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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE EDUCAÇÃO E LETRAS PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO. CARMEN BARRETO LOPES. ENCONTROS E DESENCONTROS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: UM ESTUDO SOBRE O CORPO E O EROTISMO FEMININO. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2009.

(2) CARMEN BARRETO LOPES. ENCONTROS E DESENCONTROS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: UM ESTUDO SOBRE O CORPO E O EROTISMO FEMININO. Dissertação apresentada como exigência parcial ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO, sob a orientação do Prof. Dr. Danilo Di Manno de Almeida, para obtenção do título de Mestre em Educação.. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2009.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA L881e. Lopes, Carmen Barreto Lopes Encontros e desencontros na educação física escolar: um estudo sobre o corpo e o erotismo feminino / Carmen. 2009. 80 f. Dissertação (mestrado em Educação) --Faculdade de Humanidades e Direito da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2009. Orientação: Danilo Di Manno de Almeida 1. Corpo (Educação). 2. Erotismo I. Título. CDD 374.012.

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(5) DEDICATÓRIA Dedico este trabalho às mulheres que ainda estão por se descobrir..

(6) AGRADECIMENTOS. Chegou um dos momentos mais difíceis deste trabalho: agradecimentos... Quem são as pessoas que merecem nossos agradecimentos e momentos, talvez únicos, de estar com nome registrado nas páginas iniciais de uma dissertação de mestrado?. Lembro-me dos agradecimentos de uma tese de doutorado onde o autor dizia que não queria simplesmente agradecer, mas sim registrar nessa página os nomes das pessoas que, para além de tornar possível a realização do trabalho, esteve junto, como um trabalho em equipe.. E é assim que me sinto, as pessoas que comigo velejaram por este mar, esteve comigo porque acreditou em mim, acreditou que eu poderia vencer e apostando neste sucesso entrou no meu barquinho, barco este que se transformou em um navio cheio de tripulantes desejosos de vitória.. Inicialmente quero lembrar que sem as idéias, compreensão e respeito do meu orientador professor Dr. Danilo Di Manno de Almeida eu não teria sequer saído do porto inicial. Um homem que mesmo sabendo remar, me ensinar a remar ao invés de remar para mim. Ensinou-me a sentar corretamente para que esforços desnecessários fossem evitados, depois, com o aumento do barco, levou-me ao leme, e com o mesmo respeito ensinou-me a pilotar o meu navio.. Confesso que não foi fácil, inicialmente com meu barquinho parecia estar tudo sob controle, ledo engano, ou melhor, santo engano. A maré alta, junto com os amigos que vieram remar comigo provocou uma desestabilização da embarcação e saindo do meu centro de controle tive que recomeçar toda a navegação, e foi meu orientador que esteve junto comigo, sem me deixar derrubar os remos, reiniciando o processo ao mau lado.. A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo possui um programa de.

(7) Bolsas de Estudos oferecidas aos seus Docentes Efetivos, eu fui uma das docentes contemplada, feliz e agradecida, para não perdê-la, passei por diversos desafios. Já ouviram aquela expressão: “Quando você acha que encontrou todas as respostas, mudam-se as perguntas”?. Como todo programa, este também possui suas regras, algumas árduas outras mais tranqüilas e posso dizer que fui coloca em teste praticamente todos os meses de concessão, primeiro porque a bolsa não é integral, segundo porque três meses após ter conseguido tal benefício fui agraciada por uma gravidez que infelizmente me trouxe sérios comprometimentos, uma gravidez de risco e sem o respeito de pessoas como as secretárias do curso: Alessandra e Márcia, posteriormente também a Regina, que souberam me orientar e carinhosamente atender aos meus (e de todos os outros também) pedidos de ordem administrativa (todos os meses eu tinha que levar documentos da universidade para a Diretoria de Ensino) eu não teria superado parte das exigências da Bolsa de Estudos, representada na Diretoria de Ensino de São Bernardo do Campo pela supervisora Helenir.. Dos professores: Dr. Elydio, Dra. Jane, Dra. Marília, Dra. Nori e Dra. Zeila que respeitosamente me passaram seus ensinamentos e tarefas domiciliares e Eliete, que gentilmente autorizou, junto com sua equipe, a entrada do meu carro no campus Vergueiro da Metodista facilitando assim a minha acessibilidade aos estudos.. Como percebem neste momento o meu barquinho já havia se transformado em navio, eu só não sabia que as mudanças ainda iriam continuar e este meu navio iria se transformar em um transatlântico.. No âmbito profissional encontrei pessoas que subiram no meu navio sem pedir licença, pessoas como a professora Renata que quando percebi já estava na cabine com trabalhos prontos de cunho organizacional de alunos, como listas, entrega de livros, portifólios, reuniões ... obrigada professora.. Mas nesta ilha no meio do oceano, essa professora não foi a única a entrar no meu navio e seguir comigo até o fim da viagem. A diretora Sonia teve importante.

(8) papel neste navio, ela esteve com uma bússola nas mãos, uma bússola profissional que não deixou eu me perder nessa imensidão do azul-mar-profissional, as secretárias Márcia, Silvana e Dalva sempre prontas para me atender, Cícero e Márcia, assistentes de direção também tiveram suas bússolas, as ordens eram outras, mas não me deixaram perder de vista as estrelas. As merendeiras que saciaram nossa fome e as inspetoras sempre prontas a ajudar.. As coordenadoras-marinheiras Ana Maria e Roberta estavam sempre atentas as minhas possíveis necessidades e para além mar foram capazes de me apoiar nas maiores turbulências que passei, confesso que no meio de tanta turbulência, o enjôo das sacudidas foi inevitável e estas marinheiras seguraram firmemente em minhas mãos até passar todo mal estar. Para lidar com tantos “mal estar” precisei de uma equipe médica que esteve sempre presente: o Dr. Nicolau, meu obstetra; a Dra. Viviane, pediatra e sua recepcionista Beth; e Dr. Airton, cardiologista e Dra. Renata, nutricionista.. A lista de embarque deste navio não pára por ai.. A amiga Vilma que contribuiu com seus conhecimentos, Cicília, Cora, Dulce e Marcos que em embarcações diferentes, mas com os mesmos destinos impulsionavam-me com suas experiências e desejos de vitória.. Professora Cássia e professor Emerson que por muitas vezes me ajudaram com a tripulação.. As amigas-marinheiras Ana Célia e Zilda pularam comigo no mar tantas vezes precisei mergulhar, foram elas que muitas vezes trocaram meu oxigênio me dando possibilidades de continuar respirando.. E com tantas pessoas em alto mar, alguém precisaria ficar em terra, na torre, não exatamente de comando, mas no farol, e lá ficou meu companheiro Wesley que atento a cada movimento e manobra de meu navio manteve sua luz acesa para que eu não perdesse o caminho de volta para casa..

