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O Uso de Emotions no Facebook do Jornal Gaúcho Diário de Santa Maria

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O Uso de “Emotions” no Facebook do Jornal Gaúcho Diário de

Santa Maria

Francieli Jordão FANTONI

Resumo: A midiatização das práticas jornalísticas representou muito mais do que uma mudança

na cultura organizacional e editorial das empresas. A linguagem jornalística no ambiente digital, como no caso das redes sociais, também foi afetada por processualidades e lógicas midiáticas. Neste sentido, o trabalho pretende investigar o uso de emotions no Facebook do jornal Diário de Santa Maria (Santa Maria –RS), a fim de entender como os jornalistas os utilizam e de que forma essa apropriação altera a narrativa jornalística tradicional. Para isso, recorre-se a análise semiológica proposta por Eliseo Verón (2004) e Milton José Pinto (2002). Nota-se que a experiência imediata e universal do sensível é perpassada pela emoção, através do uso de emotions na superfície textual, havendo uma personificação do dispositivo.

Palavras-chave: midiatização; linguagem jornalística; facebook; emoção; emotions.

1. Introdução:

Na semiologia de terceira geração, ciência que se interessa pelos sistemas significantes e que se preocupa com os efeitos de sentidos produzidos na e pela relação entre produtores e receptores, o discurso não é representado apenas pela linguagem verbal. A imagem também é um signo que deve ser analisado em conjunto com o texto que o acompanha (VERÓN, 2004). Neste sentido, fala-se em discursos, pois não há a produção de um único efeito, mas sim de um campo de efeitos possíveis, heterogêneo.

É a partir deste prisma que se observa o uso de emotions (emotion: emoção + icon: ícone), como uma imagem utilizada para traduzir o que a linguagem verbal não é capaz, ou seja, emoções e sensações. Tal apropriação tornou-se mais evidente nas redes sociais pelos

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usuários, em conversas informais. Mas o uso também espraiou-se para a narrativa jornalística que era habitado preferencialmente por discursos formais e objetivos, como premissa da afirmação de sua legitimidade e credibilidade discursiva.

Tais ações são pensadas a partir do contexto do processo de midiatização da sociedade, no caso específico, da prática jornalística, no qual o sistema de produção é afetado, modificando até mesmo o próprio conceito de acontecimento (FAUSTO NETO, 2006). O atravessamento da midiatização sobre o trabalho jornalístico e a emergência da Internet, para Carlos Eduardo Franciscato (2007), também produzem afetações na produção do conteúdo, realinhamento das relações entre jornalistas, empresas e público, além de alterações na estrutura das redações e das disposições de conteúdo com a digitalização.

Neste sentido, o objetivo do artigo é analisar o uso e as apropriações de emotions por jornalistas do jornal Diário de Santa Maria na construção de narrativas, na rede social Facebook. O artigo integra o projeto “Produção e circulação da notícia: as interações entre jornais e leitores”. A escolha pelo objeto de pesquisa refere-se tanto à proximidade quanto à preocupação de uma problemática mais ampla que envolve os processos interacionais entre leitores e jornais gaúchos.

Dito isso, passa-se para um primeiro movimento no qual pretende-se ambientar a fase por que passa o jornalismo atualmente, atravessado por lógicas e processos midiáticos. Após, entra-se na discussão sobre a mutação na narrativa jornalística no ambiente das redes sociais, tendo como foco o Facebook.

2. A Mutação do Jornalismo na Sociedade em Vias de Midiatização:

A emergência da técnica e tecnologia e suas afetações no campo jornalístico, alteraram substancialmente o contrato de leitura com os consumidores. Até mesmo o poder simbólico do jornalismo, o de fazer crer (BERGER, 1998), é posto em cheque pelos leitores, que agora têm acesso a diversos canais de informação, e em alguns casos, passam a produzir o próprio conteúdo.

Este cenário é um reflexo da sociedade em vias de midiatização, conceito ainda em construção e de consequência histórica, como salienta Verón (2012). Para ele, a midiatização

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vai além da influência tecnológica, sendo reflexo da “indústria da pedra”, ou seja, é a exteriorização de processos cognitivos, uma disposição da espécie, que passou da apropriação da pedra para a escrita e assim sucessivamente.

