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Entrevista
RICHARD HUDSON
PLANO AJUSTÁVEL
PROMETE O MELHOR DOS
MUNDOS BD E CD
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m novo desenho de plano de benefícios que promete redu-zir drasticamente os riscos para o empregador e garantir ren-da vitalícia aos participantes vem ga-nhando popularidade como alternati-va à migração de planos de Benefício Definido para Contribuição Definida. Concebido pela consultoria norte americana Cheiron Inc., o Adjustable Pension Plan (APP) ou Plano de Pensão Ajustável tem comoalicer-ces o conceito básico de compartilha-mento de riscos dos planos BD asso-ciado à imunização de parte do passivo e à proteção da igualdade intergeracio-nal. “O plano pretende absorver o me-lhor dos mundos BD e CD, permitindo que tanto o participante quanto o pa-trocinador tenham condições de man-tê-lo”, explica Richard Hudson, atu-ário sênior da Cheiron que esteve recentemente no Brasil para participar de 3º Encontro Gama de Previdência
O novo modelo se propõe a garantir o pagamento
de uma renda vitalícia aos participantes
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ENTREVIST
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Richard Hudson
Complementar. Projetado para atender às enti-dades multipatrocinadas, o APP foi posterior-mente adaptado a programas unipatrocinados pelo atuário, que contabiliza mais de 25 anos de experiência no assessoramento de empre-sas que compõem o índice Fortune 500. Nesta entrevista exclusiva, Richard Hudson fala so-bre as características mais importantes do mo-delo, os diferentes padrões de acumulação nas modalidades BD e CD, a relevância do dese-nho do plano para a empresa patrocinadora e a adaptabilidade dos APPs ao contexto brasi-leiro. “É possível desenhar uma versão do pla-no que se adéque à estrutura regulatória brasi-leira, fazendo com que o modelo funcione da melhor forma possível no país”, argumenta o especialista.
Em um de seus artigos, o
senhor afirma que os planos de Contribuição Definida (CD), nos quais os riscos são assumidos majoritariamente pelo empregado, também apresentam desvantagens significativas - e muitas vezes ignoradas - para o empregador. Quais são essas desvantagens?Richard Hudson - Quando ocorre a migra-ção para um plano de Contribuimigra-ção Definida, a capacidade dos trabalhadores mais velhos (40 a 50 anos) de atingir um nível apropria-do de renda de aposentaapropria-doria é substancial-mente reduzida. Isso faz com que esse grupo trabalhe por muito mais tempo até ter condi-ções de se aposentar, o que pode prejudicar a empresa patrocinadora caso a sua produtivi-dade seja inferior a dos mais jovens. Ao mes-mo tempo, é preciso considerar que o empre-gador terá que pagar salários mais elevados devido ao tempo de serviço e nível hierárqui-co alcançado por esses indivíduos. Além dis-so, algumas empresas do setor de manufatu-ra têm registmanufatu-rado aumentos nas despesas com saúde e invalidez à medida que a força de tra-balho envelhece face à impossibilidade de re-querer a aposentadoria.
Qual a importância de um
plano de pensão bem desenhado para a empresa patrocinadora?Richard Hudson - Antes de se
conside-rar um desenho de plano, é preciso estudar o impacto que ele terá sobre o patrocinador. Uma mudança no desenho do plano pode in-fluenciar dramaticamente o comportamento do trabalhador e impactar tanto os custos tra-balhistas (contratação, reajustes salariais, en-velhecimento do corpo funcional) quanto os custos associados a outros tipos de plano (saú-de, invalidez, etc.). A customização do plano é muito importante para garantir que os resulta-dos almejaresulta-dos sejam alcançaresulta-dos.
