Universidade de São Paulo Universidade de São Paulo
FFaculdade de aculdade de FFilosofa, Letras e ilosofa, Letras e Ciências HumanasCiências Humanas Departamento de T
Departamento de Teoria Literária eoria Literária e Literatura Comparade Literatura Comparadaa
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“á para o Diac!o"# á para o Diac!o"# $$ O morro dos ventos uivantesO morro dos ventos uivantes en%uanto o&ra dial'tica en%uanto o&ra dial'tica
in(cius Domin)os de *liveira in(cius Domin)os de *liveira
São Paulo $ +-. São Paulo $ +-.
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/elat0rio de %ualifca1ão apresentado ao /elat0rio de %ualifca1ão apresentado ao p
prroo))rraamma a dde e pp00ss22))rraadduuaa11ãão o ddoo De
Depapartrtamamenentto o de de TTeoeoriria a LLititererárária ia ee Literatura Comparada da Universidade de Literatura Comparada da Universidade de São Paulo
São Paulo
*rientador3 4arcelo
*rientador3 4arcelo Pen ParreiraPen Parreira
São Paulo 2 +-. São Paulo 2 +-.
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Índice Índice 5tividades reali6adas 2 p7 8 5tividades reali6adas 2 p7 8 5presenta1ão 2 p7 9 5presenta1ão 2 p7 9 :uest;es de pu&lica1ão 2 p7 < :uest;es de pu&lica1ão 2 p7 < Per
Percurso &io)ráfco e conte=to !ist0rico 2 curso &io)ráfco e conte=to !ist0rico 2 p7 >p7 > Painel cr(tico 2 p7 -
Painel cr(tico 2 p7 -
5 cr(tica materialista 2 p7 -8 5 cr(tica materialista 2 p7 -8
?strutura de tens;es e o&ra dial'tica 2 p7 ?strutura de tens;es e o&ra dial'tica 2 p7 -9-9 T
Tens;es do rens;es do realismo emealismo em O morro dos ventos uivantesO morro dos ventos uivantes 2 p7 -@ 2 p7 -@
/ealismo 2 p7 -> /ealismo 2 p7 -> A0tico 2 p7 +@ A0tico 2 p7 +@
* %ue di6em os cr(ticos 2 p7 8+ * %ue di6em os cr(ticos 2 p7 8+ B(veis do pro&lema 2 p7 8< B(veis do pro&lema 2 p7 8< Fantasma)oria 2 p7 .@
Fantasma)oria 2 p7 .@ Pitor
Atividades realizadas
Durante o primeiro semestre de min!a pes%uisa, cursei a disciplina do proessor 4arcelo Pen acerca de Henr Eames, 4ac!ado de 5ssis e o realismo7 Da disciplina pude aproveitar esclarecimentos a respeito do realismo, mas, acima disso, f6 uso das pes%uisas so&re a orma )0tico para a prepara1ão do tra&al!o fnal so&re The turn of the screw7
Bo se)undo semestre, cursei a disciplina do proessor Lui6 /enato 4artins, da ?C5, so&re Eac%ues2Louis David7 5proveitei muito as contri&ui1;es ri)orosas do proessor ao meu proeto e, para o seminário %ue serviu como avalia1ão fnal, estudei mais a undo as %uest;es de não2 confa&ilidade no discurso de LocGood, sua flia1ão com o /omantismo, e pude aproveitar as aulas de análise de %uadros para, num e=erc(cio de caráter mais livre e inormal, tentar criar pontes de compara1ão entre a pintura in)lesa e O morro dos ventos uivantes7 5ca&ei usuruindo desse
estudo mais do %ue eu mesmo ima)inava, pois os resultados oram do maior interesse e serão e=postos a%ui7
Cursei tam&'m a disciplina do proessor Homero 5ndrade so&re teorias do realismo, cua prepara1ão para o ensaio fnal tam&'m me oi muito Itil, no intuito de esclarecer min!as acep1;es de realismo e entender as rela1;es entre esse pro&lema e meu o&eto de estudo7
Durante toda min!a traet0ria de pes%uisa, ineli6mente, ainda não tive uma orienta1ão presente e constante %ue me permitisse recortar mel!or meus o&etos e a&orda)ens e aprimorar min!as análises, de orma %ue, at' a%ui, todo o meu tra&al!o se deu de orma mais ou menos solitária7 4eu primeiro orientador oi ausente de todas as ormas poss(veis, de modo %ue me vi na o&ri)a1ão de pedir por uma su&stitui1ão7 ?ssa ausência teve eeitos mais drásticos do %ue eu ima)inava %ue teria, mas a)ora á estou no camin!o de compensar o atraso7 4eu se)undo orientador se mostrou muito mais entusiasmado para com min!as ideias e
á demonstrou ter uma propensão muito maior de eetivamente me orientar, por'm, ineli6mente, para mim, ele, em seu primeiro semestre como meu orientador eetivo, teve %ue ir viaar ao e=terior por seis meses para reali6ar pes%uisa de p0s2doutorado, o %ue aca&ou adiando meus planos de iniciar o mestrado com um orientador Jpara valerJ7 * te=to a se)uir ' resultado de uma pes%uisa mais ou menos solitária, como á disse, mas não a1o disso culpa de seus eventuais deeitos e pro&lemas7 Bo entanto, veo uma certa necessidade de, pelo menos, dei=ar tudo isso claro7
5l'm das atividades descritas acima, co2or)ani6ei, participei de e apresentei alas em dois eventos na Letras2USP7 Um deles no se)undo semestre do ano passado3 o Seminário discente anual reali6ado pelo meu pro)rama de p0s7 * se)undo, neste semestre3 um evento independente c!amado 5larme de Kncêndio, %ue mo&ili6ou intelectuais de diversas áreas do pensamento, em especial proessores de Literatura, para pensar a contemporaneidade cultural, pol(tica e social no rasil e no mundo7
Apresentação
O morro dos ventos uivantes M->.@N ' uma o&ra e=tremamente
di(cil de se analisar7 Sua estrutura narrativa ' comple=a, suas ima)ens são su)estivas, muitas de suas passa)ens são eni)máticas, e a difculdade de sua orma, %ue mescla prounda ori)inalidade e arroado tra&al!o interte=tual, pode ser e%uiparada O dos romances europeus do in(cio e meados do s'culo 7 Q um romance idiossincrático por e=celência, ora dos padr;es de seu tempo, e um dos primeiros desafos do cr(tico %ue se aventura a estudá2lo ' ustamente compreender as matri6es e as especifcidades de tal idiossincrasia7 Se, no entanto, o vi's da cr(tica or materialista, como ' o caso a%ui, tudo se complica ainda mais, pois al'm do contato com o material tradicional de cr(tica literária, %ue au=ilia o processo de análise te=tual, a62se necessário o con!ecimento proundo da mat'ria !ist0rica %ue deu vida a essa orma di(cil7 5 !istorio)rafa da Kn)laterra e da ?uropa modernas, mesmo %uando nos concentramos nos momentos !ist0ricos mais pertinentes ao romance, ' monumental, assim como a &i&lio)rafa a respeito tanto do romance in)lês em )eral %uanto dos muitos temas e assuntos espec(fcos presentes na o&ra7 *u sea, são dois passos %ue, para serem &em dados, e=i)em não s0 acuidade anal(tica e sa)acidade cr(tica como tam&'m o escrut(nio de um )i)antesco material &i&lio)ráfco ao %ual nem sempre tivemos acesso total7
:uando se trata de pes%uisa acadêmica, um desafo ainda maior sur)e3 colocar todos os poss(veis resultados dessa investi)a1ão no papel7 Se ela&orar e or)ani6ar mentalmente toda essa análise á dá tra&al!o, delineá2la ret0rica e te=tualmente ' ainda mais la&orioso7 Como come1arR Como encontrar um &om ponto de partida e, a partir dele, desenrolar, em te=to escrito, de orma or)nica e or)ani6ada, nossa lin!a de racioc(nioR :uais %uest;es, dentre as muitas %ue sur)iram durante o processo interpretativo, servem mel!or para dar o pontap' inicial O
ree=ãoR 5 partir de e=periências pr'vias, pudemos perce&er %ue se a6 necessária, lo)o no in(cio, a &reve e=plica1ão de %uatro pro&lemas, dentre os muitos levantados por e a&ordados em nossa pes%uisa, pois isso permite, posteriormente, maior uide6 de e=posi1ão e análise7 * %ue aremos neste cap(tulo de apresenta1ão, então, '3 -N discorrer &revemente a respeito de al)umas %uest;es de pu&lica1ão, enati6ando, por'm, certas peculiaridades do processo +N um pe%ueno percurso &io)ráfco cuo o&etivo ' pensar a vida da autora em rela1ão com seu entorno social, e não omentar uma cr(tica de cun!o &io)rafsta %ue, no m(nimo desde o fm do s'culo K, não e6 avan1ar em %uase nada o de&ate a respeito da o&ra 8N delinear panoramicamente o painel cr(tico acerca do romance, principalmente no mundo an)lo2sa=ão M%ue ' onde mais se escreveu so&re eleN, para termos uma no1ão do %ue de interessante nos dei=ou a ortuna cr(tica dessa o&ra, e de onde podemos partir .N fnalmente esclarecer mel!or nosso pr0prio c!ão te0rico2cr(tico e esta&elecer nossos pr0prios crit'rios de análise e conceitos a serem utili6ados7 Somente a partir da(, nossa análise poderá se desenrolar de orma mais uida e ininterrupta7