(9) Sou extremamente reconhecida à ajuda que tive na minha avaliação de qualificação com os professores doutores: Carlos Alexandre F. de Brito e Claudia Panizollo que souberam fazer de forma respeitosa as observações necessárias para a construção de um trabalho digno de mestrado.. Aos professores doutores, Jane Soares de Almeida e José Carlos de Freitas Batista com suas contribuições na banca de defesa.. O professor José Carlos que acompanha minha trajetória profissional desde o momento em que entrei na graduação de Ed. Física, minhas primeiras braçadas, meu primeiro mergulho.. E a professora Jane Soares de Almeida que me ensinou a ler com as mulheres ao invés de ler sobre mulheres.. Infelizmente não sei o nome de cada uma das funcionárias de biblioteca que por zilhões de vezes me atenderam em cada passo, em cada braçada deste caminho, mas fica aqui o meu apreço a todos e todas.. Vocês devem ter notado que a palavra respeito aparece repetidamente nestes agradecimentos, mas explico: nada é construído se o respeito pelo ser vivo não fizer parte da ação.. E por falar em respeito, os tripulantes João e Zoraida não me deixaram esquecer que Deus, nosso pai maior, está aqui para respeitar e ser respeitado, sem a sua colaboração não existiria nem céu, nem mar, e nem o navio.. Antes de chegar a construir meu barquinho inicial, eu tinha outro que continua no cais familiar, sempre a minha disposição, esta é uma tripulação eterna, felizmente bastante amada, meus pais, Alcides e Helena e meus irmãos, Renata e Ednilson. A Glauciene que chegou para fazer de seus braços a extensão dos meus.. E em meus braços, Ana Beatriz e Pedro Henrique que me ensinaram o verdadeiro significado do amor e do respeito..

(10) COM LICENÇA POÉTICA. Quando nasci um anjo esbelto, Desses que tocam trombeta, anunciou: Vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, Esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, Sem precisar mentir, Não sou feia que não possa casar, Acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos -- dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, Já a minha vontade de alegria, Sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou.. Adélia Prado, 2008:9.

(11) RESUMO O presente trabalho tem como objetivo central examinar os espaços do corpo feminino na Educação Física, na sua modalidade escolar e sua dimensão erótica, à medida que este tema esclarece a prática docente na Educação Física. Com essa abordagem foi possível perceber com maior clareza a relação feminino-masculino no âmbito da prática e da formação docente. A partir do papel que o erotismo possui na relação homem-mulher, levantamos a seguinte hipótese: o componente “erótico” ressalta a contextualização masculinizada e masculinizadora da área da Educação Física. De natureza bibliográfica, a pesquisa retoma o momento de cientifização da Educação. Física. e. passa. pela. institucionalização. escolar em. busca. da. caracterização de suas práticas escolares. Todo esse percurso visa mostrar a concepção e estruturação masculinizada da Educação Física e mostrar a inclusão da mulher num universo já definido previamente. O tema do erotismo mostra sua importância em nossa análise, pois permite perceber o quanto a mulher docente cede a essa masculinização massiva. Não somente assimila, mas a transmite por meio de sua prática escolar. O trabalho é composto de três capítulos: o primeiro trata da cientificidade da Educação Física, o segundo da sua institucionalização e o terceiro capítulo, mais teórico, analisa os dois momentos desta área.. Palavras-Chave: Educação Física, Corpo, Feminino, Mulher, Erotismo.

(12) SUMMARY. This study aims to examine the central place of the female body in physical education in their school type, yet we know the importance and size of teaching and human performance and leisure, will be the erotic dimension that will compose the work. This analysis arises from the practice of Physical Education in mannish whose training is based predominantly mannish to the current days of physical practice, both for performance and for training. Found in literary works of Carmen Lúcia Soares reasons and motivations to meet other material on the female body in physical education, so our search was based on literature search where the cuttings in Fitness and body-female guided the research and documentary analysis of decrees and laws. This instrument has created a work with three chapters that present structure. The research has noted that physical education is male-oriented, the same women's gymnastics is prepared from the male mold, or first "invented it" a movement gímnico male and then adapts to women.. Keywords: Fitness, Body, Women's, Gymnastics, Eroticism.

(13) SUMÁRIO. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 14 CAPÍTULO 1 – VAMOS BRINCAR DE ESCONDE-ESCONDE? ESTÁ COM OS MENINOS! ...................... 19 1.1 Definindo as brincadeiras e as regras do jogo .............................................................................20 1.2. Amoros entra na brincadeira: cadê a menina que escondeu-se enquanto o menino foi Bater cara? Uma reflexão da ginástica no século XIX ....................................................................22 1.3. A força está com os meninos. O impacto da ginástica do século XIX no Brasil ......................33 CAPÍTULO 2 – CORPO- MULHER NO ESPAÇO MASCULINO ............................................................ 39 2.1 A ginástica e a escola: possibilidades de encantos ......................................................................40 2.2. Encontros e Desencontros na Educação Física: uma análise sobre o corpo-mulher ..............48 CAPÍTULO 3 –MULHER-CORPO: CADÊ O FEMININO? .................................................................... 59 3.1Corpo-mulher, Corpo-erótico: movimentos e seduções...............................................................59 3.2. Até quando o corpo-feminino irá suportar uma Educação Física masculinizadora? ..............65. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 71. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................................... 76.

(14) 14. INTRODUÇÃO. Neste trabalho de mestrado examinamos a Educação Física na tentativa de descobrir nela uma práxis masculinizada, já que esta surgiu para o desenvolvimento do corpo do homem enquanto soldado e, só, posteriormente, a partir dessa premissa, um questionamento se apresenta: adaptando-se ao corpo da mulher. Será que foi a mulher que precisou adaptar-se à ginástica? Estudos foram realizados quando da época da sistematização de Educação Física, mostrando que a ginástica era praticada em favorecimento do corpo-homem do mesmo modo que a ciência e experimentos de época aconteciam em nome do corpo-homem.. Desde o surgimento da ginástica o corpo-mulher foi permitido a praticá-la por questões necessárias ao próprio progresso familiar, tendo como suporte uma ciência médica que acreditava na hegemonia do ser humano, na saúde como não doença física e mental, no fortalecimento do corpo, no aumento e controle da prole.. Com o nascimento da Educação Física enquanto ginástica no século XIX em um momento de extrema valorização do corpo belo, forte e moralmente edificado, a ginástica chega para fortalecer os soldados e os corpos-homens para o trabalho, já as atividades destinadas ao corpo-mulher em atividades de manutenção da graciosidade.. Nessa dissertação trataremos do corpo de mulher “fabricada” pela sociedade, aquele corpo símbolo de desejos e de obediência. Quando falamos em corpofeminino, estaremos tentando focar o corpo sedutor, um corpo erótico desejado.. Na tentativa de responder a essas inquietações desenvolvemos um trabalho baseado em uma análise reflexiva bibliográfica e para isso dividimos este trabalho em três capítulos que expomos a seguir..

(15) 15 No primeiro capítulo: “Vamos brincar de esconde-esconde? Está com os meninos! Contemplaremos três autores que nos forneceram informações básicas e iniciais para esta reflexão, mas que também aceitou a discussão e contribuição de outros autores e textos como veremos no decorrer da leitura do capítulo.. Assim iniciamos o primeiro capítulo pesquisando o surgimento da Educação Física Não pretendemos criar uma reflexão sobre o seu objeto de estudo, mas trazer para discussão em como o corpo-mulher comportou-se perante uma atividade relativamente nova na sociedade. Nova, desejada, autorizada e indicada para fortalecimento dos corpos.. A ginástica passa a ser reconhecida como uma atividade física necessária à boa saúde da mulher e vigor física do homem. O soldado e a futura mãe precisam de exercícios para proteger a Nação e dar continuidade à espécie com bons frutos.. A partir do segundo momento deste capítulo damos uma atenção especial para Amoros1, que entrando na brincadeira nega o riso em favor da obediência e adestramento corporal, sobretudo do corpo-mulher. Ao desenvolvermos o texto referente ao item 1.2 deste capítulo, “Meninos eu tenho a força! Impacto da ginástica no Brasil” reconhecemos e demonstramos a importância da ginástica dada ao corpohomem. Neste momento no Brasil, a ginástica chega sob forte influência Européia, mas que no Brasil está se iniciando agora, a prática de ginástica por mulheres.. A autora e professora de Educação Física Carmen Lúcia Soares, nos ajuda a refletir a condição da Ginástica no século XIX com significantes textos e informações que contribuem para a uma reflexão do corpo-mulher na qual necessitamos. É por intermédio desta autora que encontramos Amoros, um pesquisador que com estudos inéditos em sua época de vida, audácia e dedicação cria uma seriedade sisuda para a prática física onde o riso e as liberdades de movimentos são proibidas, criando espaço para uma ginástica moldada e fadada ao comando de um e. 1. Amoros será apresentado no capítulo 1.

