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Conflitos interparentais e bem-estar psicológico em jovens de famílias intactas e divorciadas: desenvolvimento de relações amorosas e psicopatologia

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Academic year: 2021

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DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA

Conflitos interparentais e bem-estar psicológico em jovens de famílias

intactas e divorciadas: desenvolvimento de relações amorosas e

psicopatologia

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Olga Lídia de Sousa Soares de Melo Catarina Pinheiro Mota

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA

Conflitos interparentais e bem-estar psicológico em jovens de famílias

intactas e divorciadas: desenvolvimento de relações amorosas e

psicopatologia

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Composição do Júri:

Professora Doutora Paula Mena Matos Professor Doutor Francisco Cardoso Professora Doutora Catarina Pinheiro Mota

Vila Real, 2012

Olga Lídia de Sousa Soares de Melo

Dissertação sob orientação da Professora Doutora Catarina Pinheiro Mota

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Agradecimentos

Este trabalho representa não somente o alcançar de um objetivo académico mas, e tão mais, um trabalho de crescimento interior que teve início no dia em que optei pelo caminho menos percorrido. Ainda que se tenha tratado de um projeto individual, o mesmo apenas foi passível de concretizar com a colaboração e apoio daqueles que sempre fizeram parte da minha vida, acrescido de outros, igualmente importantes, que comigo se cruzaram ao longo desta caminhada, cujo contributo foi determinante para que este trabalho fosse possível.

Como tal, não posso deixar de expressar os meus mais profundos, sinceros e imperecíveis agradecimentos a todos aqueles que, direta ou indiretamente, colaboraram comigo, me ensinaram a fazer mais e melhor e me apoiaram nos momentos em que a fragilidade e cansaço quiseram vencer.

Ressalto particularmente a minha gratidão à Professora Doutora Catarina Pinheiro Mota, a quem tanto prezo, por quem tive o privilégio de ser orientada e que me providenciou uma orientação exímia. Pelo exemplo, prontidão, disponibilidade e rigor, bem como pela partilha dos melhores e mais sábios conhecimentos, ao longo de todo o trabalho. Porque sempre estimulou em nós a entrega, gosto, empenho e rigor científico em fazer mais e sempre melhor.

À Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, enquanto instituição, pela oportunidade de realizar este trabalho, e ao corpo docente do curso de psicologia pelo legado de conhecimentos.

A todas as instituições que se disponibilizaram para a recolha de dados, bem como a todos os adolescentes e jovens que fazem parte da amostra desta investigação.

À Dra. Helena Vieira e Dra. Susana Dias Silva que ao longo deste ano tantas vezes me apoiaram e alentaram nos momentos de maior vulnerabilidade, e me encorajaram a acreditar e desenvolver uma maior confiança em mim e no meu trabalho.

Às minhas colegas, companheiras e amigas Martina Silva, Filipa Mourão, Marta Ferreira e Inês Varejão pelo forte laço estabelecido entre nós e pelos momentos ímpares e inesquecíveis de desmedida partilha de afetos e aventuras que, por vezes,

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me fizeram mergulhar novamente na frescura e jovialidade da adolescência e jovem adultícia. Juntas, conseguimos chegar mais longe!

À Raquel pela oportunidade de nos conhecermos melhor ao longo deste ano, pelo apoio, compreensão e partilha de conhecimentos, pelas horas de trabalho em conjunto.

Às minhas amigas desde sempre e para sempre “manas do coração” Carina e Cláudia por terem respeitado a minha prolongada ausência. Porque nos momentos mais difíceis que já passamos tivemos a capacidade de nos respeitar, com todas as semelhanças e diferenças. Porque sempre nos constituímos enquanto “portos seguros”.

À minha tia Alice, primas Diva e Ana Cláudia, e ao Jorge Gomes que nem a distância os impossibilitou de me acompanharem e motivarem nesta caminhada.

Ao meu irmão e aos meus sobrinhos Rodrigo, Lara e Duarte pelos rasgados sorrisos que, deliberada e naturalmente, me ofereceram e pelas brincadeiras que tantas vezes me deram força e motivação para continuar.

Aos meus queridos pais pelo modelo exemplar que sempre foram, pela abertura e partilha de inúmeras experiências e porque, mais do que nos privar dos conflitos interparentais, sempre mostraram e ajudaram a desenvolver, em mim e no meu irmão, a capacidade de através do bom senso e diálogo resolver conflitos dentro das nossas famílias. Pela riqueza dos valores que me transmitiram, basilares neste processo contínuo de formação enquanto PESSOA.

À minha filha Inês pela doçura, carinho e afetos partilhados, porque muitas vezes me inspirou com a sua genuína e espontânea força, determinação e perseverança. Porque é o meu MAIOR orgulho.

Ao Luís Carlos, companheiro de uma vida, pelo amor e amizade, porque foi o meu principal pilar e o apoio mais possante ao longo destes anos. Porque contínua a completar a parte que falta em mim e sempre amparou as minhas “quedas”. Porque o admiro muito e jamais conseguirei retribuir-lhe tudo o que tem feito por mim.

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“Estamos assim, queridos pais, chegados a um impasse. Não queremos ser pais como

os nossos pais foram e ainda não descobrimos que espécie de pais queremos ser.

Temos pois de inventar novos pais. Temos que ir buscar ao sótão da nossa infância

alguns episódios que nos marcaram, poderemos ir recordar a nostalgia dos amores

perdidos, ou poderemos simplesmente renascer. O certo é que não podemos

continuar como até aqui. O aqui significa continuar a alimentar filhos do silêncio, com a

culpabilidade de quem não tenta tudo fazer para mudar. O aqui significa também

deixar que os filhos nos ditem o caminho, ou decidirmos a vida por eles. Ou quer dizer

ainda não fazer nada e deixar que os nossos descendentes cresçam como a erva.”

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Resumo

De acordo com a teoria da vinculação de Bowlby e Ainsworth, a dinâmica da qualidade dos laços afetivos que os filhos estabelecem com os pais são relevantes tanto para o seu desenvolvimento físico como emocional, assim como um fator protetor face a situações de risco, ao mesmo tempo que potencia o desenvolvimento de bases seguras capazes de facilitar a qualidade das ligações amorosas.

Ao longo do seu desenvolvimento os adolescentes e jovens adultos podem confrontar-se com vivências intrafamiliares caracterizadas por conflitos interparentais seja num contexto de divórcio ou de famílias intactas. Sabe-se que uma vivência de vinculação pautada pela insegurança pode ser significativa nas relações que os jovens estabelecem nas suas próprias relações fora do contexto familiar (como é a relação romântica), pelo que o bem-estar psicológico pode ser comprometido ocasionando no seu extremo o desenvolvimento de psicopatologia. Assim, numa amostra de 827 adolescentes e jovens adultos com idades compreendidas entre os 13 e os 25 anos, o presente estudo teve como principal objetivo analisar em que medida os conflitos interparentais e o bem-estar psicológico podem predizer o desenvolvimento da qualidade de relações amorosas e desenvolvimento de psicopatologia em jovens provenientes de famílias intactas e divorciadas.

Para tal, foram utilizados instrumentos de autorrelato, Children’s Perception of Interparental Conflict Scale, Échelle de Mesure des Manifestations du Bien-Être Psychologique, Questionário de Vinculação Amorosa, o Inventário de Sintomas Psicopatológicos e um questionário sociodemográfico.