É na atualidade que a midiatização adquiriu características peculiares e especiais. “É o papel dos dispositivos; sobre isso está o conceito de midiatização, que pressupõe a construção de uma história” (VERÓN, 2012, p. 20). Assim, o desafio se dá na compreensão do papel dos dispositivos, pois sobre eles está calcado o conceito de midiatização.

Já para Antônio Fausto Neto (2008) a midiatização é entendida como uma nova uma forma de mediação específica, de organização social, no qual lógicas da mídia atuam sobre as práticas sociais dos campos. O fenômeno corresponde a processos que têm efeitos sobre os indivíduos, organizações e suas funções na sociedade.

O jornalismo sofre os impactos desse processo de midiatização. Viviane Borelli (2012, p.153), lembra que se trata de: “[...] mudanças no processo de produção jornalística, de um novo modo de apresentação do produto e do desenvolvimento constante de estratégias de interação com os leitores, buscando a manutenção e ampliação do contato com os seus receptores”.

Na sociedade em vias de midiatização, a mídia é produtora de sentidos e não apenas uma mediadora dos demais campos. Jornalistas passam a ser atores da própria notícia, mostrando a “realidade da construção” e não apenas a “construção da realidade” (FAUSTO NETO, 2006). Salas de redação são preenchidas por diversos aparelhos tecnológicos, sendo a Internet, uma ferramenta indispensável para a prática da profissão na atualidade.

Demétrio Soster (2007, p.80) chama este cenário “quinto jornalismo”, o midiatizado, que corresponde à “consolidação dos webjornais e dos blogs como novos suportes à atividade”. O termo quinto jornalismo faz referência as categorias de Ciro Marcondes Filho (2000), a saber: Pré-história (1631-1789): prevalência do modo artesanal, o jornal é semelhante ao livro; Primeiro jornalismo (1789-1830): com características político-literárias, com início do período de profissionalização e surgimento da redação; Segundo jornalismo (1830+-1900): considerado a imprensa de massa, em que surgem rotativas, telégrafo,

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telefone e jornalistas profissionais; Terceiro jornalismo (+-1900 a +- 1960): é o monopolista, com influência do mercado publicitário e das relações públicas; e, por último, o Quarto jornalismo (+- 1970 até a atualidade): caracterizado pela era eletrônica e interativa, de implantações tecnológicas, com alteração das funções dos jornalistas.

O quinto jornalismo, proposto por Soster (2007), é resultado da complexificação do processo de midiatização da sociedade. Jornalistas passam a buscar informações na Internet e a utilizar também como espaço de produção de notícias. Observa-se não só a interação entre jornalistas e consumidores, mas a busca pela participação desse receptor, com a criação de distintos espaços interacionais, como é o caso da inserção de empresas no Facebook. Ainda há a manutenção de portais de comunicação, mas os mesmos deixaram de ser um espaço organizacional por excelência, ou seja, as empresas passam a migrar (alguns de maneira mais tímida) para a ambiência das redes sociais.

A Internet é mais do que um suporte; é um espaço de trocas e de formação de contratos de leitura. Como destaca Borelli (2012), se antes a relação via ambiência digital limitava-se a troca de e-mails, sugestões ou comentários, atualmente, as possibilidades foram ampliadas e “[...] desafiam a capacidade do jornalista não só de conseguir lidar e manejar essas ferramentas a favor de sua rotina produtiva, como também compreender e refletir sobre a afetação do seu trabalho” (BORELLI, 2012, p.152).

Isabel Travancas (2011, p.31/32) também aproxima essa ambiência da prática jornalística, ao dizer que o repórter precisa estar conectado e saber utilizar as ferramentas que dispõe: “Quando o repórter chega à redação para mais um dia de trabalho, segue algumas rotinas: A primeira coisa que faz é ligar seu computador para ver se há mensagens do chefe ou dos colegas, recados telefônicos, informações para matérias [...]”. Também argumenta que: “É a geração que entrou nas redações já informatizadas quem melhor lida com os equipamentos, explorando bem suas vantagens, como ganho de tempo e rapidez de acesso às informações arquivadas” (TRAVANCAS, 2011, p. 24/25).

Como sugere Travancas (2011), o jornalista que melhor souber utilizar as distintas ferramentas postas no mercado, é aquele que terá mais oportunidade e estará mais adaptado

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a era da convergência tecnológica. Por convergência, Henry Jenkins entende como um processo tecnológico, social e cultural, fugindo de um determinismo no qual a técnica seria sua principal característica. Essa cultura da convergência é, para o autor, um fluxo de conteúdos “[...] através de múltiplos suportes midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam” (JENKINS, 2008, p. 27).