(16) 16 obediência de muitos.. De acordo com estes autores, os estudos que envolveram a ginástica contribuiu para uma formação cidadã completa e complexa em um momento em que o homem, enquanto cidadão descobre que possui um corpo que se movimenta, e através deste próprio corpo em movimento que a nova constituição de cidade se apóia com a domesticação e adestramento corporal, visando então novos interesses que vão surgindo com a chegada de grandes revoluções compreendidas neste período histórico.. Muitos estudos que contemplam tais reflexões apontam para esta idéia de adestramento corporal, onde os corpos-homens devem defender sua pátria a todo e qualquer custo, precisando para isso de trabalhos de força e disciplina e às mulheres na condição de corpos-mães de soldados e de outras futuras mães irão domesticar seus corpos. Para isso pesquisadores apostam no trabalho moral e higiênico conseguido por meio da ginástica.. Não bastando à diferenciação entre homens e mulheres no exercício do ensinar à ginástica, criam-se outros mecanismos onde a medição de força passa a apontar diferenças físicas entre estes gêneros. No âmbito médico, cria-se a ortopedia, ramo da medicina que irá cuidar especificamente da má formação dos pés, algo que impediria dos homens e mulheres praticarem a ginástica e conseqüentemente impossibilitando o trabalho de fortalecimento dos corposhomens.. Começamos a discussão do segundo capítulo refletindo sobre os encontros e desencontros da Educação Física no âmbito escolar. O corpo-mulher que até então não possui a permissão para exercitar-se, começa a prática física em nome da salvação da espécie e com a idéia do cuidar “direito” dos seus filhos além de possuir futuras boas gestações.. Com base em decretos e leis encontramos vestígios de uma Educação Física.

(17) 17 praticada sob pressão por aqueles que não se simpatizam com a prática, mas que acabam seduzidos pelo sistema que chega a aceitar a mulher como praticante de ginástica e posteriormente como docente.. A prática física entre as mulheres que agora é liberada em tom de liberdade na verdade possui objetivos bastante opressores, a mulher continua sendo a “dona” do lar e dos filhos, e a ginástica a ela permite a manutenção da sua obrigação, e o que poderia ser enfim praticado com liberdade, passa a ser uma atividade quase que obrigatória mas com severos limites práticos.. E por falar em limites práticos, temos no terceiro capítulo a reflexão do corpofeminino velado em nome do corpo-mulher, seus desejos, prazeres e sensualidade, ao mesmo tempo em que são evocados pela prática de ginástica são encobertos e amaldiçoados pela moral. Temos a sensação de que o corpo-feminino foi seduzido para não seduzir.. É o corpo-feminino que em nome da moral, da boa conduta e da obediência esteve escondido no corpo-mulher durante todo o século XIX chegando ao século XX de forma tímida, amedrontada e insegura. A questão do belo passou a ter novas características e novos desejos. O que antes não era enxergado, o corpo, agora era motivo de assuntos, matérias, aulas e olhares que buscam alento em músculos a mostra dos corpos-meninos e o belo nos corpos-meninas.. Justamente por isso fomos buscar respostas do que é um corpo erótico e fazendo um contraponto com a sensualidade vamos intensificando nossos estudos e pesquisas sobre o corpo-feminino-docente. Indubitavelmente percebemos um corpomulher sedento de desejos que afloram sua sensualidade e sua sexualidade.. Traremos discussões de textos de vários autores e especificamente Lúcia Castello Branco (1984) nos orienta sobre os assuntos interligados ao erotismo, a sensualidade, enquanto que Jane Soares de Almeida (2007) nos proporciona momentos de análise sobre a mulher docente, cujo destino de se dedicar ao lar e.

(18) 18 aos filhos foi traçado em meios a grandes transformações advindos das revoluções também o foi de real transformação cujas necessidades capitalistas que levaram as mulheres para trabalhos domésticos fora de casa assim como iniciar o trabalho como docente, inclusive de corpos-meninos e corpos-meninas.. Jocimar Daólio (1995,1997) dará o tom que precisamos sobre a cultura corporal feminina e Silvana Vilodre Goellner (1992,2000,2001,2005) nos fornece elementos próprios da masculinização da ginástica.. Assim terminamos o nosso trabalho com nossas considerações finais onde refletimos sobre o trabalho aqui apresentado, nossas conclusões sobre o objetivo apresentado e a intenção de continuar trabalhando..

(19) 19. CAPÍTULO 1 1 Vamos brincar de esconde-esconde? Está com os meninos!. As brincadeiras de rua e de roda, atualmente tão desejadas por crianças, mães e pais saudosos já foram motivos de muitas angústias e brigas no século XIX quando meninos e meninas descobrem que seus corpos se movimentam e podem brincar. Isto posto um questionamento se apresenta: um corpo em movimento, ou um corpo que se movimenta?. Para Cagical (1974), a ginástica chega com o objetivo de utilizar o próprio homem como instrumento de trabalho, sendo que “A ciência da Educação Física pode quase coincidir com a ciência do homem em movimento” (p.73). Apesar de este pensamento ter sido desenvolvido nas décadas de 1970 e 1980, conseguimos verificar que no século XIX as conquistas das lutas e movimentos corpóreos são bem representadas na obra de Cagical (1974), que acredita na fusão do homem que se movimenta com o próprio homem. O que contrapõe Freire (1989), quando cita acreditar que o corpo e a mente integram um único organismo e que o corpo educa-se para além da educação do movimento, “Educação Física não é apenas educação do/ou pelo movimento: é a educação do corpo inteiro” (p.84). Pensando no nosso objeto de estudo ao examinar o lugar do corpo feminino na Educação Física, em especial entre os séculos XIX e XX, percebemos a prática de uma ginástica dominadora que vem justamente reprimir os movimentos dos corpos, onde homens ou mulheres possuem seus movimentos limitados e ou treinados pela ginástica.. Pensando nas necessidades da Educação Física, propomos estudar, neste capítulo, a ginástica descoberta no século XIX cuja prática fará parte da vida diária.

(20) 20 de homens e mulheres.. E com a cientificidade da ginástica, o riso e as brincadeiras deixam de ser importantes e passam a figurar como uma atividade não bem vinda, algo inadequado e imoral, assim, praticar ginástica é coisa séria, tanto para homens quanto para mulheres não podendo esta ser realizada em qualquer lugar como destacavam estudiosos do século XIX. Soares (2002). 1.1 Definindo as brincadeiras e as regras do jogo.. Onde existe jogo e brincadeira existe regra, e aqui não seria diferente, a partir deste trabalho científico desejamos esclarecer alguns conceitos.. Vamos ressaltar tais explicitações falando de jogos e brincadeiras, que mesmo não sendo o objeto de nossa pesquisa são constantemente utilizadas e para que não haja dúvidas vamos dizer estas regras.. Jogos, de acordo com Cavallari e Zacharias (1994), que possuem regras fixas pré determinadas, possuindo um fim, seja por meio do tempo cronológico ou por pontos, sempre haverá um vencedor e um perdedor, ou um empate.. Ainda estes mesmos autores sinalizam que as brincadeiras possuem regras mais simples, sem fim pré determinado, e não existem vencedores, perdedores ou empate. As brincadeiras devem acabar quando terminar o prazer pela sua prática, pelo tempo climático ou por intervenção de outra pessoa que não esteja brincando.. Moreira (1995), nos faz lembrar que somos um corpo e por isso nos apresenta um percurso gerativo de sentido das diversas metáforas de corpo: corpos dóceis; corpo jardim fechado; corpo ajustável ao que se precisa; corpo-asceta-indiferente; corpos indiferentes e corpo presente-pressente. O objetivodele é fazer lembrar que.