Os resultados foram discutidos de acordo com as vicissitudes inerentes às transições familiares, no sentido de perceber o seu contributo no bem-estar psicológico, desenvolvimento da qualidade das relações amorosas e psicopatologia. Neste sentido, verificou-se que a qualidade da vinculação amorosa é predita negativamente pelos conflitos interparentais e positivamente pelo bem-estar psicológico. Indivíduos que percecionam frequentes conflitos interparentais denotam maior dependência face ao parceiro amoroso, enquanto indivíduos que manifestem bem-estar psicológico, expresso por níveis elevados de felicidade, ressaltam o desenvolvimento de relações amorosas saudáveis, pautadas pela confiança. Constatou-se que os conflitos interparentais, particularmente caracterizados pela intensidade, predizem positivamente o desenvolvimento de sintomatologia psicopatológica, nomeadamente somatização, sensibilidade interpessoal, depressão, ansiedade, hostilidade, ideação paranóide, psicoticismo e ansiedade fóbica. Por sua vez o bem-estar psicológico, enfatizado pela dimensão felicidade, prediz de forma negativa o desenvolvimento de psicopatologia, designadamente somatização,

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obsessões-compulsões, sensibilidade interpessoal, depressão, ansiedade, hostilidade, ideação paranóide, psicoticismo e ansiedade fóbica. Verificou-se que os conflitos interparentais são melhores preditores de psicopatologia, do que a configuração familiar. Deste modo, independentemente da configuração familiar, os conflitos interparentais não resolvidos podem resultar em consideráveis danos ao nível da saúde e equilíbrio dos filhos.

Palavras-Chave: Conflitos interparentais, divórcio, bem-estar psicológico, qualidade da vinculação amorosa, psicopatologia

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Abstract

According to attachment theory of Bowlby and Ainsworth, the dynamic quality of the emotional bonds that children have with their parents are relevant to both their physical and emotional, as well as a protective factor against risky situations, the same time which encourages the development of secure bases can facilitate the quality of romantic relationships. Throughout his development teens and young adults may be faced with experiences within the family is characterized by interparental conflicts in the context of divorce or intact families. It is known that an experience guided by insecure attachment may be significant in the relationships that young people establish in their own relationships outside of the family context (as is the romantic relationship), so the psychological well-being may be compromised resulting in its extreme the development of psychopathology. Thus, a sample of 827 adolescents and young adults aged between 13 and 25 years, the present study aimed to examine the extent to which interparental conflict and psychological well-being can predict the development of the quality of romantic relationships and development of psychopathology in young people from divorced and intact families. To this end, we used self-report instruments, Children's Perception of Interparental Conflict Scale, Échelle de Mesure du Bien-Etre Manifestations Psychologique, Roamntic Attachment Questionnaire, the Brief Symptom Inventory and a sociodemographic questionnaire. The results were discussed according to the changes inherent in family transitions, in order to realize their contribution in psychological well-being, quality development of romantic relationships and psychopathology. In this sense it was found that the quality of romantic attachment is negatively predicted by interparental conflict, and positively by psychological well-being. Individuals who perceive frequent interparental conflicts show greater dependence on romantic partner, while individuals who manifest psychological well-being, express of happiness high levels, emphasize the development of healthy romantic relationships, guided by trust. It was found that interparental conflicts, particularly characterized by intensity, positively predict the development of psychopathological symptoms, including somatization, interpersonal sensitivity, depression, anxiety, hostility, paranoid ideation, psychoticism and phobic anxiety. In turn, the psychological well-being, emphasized by happiness, predicts negatively the development of psychopathology, particularly somatization, obsession-compulsion, interpersonal sensitivity, depression, anxiety, hostility, paranoid ideation, psychoticism and phobic anxiety. It was found that interparental conflicts are better predictors of psychopathology than the family configuration. Thus, regardless of family configuration, interparental conflicts unresolved may result in considerable damage to the level of health and balance of the children.

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Keywords: Interparental conflicts, divorce, psychological well-being, quality of loving attachment, psychopathology

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Índice

Introdução ... 1

Capítulo I – Vinculação na Infância e adolescência ... 1

1. Qualidade das relações primordiais no desenvolvimento dos jovens ... 1

2. Relações românticas na adolescência ... 6

Capítulo II - Qualidade da relação conjugal e o desenvolvimento dos jovens ... 10

1. Papel dos conflitos interparentais e bem-estar psicológico – implicações na qualidade da relação amorosa e psicopatologia ... 10

Capítulo III – Transições familiares no processo desenvolvimental dos adolescentes e jovens adultos ... 16

1. O divórcio parental ... 16

Capítulo IV – Estudo Empírico ... 21

1. Estudo empírico ... 21 1.1 Objetivo Geral ... 21 1.2 Objetivos específicos ... 21 1.3 Hipóteses ... 22 Metodologia... 23 2.1 Desenho da Investigação ... 23 2.2 Caracterização da amostra ... 23

2.2.1 Caracterização da amostra geral... 23

2.2.2 Caracterização da amostra de indivíduos provenientes de famílias separadas ou divorciadas ... 25

2.3 Análises comparativas das variáveis sociodemográficas em função das diferentes configurações familiares ... 29

2.4 Instrumentos ... 30

2.4.1 Children’s Perception of Interparental Conflict Scale ... 32

2.4.2 Escala de Bem-estar Psicológico ... 33

2.4.3 Questionário de Vinculação Amorosa ... 35

2.4.4 Inventário de Sintomas Psicopatológicos ... 38

2.5 Questionário sócio-demográfico ... 41

2.6 Procedimentos ... 42

Capítulo V – Resultados e Discussão ... 44

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1. Associações entre conflito interparental, bem-estar psicológico, qualidade

da vinculação ao par amoroso e psicopatologia ... 45

1.1 Associações entre as dimensões do bem-estar psicológico, qualidade da vinculação ao par amoroso e psicopatologia... 48

1.2 Associações entre a qualidade da vinculação amorosa e psicopatologia ... 50

1.3 Associações entre conflitos interparentais e desenvolvimento de psicopatologia em filhos de famílias intactas e famílias divorciadas ... 52

2. Análises diferenciais entre as variáveis bem-estar psicológico, conflitos interparentais, qualidade da vinculação amorosa e psicopatologia em função das variáveis idade, género e configuração familiar ... 53

2.1 Análises diferenciais entre as variáveis bem-estar psicológico, conflitos interparentais, qualidade da vinculação amorosa e psicopatologia em função da variável idade... 53

2.2 Análises diferenciais entre as variáveis bem-estar psicológico, conflitos interparentais, qualidade da vinculação amorosa e psicopatologia em função da variável configuração familiar e género ... 59

3. Análises diferenciais nos protótipos de vinculação em função das variáveis idade, género, configuração familiar, bem-estar psicológico, conflitos interparentais e psicopatologia ... 64

3.1 Análises diferenciais nos protótipos de vinculação em função das variáveis idade, género, configuração familiar ... 65

3.2 Análises diferenciais dos protótipos de vinculação em função das variáveis bem-estar psicológico, conflitos interparentais e psicopatologia ... 66

4. Predição do bem-estar psicológico, qualidade da vinculação amorosa e psicopatologia ... 72

4.1 Predição do bem-estar psicológico em função das variáveis género, configuração familiar, conflitos interparentais e qualidade da vinculação amorosa ... 72

4.2 Predição da qualidade da vinculação amorosa em função das variáveis género, configuração familiar, conflitos interparentais e bem-estar psicológico ... 76

4.3 Predição do desenvolvimento de psicopatologia em função das variáveis género, configuração familiar, conflitos interparentais, bem-estar psicológico e qualidade da vinculação amorosa ... 80

5. Papel moderador da configuração familiar na associação entre os conflitos interparentais e o desenvolvimento de psicopatologia ... 90

Discussão ... 91

1. Associações intra-dimensões e inter-dimensões dos conflitos interparentais, bem-estar psicológico, qualidade da vinculação amorosa e psicopatologia ... 92

1.1 Associações entre dimensões dos conflitos interparentais ... 92

1.2 Associações entre dimensões do bem-estar psicológico... 92

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1.4 Associações entre as dimensões de sintomatologia psicopatológica ... 93

1.5 Associações entre conflitos interparentais e bem-estar psicológico ... 94

1.6 Associações entre conflitos interparentais, psicopatologia e qualidade da vinculação amorosa ... 97

1.7 Associações entre o bem-estar psicológico, qualidade da vinculação amorosa e psicopatologia ... 99

1.8 Associações entre a qualidade da vinculação amorosa e psicopatologia ... 100

1.9 Associações entre conflitos interparentais e desenvolvimento de psicopatologia em filhos provenientes de famílias intactas e separadas ou divorciadas ... 101

