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BANCO DE DADOS E CADASTRO DE CONSUMIDORES – ARTIGOS 4345

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JOSÉ EDUARDO MALHEIROS

BANCO DE DADOS E CADASTRO DE

CONSUMIDORES – ARTIGOS 43/45

Mestrado em Direito das Relações de Consumo

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JOSÉ EDUARDO MALHEIROS

BANCO DE DADOS E CADASTRO DE

CONSUMIDORES – ARTIGOS 43/45

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Direito das Relações de Consumo sob a orientação da Profª Dra. Suzana Maria Pimenta Cattapreta Federighi

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PUC

SÃO PAULO

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AGRADECIMENTOS

Os meus agradecimentos são, primeiramente para todos os professores que desde do curso de especialização até o mestrado, sempre se houveram com carinho e competência, para que eu pudesse absorver e consolidar os conhecimentos necessários para o meu aprendizado.

Em segundo lugar, agradeço a todos os colegas com quem convivi nesta jornada relativamente longa, todos mais jovens do que eu, e que sempre me trataram com carinho e respeito, me revigorando diuturnamente com sua juventude e cortesia, trazendo vigor e disposição, que permitiram me atualizar na dinâmica social do estudo e aplicação do direito.

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DEDICATÓRIA

Esta jornada cumprida dedico para duas gerações, a ascendente na pessoa de minha mãe Dona Hercilia, que é a maior responsável, por isto ter acontecido, quer pelo seu incentivo de que os filhos estudassem, quer pela cobrança e exigência de que isto realmente acontecesse, as minhas realizações não chegaram a tempo de que pudesse ela cumprir a promessa de tomar um ‘pifão” a cada diploma, mas de qualquer forma, vitória se há também é sua, muito obrigado mãe.

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Banca Examinadora

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_____________________________

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RESUMO

MALHEIROS, José Eduardo. Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores

A presente dissertação tem por objetivo obtenção da titulação de mestre pela PUC-SP, na área específica de Direitos das Relações de Consumo, pertencente ao gênero de Direitos Difusos e Coletivos, trata do tema “Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores – art. 43 a 45 do C.D.C..

Em sua primeira parte (item 1 a 4), versa sobre aspectos gerais dos Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores, através de suas definições, conceitos e

histórico de surgimento a nível nacional e internacional.

Na segunda parte (item 5 a 8), o enfoque é referente as informações

constantes dos Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores, no que diz respeito a suas características, vigência e prescrição, forma de comunicação ao consumidor e quando sub judice.

Na parte final (item 9 a 14), a temática recai em elementos mais objetivos, no que se refere ao procedimento judicial, iniciando pela natureza jurídica dos Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores, que são considerados entidades de caráter público, para abordar a abusividade praticada por estas entidades, qual a tutela constitucional pertinente a matéria, a responsabilidade dos danos causados aos consumidores e respectiva forma de tutela cabível em consonância com a sua natureza jurídica.

O encerramento traz conclusão de validade dos Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores, mas isto não pode interferir em direitos dos consumidores, muito menos permitir que fornecedores com desvio de finalidade, principalmente através de coação e ameaça atinjam seus objetivos materiais.

(7)

ABSTRACT

MALHEIROS, José Eduardo. Data Banks and Consumer Registers

The dissertation herein is aimed at the obtaining of a Master´s degree provided by PUC-SP, in the specific area of Comsumer Relation Rights, as a part of Collective and Diffuse Rigths, and approaches the theme “Data Banks and Consumer

Registers – Art. 43 to 45 of the C.D.C. (Brazilian Code of Consumers´ Defense).

In its first part, (Items 1 to 4), this dissertation considers general aspects of Data Banks and Consumer Registers by means of their definitions, concepts and the history of their appearance at national and international level.

In its second part (Items 5 to 8), the focus is on the information contained in the Data Banks and Consumer Registers in relation to the characteristics, period of effectiveness and time limit of such information, way of communicating it to consumers and information that is sub judice .

In the final part (Items 9 to 14), the subject matter falls on more objective elements relating to the judicial procedure. Starting from the juridical nature of the Data Banks and Consumer Registers, which are considered entities of public character, it approaches the abusiveness committed by such entities; constitutional tutelage that is appropriate to the matter; responsibility for damages caused for consumers and the respective tutelage type that is applicable in accordance with their juridical nature.

The end part draws a conclusion that Data Banks and Consumer Registers have their validity, but this fact cannot interfer in consumers´ rights and still less allow that suppliers reach their material objectives in a distorted way, with deflection from purpose, mainly by means of coercion and threats.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO... 7

2. DEFINIÇÃO... 2.1. Aurélio... 2.2. Houaiss... 2.3. Venturini... 9 9 9 10 3. CONCEITO... 3.1. Lei 8.078/90... 3.2. Alessandro Fuentes Venturini... 3.3. Antônio Herman de Vasconcellos Benjamin... 3.4. Ministro Dias Trindade... 3.5. Fabio Ulhoa Coelho... 3.6. Luiz Antônio Rizzatto Nunes... 3.7. Leonardo Roscoe Bessa...

11 11 12 12 12 13 13 13

4. RETROSPECTO HISTÓRICO... 4.1. No mundo... 4.1.1. J. Rainsford Sprague... 4.1.2. Associação de Vigilância dos Comerciantes... 4.1.3. R. G. Dun e Bradstreet... 4.1.4. Equifax Inc... 4.1.5. USA... 4.1.6. Inglaterra... 4.2. No Brasil... 4.2.1. SPC - Porto Alegre... 4.2.2. SPC - São Paulo... 4.2.3. Primeiro Seminário Nacional de SPCs – BH (1962)... 4.3. Cadastros Nacionais... 4.3.1. Serasa... 4.3.2. SPC... 4.3.2.1. SPC – CNDL... 4.3.2.2. SPC – São Paulo... 4.3.3. Cadastros Públicos...