Questões de publicação
Wuthering Heights Mt(tulo do romance em in)lêsN oi pu&licado num
s0 volume em de6em&ro de ->.@7 Trata2se do primeiro e Inico romance de ?mil rontV, %ue á !avia pu&licado, em ->.<, al)uns poemas em conunto com suas irmãs C!arlotte e 5nne, tam&'m escritoras e autoras de romances &astante con!ecidos, como Jane Eyre M)rande sucesso, !oe
clássico, de C!arlotte rontV, pu&licado poucos meses antes de O morro dos ventos uivantesN e Agnes Grey Mde 5nne rontV, a menos presti)iada
das irmãs oi pu&licado no mesmo volume %ue O morro dos ventos uivantesN7 * romance não oi pu&licado so& o nome de ?mil rontV, no
entanto a autora optou pelo pseudWnimo ?llis ell, como á !avia eito %uando da pu&lica1ão de seus poemas em conunto com as irmãs, %ue
tam&'
tam&'m m lan1alan1aram mão ram mão de de pseudpseudWnimoWnimos7 Somente em s7 Somente em ->9, %uando oi->9, %uando oi pu
pu&l&licicadada a a a sese)u)undnda a ededi1i1ão ão da da o&o&rara, , soso& & susupepervrvisisão ão de de C!C!ararlolotttte, e, aa aut
autorioria a em em nomnome e de de ?mi?mil l rrontontV, V, %ue á %ue á !av!avia ia alaleciecido, do, oi oi rerevelveladaada77 T
Trata2se de uma edi1ão em rata2se de uma edi1ão em %ue C!arlotte alter%ue C!arlotte alterou partes do teou partes do te=to ori)inal e=to ori)inal e incluiu um preácio cr(tico e uma nota &io)ráfca7 5s edi1;es comuns no incluiu um preácio cr(tico e uma nota &io)ráfca7 5s edi1;es comuns no mercado editorial !oe, ainda assim, são compostas do te=to ori)inal de mercado editorial !oe, ainda assim, são compostas do te=to ori)inal de ->.@, e '
->.@, e ' com ele, com ele, o&viamente, %ue tra&al!amos e tra&al!aremos duranteo&viamente, %ue tra&al!amos e tra&al!aremos durante toda nossa pes%uisa
toda nossa pes%uisa--77
T
Três rês atos atos de de interesse interesse sur)em sur)em a a partir partir da da &reve &reve descri1ão descri1ão eitaeita acima3 -N o uso de um pseudWnimo +N a pu&lica1ão do te=to completo, e acima3 -N o uso de um pseudWnimo +N a pu&lica1ão do te=to completo, e não em asc(culos, como era muito comum na Kn)laterra oitocentista 8N não em asc(culos, como era muito comum na Kn)laterra oitocentista 8N as altera1;es eitas por C!arlotte na se)unda edi1ão7 So&re este Iltimo, as altera1;es eitas por C!arlotte na se)unda edi1ão7 So&re este Iltimo, a
alalarrememos os no no teterrceceiriro o momomementnto o dedestste e cacap(p(tutulolo, , %u%uanando do esestitiveverrmomoss discorrendo so&re a cr(tica do romance7
discorrendo so&re a cr(tica do romance7
* uso de pseudWnimos não era incomum durante esse tempo, em * uso de pseudWnimos não era incomum durante esse tempo, em espec
especial ial mul!emul!eres %ue res %ue adotadotavam avam pseupseudWnimdWnimos os mascmasculinoulinos s MAeorMAeor)e )e ?liot?liot lo)o vem O menteN7 * caso das rontV
lo)o vem O menteN7 * caso das rontV,, no entno entanantoto,, ' ' rreveveleladadoror,, nono en
entatantnto,o, poispois, , a a papartrtir ir da da nonota ta &i&io)o)ráráfcfca a de de C!C!ararlolotttte, e, pupu&l&licicadada a nana se)unda edi1ão de
se)unda edi1ão de O morro dos ventos uivantesO morro dos ventos uivantes, em ->9, desco&re2se, em ->9, desco&re2se
%ue o uso dos pseudWnimos não correspondeu a um simples capric!o, %ue o uso dos pseudWnimos não correspondeu a um simples capric!o, mas a uma estrat')ia de %ue&ra de e=pectativas de certa parcela do mas a uma estrat')ia de %ue&ra de e=pectativas de certa parcela do pI&
pI&liclico o leileitortor++7 7 PPor or mamais is %u%ue e !o!ouvuvesesse se um um esespapa1o 1o enenororme me papara ra asas
mul!eres no campo da pu&lica1ão de romances
mul!eres no campo da pu&lica1ão de romances88, o e=emplo das irmãs, o e=emplo das irmãs
rontV nos mostra %ue, ainda assim, esperava2se da literatura delas, rontV nos mostra %ue, ainda assim, esperava2se da literatura delas,
1
1 BRONTË, E BRONTË, E Wuthering Heights - A Norton Critical Edition.Wuthering Heights - A Norton Critical Edition. Ric!ard " #unn Ric!ard " #unn
$ed% Ne& 'or(, )ondon* ++ Norton
$ed% Ne& 'or(, )ondon* ++ Norton X Compan, +87 .a ed7X Compan, +87 .a ed7
2
2 T!e sisters- custo. o/ T!e sisters- custo. o/ concealin0 t!eir 0ender be!ind .ale pseudon1.s, aconcealin0 t!eir 0ender be!ind .ale pseudon1.s, a
plo1 all t!e .ore necessar1 because o/
plo1 all t!e .ore necessar1 because o/ t!e indelicate, indecorous nature o/t!e indelicate, indecorous nature o/
t!eir turbulent
t!eir turbulent te2ts $EA3)ETON, Tte2ts $EA3)ETON, T 4T!e Bront5s6 4T!e Bront5s6 7n*7n* The English novel: anThe English novel: an
introduction
introduction London3 lacGell, +97NLondon3 lacGell, +97N pá)inaR pá)inaR
3
3 Como á ' &em sa&ido, escrever e pu&licar romances, nessa 'poca, não era Como á ' &em sa&ido, escrever e pu&licar romances, nessa 'poca, não era
e=atamente considerada uma tarea de )rande apuro e destre6a intelectual7 * romance e=atamente considerada uma tarea de )rande apuro e destre6a intelectual7 * romance era um )ênero popular, sem nen!um tipo de prest()io art(stico7 Da( a enorme %uantidade era um )ênero popular, sem nen!um tipo de prest()io art(stico7 Da( a enorme %uantidade de mul!eres escritoras na Kn)laterra dos s'culos KKK e K3 tratava2se de um dos Inicos de mul!eres escritoras na Kn)laterra dos s'culos KKK e K3 tratava2se de um dos Inicos espa1os de tra&al!o cere&ral e art(stico no %ual elas tin!am certa li&erdade de a1ão7 espa1os de tra&al!o cere&ral e art(stico no %ual elas tin!am certa li&erdade de a1ão7 Havia outros, como o do ma)ist'rio e o do tra&al!o de )overnanta, so&re os %uais Havia outros, como o do ma)ist'rio e o do tra&al!o de )overnanta, so&re os %uais alaremos adiante7
mul
mul!er!eres, es, cercertos tos tiptipos os de de temtemas as e e orormasmas7 7 * * rerecurcurso so ao ao pspseudeudWniWnimomo revela um deseo de %ue suas o&ras ossem lidas e criticadas em c!ave revela um deseo de %ue suas o&ras ossem lidas e criticadas em c!ave ““neneututrara#, #, á á %u%ue e nãnão o se se trtratatavava a de de “e“escscririta ta eemiminininana#, #, e e elelas as sasa&i&iamam disso
disso..77
So&
So&re a re a %ue%uestãstão o dos ascdos asc(cu(culoslos, , s0 conv's0 conv'm m dedestastacar o car o atato o dede OO mor
morro ro dos dos venventos tos uivuivantanteses não ter sido lan1ado conorme os moldes não ter sido lan1ado conorme os moldes
!e
!e)e)emWmWninicocos s de de pupu&l&licica1a1ão ão de de rromomananceces s MpMpu&u&lilicaca1ã1ão o seseririadada a emem peri0dicos mensais ou semanaisN devido O precariedade da rela1ão entre peri0dicos mensais ou semanaisN devido O precariedade da rela1ão entre as irmãs e o mundo editorial &ur)uês, e não por serem mul!eres, como á as irmãs e o mundo editorial &ur)uês, e não por serem mul!eres, como á dest
destacamoacamos s anteranteriormiormenteente997 7 ??sssa sa prprececararieieddadade e rrememetete e ao ao atato o ddee
mo
morararrem em em em cicidadade de pepe%u%uenena a e e teterrem em um um esestitilo lo de de vividada, , em em )e)eraral,l, provinciano7 5proveitemos o )anc!o e alemos mais a respeito da vida de provinciano7 5proveitemos o )anc!o e alemos mais a respeito da vida de ?mil rontV, pensando sua inser1ão no e rela1ão com o processo s0cio2 ?mil rontV, pensando sua inser1ão no e rela1ão com o processo s0cio2 !ist0rico in)lês de meados do s'culo K na
!ist0rico in)lês de meados do s'culo K na Kn)laterra7Kn)laterra7
8ercurso bio0r9:co e conte2to !ist;rico 8ercurso bio0r9:co e conte2to !ist;rico
?mil rontV nasceu em ->-> e morreu em ->.>7 * local de ?mil rontV nasceu em ->-> e morreu em ->.>7 * local de nascimento oi a pe%uena cidade de T!ornton, na re)ião de YorGs!ire, nascimento oi a pe%uena cidade de T!ornton, na re)ião de YorGs!ire, no
nortrte e da da KnKn)l)latatererrara7 7 5i5indnda a crcriaian1n1a, a, ooi i momorarar r em em HaHaoortrt!, !, cicidadadede ra6
ra6oavoavelmelmentente e prpr0=0=imaima, , popouco uco maimaior or do do %ue %ue T!oT!ornrntonton7 7 ?m ?m HaHaorort!t!
