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DENTRO

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Academic year: 2021

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Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa Mestrado em Som e Imagem

Relatório de Projeto Final

Dentro – Operação de Câmara, Edição e Pós-produção

Cinema e Audiovisual 2017/2018

João Pereira

Professor Orientador: Professor Doutor Carlos Ruiz

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III

Dedicatória

Quero dedicar este trabalho, sem exceção, a todos os envolvidos direta ou indiretamente neste projeto e que ao longo destes dois anos me ajudaram a concretizar este sonho.

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IV

Agradecimentos

Em primeiro lugar, queria agradecer aos meus pais por terem apostado na minha formação e por me terem apoiado, desde o início desta caminhada, sem nunca terem duvidado do meu esforço e determinação para atingir os meus objetivos. No fundo, também, por me terem dado todas as condições materiais necessárias, permitido que eu me formasse na área pela qual sou apaixonado.

Em segundo lugar, e não menos importante, quero agradecer ao meu orientador, Professor Doutor Carlos Ruiz, por partilhar comigo durante estes dois anos, não só o saber e competência, mas por me mostrar com generosidade e clarividência o caminho a seguir nas pequenas e nas grandes decisões, fazendo com que eu evoluísse e crescesse pessoal e profissionalmente, contribuindo, seguramente, para fazer de mim uma outra pessoa, uma melhor pessoa.

Quero agradecer ainda a todos quantos, na UCP, estiveram diretamente envolvidas no projeto realizado e que, pela sua participação, contribuíram para o seu sucesso.

Aos professores André Baltazar, Daniel Ribas, Pedro Alves, Jaime Neves, José Vasco Carvalho, uma palavra de reconhecido apreço e agradecimento por todo o apoio e dedicação que constituiu, sem dúvida, uma preciosa ajuda neste meu percurso.

Agradecer ainda, de uma forma muito geral, a todos os que, de uma maneira ou de outra, me apoiaram neste caminho, desde os conselhos úteis de amigo, até à generosidade do simples sorriso ou abraço de camaradagem. Tudo valeu, tudo contou, tudo ajudou a levar de vencida este caminho curto e longo de dois anos. Caminho difícil, pode dizer-se, mas por isso mesmo encantador. Encantador, sim, por nos ter ido dando o prazer de ir vencendo as dificuldades que iam surgindo, tornando-nos mais fortes, e sentir que nunca me senti sozinho nem desacompanhado nesta caminhada, ficando com a certeza de que todos os que estiveram, continuarão para sempre.

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V

Resumo

Na elaboração do presente relatório, pretendo englobar todo o meu envolvimento no projeto de curta-metragem – DENTRO – nas áreas de Operação de Câmara, Edição e Correção de Cor. Projeto ambicioso levado a cabo por um conjunto de alunos empenhados e dedicados, irmanados pelo mesmo sentido de responsabilidade e entreajuda o que permitiu constituir uma verdadeira equipa de trabalho e uma relação de amizade que durará, estou certo, muito para além deste trabalho.

Irei agora abordar, sumariamente, cada uma das áreas em que fui diretamente responsável e, mais à frente, desenvolverei detalhadamente, justificando cada tomada de decisão.

Assim, relativamente a “Operador de Câmara” a minha tarefa, para além da obtenção das imagens, a chamada gravação, passava também por assegurar os processos mais adequados às necessidades de gravação de imagens, selecionando também o tipo de equipamentos mais indicados para conseguir esse objetivo com sucesso. Depois de uma avaliação cuidada do material necessário, e de o ter conseguido na Universidade, em ligação direta com a Produtora, esta encarregou-se de providenciar o restante material em falta.

No que se refere à Edição, sendo esta uma das minhas funções principais, e que consiste, no fundo, na construção da narrativa audiovisual, fiz previamente uma investigação pela literatura publicada sobre esta temática, tentando perceber e comparar as teorias existentes sobre esta matéria com alguma prática de que já dispunha nesta área. Confesso que este trabalho foi para mim muito enriquecedor. Até porque muitas das situações com que tinha lidado anteriormente, com uma elevada dose de intuição, foram confirmadas e na maior parte dos casos melhoradas, e mais bem compreendidas, pelo conhecimento que esta leitura me proporcionou. Mais adiante explicarei melhor e exemplificarei esta experiência.

Finalmente, quanto à pós-produção, divido-a em três momentos principais: primeiro, a aplicação de efeitos visuais, tais como, estabilização e movimento de câmara. Segundo, correção de cor e, em terceiro lugar, colorização. Relativamente à colorização, todo o meu trabalho neste campo foi apenas seguir as indicações da Diretora de Fotografia e por isso, abordarei mais abaixo, apenas a parte técnica. Quanto aos efeitos visuais e correção de cor, ficou a meu cargo pelo que explicarei, mais adiante a parte teórica.

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VI

Lista de Figuras

Figura 1- Cena 4 - Testes Repérage ... 18

Figura 2- Cena 4 Final ... 18

Figura 3 - último Fotograma da cena 7 ... 19

Figura 4- 1º Fotograma da cena 7 ... 19

Figura 5 - Fotograma da Repérage ... 19

Figura 6 - Fotograma da Repérage ... 20

Figura 7 - Fotograma da cena 8 ... 20

Figura 8 - Fotograma da Repérage ... 20

Figura 9 - Fotograma da cena 8 ... 21

Figura 10 - Fotograma de Repérage ... 21

Figura 11 - Fotograma da cena 8 ... 21

Figura 12 - Fotograma da Repérage ... 21

Figura 13 - Fotograma da cena 12 ... 22

Figura 14 - Fotograma da cena 12 ... 22

Figura 15 - Testes das lentes Xeen vs PL ... 23

Figura 16 - Testes das lentes Xeen vs PL ... 23

Figura 17 – Fotograma da cena 1, pós-produzido ... 26

Figura 18 – Fotograma da cena 1, não pós-produzida... 26

Figura 19 - Fotograma da cena 2 ... 27

Figura 20 - Fotograma da cena 2 ... 28

Figura 21 - Fotograma da cena 2 ... 29

Figura 22 - Fotografia das rodagens (making off) ... 30

Figura 23 - Fotograma da cena 4 ... 30

Figura 24 - Fotograma da cena 4 ... 31

Figura 25 - sequência de fotogramas do plano sequência da cena 5 (primeiro shoot) ... 32

Figura 26 - Fotograma da cena 5 (primeiro shoot) ... 32

Figura 27 - Fotogramas da cena 5 (re-shoot)... 33

Figura 28 - Sequência de fotogramas da cena 5 (momento de rotação da câmara) ... 33

Figura 29 - Fotograma da cena 7 (plano excluído) ... 34

Figura 30 - Fotograma da cena 7 (plano excluído) ... 34

Figura 31 Fotograma da cena 7 (dentro da fonte) ... 35

Figura 32 Fotograma da cena 7 (plano zenithal da mala) ... 35

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VII

Figura 34 Sequência de Fotogramas da cena 8 ... 37

Figura 35 - Fotograma da cena 8 (close-up de jaime) ... 37

Figura 36 - Fotograma da cena 8 ... 37

Figura 37 - Fotograma da cena 8 (Jaime tenta abrir a mala) ... 38

Figura 38 - Fotograma da cena 8 ... 38

Figura 39 - Fotograma da cena 11 (carro) ... 39

Figura 40 - Fotograma do take cortado da cena 8 (motion blur) ... 40

Figura 41 - Fotograma da cena 12 (momento de enquadramento) ... 41

Figura 42 - Fotograma da cena 12 (momento de enquadramento) ... 42

Figura 43 - Fotograma da cena 12 (momento de enquadramento) ... 42

Figura 44 - Fotograma da cena 12 (momento de enquadramento) ... 42

Figura 45 - Fotograma da cena 12 (momento de rotação) ... 42

Figura 46 - Diagrama da movimentação sequencial da câmara ... 43

Figura 47 - cena 12 - primeiro momento de enquadramento ... 43

Figura 48 - cena 12 - segundo momento de enquadramento ... 44

Figura 49 - cena 12 - terceriro momento de enquadramento ... 45

Figura 50 - cena 12 - quarto momento de enquadramento ... 45

Figura 51 - cena 12 - quinto momento de enquadramento ... 46

Figura 52 - cena 12 - sexto momento de enquadramento ... 46

Figura 53 - cena 12 - sétimo momento de enquadramento ... 47

Figura 54 - printscreen do logging feito pela equipa de som ... 50

Figura 55 - Printscreen Adobe Premeire Pro - workflow - 2 timelines ... 51

Figura 56 - a enorme quantidade de faixas de áudio, tornavam toda a edição complexa ... 54