14 15 15 15 16 17 17 17 18 20 20 20 21 22 22 23 23 23 5. INFORMAÇÕES... 5.1. Acesso as informações (art. 43 – caput)... 5.2. Características das informações (art. 43, § 1º)... 5.2.1. Informações objetivas... 5.2.2. Informações claras... 5.2.3. Informações verdadeiras... 5.2.4. Informações com linguagem de fácil compreensão... 5.2.5. Início e vigência das informações... 5.2.5.1. Cinco anos – art. 43, § 1º... 5.2.5.2. Prescrição à cobrança – art. 43, § 5º... 5.2.5.3. Termo inicial para contagem da restrição...

(9)

6. COMUNICAÇÃO DA ABERTURA DO CADASTRO...

7. CORREÇÃO DAS INFORMAÇÕES CADASTRADAS...

8. INFORMAÇÃO SUB - JUDICE... 47

55

59

9. ENTIDADES DE CARÁTER PÚBLICO – NATUREZA JURÍDICA... 9.1. Caráter Público... 9.2. Natureza jurídica...

61 61 65

10.ABUSIVIDADE... 68

11. TUTELA CONSTITUCIONAL... 73

12. RESPONSABILIDADE POR DANOS CAUSADOS AO

CONSUMIDOR... 77

13. FORMAS DE TUTELA DE DEFESA DO CONSUMIDOR... 83

14. NATUREZA DA TUTELA... 14.1. Preventiva... 14.1.1. Hábeas data... 14.2. Inibitória... 14.3. Antecipatória... 14.3.1. Agravo de Instrumento... 14.4. Tutela Reparatória...

84 85 86 88 88 90 91

15. CONCLUSÃO... 91

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por finalidade tratar de situações atinentes exclusivamente ao Direito das Relações de Consumo, outras situações alcançadas pelos Bancos de Dados e Cadastro de Consumidores, somente virá à baila com o objetivo de melhor elucidar o tema consumerista.

Necessário se faz um estudo genérico da extensão dos chamados Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores, para entendimento tal qual como especificados na Lei 8.078/90 – Código de Defesa do Consumidor.

Os chamados Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores tem por finalidade mais importante coletar dados, para com o repasse informativo de seus conteúdos, possibilitar maior segurança nas transações efetuadas a crédito.

Numa análise fundada no verdadeiro significado da palavra, veremos que Bancos de Dados se refere ao conteúdo de informações coletadas com algum critério organizacional, objetivando armazenar elementos que permitam um conceito a respeito de seu próprio conteúdo, podendo ou não se relacionar com uma relação de consumo, sendo forma de definição até de sistemas de informática, que contenham por exemplo, somente dados de caráter contábil de uma determinada empresa.

Cadastro de Consumidores é específico, pois cadastro em caráter genérico, seria toda relação, rol, em que contenha os nomes de clientes, sócios, associados, moradores de um determinado bairro ou condomínio, etc., agora Cadastro de Consumidores é espécie do gênero cadastro, pois se refere exclusivamente a pessoas que consomem.

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de caráter genérico, e o conceito jurídico de Consumidor contido na Lei 8.078/90 – Código de Defesa do Consumidor, que impõem um caráter específico de destinatário final.

Exemplificando, poderíamos dizer que consumidor no sentido literal da palavra é todo aquele que adquire bens ou serviços, e os corroe seja como destinatário final, ou transformador que através de processamento o utiliza como insumo para fazer outro bem com objetivo de comercialização, no primeiro caso como destinatário final, a dona de casa que compra farinha de trigo para fazer pão ou macarrão para consumo da família (destinatário final), e no segundo a padaria que compra trigo para fabricar pães e doces para vender.

Desses dois tipos de consumidores, somente o de caráter específico de destinatário final, se utilizará das disposições legais do Código de Defesa do Consumidor.

No entanto, os Bancos de Dados e os Cadastros de Consumidores se dedicam a coletar e armazenar informações de consumidores de caráter genérico, ou seja, tantos dos que são destinatários finais do produto adquirido (dona de casa), como dos transformadores (padaria) que adquirem produtos com finalidade mercantil e de lucro, tanto verdadeiro que, fornecerão eles, Bancos de Dados ou Cadastros de Consumidores, informações e dados tanto da padaria como da dona de casa.

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2. DEFINIÇÃO

Colocamos para melhor apreensão do tema as definições contidas nos dicionários Aurélio e Houais, e uma definição jurídica de Alessandro Fuentes Venturini, externada em monografia apresentada para obtenção de grau de mestre em Direitos Difusos e Coletivo na PUC São Paulo.

2.1. Aurélio

Banco de dados.Inform.1.Coleção organizada e inter-relacionada de dados

rsistentes.[Cf.campo e registro, que são os conceitos básicos deste tipo de organização de informações.] 2. Programa (9) especializado em gerenciar um banco de dados (1).

Banco de dados orientado a objeto.Inform. Banco de dados (q.v.) que

segue o paradigma de orientação a objetos (q.v.), o que lhe confere grande flexibilidade quanto aos tipos de dados que é capaz de armazenar.

Banco de dados relacional. Inform. Banco de dados (q.v.) cuja estrutura se

baseia no modelo relacional. [Nesse tipo de banco de dados, as informações são organizadas sob a forma de tabelas, sendo possível relacionar as diferentes tabelas a partir da comparação dos valores de determinadas colunas, designadas campos-chaves (v. campo-chave)]

Cadastro. 2. Registro que bancos ou casas comerciais mantém de seus clientes, da probidade mercantil e situação patrimonial deles, etc. 4. Conjunto das operações pelas quais se estabelece este registro.

