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A PARADIPLOMACIA: CONCEITO E INSERÇÃO DO PROFISSIONAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

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Academic year: 2021

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Ana Carolina Rosso de Oliveira

Bacharel em Relações Internacionais pela Faculdades Anglo-Americano, Foz do Iguaçu/PR

Resumo:

As relações internacionais sempre foram compostas por Estados soberanos os quais possuem a capacidade, de acordo com o Direito, de celebrar tratados, atuar em assuntos diplomáticos, estabelecer relações com demais, entre outras funções; além disso, possuem território, população, fronteiras definidas, tendo como obrigação a defesa dos direitos fundamentais, políticos, sociais, e econômicos dos seus cidadãos. Contudo, um tema bastante importante vem ganhando foco no cenário internacional, dando a atores subnacionais como governos locais e regionais, empresas, organizações internacionais a possibilidade de praticar atos e acordos internacionais pra resolver problemas em áreas específicas sem a intervenção do governo central, chamado paradiplomacia. Sendo assim, o objetivo deste artigo é conceituar a paradiplomacia analisando a repercussão do tema no Brasil, e a inserção do profissional de relações internacionais nesse contexto utilizando para isso revisão bibliográfica com base em artigos, teses e dissertações.

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INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas o mundo assiste um processo de intensificação das relações internacionais que muda de acordo com a situação do cenário internacional o qual é atualmente baseado na interdependência e nas tendências de integração. É neste cenário que está surgindo novos atores subnacionais com o objetivo de atuar em áreas com difícil respaldo governamental, principalmente no que se refere aos temas sociais.

Tendo isso em vista, o presente artigo visa analisar o conceito e o papel da paradiplomacia no âmbito das Relações Internacionais, observando a existência e o surgimento de novos atores subnacionais (estados federados, municípios, departamentos, etc.) que estão assumindo uma maior participação na política externa dos Estados, analisando assim a paradiplomacia no contexto brasileiro.

Ademais, as políticas externas dos Estados atuadas através do corpo diplomático ou mesmo por entes subnacionais necessitam de analistas em relações internacionais que tenham a capacidade de analisar o cenário internacional ajudando a complementar uma a outra, além de formular objetivos de política internacional e os caminhos pelos quais esses objetivos serão alcançados.

PARADIPLOMACIA: CONCEITO

Desde o final da Primeira Guerra Mundial as relações internacionais passaram a sofrer mudanças, pois outros atores começaram a surgir com capacidade de realizar acordos e fazer negociações em âmbito internacional, o que antes só era feito por Estados soberanos, caracterizando assim os processos transnacionais realizados, por exemplo, pelas empresas multinacionais e organizações internacionais, como paradiplomáticos.

Com o final da Guerra Fria e do sistema bipolar, a participação de novos atores, relações econômicas internacionais multipolares, unipolaridade militar, enfim, com a reestruturação do sistema internacional e conseqüentemente das relações internacionais, novos agentes ganham ênfase neste cenário, deixando que este não seja mais somente uma área de influência e troca de interesses entre Estados Nacionais, mas também de agentes subnacionais.

Com o desenvolvimento da globalização, surgem novas dificuldades, novos conflitos, e cada vez mais o Estado nacional atribui responsabilidades às instâncias subnacionais e flexibiliza papéis e atribuições, o que faz com que o poder seja direcionado aos agentes subnacionais para que haja uma melhor eficácia em resolver todas essas novas questões. (MOREIRA, SENHORAS E VITTE, 2009, p. 3)

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de paradiplomacia. A expressão foi trazida no meio acadêmico por Panayotis Soldatos para designar atividades diplomáticas realizadas por atores não-centrais no âmbito das relações internacionais (ROMERO, 2009).

A paradiplomacia é caracterizada por um processo de extroversão de atores subnacionais como governos locais e regionais, organizações internacionais, empresas multilaterais que negociam e praticam acordos visando obter recursos e atuando em áreas específicas onde não exista intervenção do governo estatal. (MOREIRA,SENHORAS e VITTAR, 2009)

Isso foi produto da globalização onde a evolução, os meios de comunicação geraram um questionamento no que se refere ao fim do território como espaço limítrofe entre um país e outro, além do mais a relação entre o interno e o externo e o surgimento de novos atores.

A partir de então relações transgovernamentais são marcadas por novos atores que são unidades subnacionais (estados e municípios), sociedade civil organizada e corporações multinacionais, além de estados-federados, províncias, prefeituras, departamentos, regiões, etc., sendo caracterizados como atores livres de soberania que possuem liberdade para buscar objetivos concretos e por vezes mais limitados.