Figura 57 - Printscreen edição da primeira cena (primeiro corte) ... 55

Figura 58 - - Printscreen edição da primeira cena (segundo corte) ... 55

Figura 59 - Fotograma de "The Assasination of Jessie James"... 56

Figura 60 - Fotograma de Dentro cena 1 ... 56

Figura 61- Sequência de fotogramas da cena 1 de Dentro ... 56

Figura 62 - exemplo de corte invisível em Dentro ... 57

Figura 63 - Exemplo de um smash cut entre cenas de Dentro ... 57

Figura 64 - Exemplo de um J cut aplicado em Dentro ... 58

Figura 65 - Experiencia de edição com um Cut-away em Dentro ... 58

Figura 66 - transição entre cenas ... 59

(8)

VIII

Figura 68 - Sequência de Fotogramas da cena 6 (primeiro corte) ... 60

Figura 69 - Fotogramas da cena 6 (corte final) ... 61

Figura 70 - Exemplo do cross cut em dentro - Cena 6 ... 62

Figura 71 - Exemplo de um Establishing Shot em Dentro ... 63

Figura 72 - J cut no momento de transição de cenas ... 63

Figura 73 - excerto do guião que foi removida por questões narrativas ... 64

Figura 74 - Printscreen da cena 8 muito mais pequena ... 66

Figura 75 - excerto de diálogo removido da cena ... 66

Figura 76 - Enxerto de diálogo que foi removido ... 67

Figura 77 - Transição entre a cena 7 e 8 ... 68

Figura 78 - Comparação entre a cena 8 e a cena 1 ... 69

Figura 79 - Print screen da timeline da cena 8 ... 70

Figura 80 - Dialgo removido ... 70

Figura 81 - J cut em Dentro ... 71

Figura 82 - excerto removido ... 72

Figura 83 - Fotograma da cena 9 ... 72

Figura 84 - Extensão do plano do carro em Dentro ... 73

Figura 85 - Fotograma de Dentro – Cena 12 ... 74

Figura 86 - Excerto da cena 13 Removido ... 75

Figura 87 - Sequencia do excerto de cena que foi removido... 75

Figura 88 - Plano original ... 76

Figura 89 - Plano reenquadrado com crop ... 76

Figura 90 - Plano reenquadrado com crop ... 76

Figura 91 - Plano original ... 76

Figura 92 - Corte entre dois planos da cena 8 ... 77

Figura 93 - Plano meio com pós-produção e meio sem pós-produção ... 81

Figura 94 - Plano meio com pós-produção e meio sem pós-produção cena1 ... 82

Figura 95 - Plano meio com pós-produção e meio sem pós-produção cena 1 ... 83

Figura 96 - Plano meio com pós-produção e meio sem pós-produção ... 83

Figura 97 - Plano meio com pós-produção e meio sem pós-produção ... 84

Figura 98 - Plano sem Edição ... 85

Figura 99 - Plano com correção básica ... 85

Figura 100 - Plano com tratamento de Skin tone ... 86

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IX

Figura 102 - Tonalidade do plano ... 87

Figura 103- suavizar nuvens ... 87

Figura 104 - Máscara Oval ... 88

Figura 105 - off set de máscara ... 89

Figura 106 - Resultado Final do Plano da cena 1 ... 90

Figura 107 - máscara sol ... 89

Figura 108 - máscara e tracking... 91

Figura 109 Skin tone ... 91

Figura 110 - vinheta e tonalidade ... 92

(10)

X

Glossário

Acting – Termos para descrever a representação do Ator

Apple proRes 422 e Apple proRes 4444 – Formato de Compressão de vídeo muito usado a nível profissional.

Bitrate – taxa de bits a cada segundo de um ficheiro de vídeo.

Clipar – Termo usado no cinema quando a imagem esta sobre exposta.

Codec - codificador/decodificador, dispositivo de hardware ou software que codifica/decodifica sinais Colorgrading – Termo usado para a Colorização.

Crop - O corte é a remoção de áreas externas indesejadas de uma imagem fotográfica ou ilustrada. O processo consiste geralmente na remoção de algumas das áreas periféricas de uma imagem para remover.

DataCenter- Armazenamento Flicker - Cintilação

Footages – Imagens de vídeo Gimbal – Estabilizador de câmara

Kelvin - Unidade de medida da temperatura de cor

Lens Flare´s - é uma aberração ótica causada pela dispersão da luz que entra na lente através das suas extremidades

Letterbox - Torna o aspect ratio de um filme, mais widescreen Logging – Anotação dos melhores takes

Matte box – É um acessório de câmara muito importante utilizado na extremidade da lente para bloquear as luzes indesejáveis.

NITs – Unidade de medida de Luminância

Panning, Movimento de câmara sobre o seu próprio eixo. Proxys – cópia do ficheiro original com menor qualidade. RAW – Ficheiro sem compressão.

Shutter Angle – Angulo do obturador

Tracking – Algo que segue o elemento que quisermos (por exemplo uma máscara) Workflow – Fluxo de trabalho

Workspace – Ambiente de trabalho

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XI Índice 1 - Introdução ... 13 1.1- Objetivos e Motivação ... 13 2 - Projeto “DENTRO” ... 14 2.1 - Sinopse ... 14 2.2 - Informação técnica ... 15 2.3 - Equipa do projeto ... 15 2.3.1 - Equipa técnica ... 15 2.3.2 - Atores Personagens ... 15 2.4 - Cronograma Geral ... 16

3 - Operador de Câmara e composição ... 17

3.1 – Introdução ... 17

3.2 – Pesquisa e ensaios técnicos ... 17

3.2.1 - Pesquisa de composição... 17

3.2.2 - Repérage ... 17

3.4 Aspetos Técnicos ... 22

3.4.1 - Resolução e Compressão ... 22

3.4.2 - Lentes e escolha de lentes ... 22

3.4.3 – Material ... 23 3.4.4 – Armazenamento ... 24 3.4.5 - Focagem ... 25 3.6 – Rodagem ... 25 3.7 - Conclusão ... 47 4 - Pós-produção ... 48 4.1 – Introdução ... 48 4.2 – Preparação técnica ... 48

4.2.1- Adobe Premiere Pro ... 48

4.2.2- Pc e problemas e Software ... 48 4.2.3 - Proxys ... 49 4.2.4 - Logging ... 49 4.2.5 - Sincronização de áudio ... 49 4.3 Edição de vídeo ... 50 4.3.1 – Introdução ... 50

4.3.2 - Workflow Processo de montagem ... 51

4.3.3 - Estrutura narrativa ... 52

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XII 4.4.5 - Segundo corte ... 54 4.4.6 - Corte Final ... 75 4.4.7 – Conclusão ... 77 4.2 – Correção de cor ... 78 4.2.1 - Introdução ... 78 4.2.2 - Calibração do Monitor ... 78 4.2.3 - Davinci Resolve... 78

4.2.5 - Log Gamma e Conversão de Log Gamma para Rec 709... 79

4.2.7 - Tratamento Geral ... 80

4.2.8 – Colorização ... 82

4.2.9 - Conclusão correção de cor ... 93

5- Conclusão ... 94

6 – Bibliografia ... 95

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13

1 - Introdução

No primeiro dia de aulas, foi-nos explicado pelo Professor Doutor Carlos Ruiz, todo o processo de estruturação e criação do nosso projeto final. Uma vez que éramos uma turma pequena, foi-nos proposto que o melhor seria produzirmos apenas uma curta-metragem ou, se alguém estivesse interessado, uma curta-metragem e um documentário, pois seria muito complicado, com um grupo tão pequeno, produzir duas curtas-metragens.

Decidiu-se pela primeira hipótese e após a apresentação de três guiões para votação e escolha, e após duas reuniões para análise dos mesmos, no final a escolha recaiu, por unanimidade, no guião do Realizador João Faria, com o título “DENTRO”.

Ao definirmos os cargos de cada elemento do grupo, e como desde o início manifestei interesse em ser “Operador de Câmara”, pois sempre foi um dos meus objetivos, foi pacífico dentro do grupo ser-me atribuído este cargo. Entretanto, na nossa turma, não havia ninguém com interesse para fazer Edição de Vídeo. Como eu já tinha alguma experiência nesta área e que também me despertava muito interesse, decidi, em reunião de grupo, assumir esse cargo, cumulativamente.