2.2. Houaiss

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Derivação por extensão do sentido. Local ou depósito onde algo é guardado para alguma utilização futura.

Cadastro. Relação dos nomes dos sócios ou clientes de uma empresa ou outra organização financeira ou comercial (banco, loja, etc) com dados pessoais e/ou informações acerca da situação econômica, comercial e patrimonial de cada um.

Derivação por extensão do sentido. Lista, rol, relação, esp. Quando contém informações sobre cada um dos nomes, itens ou elementos componentes.

Derivação por metonímia. A operação e/ou procedimento envolvidos no preparo e registro de listas e informações devidamente classificadas; cadastramento.

2.3. Venturini

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3. CONCEITO

Coloca-se esta resenha conceitual doutrinária fundada na Lei 8.078/90, e em autores que se manifestaram sobre a matéria, com o objetivo de que com a leitura desta dissertação haja possibilidade de se obter um sólido posicionamento da matéria enfocada.

3.1. Lei 8.078/90

O artigo 43 da referida lei tem como conceito de Banco de Dados e Cadastro de Consumidores, uma visão muito ampla de sua abrangência, pois fala em informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados, bem como suas respectivas fontes, deixando claro que o objetivo do Código é atingir todas estas possibilidades de registros, que tem a mesma função em relação ao consumidor, ou seja, dar ao fornecedor segurança no fornecimento de produto ou serviço (principalmente crédito), através das informações neles contidas.

Isto significa que cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados, bem como suas respectivas fontes, são integrantes da SEÇÃO VI DO CDC, genericamente denominados BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES, sendo portanto sujeitos as suas diretrizes.

O CDC em seu Capítulo V – Das Práticas Comerciais, Seção VI, utiliza-se da dupla designação de Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores, para identificar formas dos chamados arquivos de consumo, ou seja, arquivo de consumo

é gênero, do qual fazem parte os bancos de dados e os cadastros de consumidores,

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3.2. Alessandro Fuentes Venturini

Os bancos de dados e os cadastros de consumidores são na verdade espécies do gênero arquivos de consumo, e de um modo geral, podemos afirmar que um arquivo é o conjunto de documentos manuscritos, gráficos, fotográficos, ou sob qualquer forma, que tem por objetivo armazenamento de dados com a finalidade de gerar informação1.

3.3. Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin

2

Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin ensina:

“O vocábulo ‘banco de dados’ carreia a idéia de informações organizadas, arquivadas de maneira permanente em estabelecimento outro que não o do fornecedor que diretamente lida com o consumidor; ali ficam, de modo latente, à espera de utilização. A abertura do arquivo no banco de dados nunca decorre de solicitação do consumidor. Muito ao revés, é inteiramente feita à sua revelia. Finalmente, não é o arquivista o destinatário das informações armazenadas, mas, sim, terceiros, sendo ele mero veículo para circulação destas.”

3.4. Ministro Dias Trindade

3

O Ministro Dias Trindade diz:

“O art. 43 protege o consumidor em relação a “informações que existam sobre ele em ‘cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados’, o que encerra uma abrangência da maior amplitude, sendo de dizer que tais informações poderão encontrar-se registradas de outras quaisquer maneiras, além das indicadas, que não constitui enumeração fechada, como é obvio”

1 VENTURINI, Alessandro Fuentes. Monografia, p. 34 2 BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e.

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3.5. Fábio Ulhoa Coelho

4

No mesmo sentido, confirma Fábio Ulhoa Coelho que a disciplina do CDC:

“se aplica a qualquer armazenamento de informações, informatizado ou não, precário ou altamente organizado. O pequeno fornecedor que mantém uma agenda com dados de sua clientela deve, tanto quanto o grande empresário, observar o conjunto de regras definidas em defesa do consumidor”.

3.6. Luiz Antônio Rizzatto Nunes

5

O ilustre Professor consumerista Rizzatto Nunes, assim diz:

“O art. 43 regula os banco de dados e cadastros de todo e qualquer fornecedor público ou privado e que contenham dados do consumidor, relativos à sua pessoa ou às suas ações enquanto consumidor.

Assim, muito embora a ênfase e a discussão em torno das regras instituías no art. 43 recaiam nos chamados cadastros de inadimplentes dos serviços de proteção ao crédito, a norma incide em sistemas de informação mais amplos”.

Todo e qualquer banco de dados de arquivo de informações a respeito de consumidores – pessoa físicas ou jurídicas – está submetido às normas do CDC.

3.7. Leonardo Roscoe Bessa

6

A obra pretende traçar os limites jurídicos de atuação dos bancos de dados de proteção ao crédito que, de acordo com as considerações apresentadas até aqui,

podem ser definidos como entidades que têm por principal objeto a coleta, o

armazenamento e transferência a terceiros (credor potencial) de informações

pessoais dos pretendentes à obtenção de crédito.

4 C O ELHO , Fá b io Ulho a . C ó d ig o d e Pro te ç ã o a o C o nsum id o r. C o o rd e na ç ã o d e Jua re z d e

O live ira , Sã o Pa ulo : Sa ra iva , 1991, p . 175.

5 RIZZATTO NUNES, Luiz Antô nio . C o m e ntá rio s a o C ó d ig o d e De fe sa d o C o nsum id o r, Dire ito

m a te ria l, Sã o Pa ulo : Ed . Sa ra iva , 2000, p . 514. 6 BESSA, Leonardo Roscoe.

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4. RETROSPECTO HISTÓRICO

Para correto entendimento da figura hoje denominada como “Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores”, deve-se tomar conhecimento histórico de sua evolução, que teve origem nos antigos cadastros que se referiam aos registros públicos da idade média (capitastra, do latim capistratum, que se tornou por corruptela catastra), onde eram relacionadas as declarações dos proprietários, vocábulo que foi incorporado ao italiano=catasto; espanhol=catastro; francês=cadastre e cadastro=português. Estes cadastros tinham a finalidade tributária e de censo, objetivando controle de proprietários de terras e cobrança de impostos.