4
44Averse to personal publicit1, &e veiled our o&n na.es under t!ose o/ <urrer,4Averse to personal publicit1, &e veiled our o&n na.es under t!ose o/ <urrer,
Ellis, and Acton Bell= t!e a.bi0uous c!oice bein0 dictated b1 a sort o/
Ellis, and Acton Bell= t!e a.bi0uous c!oice bein0 dictated b1 a sort o/
conscientious scruple at assu.in0 <!ristian na.es
conscientious scruple at assu.in0 <!ristian na.es positively masculine positively masculine, &!ile, &!ile
we did not like to declare ourselves women !ecause -- without at that time
we did not like to declare ourselves women !ecause -- without at that time
suspecting that our mode o" writing and thinking was not what is called
suspecting that our mode o" writing and thinking was not what is called
#"eminine#-- we had a vague impression that authoresses are lia!le to !e
#"eminine#-- we had a vague impression that authoresses are lia!le to !e
looked on with pre$udice% we had noticed how critics sometimes use "or their
looked on with pre$udice% we had noticed how critics sometimes use "or their
chastisement the weapon
chastisement the weapon o" personality and "or their reward a o" personality and "or their reward a &attery&attery which which
is not true praise
is not true praise6 $BRONTË, < 4Bio0rap!ical notice o/ Ellis and 6 $BRONTË, < 4Bio0rap!ical notice o/ Ellis and Acton Bell6Acton Bell6
7n* BRONTË, E
7n* BRONTË, E op. cit.op. cit. Arios nossosNArios nossosN pá)inaR pá)inaR
5
5 5l'm disso, /amond Zilliams di63 JPodemos encontrar essa ideolo)ia [&ur)uesa\ em 5l'm disso, /amond Zilliams di63 JPodemos encontrar essa ideolo)ia [&ur)uesa\ em
muito da nova fc1ão de revista, a fc1ão pu&licada em s'rie nas revistas voltadas para a muito da nova fc1ão de revista, a fc1ão pu&licada em s'rie nas revistas voltadas para a am(lia na d'cada de ->.J7 *u sea, at' mesmo em rela1ão a %uest;es ideol0)icas, a am(lia na d'cada de ->.J7 *u sea, at' mesmo em rela1ão a %uest;es ideol0)icas, a fc1ão das irmãs rontV, %ue ideolo)icamente não corresponde completamente aos fc1ão das irmãs rontV, %ue ideolo)icamente não corresponde completamente aos valores e modos de vida &ur)ueses, não coaduna com a l0)ica da pu&lica1ão em valores e modos de vida &ur)ueses, não coaduna com a l0)ica da pu&lica1ão em asc(culos7 C7 ZKLLK54S, /7 JFormas da fc1ão in)lesa em ->.>J7 Kn3
asc(culos7 C7 ZKLLK54S, /7 JFormas da fc1ão in)lesa em ->.>J7 Kn3 A produção social da A produção social da escrita
escrita7 São Paulo3 ?ditora UB?SP, +-877 São Paulo3 ?ditora UB?SP, +-87 Pá)inaRPá)inaR 5 %uestão da ideolo)ia &ur)uesa e da5 %uestão da ideolo)ia &ur)uesa e da orma do romance será e=tensamente discutida nos cap(tulos a se)uir7
passou %uase a totalidade de seus 8 anos, vivendo uma vida reclusa e passou %uase a totalidade de seus 8 anos, vivendo uma vida reclusa e caseira
caseira<<7 7 Seu Seu paipai, , PPatratricGicG, , era era rereververendendo o an)an)liclicanoano, , reresposponsánsável vel pelpelaa
par
par0%u0%uia ia de de HaHaortort!7 !7 KmiKmi)ra)rante nte irlirlandandês, ês, do do nornorte te da da KrlKrlandanda, a, PPatratricGicG est
estudoudou u em em CamCam&ri&rid)e d)e e e tintin!a !a altalto o )r)rau au de de insinstrtru1ãu1ão7 o7 * * so&so&rerenomnomee ori)inal da am(lia era runt as ra6;es para %ue PatricG o ten!a mudado ori)inal da am(lia era runt as ra6;es para %ue PatricG o ten!a mudado são ainda o&scuras3 !á os %ue pensem %ue oi por admira1ão a um tal são ainda o&scuras3 !á os %ue pensem %ue oi por admira1ão a um tal du%ue de rontV, outros pensam %ue oi para esconder, em Cam&rid)e, a du%ue de rontV, outros pensam %ue oi para esconder, em Cam&rid)e, a ori
ori)em )em irlirlandandesa esa !um!umildilde7 e7 TTalvalve6 e6 as as duaduas s coicoisassas@@7 De %ual%uer orma,7 De %ual%uer orma,
como veremos no decorrer de nosso estudo, ' interessante mencionar a como veremos no decorrer de nosso estudo, ' interessante mencionar a ori)em irlandesa da am(lia e a troca de um so&renome simples por um de ori)em irlandesa da am(lia e a troca de um so&renome simples por um de aparência mais no&re, no conte=to da vida
aparência mais no&re, no conte=to da vida na prov(ncia7na prov(ncia7 5
5 am(lia am(lia rontV rontV oi oi marcada marcada pela pela morte morte precoce precoce por por doen1a7 doen1a7 5 5 mãemãe de
de ?m?milil, , 4a4ariria a rrananeellll, , %u%ue e veveio io de de umuma a aam(m(lilia a rara6o6oavavelelmementntee endin!eirada do sul da Kn)laterra, morreu %uando ?mil ainda era crian1a7 endin!eirada do sul da Kn)laterra, morreu %uando ?mil ainda era crian1a7 Suas duas irmãs mais vel!as morreram tam&'m crian1as7 Três dos seus Suas duas irmãs mais vel!as morreram tam&'m crian1as7 Três dos seus irmãos alcan1aram a ase adulta unto com ela, mas, a partir de ->.>, a irmãos alcan1aram a ase adulta unto com ela, mas, a partir de ->.>, a morte come1ou a alcan1á2los um por um7
morte come1ou a alcan1á2los um por um7 PrimeirPrimeiro oi PatricG, o %uarto emo oi PatricG, o %uarto em or
ordedem m de de nanascscimimenento to e e InInicico o !o!omemem m dedentntrre e os os flfl!o!os7 s7 SuSueeitito o dede as
aspipirara1;1;es es rromomnntiticacas, s, erera a viviciciadado o em em 0p0pio io e e &e&e&i&ia a mumuitito7 o7 PPinintatavava,, desen!ava e escrevia poemas, assim como suas irmãs7 ?mil, a %uinta, desen!ava e escrevia poemas, assim como suas irmãs7 ?mil, a %uinta, morreu no mesmo ano, poucos meses depois, por conta de uma doen1a morreu no mesmo ano, poucos meses depois, por conta de uma doen1a respirat0ria da mesma nature6a da tu&erculose Mdoen1a %ue levou muitos respirat0ria da mesma nature6a da tu&erculose Mdoen1a %ue levou muitos O morte durante todo o
O morte durante todo o s'culo K, inclusive poetas e s'culo K, inclusive poetas e artistas romntartistas romnticosN7icosN7 5nne, a ca1ula, morreu em ->.] C!arlotte, a terceira, em ->99 e a 5nne, a ca1ula, morreu em ->.] C!arlotte, a terceira, em ->99 e a morte do reverendo PatricG, em -><-, marca o fm da am(lia ranell morte do reverendo PatricG, em -><-, marca o fm da am(lia ranell runt^r
runt^rontV, pois não ele ontV, pois não ele não teve netos7não teve netos7 ?mi
?mil l e e seuseus s irirmãomãos s crcrescesceraeram m num num am&am&ieniente te intinteleelectuctual al muimuitoto vivo7 Possu(am uma vasta &i&lioteca em casa,
vivo7 Possu(am uma vasta &i&lioteca em casa, liam tanto )randes clássicosliam tanto )randes clássicos
6
6Durante toda sua vida nunca esteve em Londres ou em %ual%uer outra )rande cidadeDurante toda sua vida nunca esteve em Londres ou em %ual%uer outra )rande cidade
in)lesa7 Sua Inica via)em internacional oi para ru=elas, onde, unto com C!arlotte, in)lesa7 Sua Inica via)em internacional oi para ru=elas, onde, unto com C!arlotte, matriculou2se num internato para ampliar seus con!ecimentos ma)isteriais7
matriculou2se num internato para ampliar seus con!ecimentos ma)isteriais7
7
7''et, as Tet, as To. +inni/rit! points o. +inni/rit! points out, !is adopout, !is adoption o/ t!e tion o/ t!e na.e Bront5,na.e Bront5, &oasts &oasts
o aristocratic Cam&rid)e riends!ips and crptic !ints
o aristocratic Cam&rid)e riends!ips and crptic !ints o no&le ancestr s!o o no&le ancestr s!o !o!o
calculatedl !e cuts !is roots, to &ecome a fercel anti2Luddite reactionarJ7 M?5AL?T*B, calculatedl !e cuts !is roots, to &ecome a fercel anti2Luddite reactionarJ7 M?5AL?T*B, T
como te=tos mais contemporneos, como os de Scott, ron e a
!lac"wood#s aga$ine, %ue nessa 'poca era con!ecida por pu&licar
muitos contos de terror, al'm de á ter pu&licado muitos te=tos de poetas romnticos no in(cio do s'culo K7 Desde ovens, as irmãs á demonstravam interesse pelas artes3 desen!avam muito &em, escreviam poemas e, untas, criaram mundos antásticos M“Aondal# ' o mais con!ecido delesN, dos %uais desen!aram mapas e desenvolveram narrativas7
