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PERFIL CLÍNICO E FARMACOTERAPÊUTICO DOS DOENTES COM RENOVAÇÃO DE PRESCRIÇÃO SEM CONSULTA MÉDICA: ESTUDO DESCRITIVO

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PERFIL CLÍNICO E FARMACOTERAPÊUTICO

DOS DOENTES COM RENOVAÇÃO

DE PRESCRIÇÃO SEM CONSULTA MÉDICA:

ESTUDO DESCRITIVO

Maria de Fátima Proença

Farmácia Mendes, Covilhã e-mail: m.f.proenca@sapo.pt

Margarida Caramona

Faculdade de Farmácia, Centro de Estudos Farmacêuticos, Universidade de Coimbra

Andreia Ferreira

Farmácia Mendes, Covilhã

Ana Filipa Macedo

CICS - Centro de Investigação em Ciências da Saúde. Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior

Resumo

Introdução: A renovação de prescrição sem consulta médica (RPSCM) é um dos principais motivos de consulta em cuidados de saúde primários em Portugal. Não existe, no entanto, qualquer procedimento que regulamente a RPSCM e não se conhece a dimensão desta realidade nem o perfil de utentes ou os diagnós-ticos e medicamentos que mais frequentemente a motivam.

Objectivo: O objectivo deste estudo foi o de quantificar e caracterizar a RPSCM na região da Beira Interior de Portugal.

Métodos: Estudo observacional descritivo. A informação foi recolhida numa farmácia comunitária na Covilhã. Numa amostra de 513 utentes que sequencialmente apresentaram renovação de prescrição foram seleccionados os que apresentaram uma RPSCM.

Resultados e Conclusões: No total da amostra, 199 utentes apresentaram 200 RPSCM, permitindo esti-mar uma prevalência de RPSCM de 38,99 por cento (95% IC; 34,77-43,21). Os utentes que fazem RPSCM são maioritariamente mulheres (65,5 por cento), idosos (62 por cento) e reformados (74,5 por cento). A RPSCM deve-se sobretudo a patologias como a hipertensão arterial, dislipidemia, doença cardiovascu-lar, diabetes, insónia, depressão e osteoporose, que correspondem às áreas terapêuticas mais prescritas. A RPSCM aumenta a acessibilidade dos doentes à terapêutica e contribui para o uso racional dos medica-mentos, mas a monitorização desta intervenção é essencial para optimizar os resultados terapêuticos. É fundamental desenvolver um procedimento regulamentado de RPSCM, com envolvimento dos doentes e dos diferentes profissionais de saúde. A monitorização dos resultados terapêuticos associados à prescrição repetida constitui uma oportunidade de excelência para a incorporação das competências técnico-científi-cas do farmacêutico, que deve passar pela formação especializada e contínua.

Palavras-chave: Renovação de prescrição, receita médica renovável, terapêutica, centro de saúde, farmácia comunitária.

Abstract

Introduction: Repeat prescribing without medical consultation is a major reason for Primary Health Care demand in Portugal. There is no procedure to regulate RPSCM and the dimension of this reality is not known, nor the clinical and therapeutic profile of the patients that do RPSCM.

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Methods: We performed a descriptive observational study in a community pharmacy in Covilhã. In a sam-ple of 513 patients, who, in sequence, showed renewal of prescription drugs, were selected patients who had a RPSCM. All selected patients were subject to an interview to obtain demographic, clinical and thera-peutic information.

Results and Conclusions: In the whole sample, 199 patients presented 200 RPSCM, which allow to es-timate a prevalence of RPSCM of 38.99% (CI 95%; 34.77-43.21). Patients, who do RPSCM, were mostly women (65.5%), aged over 65 years (62.0%) and pensioners (74.5%). The conditions that most often led to RPSCM were hypertension, dyslipidemia, cardiovascular disease, diabetes, insomnia, depression and osteoporosis, also corresponding to the therapeutic areas with more RPSCM.

The RPSCM increases patient’s access to therapy and contributes to the rational medicines use. Monitoring this intervention is essential to optimize therapeutic results, leading to a better quality of life and reduced costs and waste in health care. It is essential the involvement of patients and different health professionals such as pharmacists who must go through specialized training.