2. Diferenças no bem-estar psicológico, conflitos interparentais, qualidade da vinculação amorosa e psicopatologia em função das variáveis idade, género e configuração familiar ... 104

3. Diferenças nos protótipos de vinculação em função das varáveis idade, género e configuração familiar, bem-estar psicológico, conflitos interparentais e psicopatologia ... 109

4. Análises de predição do bem-estar psicológico, qualidade da vinculação amorosa e desenvolvimento de psicopatologia ... 113

4.1 Predição do bem-estar psicológico em função das variáveis género, configuração familiar, conflitos interparentais e qualidade da vinculação amorosa ... 113

4.2 Predição da qualidade da vinculação amorosa em função das variáveis género, configuração familiar, conflitos interparentais e bem-estar psicológico. ... 119

4.3 Predição do desenvolvimento de psicopatologia em função das variáveis género, configuração familiar, conflitos interparentais, bem-estar psicológico e qualidade da vinculação amorosa ... 120

5. Papel moderador da configuração familiar na associação entre os conflitos interparentais e o desenvolvimento de psicopatologia ... 125

CONCLUSÃO ... 127

BIBLIOGRAFIA ... 132

ÍNDICE DE FIGURAS E TABELAS ... 146

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PARTE I

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Introdução

Sob o ponto de vista ecológico, a compreensão daquilo que somos enquanto seres humanos e a forma como nos comportamos permite-nos perceber que, o contexto em que crescemos, e a qualidade das ligações que se vão estabelecendo ao longo do ciclo vital, exercem um papel importante no nosso desenvolvimento (Ramalho, 2008). Uma visão mais holística permite perceber o desenvolvimento do indivíduo como o resultado de um conjunto de interações, que resultam de influências genéticas e ambientais (Steinberg & Morris, 2001).

A família é o contexto social primordial para a adaptação do indivíduo no início do processo desenvolvimental e, por sua vez, é também, aquele que exerce maior influência no seu desenvolvimento biopsicossocial (Orellana, Vallejo, & Vallejo, 2004).

Apesar de todas as transformações que tem atravessado nos últimos anos, a família continua a desempenhar um papel significativo, reconhecido e valorizado socialmente pelas funções de segurança e bem-estar que exerce no processo desenvolvimental dos membros que a compõe. As experiências vivenciadas no seio familiar, pelo contacto com diferentes emoções como o afeto, dor, medo, entre outras, proporcionam ao indivíduo o desenvolvimento de um conjunto de competências, que o auxiliam ao longo do seu processo desenvolvimental (Pratta & Santos, 2007).

As modificações e alterações que a sociedade, e particularmente a família, têm vindo a sofrer requerem um conjunto de reorganizações ao nível das vivências, perceções e cognições das configurações sócioafectivas e planos de vida dos adolescentes. Assim, sabendo que a família e as figuras significativas de afeto inerentes exercem um papel inquestionável no seu desenvolvimento afetivo, pressupõe-se que exista um efeito significativo no funcionamento e organização social, podendo predizer o desenvolvimento de problemas psicológicos nos jovens contemporâneos (Idem).

Capítulo I – Vinculação na infância e adolescência

1. Qualidade das relações primordiais no desenvolvimento dos jovens Segundo a teoria da vinculação preconizada por Bowlby (1969, 1973,1980,1988) e Ainsworth (1989) a qualidade das relações primordiais, que o indivíduo estabelece desde cedo com as figuras parentais, cuidadores ou outros significativos, são relevantes tanto para o seu desenvolvimento físico, como para o seu desenvolvimento emocional. De um modo geral, os indivíduos percecionam as figuras

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primordiais como figuras afetivas que lhes transmitem segurança, proteção e confiança para a exploração de si, dos outros e do meio.

Bowlby (1969) caracteriza, assim, a vinculação como a capacidade inerente ao ser humano para criar e estabelecer laços afetivos de grande intensidade, principalmente com os mais próximos, que permitem o desenvolvimento, crescimento e maturidade emocional do indivíduo, capacitando-o para a exploração do mundo. As primeiras relações de vinculação que o indivíduo estabelece são relações emocionais, que podem funcionar como modelos de referência no estabelecimento futuro de outras relações, nomeadamente de cariz mais íntimo, ao longo de todo o processo de desenvolvimento.

Assim, de acordo com Bowlby (1973), destacam-se duas formas diferentes de vinculação que podem predizer a qualidade das relações que o indivíduo vai estabelecendo ao longo do ciclo vital. Deste modo, Bowlby caracterizou de vinculação segura as relações de proximidade emocional que o sujeito estabeleceu com as figuras primordiais significativas, que lhe permitiram construir representações positivas de si, enquanto merecedor de amor e atenção, e a avaliação que fez dos outros baseadas na confiança e segurança que essas figuras lhe proporcionaram. Pelo contrário, a vinculação insegura refere-se a relações de desconfiança e imprevisibilidade pautadas pela carência de afetos, falta de valor e ambivalência que o indivíduo estabeleceu com as figuras primordiais, e com base nelas criou uma ideia de si e dos outros.

Assim, indivíduos que percecionam os cuidadores como bases seguras, em quem podem confiar e recorrer em momentos de stresse, desenvolvem um modelo do outro como sendo, também, seguro e de confiança (Bowlby, 1973).

De acordo com Ainsworth (1967) as bases seguras referem-se a figuras incondicionais de procura de suporte afetivo, com resolução afetiva, cujo apoio emocional e segurança são efetivos e ausentes de labilidade e substituição.

As relações que o indivíduo vai estabelecendo, ao longo do seu desenvolvimento, com as figuras significativas desencadeiam uma organização interna levando ao desenvolvimento de modelos internos dinâmicos. Estes funcionam como mapas cognitivos que o indivíduo vai elaborando acerca de si e do seu comportamento, bem como daqueles que estão à sua volta (Bowlby, 1988).

Neste sentido, ao longo processo desenvolvimental, os modelos internos dinâmicos funcionam como esquemas afetivos, cuja ativação influencia, inconscientemente, as escolhas pessoais dos indivíduos, nomeadamente no período da adolescência, face à escolha dos pares e parceiro amoroso (Holmes, 1993).

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Os modelos internos dinâmicos permitem que o indivíduo desenvolva a capacidade de se transformar e adaptar face às mudanças e contextos que vão ocorrendo no processo desenvolvimental. A capacidade de adaptação e transformação compreende a gestão de sentimentos, desenvolvimento de crenças, criação de expectativas, desenvolvimento de estratégias comportamentais, direcionamento da atenção, interpretação da informação e organização da memória (Bowlby, 1988).

Simultaneamente, a par dos modelos internos dinâmicos, o indivíduo vai construindo, ao longo do seu desenvolvimento, um modelo de si, enquanto merecedor ou não de amor, e um modelo do outro enquanto mais ou menos capaz e disponível na prestação dos cuidados que o indivíduo necessita (Bowlby, 1988).

Os modelos internos dinâmicos desenvolvem-se desde muito cedo, e dada a sua flexibilidade, proporcionam a adaptação do indivíduo aos diferentes eventos e circunstâncias com os quais se vai confrontando, permitindo a reorganização dos mesmos ao longo de períodos como a infância e especialmente na adolescência, sendo esta caracterizada por uma grande plasticidade e rapidez no desenvolvimento (Bowlby, 1973).

A importância dos modelos internos dinâmicos criados na infância, a par do estabelecimento de relações de vinculação com os pais ou cuidadores, estende-se por todo o percurso de desenvolvimento, com particular destaque na adolescência, capacitando o jovem a interiorizar e desenvolver novos modelos. Além disso, em jovens que desenvolvem vinculações inseguras na infância, as relações que se estabelecem na adolescência permitem a reavaliação e o desenvolvimento de novos modelos internos dinâmicos permitindo-lhes assim uma reorganização interna (Goldberg, 2000).