Sua inser1ão no mundo do tra&al!o ' e=tremamente di)na de comentário7 Por serem mo1as e2tre.a.ente instru(das e educadas, as três irmãs rontV se)uiram a carreira do ensino7 C!arlotte c!e)ou a tra&al!ar como )overnanta em mans;es sen!oriais, mas ?mil s0 tra&al!ou como proessora, atividade da %ual ela não )ostava7 * tra&al!o como proessora^)overnanta remete a uma dualidade &astante particular entre capital cultural e tra&al!o3 ao mesmo tempo em %ue se possui con!ecimento e intelecto e%uivalentes aos ou maiores do %ue os dos de mem&ros da classe dominante, ainda assim se está de&ai=o da autoridade deles en%uanto patr;es, de %uem se rece&e o salário como %ual%uer outro tra&al!ador contratado por eles>7 Bo caso e=clusivo da proessora de
escola pe%uena, como era ?mil, ainda %ue não se estivesse de&ai=o de um contrato de tra&al!o com os )randes proprietários, mant'm2se , a nosso ver, a dualidade entre intelecto^cultura Msuposto elemento de distin1ãoN e po&re6a material, a nosso ver7 5 dualidade ' um elemento constante em várias eseras da vida de ?mil rontV3 ser mul!er correspondia a uma vida de muita e=clusão na sociedade vitoriana, por'm ser uma mul!er educada e instru(da permitia, em certo n(vel, mais reali6a1;es Mou pelo menos mais possi&ilidadesN em rela1ão a outras mul!eres de menor )rau intelectual ser de cidade pe%uena e provinciana, ainda por cima em um lar de alto cultivo intelectual, colocava2a numa posi1ão entre os “avan1os# da modernidade industrial e cient(fca em curso durante o s'culo K, e a realidade “atrasada#, ou arcaica, da vida
8 ?m )eral, estamos pararaseando Terr ?a)leton, em&ora ele não use esses mesmos
termos e e=press;es7 </ EA3)ETON, T 4T!e Bront5s6 7n* The English novel: an introduction London3 lacGell, +97
no campo e de modos de produ1ão pr'2industriais7 5 pr0pria dualidade entre campo e cidade, de importncia (mpar na literatura e na cultura desse per(odo, está na &ase das %uest;es principais do romance, como veremos durante a análise7 Passemos a)ora a %uest;es de cr(tica7
8ainel cr>tico
Falar da cr(tica de O morro dos ventos uivantes ' di(cil, pois um
volume )i)antesco de livros, arti)os, teses e te=tos de vários tipos oram escritos a respeito dessa o&ra, de sua autora, ou, ao menos, levando um dos dois em considera1ão7 5%ui nosso intuito ' apenas c!amar aten1ão para elementos de certa importncia para nossa pr0pria análise]7
5 recep1ão inicial do romance oi de mista a ne)ativa7 5 maioria dos cr(ticos, não muito dierente de !oe, destacou sua or1a, erocidade, intensidade7 Tratava2se de uma o&ra, para utili6ar duas palavras muito recorrentes nesse primeiro está)io cr(tico, ori)inal, por'm estran!a7 *s cr(ticos mais moralistas atacaram ero6mente o %ue !oe se convencionou c!amar de mali)nidade presente no romance, cuo suposto compasso moral torpe e repulsivo oi duramente criticado-7 Talve6 o documento 9 4elvin Zatson, em “Wuthering Heights and t!e critics# M-].]N, empreende um
e=celente percurso panormico da cr(tica de O morro dos ventos uivantes, desde sua pu&lica1ão at' o come1o do s'culo 7 4uito dessa nossa &rev(ssima e=posi1ão se deve a ele7 C7 Z5TS*B, 47 “Wuthering Heights and t!e critics#7 Kn3 The Trollopian, vol7 8, n7 ., mar7 -].]7
10 ?m The !ront%s& the critical heritage, de 4iriam 5llott, !á uma compila1ão de te=tos
cr(ticos de diversos autores a respeito da o&ra, pu&licados em peri0dicos &ritnicos e norte2americanos %ue datam de de6em&ro de ->.@ a outu&ro de ->.>7 5l)uns dos comentários, a%ui tradu6idos e, ve6 ou outra, levemente alterados, são3 “!ist0ria desa)radável# “livro estran!o# “selva)em, conuso, desuntado e improvável# “estran!amente ori)inal# “tipo estran!o de livro# “[os leitores\ nunca leram al)o assim# “muito eni)mático e interessante# “!ist0ria ormidável# “!ist0ria estran!a, inart(stica# “[uma o&ra de\ poder e ori)inalidade# “um livro %ue nos captura com pun!o de erro# “um livro tão ori)inal %uanto este# “o livro ' ori)inal, ' poderoso, c!eio de su)estividade, mas ainda ' áspero# “%ue o livro ' ori)inal todos %ue o leram não
necessitam ser alertados# “não estamos a par de nada %ue ten!a sido escrito dentro da mesma cate)oria a %ue devem ser inclu(das o&ras como O morro dos ventos uivantes# “tudo %ue ' realmente &om nesse livro poderia ter sido mostrado num estilo mel!or, sem suas ima)ens revoltantes# “como um ser !umano pWde ter se esor1ado em escrever um livro como este sem cometer suic(dio antes de ter terminado uma dI6ia de cap(tulos, ' um mist'rio# “' uma com&ina1ão de deprava1ão vul)ar e !orrores não naturais#
cr>tico mais relevante desse está)io inicial de cr>tica sea o preácio de C!arlotte, %ue á mencionamos acima7 Bele vemos uma conivência total de C!arlotte com os ar)umentos dos cr>ticos da o&ra de sua irmã, com a dieren1a de %ue o intuito do preácio parece ser o de uma ustifcativa, %uase um pedido de desculpas, pelo ato de o romance ter sido escrito da%uela orma, tanto ' %ue ela alterou certas passa)ens do te=to ori)inal, supostamente para compensar as “al!as# da o&ra de sua irmã--7
Com o passar dos anos, ar)umentos cr(ticos mais sofsticados sur)iram7 * interesse pelo ro.ance de ?mil aumentou muito, mas ainda assim !avia %uem criticasse o ro.ance por sua %ualidade t'cnica rIstica7 4uitas oram as cr(ticas apontando apontaram a má %ualidade da escrita propriamente dita do te=to, suas irre)ularidades e alta de verossimil!an1a-+7 Houve cr(ticas elo)iosas, sem dIvida, destacando o
tra&al!o em cima das pai=;es e da tra)icidade contida na o&ra, como se esta tivesse alcan1ado um caráter de transcedentalidade raro ao )ênero romance7 *utra tendência constante, como &revemente apontado acima, oi a da cr(tica de cun!o &io)rafsta, %ue procurou e=plicar al)uns dos eni)mas propostos pelo romance a partir de detal!es &io)ráfcos, sempre muito especulativos e sem muita validade o&etiva7
“o&ra de )rande !a&ilidade# “[sua prosa\ irrompe em cenas %ue c!ocam mais do %ue atraem# Mesta Iltima o&serva1ão oi escrita por C!arlotteN7
11 4+it! re0ard to t!e rusticity o/ -+ut!erin0 ?ei0!ts,- 7 ad.it t!e c!ar0e, /or 7
/eel t!e @ualit1 't is rustic all through 't is moorish and wild and knotty as a root o" heath Nor &as it natural t!at it s!ould be ot!er&ise= t!e aut!or bein0
!ersel/ a native and nurslin0 o/ t!e .oors $% (Wuthering Heights( was hewn in a wild workshop with simple tools out o" homely materials6 $BRONTË, <
4Editors pre/ace to t!e ne& edition o/ Wuthering Heights6 Kn3 /*BT_, ?7op' cit' Arios nossos7N
12 F7/7 Leavis, em seu A grande tradição M-].>N, á no come1o do s'culo , opta por não
colocar O morro dos ventos uivantes em seu cnone do romance in)lês por ra6;es desse mesmo tipo7 O autor diz* 4T!e 0enius, o/ course, &as E.il1 7 !ave said not!in0 about Wuthering Heights because t!at astonis!in0 &or( see.s to .e a kind o" sport 7t .a1, all t!e sa.e, ver1 &ell !ave !ad so.e inCuence o/ an essentiall1
undetectable (ind* s!e bro(e co.pletel1, and in t!e .ost c!allen0in0 &a1, bot! &it! t!e Dcott tradition t!at i.posed on t!e novelist a ro.antic
resolution o/ !is t!e.es, and &it! t!e tradition co.in0 do&n /ro. t!e
ei0!teent! centur1 t!at de.anded a plane.irror reCection o/ t!e sur/ace o/ -real- li/e6 $3ri/os nossos% reerência completaR 5 pr0pria presen1a do romance no cnone literário in)lês !oe deu2se mais pelo amontoado de polêmicas %ue acumulou desde sua pu&lica1ão do %ue pelo pouco prest()io acadêmico propriamente dito %ue o&teve7
Foi no s'culo , no entanto, %ue a o&ra come1ou a )an!ar mais prest()io art(stico7 5s análises se aprimoraram teoricamente e, devido a mudan1as morais e ideol0)icas ocorridas na pr0pria sociedade europeia, uma nova orma de apreciar o romance sur)iu, destacando elementos de