(21) 21 serão elucidadas a seguir.. A primeira metáfora diz respeito aos corpos dóceis descrito por Foucault no século XVII quanto á obediência dos corpos pelo poder onde era manipulado, modelado e treinado de acordo com o método cartesiano.. A segunda metáfora “corpo jardim fechado (Moreira, 1995:22), quanto à obediência Assmann (1993), acredita em um corpo que existe de forma separada da essência, ou seja, um corpo sagrado, sem desejos na esperança de que haja no futuro um paraíso.. Ainda de acordo com Assmann (1993) apud Moreira (1995), existe uma terceira metáfora chama de “corpo ajustável ao que se precisa” (p.23). um corpo disposto a ser moldado de acordo com os seus interesses.. A quarta metáfora usada por Moreira (1995:24), provoca sensações de angústia e medo, chamada de “corpo asceta-indiferente” promove sensações de um corpo sem significado, ou como o próprio autor chama um corpo que perde a sua significância.. Uma quinta metáfora utilizada trata-se dos “corpos indiferentes” Moreira (1995:25), comenta das indiferenças as quais olhamos para os corpos que um dia fizeram parte da glória, por exemplo, na área esportiva, e após sair da vista das pessoas passa a ser apenas mais um corpo na multidão.. E enfim, a metáfora mais desejada, a metáfora do “corpo presente-pressente”. Cuja terminologia aponta para a questão de trabalhar o desejo de que o corpo na escola seja respeitado de tal maneira a ser lembrado do todo, ou seja, o corpo não é meramente um objeto ou um amontoado de carnes, ossos e vísceras, o corpo humano é composto por desejos, sensações, lembranças e percepções Moreira (1995)..

(22) 22 Pensando nesta última metáfora e desejo de corpo o qual Moreira (1995), menciona é que trataremos este texto, na perspectiva de um corpo reconhecido integralmente, ou seja, composto do físico, do cognitivo e psicológico como aponta Fonseca (2008), levando-nos à reflexão de como este corpo foi tratado no tempo aqui estudado, século XIX, mas com o entendimento do que temos hoje no século XXI.. 1.2 Amoros e a ginástica: cadê a menina que escondeu-se enquanto o menino foi bater cara? Uma reflexão da ginástica no século XIX.. No Brasil as idéias não são diferentes do resto do mundo onde foi-se buscar nos Europeus os caminhos mágicos que pudessem dar conta do desenvolvimento da força, a disciplina e a moral que são as principais fontes de inspiração para um Brasil melhor. Tanto homens quanto mulheres precisavam ter tais características, porém a relação com a mulher torna-se mais sensível devido a sua condição particular de mãe.. Analisando as ginásticas desenvolvidas nos países Europeus a que mais tempo resistiu foi a ginástica francesa. Destaca-se para este movimento os conhecimentos científicos e militares que desenvolveu o estudioso Amoros 2 cujas técnicas foram estudadas para conhecer e aperfeiçoar a ginástica que buscou amparo das categorias médicas cuja validação abrilhantou ainda mais sua pesquisa, (Soares, 2002) por sua vez buscava embasamento em estudos de observação da práxis dos movimentos corpóreos nos homens que motivados pela medicina compunham um elemento de cientificidade, ou seja, a ginástica ganha poder na sociedade e na política quando passa a ser baseada e reconhecida cientificamente.. Com a prática da observação e respostas positivas de seus experimentos, Amoros passa a criar novas formas de movimentos e equipamentos. De acordo com 2. Francisco Amoros Y Odeano, espanhol, também conhecido como Marques de Sotelo, cuja deportação para França ocorreu em 1814 quando intensificou suas pesquisas acerca do movimento humano..

(23) 23 alguns estudiosos contemporâneos, este pesquisador provoca a iniciativa da prática da ginástica em todo o território francês e com a sua conquista sendo espalhada por todo o país, a ginástica começa a ganhar força e adeptos.. Pensando neste interesse em ginástica temos Soares (2002) que nos mostra que o maior preocupado e adepto do sistema de ginástica como prática de fortalecimento muscular dos meninos e adestramento moral nas meninas foi esmo encontrado Amoros.. Amoros apud Soares (2002) apaixonado e adepto da ginástica, inicia seus estudos em Madrid e logo após chegar à França conquista a confiança do governo Francês que passa para ele o comando do regimento de educação, fazendo com que Amoros recrute seus próprios alunos para investir tudo aquilo que já aprendera cientificamente, inclusive aquilo aprendido antes de sua deportação.. Amoros passa a ter um desafio, trabalhar também com o corpo da mulher, já que até então seus estudos e experimentos haviam sido voltados para o corpo do homem, para o desenvolvimento de sua força, sua virilidade e destreza. Desta forma, este pesquisador precisa encontrar outras maneiras de continuar seu trabalho e uma das maneiras encontradas foi compor seus estudos de ginástica com base no pedagogo Pestalozzi que acreditava na necessidade da prática física em crianças em geral para que seus corpos fossem fortificados com saúde, beleza e de forma sensorial.3. A ginástica pensada por Amoros insere-se no conjunto das normas de conduta moral e de pedagogias que se elaboram para formar ou reformar o corpo, regulando corretamente suas manifestações e educando a vontade. É o corpo que objetiva a ação educativa e moral por excelência... os gestos são signos e podem organizar-se em uma 3. O desenvolvimento é orgânico, sendo que a criança se desenvolve por leis definidas; a gradação deve ser respeitada; o método deve seguir a natureza; a impressão sensorial é fundamental e os sentidos devem estar em contato direto com os objetos; a mente é ativa; o professor é comparado ao jardineiro que providencia as condições propícias para o crescimento das plantas. (Zacharias, s/d.).

(24) 24 linguagem; expõem a interpretação e permitem um reconhecimento moral, psicológico e social da pessoa (SOARES, 2002:37).. A ginástica aqui praticada requer uma série de comandos sisudos onde o riso pode colocar todo um trabalho sério a se perder, por isso as traquinagens realizadas nas ruas não possuem valores sociais e muito menos educativos. Assim os molambos ou os malabaristas, como eram conhecidos na cidade, não passam de pessoas desafortunadas e marginalizadas por outras que julgam a moral como um ao de civilização e necessária para a sociedade, além do que a prática física realizada por mulheres precisavam de justificativas e autorizações para serem praticadas além de monitoradas.. A obra de Amoros traz consigo imagens, heranças de outros tempos. Nos interditos de seu texto, em frases e palavras por vezes aparentemente desconectadas, é tecida uma retórica da negação do circo, dos artistas, das representações de rua, do corpo como espetáculo. (SORAES, 1997:05). Ainda de acordo com Soares (2002), Amoros acreditando e investindo em suas pesquisas, pensa que a educação precisa da ginástica, assim como a ginástica precisa ser praticada nas escolas de modo que seus ensinamentos não fiquem isolados e nem mesmo esquecidos, desta forma, para que haja uma perpetuação dos seus estudos se faz necessária uma dedicação escolar, surgindo também a esperança de que o corpo da mulher pudesse participar ao mesmo tempo com os corpos dos homens das práticas físicas já descobertas cientificamente.. Conforma relata Soares 2002:38, Amoros acredita em uma educação integral e ideal para uma pessoa, homem ou melhor, deveria ter em seu currículo a ginástica, pois somente por meio da ginástica o corpo estaria pronto para viver em sociedade, preparando-a para o trabalho e a maternidade.. Um dos motivos de triunfo para Amoros foi que, além de estudar e registrar cientificamente suas lições, ele também fez um vasto estudo sobre o corpo biológico-fisiológico humano, inclusive do sistema esquelético, muscular e de locomoção do indivíduo o que o autorizou a falar da cientificidade da ginástica.