Como o senhor e a equipe da
Cheiron chegaram ao desenho do Plano de Pensão Ajustável?Richard Hudson - O modelo, que inicial-mente recebeu o nome de Plano de Benefício Definido Variável, sendo posteriormente ba-tizado de Plano de Pensão Ajustável, foi con-cebido por uma equipe de profissionais, de dentro e fora da consultoria, que se uniu para tentar encontrar uma solução para a crise pre-videnciária nos Estados Unidos. Essa equipe foi composta por David Blitzstein e William McDonough, colaboradores do Sindicato Internacional de Trabalhadores do Comércio e da Indústria Alimentícia (United Food and Commercial Workers International Union) e Gene Kalwarski e Peter Hardcastle, consulto-res da Cheiron, que juntos trabalharam para desenvolver uma alternativa viável de plano de pensão que não oferecesse os riscos ineren-tes aos programas tradicionais de Benefício Definido nem a inadequação dos planos CD. Barry S. Slevin, presidente do escritório de advocacia Slevin & Hart, também desempe-nhou papel fundamental ao prover consulto-ria jurídica e estratégica ao projeto, bem como Skip Halpern, presidente regional da consul-toria Gallagher Fiduciary Advisors, que for-neceu aconselhamento sobre temas de in-vestimento. David Lee, vice-presidente da empresa Strategic Income Security Services,
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Entrevista
ajudou por meio de consultorias de investi-mentos e da realização de projeções indepen-dentes com o intuito de submeter o novo dese-nho de plano a testes de stress. Vale salientar que o Adjustable Pension Plan continua sen-do aprimorasen-do e adaptasen-do a fim de atender às diversas regras de fundeamento em vigor nos Estados Unidos, bem como às necessidades de diferentes clientes.
Quais são as
principaiscaracterísticas deste novo modelo?
Richard Hudson - Os temas mais impor-tantes com os quais tentamos lidar são o ní-vel de risco e a atribuição de responsabilida-des pelo risco dentro do plano de pensão. Em planos BD tradicionais, o empregador é o res-ponsável pelo risco, embora ele seja compar-tilhado por todos os participantes do progra-ma. Tal compartilhamento serve para reduzir o nível de risco do plano como um todo. Num programa de Contribuição Definida, é o par-ticipante que arca com o risco, que é assumi-do individualmente. Nessa modalidade, o ris-co de mortalidade individual é um fardo muito mais pesado se comparado ao de um plano de Benefício Definido. E como os participantes nem sempre possuem bons conhecimentos so-bre investimentos, eles tendem a tomar deci-sões duvidosas nessa área.
Percebemos que os planos que assumem riscos significativos de investimento, e cujos ativos dão suporte a grandes grupos de apo-sentados, não conseguem sobreviver a crises no mercado. Sendo assim, o desenho do plano Ajustável se propõe a imunizar os benefícios de aposentadoria de alguma maneira a fim de garantir que o risco financeiro não venha a im-por um fardo muito pesado para o empregador.
Procuramos nos certificar de que o plano fosse sustentável e viável para diferentes gera-ções com o objetivo de evitar o problema que temos hoje, que é o da desigualdade intergera-cional. Com a presente crise, é a atual geração de trabalhadores que paga pelos benefícios das gerações anteriores e ajuda a melhorar os ní-veis de fundeamento dos planos. Isso se faz via o provimento de benefícios que ficam aquém
das contribuições vertidas ao programa. Espero que a próxima geração herde um plano mais bem fundeado e possa ter direito a benefícios de valor superior com base em patamares con-tributivos similares ou até inferiores.
O plano Ajustável pretende absorver o me-lhor dos mundos BD e CD, permitindo, assim, que tanto o participante quanto o patrocinador tenham condições de mantê-lo. Utilizamos o conceito básico de compartilhamento de ris-cos de um plano BD com o objetivo de tornar os riscos mais gerenciáveis, imunizamos o pas-sivo dos aposentados para proteger esse gru-po e resguardamos a igualdade intergeracional, além de promovermos o compartilhamento de riscos entre empregadores e empregados.
Quais são os padrões de
acumulação de direitos doAdjustable Pension Plan (APP)?