interesse at' então não notados ou plenamente considerados7 5 o&ra despertou o interesse de muitos surrealistas, %ue deram novo sentido interpretativo a aspectos %ue, no s'culo K, pareciam não uncionar, por não condi6erem aos valores &ur)ueses da 'poca, ainda mais se tratando de um romance escrito por uma mul!er7 Ba Fran1a, a !ist0ria das irmãs rontV 0an!a men1ão no clássico eminista O segundo se(o M-].]N, de
Simone de eauvoir, e O morro dos ventos uivantes 0an!a estudo
e=tenso de Aeor)e ataille, em A literatura e o mal M-]9@N, ou sea,
desenvolve2se um interesse pela o&ra das rontV para al'm das ronteiras de pa(ses de l(n)ua in)lesa7 Um dos campos do sa&er %ue mais alterou de orma mais si)nifcativa a percep1ão da cr>tica oi, defnitivamente, a psicanálise, %ue preenc!eu de si)nifcado novo a %uestão dos deseos, dos son!os, dos antasmas, da violência e outras pai=;es %ue estão ortemente presentes na narrativa7 Bo decorrer do s'culo at' os dias de !oe, com o advento e multiplica1ão das correntes cr>ticas em estudos literários, aumentou, e muito, o volume de cr>tica a respeito de O morro dos ventos uivantes, sempre !etero)êneo, no entanto3 e62se mais cr>tica
psicanal(tica, mas tam&'m eminista, desconstrucionista, p0s2colonial, mar=ista etc7 Falemos, então, especifcamente acerca da cr>tica
materialista em torno do romance e de como nossa pr0pria cr>tica
pretende se)uir seus passos e avan1ar em rela1ão a ela7
A cr>tica .aterialista
Tenta2se esta&elecer o v(nculo entre a realidade aparentemente a2 !ist0rica f)urada na narrativa de O morro dos ventos uivantes e os
pormenores s0cio2!ist0ricos in)leses propriamente ditos desde o in(cio do s'culo 7 C7 P7 San)er, autor de “T!e structure o Wuthering Heights#
M-]+<N-8, um dos primeiros ensaios verdadeiramente inuentes a respeito
do romance, demonstrou plausivelmente a correspondência entre a le)alidade da posse de propriedades na Kn)laterra do fm do s'culo KKK e in(cio do s'culo K M%uando parte do romance se passaN e o processo empreendido pela persona)em Heat!cli` para tomar posse das propriedades onde se passa o enredo da o&ra7 5rnold ettle, no cap(tulo so&re O morro dos ventos uivantes presente no primeiro volume de seu
livro An introduction to the English )ovel M-]9-N-., e6 a%uilo %ue
poder(amos c!amar de cr(tica mar=ista “vul)ar#, isto ', ao mesmo tempo em %ue recon!ece a rela1ão entre orma literária e mat'ria !ist0rica, procura compreendê2la do ponto de vista do ree=o, ou sea, o enredo, as persona)ens e o espa1o do romance se conf)uram mimeticamente de acordo com a realidade s0cio2!ist0rica de seu tempo7 5l'm da proposta metodolo)icamente pro&lemática, ettle, assim como muitos dos cr(ticos de vi's idealista anteriores a ele, e %ue ele critica, não conse)uiu escapar por completo do ul)amento moral, a6endo de sua leitura um momento importante, por'm pouco avan1ado no m&ito da ortuna cr(tica de O morro dos ventos uivantes7
Foi /amond Zilliams, contemporneo de ettle, %uem deu o primeiro passo na dire1ão de uma cr(tica materialista sofsticada do romance de ?mil rontV7 ?m seu &reve cap(tulo so&re C!arlotte e ?mil rontV, presente em The English novel from *ic"ens to +awrence M-]@N-9,
ele perce&eu %ue, para captar o processo !ist0rico imanente O orma literária, ' preciso aerir tam&'m o pr0prio movimento das pai=;es e dos aetos delineado na narrativa, al)o %ue inspirou proundamente nossa pes%uisa7 ?le tam&'m dei=ou pe%uenas, mas interessantes contri&ui1;es ao estudo dessa o&ra em The country and the city M-]@8N, “Forms o
?n)lis! fction in ->.># M-]>8N, e em al)umas das entrevistas compiladas em ,olitics and letters M-]@]N7
13 DAN3ER, < 8 T!e structure o/ Wuthering Heights 7n* Hogarth Essays )')
)ondon* ?o0art! 8ress, FGHI
14 JETT)E, A E.il1 Bront5 Wuthering Heights6 7n* An introduction to the
English novel Ne& 'or(* ?arper Torc!boo(s, FGIK
15 +7))7ALD, R <!arlotte and E.il1 Bront5 7n* The English novel "rom
Seu disc(pulo Terr ?a)leton oi %uem nos dei=ou a contri&ui1ão cr(tica mais rica so&re O morro dos ventos uivantes7 Primeiramente em yths of power M-]@9N, o&ra totalmente dedicada ao estudo dos romances
das irmãs rontV7 Bo cap(tulo so&re o romance de ?mil, ele a6 uma análise e=austiva das contradi1;es en)endradas na o&ra, e do interesse %ue elas )eram-<7 ?m “Heat!cli` and t!e )reat !un)er# M-]]<N, ele de&ate
a %uestão irlandesa presente no romance atrav's das poss(veis ori)ens da persona)em Heat!cli` -@7 Por fm, em “T!e rontVs# M+9N-> e na
introdu1ão Os novas edi1;es de yths of power M-]>@, +9N-], ?a)leton
oi capa6 de retomar aspectos de seu tra&al!o, a&ordar novas %uest;es, e a6er a cr(tica dos aspectos pro&lemáticos de seus ensaios anteriores acerca de O morro dos ventos uivantes, sempre pensando o movimento
das diversas contradi1;es %ue o romance instaura7
5 terceira e Iltima contri&ui1ão materialista de interesse, a meu ver, ' a da norte2americana Banc 5rmstron), em ensaios presentes em
*esire and domestic -ction M-]>@N+ e .iction in the age of photography
M-]]]N+-7 Beles, Banc a&orda %uest;es intri)antes presentes em O morro dos ventos uivantes, como o deseo, o poder, a se=ualidade, e at' mesmo a ra1a Mmaterial car(ssimo O cr(tica p0s2modernaN, sem perder de vista o ri)or anal(tico e a conte=tuali6a1ão !ist0rica7
Ba esteira das contri&ui1;es desses três intelectuais, procuramos desenvolver nosso estudo, articulando análise te=tual prounda e detal!ista e ree=ão !ist0rica a contrapelo, para usarmos a e=pressão de Zalter enamin7 5inda %ue muito pautados em seus te=tos, ima)inamos, entretanto, termos sido capa6es de ela&orar nossos pr0prios conceitos e ormular nosso pr0prio aporte te0rico !etero)êneo, %ue, em )eral,
16 EA3)ETON, T Wuthering Heights 7n* ,yths o" power
17 EA3)ETON, T ?eat!cli and t!e 0reat !un0er 7n* Heathcli and the great
hunger )ondon* erso, FGGP
18 EA3)ETON, T T!e Bront5s 7n* The English novel - an introduction 19 EA3)ETON, T 7ntroduction to t!e anniversar1 edition= EA3)ETON, T
7ntroduction to t!e second edition 7n* ,yths o" power
20 ARLDTRON3, N ?istor1 in t!e !ouse o/ culture 7n* *esire and domestic
ction O2/ord* O8, FGM
21 ARLDTRON3, N Race in t!e a0e o/ realis.* ?eat!cli-s obsolescence 7n*
constitui2se do material dei=ado pela tradi1ão da cr(tica literária materialista an)lo2sa=ã Mda %ual Zilliams e ?a)leton á são )randes e=poentesN, alemã e &rasileira7
Estrutura de tensões e obra dialStica
Bo in(cio de nosso processo de análise, omos acumulando %uest;es li)adas aos componentes estruturais do romance Mnarrador, persona)ens, enredo, ima)ens etc7N7 ?m separado, elas pareciam nunca encontrar respostas precisas, mas em c!ave panormica, todas elas pareciam pertencer a um mesmo pro&lema ormal, tin!am al)o em comum, a sa&er, uma tensão em o)o7 Desde a conf)ura1ão do oco narrativo O constru1ão do espa1o, tanto a caracteri6a1ão das persona)ens como o percurso )eral do enredo, tudo parecia remeter a uma tensão, a um descompasso pulsante, %ue, por sua ve6, dava vida ao corpo )eral do romance, servia2l!e de or1a motri67 Fi6emos desse elemento, o da tensão, nosso ponto de partida, %ue or)ani6aria e unifcaria o todo de nossa ree=ão e de nossas inda)a1;es7
Se pensarmos %ue toda o&ra literária ' um edi(cio mantido por uma estrutura ormal particular, a de O morro dos ventos uivantes ', defnitivamente, uma estrutura de tens;es, por mais contradit0rio %ue isso possa soar7 5 pr0pria ima)em a %ue o termo alude, a de uma estrutura Mal)o r()ido e ortifcadoN composta por tens;es Mconceito %ue remete a volatilidade e pulsãoN, nos serve2nos muito &em em sua contraditoriedade7 5 nosso ver, nosso conceito de estrutura de tens;es corresponde ao modo como Terr ?a)leton descreveu o romance de ?mil rontV, a sa&er, uma o&ra dial'tica7 Bas palavras do autor,
“Wuthering Heights is less a middle2o2t!e2road
t!an a dialectical wor" , !ic! allos us to see
!at partial ustice t!ere is on &ot! sides it!out ceasin) to insist on t!eir tra)ic incompati&ilit, or