Keywords: Repeat prescribing, repeat prescription, medication, health centre, community pharmacy.

1. Introdução

A Renovação da Prescrição sem Consulta Médica (RPSCM) constitui hoje em dia uma das principais razões de consulta em cuidados de saúde primários, ocupando o segundo lugar nos primeiros 20 motivos de consulta1.

A maior acessibilidade aos cuidados de saúde, os avanços tecnológicos ao nível do desenvolvimento de fármacos, a crescente comercialização e compar-ticipação de medicamentos (mesmo que de baixo valor terapêutico acrescentado), a par dum intenso marketing, estimulam o consumo e a criação artifi-cial de necessidades em saúde, contribuindo para a medicalização da sociedade2. No entanto, a

Organi-zação Mundial da Saúde (OMS) considera que mais de metade dos medicamentos não são utilizados ra-cionalmente, situação preocupante face ao aumento do consumo de medicamentos3. O envelhecimento

demográfico, o aumento da prevalência de doenças crónicas e a afirmação crescente duma medicina pre-ventiva tornam as intervenções terapêuticas cada vez mais complexas, ao mesmo tempo que aumentam a necessidade e racionalidade da exposição crónica e simultânea a múltiplos fármacos4.

Em Portugal, o Estatuto do Medicamento5 define

medicamentos de receita médica renovável e a Por-taria n.º 1501/2002, de 12 de Dezembro, regulamenta a receita médica, aprovando um novo modelo único de receita e introduzindo a receita renovável6. Estas medidas são consequências de uma estratégia de ra-cionalização no âmbito da prestação de cuidados de saúde e têm como objectivo aumentar a acessibili-dade dos doentes aos medicamentos de que necessi-tam para tranecessi-tamentos prolongados, sem prejuízo do

imprescindível controlo médico sobre a prescrição mas associando a vantagem de diminuir a congestão dos serviços de saúde e os custos inerentes ao proces-so. A RPSCM deve limitar-se a medicamentos de uso prolongado para doentes estáveis, devendo excluir-se desta forma de prescrição os medicamentos utilizados para tratamentos de curta ou média duração e medi-camentos cuja utilização prolongada pode originar o desenvolvimento de tolerância e/ou dependência7.

Em Portugal não se conhece nenhum procedimento protocolado para a RPSCM, com regras estabelecidas que tornem possível a sua execução reprodutível, efi-ciente e com a margem de erro mínima. O sistema de renovação de prescrição pode variar de acordo com as diferentes metodologias de trabalho dos vários centros de saúde (CS). Do mesmo modo, não exis-tem estudos sobre a dimensão desta realidade nem sobre o impacto da introdução do modelo de receita médica renovável em termos de indicadores clínicos dos doentes e aplicação ao modelo organizativo da prestação de cuidados de saúde.

Estima-se que a prevalência de RPSCM varie entre 29 e 75 por cento do total de prescrições7. A RPSCM

apresenta os benefícios inquestionáveis já referidos, não prescindindo, no entanto, do controlo médico sobre a prescrição repetida. A ausência de contacto entre o médico e doente pode aumentar o risco de falhas na prevenção, identificação e resolução de problemas relacionados com a medicação (PRM)7.

Vários estudos sugerem que 12 a 56 por cento dos doentes com renovação de prescrição em ambu-latório têm pelo menos um PRM8,9. Estas falhas da

farmacoterapia abrangem não só o uso de fármacos considerados desnecessários ou inapropriados, o

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uso de fármacos não custo-efectivos, a subutilização da medicação necessária, a utilização de medicação pouco segura (por ocorrência de reacções adversas e/ou interacções) e o uso inadequado do medicamento por parte do doente (falta de adesão à terapêutica)6.

A prevenção da iatrogenia medicamentosa em cuida-dos de saúde primários requer a adopção de estraté-gias múltiplas dirigidas às várias etapas do processo de uso do medicamento, desde a prescrição inicial, renovação de prescrição, dispensa, administração e monitorização de resultados terapêuticos10.