Segundo Santana (2009), uma das principais características da paradiplomacia é a cooperação. As cidades, por exemplo, são meios eficazes de promover a cooperação internacional e o desenvolvimento local/regional sustentável. Isto porque elas podem trocar experiências em áreas como urbanismo, infra-estrutura, habitação e políticas públicas que tem por objetivo combater a pobreza e a violência.

Em conseqüência disso, ou seja, dos meios cooperativos, ocorre uma maior proximidade entre o poder público e a população para que haja a formulação de políticas de interesse comum atendendo, principalmente, a demanda da população.

De forma mais simples,

[...] os entes subnacionais, com seus tentáculos e ramificações, vão onde os governos centrais não conseguem alcançar, quebrando o distanciamento entre a política externa e os reais anseios da população. (SANTANA, 2009, p.42).

Essa cooperação internacional descentralizada contribui para que as desigualdades regionais diminuam trazendo benefícios ao Estado Nacional. Contudo, cabe ressaltar que a high politics (alta política), ligada a temas de segurança, paz e guerra, integridade territorial ainda ficam sob responsabilidade dos governos centrais; já a low politics (baixa política) que se refere a questões de interesse local como economia, turismo, intercambio cultural, meio ambiente, recursos, entre outros, podem ser conduzidas por entes subestatais, no caso brasileiro, os estados e municípios.

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Tendo isso em vista, a cooperação, segundo Santana (2009), ajuda na construção de uma imagem internacional dos estados e municípios. A participação destes em organismos internacionais, como em Mercocidades, pode ajudar na promoção dos mesmos, ademais os contatos informais ou formais com entidades estrangeiras públicas e privadas, visando resultados socioeconômicos e políticos ou qualquer outra dimensão externa, podem ser benéficos.

Entretanto, o surgimento de new voices (novos atores) leva a questionamento como esses novos atores se encaixam no ordenamento jurídico internacional.

A maioria dos doutrinadores advoga, em consonância com a escola realista, que apenas o Estado-nação é sujeito de DIP, e, portanto, apto a celebrar tratados, assumindo responsabilidades e gozando de direitos. Nesta afirmação está implícita a recusa em reconhecer as unidades subnacionais enquanto sujeitos de DIP, devido a suas especificidades. (SANTANA, 2009, p.44).

No Brasil a Constituição da República de 1988 não institucionalizou a paradiplomacia no ordenamento jurídico nacional. Dessa forma, a competência internacional de celebrar tratados, por exemplo, fica sob competência da União. Os contatos internacionais estabelecidos pelos atores não-centrais acontecem sob a informalidade. Mesmo assim, o desenvolvimento das atividades paradiplomáticas no país possui tendência de proliferação. As áreas e acordos abordados são o comércio, indústria, serviços, agroindústria, turismo, meio ambiente, educação, cooperação técnica, investimento, etc.

Nesse caso brasileiro o responsável por acordos e articulações realizados com outros países é o Ministério das Relações Exteriores, coordenando os governos subnacionais que surgem, para manter uma relação sem tensões entre o Estado- Nação e os subnacionais.

Mesmo com essa limitação constitucional brasileira, os municípios e estados tem participado com maior ativismo no que se refere à inserção internacional provocando, com isso, a criação de órgãos na administração pública, como é o caso de Santa Catarina onde criou-se a Secretaria Especial de Articulação Internacional. Em âmbito municipal, na cidade de Campinas em 1994, foi criado Secretaria Internacional de Campinas, que tem como finalidade a promoção comercial. (DIAS, 2010)

No país, as cidades de fronteira estabelecem relações fortes com outros buscando maior respaldo para seus objetivos e necessidades, revelando vantagens econômicas, sociais, culturais e políticas, como é o caso das cidades fronteiriças, por exemplo Foz do Iguaçu, dos países do MERCOSUL, estabelecendo acordos e negociações.

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PARADIPLOMACIA E O PROFISSIONAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Dentro dessa lógica de estabelecimento de relações entre entes subnacionais e sua atuação internacional se insere o profissional de Relações Internacionais. Tendo em vista a capacidade de um analista de RI participar tanto na formulação de política externa do governo nacional, quanto na análise de mercado ou de negócios em âmbito internacional de interesse dos governos não-centrais, existe uma correlação entre paradiplomacia e esse profissional.

O analista em Relações Internacionais tem como um dos papéis formular e conduzir as relações entre as nações na esfera política, cultural, econômica, social, militar, judicial ou comercial. O profissional, portanto, tem como foco analisar o sistema internacional, as possibilidades de negócio, investigar os mercados mais promissores e aconselhar os investimentos no exterior. Assim como pode trabalhar em ministérios, embaixadas, consulados, ONGs, empresas, instituições financeiras, e para atores subestatais ou subnacionais.