Richard Hudson - Os padrões em vigor
nos planos de Benefício Definido determi-nam que os benefícios de valor mais eleva-do sejam acumulaeleva-dos somente na fase poste-rior da carreira do empregado. Já os planos de Contribuição Definida funcionam de manei-ra contrária, ou seja, os valores acumulados precocemente são investidos por mais tem-po, gerando mais recursos. Por isso, quando ocorre a migração de um plano BD para CD, os trabalhadores mais velhos são mais forte-mente impactados do que os mais novos. No Plano de Pensão Ajustável, o acúmulo de be-nefícios acontece tal qual nos planos BD, mas os valores do início da carreira estão sujeitos a aumentos futuros em decorrência da melhor performance nos investimentos. O resultado é um padrão mais uniforme de acumulação do que o observado nas modalidades BD e CD.
O senhor afirma
que a conversãode um plano BD para um plano Ajustável é uma solução mais justa do que a migração para um plano CD puro. Isso se deve a esses padrões de acumulação de direitos?
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ENTREVIST
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Richard Hudson
Richard Hudson - Sim. Quando se migra de um plano BD para CD, em geral, os empre-gados em meio de carreira terão acumulado benefícios de valores relativamente baixos, já que nos planos BD eles tendem a se elevar so-mente no final da carreira. Caso mudem para um plano CD, esses empregados também es-tarão sujeitos aos baixos níveis de acumulação desses planos, sem mencionar que não terão tempo suficiente para que os retornos dos in-vestimentos rendam o necessário para lhes ga-rantir uma pensão adequada. Logo, esse gru-po de participantes acabará com baixos níveis de acumulação tanto nos planos CD quanto BD, já que as duas modalidades possuem pa-drões bastante distintos. No Plano de Pensão Ajustável, por sua vez, a acumulação de be-nefícios é mais uniforme e os empregados em meio e fim de carreira acabam não sendo tão impactados.
Como os benefícios
são calculados?Richard Hudson - Primeiro é importante ressaltar que diferentes conceitos estão sendo desenvolvidos tendo em vista as necessidades de diferentes empregadores. A ideia inicial vem do compartilhamento de riscos. Num pla-no BD típico, há uma promessa fixa de bene-fício e o empregador deve contribuir com os valores que se fizerem necessários para garan-tir que o plano irá cumprir a promessa. Se o mercado entrar em colapso, os ativos perdem valor, mas não há redução do passivo. Num plano CD, caso o mercado passe por turbulên-cias, os participantes terão seus saldos de con-ta reduzidos e, consequentemente os benefí-cios também diminuirão.
O Plano de Pensão Ajustável, por sua vez, propõe a realização de determinados ajustes nos benefícios com base na situação de fun-deamento e no desempenho dos ativos do pla-no. Em uma das versões que elaboramos, es-tabelecemos dois níveis de benefícios: um benefício mínimo garantido, baseado numa avaliação atuarial conservadora, e um benefí-cio ajustável. Este último aumenta a cada ano de acordo com o fator de acumulação
míni-ma e sofre reajustes adicionais (para míni-mais ou para menos) com base nos retornos dos inves-timentos. Em outra versão, o acúmulo anual é garantido, mas reajustes positivos ou nega-tivos posteriores dependerão do nível de fun-deamento do plano. Tais aumentos ou redu-ções dependem do desenho do programa, podendo ser definidos conforme as necessida-des do plano em compartilhar riscos. Ambas as versões reduzem a volatilidade das contri-buições de forma que o custo do plano fica tão estável quanto o dos programas CD.
Como a taxa de retorno dos
investimentos é definida?Richard Hudson - A taxa de juros pode
ser diferente de um plano para outro. O nível presumido é que definirá o valor do benefício mínimo garantido. Os benefícios ajustáveis são baseados na rentabilidade dos investi-mentos acima desse patamar. Portanto, uma taxa de juros mais alta implicará num benefí-cio mínimo garantido mais elevado e menores chances de haver uma faixa de benefício ajus-tável. Em contrapartida, uma taxa de desconto mais baixa acarretará num benefício mínimo garantido de valor inferior, embora aumen-te as chances de se aumen-ter o benefício ajustável. Como disse, procuramos compartilhar os ris-cos entre empregadores e empregados e a taxa de juros determinará como irá se dar tal com-partilhamento entre os dois grupos.