É, por isso, necessária uma monitorização regular e um controlo adequado da RPSCM, para garantir que o doente continua a receber o medicamento apropri-ado, efectivo e bem tolerapropri-ado, e que o continua a utili-zar de acordo com as indicações clínicas. Só assim a RPSCM pode garantir não só a utilização racional de medicamentos, como a adesão terapêutica.

Até à data não se conhece em Portugal a prevalên-cia de RPSCM, o perfil de doentes que fazem reno-vação de prescrição sem consulta médica, nem os diagnósticos e medicamentos que mais frequente-mente a motivam. O estudo proposto teve como ob-jectivo quantificar e caracterizar a RPSCM na região da Beira Interior de Portugal, contribuindo assim para aumentar o conhecimento desta realidade.

Material e Métodos

Tipo de Estudo e Selecção da Amostra

Realizou-se um estudo de prevalência, seguido de um estudo observacional do tipo descritivo, numa farmá-cia comunitária da cidade da Covilhã, durante o mês de Janeiro de 2011. O estudo incluiu todos os utentes que, sequencialmente, apresentaram uma renovação de prescrição médica destinada aos próprios. A RPSCM foi considerada sempre que o doente referiu que a prescrição havia sido produzida após pedido de renovação de terapêutica através duma consulta não presencial.

Tamanho da Amostra

Uma vez que a proporção de RPSCM em Portugal é desconhecida, o cálculo da dimensão da amostra para a determinação da prevalência de RPSCM foi efec-tuado com base na estimava de uma proporção de 50 por cento de RPSCM, para um intervalo de confiança de 95 por cento. Tendo em conta estes pressupos-tos, estimou-se ser necessário estudar uma amostra de pelo menos 384 utentes que apresentassem uma renovação de prescrição médica, para um erro de 5 por cento. A amostra estimada permitiria identificar cerca de 192 casos de utilização RPSCM,

posterior-mente caracterizados em termos clínicos e terapêu-ticos.

Recolha de Informação

Todos os utentes seleccionados foram esclarecidos sobre o objectivo do estudo e informados que a sua participação seria inteiramente voluntária, assegu-rando a total independência em relação ao serviço de dispensa de medicamentos na farmácia. Os utentes foram igualmente informados que os dados recolhi-dos seriam sempre tratarecolhi-dos de forma anónima e em conjunto. Após esclarecimento e obtenção de con-sentimento informado verbal, os utentes elegíveis fo-ram questionados no sentido de se obter informação sobre:

1. Perfil sociodemográfico: idade, género e situação profissional;

2. Perfil clínico: indicação clínica das prescrições re-novadas;

3. Perfil terapêutico: medicamentos com prescrições renovadas.

Os dados foram recolhidos por uma farmacêutica de-vidamente habilitada, através de entrevista estrutura-da, tendo em conta as variáveis definidas. Em termos de perfil terapêutico, os medicamentos cuja prescri-ção foi renovada foram codificados de acordo com a Classificação Farmacoterapêutica de Medicamen-tos11. Foram considerados passíveis de RPSCM todos

os medicamentos pertencentes aos grupos terapêuti-cos constantes na lista de tratamentos prolongados publicada pelo Ministério da Saúde5. Em termos de

perfil clínico, as indicações terapêuticas foram codifi-cadas de acordo com a Classificação Estatística Inter-nacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde, 10.ª revisão (CID-10), publicada pela OMS12.

Resultados

Prevalência de RPSCM

Este estudo incluiu uma amostra de 513 utentes de uma farmácia comunitária da cidade da Covilhã que, sequencialmente, apresentaram renovação de prescrição médica. Destes, 199 apresentaram 200 RPSCM, permitindo estimar uma prevalência de RPSCM de 38,99 por cento (95% IC; 34,77-43,21). Apenas dois utentes (0,4%) recusaram participar no estudo.

Perfil Sociodemográfico

A amostra estimada permitiu identificar 200 RPSCM, maioritariamente apresentadas por utentes do sexo feminino (65,5 por cento; n=131),

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cujas idades variaram entre os 17 e os 89 anos (média = 64,45 ± 13,94 anos). Dos doentes com RPSCM, 62 por cento apresentavam idade igual ou superior a 65 anos, dos quais 58 por cento tinham en-tre 65 e 84 anos.