Derivadamente destes originais cadastros, o conceito de organização de dados se multiplicou, alcançando toda e qualquer forma de armazenamento de informações, sejam públicas ou particulares, de qualquer tipo e natureza, inclusive os chamados “Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores” a que se refere o artigo 43 do Código de defesa do Consumidor, objeto deste trabalho.

Apesar do desvirtuamento da função dos originais cadastros que tinham finalidade tributária, antes mesmo de uma regulamentação intervencionista no sentido de proteção ao consumidor, em razão do desenvolvimento do sistema de concessão de crédito, pela dificuldade que tinham os comerciantes em fornecerem crédito de maneira segura, com mínima possibilidade de inadimplência, surgiram os cadastros de créditos.

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4.1. NO MUNDO

4.1.1. J. RAINSFORD SPRAGUE

7

J. Rainsford Sprague em sua obra “O Romance do crédito” informa:

“estes institutos surgiram em virtude da dificuldade encontrada pelos atacadistas da época – aproximadamente 1803, quando o Presidente Jefferson dos EUA comprou a Louisiana – em distinguir os fregueses idôneos daqueles que não eram. Este problema ocorreu em virtude do aumento da extensão territorial das colônias americanas, que repercutiu na necessidade de um controle mais eficiente do crédito.” “A primeira tentativa séria para criar um serviço eficiente de informações comerciais para fins de crédito parece ter sido a do grande estabelecimento bancário inglês Baring Brothers.”

Antes da pré-falada expansão territorial advinda da aquisição da Louisiana, a concessão de crédito era realizada de forma simplória, através de uma carta de recomendação que informava ser o tomador do crédito pessoa confiável, esta referência era dada geralmente pelo pastor local, um banqueiro conceituado e até por um amigo de idoneidade ilibada.

4.1.2. Associação de Vigilância dos Comerciantes

8

Por volta de 1827, o cidadão chamado Sheldon Church viajava todo os EUA por conta própria, com a finalidade de colher informações comerciais, as quais repassava mediante pagamento aos interessados (Atacadistas).

Estes Comerciantes (Atacadistas) fundaram a “Associação de Vigilância dos Comerciantes”, que tinha como diretor o mesmo Sheldon Church, sendo esta a primeira agência de informações constituída que se tem noticia, naquela época

7 SPRAGUE, J. RAINSFORD.

O Romance do Crédito. Trad. de Mário Rangel Efing. Rio de Janeiro:

Irmãos Di Giorgio e Cia, p. 121 e ss.

8 EFING, Antônio Carlos. Banco de Dados e Cadastro de Consumidores. Ed. RT. São Paulo: 2002, p.

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diferentemente dos bancos de dados e cadastros de consumidores de hoje, as informações, ainda que fundadas em elementos objetivos, se fundamentavam em um conteúdo subjetivo.

4.1.3. R.G. DUN & BRADSTREET

9

Como conseqüência da necessidade cada vez maior de informações comerciais confiáveis, surgiram mais agências de informações, neste sentido, Lewis Tappan um dos sócios da firma Artur Tappan & Cia (Nova Yorque), se retirou da sociedade e em 1841 fundou a “Agência Mercantil”, que se tornou famosa por seus célebres correspondentes, estando entre eles Abrahan Lincoln, Lewis Wallace, William McKinley, Ulysses Grant, Grover Cleveland, etc.

Em 1859 Robert Graham Dun adquire a “Agência Mercantil” de Lewis Tappan e muda seu nome para R.G. Dun & Cia.

Simultaneamente com “Agência Mercantil”, o advogado John M. Bradstreet em 1849, passa atuar no campo de informações através de uma Agência na cidade de Cincinnati, abrindo em 1855 filial em Nova Yorque, sob o nome de “Agência Comercial Bradstreet”.

As “Agência Mercantil” fundada por Tappan, depois de propriedade de Robert Graham Dun, e “Agência Comercial Bradstreet”, propriedade de John M. Bradstreet de Cincinnati, atuaram no mercado de informações comerciais como concorrentes até o ano 1933, quando a R.G. Dun & Cia (Agência Mercantil) adquiriu a empresa de Bradstreet, fundidno as duas empresas sob o nome de R.G. Dun & Bradstreet.

Através de correspondentes locais estas referidas agências de informação coletavam dados sobre comerciantes de suas regiões, que repassadas aos

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atacadistas de Nova Yorque, fornecia-lhes elementos necessários para uma segura concessão de crédito, em forma semelhante aos bancos de dados e cadastro de consumidores dos nossos dias, ainda que estes não dependam mais de agentes locais para obter dados de interessados em crédito, face a grande concentração do setor financeiro e o desenvolvimento tecnológico da informática.

4.1.4. Equifax Inc

10

.

A Equifax Inc. tem sede na cidade de Atlanta nos EUA, foi fundada em 1899, está presente em 18 países, conta com aproximadamente 13.000 associados, e no Brasil atua através do SCI (Segurança Crédito e Informações).

4.1.5. ESTADOS UNIDOS

11

Os americanos foram os pioneiros na fundação de empresas dedicadas a fornecer informações comerciais de pretendentes ao crédito, contando com um número grande de agências que atuam no ramo, destacando-se entre elas como as maiores do mundo a Dun & Bradstreet Corporation, a AAA American Credit Bureau, Transunion Credit Information Company, a Strickland & Associates Consumer Credit Reports, a American Credit/Fax, a Equifax Inc., etc.

4.1.6. INGLATERRA

12

Entre outras a Grã Bretanha conta com várias agências de renome mundial como a Equifax Plc., a Companies House, a ICC Information Ltd., a Graydon UK Ltda., a Dun & Bradstreet UK, etc.