De acordo com Ayoub, Fischer e O’Connor (2003) ao longo do seu desenvolvimento jovens com vivências pautadas por uma vinculação desorganizada, como resultado da exposição permanente a um ambiente familiar conflituoso, podem ir progressivamente modificando os seus modelos internos dinâmicos, quando confrontados com vivências positivas, permitindo-lhes deste modo uma construção evolutiva e positiva na sua adaptação e crescimento pessoal.

Na sequência dos estudos de Bowlby e Ainsworth, Bartholomew desenvolveu o modelo bidimensional (Bartholomew, 1990; Bartholomew & Horowitz, 1991). A autora descreveu as possíveis representações, positivas ou negativas, que o jovem pode desenvolver acerca de si e dos outros com base no tipo de vinculação que estabeleceu na infância com as figuras primordiais, criando quatro protótipos padrões de vinculação. Como tal, os protótipos não são estanques para cada indivíduo, pelo

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que vai havendo reorganização, e mesmo para diferentes domínios da vida eles podem variar (Bartholomew, 1990; Bartholomew & Horowitz, 1991).

O protótipo seguro refere-se aos indivíduos que desenvolvem representações positivas de si e dos outros, permitindo-lhes confiar e envolverem-se não apenas com os que lhe são mais próximos, como desenvolver laços afetivos com os outros. Percecionam os eventos presentes e passados como situações que fomentam a aprendizagem e o conhecimento, procuram apoio nos outros em momentos de stresse, são sociáveis e estabelecem relações caracterizadas pelo envolvimento e intimidade. O protótipo preocupado diz respeito aos indivíduos que desenvolvem representações negativas de si e positivas dos outros. As suas relações são caracterizadas por uma excessiva procura de proximidade, elevada necessidade de atenção, falta de autoestima e autoconfiança, as separações geram uma ansiedade excessiva, precisam dos outros para resolverem os seus problemas e percecionam a vida amorosa como um aspeto nuclear nas suas vidas, embora adotando comportamentos extremos na relação. O protótipo desinvestido manifesta uma representação positiva de si, contudo negativa do outro. Não valoriza as relações pessoais, transparece uma aparente alexitimia nos comportamentos, manifesta pouco envolvimento e proximidade emocional nas suas relações, avalia os outros como tendo uma imagem negativa de si, apresenta uma moderada a elevada autoconfiança, não procura proximidade nem reage à separação, para resolver os seus problemas usa como estratégia o evitamento e a resistência. Por fim, o protótipo amedrontado caracteriza os indivíduos que desenvolvem representações negativas de si e dos outros. São indivíduos inseguros e vulneráveis, denotam vontade de proximidade, embora evitem as relações mais próximas com medo da rejeição, estabelecem relações de intimidade por iniciativa do outro, no entanto com o passar do tempo tornam-se dependentes na relação. Na tentativa de resolverem os seus problemas, estes indivíduos não procuram ajuda nos outros e permanecem à volta do problema (Bartholomew, 1990; Bartholomew & Horowitz, 1991).

Assim, parece que o indivíduo constrói e desenvolve quer a sua identidade, como a dos outros, como uma representação da imagem que as figuras primordiais lhes transmitiram acerca de si e do ambiente, repercutindo-se no seu modo de funcionamento e bem-estar psicológico. Neste sentido, Mota e Matos (2011) referem que a autoestima do jovem adolescente se encontra intimamente relacionada com a prestação de cuidados e modelos que as figuras parentais lhes fornecem ao longo do seu processo desenvolvimental, e lhes permite a capacidade de se conhecerem e explorarem a si mesmos e ao meio que os rodeia.

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O estudo de Parker e Benson (2004), com uma amostra de 16.749 adolescentes, sugere que a perceção que os filhos têm relativamente aos comportamentos dos pais pode refletir-se no comportamento do adolescente, uma vez que os adolescentes que percecionam os pais como uma base segura estão menos sujeitos a enveredar por comportamentos delinquentes, manifestam menos condutas inapropriadas na escola e consomem menos álcool e outras substâncias.

Este estudo vai ao encontro da teoria da vinculação de Bowlby, pelo facto de os resultados obtidos evidenciarem que os adolescentes que percecionam os pais como uma base segura, desenvolvem esquemas coerentes que os capacitam para uma melhor e mais cautelosa exploração do ambiente e os afasta de problemas e perigos (Parker & Bensonn, 2004).

Assim, as relações de vinculação caracterizam-se pela singularidade e exclusividade, permitindo e desenvolvendo no indivíduo a procura de conforto e apoio, condições que contribuem para um bom desenvolvimento e funcionamento psicológico. Quando as relações primordiais dos laços afetivos são pautadas pela desagregação ou rutura, podem levar ao desenvolvimento de perturbações psicológicas (Bowlby, 1969).

Neste sentido, os estudos de Bowlby permitiram perceber a importante influência da dinâmica familiar nos primeiros anos de vida, como uma mais-valia para o desenvolvimento dos indivíduos, bem como no que se refere aos prejuízos emocionais que as vivencias, alterações e separações familiares poderiam provocar no mesmo (Bowlby, 1969).

A probabilidade de os jovens enveredarem por comportamentos de risco encontra-se associada à qualidade das relações estabelecidas entre pais e filhos. O desenvolvimento de relações positivas e de grande estabilidade, caracterizadas pelo afeto positivo, onde se vive um ambiente familiar agradável e os pais são percecionados como uma fonte de apoio, e servem de exemplo dos valores e normas que o jovem deve seguir, podem resultar em benefícios para ambos, pais e filhos (Michael & Ben-Zu, 2007).

O estudo realizado por Michael e Ben-Zu (2007) com jovens entre os 16 e os 18 anos de idade verificou que níveis baixos de sintomatologia depressiva e agressividade têm forte relação com o desenvolvimento de relação positivas entre pais e filhos. Por outro lado, a ausência de relações seguras, pautadas pela insegurança pode levar as crianças e jovens a denotar ansiedade com base em experiências mais frustrantes traduzidas pela insensibilidade, rejeição ou desvalorização acerca de si e dos outros (Soares, 1996).

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O estudo de Monteiro, Tavares e Pereira (2007), com uma amostra de 316 jovens com uma média de idades de 18,77 anos, revela que o evitamento relativamente às figuras parentais, ou outros significativos, pode predizer níveis reduzidos de bem-estar psicológico, bem como apresentar-se como um fator de risco para o desenvolvimento de psicopatologia.

Deste modo, sendo a família o primeiro contexto desenvolvimental, deve assegurar e proporcionar uma fonte de segurança para os filhos, uma vez que a própria qualidade da relação entre os progenitores pode servir de modelo e predizer o comportamento futuro dos filhos (Castillo, 2007).

2. Relações românticas na adolescência

Segundo Ainsworth (1989), a adolescência é caracterizada pelas alterações e mudanças hormonais que levam o adolescente a procurar e desenvolver relações especiais, de grande proximidade, intensidade e intimidade com os pares. Frequentemente, na base dessas novas relações estão envolvidos e reproduzidos os padrões de vinculação que se estabeleceram na infância com as figuras parentais ou outros cuidadores.

As relações que o indivíduo vai estabelecendo ao longo do seu desenvolvimento com os pais, pares e parceiros românticos, satisfazem funções e necessidades diferentes, embora se sobreponham e complementem entre si (Beato, 2008).

A adolescência é um período de profundas transformações físicas, cognitivas e afetivas, e ainda que a vinculação aos pais continue a desempenhar um papel importante nesta fase, os jovens tendem a distanciar-se das figuras de vinculação primordiais e estabelecem novos laços com os pares e figuras amorosas. Deste modo, os jovens procuram outras figuras significativas, sendo estas um importante fator de crescimento pessoal face à identificação, similitude e partilha das mesmas vivências. Todavia, os pares e as relações amorosas, nesta fase, não assumem um cariz de vinculação, na mesma ordem dos pais enquanto bases seguras, são contudo considerados portos seguros enquanto promotores de apoio e conforto, ainda que detenham maior labilidade e resolução não efetiva das necessidades de ajuda

(Bowlby, 1958). Porém, posteriormente, estas figuras podem ser percecionadas como bases seguras, marcadas pela eventual constância e maior intensidade na continuidade das relações.