O maior número de doentes (74,5 por cento; n=149) encontrava-se em situação de reforma. Observou-se uma elevada variedade de profissões entre a população activa, com 2,5 por cento de casos de desemprego.

Perfil Clínico

Nas 200 receitas de RPSCM registou-se prescrição para uma média de 1,95 patologias por doente (des-vio padrão ± 1,03) e um máximo de seis patologias diferentes para um mesmo doente (com duas recei-tas renováveis em simultâneo: uma com quatro me-dicamentos e outra com dois). A maioria dos utentes apresentou RPSCM com prescrição para uma pato-logia (44 por cento; n=88) ou duas patopato-logias (26 por cento; n=52) (Figura 1).

Figura 1- Total de patologias por doente

Nas receitas de RPSCM foram identificadas 334 categorias de diagnóstico-alvo de prescrição. As categorias de diagnóstico que mais frequentemente motivaram RPSCM corresponderam às doenças do sistema circulatório (99/334), doenças endócrinas (78/334), doenças mentais (57/334) e doenças do sis-tema músculo-esquelético (24/334).

Nas receitas de RPSCM foram identificadas 389 pa-tologias e perturbações-alvo de prescrição. Destas, as que mais frequentemente motivaram RPSCM foram a hipertensão arterial (HTA) (76/389), dislipidemia (49/389), doença cardiovascular (DCV) (40/389), di-abetes (30/389), insónia (27/389), depressão (23/389) e osteoporose (18/389) (Tabela 1). As 334 prescrições para as diferentes áreas de diagnóstico resultaram

na prescrição de 451 medicamentos, sendo mais fre-quentes os medicamentos para doenças do sistema circulatório (154/451), sistema endócrino (94/451) e doenças mentais (83/451).

Perfil Farmacoterapêutico

Neste estudo, os doentes RPSCM apresentam em média de 2,25 medicamentos por receita, o que cor-responde a 332 prescrições por área terapêutica, de acordo com a Classificação Farmacoterapêutica de Medicamentos10. Destas, as que mais

frequentemen-te motivaram RPSCM foram as do aparelho cardio-vascular (114/332), sistema nervoso central (70/332), hormonas e medicamentos usados no tratamento de doenças endócrinas (42/332), sangue (25/332) e apa-relho locomotor (24/332) (Tabela 2).

No que respeita aos grupos terapêuticos, dos 451 me-dicamentos prescritos, os que mais frequentemen-te motivaram RPSCM foram os anti-hiperfrequentemen-tensores (91/451), antidislipidémicos (52/451) e vasodilatado-res (25/451) (aparelho cardiovascular), psicofármacos (78/451) (SNC), antidiabéticos orais (32/451) (hor-monas e medicamentos usados no tratamento das do-enças endócrinas), antiasmáticos e broncodilatadores (19/451) (aparelho respiratório), medicamentos que actuam no osso e no metabolismo do cálcio (18/451) (aparelho locomotor) e antiácidos e antiulcerosos (15/451) (aparelho digestivo) (Tabela 2).

Dos 451 medicamentos prescritos, a maior frequên-cia registou-se nos grupos terapêuticos incluídos na área do aparelho cardiovascular (186/451), do sistema nervoso central (107/451), das hormonas e medica-mentos usados no tratamento de doenças endócrinas (44/451), no aparelho locomotor (26/451), sangue (25/451), aparelho digestivo (19/451) e aparelho res-piratório (19/451) (Tabela 2).

No presente estudo todos os fármacos cuja prescri-ção foi renovada pertenciam à lista de medicamentos utilizados em tratamentos prolongados do Ministé-rio da Saúde.

Discussão e Conclusões

A RPSCM é uma forma de intervenção terapêutica que previne o risco da descontinuidade dos tratamen-tos prolongados nos doentes crónicos, sem prejuízo do seu controlo clínico6. Neste estudo, a prevalência

observada da RPSCM foi de 38,99 por cento, resulta-do que confirma o facto da renovação de prescrição ser um dos principais motivos de consulta em cui-dados de saúde primários e revela o impacto desta prática na melhoria da acessibilidade dos doentes à terapêutica1.