(25) 25 feminina. Com tais estudos, Amoros consegue consagrar-se na área da prática de exercícios físicos, trazendo informações pautadas na ciência e que pudesse engrandecer o trabalho de ginástica corporal utilizado pelos profissionais da época que não possuíam nenhuma qualificação para este tipo de trabalho.. Por meio dos estudos estabelecidos por este pesquisador, Soares (2002) acredita na possibilidade de Amoros ser um percussor dos estudos da mecânica do movimento corporal humano, citado aqui como exemplo, a relação de estudos sobre o equilíbrio estático e dinâmico do corpo humano. além destes outros estudos, Amoros tenta explicar a relação existente entre a mecânica e o corpo justificando primeiramente que o centro de gravidade é a relação básica da mecânica4, com um ponto situado dentro do corpo humano promovendo equilíbrio com demais pontos do corpo. (Amoros apud Soares, 2002:173).. Para a execução de toda essa prática, os corpos ficariam expostos aos olhos de outros corpos e estes precisariam de privacidade, sua ginástica, uma atividade extremamente séria e sisuda não poderia, em momento algum ser confundido com os corpos dos malabaristas que “infestavam” as ruas e praças da cidade. Precisando ter cuidados sobre estes assuntos e com os seus estudos, Amoros entendeu que o corpo humano precisaria praticar as atividades físicas em lugares apropriados o que o levou a investir na construção de vários ginásios de ginástica.. Essas construções começaram ainda em territórios madrilenos onde receberam sequências de ginásticas e jogos que utilizavam a música como instrumento de aprendizado.. Com toda essa “proteção” aos corpos, sobretudo aos corpos das mulheres, a ginástica científica, como ficou conhecida, trouxe o riso como um inimigo a ser banida da cidade, a ginástica baseada em estudos, pesquisas e provas não 4. Não é pretendido aqui estudar a mecânica do corpo humano e sim apontar para elementos que possam nos orientar em como foram realizadas as descobertas da ginástica científica, quando e porque a mulher passa a ser recebida como aluna e posteriormente como docente de Educação Física..

(26) 26 poderiam ser menos importante que as acrobacias utilizadas pelos acrobatas em áreas livres, por isso com a construção destes ginásios, a „ginástica séria‟ estaria protegida da „ginástica do riso‟.. Com a determinação de Amoros em divulgar a ginástica e com o apoio das autoridades, em pouco tempo, muitos ginásios foram construídos e neles praticavam ginásticas e comemorações. Acreditava-se que deles, homens e mulheres sairiam fortes, bonitos e comportados. Talvez exatamente aquilo que Foucault chama de “corpos dóceis”5. Com tal dedicação as autoridades parisienses foram conquistadas e passaram a acreditar na possibilidade desta ginástica ser praticada entre os militares e definitivamente também nas escolas, sendo entre militares apenas para homens e nas escolas para homens, mulheres e crianças.. Mas então qual a idéia de ginástica para Amoros? Por que praticar ginástica? O que diferencia a ginástica de Amoros com a ginástica dos acrobatas de rua? Como estudar a prática da ginástica entre meninas e mulheres?. Com a descoberta do corpo que se movimenta, um novo problema acabava de nascer, o corpo que se movimenta vai a qualquer lugar e assim seria preciso estabelecer ordens, e a ginástica científica chega, neste momento, para adestrar homens e mulheres, cada qual no seu lugar e com seus deveres pré estabelecidos como o homem em proteger sua família, a Nação e o trabalho e a mulher cuidar da família e da casa.. Apesar da ginástica estabelecer critérios para uma conduta moral de acordo com as exigências da sociedade capitalista, ela não vai distinguir homens e 5. A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos “dóceis”. A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência). Em uma palavra: ela dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado uma “aptidão”, uma “capacidade” que ela procura aumentar; e inverte por outro lado a energia, a potência que poderia resultar disso, e faz dela uma relação de sujeição estrita. Se a exploração econômica separa a força e o produto do trabalho, digamos que a coerção disciplinar estabelece no corpo o elo coercitivo entre uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada.” 2008.

(27) 27 mulheres nas suas tarefas e execuções, ou seja, a ginástica deve ser praticada por qualquer pessoa sem distinção de sexo, mas, neste momento encontramos, na literatura, algumas das atividades físicas que seriam pertinentes as mulheres e quais caberiam apenas aos homens, o que encontramos em maior destaque são informes de que os homens precisam praticar ginástica para se tornarem fortes, disciplinados, já as mulheres seu fortalecimento deva ser desenvolvido na região abdominal para que seu feto seja gerado com saúde e sem limitações físicas ou mentais, assim quando crescerem serão bons e fortes soldados, ou boas e fortes mães.. “A ginástica pensada por Amoros insere-se no conjunto das normas de conduta moral e de pedagogia que se elaboram para forma ou reformar o corpo, regulando corretamente suas manifestações e educando a vontade.” (SOARES, 2002:37). Desta forma, pode-se dizer que a ginástica amorosiana acontece para dizer as moças como elas deveriam comportar-se corporalmente associando o adestramento do corpo a obediência da moral.. Devemos dizer que Amoros em suas pesquisas desenvolveu orientações de como a mulher e como o homem deveriam comportar-se em sociedades e para isso estabeleceu critérios de execução de atividades físicas bem como o direcionamento de como poderiam ser executadas pelo corpo-mulher e pelo corpo-homem.. Dentre as atividades físicas descobertas e destacadas por este pesquisador foi à marcha e corridas onde ambas poderiam ser um grande aliado no tratamento a educação moral dos alunos e das alunas.. Primeiramente a marcha e a corrida, uma atividade física, cada qual com sua particularidade6, constituindo um caráter benéfico à saúde e a precisão, encarregando-se de moldar um corpo considerado belo, tanto para o homem quanto para a mulher. Em segundo lugar, a própria técnica empregada à corrida e à marcha já seria suficiente para uma educação moldada nas questões morais, pois são as 6. Não é pretendido aqui discutir as particularidades das atividades físicas salvo quando necessárias para explicitar e ou estabelecer elos com o objetivo deste trabalho..