O modelo construído pela
Cheiron é mais indicado para algum perfil específico de massa de participantes?Richard Hudson - Já fomos contatados pelos mais variados grupos, então eu diria que o plano é adequado a qualquer um deles, seja governo, corporações, entidades não lucrati-vas ou sindicatos. Há muito interesse em tor-no da ideia, que representa uma boa mistura dos planos BD e CD existentes com um per-fil de risco aprimorado. É importante salientar que nos Estados Unidos os planos de pensão de diferentes grupos estão sujeitos a regras
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Entrevista
distintas de fundeamento. Os princípios bási-cos dos APPs são moldáveis a exigências va-riadas, conferindo adaptabilidade e tremenda flexibilidade ao modelo.
Em recente artigo, Karen
Ferguson, diretora do Centro de Direitos Previdenciários Americano, afirma que uma importantecaracterística do APP é o fato de reunir todos os princípios essenciais a um desenho de plano inovador e moderno. Que princípios são esses?
Richard Hudson - Creio que Karen Ferguson se referia a um plano que garanta o pagamento de uma renda vitalícia aos parti-cipantes sem acarretar em níveis de risco de-masiadamente elevados que o tornem insus-tentável. Como é possível observar a partir do desenho básico do APP, esses são os dois prin-cípios mais importantes que o plano se propõe a projetar.
Quão populares são os planos
Ajustáveis dentro e fora dos EUA?Richard Hudson - Eu não tenho ciência de nenhum plano ajustável fora dos Estados Unidos. No país, a popularidade do plano está crescendo à medida que mais grupos tomam ciência dessa estratégia alternativa. Temos trabalhado para divulgá-lo e informar as pes-soas sobre as opções que aí estão. As autori-dades americanas têm dado amplo suporte à ideia por entenderem que essa é uma das me-lhores alternativas que existe em termos de desenho de plano.
O senhor esteve
no Brasil emagosto para participar do 3º Evento Gama de Previdência Complementar. Em sua
opinião, é viável implantar esse modelo de plano no país?
Richard Hudson - Primeiramente, eu gos-taria de deixar claro que não sou especialis-ta em fundos de pensão no Brasil, embora a
equipe da Gama tenha me ajudado a compre-ender algumas nuances do sistema. Dito isso, eu acredito que esse desenho de plano é viá-vel e em muitos casos bastante adequado à re-alidade brasileira. O sistema do país já investe de forma mais conservadora do que o proposto pelo plano ajustável, e como temos trabalha-do com clientes com necessidades diferentes, começamos também a desenvolver novas va-riações para o modelo. Também trabalhamos para adaptá-lo a diferentes regras de solvên-cia ao nos mantermos focados nos princípios em que ele se baseia, que são o baixo risco, o compartilhamento dos riscos e a imunização dos benefícios dos aposentados. Logo, pen-so ser possível desenhar uma versão do plano Ajustável que se adéque à estrutura regulató-ria brasileira, fazendo com que o modelo fun-cione da melhor forma possível no país.
Mais especificamente, como
o senhor acredita que o Plano de Pensão Ajustável poderia ser útil no contexto brasileiro?Richard Hudson - Uma característica do sistema brasileiro é que os benefícios normal-mente são calculados como percentagem do salário final ou com base na média salarial do empregado nos últimos anos de carreira. O plano Ajustável possui padrões de acumula-ção de benefícios que levam em conta a renda do participante em cada ano trabalhado. Isso ajuda a proteger o plano contra altos níveis de risco de inflação. Se o plano for bem fundea-do, ele pode ser adaptado para atualizar os be-nefícios de forma a incorporar certa proteção contra o risco inflacionário. Esse mecanismo do plano é desenhado para funcionar de ma-neira controlada, após a condução de estudos atuariais que garantirão que tal adaptação não surtirá impacto financeiro significativo sobre o empregador. Eu nunca afirmaria que o bási-co do APP é o mais adequado a todas as situa-ções. Dito isso, há muito que aprender sobre o desenho do plano para que ele possa ser adap-tado ou alterado para atender as necessidades únicas de cada patrocinador. ■