As relações estabelecidas na adolescência caracterizam-se pela forte intensidade, partilha de interesses e possantes afetos, experiências únicas partilhadas que compreendem a intimidade física e psicológica, onde as experiências anteriores

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de vinculação, organização do pensamento e emoções, são significativas na natureza das novas relações estabelecidas. Assim, aqueles indivíduos que percecionaram confiança e apoio nas figuras primordiais de vinculação propendem a desenvolver personalidades mais estáveis e confiantes para enfrentar o futuro, bem como face ao estabelecimento e qualidade das novas relações (Atger, 2004).

Um estudo realizado por Zimmermann (2004) com uma amostra de 43 adolescentes revela que existem evidências de que os padrões de vinculação, que se estabelecem durante os primeiros anos de vida, são preditores dos comportamentos e da qualidade das relações de grande proximidade que se estabelecem na adolescência. Neste estudo, verificou-se uma forte associação entre o padrão seguro de vinculação e a qualidade e valorização do desenvolvimento de relações de grande proximidade com os pares. Contrariamente, jovens com padrões de vinculação insegura tendem a mostrar-se mais resistentes, defensivos ou retractivos face ao estabelecimento de relações de grande proximidade.

Fraley (2002) desenvolveu um estudo de meta-analise com o objetivo de averiguar a estabilidade da vinculação desde a infância à adultícia, onde verificou que o desenvolvimento de bases seguras constitui um preditor da confiança estabelecida no contexto das relações românticas.

O desenvolvimento de bases seguras estabelecidas com as figuras primordiais, são preditoras do desenvolvimento saudável de relações românticas na vida adulta. A qualidade dessas relações é enfatizada nos momentos em que o casal experiencia situações de distress ou conflito, onde as partes envolvidas demostram uma boa regulação e resolução dos conflitos levando à continuidade e sucesso da relação (Waters & Cummings, 2000).

Os resultados do estudo de Sousa (2010), cujo objetivo era averiguar a importância da vinculação aos pais relativamente aos benefícios e riscos para a iniciação ou manutenção de relações românticas, e transferência das funções de vinculação dos pais para os pares e parceiro amoroso, numa amostra de 218 indivíduos com idades compreendidas entre os 12 e os 21 anos de idade, revelam que existe uma transferência das funções de vinculação das figuras primordiais para o parceiro romântico, principalmente nos adolescentes mais velhos. As raparigas que desenvolveram vinculações seguras com aos pais atribuem menos vulnerabilidade e uma maior segurança à relação amorosa. No caso dos rapazes, apenas o estabelecimento de uma vinculação segura à mãe parece ter influência na importância emocional atribuída às relações românticas. Os benefícios atribuídos pelos jovens às relações românticas dizem respeito a ganhos emocionais.

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Assim, o estabelecimento de relações significativas na adolescência prende-se com a vivência das experiências passadas, bem como na organização e expectativas das experiências futuras, sempre que as reorganizações afetivas ao longo da vida vão preenchendo a vida emocional dos indivíduos, uma vez que a qualidade das práticas parentais está relacionada com a qualidade das relações amorosas. Assim, relações passadas caracterizadas pela rejeição e baixo suporte emocional das figuras parentais, nomeadamente com o pai, podem encontrar-se relacionadas ao desenvolvimento de relações de grande ansiedade com o par amoroso. Contrariamente, relações parentais que possibilitem uma base de segurança emocional, parecem promover uma melhor aptidão para que o jovem explore e desenvolva relações com os outros assentes no preenchimento de outras funções de vinculação, como a partilha de interesses e perspectivas, companheirismo, formação de alianças, necessidades de afiliação e fomentam o conhecimento. Ou seja, os estilos de segurança ou insegurança estabelecidos com as figuras primordiais tendem a manter-se nas relações de proximidade e intimidade que o indivíduo vai estabelecendo ao longo de toda a sua vida (Beato, 2008).

A vinculação ao par romântico está relacionada com a qualidade das relações primordiais, no entanto depende, também, das experiências de segurança ou insegurança que se vão vivenciando à medida que a relação vai evoluindo com o parceiro romântico. Isto é, a qualidade da relação romântica, também, pode ser influenciada pelas experiências subsequentes vividas com o parceiro amoroso (Dinero, Conger, Shaver, Widaman, & Larsen-Rife, 2008).

O desenvolvimento de relações românticas na adolescência contribui, entre outras, para o desenvolvimento individual, formação da identidade, desenvolvimento de relações de harmonia e apoio na adaptação do indivíduo face a eventuais mudanças que possam ocorrer nas relações familiares. Neste sentido servem muitas vezes para satisfazerem necessidades afetivas, podendo desempenhar um papel preponderante no processo de desenvolvimento dos jovens (Collins, Welsh, & Furman, 2009). Beato (2008) acrescenta o facto de o desenvolvimento de relações amorosas saudáveis poderem contribuir para que o jovem desenvolva e melhore as suas competências sociais.

Ainda que tradicionalmente o termo vinculação seja usado para descrever a relação emocional, afetiva e primordial estabelecida entre o indivíduo e os seus pais ou cuidadores, sabe-se que a vinculação é um continuum por todo o período desenvolvimental, que se alarga a outras figuras significativas para além das primordiais. Neste sentido, o indivíduo quando confrontado com eventos geradores de ansiedade, mesmo na fase adulta, ativa o seu sistema de vinculação em busca de

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apoio e proteção. O que se verifica é que o bem-estar do adulto, tal como da criança, depende de figuras significativas que lhe proporcionem segurança sempre que necessário, independentemente da fase desenvolvimental em que se encontre (Buist, Dekovic, Meeus, & VanAken, 2002).

Na adolescência os parceiros amorosos tornam-se portos seguros de apoio e segurança emocional, ainda que as relações amorosas arroguem, também, uma certa labilidade (Doyle, Lawford & Markiewicz, 2009). Neste sentido Matos, Barbosa e Costa (2001) compreendem o desenvolvimento de relações amorosas na adolescência, como um contexto de vinculação, a par de outros, que pode permitir a criação ou recriação de um sentido de segurança interna, imprescindível para o desenvolvimento da autonomia e adaptação aos demais contextos, com os quais o adolescente se vai confrontado ao longo do processo desenvolvimental.

Segundo Matos e Costa (1997) nos adolescentes e jovens adultos, os pares e as figuras amorosas completam e respondem às necessidades do indivíduo, uma vez que entre eles é estabelecida uma relação de grande reciprocidade. As novas relações apresentam-se como importantes podendo proporcionar alguma estabilidade e segurança emocional.

A criação e desenvolvimento de novas relações no período da adolescência, nomeadamente amorosas e íntimas podem permitir aos indivíduos o desenvolvimento de uma base de segurança para experienciarem vivências e desafios, tanto positivos como negativos, da sua vida atual, como episódios do passado e de eventos futuros, que seriam muito mais difíceis de suportar sem a existência de uma figura de apoio (Ramalho, 2008).

O parceiro romântico pode ser entendido pelos jovens como um porto seguro que lhe pode proporcionar algum bem-estar e proteção em momentos difíceis e desconfortantes. De uma forma geral, as relações românticas desenvolvidas no período da adolescência, e início da vida adulta, proporcionam ao jovem a permuta e gratidão emocional. Deste modo, trata-se de relações importantes para o desenvolvimento dos jovens, uma vez que servem um pouco como ensaio para a vida futura (Fonseca, 2008).

O estudo de Doyle, Lawford e Markiewicz (2009), que compreendeu uma amostra de 374 adolescentes, revelou que as raparigas manifestam maior vontade de proximidade no que concerne ao desenvolvimento de relações românticas, no entanto comparativamente com os rapazes descrevem mais resistência em confiar e depender do seu parceiro amoroso com medo de sofrerem ou saírem magoadas da relação.