(28) 28 regras que precisam de respeito e ordem, para que assim possam ser praticadas.. Desta forma, as atividades físicas direcionadas para os grupos de homens e mulheres eram carregadas de represálias que eram vistos como algo natural e necessária para que cada corpo soubesse exatamente qual o seu lugar, além de que o forte vence o fraco, e para isso a prática da atividade física se fazia necessária para. a. sabedoria,. o. fortalecimento. e. o. reconhecimento. do. homem,. consequentemente também da mulher.. Todos os estudos apontados até este momento são direcionados aos corpos dos homens, e os corpos das mulheres acabam sendo agraciados com estes estudos e por conseqüência recebem a permissão da sua atuação na ginástica desde que recomendada cientificamente, seja por médicos ou nas escolas.. Pensando na contemporaneidade é possível nos assustarmos quando tomamos conhecimento que para atingir o objetivo central da ginásticas, a humilhação chegava a ser praticada com veemência pelos seus mestres, castigos era impostos a quem não atingisse o objetivo proposto nas atividades que geralmente eram competitivas, como descreve Soares (2002) a seguir:. “Eu faço aplaudir os vencedores de cada pelotão pelos vencidos que tenham disputado a vitória, para habituá-los a ser justos, a louvar o mérito que seus rivais podem ter e evitar o baixo e funesto sentimento da inveja. (AMOROS apud SOARES, 2002:45).. Outro apontamento que nos faz acreditar nessa idéia de educação moral exercida por meio de atividades físicas, como corrida e marcha é encontrada na seguinte fala:. “Às vezes a corrida é um recurso para nos libertarmos de idéias que nos atormentam e assim também é benéfica para a saúde da alma tanto quanto a do corpo.” (AMOROS apud SOARES, 2002:45).

(29) 29. A prática da ginástica, da marcha e da corrida já estavam estabelecidas e aceita pela sociedade européia, contudo um novo problema surgiu: quem vai ministrar as aulas das atividades físicas?. Enquanto as corridas e as marchas podiam ser praticadas por homens e mulheres, também ensinadas por quaisquer pessoas, os saltos, considerados mais complexos, pois para isso era necessário que os praticantes possuíssem uma educação intelectual mais avançada. Só assim a arte de ensinar saltar seria possível, este é um motivo para excluir a mulher da docência deste movimento.. De acordo com Soares (2002), o ato de ensinar e praticar o salto era visto moralmente assim como a corrida e a marcha, contudo pode-se dizer que até em maior comprometimento, visto que o salto era considerado uma atividade física complexa, difícil e por isso não poderia ser ensinada por mulheres, pois tratava-se de uma atividade que se tira os pés do chão, trabalhando contra a gravidade e essa atividade em mãos de leigos ou de mulheres poderia desencadear graves acidentes para quem pratica e para quem ensina.. “Saltos, corridas e marchas eram, portando, poderosos instrumentos de educação física e moral. Afirmar, progressivamente, estas ações corporais como meios de educação moral dos indivíduos era um desejo de Amoros.” (SOARES, 2002:46).. Muito mais do que um simples instrumento de educação física e moral, a marcha, a corrida e o salto são instrumentos de repressão velada do corpo humano, que ora sublimada nas atividades, ora explicitada como afirma Amoros a seguir:. ... a observação feita acerca da necessidade de circunspecção e método para a arte de saltar. A ação audaciosa possuía prescrições precisas. O perigo era medido, previsto; à distância e a altura, milimetricamente calculadas. O treino objetivava a diminuição do risco pela ampliação da capacidade de raciocinar, de usar razão em.

(30) 30 situações-limites e, ainda, de elevar a moral, manter a calma e realizar a ação na qual “saltar” era fator determinante. (SOARES, 2002:46). De acordo com a fala acima, a mulher não podia ensinar o salto já que esta se tratava de uma atividade complexa. Entendemos que embora a preocupação maior fosse com o treinamento de força, da moral, da higiene e da pureza da raça, também existiu a preocupação com a preservação da saúde dentro dos limites pertinentes a sua época, século XIX.. Outro fator curioso e que nos chamou a atenção se deve ao fator música na atividade física, se observarmos hoje em dia, a ginástica em academia é praticada ao som de altas músicas e esse aspecto também era aplicado no século XIX onde a música foi bastante defendida por Amoros.. De acordo com Soares (2002), o uso da música durante os exercícios de ginástica, contribuía para a formação do corpo humano o mais ideal possível, assim criou-se um conjunto de exercícios sem materiais e de fácil execução, podendo esses exercícios ser praticados por quaisquer pessoas que assim quisessem e de diferentes grupos sociais e instituições.. Porém percebemos que a ginástica proposta às mulheres, mesmo com auxílio da música é a mesma praticada pelos homens, pelas crianças e pelos mais velhos. O que diferencia sua prática entre cada ser é o objetivo para cada uma dessas pessoas.. Acreditando em uma ginástica científica, Amoros e demais adeptos possuem certeza que a ginástica de rua só sirva para expor o corpo ao ridículo. Houve uma negação do espetáculo artístico corporal de rua e de circo para transformar estes movimentos em atividades físicas atléticas com fundamentos científicos. Assim, com o avanço das pesquisas científicas.. Amoros se une a outros pesquisadores que também acreditam em uma ginástica.

(31) 31 própria para a melhoria do corpo humano, entre eles encontramos o sueco P.H.Ling e o alemão A. Spiess que se juntaram com os fisiologistas G. Demeny, E. Marey e os médicos P. Tissié e o professor de música J. Dalcroze. (PIMENTEL; LIBÂNEO, 1992).. De acordo com Nóbrega (2005:60) A ginástica científica como um novo código de civilidade, no século XIX, uma pedagogia do gesto e da vontade, fundada numa higienização dos movimentos da cultura da rua. O corpo reto e o porte rígido como modelos para a sociedade burguesa. A ginástica precisou da racionalidade científica para legitimar-se socialmente.. Com a popularidade da ginástica, a cultura do esbelto, da beleza física e da força física passa a ser imposta pela sociedade e adeptos da atividade física. Amoros não consegue ver outra possibilidade de objetivos da ginástica, do contrário esta começaria a ser utilizada por acrobatas, circences e atletas de rua. Amoros havia conquistado seu governo e grande parte da sociedade, não poderia agora deixar ser vencido por uma parte da sociedade que não se importava em expor seu corpo aos olhos nus de quem quisesse ver seus movimentos livres e sorridentes.. Sua ginástica respondia aquilo que todo governo desejaria para a sua sociedade, uma cidade repleta de ordem e disciplina, uma disciplina utilitária. E dentre deste contexto Amoros, de acordo com Soares (2002) concede exercícios físicos específicos às mulheres, pois acreditava que as educando e, portanto, disciplinandoas, estaria educando também seus filhos que nasceriam e cresceriam rodeados da arte de exercitar-se fisicamente e já chegariam à sociedade educada moralmente.. Contudo, a ginástica amorosiana estava prestes a passar por momentos conturbados e constantemente confundidos com a ginástica de circo já que esta também movimentava os corpos realizando uma ginástica diferente e em locais abertos sem nenhuma restrição.. Para Amoros a ginástica de circo é menos importante que a sua, pois no circo a.

(32) 32 ginástica é marcada pelo descompromisso com a rigidez e consequentemente com a moral, justificava-se essa atitude pela ginástica amorosiana estar pautada em pesquisas e as do circo não.. Confirmando esta idéia de Amoros, encontramos em Crespo (1990:273) uma ginástica dita como ideal sendo aquela que seria realizada com a seriedade científica já consagrada e em lugares restritos com técnicas e fundamentos éticos. Através de um conjunto de técnicas do corpo organizado com bases científicas e apoiado em fundamentos éticos indiscutíveis o indivíduo assumia-se como o responsável pela sua própria contenção. Ordenando as suas relações com o mundo rejeitando o espontâneo e afirmando a sua vontade. (CRESPO 1990: 273). Tanto Crespo quanto Amoros repugnavam as ginásticas de circo, pois além de considerá-las ineficientes ao conceito de ensino científico e moral, também viam o corpo exposto ao público como um corpo espetáculo7.. Outros fatores sobre as atividades físicas começam a aparecer, primeiramente a ginástica como exercício para a moral, depois a aplicabilidade desta ginástica em mulheres e agora os jogos.. Para Amoros, os jogos são momentos únicos e importantes para um bom adestramento da moral do indivíduo, é no jogo que ele se encontra livre das amarras da vida, e desarmado do ódio, da ira, da paixão, ee vira alvo fácil de controle, e para desenvolver este trabalho basta que o professor saiba conduzir a atividade, interferir quando for oportuno, passando a ter total controle da situação e não mais o aluno.. Desta forma, os jogos poderiam ser utilizados tanto para as aulas de ginástica de civis quanto para os militares, e como sempre, os jogos não poderiam ser 7. O artista de circo nascia e crescia meio no meio de movimentos corporais livres de imposições científicas mas carregada de trabalho, inclusive coletivo, com rigor, disciplina e treinos, mas livre da educação formal que exigia um aprendizado pautado em livros, a educação do indivíduo de circo sugeria ao mundo uma forma de viver e de aprender longe da sociedade “científica”..