100

80

60

40

20

0

1 2 3 4 5

88 52 47 11 2 44% 26% 23,5% 5.50% 1% N

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Tabela 1 - Perfil clínico dos doentes que apresentaram RPSCM

Classificação Internacinal de Doenças da OMS (CID-10)

Total de prescrições n (%) (em 334)

Doenças do sistema circulatório

Doenças/perturbações n (%) (em 389) Total de fármacos n (%) (em 451) Doenças endócrinas 99 (29,7) Arritmia / 2 (0,5) Doença cardiovascular / 40 (10,3) Insuficiência venosa / 7 (1,8) Hipertensão arterial / 76 (19,5) 154 (34,2) 78 (23,4) Diabetes / 30 (7,7) Dislipidemia / 49 (12,6) Doença da tiróide / 12 (3,1) 94 (20,8)

Doenças mentais 57 (17,1) Alzheimer / 2 (0,5) Ansiedade / 8 (2,1) Depressão / 23 (5,9) Esquizofrenia / 6 (1,5) Insónia / 27 (6,9) Psicose / 4 (1,1) 83 (18,4) Doenças do sistema músculo-esquelético 24 (7,2) Artrose / 1 (0,3) Doença inflamatória / 3 (0,7) Gota / 3 (0,8) Osteoporose / 18 (4,6) 26 (5,8) Doenças do sistema respiratório 19 (5,7) Alergia / 3 (0,7) Asma / 13 (3,3)

Doença pulmonar obstrutiva crónica/ 2 (0,5) Rinite Alérgica / 3 (0,7) 30 (6,7) Doenças do sistema digestivo 19 (5,7) Doença de Crohn / 1 (0,3) Doença gástrica / 5 (1,3) Protecção gástrica / 13 (3,3) 20 (4,4) Doenças do sistema nervoso 17 (5,0) Doença cognitiva / 1 (0,3) Dor crónica / 2 (0,5) Epilepsia / 8 (2,1) Enxaqueca / 1 (0,3) Parkinson / 5 (1,3) 21 (4,7) Doenças do sistema geniturinário

6 (1,8) Terapêutica hormonal de substituição (THS) / 1 (0,3) Hipertrofia benigna da próstata / 5 (1,3)

8 (1,8)

Doenças do ouvido 6 (1,8) Síndrome vertiginoso / 6 (1,5) 6 (1,3)

Doenças do sangue 4 (1,2) Anemia / 4 (1,1) 4 (0,9)

Doenças do olho 2 (0,6) Glaucoma / 2 (0,5) 2 (0,4)

Doenças da pele 2 (0,6) Micose / 2 (0,5) 2 (0,4)

Doenças do sistema imunitário

1 (0,3) Doença auto-imune / 1 (0,3) 1 (0,2)

Os doentes que fazem RPSCM são maioritariamente mulheres, com idade superior a 65 anos e reforma-dos, o que está de acordo com o perfil de doentes com maior prevalência de uso crónico de medicamentos observado noutros estudos realizados em

Portu-gal13,14. Sendo o uso crónico de medicamentos mais

prevalente nos idosos, mulheres, reformados e desem-pregados, a RPSCM é também mais frequente nesses doentes e naqueles com terapêutica anti-hipertensora ou psicofármacos13,8. Os doentes idosos nem sempre

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Tabela 2 - Perfil terapêutico dos doentes que apresentaram RPSCM

Áreas terapêuticas Total de prescrições n (%) 1 – Anti-infecciosos Grupos terapêuticos n (%) Total de medicamentos n (%) 2 (1,0) 1.2 – Antifúngicos / 2 (0,4) 2 (0,4)

2 – Sistema nervoso central (SNC) 70 (35,0) 2.11 – Medicamentos usados na enxaqueca / 1 (0,2) 2.13 – Outros medicamentos com acção no SNS-4 (0,9) 2.3 – Relaxantes musculares / 1 (0,2) 2.5 – Antiparkinsónicos / 9 (2) 2.6 – Antiepilépticos e antoconvulsivantes / 8 (1,8) 2.7 – Antieméticos e antivertiginosos / 6 (1,3) 2.9 – Psicofármacos / 78 (17,3) 2 (0,4)