A paradiplomacia, como já mencionado, nada mais é do que a busca por aquilo que o analista em RI faz, ou seja, se complementam, pois o profissional irá analisar e propor tentativas para que os atores subnacionais atuem nas áreas pretendidas.

Nesse sentido,

[...] os agentes encarregados dessas negociações não são somente diplomatas, no sentido tradicional do termo, mas outros tipos de funcionários que, muitas vezes, atuam de maneira idêntica aos diplomatas. Entre estes podem ser incluídos: funcionários internacionais, especialistas e delegados a conferencias específicas, além de grande número de pessoas que são também responsáveis por algum aspecto de relações internacionais, e que não exercem a diplomacia como profissão, como os enviados especiais (que comparecem em eventos representando uma autoridade nacional); especialistas em áreas específicas (representantes de governos municipais que comparecem em Conferências internacionais como de habitação, meio ambiente, saúde, alimentação entre outras), aqueles encarregados de escritórios permanentes ou temporários em país estrangeiro (por exemplo, representações de municípios brasileiros no exterior para atrair turistas) e as missões especiais, que se deslocam para outros países por tempo determinado, para negociar um convênio ou para tratar de assunto interesse comum. São formas de relações internacionais que se convenciona denominar paradiplomacia, e que não são objeto de nenhum convênio ou tratado internacional até o momento. (DIAS, 2010, p. 2)

O estudo da paradiplomacia mostrou, portanto, que a construção de campos de poder internacional não se resume ao ministério das relações exteriores, pois novos atores acabam repercutindo sobre a questão a fim de estabelecer políticas regionais e internacionais. A coordenação de interesses e específicos dentro dessa lógica irá conciliar a ação internacional

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paralela de atores e governos subnacionais. Logo, a paradiplomacia não deve ser vista como um risco a soberania estatal, mas sim como uma diplomacia descentralizada que “incorpora ações paralelas e mais democráticas na formulação da política exterior”. (MOREIRA, SENHORAS, VITTE, 2009)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As transformações técnicas e econômicas que surgiram com a globalização e a democratização do poder estatal propiciaram o aparecimento dos atores subnacionais ou as new voices, no contexto da paradiplomacia, tendo como objetivo a maior participação internacional visto que vive-se num cenário mundial globalizado.

Nesse sentido, a concepção clássica de um Estado soberano acaba perdendo força, pois novos atores surgem com capacidade de estabelecerem ações e acordos e de conduzir uma política internacional informal antes só de obrigação estatal. Neste século, as fronteiras foram quebradas fortalecendo a integração regional e dando maior visibilidade principalmente para atores subnacionais como municípios, estados, províncias, entre outros. Ademais, são sujeitos sem personalidade jurídica internacional.

No Brasil a paradiplomacia encontra-se em evolução, estando em seu estágio inicial, mas os entes subnacionais estão se esforçando para conseguirem maior visibilidade no sistema externo e obterem maior m,legitimidade em suas ações.

É neste contexto que atualmente os analistas em relações internacionais se inserem na paradiplomacia como formuladores e condutores dos objetivos e necessidades dos entes subnacionais, procurando as diferentes formas e melhores maneiras pra atingir aquilo que se quer alcançar nas áreas econômica, social, cultural, ambiental, entre outras de atuação paradiplomática.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DIAS, Reinaldo. Um tema emergente nas Relações Internacionais: A paradiplomacia nas cidades e municípios. Revista Âmbito Jurídico, No 76, ago. 2010. Disponível em <http://www. ambito-juridico.com.br/pdfsGerados/artigos/8156.pdf> Acesso em: 17 de agosto de 2011. MOREIRA, F de A; SENHORAS, E. M.; VITTE, C. de C. S. Geopolítica da Paradiplomacia Subnacional: um estudo sobre a extroversão internacional dos municípios da rede de Mercocidades. Works.bepress. Disponível em <http://works.bepress.com/cgi/viewcontent. cgi?article=1121&context=eloi>. Acesso em: 15 agosto de 2011.

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ROMERO, Gabriel F. . Paradiplomacia no Brasil e no mundo: o poder de celebrar tratados dos governos não centrais. Revista Eletrônica Meridiano, Vol. 106, 2009. Disponível em: <http://www.red.unb.br/index.php/MED/article/viewFile/713/431> Acesso em: 16 agosto de 2011.

SANTANA, João L. O papel da paradiplomacia nas Relações Internacionais: a ascensão das unidades subnacionais num contexto mundial globalizado. Dissertação. Programa de Graduação em Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais. Bahia, Universidade Estadual de Santa Cruz, 2009. Disponível em <http://www.uesc.br/cursos/ graduacao/bacharelado/lea/papel_paradiplomacia.pdf> Acesso em: 16 de agosto de 2011.

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