A convergência favorece a apropriação de distintas ferramentas para a construção da narrativa jornalística. Observa-se também o aparecimento de uma cultura participativa, no qual indivíduos passam a atuar em conjunto formando uma inteligência coletiva, que ocorre dentro do cérebro dos consumidores, como lembra Jenkins (2008).

O jornalismo, enquanto prática social, vai buscar nos dispositivos formas atraentes e eficazes de narrar o fato. Os dispositivos se apresentam enquanto personificadores do campo jornalístico, como jornais, webjornais, blogs, sendo “[...] não são apenas vetores de midiatização: eles também são afetados por sua processualidade [a midiatização]” (SOSTER, 2007, p.2) (grifo nosso).

Por dispositivo, entende-se lugares materiais e imateriais no qual o discurso está envolvido, de acordo com Maurice Mouillaud (1997). O dispositivo vai além de ser apenas um suporte, pois fala-se em matrizes no qual se inscrevem os textos. Textos, entendidos como qualquer forma de inscrição, seja linguagem, icônica, sonora ou virtual.

Em um sentido mais amplo, podemos considerar o dispositivo como a abrangência dos aspectos “[...] discursivos, normativos, simbólicos, funcionais e referenciais que incidem nas interações, no tempo e espaço, propiciadas pela conexão de suportes tecnológicos” (FERREIRA, 2009, p.90). Compreende-se que o dispositivo é sócio-técnico-simbólico (BORELLI, 2010), pois pré-dispõe os sentidos gerados a partir das suas processualidades, não podendo separá-lo do contexto social e da sociedade.

De modo complementar, Verón (2004) chama de dispositivo da enunciação, aquele que traça processos e forma discursos. Para ele, existem três tipos de dispositivos: a imagem

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de quem fala, ou seja, o enunciador; a imagem daquele a quem o discurso é dirigido, o destinatário e a relação entre o enunciador e o destinatário, propostas no e pelo discurso. É na relação entre eles que o contrato de leitura é construído.

Fausto Neto (2007) destaca que com a midiatização o contrato de leitura vai se moldando enquanto prática enunciativa, na qual o dispositivo, enquanto sujeito, coloca-se em contato com o leitor. O contrato de leitura é firmado através de discursos que buscam a criação e o fortalecimento de vínculos: “É o contrato de leitura que cria o vínculo entre o suporte e seu leitor” (VERÓN, 2004, p.219).

E é a linguagem que irá ajudar no processo de reconhecimento do leitor. Assim, propõe-se uma breve observação de como a narrativa jornalística era concebida e as afetações da mesma pelo processo de midiatização. Abaixo, inclui-se também a discussão sobre o uso de emotions como forma de expressão emocional (AMARAL, 2011) e de sedução (PINTO, 2002).

3. A Linguagem Jornalística na Era Midiatizada

A notícia, produto jornalístico, nasce de uma pauta que pode vir das ruas ou da sala de redação. Com a midiatização da rotina jornalística o segundo aspecto tem se sobressaído. O uso da Internet no espaço redacional apresenta-se não apenas como um suporte de divulgação e circulação das notícias do meio impresso, limitado por seu espaço gráfico e financeiro, mas em um dispositivo que estrutura, engendra e dá forma à narrativa jornalística, além de poder ser convertido em um meio de captação de informações e fontes. Assim, a Internet “[...] tem sido o principal dispositivo propulsor das mudanças vivenciadas atualmente no jornalismo e tem desafiado as organizações jornalísticas, especialmente os jornais, a reestruturarem o seu modo de operar” (BORELLI, 2012, p.155).

O texto jornalístico também passa por modificações estruturais. Por muito tempo, a pretensa objetividade, a formalidade, e lides (ou leads) eram padrões para a constituição de uma linguagem jornalística, mas com a transposição para o ambiente online houve a incorporação de novos sentidos ou mesmo reformulação de padrões existentes. Essa mudança de plataforma é chamada de distintos nomes, sendo um deles, o de jornalismo

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digital: “Jornalismo digital, então, pode ser precariamente definido como a disponibilização de informações jornalísticas em ambiente virtual, o ciberespaço, organizadas de forma hipertextual com potencial multimidiático e interativo” (PENA, 2008, p. 176).