10 EFING, Antônio Carlos. Banco de Dados e Cadastro de Consumidores. Ed. RT. São Paulo: 2002,

p. 26.

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4.2. NO BRASIL

Mais ou menos um século após o seu aparecimento no contexto universal, os Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores estruturados nos moldes atuais, só surgiram no Brasil na década de 50, sua formação derivou de cadastro privados de empresas que vendiam produtos a crédito, onde eram armazenados dados dos consumidores obtidos através de procedimentos demorados, fornecidos pelos próprios consumidores, com extenso rol de informações, tais como, residência (tempo em que morava no local, imóvel próprio ou locado), relação de emprego (salário, tempo de serviço, cargo, etc.), isto complementado por funcionários dos comerciantes, chamados “informantes”, cuja função era a de levantar o maior número de dados possíveis do consumidor, assim como confirmar as informações por eles prestada.

Neste sistema de cadastros de caráter privado, mantido pelas próprias empresas vendedoras de produtos através do denominado crediário, podem ser destacados entre outros, o de pelo menos de três grandes empresas da década de 50, que são Casa Masson, Lojas Renner e Modas A Exposição Cliper.

O Brasil conheceu na década de 50, o processo de deslocamento do homem do campo para as cidades, incentivado por uma conjuntura universal, que teve apoio no governo do Presidente Juscelino , cujo slogan era: “50 ANOS EM CINCO”,

transmitindo aos brasileiros que o país em cinco anos teria um crescimento e progresso de 50 anos. Como conseqüência desta situação explodiu na população interesse para a demanda, por emprego, por universidades, pelo consumo massificado, etc.

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Esta fase áurea da economia, com desenvolvimento da indústria e do comércio, e acessoriamente do setor de serviços, gerou número elevado de empregos, crescendo a demanda principalmente por vestuário e utensílios domésticos. O desenvolvimento conhecido pela indústria e o comércio de vestuário e utensílios domésticos ocasionou forte concorrência no setor, exigindo de seus agentes criação de meios que aumentassem o consumo de seus produtos.

A fórmula encontrada como resposta à conjuntura econômica, foi a conjugação da propaganda com o crédito, ou seja, oferta agressiva através do meios de comunicação, conjugada com pagamento parcelado através de financiamento, o chamado crediário, não sendo portanto estranhável que os primeiros bancos de dados ou cadastros de consumidores tenham sido criados por empresas de comercialização de vestuário e utensílios domésticos (Casa Masson, Lojas Renner, Cliper), visto, serem a agilidade e segurança na concessão do crédito fatores de sucesso e sobrevivência de seus negócios.

Com a massificação das relações de consumo, quer pela atuação da iniciativa privada, quer pela atividade econômica do Estado como produtor e prestador de serviços, os fornecedores se viram impelidos a agilizar e dar maior segurança as suas atividades, respaldados por sua predominância econômica, passaram a se organizar dando maior amplitude às informações de seus consumidores, estabelecendo entre eles um intercâmbio de troca destas informações, que além de serem usadas nas suas transações comerciais também eram transferidas para outros fornecedores, na medida de seus interesses.

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Como conseqüência foram criados os primeiros bancos de dados e cadastro de consumidores, que tinham como finalidade coletar, armazenar e transferir as informações de consumidores para seus integrantes, ou seja, se algum consumidor se tornava inadimplente com algum fornecedor, esta informação era armazenada no cadastro, e transferida para qualquer outro fornecedor integrante do sistema.

4.2.1. SPC – Porto Alegre

Em 22 de junho de 1955, 27 comerciantes de Porto Alegre, confirmando o pioneirismo dos gaúchos na organização de cadastros de consumidores, tendo como palco a Associação Comercial local, fundaram o primeiro “Serviço de Proteção ao Crédito – SPC”, órgão que foi registrada após um ano como associação civil, sem fins lucrativos e que permanece atuante até hoje.

4.2.2. SPC - São Paulo

No mesmo sentido São Paulo através da Associação Comercial, em outubro de 1955 instituiu o seu sistema de “Serviço de Proteção ao Crédito – SPC”, como órgão da Associação Comercial de São Paulo, funcionando no mesmo endereço e local desta, assim permanecendo até nossos dias.

4.2.3. Primeiro Seminário Nacional de SPCs – Belo Horizonte: 1962

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4.3. CADASTROS NACIONAIS

1314

Para que se tenha idéia da dimensão que os bancos de dados e cadastros de consumidores assumiram no mercado brasileiro, trazemos a informação que Leonardo Roscoe Bessa coloca, citando que José Carlos Gentilli relaciona por nome e endereço 54 empresas que atuam no ramo no território nacional.

No mesmo sentido, ensina Antônio Herman de Vasconcelos e Benjamin15

“Não se trata de força que advém tão-só da estrutura sofisticada dos bancos de dados de dados, mas fundamentalmente surge no âmbito mais largo do seu objeto de atuação, o produto que gerencia e a todos oferece – informação. No mundo em que vivemos, é possível identificar quatro tipos básicos de poder: o econômico, o militar, o tecnológico e o da informação. Sem freios, transmudam-se em ameaça, não aos “negativados”, mas a toda a sociedade, pondo em risco garantias constitucionais inalienáveis, base de nossa civilização.

Realmente, o que está em jogo aqui não são os interesses isolados e fragmentados de alguns, ou mesmo milhares de indivíduos desabonados, maus pagadores, inadimplentes ou parias do crédito. Não é isso que impressiona e põe a força do Direito em movimento. O que marca e preocupa – por isso a natureza social amplíssima dos interesses protegidos – é a defesa da coletividade dos bons devedores, que igualmente está a mercê dos abusos praticados pelos bancos de dados. É danosidade difusa e não individual que, em última análise, está em jogo. A operação dos bancos de dados, se não exercida dentro de certos limites, se transforma “em dano Social”.