ondl trustin) t!at t!ese to cases add up to some !armonious !ole#++
/amond Zilliams di6 al)o semel!ante3 JKts [t!e novelbs\ interaction, its e=traordinar intricac o opposed and moderated &ut still a&solute eelin)s, is an active, dnamic process3 not /alance /ut dialectic3
contrariesJ+87
* %ue pretendemos a6er a%ui ' ustamente analisar O morro dos ventos uivantes partindo do pressuposto de %ue se trata de uma o&ra
dial'tica, de %ue sua estrutura ormal ' uma estrutura de tens;es7 Cada momento de nossa análise procurará desvelar os meandros da constru1ão dessas tens;es nos diversos planos de si)nifca1ão do te=to7 Beste está)io da pes%uisa, o %ue temos preparado '3 -N uma análise das tens;es do realismo no romance, %ue consideramos serem o pr0prio undamento da estrutura de tens;es da o&ra +N uma análise da conf)ura1ão comple=a do ponto de vista no romance, pensando principalmente o discurso pro&lemático da persona)em LocGood7
5o fnal, o %ue esperamos compreender mel!or ' o modo como essas muitas tens;es f)uradas no romance e conf)uradas em sua estrutura são, na verdade, resultado de um processo de redu1ão estrutural, para alarmos como 5ntonio Candido, em %ue o interno da orma da o&ra literária ' a transmuta1ão do e=terno da mat'ria !ist0rica7 Ksto ', as tens;es ormais da o&ra correspondem Os tens;es !ist0ricas vividas na Kn)laterra do s'culo K, principalmente %uando pensamos nos eeitos da /evolu1ão Kndustrial, na )entrifca1ão do campo e nos impasses do processo de moderni6a1ão em )eral, do ponto de vista da prov(ncia e dos oprimidos7 Passemos, então, Os análises7
22 EA3)ETON, T T!e Bront5s 3ri/os nossos
Tensões do realis.o e. 0 morro dos ventos uivantes
5s tens;es do realismo em O morro dos ventos uivantes constituem
o %ue acreditamos ser o pr0prio undamento da estrutura de tens;es da o&ra7 5 nosso ver, todas as outras tens;es presentes no romance são sustentadas e at' mesmo ener)i6adas por essa tensão undamental, á %ue se trata de uma %uestão de )ênero, cate)oria %ue en)lo&a todos os componentes ormais, temáticos e estil(sticos da o&ra literária7 * principal, mas não Inico elemento %ue se coloca em contradi1ão ao do realismo no romance de ?mil rontV, sem dIvida, como á atestado por muitos estudiosos, ' o do romanesco^)0tico+.7 ?ssa tensão, lon)e de
acidental, a6 parte de um conunto ainda maior de tens;es no campo da fc1ão in)lesa por volta de ->.>, como descreve /amond Zilliams+97 De
acordo com o autor, por mais %ue se sai&a %ue ' por volta de ->.> %ue sur)e um realismo &ur)uês caracter(stico na fc1ão, “o %ue o &ur)uês lia não era fc1ão &ur)uesa#, “a &ur)uesia [lia\ fc1ão predominantemente aristocrática#, al)o %ue, no plano da vida social, correspondia a um “entrela1amento comple=o e central para a cultura in)lesa dessa 'poca entre MsucintamenteN os aspectos aristocráticos e &ur)ueses dos sistemas de vida e valor#MBotaRN7 ?ssa fc1ão aristocrática ', no entanto, residual, se)undo Zilliams, pois a partir da d'cada de . do s'culo K come1a a ser menos escrita, por mais %ue sea ainda muito lida pelo pI&lico &ur)uês+<7 ?m&ora Zilliams não ale em romance )0tico %uando se reere 24 /omanesco a%ui serve como tradu1ão para o portu)uês de “romance#, %ue, em
in)lês, di6 respeito a um conunto de ormas literárias precedentes ao romance &ur)uês Mem in)lês, “novel#N, e %ue por ele oram, de certo modo, dominadas, ainda %ue não completamente, como comprova, al'm de outros atores, a e=istência do romance )0tico, )ênero no %ual persistem as ormas do romanesco e %ue, ustamente por isso, estão colocados em certo )rau de sinon(mia em nosso te=to, por mais %ue sai&amos %ue am&os não correspondem O mesma coisa7 Da%ui em diante usaremos o termo )0tico %uase %ue e=clusivamente, at' por%ue o romanesco, em O morro dos ventos uivantes, unciona %uase sempre a partir dos aspectos espec(fcos do )0tico7
25 ZKLLK54S, /7 “Formas da fc1ão in)lesa em ->.>#7 Kn3 A produção social da escrita7
aos tipos de fc1ão aristocrática, acreditamos %ue tal )ênero possa ser um deles, tendo em vista estas coloca1;es de David Punter3
“Aot!ic attends to a set o pro&lems concernin) relations &eteen &our)eoisie and aristocrac M777N all t!e di`erent Ginds o fction [t!at\ ere popular in t!e later ei)!teent! centur MN plaed upon t!e remarGa&l clear ur)e o t!e middle class to read a&out aristocrats M777N [)ot!ic novels\ ere ritten or middle2class audiences MN t!e all deal primaril in ima)es o t!e aristocrac#+@
/amond Zilliams coloca O morro dos ventos uivantes como um
dos diversos romances %ue, de al)uma orma, emer)iram Mele ala em Jormas emer)entesJN no campo da produ1ão literária por conta desse entrela1amento entre JresidualJ Maristocrático, e %ue a%ui entendemos como )0tico, no campo da fc1ãoN e JdominanteJ M&ur)uês, e %ue a%ui entendemos como realistaN, sem, no entanto, corresponder a nen!um desses tipos de produ1ão7 4as ' necessário esclarecer, primeiro, o %ue, nesta pes%uisa, entendemos como realismo e como )0tico7 Somente ap0s esses dois momentos preliminares, discorreremos acerca de como esses dois elementos entram em tensão no romance de ?mil rontV7
Realis.o
“* de&ate atual, ou mel!or, a ausência de de&ate, so&re o realismo ', em essência, um tipo de luta de &o=e com um oponente ima)inário, onde os )olpes nunca acertam por%ue o rin)ue ' amplo demais, não !á cordas#
Kan Zatt+>
:uando se utili6a, em cr(tica literária, o termo “realismo#, ' necessário, antes de %ual%uer coisa, sa&er se a o&ra estudada possui,
26 * au)e da produ1ão de fc1ão )0tica ocorre no fnal do s'culo KKK7 ?m meados do
s'culo K, %uando ?mil pu&lica seu romance, o )ênero á está em decadência7
27 8NTER, # 4Docial relations o/ 0ot!ic :ction6 7n* AERD,#, <OOJ, ",
8NTER, # $or0% 0omanticism and ideology 7 London3 /outled)e, -]>-7
28 Z5TT, K7 “Can!estro e deteriorado3 as realidades do realismo#7 Literatura e Sociedade,
eetivamente, al)o a ver com tal termo7 Lem&remo2nos de %ue não se trata de uma a&stra1ão universal e trans2!ist0rica aplicável a %ual%uer o&eto em %ual%uer conte=to7 “/ealismo# ' um conceito polissêmico %ue possui dierentes acep1;es de acordo com as dierentes áreas do sa&er nas %uais está inserido Mflosofa, !ist0ria da arte, teoria literária etc7N7 Cada uma dessas acep1;es possui matri6 !ist0rica, conte=tos de utili6a1ão, desenvolvimentos te0ricos particulares, %ue Os ve6es se entrecru6am7 Bo caso dos estudos literários, a no1ão de realismo está proundamente li)ada ao conte=to de ascensão, consolida1ão e crise da orma romance na ?uropa durante os s'culos KKK, K e in(cio do 7 Bão %ue sea totalmente desca&ido o uso do termo em rela1ão a outros o&etos literários, de outros per(odos !ist0ricos, mas o cuidado para com a !istoricidade do conceito e sua rela1ão eetiva com o o&eto investi)ado ' o %ue torna um estudo de vi's materialista, como este, r()ido e preciso teoricamente7
:uest;es de representa1ão literária de determinados aspectos da realidade material, e=traliterária, não necessariamente pertencem ao campo conceitual do realismo, por mais %ue as duas coisas esteam proundamente interli)adas7 Com eeito, a no1ão de realismo sur)iu na tentativa de pro&lemati6ar e, muitas ve6es, solucionar tais %uest;es7 ?=ploremos este pro&lema !ist0rico mais a undo7
* conceito de realismo )an!ou importncia no campo da pintura e, posteriormente, do romance em meados do s'culo K na Fran1a, como á ' &em sa&ido7 Tornou2se escola e se espal!ou por diversas re)i;es do )lo&o, )erando polêmica e dividindo as opini;es de muitos intelectuais e artistas %ue se pun!am ou contra ou a avor desse /ealismo com “r# maiIsculo7 Correspondia a princ(pios art(sticos espec(fcos de representa1ão da realidade e da vida social M%ue constituem o !oe c!amado “Baturalismo#N e advo)ava em prol de um contato supostamente mais direto e sem media1;es entre o&ra de arte e mundo concreto, material7 ?ra, nas palavras de /amond Zilliams,