Neste cenário, os critérios de noticiabilidade, também conhecidos como valores-notícia, continuam a ser estudados nas escolas de jornalismo e, inclusive, aplicados na construção da notícia de forma pré-assimilada pelos jornalistas. Valores como proximidade, interesse humano, novidade e atualidade são alguns dos exemplos, de acordo com Pena (2008).

Todas essas categorias são trabalhadas em cima de uma dita “objetividade jornalística”, que segundo Gary Tuchman (2002, p. 74) “[...] pode ser vista como um ritual estratégico, protegendo os jornalistas dos riscos da sua profissão”. É uma forma de se afirmar enquanto campo de saber, como postula Marcia Benetti Machado (2006, p.5): “[...] o jornalismo constrói sentidos sobre a realidade, em um processo de contínua e mútua interferência”.

A linguagem jornalística é capaz mobilizar os outros sistemas simbólicos e possui a competência da credibilidade e a legitimidade social. Para Machado (2006, p.2/3) o jornalismo é um discurso: “dialógico; polifônico; opaco; ao mesmo tempo efeito e produtor de sentidos; elaborado segundo condições de produção e rotinas particulares; com um contrato de leitura específico, amparado na credibilidade de jornalistas e fontes”. Para a autora, a linguagem não é um código transparente ou neutro, mas manipulados e transmitidos conforme o desejo de seus enunciadores.

O jornalista tem papel fundamental como ator, construtor e mediador da “realidade”, a partir da construção de narrativas. E no ambiente digital não é diferente. Pena (2008, p.183) atenta para o desafio do jornalismo digital, que é, segundo suas palavras: “[...] encontrar sua linguagem e democratizar suas interfaces”.

Contudo, nas redes sociais, observa-se um novo comportamento jornalístico, em que a objetividade e linguagem jornalística tradicional, compartilham o espaço com outras formas

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de publicação, no qual a emoção, através do uso de emotions, passa a figurar entre as postagens dos veículos de comunicação.

Os emotions, assim como as narrativas, fazem parte do “não-dito” (ECO, 1988), ou seja, depende do reconhecimento do receptor para uma possível significação, que pode ser múltipla e variada de acordo com o contexto histórico, social, econômico e político no qual o mesmo está emerso. Cabe ao leitor deste texto a iniciativa de interpretá-lo.

A apropriação dos emotions pelo discurso jornalístico estaria relacionada às categorias propostas por Pinto (2002), que são: os modos de mostrar, interagir e seduzir. No modo de mostrar interessa observar o universo sobre qual o texto fala – pela linguagem verbal e/ou a partir de outros sistemas semióticos, como a imagem. No quesito modalidade interativa, o objetivo é reconhecer os vínculos socioculturais, ou como Verón (2004) chama, o contrato de leitura com o receptor. Já o modo de seduzir visa identificar as estratégias persuasivas, seja positiva ou não, que é perpassada, muitas vezes, pelo que a hegemonia reconhece e/ou quer que seja reconhecida.

Entretanto, o valor da emoção é o que prevalece no uso dos emotions. É como forma de expressar os sentimentos que os jornalistas passam a utilizá-los nas chamadas das matérias (figura 1).

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Neste caso, observa-se que o uso da carinha [ :/ ] é uma maneira de demonstrar o descontentamento com algo que, por vezes, nem as palavras podem definir. Essa desaprovação diz respeito à goleada do time alemão sobre a seleção brasileira na Copa do Mundo 2014, com placar de 7X1. Também mostra como o jornal se posiciona ao tratar da seleção da Alemanha. Ela aparece como um time que não é reconhecido por quem fala, ou seja, “outro gol deles”, dando a ideia de um certo desprezo.

A emoção é usada também para comunicar e buscar a relação com o outro. Adélia Barroso Fernandes (2010, p.142), destaca que “[...] ingredientes emocionais podem resultar em efeitos mais completos e mais libertadores do que matérias que seguem apenas as regras do logo e da demonstração racional” [grifo da autora]. Claro que, neste caso, a autora se refere a elementos verbais, mas também pode ser aplicado ao uso de emotions.

