico faz na tentativa dedar resposta de seu momento histórico. Dois aspectos se completam nessa resposta: os elementos imanentes e transcendentes. Quando privilegiados de formas isoladas, ambos compõem os dois extremos da interpretação do reino: uma interpretação que depende exclusivamente das ações e esforços humanos, enquanto a outra interpretação é totalmente alienada da nossa condição humana, afinal, encontra-se na totalidade da esfera transcendental. Essas são distorções possíveis. 40. GROSS, Eduardo. Elementos do pensamento de Schelling na obra de Paul Tillich. Numen: revista de estudos e pesquisa da religião, Juiz de Fora, v. 7, n. 2, 2004, p. 92. Disponível em: https://numen.ufjf.emnuvens.com.br/numen/article/view/717/619. Acesso em: 21/10/2018. 41 Idem, p. 92. 42 TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. São Leopoldo: Sinodal, 2005, p. 792.. 27.

(28) que tornam o símbolo tratado como resposta inadequada ao sentido da história, onde elas normalmente ocorrem em períodos trágicos. As respostas, diferentes e até mesmo antagônicas, para um evento histórico, acontecem, segundo Tillich, porque “a objetividade e subjetividade se pertencem na história, pois não pode ser compreendida sem a união entre evento e interpretação”.43 Por isso as diversas tentativas de respostas a um evento histórico se dão por conta dessa união entre objetividade e subjetividade que um grupo valoriza por motivações religiosas, políticas, culturais e conservam e transmitem elementos de seu maior interesse para a manutenção e sobrevivência do grupo. Essa busca do sentido na história, segundo Eduardo Gross, tem um viés “formulado com o objetivo de oferecer resposta a problemas políticos concretos. Isto ser refere particularmente à realidade alemã dos anos vinte e trinta”.44 De modo que se percebe o sentido que, mais tarde, culminar-se-á no símbolo do reino de Deus. Inicia-se, com isso, uma tentativa de se responder a falta de sentido característica do período citado, pelos fatos historicamente trágicos e pela desesperança do fim de uma moderna concepção positiva e progressiva do ser humano estava por se findar.. I.2.1 O que é história para Tillich. A consciência histórica é o meio pelo qual interpretamos os eventos e os sistemas dentro da história; uma seleção daquilo que é importante segundo uma cultura, tradição, religião. A consciência histórica antecede propriamente a história. A transmissão é um processo fundamental nessa construção e pelo menos em um primeiro momento, ela é um tanto arbitrária, pois recebemos das gerações anteriores memórias das quais serão criticadas apenas posteriormente e, de semelhante modo, seus significados atualizados questionados.. 43. MAGALHÂES, Antonio Carlos de Melo. A história e o reino de Deus na teologia de Paul Tillich. Estudos da Religião, SBC, ano X, n°10, julho 1995, p. 102. 44 GROSS, Eduardo. Religião, Ontologia e Política na obra inicial de Paul Tillich: revista de estudos e pesquisa da religião, Juiz de Fora, v. 1, n. 1, 1998, p. 166. Disponível em: https://numen.ufjf.emnuvens.com.br/numen/article/view/900. Acesso em: 29/10/2018.. 28.