“... Pode-se afirmar, hoje, que a mera disponibilidade de informações sobre terceiros configura modalidade de poder, capaz de ameaçar a liberdade das pessoas.”

13 BESSA, Leonardo Roscoe.

O Consumidor e os Limites dos Bancos de Dados de Proteção ao Crédito, p. 30, RT: 2003

14 GENTILLI, José Carlos.

Os Bancos de Dados na Sociedade de Consumo e o Código de Defesa do Consumidor: a questão da Responsabilidade Jurídica por danos Morais, Brasília: Tecprint,

Impressões Técnicas, p. 87/94, 1999.

15 BENJAMIN, Antonio Hermann de Vasconcellos e.

Código Brasileiro de Defesa do Consumidor

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Nos próximos itens transcrevemos alguns indicadores destes bancos de dados.

4.3.1. SERASA

A SERASA diferentemente de outros cadastros é pessoa jurídica, constituída na forma de Sociedade Anônima, cujos acionistas são Bancos filiados a Federação Brasileira das Associações de Bancos – FEBRABAN.

Foi fundada em 1968, como Serasa – Centralização de Serviços de Bancos S/A., em abril de 2002 mudou a razão social para Serasa S/A., divulga em seu site (WWW.Serasa.com.br) e peças promocionais, ser uma das maiores empresas do mundo no setor informações econômico-financeiras, possuindo o maior banco de dados de pessoas e empresas, intervindo diariamente em de 2,5 milhões de transações, através de mais de 300.000 clientes, seja direta ou indiretamente.

Dados de 1992 estimam o seu faturamento em 2,5 milhões de dólares mensais, no ano de 1998 faturou cerca de 280 milhões de reais, sendo que a coleta de dados dos consumidores pela Serasa, não se restringem as fornecidas por seus membros, ou seja, os bancos, ela recorre por conta própria a outros tipos de coleta, como Cartórios de Protesto, distribuidores civil e criminal, Banco Central, etc.

Conta com 130 escritórios instalados no país, tem por volta de 1500 empregados, no seu arquivo “Central de Restrições” contem 130 milhões de dados informativos de pessoas físicas e jurídicas.

4.3.2. SPC

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CNDL, e há pelo menos outros dois ligados respectivamente as Associações Comerciais de Curitiba e São Paulo.

4.3.2.1. SPC – CNDL

O cadastro do SCP da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas – CNDL, atuando através de mais ou menos 950 Câmaras de Dirigentes Lojistas espalhadas por todo o território nacional, absorve 70% do mercado de informações de crédito nas relações de consumo.

4.3.2.2. SCP – SÃO PAULO (Associação Comercial)

O SPC de São Paulo que opera como braço da Associação Comercial, de um corpo funcional de aproximadamente 1.000 empregados, pelo menos 800 atuam na área de informações comerciais (SPC), atendendo de 25 a 30 mil comerciantes, tendo no ano de 2005 atendido mais de 19 milhões de consultas na Capital, promovendo mais de 4 milhões de negativações e recuperando por volta de 3,5 milhões de inadimplentes.

Atualmente está sendo implantado um cadastro de caráter nacional (RENIN) através de prepostos ou representantes em todo o Brasil, que possibilitará que as consultas sejam realizadas eletronicamente de forma instantânea.

4.3.3. CADASTROS PÚBLICOS

(27)
(28)

5. INFORMAÇÕES

As informações constantes dos bancos de dados têm por finalidade proteger as relações de consumo, objetivando a dignidade e defesa do consumidor, na proporção em possibilitam um atendimento mais rápido e seguro na concessão de crédito aos consumidores para aquisição de produtos. Tal assertiva é presumida, pelo fato de quem anteriormente cumpriu com obrigações assumidas em relação aos créditos que lhe foram concedidos, assim continuará a fazer em face de nova concessão de crédito, sendo isto elemento sinalizador de bom pagador, o que reveste a contratação do crédito de maior segurança.

Em regra destas informações constam:

a) a qualificação do devedor; b) o valor da dívida;

c) a data de vencimento; d) o número do contrato, e

e) a identificação do fornecedor.

Renato Afonso Gonçalves, assim se manifesta sobre a matéria:

“As informações dos arquivos só podem ser prestadas uma vez preenchidas duas condições, quais sejam:

a-) solicitação individual;

b-) que tal solicitação seja decorrente de uma necessidade de consumo.

Qualquer utilização que não obedeça a essas duas condições implicará mau uso, sujeitando os infratores às sansões contra a invasão da privacidade e dano à honra, ficando obrigados a prestar indenização ao consumidor na forma do art. 6º, incs, VII e VIII do CDC.

A abertura de registro em bancos de dados pode se dar de três formas:

(29)

b-) por determinação da empresa interessada na realização do negócio de consumo;

c-) por decisão espontânea de um banco de dados.”16

A permissibilidade dos registros é proclamada com fundamento constitucional, por Bertran Antônio Sturmer, que assim se pronuncia:

“A regra é a permissão dos registros, sejam quais forem eles, desde que não vedados por lei. Tal conclusão decorre do preceito contido no art. 5º, inciso II, da Constituição Federal que proclama que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei17”.

As informações constantes dos bancos de dados de consumo devem obrigatoriamente se referir a dados pessoais e de consumo do titular do registro, sem qualquer menção de ordem psicológica, física, costumes, assim como sem qualquer referência da vida íntima do mesmo, as informações devem se restringir àquelas que possam influenciar conceito para obtenção de crédito do consultado, em relação de consumo atual ou futura.