Já Márcia Franz Amaral (2011) trabalha com a revelação da experiência e da emoção nos acontecimentos, tendo como foco as catástrofes. Nestes casos, a emoção é constitutiva do enquadramento. Para a autora, emoção é: “[...] uma experiência subjetiva, reação tanto psíquica como física ante um fato que se manifesta, subjetivamente, como sensação intensa” (AMARAL, 2011, p.66). O tom dramático tende a aparecer nestes tipos de cobertura: “Na matriz dramática, a linguagem é baseada em imagens e pobre em conceitos [...]” (AMARAL, 2011, p.71).

Fernandes (2010) destaca que esse tipo de apelo emocional faz com que o receptor sinta-se aderido ao argumento/informação dada, promovendo uma ligação entre os interlocutores de um contrato de comunicação. Para Fernandes (2010, p. 141) é necessário “[...] recolocar o pathos, ou seja, a emoção como uma condição necessária e não como uma contradição aparente do discurso do jornalismo” [grifo da autora].

A história precisa ligar os interlocutores, envolve-los e coloca-los de frente com o sentimento. “[...] o apelo à emoção pode ser justificado pela dramaticidade do acontecimento, pode ser utilizado para humanizar o relato, ou ainda produzir apenas espetáculo ou sensação” (AMARAL, 2011, p. 77). Tais características serão observadas no trabalho empírico, a seguir.

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Mas diferentemente do uso da linguagem verbal que pode aprofundar o “sensível” na narração de um fato, o uso de emotions tem seu espaço delimitado no jornalismo com as redes sociais (na maioria dos casos, por ser uma linguagem proveniente da web) e, por isso, acaba por ficar na superfície discursiva. O seu efeito de reconhecimento é imediato, pois trata-se de uma linguagem universal.

Para exemplificar os usos dos emotions no jornalismo, analisa-se a seguir o jornal Diário de Santa Maria, no Facebook, através de postagens do ano de 2014. Pretende-se, com esse trabalho empírico, mostrar como os jornalistas utilizam os emotions e para que fins.

4. A Personificação do Jornal Diário de Santa Maria no Facebook

O Facebook do Diário de Santa Maria foi criado no ano de 2009 e possui atualmente (14/07/2014) 205.584 mil curtidas. O jornal, fundado em 2002, pertence à família Sirotsky, do Grupo RBS (Rede Brasil Sul). Ele abrange a região centro-oeste do RS e teve implantação de website próprio, no ano de 2009, sendo a entrada no Facebook em 22 de agosto de 2011.

No início, as postagens eram, em sua maioria, a apresentação da capa do jornal ou da primeira página de seus segmentos, como o caderno Mix, de variedades. O uso de emotions pelo jornal ocorre desde 2012. A linguagem também vai sendo modificada. Em 2011 as chamadas eram mais diretas e “duras”, diferente de como o Diário se apresenta hoje para os leitores (figura 2). Durante a investigação, não observou-se emotions com emoções negativas, como tristeza, desapontamento, choro ou similares.

Destaca-se que a apropriação destes signos pelo jornal se dá em chamadas para o texto jornalístico, não na própria estrutura do mesmo. Contudo, a sua inserção representa uma modificação na linguagem tradicional, pois incorpora emoções e sensações por meio de um signo que tem a sua inteligibilidade construída a partir do reconhecimento. Abaixo segue a primeira postagem selecionada:

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Figura 2: Postagem informal do Diário com emotion “feliz”

Nesta postagem observa-se a construção de uma linguagem informal e próxima ao leitor, ao tentar estabelecer uma comunicação com o “Bom dia”. O uso do advérbio “felizmente” seria inapropriado na linguagem jornalística tradicional, mas neste caso atua como um elemento importante para o contrato de leitura. O mesmo ocorre com o adjetivo “ótima”. Nesta postagem, o jornal ainda responde à dúvida de uma leitora. Ou seja, além de chamar o leitor para que ele participe e comente, ele também encerra a comunicação de modo eficaz. Salienta-se que não é sempre que o jornal apresenta essa completude no contrato de leitura.

Na imagem a seguir (figura 3), além da autorrefencialidade, característica do que Soster (2007) chama do jornalismo midiatizado, há o link para o acesso ao portal do Diário de Santa Maria. O emotion utilizado é o mesmo da figura acima, porém a sua apropriação

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não é apenas de contentamento, mas de certo orgulho por fazer a ação, ou seja, é a organização jornalística que expressa a sua felicidade ao realizar o ato e o mostra aos leitores. Além disso, deixa a impressão de que o jornal é “humano”, ou seja, pratica boas ações em prol da comunidade e o emotion corrobora nessa significação. Será que essa “bola” vai a gol, comunidade?