Fiquei então responsável pela Operação de Câmara e Edição de Vídeo. No entanto, já depois das rodagens, e enquanto trabalhava na Edição, a Diretora de Fotografia, que no início tinha ficado com o cargo de Pós-produção, abordou-me, em reunião com toda a equipa, para ver se eu podia assumir também a responsabilidade de Pós-Produção. Inicialmente fiquei um pouco reticente, visto que já tinha dois cargos de grande responsabilidade e com um enorme peso e carga de trabalho, mas como gosto de desafios, e no pressuposto de que se tratava de colmatar uma necessidade da equipa, aceitei, em concordância com todo o grupo, assumir esse cargo, também.

Por uma questão de método e para facilitar a sua exposição e entendimento, vou desenvolver o meu relatório dividindo-o em quatro partes distintas: 1- Pré-produção, 2- Operação de Câmara, 3- Edição, 4- Pós-produção.

Relativamente à pré-produção, participei em diversas reuniões com o Realizador no sentido de perceber as exigências do projeto e que testes devia começar por fazer. Não tendo uma função específica neste caso, mantive-me sempre ativo e disponível no acompanhamento e colaboração nas diversas tarefas que iam surgindo, tendo criado, nomeadamente, o design das rifas para angariação de fundos. Embora seja do senso comum que um certo distanciamento do Editor em relação à pré-produção pode ser saudável, para se sentir mais liberto, menos engagé aquando da edição, como também tinha a tarefa de Operador de Câmara, não havia forma de me desligar do nascer e sentir crescer toda a curta-metragem até à fase de edição.

1.1 - Objetivos e Motivação

O objetivo principal era conseguir criar uma curta-metragem com uma história concisa e com um significado atual, tentando reproduzir através dela uma faceta da vida social, num determinado contexto e com todos os problemas e vicissitudes a ela inerentes. Tentar ainda contar uma história que pudesse deixar no espectador sempre a possibilidade de uma segunda

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leitura e que no fim pudéssemos olhar para o produto final e nos revíssemos em cada momento de emoção e espírito de equipa que o trabalho em conjunto produziu.

Por muito grande que seja a motivação inicial de um qualquer projeto, ela torna-se mais verdadeira e mais genuína se acontecer num crescendo. Efetivamente era já de sonho quando no nosso horizonte se vislumbrava a perspetiva de, em conjunto, produzirmos uma curta-metragem que seria um marco indelével no início das nossas vidas ligadas ao cinema. O projeto foi-se tornando mais ambicioso e mostrando mais aliciante à medida que ele avançava e nos sentíamos cada vez mais envolvidos em experiências novas, em novos desafios e aprendizagens, percebendo que aprendíamos a errar e a superar os nossos erros e sentíamos que a entrega, a dedicação e o envolvimento cresciam com o tempo, com a experiência e com a interajuda até atingir os limites do prazer.

2 - Projeto “DENTRO”

2.1 - Sinopse

“DENTRO” é um projeto que aborda alguns tópicos relevantes e particularmente significativos da vida da juventude atual. Embora, aparentemente, e numa leitura mais superficial, o filme pretenda mostrar as vivências de um grupo de amigos na noite de uma grande metrópole, neste caso, a cidade do Porto, numa segunda leitura sobressaem, simbolicamente, mas com todo o seu realismo, as relações sociais de jovens adultos necessitando descarregar as suas angústias, os seus defeitos e frustrações sobre ( neste caso o objeto “mala”) tentando talvez, num processo de catarse, aplacar lutas e convulsões interiores, não o conseguido no filme, como, porventura, não se consegue na vida. As frustrações são o outro lado do sucesso, que também na vida caminham alternadamente, lado a lado, numa luta interior, numa permanente dialética em que toda a vida eternamente se desenrola.

Andreia, Rodrigo, Jaime e Paulo são quatro amigos cujas vidas não correm tal como queriam. Numa saída à noite, aparentemente normal, encontram uma mala misteriosa que não conseguem abrir. Nela projetam a possibilidade de que contenha algo valioso, mas aquilo que ao início parece estranho e misterioso, vai ficando cada vez mais frustrante e desesperante à medida que as suas tentativas em abri-la vão falhando. Durante a noite conhecem uma estudante de Erasmus chamada Julie que causa uma pequena disputa de poder sobre quem a vai conquistar e acaba por catapultar os desentendimentos entre os amigos para algo que traz emoções escondidas e animosidades até então desconhecidas.

Quando a tensão entre eles se torna insustentável, e a sua amizade parece algo do passado, a mala perde-se no rio deixando os quatro amigos sem nada. O filme vive muito da interação dos personagens e do movimento e fluidez com que é filmado, oferecendo dinâmica do ponto de vista visual aliada à história, criando uma sensação de proximidade com a ação e os personagens. Com isto o filme toma um aspeto quase documental na maneira como apresenta a ação e ajuda a tornar o que acontece e os personagens

mais reais.

O intuito deste filme é contar uma história de jovens, com temas simbólicos que inseridos numa perspetiva jovem e regional do Porto, retratam realidades e situações identificáveis num cenário credível, misturado com tons de fantástico e absurdo.

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2.2 - Informação técnica

Portugal | Drama | Digital | 13 min. | Português | Cor | 16:9 | UHD 2.3 - Equipa do projeto

2.3.1 - Equipa técnica

• Realização – João Faria

• Produção – Catarina Gama Rocha • Direção de Fotografia – Sílvia Sanahuja • Direção de Arte – Filipa Vasconcelos

• Operação de Câmara/ Montagem Vídeo/Pós-Produção – João Pereira • Correção de Cor – João Pereira

• Direção de Som – Rodrigo Fernandes • Captação de Som – Rodrigo Fernandes • Assistente Captação de Som – João Silva • Assistente Realização – Marco Pereira • 2º Assistente Realização – Rafaela Guimarães • Assistente Produção – Sara Vasconcelos • 2º Assistente Produção – Maria João Ferreira • Assistente Direção Fotografia – Jorge Pinto • Maquilhagem – Alzira Pereira

• Cabelos – Eduardo Cardoso • Assistente Câmara – Tiago Cruz • 2º Assistente Câmara- João Ramalho • Design e Assistência – João Sousa • Assistência – Leandro Castro • Assistência – Tiago Xavier

2.3.2 - Atores Personagens

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• Jaime – Alexandre Calçada • Rodrigo – Fábio Costa • Andreia – Leonor Rolla • Julie – Ana Paiva 2.4 - Cronograma Geral Pré-Produção

- Escrita do Guião: setembro

- Seleção do Projeto para Realizar: outubro - Divisão da equipa por funções: novembro - Desenvolvimento do Guião: outubro a janeiro - Divulgação Castings: 5 – 17 janeiro

- Castings: 17 – 21 Janeiro / Recall casting – 22 Janeiro - Seleção de Atores: 23 janeiro

- Repérage: novembro a janeiro

- Ensaios Cénicos: a partir de 14 janeiro

- Produção (Organização e supervisão de todos os departamentos técnicos): novembro a fevereiro

- Ensaios com os Atores: 5 – 10 fevereiro - Ensaio geral: 18 fevereiro

Produção

- Rodagem: 19 - 20 e 25 – 28 fevereiro - Dias de Contingência: 1 e 2 março Pós-Produção

- Montagem vídeo e som: março a maio - Correção de Cor: maio

- Entrega da Curta-Metragem: junho - Divulgação dos Cartazes de estreia: maio - Exibição no Anomalias Urbanas: junho

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3 - Operador de Câmara e composição

3.1 – Introdução

Operador de câmara foi uma grande, grande tarefa que tive neste projeto. Ainda muito antes das rodagens, procedi a inúmeros testes e várias reuniões com o Realizador e com a Diretora de Fotografia para discutirmos todo o material necessário, e que filmes eles tinham como influência para eu poder também estar um pouco dentro do que era pretendido.

Nos próximos tópicos que irei abordar todo o meu processo de trabalho na função de Operador de câmara.

Para isso estruturei este tópico da seguinte forma: pesquisa e ensaios técnicos, onde abordarei a realização de todos os testes que foram necessários; - aspetos técnicos, onde abordarei toda a área técnica que teve que ser decidida e escolhida por mim. E, por fim, a Rodagem, onde irei explicar os principais problemas, dificuldades e todo o meu processo durante a Rodagem, organizado por Cenas.

3.2 – Pesquisa e ensaios técnicos 3.2.1 - Pesquisa de composição

Antes de começar a estudar todos os movimentos de câmara que irei abordar no tópico de Repérage, abaixo, foi necessário entender e estudar as referências Visuais do Realizador.