Collins e Feeney (2000) referem que o desenvolvimento de relações românticas na adolescência ajudam a fomentar o desenvolvimento individual, assim

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como podem servir de âncora permitindo que os jovens se adaptem face às possíveis mudanças que por vezes ocorrem nas relações familiares.

Steinberg e Morris (2001) interessados pelo estudo e conhecimento do processo desenvolvimental na adolescência invocam alguma escassez de estudos que permitam uma melhor compreensão do desenvolvimento de relações românticas na adolescência, relativamente ao impacto e influencia que as mesmas desempenham no bem-estar dos indivíduos, bem como no que se refere às diferenças individuais e fatores antecedentes que possam predizer a qualidade dessas novas relações.

Capítulo II - Qualidade da relação conjugal e o desenvolvimento dos jovens 1. Papel dos conflitos interparentais e bem-estar psicológico – implicações na qualidade da relação amorosa e psicopatologia

Tornou-se percetível que a qualidade das relações primordiais estabelecidas nos primeiros anos de vida são um contributo importante para o desenvolvimento, promoção ou comprometimento do bem-estar físico e psicológico do indivíduo.

Neste sentido, a qualidade da relação conjugal, e em especial as relações conflituosas, têm despertado grande interesse à psicologia, uma vez que pode influenciar de forma positiva ou negativa o comportamento, equilíbrio e bem-estar psicológico dos filhos (Garcia, Marín, & Currea, 2006).

A adolescência é um período desenvolvimental caracterizado pelo desenvolvimento físico e psicológico, em que o bem-estar psicológico vai aumentando à medida que o indivíduo transita da fase inicial para a fase final, ou jovem adultícia. A maior vulnerabilidade da fase inicial pode dever-se às modificações biológicas e contextuais comprometidas por dificuldades de competências e falta de recursos para enfrentar as demais adversidades que possam ocorrer nos diferentes domínios da vida do indivíduo (Fernandes, 2007).

Ainda que existam muitas teorias que procurem descrever e compreender o bem-estar, e nenhuma chegue a um consenso na definição global, todas são unânimes ao compreender o constructo como complexo, multidimensional e que é influenciado por fatores biológicos, cognitivos, sociais e de personalidade (Remédios, 2010).

O estudo do bem-estar tem sido desenvolvido e enquadrado segundo diferentes perspectivas com base em dois constructos teóricos subjacentes: o bem-estar subjetivo e o bem-bem-estar psicológico (Ryan & Deci, 2001).

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Para Diener (1984) o bem-estar subjetivo compreende a dimensão afetiva e cognitiva. Sendo que a dimensão afetiva tem implícitos os afetos positivos e os afetos negativos. Já a dimensão cognitiva diz respeito à avaliação subjetiva que o indivíduo faz de si e da sua satisfação com a vida.

Para Carol Ryff (1989a) o bem-estar refere-se a um modelo multidimensional, mais abrangente do que a simples ideia de bem-estar, como a perceção de uma vida positiva e afetos positivos, designado de bem-estar psicológico que engloba dimensões como a autonomia, domínio do meio, crescimento pessoal, relações positivas, objetivos de vida e aceitação de si. Neste sentido, o modelo de bem-estar psicológico de Ryff (1989b) focaliza os aspetos positivos do funcionamento psicológico, desvalorizando aspetos como a doença. Para Novo (2003) trata-se de um modelo que contempla dimensões que avaliam aspetos da satisfação com a vida e a felicidade em diferentes domínios, seja pessoal, social e relacional.

Na perspectiva de Massé et al. (1998) o bem-estar psicológico não se refere simplesmente à ausência de sintomas ou reações negativas, como autodepreciação, ansiedade ou depressão, mas à presença de sinais de felicidade, autoestima, autocontrolo, equilíbrio mental, sociabilidade e envolvimento social manifestados pelo indivíduo.

Deste modo, o bem-estar psicológico não diz respeito apenas à relação interior que o indivíduo desenvolve e estabelece consigo mesmo mas, também, ao envolvimento positivo que estabelece com os outros. Para o indivíduo manifestar uma boa saúde mental é condição sine qua non manter boas relações de sociabilidade, motivação e envolvimento, principalmente com aqueles mais próximos de si (Massé, et al., 1998).

Neste sentido, a presença de conflitos numa família poderá ser percecionada como natural e a capacidade de resolução pode apresentar-se como um facto que pode ajudar no crescimento emocional, uma vez que é importante que os indivíduos ao longo do seu desenvolvimento tomem contacto com a existência de dificuldades que devem ser discutidas e resolvidas em prol do seu bem-estar e ajustamento psicológico (Benetti, 2006).

Os conflitos interparentais têm implícitas particularidades que podem diminuir a qualidade do funcionamento familiar, uma vez que quando não ultrapassados condicionam a oportunidade para os filhos aprenderem a resolver eficazmente problemas, ou mesmo comprometer o desenvolvimento de estratégias de resolução. Acresce ainda o facto de lograrem reduzir a perceção da capacidade de comunicação e suporte parental, suscitar o estabelecimento de alianças disfuncionais entre os adolescentes e os pais, além de reduzirem a experiência de possibilitar, aos jovens,

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perceber a família como um sistema coeso e de suporte (Unger, Brown, Tressell, & McLeod, 2000).

O conflito interparental ocorre com frequência em algumas famílias, cujas repercussões muitas vezes são claramente percebidas pelas reações comportamentais dos filhos do casal. Neste sentido, a exposição dos filhos aos conflitos do casal pode resultar em danos emocionais e comportamentais como a exteriorização, refletida por elevados níveis de agressividade. Contrariamente, quando os filhos são expostos a comportamentos construtivos e a emoções positivas na resolução de conflitos, tem-se verificado que os filhos manifestam baixos níveis de agressividade. Deste modo, as diferentes respostas comportamentais dos filhos à exposição de conflitos interparentais depende da forma como os pais gerem e resolvem as suas diferenças, das estratégias de resolução e dos padrões de conflitos (Cummings, Goeke-Morey, & Papp, 2004). Para além de que os efeitos nocivos da exposição aos conflitos podem não depender necessariamente da intensidade do conflito, mas sim da capacidade, características internas e resiliência dos indivíduos (Benetti, 2006).

Segundo Moura e Matos (2008) independentemente da configuração familiar, a existência de conflitos interparentais, não resolvidos, tem um efeito negativo na qualidade da relação entre pais e filhos. Deste modo, o conflito parental parece ser um aspeto importante nas relações familiares. A existência de conflitos interparentais, não resolvidos, inadvertidamente afeta os filhos e a longo prazo fragiliza a estabilidade e coesão do ambiente familiar.

Autores como Mota e Matos (2009) referem que o conflito interparental, mais do que o divórcio, pode predizer a qualidade do desenvolvimento, adaptação e resiliência dos jovens, uma vez que se tem verificado que filhos de pais divorciados, que presenciaram baixos níveis de conflito interparental, apresentaram uma maior capacidade de resiliência, comparativamente com filhos de famílias intactas com elevados níveis de conflito interparental.

Jovens de famílias intactas que presenciam elevados níveis de conflito interparental, também, não são imunes aos problemas, sentindo-se muitas vezes envolvidos nos próprios conflitos que podem resultar em prejuízos, quer no seu bem-estar quer na qualidade das suas relações com os pais, tanto em filhos mais novos como em filhos mais velhos. Também se tem verificado que os pais, aquando dos conflitos, exercem mais pressão nas filhas para que tomem partido por uma das partes, levando a que estas se tornem mais sensíveis aos conflitos interparentais, comparativamente com os filhos rapazes (Amato & Afifi, 2006).

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Neste sentido, o conflito interparental pode, também, interferir nas relações entre pais e filhos, uma vez que estes podem sentir-se forçados a tomar partido e manifestar afeto positivo apenas por uma das partes envolvidas nos conflitos, facto que pode provocar e desenvolver sentimentos de insegurança nos filhos (Walper, Kruse, Noack, & Shwarz, 2005).