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A próxima imagem (figura 4) faz referência ao portal do jornal. O emotion utilizado nesta postagem cumpre o papel de “acessa aí”, “vai lá”, ou seja, para ficar informado sobre essas chamadas, só olhando no portal. Mas o uso da famosa “piscadela” também pode ter um lado negativo, já que piscar o olho pode ser sinal de “malandragem”. A matéria chama o leitor para participar e aproveita-se do fato de que o tema tem grande valor notícia para a comunidade, sendo desta forma uma boa estratégia para levar o público das redes para o portal. O contrato de leitura passa a ser firmado, tanto pela relevância social da informação como pela ‘piscadinha’. Destaca-se que, socialmente, as pessoas geralmente realizam esse ato quando já possuem intimidade ou querem conhecer melhor alguém.

Figura 4: A piscadela do jornal Diário de Santa Maria

Na imagem a seguir (figura 5), tem-se a fotografia de uma mulher feliz e animada numa montanha russa. O emotion acompanha a empolgação com a imagem de um sorriso. A matéria não tem tanta relevância quanto a anterior, mas mostra o lado “Soft News” do jornal (que também se presta ao entretenimento). O Diário pede para que o leitor repare na alegria

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da senhora e ainda afirma que é “impossível” não se divertir com ela. Ou seja, ao ver a imagem e o emotion, o leitor é levado a acessar a foto e ver o vídeo, que o levará ao portal do Diário de Santa Maria. O emotion é usado, neste sentido, como um complemento da imagem, que irá despertar emoções no leitor, fazendo com que ele passe a “acreditar” que realmente possa ser um vídeo engraçado.

Figura 5: Uso do emotion como complemento da imagem

Observa-se que há, em todas as imagens, a dramatização em diferentes níveis. O acontecimento é acompanhado por emotions que tentam traduzir as emoções (como no caso

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da figura 5), mostrar a importância do jornal para a comunidade (figura 3), alcançar maior êxito no contrato de leitura (figura 2) ou chamar o leitor para acessar as outras plataformas (figura 4).

Desta forma, o dispositivo jornal é personificado por meio de uma feição sempre alegre, motivada, disposta e engraçada. O uso de emotions é mais frequente com o acompanhamento de uma linguagem informal, pois foi deste meio que surgiu. Contudo, ele também aparece (com menos frequência) em matérias mais tradicionais. Neste último caso, acredita-se que o uso de emotions ajuda na incorporação de uma nova linguagem jornalística na web, atravessada pela midiatização.

O emotion pode ser idêntico em diferentes publicações, mas o seu significado depende do reconhecimento do leitor e do contexto ao qual está inserido. Verón (2004) lembra que é o jogo de linguagem que irá construir a cumplicidade entre os interlocutores. Os efeitos dos discursos dependem dos contextos sociais. A circulação destes signos também influencia no modo como eles são percebidos.

5. Considerações Finais

A midiatização da prática jornalística apresenta grande impacto na gramática de produção dos jornalistas e na de reconhecimento dos leitores (VERÓN 2004). A Internet é uma criação muito relevante para a profissão, seja pela importância no processo de circulação das informações ou por facilitar o processo produtivo: busca, apuração e edição.

Dentro desta perspectiva, as redes sociais, como ambiente comunicacional, proporcionaram novas formas de contato com os leitores. O Facebook tornou-se uma ferramenta estratégica de divulgação, consolidação do contrato de leitura e captação de novos leitores. O uso de emotions serve também a estes propósitos, embora não seja ainda largamente difundido. A dramatização do acontecimento (AMARAL, 2011) está presente nesta ambiência.

A linguagem jornalística tradicional passa a dar espaço para novas formas de comunicação, em que os emotions fazem parte. Eles atuam na superfície discursiva e

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promovem uma informalidade ao conteúdo apresentado, podendo colocar em cheque a credibilidade da informação oferecida e a legitimidade da profissão. Isto poderá ter consequências para a tão polêmica “objetividade”.

No Diário de Santa Maria observou-se distintas expressões de sentimento, mesmo com a apresentação de signos idênticos. Os emotions também serviram ao propósito de personificação do jornal, ou seja, a forma como ele quer ser visto, como um dispositivo jovial, alegre, dinâmico e que procura estar perto do leitor por meio da “humanização” das emoções.

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Referências

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