Uma das suas referências foi o Filme “Vitoria”, devido ao carisma urbano e noturno do próprio filme e também ao facto de ser um filme com um plano sequência, o que, na opinião do realizador, provoca uma envolvência enorme no espectador. Apesar deste filme se basear apenas em um único plano contínuo, não era esta a ideia do Realizador, mas sim criar momentos mais envolventes onde a narrativa o justificasse.

Sem dúvida o Filme “Vitoria” foi onde mais estudamos em termos de movimentação de câmara.

Outro filme onde o Realizador teve algumas referências, mas este mais a nível de enquadramento, foi o filme “Era uma vez na América” de Sérgio Leone.

Foi com estas referências que ao estudar, durante a Repérage a movimentação de câmara e enquadramento, tivemos em conta, como irei detalhadamente explicar e justificar no tópico

Repérage.

3.2.2 - Repérage

Apesar de toda a Location Scouting não ter sido feita por mim, após o Realizador, Diretora de Fotografia e Diretora de Arte terem feito a escolha dos locais, fizemos uma reunião

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conjunta para começarmos a discutir eventuais problemas dos locais e os movimentos de câmara, consoante a necessidade narrativa. Para isso fizemos visitas a esses mesmos locais para poder, de uma forma o mais precisa possível, perceber como tudo iria acontecer.

Neste tópico irei abordar alguns dos movimentos de câmara estudados nesta fase, justificando-os perante a narrativa e as referências que o Realizador e Diretora de fotografia queriam, abordando também as problemáticas inerentes a esses mesmos movimentos que, como Operador de Câmara, teria de solucionar.

É de facto curioso constatar que muitos dos testes, feitos nesta fase, se revelam semelhantes ao resultado final, como podemos ver na figura. 4 fotogramas da Repérage e figura

2, fotogramas da curta-metragem “Dentro”. Torna-se assim inquestionável a sua importância

pois, e como explicarei ainda neste tópico, mais abaixo, eles foram imprescindíveis para que no momento das Rodagens tudo fluísse de uma maneira correta e sem imprevistos.

Cena Mirita - Reperage

Cena Mirita Final:

Cena 7 – Fonte dos Leoes

Uma das movimentações estudadas nesta cena foi a movimentação feita neste shot, para que a fonte fosse revelada e, de uma forma subtil, o espectador fosse levado a entender o porquê de Rodrigo se ter lembrado de mergulhar a mala.

Figura 1- Cena 4 - Testes Repérage

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Como podemos ver na figura. 4 o inicio do shot, e na figura. 3 o final do mesmo, vemos a movimentação feita para enquadrar o personagem com a fonte no seu background, criando assim uma ligação para o que ele diz. “Vamos mergulhar a mala”

Como podemos ver na figura. 5, abaixo, proveniente do teste de Repérage, a sua semelhança com a cena final e óbvia.

Quando fazíamos os testes deste último plano desta cena, surgiu a ideia de poder fazer um plano debaixo de água, acompanhando a mala a “mergulhar” dentro da água dando assim um cariz surreal e misterioso, importante para a narrativa que assenta, desde o início, num enigma. Apesar de todos termos concordado que seria uma boa ideia, obviamente que surgiu a dúvida sobre a sua possível execução, uma vez que nenhuma das máquinas era à prova de água. E também sabia que qualquer máquina a que conseguíssemos ter acesso, que fosse à prova de água, não teria a mesma qualidade de imagem, podendo isso constituir um problema.

Cena 8 – Jardim das Virtudes

Foram muitas as horas passadas nos locais das rodagens a estudar os movimentos de câmara, enquadramentos e até mesmo tipos de iluminação que seria necessário.

Figura 4- 1º Fotograma da cena 7 Figura 3 - último Fotograma da cena 7

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Este enquadramento “over the shoulder” picado com o Personagem Jaime e ao fundo os dois personagens Julie e Rodrigo a falar figura 6 e figura 7, foi testado para perceber o seu potencial narrativo. Esta posição elevada de Jaime perante os dois personagens, eleva a sua importância perante a situação, mostrando-se uma possível ameaça para os mesmos.

Testámos também uma variedade enorme de planos e de enquadramentos, como por exemplo este que mostra a figura 8. A nível narrativo era coerente e até poderoso, mas foi descartado pela Diretora de Fotografia, pois o background do local tinha demasiado lixo visual que era impossível remover e, por isso, foi descartado no momento das Rodagens.

A movimentação e enquadramento do momento final da cena, quando todos “abandonam” Jaime, também foi testado para que no momento em que Rodrigo se despede de Julie, Jaime fique enquadrado com eles, como podemos ver na figura 9, abaixo, acentuando o facto de ele estar a observá-los. Tal como o plano acima da figura 7.

Figura 6 - Fotograma da Repérage Figura 7 - Fotograma da cena 8

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Este exemplo abaixo descrito pela figura 12 e figura 11, mostram o quanto é importante a

Repérage, pois o facto de nas rodagens termos feito este plano em close-up e não em um plano

médio como na Repérage, deve-se ao facto de que em reunião com a Diretora de Fotografia e Realizador, analisando os testes feitos na Repérage, ficar claro que, narrativamente, o close-up, tem um poder muito maior ao mostrar a carga emocional de Jaime no momento em que todos o abandonam.

Cena 12 – Jardim do Morro

Na cena 12, queríamos envolver o máximo possível o espectador na tensão que estava a acontecer entre os 4 amigos. Por isso decidimos entre o Realizador e Diretora de Fotografia, que aqui tudo seria gravado com a câmara à mão, e em um plano sequência, isto para que de certo modo, através do movimento de câmara, incerto e repentino, enquadrando cada personagem que estava a falar sem um corte, daria ao espectador a sensação que estaria presente no local, como se a câmara fosse o seu olhar. Criando assim todo um momento de build-up da tensão no espectador, para que a cena seguinte funcionasse como um clímax da curta-metragem. Os movimentos bruscos, como podemos ver na figura 14, são, na minha opinião, uma forma de fazer com que o espectador estivesse no local e a sua cabeça estivesse a mover-se para cada personagem, à medida que ele fala. A meu ver, este tipo de movimentação envolve o espectador e cria uma certa ansiedade ao sentir-se envolvido na tensão da cena.

Figura 10 - Fotograma de Repérage Figura 9 - Fotograma da cena 8

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3.4 Aspetos Técnicos

3.4.1 - Resolução e Compressão

Sabíamos também, desde o início, que uma máquina deste género produz ficheiros extremamente pesados e grandes. Na tentativa de otimizar a relação espaço/qualidade de imagem, ponderei, inicialmente, usar a máquina na resolução 2k. No entanto, após alguns testes, rapidamente cheguei à conclusão que esta máquina, ao gravar em resoluções não nativas do sensor, entrava em modo “window sensor” fazendo com que ela, para gravar em resoluções mais baixas, não usasse todo o tamanho do seu sensor. E como consequência iríamos, por um lado, perder algum detalhe e, por outro, e mais importante ainda, é que as lentes que iríamos usar iriam ser afetadas pelo que se chama de crop factor, o que faria com que as lentes fossem, todas elas, aumentar a sua distância focal.

Também realizei diversos testes para determinar qual a compressão que iria usar. O ideal seria gravar em RAW, isto faria com que tivéssemos toda a informação do sensor gravada no ficheiro, mas ao realizar alguns testes isto revelou-se impraticável, visto que os ficheiros RAW são extremamente grandes (pois não têm qualquer compressão), e também são extremamente pesados, o que tornaria a sua edição e pós-produção impossível, uma vez que o computador da Católica, de que dispúnhamos para editar, não tinha capacidade de processamento suficiente.

Assim, parecia mais sensato usar a compressão Apple proRes 422, que já tinha sido usada nas produções anteriores. No entanto, após realizar vários testes, principalmente no escuro, conclui que a compressão Apple proRes 422 podia comprometer um pouco uma possível pós-produção. Considerando todos estes pressupostos, optei por gravar em Apple proRes 444, conseguindo, assim, que os ficheiros ficassem substancialmente maiores e, embora tivéssemos de ter um maior datacenter, permitia-nos ter muito mais informação guardada dentro do ficheiro, que poderia ser extremamente útil para a pós-produção, como, aliás veio a acontecer. 3.4.2 - Lentes e escolha de lentes

Foram diversos os testes que realizei, sendo um dos mais importantes o da escolha das lentes que iriamos usar.

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A Universidade tinha adquirido um adaptador para esta máquina, que permitia montar lentes PL, em vez das lentes EF, que vêm, por predefinição. Isto alargou-nos um pouco a possibilidade de escolha entre as lentes XEEN de cinema e as lentes PL da Sony com lentes

Carlssinze.