O eminente professor Tupinambá Miguel Castro do Nascimento ao se manifestar sobre o assunto, diz:

“Nem toda circunstância a respeito do consumidor ou do fornecedor pode ser anotada. Os serviços de registros têm um objetivo certo. Anotar as irregularidades quanto às relações de consumo e que interessam ao mundo comercial. Se a pessoa é de bons costumes, se respondeu algum processo por delito contra a honra ou se paga em dia prestações alimentícias que deve à esposa, são anotações que não interessam a tais cadastros e que, por isso, não podem ser cadastradas. Os bancos de dados e cadastros não têm abrangência de um sistema completo de informações. As informações registráveis são as que, substancialmente, se referem à atitude do consumidor ou fornecedor diante das relações de consumo em que tomaram parte. O ser bom ou mau empregado, o ter ou não o fornecedor pago os

16 GONÇALVES, Renato Afonso.

(30)

impostos, são dados que não interessam aos registros e cadastros de que se trata.”18

O que se conclui, é que mesmo existindo a liberdade de registro quanto ao conteúdo das informações, elas devem seguir uma linha que não ultrapasse de sua finalidade, ou seja, ter objetivo exclusivo de atender uma relação de consumo, limitando-se em registrar dados que informem somente o que interessa a concessão do crédito ao consumidor. Em 2002 foi elaborado pelos maiores bancos de dados do país, um Regulamento Nacional, chamado de Rede de Informações e Proteção ao Crédito (RIPC), que disciplina o funcionamento destas entidades de forma

detalhada, estipulando os requisitos para registro das informações.

5.1. – ACESSO ÀS INFORMAÇÕES (art. 43, caput)

A primeira disposição legal que regula os bancos de dados e cadastros de consumidores, está contida no caput do art. 43, e se refere ao acesso às informações (“terá acesso às informações existentes em cadastros, ...”), este direito de acesso do consumidor as informações a ele referentes encontra duplo fundamento, o primeiro deles na Constituição Federal através do inciso XIV, que diz:

XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;

Existem opiniões como a de Eduardo Arruda Alvim19, entendendo que o acesso à informação também está contido no direito de certidão, do inciso XXXIV, letra b, do artigo 5º, da CF, que assim determina:

18 NASCIMENTO, Tupinambá Miguel Castro do Nascimento.

Comentários ao Código do Consumidor,

pg. 51. Rio de Janeiro: Aide. 1991

19 ALVIM, Eduardo Arruda.

Código do Consumidor comentado, 2ª edição, p. 226, São Paulo: Revista

(31)

XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:

a- ...

b – a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;

entendemos que tal opinião esteja respaldada no caráter público dado aos bancos de dados e cadastros de consumidores, pelo parágrafo 4º, do artigo 43, do CDC, que também possibilita o uso do “hábeas data” para obtenção das informações.

O outro fundamento legal que garante o acesso do consumidor as informações, está contido no próprio caput, do art. 43, do CDC, corroborado pela sanção penal do art. 72, que diz:

Art. 72 – Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que sobre ele constem em cadastros, banco de dados, fichas, registros:

Pena - Detenção de seis meses a um ano ou multa.

Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin ensina que este direito de acesso é um direito genérico, que se fragmenta em três direitos específicos, a saber: a) direito de acesso às informações arquivadas; b) direito de acesso às fontes de registro; c) direito de acesso à identificação dos destinatários, sito é, pessoas físicas ou jurídicas, comunicadas do conteúdo do assentamento20.

Este direito de acesso não se refere apenas aos dados arquivados, mas também ao conhecimento da fonte que forneceu os dados, assim como saber quem recebeu estas informações, tudo com os seguintes objetivos: os dados possam ser contestado e ou corrigidos; coleta de elementos para postulação de perdas e danos; e retificação das informações junto a quem as tenha recebido.

(32)

5.2. CARACTERÍSTICAS DAS INFORMAÇÕES (art. 43, § 1º)

A determinação legal é de que os cadastros e dados dos consumidores devem ser:

1. objetivos; 2. claros; 3. verdadeiros;

4. linguagem de fácil compreensão, e

5. não conter informação negativa por período superior a cinco anos.

5.2.1. Informações objetivas

A exigência de objetividade nas informações arquivadas tem a finalidade de que elas sejam precisas, sem deixar dúvidas no entendimento para quem delas tome conhecimento, evitando de maneira taxativa qualquer ilação de subjetividade sobre o consumidor, sem extrapolar os elementos formadores de juízo para a concessão de crédito.

Leonardo Roscoe Bessa ao tratar da matéria, assim entende:

“A informação, além de clara e de fácil compreensão, deve ser objetiva, ou seja, não deve envolver juízos de valor ou análise subjetiva da situação financeira do consumidor.

O atributo da objetividade evidencia a finalidade teórica dos bancos de dados de proteção ao crédito: auxiliar a decisão de um fornecedor sobre a concessão ou não de crédito a alguém. Portanto, a valoração das informações é tarefa a ser realizada pelo destinatário das informações, pelo consulente dos arquivos, e não pelas entidades de proteção ao crédito.