3 – Aparelho cardiovascular 114 (57,0) 3.1 – Cardiotónicos / 4 (0,9) 3.2 – Antiarrítmicos / 3 (0,7) 3.4 – Anti-hipertensores / 91 (20,2) 3.5 – Vasodilatadores / 25 (5,5) 3.6 – Venotrópicos / 11 (2,4) 3.7 – Antidislipidémicos / 52 (11,5) 186 (41,2) 4 – Sangue 25 (12,5) 4.1 – Antianémicos / 4 (0,9) 4.3 – Anticoagulantes e antitrombóticos / 21 (4,7) 25 (5,5)

5 – Aparelho respiratório 15 (7,5) 5.1 – Antiasmáticos e broncodilatadores / 19 (4,2) 19 (4,2) 6 – Aparelho digestivo 18 (9,0) 6.2 – Antiácidos e antiulcerosos / 15 (3,3)

6.3 – Modificadores da motilidade gastrointestinal / 3 (0,7) 6.6 – Suplementos enzimáticos / 1 (0,2)

19 (4,2)

7 – Aparelho geniturinário 5 (2,5) 7.4 – Outros medicamentos usados em disfunções geniturinárias / 7 (1,6)

7 (1,6)

8 – Hormonas e medicamentos usados no tratamento das doenças endócrinas

43 (21,5) 8.3 – Hormonas da tiróide e antitiroideus / 11 (2,4) 8.4 – Insulinas, antidiabéticos orais e glucagom / 32 (7,1) 8.5 – Hormonas sexuais / 1 (0,2)

44 (9,8)

10 – Medicação antialergénica 6 (3,0) 10.1 – Anti-histamínicos / 6 (1,3) 6 (1,3) 11 – Nutrição 1 (0,5) 11.3 – Vitaminas e sais minerais / 1 (0,2) 1 (0,2)

14 – Medicamentos usados em afecções otorrinolaringológicas

5 (2,5) 14.1 – Produtos para aplicação nasal / 5 (1,1) 5 (1,1)

15 – Medicamentos usados em afecções oculares

2 (1,0) 15.4 – Medicamentos usados no tratamento do glaucoma / 2 (0,4) 2 (0,4)

16 – Medicamentos antineo-plásicos e imunomoduladores 2 (1,0) 16.3 – Imunomoduladores / 2 (0,4) 2 (0,4) Total 332 prescrições em 200 receitas 451 medicamentos em 200 receitas 12 – Correctivos da volemia e

das alterações electrolíticas 0 0

13 – Medicamentos usados em afecções cutâneas 0 0 17 – Medicamentos usados no tratamento de intoxicações 0 0 18 – Vacinas e imunoglobulinas 0 0 19 – Meios de diagnóstico 0 0

9 – Aparelho locomotor 24 (12,0) 9.1 – Anti-inflamatórios não-esteróides / 4 (0,9)

9.3 – Medicamentos usados para o tratamento da gota / 3 (0,7) 9.4 – Medicamentos para tratamento da artrose / 1 (0,2) 9.6 – Medicamentos que actuam no osso e no metabolismo de Ca / 18 (4)

44 (9,8) 12

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13

reúnem condições para distinguir necessidade, risco e benefício terapêutico, ou até sobre a própria neces-sidade de cuidados médicos, o que pode conduzir a um processo de medicalização excessiva ou, pelo contrário, à ausência de tratamento adequado15.

As categorias de diagnóstico que mais frequente-mente motivaram RPSCM foram as do sistema cir-culatório, endócrino e doenças mentais. Nestas áreas, as patologias que mais frequentemente motivaram RPSCM foram a HTA, dislipidemia, DCV, diabe-tes, insónia, depressão e osteoporose. Estes resulta-dos estão em conformidade com as estimativas da frequência de doenças crónicas em Portugal do úl-timo Inquérito Nacional de Saúde14,16,17. Destacamos

a elevada prevalência de RPSCM para a insónia, pa-tologia com causas tratáveis que devem ser procura-das, evitando assim o tratamento prolongado com benzodiazepinas, que aumenta o risco de depend-ência e tolerância. Também a elevada prevaldepend-ência de RPSCM para as DCV, principal causa de morte em Portugal, cujos doentes devem ser alvo de monitori-zação regular.