Posto isso, realizei inúmeros testes, com as duas lentes, e elaborei um pequeno relatório para apresentar ao Realizador e à Diretora de Fotografia para que pudessem escolher as lentes gostavam mais. Tanto umas como outras eram excelentes, mas, claro, umas tinham umas vantagens e as outras tinham outras.

Uma das principais razões pela qual escolhemos as lentes XEEN foi pelo facto de estas lentes serem extremamente “sharp” em situações de f-stops baixos. Visto que praticamente toda a curta iria ser gravada à noite, seria de esperar que fossemos usar f-stops sempre muito baixo. Por isso, e por minha sugestão, optamos por escolher esse kit de lentes.

3.4.3 – Material

Como Operador de Câmara deste projeto, marquei várias reuniões com a equipa para que pudéssemos debater todos os planos, cena por cena, com o objetivo de perceber qual a complexidade de cada uma e todo o material que seria necessário para a sua execução.

Em conjunto com o Realizador e com a Diretora de Fotografia, chegámos à conclusão que, para certas cenas do filme, seria necessário o uso de um gimbal. Como a Universidade não dispunha deste equipamento, teríamos de tentar alugar um, ao mínimo custo possível. Foi solicitado à Produtora que o conseguisse e de modo a que pudéssemos tê-lo antes de iniciar as rodagens para termos oportunidade de fazer alguns testes.

Após alguma investigação na internet, soube que apenas alguns Gimbal’s conseguiam suportar o peso de uma Blackmagic Mini Ursa Pro. Na dúvida se conseguiríamos um Gimbal que respondesse às nossas necessidades, comecei a tentar arranjar uma solução alternativa, realizando alguns testes com um “shoulder rig” simulando o movimento de câmara que seria necessário para algumas das cenas, o que após algumas experiências, e mesmo tentando pós-produzir com software de estabilização, não se revelou viável.

Depois de uma reunião com toda a equipa, procedemos a algumas alterações no guião e nos movimentos de câmara para que, caso não conseguíssemos o gimbal, pudéssemos ter uma alternativa aceitável.

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No fim tivemos sorte, já que o Realizador encontrou uma empresa que nos conseguiu ceder um gimbal por um custo reduzido e que, depois de alguma investigação, nos pareceu capaz de suportar o peso da câmara e que nos foi entregue um mês antes das rodagens, tendo-nos permitido levar a cabo alguns testes prévios.

O uso do gimbal trazia-nos, no entanto, mais um outro problema. Era só mais um e que, necessariamente, teríamos de ultrapassar também. Uma vez que eu não poderia mexer na máquina durante a sua utilização, não poderia ser eu a fazer o foco. Seria preciso, para esses momentos, um Follow Focus wireless para que alguém pudesse focar à distância e sem tocar na câmara.

No sentido de agilizar a resolução do problema, fiz uma pequena pesquisa pela internet para perceber onde e em que condições poderíamos alugar este equipamento, tendo descoberto uma empresa em Lisboa que no-lo alugava em condições muito vantajosas. Encaminhámos essa informação para a Produtora para que tratasse do aspeto burocrático e o próprio Realizador disponibilizou-se para ir buscar o equipamento.

3.4.4 – Armazenamento

Em câmara

A câmara vinha equipada com 2 cartões C-Fast de 256Gb, cada. Apesar de parecer muito, ao trabalhar com estas resoluções de 4.6k e com compressão Apple proRes 4444, tornou-se insuficiente. Cada cartão apenas dava aproximadamente para 25min de gravações. As elevadas quantidades de informação, fez com que, muitas vezes, tivéssemos que descarregar cartões durante as gravações que, como no cronograma acima, se prolongavam das 18 horas da tarde até as 7 horas da manhã.

Apesar de erradamente, mas por falta de meios, ter de ser eu a ficar responsável por todas as cópias dos cartões, tive, muitas vezes durante a hora de jantar da equipa, que me deslocar a casa copiar os cartões, para garantir que durante a rodagens nunca ficássemos sem espaço.

Em Discos Rígidos

Armazenar tanta informação começou por ser quase preocupante, pois quase todos os dias de gravações tínhamos de guardar mais de 500 Gb de informação, e que devíamos duplicar por uma questão de maior segurança.

No Início, ainda antes das rodagens, fiz alguns cálculos através de uma aplicação mobile muito útil, chamada Aja DataCalc. Esta aplicação ajuda a calcular os Gbytes ou Tbytes, neste caso, de espaço que cada codec de vídeo produz. Apenas introduzi o codec em que ia gravar, neste caso o Apple ProRes 4444 a resolução de 4.6K, o número de faixas de áudio e, automaticamente, a aplicação calcula por cada minuto a quantidade.

O meu cálculo inicial, a dar uma margem para dar 5 takes por plano, deu-me um total de 5Tbytes de informação.

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3.4.5 - Focagem

Um dos problemas ao usar “F/Stops” baixos é o facto de que quanto menor for o “F

Stop”, menos profundidade de campo temos, dificultando substancialmente a focagem, pois

temos menos distância focada. Isto criou também algumas dificuldades, visto que apenas teria ajuda (Assistente de foco) de focagem, quando usávamos o “Gimbal.” Focagem com “Follow

Focus Wireless" Por isso, além de o processo de enquadramento, tinha também que estar

sempre atento ao foco, principalmente em shots em que os personagens se moviam, ou nos que havia movimentação de câmara.

Um dos shots mais complicados de gravar a nível de foco, foi a cena 12, em que o Realizador queria um plano sequência de toda a cena. Então eu teria que, além de ter sempre cada personagem enquadrada no plano, no momento certo das suas deixas, a minha movimentação também tinha de ser ajustada em função do desenrolar da cena e do enquadramento da ação.

Sem dúvida, este shot foi dos mais complicados a nível de Foco, pois era impossível prever rigorosamente a movimentação dos personagens, tendo por isso que, em segundos, tentar compensar essas pequenas movimentações, ajustando o enquadramento e o foco ao mesmo tempo, e o mais rapidamente possível.

Apesar disso, talvez tenha sido dos shots que me tenha dado mais gozo fazer, pois representou um enorme desafio.

3.6 – Rodagem

Neste tópico irei abordar todo o meu processo de trabalho durante as Rodagens.

De uma forma organizada por cenas, referirei as dificuldades e os problemas encontrados nos diferentes dias e nas diferentes cenas.

CENA 1 – Personagem Jaime apanha a mala perdida

Esta primeira cena da curta-metragem “Dentro” exibe pela primeira vez o personagem Jaime, que está olhando para algo que está um pouco além, parecendo prender-lhe a atenção. Depois de uma indecisão que dura alguns segundos, toma uma atitude e avança, pegando numa mala que está abandonada na borda da praia.

O objetivo desta cena era criar um certo enigma inicial, mostrando o personagem a olhar para algo através de um Close-up e de um Wide-Shot e por fim revelar o objeto para o qual ele estava a olhar.

Era uma cena de uma composição simples, apesar de que, a nível técnico, requeria alguns “truques” para que pudesse ser bem realizada. Principalmente o shot em que gravámos contra a luz do sol figura 18. É um shot que exige um elevado nível de cuidado aquando da gravação, pois o sol é uma fonte de luz extremamente brilhante, e é aqui que entra a importância de saber “Expor”. Como podemos ver na figura abaixo, o background do nosso personagem está completamente iluminado pela luz solar. Apesar de em todas as situações fazer uso do

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histograma para poder expor de uma forma correta, neste caso específico era de extrema importância saber como ler o histograma corretamente e assim configurar a máquina para que o shot não ficasse em sobre exposição.

Quando configurei a máquina para este shot, tive em conta que tinha de deixar o shot exposto para os lowlights, sendo o céu o highlight e o nosso personagem o lowlight.

Apesar de toda a curta-metragem ter sido gravada com uma compressão Apple ProRes

4444, como refiro neste relatório, este shot específico foi gravado, por minha decisão, em RAW.

Isto para que pudesse ter o máximo de informação no ficheiro, aproveitando todo o potencial da gama dinâmica desta máquina.

Por essa razão, ao expor neste shot em particular, expus para os lowlights. Isto é, deixei a imagem com muito mais luz. Isto para que pudesse ter toda a informação e detalhe nos

lowlights, deixando apenas a menos de 1 stop antes de clipar os Highlights. Para isto usei o

histograma presente na máquina, para poder saber em que ponto poderiam clipar.