(29) Não é papel da tradição fazer relatos jornalísticos de eventos. A tradição se solidifica sobre as bases de relatos históricos e as interpretações feitas de tal base se mostram de uma forma simbólica. É praticamente impossível separar o fato daquilo que ele significou, o que não é necessariamente negativo, já que a história foi a ferramenta para contá-lo. Podem até variar em sua linguagem, mas elas não estão estruturadas no vazio ou na ficção, a sua referência é o acontecimento do evento histórico que pode ficar até mais enriquecido ao ser contado. Essa relação entre o evento e a experiência contada é construída e mediada pela tradição: um “conjunto de memórias passadas de uma geração a outra”.45 Essas memórias só são abarcadas como tradição quando possuem significado para as pessoas que a recebem. A situação histórica ainda precisa ser relevante, senão essa memória poderia ser apenas uma lembrança ou simplesmente desaparecer, ser descartada. De forma que o significado é essencial para que o grupo o aceite como um evento histórico ou não. A tradição histórica não é construída puramente de memórias factuais. Os relatos sofrem influências da consciência com o objetivo de sustentá-la ou modificá-la. Coloca-se em destaque a importância da interpretação do evento para um determinado grupo. O mesmo símbolo pode ter significados diferentes por interesses particulares e até por sobrevivência para diferentes grupos. A dinâmica da história humana se encaminha para um alvo e se distinguir da história universal, justamente, segundo Tillich, por ser caracterizada “de estar vinculada a um propósito, ser influenciada pela liberdade, criar o novo em termos de sentido e ser significativa num sentido universal, particular e teológico”.46 Para Tillich, há duas formas fundamentais de se interpretar os eventos históricos em relação a esse sentido. “A primeira é a compreensão não histórica da história. (...) A outra forma de se entender a história é o modo histórico de compreensão da história”.47 A primeira se trata de os eventos serem uma relação de fatos sem uma interligação direta, ou seja, sem um sentido absoluto, cuja presença está de forma circular e diversa em várias. 45. TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. São Leopoldo: Sinodal, 2005, p. 738. Idem, p. 742. 47 GROSS, Eduardo. Religião, Ontologia e Política na obra inicial de Paul Tillich: revista de estudos e pesquisa da religião, Juiz de Fora, v. 1, n. 1, 1998, p. 167. Disponível em: https://numen.ufjf.emnuvens.com.br/numen/article/view/900. Acesso em: 29/10/2018. 46. 29.

(30) culturas e expressões religiosas. Enquanto a segunda compreensão considera necessariamente um evento histórico primordial como centro da história que se revela de forma transcendente, cuja principal característica é a determinação de um início e um fim da história, consequentemente permitindo a busca pelo sentido universal da mesma. Na relação do reino de Deus com a história nunca pareceu possível constituí-lo dentro de uma perspectiva histórica, de forma a se achar que em determinado período da história foi ou será o tempo específico para o reino. Embora alguns movimentos religiosos radicais e movimentos políticos tenham sido tentados a fazê-los, e claro, sem sucesso. O que não implica na isenção da responsabilidade da ação humana, mas, “significa somente, por um lado, o reconhecimento dos limites humanos na realização dos sonhos e, por outro, a capacidade de sonhar para além das capacidades humanas”.48 A esperança do reino de Deus como o sentido da história, contempla o transcendente e o imanente de maneira indivisível para o alcance da plenitude da justiça e igualdade nos processos da vida humana.. I.2.2 A busca do sentido da história como contexto para o reino de Deus. A forma que Tillich compreende a história é importante para o tema do reino de Deus, não apenas pela relação que ele estabelece entre os dois, entretanto, pela dialética da história ser uma forma de campo semântico para o tema central desse texto. Estabelecer estruturas e condições que permitam descrever um movimento histórico não é uma novidade trazida pelo autor, mas ele o faz, justamente como tentativa de elucidar o conceito desse movimento. A questão principal é que o seu ponto inicial envolve diálogos e críticas como teorias anteriores, “como as do progresso e retrocesso, ação e reação, tensão e solução, crescimento e declínio e, sobretudo, a estrutura da dialética da história que foram descritas em tentativas anteriores”.49 Não parece haver pela parte do autor uma diferença ou desmerecimento pelas teorias anteriores, pelo contrário, todas essas elaborações contribuíram no processo de descrever fatos históricos de forma coerente. No. 48. RIBEIRO, Cláudio de Oliveira. Para além da história: a relação entre o Reino de Deus e história em Paul Tillich. Correlatio, São Paulo, v.7, n.13, p.122, 2008. Disponível em: file:///C:/Users/win%2010/Downloads/1674-3410-1-PB.pdf. Acesso em: 21/11/2018 49 TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. São Leopoldo: Sinodal, 2005, p.763.. 30.