“M777N um m'todo ou uma atitude na arte e na literatura $ primeiro uma e=atidão e=cepcional de
representa1ão, e mais tarde um compromisso de descrever os acontecimentos reais e mostrar as coisas tal como elas e=istem#+]
Bo come1o do s'culo , no entanto, em decorrência de muitos atores s0cio2!ist0ricos %ue não e=ploraremos a%ui, seu si)nifcado soreu uma importante transorma1ão3 para al'm de m'todos prescritivos de representa1ão Mna pintura ou no romanceN, o realismo passou a di6er respeito a mIltiplas e diversas possi&ilidades de representar artisticamente um “todo# real, sea psicol0)ico sea !ist0rico2social, ainda %ue as prescri1;es est'ticas do Baturalismo não ossem se)uidas7 ?stas, inclusive, perderam &oa parte de seu prest()io, uma ve6 %ue os artistas perce&eram %ue a tal tentativa de rompimento com as media1;es entre vida real e o&ra de arte não podia ser eetivamente empreendida7 Bas palavras de Terr ?a)leton, em te=to conciso, por'm e=tremamente esclarecedor a esse respeito,
4Artistic realis., t!en, cannot .ean represents t!e &orld as it is, but rat!er represents it in accordance &it! conventional realli/e .odes o/ representin0 it But t!ere are a variet1 o/ suc! .odes in an1 culture, and in accordance &it! conceals a .ultitude o/ proble.s +e cannot co.pare an artistic representation &it! !o& t!e &orld is, since !o& t!e &orld is is itsel/ a .atter o/ representation68
Ba mesma esteira, /amond Zilliams di6 %ue
“* eeito da representa1ão veross(mil, a reprodu1ão da realidade, ', na mel!or das !ip0teses, uma conven1ão art(stica espec(fca e, na pior, uma alsifca1ão %ue nos a6 tomar como reais as ormas da representa1ão#
8-29 ZKLLK54S, /7 “/ealismo#7 Kn3 ,alavras1chave& um voca/ul2rio de cultura e sociedade7
Dão 8aulo* Boite.po, HKKM Mpá)inaRN
30 EA3)ETON, T 48or( <!ops and 8ineapples6 7n* )ondon Revie& o/ Boo(s,
)ondres, vol HP, nU HK, HKKV !ttp*WW&&&lrbcou(WvHPWnHKWterr1 ea0letonWpor(c!opsandpineapples
5ntonio Candido, em te=to &astante elucidativo acerca do realismo !eterodo=o de 4arcel Proust, adianta os termos do “novo realismo#3
“M777N a la&oriosa descri1ão realista constr0i uma ima)em colorida e animada, mas no undo não passa de um acImulo de pormenores %ue valem pouco en%uanto possi&ilidade de compreensão eetiva7 ?la estende aos seres a mesma mirada e=terna com %ue se diri)e aos o&etos, apresentando2os como unidades autWnomas de si)nifcado Inico, %ue produ6em uma simples aparência de sentido#
“M777N talve6 a realidade se encontre mais em elementos %ue transcendem a aparência dos atos e coisas descritas do %ue neles mesmos7 ? o realismo, estritamente conce&ido como representa1ão mim'tica do mundo, pode não ser o mel!or condutor da realidade#8+
/amond Zilliams resume &em os novos parmetros da %uestão3
“5 realidade a%ui ' vista não como uma aparência estática, mas como o movimento de or1as psicol0)icas, sociais ou (sicas o realismo ', assim, um compromisso consciente de compreendê2las e descrevê2las#88
Por fm, citemos Banc 5rmstron), so&re %uem alaremos mais um pouco lo)o adiante, para arrematarmos isso %ue estamos c!amando de realismo J!eterodo=oJ em compara1ão a um realismo JtradicionalJ3
7 call realis. an1 representation t!at establis!es and .aintains t!e priorit1 o/ t!e sa.e social cate0ories t!at an individual could or could not actuall1 occup1 Realis. so de:ned can be distin0uis!ed /ro. &ritin0 t!at reCects or re/ers to people and t!in0s t!e.selves +!ile (no&led0e o/ an individual .ade it possible to identi/1 !is or !er i.a0e &!en one sa& it, t!at i.a0e rarel1 i/ ever 0ave one access to t!at individual- c!aracter, .ind, or soul T!ere &as, in t!is 32 C5BDKD*, 57 “/ealidade e realismo Mvia 4arcel ProustN#7 Kn3 0ecortes7 São Paulo3
Compan!ia das Letras, -]]87
crucial sense, no suc! t!in0 as a per/ect cop1 $% science &as discoverin0 to its dis.a1 t!at even p!oto0rap!s could not 0uarantee a onetoone relations!ip bet&een i.a0e and obXect, :ction &as insistin0 t!at i.a0es did in /act provide an accurate .ap o/ t!e &orld 7n contrast to t!e notion o/ realis. 7 a. pursuin0, literar1 realis. in t!e si.ple and restrictive sense is &ritin0 t!at re/ers to t!e cate0ories o/ t!e visual order as i" t!ose cate0ories &ere indeed t!e t!in0s and people t!e1 label
Realis. t!at re/ers to t!e &orld as t!in0s $/or e2a.ple, t!e (ind o/ realis. &e :nd in t!e scienti:c literature o/ t!e period% &as an entirel1 dierent (ind o/ &ritin0 and .uc! less i.portant to literar1 production t!an t!e (ind o/ realis. t!at re/ers to t!e &orld as i.a0e
YDo.eZ novels carr1 out t!e &or( o/ realis. all t!e .ore eectivel1 b1 virtue o/ t!eir departures /ro. it ?ence t!e proli/eration o/ /antastic sub0enres durin0 a period (no&n /or realis.8.
Bo decorrer do s'culo , com o desenvolvimento da Teoria Literária, esse novo ol!ar em rela1ão ao realismo atin)iu o interesse de uma )ama enorme de cr(ticos Mos á mencionados acima %ue o di)amN, %ue ampliaram ainda mais o alcance do conceito e comple=ifcaram ainda mais a %uestão7 Desde os ormalistas russos at' os pensadores dos estudos culturais, passando pela cr(tica mar=ista e pelo p0s2 estruturalismo, não !ouve %uem não se interessasse, em maior ou menor n(vel, pela %uestão do realismo, e assim ' at' !oe7 Um desses cr(ticos oi o in)lês Kan Zatt, cuo interesse maior residia não no realismo em si, mas em sua cone=ão com a ascensão da orma romance na Kn)laterra setecentista7 Zatt, em sua o&ra2prima, The rise of the novel M-]9@N, retomou a no1ão tradicional de realismo e a reormulou a fm de entender %ual era, e como uncionava, o imperativo de verossimil!an1a %ue
34 ARLDTRON3, N Race in t!e a0e o/ realis.* ?eat!cli-s obsolescence 7n*
dierenciava a orma romance de ormas literárias precedentes7 Bas palavras do pr0prio, tratava2se de compreender as
“transorma1;es flos0fcas, sociais, econWmicas e educacionais %ue aetaram tanto os autores como o pI&lico leitor, transorma1;es %ue condu6iram a uma ênase so&re o indiv(duo, so&re a particularidade do tempo e do espa1o, so&re o universo material e a vida cotidiana3 todos esses, entre outros atores !ist0ricos, criaram uma versão su&stancialmente nova da anti)a preocupa1ão da literatura com a verossimil!an1a#89
?le ela&orou, então, um novo conceito, “realismo ormal#, %ue, a nosso ver, ' uma das tentativas mais refnadas de compreender, de orma )eral, uma s'rie de procedimentos narrativos maoritariamente comuns aos primeiros romances “realistas# in)leses7 ?sse conceito não s0 ilumina o campo do romance in)lês do s'culo KKK como tam&'m esclarece todo um conunto de caracter(sticas %ue viria a defnir o realismo romanesco europeu do s'culo K7 Lon)e de se ade%uar O acep1ão tradicional de realismo, o realismo ormal de Zatt ', na verdade,
“&astante independente do tipo de considera1ão envolvida com o realismo como nome de uma determinada escola literária interessava2me menos ainda o realismo como uma doutrina cr(tica consciente %ue supostamente proessa %ue a fc1ão ' ou deveria ser uma reprodu1ão oto)ráfca ver&al da realidade, ou uma imita1ão direta, não mediada, da vida#8<
Há muitos elementos importantes e di)nos de discussão no te=to de Zatt8@ Mcomo, por e=emplo, a undamental %uestão da ênase na
e=periência do indiv(duo presente no romanceN, mas tra&al!aremos a%ui somente com o %ue mais nos interessa dentro do campo do realismo ormal, a sa&er, o %ue o autor c!ama de “particularidade da descri1ão#7 Dierentemente da descri1ão no mito, na poesia 'pica e no romanesco
35 +ATT, 7 op. cit 36 'dem
37 +ATT, 7 4Realis. and t!e novel /or.6 7n* The rise o" the novel: studies on