No estudo de Moura e Matos (2008), com o objetivo de estudar as implicações da configuração familiar e conflito interparental na vinculação dos jovens aos pais, que contou com uma amostra de 310 jovens com idades entre os 14 e os 18 anos, verificou-se que as raparigas têm uma maior perceção relativamente à existência de conflitos interparentais, e simultaneamente, também se sentem mais ameaçadas pelos conflitos comparativamente com os rapazes. No que diz respeito à configuração familiar, os filhos de famílias divorciadas revelaram uma menor qualidade do vínculo emocional ao pai, e também percecionaram maiores níveis de conflito antes do divórcio dos pais, comparativamente com a menor perceção de conflitos pelos jovens provenientes de famílias intactas.

Conflitos interparentais que envolvam principalmente o recurso à violência física e verbal têm efeitos negativos no desenvolvimento emocional, cognitivo e social dos filhos. Deste modo, o conflito interparental de carácter pejorativo, para os filhos, deve ter em conta a intensidade, frequência, conteúdo, estratégias de resolução e a expressão do conflito, que pode ser de forma aberta ou camuflada (Benetti, 2006).

A existência ou ausência de conflitos interparentais, assim como a gestão da separação pelos elementos do casal, são aspetos determinantes na forma como os filhos se adaptam à nova realidade. Jovens que presenciam elevados níveis de conflitos interparentais, encontram-se mais susceptíveis a manifestarem dificuldades de ajustamento. Os conflitos interparentais podem, também, refletir-se no bem-estar psicológico dos filhos, particularmente ao nível da autoestima (Mota & Matos, 2009).

Muitas vezes a existência de um ambiente familiar conflituoso pode apresentar-se como uma variável de risco no deapresentar-senvolvimento de problemas, tanto internos como externos, nos filhos do casal (Castillo, 2007).

A existência de conflitos interparentais pode levar a uma diminuição da qualidade das relações parentais, estas por sua vez podem provocar alterações e influenciar a relação entre pais e filhos, comprometendo o bem-estar dos mesmos, mais do que propriamente a existência de conflitos. Assim, as evidências sugerem que pode não ser a simples ocorrência de conflitos que afetam o bem-estar e o desenvolvimento de sintomatologia depressiva, mas sim a qualidade dos conflitos e o impacto que estes têm nos filhos, em interação com as suas características individuais como o seu estilo cognitivo (O’Donnell, Moreau, Cardemil, & Pollastei, 2010).

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A presença dos filhos aquando do conflito entre os progenitores pode originar um estado de desajuste emocional, desenvolvendo nestes elevados níveis de ansiedade, frustração, raiva, auto-culpabilidade, baixa autoestima e afeto deprimido interferindo assim no seu processo de desenvolvimento psicossocial (Benetti, 2006).

Os comportamentos observados no seio familiar têm sido relacionados com o tipo de comportamentos que os filhos extrapolam para as relações que vão estabelecendo e desenvolvendo fora da família, nomeadamente no que se refere ao estabelecimento de relações amorosas. Deste modo, existem alguns fatores passíveis de constituir um entrave no desenvolvimento da qualidade da vinculação com os pais, o que poderá ter efeito na qualidade das relações amorosas. Um exemplo constitui a perceção dos jovens relativamente à existência de conflitos interparentais, uma vez que estes podem, de certo modo, predizer reações e comportamentos posteriores na sua relação com os pais, irmãos e mesmo parceiro romântico (Reese-Weber & Kahn, 2005).

Para além disso, a frequência, intensidade e forma como os pais resolvem os conflitos, podem resultar em consequências nas relações de intimidade que o jovem mais tarde desenvolve na vida adulta. Os padrões destrutivos de comportamentos observados no seio familiar podem ser reproduzidos mais tarde e ameaçar negativamente quer o bem-estar emocional do sujeito quer, por sua vez, o bem-estar emocional do parceiro amoroso, bem como a qualidade dos padrões comunicacionais estabelecidos entre os parceiros românticos (Herzog & Coney, 2002).

De acordo com Bragado, Bersabé e Carrasco (1999) os conflitos interparentais podem apresentar-se como um dos fatores de risco para o desenvolvimento de psicopatologia em adolescentes e jovens adultos.

O estudo de Castillo (2007), com o objetivo de averiguar variáveis de risco do contexto familiar no desenvolvimento e adaptação dos filhos, numa amostra de 200 crianças e adolescentes, revela que os sujeitos que apresentam maiores problemas de comportamento e agressividade são provenientes de famílias cujos conflitos interparentais acontecem frequentemente, principalmente no que se refere a filhos do género masculino.

Os resultados da investigação de Garcia, Marín e Currea (2006) que contou com uma amostra de 256 famílias constituídas pelos pais e filhos adolescentes, com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos de idade, com o objetivo de identificar características das relações parentais preditoras do ajustamento psicológico dos filhos, tornaram evidente que a existência de conflitos entre o casal se encontra associada ao desenvolvimento de problemas de internalização nos filhos, como ansiedade e depressão, e de externalização como problemas de conduta agressiva.

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Unger, Brown, Tressell e McLeod (2000), num estudo realizado com uma amostra de 107 adolescentes com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos de idade, provenientes de famílias intactas e divorciadas, com o objetivo de estudar o funcionamento familiar e a influência dos conflitos interparentais no ajustamento psicológico dos filhos, sugerem que os conflitos interparentais têm estreita relação com o humor deprimido dos filhos, tanto provenientes de famílias intactas como divorciadas. Esta relação parece ser mais problemática nas filhas comparativamente com os filhos, enquanto estes tendem a desenvolver mais problemas de externalização.

Segundo o estudo longitudinal de Chango, McElhaney e Allen (2009), com 184 adolescentes, cujo objetivo foi relacionar a organização da vinculação e padrões de resolução de conflitos no grupo de pares e o desenvolvimento de psicopatologia, verificou que os adolescentes mais preocupados manifestam maior risco de desenvolverem sintomas depressivos comparativamente com adolescentes menos preocupados. Embora o estudo não faça referência aos motivos da preocupação, torna claro que a procura de apoio pode ajudar ou agravar os sintomas tendo em conta o tipo de apoio que os demais lhe fornecem.

Para O’Donnell, Moreau, Cardemil, e Pollastei (2010) o desenvolvimento de sintomatologia depressiva pode resultar de alterações negativas no ambiente familiar com o surgimento de conflitos parentais, em interação com um estilo cognitivo pessimista dos filhos. Em crianças com maior capacidade de resiliência tem sido verificado um menor impacto dos conflitos interparentais

No estudo de Lemos (2010), que contou com uma amostra de 63 adolescentes com idades compreendidas entre os 13 e os 18 anos com um percurso delinquente, constatou-se que a falta de envolvimento, negligencia, fraca supervisão das figuras parentais e conflitos interparentais podem ser fatores preditores do comportamento antissocial e desenvolvimento de psicopatologia. No que se refere à presença de conflitos interparentais, os jovens que relatam a existência de conflitos interparentais apresentaram índices elevados de psicopatologia, contrariamente aos jovens que não percecionam a existência de conflitos entre os pais.

Autores como Unger, Brown, Tressell, e McLeod (2000) enfatizam a importância de se realizarem estudos, relativamente aos efeitos dos conflitos interparentais, uma vez que podem apresentam-se como uma mais-valia para se desenvolverem programas de intervenção e prevenção em adolescentes em risco de desenvolverem depressão, de modo a que estes sejam ensinados a desenvolverem estratégias de coping para lidarem com as suas perceções, medos e cognições negativas de que os conflitos interparentais podem levar ao fim da estrutura familiar. O

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casal também pode ser auxiliado a desenvolver técnicas de resolução de conflitos, bem como ensinados a limitarem as suas discussões em ocasiões que os filhos estejam ausentes.