As áreas terapêuticas que mais frequentemente moti-varam RPSCM foram as do aparelho cardiovascular, sistema nervoso central, hormonas e medicamentos usados no tratamento de doenças endócrinas, san-gue e aparelho locomotor. Destas, os medicamentos que mais frequentemente motivaram RPSCM per-tencem ao grupo terapêutico dos anti-hipertensores, antidislipidémicos, vasodilatadores, psicofármacos, antidiabéticos orais, antiasmáticos, medicamentos que actuam no osso e no metabolismo do cálcio e me-dicamentos antiácidos e anti-ulcerosos.

Face aos resultados obtidos, podemos concluir que a RPSCM é prevalente, abrange sobretudo a popu-lação idosa reformada e é característica de patologias crónicas que frequentemente motivam o recurso a vários níveis de cuidados médicos. Estes factores difi-cultam o cumprimento e a conciliação da terapêutica, podendo tornar a RPSCM particularmente complexa e predispor a população que a ela recorre a um maior risco de PRM18. Em Portugal, estes riscos são ainda

maiores, uma vez que não existe um procedimento que regulamente a RPSCM. O actual sistema faz de-pender a RPSCM da iniciativa do doente e corre o risco de transferir para o doente a responsabilidade de monitorizar a sua condição clínica e resultados terapêuticos.

Este estudo apresenta limitações metodológicas. Ape-sar de a selecção dos participantes ter sido aleatória, a restrição do estudo aos utentes de uma única farmá-cia comunitária confere a esta amostra um carácter de conveniência. Este facto limita a

representativi-dade da população de risco, mesmo considerando a pequena proporção de recusa em participar (0,4 por cento). Adicionalmente, os dados obtidos sobre as patologias basearam-se na informação prestada pelos doentes, não tendo sido confirmados com o respec-tivo médico de família. Todavia, foi sempre pergunta-do aos pergunta-doentes se a pergunta-doença para a qual apresentavam prescrição tinha sido confirmada pelo médico. Os re-sultados apresentados devem, por isso, ser considera-dos de natureza exploratória, uma vez que necessitam de confirmação por amostragem aleatória e confir-mação da inforconfir-mação clínica na fonte de prescrição. Apesar das limitações referidas, os resultados deste estudo reforçam a importância de desenvolver um procedimento regulamentado de RPSCM para con-trolo do número e intervalo de prescrições repeti-das, em função da evolução clínica e dos resultados terapêuticos individuais. A RPSCM necessita de ser reconhecida como um procedimento com risco de erros de medicação. São necessários estudos que ca-racterizem os diferentes procedimentos de RPSCM e comparem os seus efeitos e implicações em termos de resultados clínicos e terapêuticos. Novos estudos devem também avaliar a ocorrência de PRM associa-dos aos diferentes modelos de RPSCM e investigar o efeito de diferentes intervenções na revisão da tera-pêutica sujeita a RPSCM.

A cooperação do farmacêutico na monitorização dos resultados terapêuticos associados à prescrição repetida tem revelado efectividade. Deve, porém, ser feita por profissionais qualificados e num con-texto de prevenção quaternária15. O farmacêutico

deve demonstrar competências para fundamentar a monitorização de resultados terapêuticos com base em princípios da proporcionalidade e da prevenção iatrogénica (os ganhos esperados devem superar os eventuais danos), evitando o excesso de interven-cionismo que pode originar resultados negativos em saúde15. Os sistemas electrónicos de prescrição e

dis-pensa de medicamentos podem revelar-se uma ferra-menta útil na programação das prescrições repetidas, na partilha de informação entre profissionais de saúde e consequente monitorização farmacoterapêutica19.

A RPSCM em Portugal revela lacunas que constituem uma oportunidade de excelência para a incorporação das competências e da autoridade técnico-científica do farmacêutico na monitorização farmacoterapêu-tica. Os farmacêuticos comunitários são profissionais de saúde com uma posição privilegiada no sistema nacional de saúde e com conhecimentos técnicos e científicos actualizados que lhes permitem assumir co-responsabilidade na monitorização dos resulta-dos terapêuticos.

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Referências Bibliográficas

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Referências

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