MJromanceJN, no romance realista o detal!e do particular, !ist0rica e socialmente especifcado, era crucial7 ?ssa descri1ão particulari6ada se aplicava a uma s'rie de elementos do romance, mas %ueremos c!amar aten1ão somente a estes3 persona)ens, atrav's do destino determinado pelas pr0prias a1;es e do uso do nome pr0prio espa1o, composto de am&ientes (sicos “verdadeiros#8> e tempo, ordenado cronolo)icamente,
pautado em uma l0)ica de causa e conse%uência, onde passado inuencia presente %ue inuencia uturo7 Todos sempre especifcados, demarcados, nomeados, particulari6ados, de acordo com os padr;es de reerência do pI&lico leitor &ur)uês, ou sea, a verossimil!an1a na orma romance operava conorme as no1;es de verdade e realidade nutridas por esse pI&lico7 *utra e=pressão interessante de Zatt ' “presentation o &acG)round [apresenta1ão de pano de undo\#, pois cada aspecto ela&orado pela orma romance possu(a especifcidade !ist0rica %ue aparecia no te=to, de tal orma %ue s0 pudesse pertencer ao seu tempo e lu)ar, sem a possi&ilidade de ser )enerali6ado7
4uito do %ue Kan Zatt c!ama de “particularidade da descri1ão# no romance in)lês do s'culo KKK adianta certas %uest;es %ue Banc 5rmstron) e=plora em seu comple=o e interessant>ssi.o te=to so&re o realismo na fc1ão vitoriana8]7 Se)undo esta autora, uma das
caracter(sticas mais e=pressivas %ue constituem o realismo romanesco da se)unda metade do s'culo K na Kn)laterra ' a sua visualidade ima)'tica, oto)ráfca7 E. suas palavras,
47 e2a.ine nineteent!centur1 Britis! culture as t!e ti.e &!en and t!e place &!ere i.a0e and obXect be0an to interact accordin0 to t!e rules and procedures co..onl1 called 4realis.6 $% 7t &as to cas! in on t!e 0idd1 e2pansion o/ re/erential possibilities aorded b1 t!e reversal o/ t!e .i.etic priorit1 o/ ori0inal over cop1 t!at :ction developed t!e
38 * termo em in)lês, de di(cil tradu1ão, ' “actual#7
39 ARLDTRON3, N 47ntroduction* +!at is real in realis.[6 7n* /iction in the
repertoire o/ tec!ni@ues .ost co..onl1 associated &it! realis.6
4:ction e@uated seein0 &it! (no&in0 and .ade visual in/or.ation t!e basis /or t!e intelli0ibilit1 o/ a verbal narrative6
5o associar visual e ver&al, fc1ão e oto)rafa, no realismo romanesco vitoriano, 5rmstron) não s0 comple=ifca e sofstica o tão citado caráter “descritivo# da prosa realista^naturalista, como tam&'m ornece um elemento a mais para a no1ão de realismo %ue estamos ela&orando7 5 rase a se)uir, de sua autoria, resume &em os pro&lemas %ue nos são de interesse3
4it is .ore accurate to t!in( o/ realis. and p!oto0rap!1 as partners in t!e sa.e cultural proXect +ritin0 t!at ai.s to be ta(en as realistic is p!oto0rap!ic in t!at it pro.ised to 0ive readers access to a &orld on t!e ot!er side o/ .ediation and sou0!t to do so b1 oerin0 certain (inds o/ visual in/or.ation $% t!e &ritin0 &e no& call realis. provided t!is in/or.ation in suc! a &a1 t!at t!e reader &ould reco0nize it as indeed belon0in0 to t!e obXects and people o/ t!e &orld t!e.selves6
Na .es.a esteira, porS. e. ensaio .enos co.ple2o, de car9ter introdut;rio, o nortea.ericano 8eter Broo(s ta.bS. diz @ue 4realist literature is attac!ed to t!e visual, to loo(in0 at t!in0s, re0isterin0 t!eir presence in t!e &orld t!rou0! si0!t $% p!oto0rap!1 co.es into bein0 alon0 &it! realis.6. Deste autor,
nos interessou a aten1ão %ue ele c!ama O cone=ão entre e=periência ordinária no romance realista e modo de vida &ur)uês MO %ual Zatt tam&'m dá desta%ue no cap(tulo so&re /o&inson Crusoe de The rise of the novelN3 “M777N ne valuation o ordinar e=perience and its ordinar
40 BROOJD, 8 4Realis. and representation6 7n* 1ealist vision Ne& ?aven*
settin)s and t!in)s7 T!is ne& valuation is o/ course tied to t!e rise o/ t!e .iddle classes to cultural inCuence6.-
Eá %ue alamos em e=periência ordinária, voltemos a Zatt e Os suas ree=;es &reves, mas proundas, acerca do realismo posterior a Deoe, /ic!ardson e Fieldin), os pioneiros da orma romance7 ?le destaca dois autores, Laurence Sterne e Eane 5usten7 São seus apontamentos so&re esta Iltima, muito mais do %ue os so&re o primeiro, %ue nos são relevantes7 Conorme Zatt, 5usten ' continuadora do realismo ormal “ori)inal#3 sua o&ra unciona como uma esp'cie de s(ntese das am&ivalências postas pelas o&ras de /ic!ardson e Fieldin)7 5o mesmo tempo em %ue ornece descri1;es precisas do cotidiano M/ic!ardsonN, ornece tam&'m material de avalia1ão a respeito do %ue narra MFieldin)N, sem intrus;es proundas, no entanto7 5usten constr0i narradores com aparência de o&etividade, lucide6 e “esp(rito impessoal de compreensão social e psicol0)ica#, se)undo Zatt7 :uem avan1a a esse respeito são dois cr(ticos cuos te=tos não discorrem acerca da %uestão do realismo propriamente dito, mas ortaleceram muito a no1ão !etero)ênea de realismo %ue adotamos a%ui3 /amond Zilliams, mais uma ve6, e Franco 4oretti7 5 e=pressão “unidade de tom#, de Zilliams, ao alar dos romances de Eane 5usten, ' certeira, condensa pereitamente o %ue Zatt di6 a respeito dos narradores austenianos, esse controle narrativo %ue tão “&em# or)ani6a e delineia seus enredos e a caracteri6a1ão de suas persona)ens.+7 “em# no sentido do “estilo s'rio# adotado pelo romance
realista europeu na primeira metade do s'culo K, como ela&ora Franco 4oretti em ensaio a&uloso.87 Um de seus muitos ar)umentos ' o de %ue
Eane 5usten escreveu seus romances conorme a seriedade do modo de
41 3dem7
42 C7 ZKLLK54S, /7 “Três escritores na re)ião de Farn!am#7 Kn3 O campo e a cidade7 São
Paulo3 Compan!ia das Letras, +--7 5 e=pressão Junidade de tomJ se torna ainda mais interessante O nossa ree=ão %uando lem&ramos %ue Zilliams a usa pensando no %uadro !ist0rico e pol(tico tur&ulento no %ual Eane 5usten estava inserida, mas %ue não aparece nos seus romances7 Zilliams inclusive di6 %ue a unidade de tom ' um verdadeiro
parado=o do romance austeniano7
43 4*/?TTK, F7 “* s'culo s'rio#7 Kn3 4*/?TTK, F7 Mor)7N O romance 4 vol' 5& a cultura do
vida &ur)uês da%uele per(odo, composta de valores como “impessoalidade#, “precisão#, “conduta de vida re)ular e met0dica#, “certo distanciamento emotivo#, e investida pela l0)ica da racionali6a1ão e&eriana7 Da( seus enredos muito mais marcados pelos “preenc!imentos# Meventos %ue acontecem entre uma mudan1a e outraN do %ue pelas J&iurca1;esJ Meventos %ue )eram poss(veis desdo&ramentosN, e compostos por persona)ens cua vida ' “s0lida e responsável#7 * “s'rio# corresponde O “!onestidade comercial#, ' “confável, met0dico e claro#, di6 4oretti, e a isso tam&'m correspondem as persona)ens e enredos de Eane 5usten, cuo modelo de romance serve de prot0tipo O nossa acep1ão de romance realista, da( a importncia %ue estamos dando a ela neste Iltimo momento de nossa discussão so&re essa complicada %uestão7 4ais adiante, fcará mais claro como ' undamental estarmos a par do modus operandi dos narradores e dos
enredos austenianos para %ue as contradi1;es e pro&lemas do realismo em opera1ão no romance de ?mil rontV ven!am O tona7
3;tico
* conceito de )0tico, cuo uso nem sempre ' o mais apropriado.., '
tam&'m &astante comple=o mas, em Teoria Literária, constitui um pro&lema &em mais espec(fco e delimitado do %ue o de realismo7 Luito .ais do @ue u. 0\nero propria.ente dito, acredita.os, con/or.e palavras de #avid 8unter e 3lennis B1ron, @ue 4t!e 3ot!ic is .ore to do &it! particular .o.ents, tropes, repeated .oti/s t!at can be /ound scattered, or disse.inated, t!rou0! t!e .odern &estern literar1 tradition6.9
44 #e acordo co. "a.es +att, a pr;pria cate0oria do 0;tico S u.a construção
.oderna* 4A !istoricall1 0rounded stud1 o/ 3ot!ic :ction .ust be0in b1 ac(no&led0in0 t!at t!e 0enre itsel/ is a relativel1 .odern construct T!e 3ot!ic ro.ance as a descriptive cate0or1 is t!e product o/ t&entiet! centur1 literar1 criticis., and speci:call1 o/ t!e revival o/ interest in lateei0!teent! centur1 ro.ance in t!e FGHKs and FGVKs6 </ +ATT, " 47ntroduction6 7n*