(33) 33 confundidos com festas populares, uma vez que suas atividades eram sempre científicas, de forma que uma fosse oposta a outra, além disso só praticavam jogos os homens.. Amoros, de certo modo, desejou redesenhar os jogos, apartando-os de um universo de festa e de imagens utópicas como explicitado abaixo.. Mesmo porque, esta festa popular da Praça Pública também devia ser objeto de controle. Nela havia um gasto desmedido de energias. O controle exercido sobre a festa, contudo, não devia abolila, mas sim, desnaturalizá-la, desnutri-la, restingi-la. (SOARES, 2002:70).. De acordo com Soares (2002), a festa deveria ser enquadrada como um gasto desnecessário de energia, uma necessidade biológica sem utilidade utilitária, apenas uma recuperação do trabalho para o próprio trabalho.. 1.3 A força está com os meninos. O impacto da ginástica do século XIX no Brasil.. A ginástica tornou-se item básico e necessário ao corpo e a saúde e ao comportamento do ser humano, item esse considerado necessário para que a burguesia continuasse distante do restante da população, esta de baixa renda.. A justificativa para cuidar da saúde e do comportamento se fez necessário para que os controles dos movimentos corporais continuassem no comando da classe alta, assim fez-se acreditar que para haver crescimento e fortalecimento seriam necessários estudos e pesquisas baseadas na ciência e essa concepção de homem fortificou-se com rapidez devido à crença que existia na área médica de que a saúde da família estava nas mãos das mulheres e a nação nas mãos dos homens, o que começou a dar indícios de que a ginástica tinha tudo a ver com a saúde ou qualidade de vida, termo este utilizado somente no século XX..

(34) 34 Com a invenção da ginástica científica, outras invenções foram aparecendo com o intuito de melhorar as condições de prática dos corpos, assim além dos ginásios e da introdução das músicas nas sequências de ginástica, houve também a descoberta do dinamômetro8.. Serão efetuados 200 passos ou movimentos por minuto para chegar a executar 4000 passos em vinte minutos; isto produzirá, num cômputo de três pés por passo, quando aplicado no campo, uma légua de 1200 pés em vinte minutos que levará a executar três léguas por hora. (AMOROS, 1834:144 apud VIGARELLO, 1979:13).. Os corpos passam a ser mensurados, a ginástica além da música e de local próprio a ser praticado, mais uma herança da ginástica européia, também passa a ser baseada em números, e acredita-se que essa ginástica precisa ser segmentada, ou seja, exercitar uma parte do corpo de cada vez: braços, pernas, cabeça, tronco.. De acordo com Simon (1827:219) apud VIGARELLO (1979), deveria existir um dinamômetro em todos os internatos, assim os alunos poderiam exercitar a força dos diferentes músculos sem comprometer outras partes do corpo. E o corpo da mulher mais uma vez recebe do corpo do homem as instruções básicas e baseadas no treinamento do corpo para o homem.. A mulher precisa adaptar-se para encaixar-se nos moldes estabelecidos de ginástica. É como se o corpo da mulher se escondesse atrás do corpo do homem, parte das justificativas para uma adaptação é a necessidade do corpo da mulher futuramente poder abrigar soldados e futuras mães em seus ventres.. Com o aumento de atividades exercidas pelo homem, seu corpo começa a ficar enfraquecido e acidentes começam a acontecer, por isso instrumentos de apoio ao trabalho foram lançados e de acordo com Vigarello (1979) houve também a. 8. Apenas o dinamômetro, inventado por Régnier, no fim do século XVIII, permitia a avaliação, em quilogramas, das forças exercidas sobre esse instrumento: sua mola, inalterável e graduada, transpõe em números a potência dos músculos. (VIDARELLO, 1979:11).

(35) 35 invenção de um balanço ortopédico que deveria fazer força contrária no caso de uma má formação dos pés, dessa forma seria possível uma correção da curvatura do pé caso fosse necessário.. Este aparelho passou a fazer parte dos equipamentos escolares, que junto com os movimentos isolados das partes do corpo promovia uma melhora significativa na força muscular dos alunos e aos poucos a prática foi se difundindo entre os corpos dos meninos e posteriormente nos corpos das meninas, tal instrumento não seria necessário já que a força exercida nos seus movimentos de ginástica não poderia comprometer nenhum de seus segmentos.. No Brasil, um dos primeiros colégios a importar à ginástica foi o Colégio Pedro Segundo, onde o reitor e médico Joaquim Caetano da Silva decidiu contratar Guilherme de Taube que apresentou documentos comprovando uma vasta experiência em exército imperial.. Os ginásios ainda não existiam no Brasil, por isso a ordem era praticar a ginástica no pátio do Colégio, todos os dias, de segunda a sábado, com duração de 1 hora diária e 2 horas às quintas-feiras. De acordo com os médicos da época, a ginástica diária era benéfica aos corpos.. Cunha Junior (2003) nos revela em seu texto que esse mestre vindo da Europa para lecionar ginástica em terras de Vera Cruz (Brasil) se fez necessárias já que no Brasil não existiam pessoas capacitadas a ministrá-las, porém seu salário seria bem inferior aos demais colegas e a explicação para isso foi o fato da ginástica ser prática e inferior às cadeiras ditas teóricas, outro fatos é o não reconhecimento como professor, mas sim como mestre.. Devido a tais problemas relacionados com salário e prestígio, Guilherme de Taube deixa o colégio e como o reitor não encontra ninguém que pudesse substituílo, os alunos ficam sem aulas de ginástica até aparecer Frederico Hoppe, um exmilitar do exército espanhol que ofereceu ao reitor seus serviços para ministrar aulas.

(36) 36 de ginástica, contudo, esgrima, segundo Frederico Hoppe era muito superior e vantajoso que as aulas de ginástica.. Ainda nas reflexões de Cunha Junior (2003), Frederico Hoppe assume seu cargo de mestre de ginástica sem se contentar com seu salário, Hoppe desejava bem mais do que estava sendo oferecido pelo reitor, e como não estavam conseguindo um acordo D. Pedro II precisou intervir na discussão e estabelecer um salário fixo para os mestres de ginástica, tal qual o mestre de música e desenho.. Com a desavença entre o mestre de ginástica Frederico Hoppe e o reitor Joaquim Silva devido aos salários oferecidos, Hoppe acaba deixando o Colégio e por não existir outro mestre capacitado em ginástica o reitor prefere ficar sem ninguém ministrando essas aulas.. O cargo na docência da ginástica ficou vago após a saída de Hoppe, contudo nos três meses seguintes os meninos não tiveram aulas, uma vez que ninguém habilitado havia aparecido neste momento no exercício desta docência e as mulher não poderiam ocupar este cargo.. Hoppe volta a lecionar no colégio e para compensar o financeiro combina com o reitor a sua permanência em apenas 3 dias na semana, o que foi aceito, contudo as aulas de esgrima na escolas particulares rendia melhores salários ao mestre o que acabou levando-o a abandonar as aulas do colégio novamente.. Em 1885 criou-se um decreto que estabelecia a freqüência diária da ginástica, porém ela estava focada entre as cadeiras teóricas e com o intuito de amenizar a ociosidade presente nesse momento, o que poderia ser motivo de atitudes imorais e inadequadas. Muitos foram os mestres que passaram pelo Colégio, todavia Pedro Guilherme Meyer, alferes do exército brasileiro assumiu as lições, bem como o comando do término da construção do primeiro ginásio de ginástica construído no.