Em conjunto com a Diretora de Fotografia e o Realizador, acordamos que neste plano específico deveria haver alguma profundidade de campo. Para isso usei a lente 35mm, o que permitia ter essa profundidade de campo com abertura da lente em 5 f/stops. Isto criou de imediato uma necessidade de diminuir a quantidade de luz a entrar na máquina, mesmo com o

shutter angle de 180º, que seria o ideal para uma gravação em 24 fps, havia demasiada luz. Para

isso usei um filtro ND de 2 stops, para cortar o excesso e poder assim ter a profundidade de campo desejada pelo Realizador e Diretor de Fotografia.

Na figura acima podemos ver que apesar de na imagem proveniente diretamente da máquina figura 18, parecer que todo o céu está queimado e sem informação, depois de pós produzido, podemos ver que toda a informação está lá, figura 17, mantendo assim, também, toda a informação nas zonas escuras da imagem, sem a presença de qualquer ruido digital. Se eu tivesse exposto para os highlight, o personagem iria ficar apenas em silhueta, sem sequer se conseguir ver o detalhe da sua cara ou roupa, ficando completamente preto.

CENA 2 - Restaurante Cunha – Amigos a jantar

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A Cena 2 da curta-metragem “Dentro” começa com os 3 amigos a jantar. Entretanto, chega o personagem Jaime que traz consigo a mala da cena anterior.

O facto de termos todo o local para nós e ainda a circunstância de podermos ter total controlo da iluminação por ser um cenário no interior, tornou a situação muito mais fácil de realizar. Apesar disso, tínhamos um limite de tempo muito curto para as gravações, o que constituía um problema. Para o ultrapassar, coordenei o Assistente de câmara que ficasse responsável por fazer de segundo Operador de câmara.

Usámos a nossa segunda máquina, para tal, montei a lente 85 mm para fazer um plano medio de longe, criando assim curta profundidade de campo, como podemos ver na figura abaixo fig. 19. Isto permitia-me fazer um plano mais afastado com a máquina, sem que a outra fosse visível. Enquadrando de acordo com a Direção de fotografia, de forma a manter os 4 amigos apenas na parte lateral da imagem, deixando espaço negativo à sua volta, com o objetivo de tornar mais visível que os amigos são próximos.

Com a câmara principal, gravei de outro angulo com a lente 35mm, como vemos na figura fig. 20. Ambas são exatamente o mesmo momento, de ângulos diferentes. Isto permitiu termos uma grande quantidade de planos por take.

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Foi muito importante seguir esta estratégia pois, dado o tempo limite que tínhamos para usar o espaço, permitiu-nos fazer dois planos em cada take, e não só gravar toda a cena em tempo útil, mas ainda beneficiar de uma vasta oferta de planos para, eventualmente, poderem ser usados durante a edição.

Estes não foram os únicos planos que fizemos seguindo a estratégia anterior. Também nos planos de shot reverse shot, enquanto os amigos falam, usámos de igual modo as duas máquinas. Todavia, neste caso, nem sempre conseguimos o melhor resultado, devido às condições e exiguidade do espaço, pois, fortuitamente, acabei por aparecer algumas vezes no

shot da outra máquina, como podemos ver na fig. 21, no canto inferior direito. Ainda assim,

alguns momentos desses shots revelaram-se úteis no momento da edição.

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CENA 4 – Rua do Mirita

Esta cena passa-se no suposto caminho para a discoteca. É um momento de conversa entre os amigos, que estão já a preparar-se para a noite. Pelo caminho existe já um certo conflito resultante da relação entre Jaime e Andreia, despoletando uma pequena discussão entre ambos, subtilmente influenciados pela mala.

Este foi, possivelmente, um dos Shots mais custosos de se fazer sob o ponto de vista físico, mas cujo resultado final, a meu ver foi positivo, ainda que tenha sido alterado a meio das rodagens.

Quando discutimos as movimentações de câmara com o Realizador e Diretora de Fotografia, a ideia, neste caso, era criar toda a cena em praticamente um plano sequência. Situação que durante a sua rodagem se revelou muito complexa, e as variáveis eram tantas que tornou este plano num dos mais difíceis e custosos.

Em primeiro lugar, o Realizador queria que este shot fosse feito com movimentos suaves. Para o conseguir, era muito importante o uso de um Gimbal para que todo o movimento fosse fluido e sem Câmara shake. No entanto, um dos problemas inerentes ao uso do gimbal é o seu peso, e o facto de não termos conseguido o budget para ter um colete de apoio para suportar o seu peso e o da própria máquina, tornava o seu uso extremamente desgastante.Para dificultar ainda mais, o enquadramento seria feito por um plano médio fig. 22, o que obrigava a que eu, Operador de Câmara, tivesse de estar com os braços completamente esticados, aguentando todo o peso apenas nos ombros e braços fig. 22.

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A nível técnico este local também exigiu uma um grande número de decisões difíceis. Definir a temperatura de cor nesta cena foi complexo, já que se tratava de um shot em movimento, e toda a iluminação de rua tinha temperaturas diferentes. Normalmente a temperatura de cor da iluminação pública, tende a estar entre os 2500 kelvin até 3600 kelvin, o problema é que no local da rodagem, havia toda esta amplitude dispersa num curto espaço devido aos holofotes disposto ao longo da rua, o que contaminava toda a cena com diferentes temperaturas de cor. Por isso tive de encontrar um ponto de equilíbrio entre todas e compensar, por vezes, com a nossa iluminação para tentar minimizar o efeito das diferentes temperaturas de cor da luz pública presente no local.

Além disso a iluminação pública tinha uma taxa de refrescamento muito baixa, o que produzia Flicker, que era captado pela máquina, obrigando a ajustar o shutter Angle para um valor superior, o que fazia com que tivesse menos luz na imagem num local onde a luz já não era muita, por essa razão tive que usar um f/stop mais baixo para poder compensar a perda de luz derivada do uso do shutter Angle mais alto. Criando um pouco menos de profundidade de campo, e tornando o foco ainda mais complexo.

Devido à complexidade do movimento de câmara, adicionado ao facto de estar a gravar numa rua bastante movimentada, e ainda porque esta cena tinha de ser gravada com o gimbal, que, por sua vez, com frequência, tinha de ser recalibrado entre takes, causava uma enorme perda de tempo. Depois de nove tentativas (takes) deste plano tivemos, sobretudo por uma questão de tempo, e “braços sobrecarregados”, que adotar uma alternativa no set, dividindo o plano sequência em vários, pois em nenhum dos 9 takes, tínhamos conseguido um shot que, do início ao fim, nos agradasse totalmente. Os fatores de falha eram tantos no decorrer do shot, que se revelou impraticável realizá-lo em tempo útil.

Por essa razão, fizemos um pequeno brainstorm, e agilizámos uma alternativa aceitável, com vários planos, de modo a cobrir todas as deixas e todos os momentos desta cena, de uma maneira mais simplificada.

Figura 22 - Fotografia das rodagens (making off)

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Com este plano da fig. 24, conseguimos ter uma alternativa na edição ao plano sequência. Esta solução possibilitou o uso do plano sequência, retirando os momentos que pela interpretação ou por uma razão técnica, como por exemplo o foco, poderíamos usar este plano.

Como sabíamos que este plano seria muito importante, pois o plano em sequência continha problemas tanto técnicos como de acting, assegurámos que tínhamos um take perfeito do referido Plano.

CENA 5 – Rua das Galerias First-shoot

Os 3 amigos estão a andar pelas ruas movimentadas do Porto, com destino a uma discoteca e, entretanto, chega Jaime, com uma nova personagem, Julie.

O objetivo nesta cena era criar um momento dinâmico da chegada da nova personagem. Sem dúvida, esta foi uma das cenas que mais problemas nos deu durante as rodagens, não só pela complexidade que apresentava por ser em um plano sequência, mas também devido à movimentação de câmara que tínhamos definido durante a Reperage. Exigia um enorme sincronismo entre toda a equipa, (câmara, assistente de focagem, equipa do áudio e atores), isto porque o shot fazia uma rotação de 180º, passando das costas dos personagens para a sua frente. Para complicar essa situação, o espaço era apertado e tinha movimento, pois apesar de termos muitos figurantes, não tivemos autorização para fechar completamente a rua. Todos esses fatores levaram a que nos tenha sido impossível gravar a cena como queríamos, e, por isso, após o primeiro corte, percebemos que tínhamos de realizar o Re-shoot da cena, tendo sido esta a única vez que tivemos de o fazer.

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A meu ver, a rotação de câmara á volta dos personagens era uma ótima forma de introduzir a nova personagem, Julie, pois introduzia-a de surpresa fig. 25, causando um certo impacto.