(31) entanto, todos eles possuem limitações, ainda mais quando “são usados não como estruturas específicas, mas como leis universais”,50 o que gera distorção e confusão de interpretações históricas. Um caso dessa distorção e confusão da história pode ser encontrado na interpretação progressiva da história, rechaçada pelo autor, porém bastante presente especialmente nos EUA onde viveu seus últimos anos. “Tillich faz uma distinção entre o conceito e a ideia de progresso. O conceito de progresso se dá por um processo de abstração e observação, ou seja, é algo presente no mundo e sua essência pode ser apreendida”.51 Parte-se da ideia de um novo que surge pela superação do antigo, na história isso significa que a situação histórica posterior é superior à antiga. “A interpretação progressiva da história é um utopismo moderado, posterior ao utopismo radical do período de lutas”.52 O utopismo se caracteriza por se acreditar que a história vista percorre um caminho de forma progressiva. Já o termo moderado se baseia que o ponto decisivo já foi cruzado e será conduzido a partir de então pelo uso da razão. A outra concepção do progresso envolve a ideia em uma forma simbólica que abre uma nova realidade, ou seja, o progresso se transforma em um símbolo que interpreta de forma geral a existência humana e interpreta a história de uma forma linear. Para Tillich, “a história deve então ser pensada como uma tensão entre o poder demoníaco e o kairós”,53 no poder criativo que pode se transformar e no destrutivo que pode ser contraposto. O que aparece na ideia do progresso na interpretação da história é o consolo de que a atual geração caminha para frente, em meio a condições subjetivas e objetivas se deslocam para algum lugar. Todavia, essa esperança sempre encontra a frustração e aumenta o desespero por não encontrar garantias que sustentem esse progresso, sobretudo por grandes fatos históricos que chocam a humanidade, como as grandes guerras mundiais e as atrocidades cometidas por um governo totalitarista, por exemplo. É em meio a esse movimento objetivo e subjetivo no qual a história acontece e é contada, que surge a pergunta pelo seu sentido. Um questionamento que nos remete ao. 50. Idem, p.764. BALEEIRO, Cleber A. S. Tillich e a crítica à ideia de progresso. Correlatio, São Paulo, v.10, n.19, p.55, 2011. Disponível em: file:///C:/Users/win%2010/Downloads/2757-7024-2-PB.pdf. Acesso em: 21/11/2018 52 TILLICH, Paul. A era protestante. São Paulo: Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião, 1992, p.56. 53 Idem, p.61. 51. 31.

(32) passado e futuro, origem e destino, é o propósito que caracteriza esse sentido. A razão do fato histórico em si, se dá porque o mesmo carrega em si um propósito que dá sentido à vida humana. Logo, a sucessão desses eventos tem a capacidade de “produzir algo qualitativamente novo”,54 algo que pode ter sido produto de uma transição de eventos, todavia, expressa a sua singularidade. É a criação do novo sem a ideia da superação dos eventos que lhe permitiram nascer. Não há aqui um progresso ou destruição, há um qualitativo de sentido. A história recebeu uma atenção especial na modernidade, sobretudo por romper com uma visão linear que prevalecia até então. “A modernidade pode caracterizar-se, de fato, de ser dominada pela ideia da história do pensamento como ‘iluminação’ progressiva”.55 Havia uma consciência histórica presente que acompanhava um forte progresso em diversas áreas da época, “desse modo, o ideal de sociedade moderna possuía uma concepção teológica da história. Ela tem um sentido, e avança linear e progressivamente em direção ao seu propósito”.56 Essa era a expectativa de muitos pensadores da época, inclusive em acreditar que eles contemplavam esse momento absoluto de conclusão histórica, como por exemplo pensou Hegel. Essa visão da história foi rejeitada na pós-modernidade, a dialética hegeliana perdeu espaço, pois os fundamentos metafísicos que sustentava a narrativa histórica em direção a um fim, foram rechaçadas por uma época que não concebe a linearidade da história como algo possível. Até se duvida da possibilidade de uma história universal, “para a pósmodernidade não há um fio condutor que conecta aos acontecimentos históricos a partir de uma determinada perspectiva”.57 O que substitui uma única história universal por várias histórias particulares, que não necessariamente se coincidem. Dessa forma, a história é caracterizada como períodos fragmentados e descontinuados.. 54. TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. São Leopoldo: Sinodal, 2005, p.740. VATTINO, Gianni. O fim da modernidade: niilismo e hermenêutica na cultura pós-moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. VI. 56 RODRIGUES, Adriani Milli. A compreensão histórica em Paul Tillich e no pensamento pós-moderno: aproximações e limitações. Correlatio, São Paulo, v.8, n.15, p.58, 2009. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/COR/issue/view/80. Acesso em: 26/10/2018. 57 Idem, p.59. 55. 32.

Referências

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