(37) 37 Brasil9, direcionando a ginástica para uma prática com caráter militar.. De acordo com Soares apud Cunha Junior (2003), Pedro Meyer aplicava no colégio as mesmas atividades desenvolvidas por Amoros, ou seja, exercícios de marcha, as corridas, os saltos, os flexionamentos de braços e pernas, os exercícios de equilíbrio, de força e de destreza, além da natação, a equitação, a esgrima, as lutas, os jogos e os exercícios em aparelhos, tais como as barras fixas e móveis, as cordas, os espaldares, o cavalo e o trapézio.. Todas as atividades, voltadas prioritariamente aos meninos, trazia um forte objetivo, a saúde, a higiene, o controle da moral, militarização e a força muscular.. “[...] a Hygiene é o suco doce de todos os fructos colhidos pelos cultivadores dos diversos e numerosos ramos das grandes árvores das ciências médica” (Armonde, 1874:IV apud Silva, 2004:103). Ainda Silva (2204), Armonde acredita que os médicos eram as únicas pessoas capacitadas a desenvolver trabalhos relacionados à saúde física e a moral e por isso que a Educação Física não ficou fora das mudanças desde século XIX. Investir na Educação Física era como autorizar que a medicina entrasse em área escolar justificando inclusive suas novas regras, já que elas não combinavam com as regras religiosas impostas nas escolas. A partir desse momento não é mais um problema de religião e sim de saúde.. Podemos observar que falamos de ginástica para meninos e às meninas era permitido apenas aprender as do lar, e isso se deve ao fato de acreditarem que as meninas eram mais frágeis que os meninos.. Nota-se que da realização dos exercícios ginásticos as meninas ficaram de fora. No caso desta diferença de educação entre os sexos, realmente não eram todas as práticas que serviam para a 9. Vimos no texto anterior que Amoros foi o responsável pela criação oficial e científica da ginástica na França, no Brasil quem fez a criação foi Pedro Meyer, inspirando-se no discípulo de Amoros, o francês Napoleon Laisné, aplicava a ginástica aos meninos brasileiros..

(38) 38 formação tanto dos meninos como das meninas. Do mesmo modo que a inserção da gymnastica restringiu-se apenas aos alunos do sexo masculino, algumas disciplinas, como prendas domésticas, eram destinadas exclusivamente ao sexo feminino. (Puchta, 2007:17-18). O que é possível notarmos neste primeiro momento de pesquisa é que a ginástica tem sido forte aliado à burguesia, em que a justificativa de tal atividade se faz por conta de um fortalecimento muscular, assim os corpos dos homens seriam mais fortes, robustos, sadios e ficariam longe da tentação. Contudo o corpo da mulher que na Europa já era alvo de mestres para que seus corpos sejam adestrados moralmente, o que não acontecia no Brasil.. No capítulo seguinte falaremos da ginástica no âmbito escolar dando uma maior ênfase na questão corpo da mulher, seus desejos e possibilidades, ou como dito no próprio capítulo, os encontros e desencontros do corpo da mulher na ginástica escolar..

(39) 39 2. CORPO-MULHER NO ESPAÇO CORPO-MASCULINO. “...Não pretendemos formar acrobatas nem Hércules, mas desenvolver na criança o quantum de vigor físico essencial ao equilíbrio da vida humana, à felicidade da alma, à preservação da Pátria e à dignidade da espécie...” Rui Barbosa. 2.1 A GINÁSTICA E A ESCOLA: POSSIBILIDADES DE ENCANTOS E DESENCANTOS.. A introdução da ginástica nas escolas no Brasil se deu por conta dos trabalhos realizados por Rui Barbosa, um político idealista, que acredita na prática da ginástica no âmbito escolar, como um elemento educativo e disciplinador, não só no âmbito da saúde, por meio da higiene, quanto pela moral surgiu então à necessidade de se estabelecer decretos que obrigam as escolas manter mestres de ginásticas entre suas aulas teóricas.. Vale ressaltar que o movimentar dos corpos não era bem visto, já que a escola era de cunho intelectual e fazer ginástica transpirava, desalinhava os alunos além de cansá-los. Causá-los eram motivos que fez com que muitas famílias brigassem para a não realização dessa tarefa, na verdade queriam proteger seus filhos da conseqüência da ginástica. (COSTA, 1988).. Em um dos decretos de Rui Barbosa sobre a utilização da ginástica na escola, utiliza-se do exemplo de Adolph Spiess (1810 – 1858) que influenciado por Pestalozzi foi conhecer a ginástica de Guths Muths, adepto a essa idéia vai para a Suíça onde consegue organizar um sistema de ginástica escola, conseguiu também levar este feitio para a Alemanha, contudo suas idéias foram rejeitadas.. De acordo com Marinho (1975), Rui Barbosa teve uma grande influência no Brasil que preocupado com a nação brasileira passa a estudar e pesquisar assuntos diversos inclusive a ginástica no mundo o que fez com que tais anotações, algumas.

(40) 40 citadas neste texto, fizessem a diferença na prática escolar e virassem decretos no país, entre eles a prática da ginástica por mulheres, até então não aceito no Brasil, mas já praticado na Europa.. Para Rui Barbosa os manuais publicados na Prússia nos anos de 1862, 1868 e 1895 são fundamentais para montar os pareceres brasileiros. Com isso a Educação Física, ou como era conhecida, a ginástica no Brasil passa a ser moldada e transformada em decretos de acordo com os modelos desenvolvidos também na Alemanha.. Em 1825 na Áustria e Tchecoslováquia, foi publicado um tratado de ginástica, que de acordo com Marinho (1975) foi plágio de Guths Muts cuja cópia da publicação tinha a intenção de adequar a ginástica à realidade local. Após o ano de 1848 surge a “Associação Acadêmica de Ginástica” e com ela vários adeptos da ginástica como médicos que as transformaram em programas de “ginástica ortopédica”, ou seja, uma adequação já existente em tratamentos e correções ortopédicas.. A obrigatoriedade da ginástica aconteceu em 1869 e em 1870 apareceu à primeira Universidade em Viena com um curso de formação dos alunos de ginástica. Contudo, a influência pangermanista ajudou Praga a obter sua primeira associação de ginástica sob influência de Darwin, o então presidente da associação.. A idéia da prática da ginástica como um elemento que criasse força, pureza e limpeza foi se alastrando pela Europa e por conseqüência futura também no Brasil. Assim, surge um discurso oriundo do pensamento médico higienista cuja raiz vem do positivismo e chega à escola em nome da saúde. (GOELLNER, 1992:9).. O pesquisador Henri Fuergmer passou a acreditar em Miroslay Trys que dizia que só existiriam povos fortes se vencessem as lutas pela vida e para isso seus corpos precisariam de estímulos, o que encontrado na ginástica cuja população tcheca irá encontrar a estrutura mínima e necessária para ser um indivíduo considerado heróis. Assim, ao acreditar nesta hipótese, Trys juntou-se com o médico Dr. Musil e criaram.

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