Era também uma forma de “linguagem da câmara” perante a personagem Andreia, que se vinha a rir de contente, e quando vê Jaime com a sua amiga Julie, mostra-se desagradada com a situação. Essa rotação que o movimento da câmara fazia à volta dos amigos, correspondia à alteração do estado de espírito de Andreia naquele momento fig. 26.

Re-shoot

Durante o Re-shoot da cena, ainda ponderámos recriar exatamente o mesmo movimento de câmara que tinha sido estudado por nós na Repérage, mas pelo facto de no dia do Re-shoot haver ainda mais pessoas externas no local, e ainda após algumas tentativas, tivemos de desistir da ideia do plano sequência. Iríamos perder muito tempo precioso e não iríamos conseguir obter o resultado que queríamos. Por isso, em discussão com o Realizador e Diretora de Fotografia, reestruturámos toda a movimentação, e através de um shot longo e aberto, introduzimos os personagens no ambiente de noite, passando para um plano médio do grupo de amigos, no

Figura 25 - sequência de fotogramas do plano sequência da cena 5 (primeiro shoot)

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momento em que introduzimos a nova personagem, isto para que o momento fosse de mais tensão, pois Andreia não gosta do facto de Jaime estar com Julie.

Neste plano aberto e de panning, acompanho desde o início da cena os personagens pelo meio da multidão, de cima de uma varanda a que, com o esforço da Produtora, conseguimos ter acesso.

Como este plano requeria um movimento de câmara continuo no acompanhamento dos personagens a passar pela rua fig. 27, o ideal seria usar o tripé para o poder fazer de uma forma fluida e estabilizada, contudo a varanda à qual tivemos acesso era extremamente pequena, o que impossibilitava o uso do tripé. O espaço que havia para operar a câmara era extremamente reduzido o que dificultou muito a minha tarefa, pois tinha de me debruçar sobre o gradeamento da varanda, enquanto fazia o movimento de câmara e foco, da forma mais fluida possível. Para isso tentei criar um apoio no varandim para fixar a câmara. Só esta solução me permitiu também poder usar a lente 85mm para conseguir um plano relativamente perto dos personagens, fazendo assim com que eles se destacassem do ambiente em redor.

Na restruturação incluímos o movimento de rotação de câmara presente na primeira rodagem, pois a nível narrativo tinha um forte significado. Apesar disso, como se pode ver na figura abaixo, simplificámos esse movimento fazendo um panning acompanhando a movimentação dos atores em vez de rodar sobre eles mantendo assim uma analogia, tal como no primeiro shot, à alteração do estado emocional de Andreia, fig. 28.

CENA 7 - Fonte dos Leões

Figura 27 - Fotogramas da cena 5 (re-shoot)

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Cena após a discoteca, já no final da noite, onde o personagem Rodrigo tem a ideia de mergulhar a mala na fonte e, conseguindo convencer os amigos, acabam por mergulhá-la, mas, como seria de esperar, sem nenhum resultado.

Apesar desta cena ter sido particularmente alterada na edição, e no corte final este plano ter sido removido, por questões de narrativa, durante as rodagens esta cena envolvia um primeiro shot contínuo em que a câmara acompanhava parcialmente o movimento dos personagens a caminhar fig. 30, até que enquadrasse apenas a personagem Rodrigo, ficando em

Close-up lateral do mesmo fig. 29.

Esta movimentação da câmara foi pensada desta forma, para justificar a razão pela qual o Personagem Rodrigo se lembra de mergulhar a mala.

Devido a este movimento ser, todo ele, em apenas um plano sequência, acrescentava uma complexidade maior, pois eu tinha de estar sempre atento ao enquadramento dos 5 amigos que estavam em constante movimento e, no momento certo, de uma forma suave, deixar que eles saíssem do plano até ficar apenas o Personagem Rodrigo enquadrado e com a fonte em segundo plano.

Ainda devido a essa movimentação de câmara, a distância focal entre os personagens e a câmara nunca eram constantes, e por isso o foco era também um problema a ter em conta. Por essa razão decidi, neste caso, que fosse o Assistente de câmara a fazer o foco, tendo preparado todo o material para que ele pudesse ver a imagem no monitor externo, podendo, assim, focar sem interferir no meu movimento. Desta forma, eu podia ficar mais atento ao enquadramento, que era absolutamente importante.

Um outro problema desta movimentação deve-se ao facto de existir, por trás da fonte, um grande holofote público que produzia, devido à sua intensidade, uma aberração ótica conhecida como Lens Flare´s. Uma vez que era o único enquadramento possível, usei um equipamento chamado de Matte box, ajudando assim a minimizar esse problema.

Ainda nesta cena, e um pouco a título de curiosidade, gostaria de referir que houve um plano que apresentava uma dificuldade especial. O plano em que os 5 amigos se estão a dirigir para a fonte, fig. 31, teve de ser gravado de dentro da fonte. Para isso, obviamente, tive de fazê-lo dentro de água, ainda que com botas de borracha de cano alto. A fonte tinha uma certa profundidade, o que dificultava a movimentação e, além disso, exigia, evidentemente, um

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cuidado muito especial, dado que todo o equipamento que estava a ser usado para a gravação não ser, de todo, à prova de água.

Quando fizemos a Reperage desta cena, surgiu-nos a ideia, como referi no tópico

Reperage, de que o último shot poderia ser gravado debaixo de água acompanhando o

“mergulhar” da mala.

Apenas conseguimos ter acesso a uma máquina à prova de água, muito em cima do dia das rodagens e, por essa razão, não tínhamos realizado qualquer teste com ela, desconhecendo, portanto, a qualidade do seu desempenho.

Por isso, e por uma questão de garantia, gravámos também a ideia inicial, que seria mostrar a mala a entrar em um plano zenithal, como mostro na fig. 32.

Figura 31 Fotograma da cena 7 (dentro da fonte)

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Mesmo não sabendo se o resultado seria aproveitável a nível de qualidade, gravamos o plano de dentro de água fig. 32.

Uma das dificuldades aquando da primeira tentativa de gravar o plano dentro de água, foi o facto de eu não fazer ideia, ao certo, do que estaria a gravar, pois além da máquina não ter visor, eu mal conseguia ver a sua posição dentro de água. Por isso repetimos este plano diversas vezes e, confiando um pouco no meu instinto, acabamos por conseguir um take que nos satisfez a nível de enquadramento.

CENA 8 – Jardim virtudes

Nesta cena, os amigos estão a conviver e a comer qualquer coisa depois de uma noite na discoteca. Jaime, no entanto, está mais afastado, observando Rodrigo a conversar com Julie, percebendo-se que ele começa a ficar desconfortável por esse facto, quase irritado, até que manifesta a sua frustração num ato agressivo, retirando a mala da mão de Andreia, e tentando abri-la, sem sucesso, com o isqueiro, chamando a atenção de todos. Andreia quer tentar novamente abri-la, mas Jaime responde-lhe de uma forma agressiva, levando-a a afastar-se com a mala. Toda a gente abandona o local, sendo que Julie segue outro caminho, afastando-se do grupo.

Um dos planos mais complexos de gravar nesta cena, foi este plano em sequência que apresento na fig. 34. Só pelo facto de ser um plano sequência, que só por si, já engloba uma certa complexidade, ainda tinha o problema de ter de acompanhar a ação repentina do Personagem Jaime. Mais uma vez, aqui, tive de deixar o foco para o Assistente de Câmara e concentrar-me no enquadramento, pois havia necessidade de que estes enquadramentos acontecessem em momentos específicos.

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O objetivo nesta cena era conseguir criar um momento de tensão, quando Jaime está a observar o seu amigo Rodrigo a falar com Julie. Foi pensado pelo Realizador e Diretora de Fotografia que um close-up do próprio criaria essa tensão, tornando percetível o seu estado emocional, que se desenvolveria num crescendo. O plano em sequência que segue Jaime na ação, canaliza toda a tensão, criada pelo Close-up inicial, diretamente para a sua tentativa bruta e frustrada de abrir a mala, passando a ideia de que Jaime descarrega toda essa tensão no seu ato desesperado de abrir a mala.

Era por isso necessário criar esse Close-up de Jaime, esperando pela sua reação fig. 35. Depois, o segundo momento de enquadramento é quando Jaime arranca a mala das mãos de Andreia e fica com ela em sua posse, enquanto retira o isqueiro do bolso fig. 36.

Em seguida baixa-se e é aí que surge o terceiro enquadramento. Neste momento, além do Personagem Jaime a tentar abrir a mala, tinha também de deixar os personagens Paulo e Andreia enquadrados em segundo plano, relativamente a Jaime, enquanto este tenta abrir a mala com o isqueiro fig. 37.