Capítulo III – Transições familiares no processo desenvolvimental dos adolescentes e jovens adultos

1. O divórcio parental

No segundo milénio tem-se tornado evidente o aumento do número de divórcios, o que pressupõe uma necessidade crescente de se desenvolverem mais investigações neste âmbito para averiguar as implicações que daí possam advir. O divórcio é um acontecimento passível de ocorrer no ciclo vital familiar, podendo afetar quer a sua estrutura, quer a dinâmica das relações entre os elementos que a compõem (Cano, Gabarra, Moré, & Crepaldi, 2009).

O aumento de divórcios e recasamentos, cada vez mais frequentes na sociedade em que vivemos, dão origem a um conjunto de mudanças, tanto na estrutura como nos papéis e relações estabelecidos entre os membros que a compõem (Fonseca, 2008).

Os dados mais recentes do número de divórcios em Portugal apontam para um aumento dos mesmos, onde 70% dos casais divorciados tinham pelo menos um filho, e 56,1% compreendiam idades a partir dos 10 anos (INE, 2010).

Neste sentido, ao longo do seu desenvolvimento, os jovens para além de vivenciarem todas as mudanças e transformações inerentes ao processo da adolescência, podem confrontar-se, também, com mudanças ou alterações na configuração familiar, como o divórcio dos pais. Estas alterações podem desencadear transformações significativas com todas as vicissitudes que compreendem um processo de separação, nomeadamente pela presença de conflitos interparentais que põem em risco a homeostasia familiar.

O divórcio dos pais, inicialmente, pode gerar culpa, raiva, medo e estados depressivos nos filhos contudo, com o passar do tempo os indivíduos evidenciam um crescente bem-estar e redução da tensão inicial relativamente à separação dos pais. Da alteração da configuração familiar podem advir resultados construtivos pela oportunidade que os filhos têm de verem ultrapassados e resolvidos os conflitos interparentais, o que lhes permite desenvolverem relacionamentos harmoniosos, melhorarem o crescimento pessoal e a própria promoção do seu bem-estar (Ramires, 2004).

Embora o período pós-divórcio acarrete mudanças e dificuldades nos elementos da família, com o decorrer do tempo, e uma vez resolvidos e ultrapassados

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os conflitos, esse acontecimento poderá manifestar-se como uma mais-valia para os pais e filhos, evidenciando mesmo uma melhor qualidade de vida, amadurecimento emocional e capacidade de resiliência (Cano, Gabarra, Moré, & Crepaldi, 2009).

O divórcio como resultado de um casamento conflituoso pode resultar em melhorias no bem-estar psicológico dos filhos, ficando estes resguardados de um ambiente familiar aversivo e disfuncional (Amato, 2000).

O afastamento gradual entre as figuras parentais, após o divórcio leva à diminuição paulatina dos conflitos (Orellana, Vallejo, & Vallejo, 2004) e sendo notório o carácter prejudicial dos conflitos para o bem-estar psicológico dos filhos, o divórcio até poderá ser entendido como uma mais-valia para o ajustamento dos mesmos.

Os efeitos que o divórcio parental possa produzir nos filhos, podem não resultar propriamente do divórcio em si mas das alterações sociais que advêm da separação do casal, uma vez que as redes sociais podem estar comprometidas. Os filhos do casal podem ver-se obrigados a mudar de bairro, localidade ou escola o que implica deixar o grupo de pares e atividades em que estavam envolvidos e necessária uma reorganização e adaptação a novos contextos (Orellana, Vallejo, & Vallejo, 2004).

As diferenças emocionais entre filhos de pais separados e de famílias intactas podem não se dever exclusivamente ao divórcio, mas às condições e à forma como o casal gere a separação. Ou seja, as diferenças devem-se à perceção que os filhos têm relativamente à forma como o processo de divórcio é tratado, nomeadamente no que se refere à forma como o casal gere os conflitos, que muitas vezes podem ser de carácter destrutivo, e ao suporte social da figura paterna, que muitas vezes após o divórcio torna-se reduzido (Schick, 2002).

Os conflitos interparentais oriundos de relações disfuncionais têm impacto nos filhos, e ainda que com o divórcio parental os efeitos vão atenuando, na verdade a experiência conflituosa não é esquecida na totalidade e perdura na memória dos filhos ao longo do tempo (Orellana, Vallejo, & Vallejo, 2004). Neste sentido, a literatura parece ressaltar o cariz destrutivo face à perceção de conflitos interparentais, mais do que propriamente a rutura da relação parental.

Quando o divórcio parental é concomitante com o período de adolescência dos filhos do casal, e estes por sua vez se encontram envolvidos em relações amorosas, estas relações podem ser percecionadas como pouco seguras, comprometendo a qualidade e continuidade das mesmas, uma vez que o padrão de referência da relação dos pais falhou. Neste sentido, as relações de rutura dos pais pode servir de modelo e comprometer as relações amorosas dos filhos (Summers, Forehand, Armistead & Tannenbaum, 1998).

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Os filhos cujos pais se divorciaram manifestam uma maior preocupação relativamente às suas relações amorosas, uma vez que o modelo conjugal que tinham como referência falhou (Cano, Gabarra, Moré, & Crepaldi, 2009).

Os resultados do estudo de Fonseca (2008), cujo objetivo foi analisar o compromisso e confiança nas relações íntimas dos jovens adultos filhos de pais separados, numa amostra de jovens com idades compreendidas entre os 18 e 25 anos, revelaram que quanto mais velho for o indivíduo, na altura da separação dos pais, menor confiança parece depositar no parceiro amoroso.

A pertinência de se estudar os efeitos das alterações na configuração familiar, como o divórcio dos pais, incide sobretudo na importância da manutenção dos vínculos entre pais e filhos após a separação. Tem-se verificado que o divórcio parental pode modificar e favorecer as relações entre pais e filhos, cuja alteração na estrutura familiar poderá inclusive fomentar o crescimento e adaptação de ambos, pais e filhos, e não apenas como sinónimo da continuidade ou criação de novos problemas, pois o divórcio muitas vezes é a melhor solução para um ambiente familiar conflituoso e destrutivo (Ramires, 2004).

A qualidade das relações entre filhos e pais divorciados pode predizer a capacidade de ajustamento dos filhos. Neste sentido, a relação entre figuras parentais e filhos pode ser significativa face à forma como se desenvolve a relação amorosa e o desenvolvimento de problemas de internalização. A qualidade das relações que os jovens e as figuras parentais mantêm após o divórcio, parecem ter uma maior influencia no desenvolvimento de relações amorosas e psicopatologia, do que propriamente o divórcio parental (Summers, Forehand, Armistead & Tannenbaum, 1998).

Assim, parece que a adaptação dos filhos ao divórcio dos pais depende da qualidade das relações que se estabelecem entre pais e filhos, do nível de conflitos, entre outros aspetos contextuais que podem afetar a transição e modificação da estrutura familiar (Ramires, 2004).

A qualidade e manutenção dos vínculos estabelecidos com os pais são preditoras da capacidade que os indivíduos demonstram quando confrontados com alterações ou transições na configuração familiar. A vinculação segura aos pais é um fator de resiliência nas dificuldades inerentes ao processo de divórcio. Deste modo, a separação dos pais nem sempre resulta numa experiência traumática para os filhos (Ramires, 2004).

As consequências diretas do divórcio parental, no que se refere ao bem-estar dos filhos, não são lineares e uniformes para todos os jovens, uma vez que outras variáveis parecem estar implicadas e agravar os efeitos, como fatores genéticos,

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Tabela 1. Caracterização da amostra geral
Tabela  2.  Caracterização  da  amostra  de  indivíduos  provenientes  de  famílias  separadas ou divorciadas  Nº de sujeitos da amostra = 827  Configuração familiar:  Separados/ Divorciados  n = 245  (29.6%)  Género:  Masculino  Feminino  n = 85  n = 160
Tabela 3. Diferenças significativas da amostra em função da configuração familiar  Variáveis
Tabela 4.  Alphas de  Cronbach do Children’s Perception of Interparental Conflict Scale  (CPIC)
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Referências

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