Aqui foi muito importante ter usado as Letterbox na máquina, uma vez que no início, antes das rodagens, a Diretora de Fotografia decidiu com o Realizador que a curta teria um formato 2:35:1. O que diminuía a sua área útil vertical, e por isso sem as Letterbox na máquina para ter uma noção do crop, que seria feito pelo formato 2:35:1, poderia não conseguir enquadrar tudo dentro do frame de uma forma correta, principalmente no enquadramento da fig

37.

Figura 34 Sequência de Fotogramas da cena 8

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Por último Jaime levanta-se repentinamente e aí surge o seu último enquadramento em

Close-up fig. 38, deste plano.

Todo este movimento em apenas um plano sequência, tornou todos estes enquadramentos num verdadeiro desafio, tanto para mim que os enquadrava, como para o Assistente de câmara, pois tínhamos de estar em perfeito sincronismo. Além disto, toda a equipa de áudio também estava atrás de mim, claro, o que exigia uma sincronização muito atenta e cuidada entre todos os elementos do set.

Ainda no mesmo plano desta cena, também havia o problema de Flicker das luzes que estavam ao fundo, como podemos ver na fig. 38. Para resolver essa situação tive que gravar com um Shutter Angle mais baixo, para evitar esse Flicker proveniente da iluminação pública. Para compensar essa perda de luz causada pelo menor Shutter Angle, tive que usar a abertura quase máxima da lente 1.8 f/stops, neste caso para poder ter luz suficiente uma vez que iluminar

Figura 37 - Fotograma da cena 8 (Jaime tenta abrir a mala)

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planos de sequência torna-se, por vezes, impraticável sem o material ajustado que por falta de

budget não o tínhamos.

O facto de usar uma a lente num f/stop tão baixo, causou alguns problemas a nível de foco, pois quanto mais baixo for o f/stop, menor é a profundidade de campo e a área focada. Para resolver esse problema, eu e o Assistente de Câmara, que neste caso estava a fazer de Assistente de Foco, treinamos várias vezes a movimentação para que pudéssemos ter marcas de foco, conseguindo assim obter um foco quase constante.

CENA 11 – Os 4 amigos seguem no carro

Esta cena foi, sem dúvida, complexa e para que corresse bem toda a equipa teria de funcionar em perfeito sincronismo. Um aspeto técnico muito importante que apliquei nesta cena foi, por questões de segurança, e uma vez que íamos com uma carrinha com a mala aberta, com vários membros da equipa dentro, na frente do carro que íamos a filmar, não podíamos exceder um limite muito grande de velocidade. Todavia, para que a cena produzisse o efeito desejado, precisávamos de simular que o carro que filmávamos seguia a uma grande velocidade, uma vez que segundo a narrativa, fazia todo o sentido que Jaime se excedesse, dado o seu estado de espírito. Para isso usei o shutter angle da máquina, diminuindo-o para 360º, aumentando assim o tempo de exposição do obturador, criando deste modo um arrastamento (motion blur) dos elementos em movimento na imagem, dando desta forma a sensação de que o carro se deslocava a uma velocidade muito superior. (como podemos ver na fig 39, nas luzes inferiores na lateral da estrada).

Esta técnica, resultou na perfeição, tendo tido alguns cuidados adicionais, nomeadamente com a trepidação da carrinha onde seguíamos, pois, qualquer movimento mais brusco iria provocar o mesmo efeito em toda a imagem como podemos ver na fig 40, abaixo, quando a carrinha passou por uma junta de dilatação, criando o arrastamento em toda a imagem.

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CENA 12 – Cena no Jardim do morro

Esta cena é uma das mais importantes, pois é neste momento em que a amizade dos 4 amigos é posta totalmente à prova devido ao objeto mala. Isto provoca diversas reações, incluindo agressões físicas. Este momento eleva a tensão ao máximo.

Uma das cenas e plano de maior complexidade, tanto a nível de enquadramento como a nível de foco, é o plano em sequência da cena 12, quando Jaime agarra Andreia pelo pescoço e se desenrola o conflito de violência com trocas de palavras entre os amigos. Achámos que este plano seria essencial ser feito num plano em sequência, pelo motivo que justifico na Repérage. Obviamente isso tornou a gravação deste plano num grande desafio, tanto para mim como câmara como para os atores, sendo o shot muito longo, qualquer falha, requeria gravar outro

take. Por esse motivo tivemos de gravar 13 takes até ter um que nos satisfizesse.

Neste caso, e ao contrário do que fiz antes, em outras cenas, preferi ser eu a focar. Esta decisão deveu-se ao facto de, como todo o plano era muito complexo em termos de movimentação, preferi assumir essa responsabilidade, pois a movimentação nunca era igual de

take para take, o que tornava impossível fazer marcações de foco. Por essa razão entendi que

seria mais eficaz ser eu a fazê-lo.

A grande complexidade do enquadramento desta cena devia-se ao facto de que havia momentos chave de enquadramento, que seriam essenciais para a narrativa, e eu teria de enquadrar a tempo todas as deixas de cada personagem e de uma maneira fluida.

As figuras abaixo representam alguns dos momentos cruciais do enquadramento deste plano em sequência.

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Em primeiro lugar, começa pelo enquadramento quando Jaime agarra e empurra Andreia contra o carro fig. 41. Este, sendo o primeiro, é sem dúvida o mais simples, pois apenas tinha de reenquadrar consoante a movimentação dos personagens.

O segundo momento de enquadramento, os amigos separam Jaime de Andreia e afastam-no para longe, fig. 42. A nível de foco aqui é um momento crítico, pois passamos de um plano muito próximo da câmara, para um plano afastado, tendo de ser ajustado de uma forma precisa em questão de segundos. Alem disso havia uma necessidade de usar um f/stop baixo 1.8 f/stops, não só por ter de usar um Shuter Angle baixo para não houvesse arrastamento, dada a exigência da movimentação da câmara, como também era importante, segundo o Realizador e Diretora de fotografia, isolar os personagens do background, para concentrar neles toda a tensão existente no momento, sem que houvesse nenhum elemento de fuga. Assim o f/stop baixo fez com que todo o backgound à volta dos personagens ficasse desfocado, salientando-os. Esse fator, obviamente, criou ainda mais complexidade no foco, pois tinha uma profundidade de campo reduzida a uns meros centímetros.

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Em seguida, Andreia volta a falar e, nesse momento, ela tem já de estar em campo fig.

43, para isso há uma rotação de quase 180º no eixo da máquina. A grande dificuldade destas

movimentações repentinas é o facto de o movimento ter de ser continuo e rápido, e quando o movimento para, tem que já estar enquadrado, sem hesitações de movimentos e de enquadramento, de modo a tornar todo o shot fluido e dinâmico.

Logo de seguida Jaime volta a falar, e mais uma vez, a câmara tem de retornar a ele fig.

45 e fig. 43, tendo o movimento de ser rápido e fluido para que toda a tensão do momento, e

toda a sensação de que o espectador faz parte da própria cena, não seja quebrada.

Outra dificuldade que é geral em todos os momentos deste plano em sequência, reside no facto da movimentação de câmara rodar praticamente para todos os ângulos. Toda a equipa tinha de ficar atras de mim, e movendo-se ao mesmo tempo que eu, exigindo uma grande sincronia entre todos para que ninguém afetasse o trabalho de ninguém.

A fig. 46. abaixo, representa o diagrama da movimentação sequencial da câmara no local da rodagem deste plano, que no momento das gravações tinha presente na minha cabeça para

Figura 42 - Fotograma da cena 12 (momento de enquadramento)

Figura 44 - Fotograma da cena 12 (momento de enquadramento)

Figura 45 - Fotograma da cena 12 (momento de rotação)

Figura 43 - Fotograma da cena 12 (momento de enquadramento)

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poder enquadrar e focar, de uma forma precisa, todos os momentos cruciais. Segue abaixo uma legenda do esquema com um fotograma de cada posição da câmara no set.

Legenda com fotograma de cada posição de câmara e o enquadramento em questão, referente a este plano sequência.

Figura 46 - Diagrama da movimentação sequencial da câmara

Figura 47 - cena 12 - primeiro momento de enquadramento

Imagem

Figura 15 - Testes das lentes Xeen vs PL Figura 16 - Testes das lentes Xeen vs PL
Figura 18 – Fotograma da cena 1, não pós-produzida Figura 17 – Fotograma da cena 1, pós-produzido
Figura 19 - Fotograma da cena 2
Figura 20 - Fotograma da cena 2
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Referências

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