(33)

As solicitações de registro que não observem o atributo da objetividade também devem ser indeferidas. O registro, eventualmente realizado sem atenção a esse pressuposto, configura ilicitude, possibilitando a incidência de sanções administrativas e civis.”21

Sobre o tema Antônio Carlos Efing, afirma:

“A objetividade dos dados tem relação direta com a destinação que lhes será dada. Ou seja, as informações devem conter simplesmente os dados úteis à sua finalidade, sem dispor daquelas que não se prestem aos fins esperados. Como nos arquivos de consumo sua finalidade é instruir relação de consumo, ai está o limite de sua objetividade. Dados que se prestem a, objetivamente, instruir a realização de relação de consumo são os únicos autorizados a permanecer em tais repositórios. Esta objetividade representa a divulgação exclusivamente de dados acerca dos consumidores, sem juízo de valoração, salvo a permissão disponibilizada aos cadastros de consumidores.”22

Eduardo Arruda Alvim, afirma:

“Por dados ‘objetivos’ devem-se entender aqueles despidos de ‘opiniões’, pois estas envolvem subjetivismo.”23

Dissertando sobre as finalidades e para que se prestam as informações, Carlos Adroaldo Ramos Covizzi assim se manifeta:

“È exatamente por isso que, os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos; entendendo-se por dados objetivos aqueles despidos de opiniões, pois estas envolvem subjetivismo e permitem que delas se façam juízos de valores com interpretações equivocadas, muitas vezes prejudiciais aos consumidores.”24

Talvez, a mais forte manifestação sobre o tema, seja a comparação de Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin, quando diz:

“.... só informações relevantes ao bom funcionamento da sociedade de consumo recebem o aval do direito para constarem de um arquivo de consumo. Arquivo, sim. Mas de consumo, e não de

21 BESSA, Leonardo Roscoe.

O Consumidor e os Limites dos Bancos de Dados de Proteção ao Crédito. p. 186. São Paulo: Ed. RT. 2003.

22 EFING, Antônio Carlos.

Bancos de Dados e Cadastro de Consumidores. p. 130. São Paulo: Ed. RT,

2002.

23 ALVIM, Eduardo Arruda.

(34)

disse ou mexerico, absolutamente irrelevantes à concretização de sua finalidade mercadológica.”25

5.2.2. INFORMAÇÕES CLARAS

Diante da importância conferida aos bancos de dados e cadastros de consumidores de proteção ao crédito, onde qualquer informação negativa sobre o consumidor significa fechar-lhe as portas do mercado de consumo, pois nenhum fornecedor vende a quem esteja negativado nestes órgãos, a determinação de clareza contida no § 1º, do artigo 43, do CDC, tem por objetivo que os dados contidos nestes registros possam transmitir a quem os consulta, conhecimento correto dos fatos ocorridos, sem qualquer possibilidade de dúvida, evitando interpretação que possa causar ao consumidor restrição além daquelas proporcionais aos seus atos.

O objetivo da clareza é no sentido de que as informações registradas não sejam ambíguas, nem revestidas de controvérsia, muito menos possam suscitar duvidas a seu respeito, transmitindo o verdadeiro e correto conteúdo da relação que as originou.

A respeito do requisito de dados claros do § 1º, do artigo 43, do CDC, Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamim, ensina:

“Além de objetivo, qualquer dado arquivado sobre o consumidor há que ser claro, isto é, não prolixo, contraditório ou dúbio”26

Com um entendimento de que a informação não sendo clara, a legitimidade de negativar o consumidor simplesmente pela alegação de existência do débito pode ser contestada, caracterizando abuso de direito, Carlos Adroaldo Ramos Covizzi, assim se manifesta:

25 BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e.

Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, p. 331, 5ª edição., Rio de Janeiro: Ed. Forense Universitária, 1997.

(35)

“Observe-se que, o comando da norma do art. 43, § 1º, não autoriza dizer que o inadimplemento do consumidor já é o bastante para justificar a negativação do seu nome nos serviços de proteção ao crédito, nem muito menos dá carta branca para o fornecedor agir dessa maneira, sempre que tiver em mão um débito do consumidor. Ao contrário, exige que a informação seja, verdadeira, objetiva e clara, sem quaisquer resquícios de dúvidas.”

Isso implica em afirmar que, o caráter induvidoso do dado é da essência dos arquivos de consumo. Esse traço é visto em dupla perspectiva: a) certeza sobre o débito; e b) convicção sobre a informação em si mesma considerada. Não é exercício regular do direito prática que contrarie tais exigências. Do contrário, a hipótese será exatamente oposta: abuso de direito, projetado pela banalização da atividade e da conspurcação desse sistema de informações financeiras.”27

Leonardo Roscoe Bessa ao tratar do assunto, afirma que o requisito de clareza da informação não pode ser confundido com a da linguagem de fácil compreensão, informando o seguinte:

“Exige-se que a informação arquivada nos bancos de dados de proteção ao crédito seja clara. Não se trata de repetição, com outros termos, do atributo concernente a linguagem de fácil compreensão. Pelo atributo da clareza, há de ser entendido que os dados devem revelar, ao máximo, a realidade da situação geradora do registro. Isso significa, especialmente se conjugado com o requisito da veracidade, que a informação deve ser precisa e completa, de modo a possibilitar que o destinatário dos dados possa efetivamente analisar o grau de solvência da pessoa interessada na obtenção do crédito.

Assim não se permite registros de débitos que apenas informem o nome do credor, sem indicar o valor da dívida e a respectiva data do vencimento.

... O requisito de clareza exige, portanto, que o registro em banco de dados de proteção ao crédito seja um reflexo fiel e completo da situação de determinado consumidor perante o fornecedor”28.

Sobre a matéria Antônio Carlos Efing afirma:

27 COVIZZI, Carlos Adroaldo Ramos.

(36)

“Os dados devem ser claros justamente para que não ocorra o risco de armazenamento de informações que suscitem dúvida sobre o seu conteúdo, o que certamente levará à interrogação acerca de sua autenticidade. Informação clara é...”29

5.2.3. INFORMAÇÕES VERDADEIRAS

A disposição legal do § 1º, do artigo 43, do CDC, que determina que as informações arquivadas sobre o consumidor sejam verdadeiras, é o principal objeto das lides de consumo, se o registro consultado indicar débito que não existe, ou seja, informação não verdadeira, estará configurado prática abusiva, com responsabilização por dano ao fornecedor dos dados inverídicos, da mesma forma se houver informação da existência de débito já quitado, visto que, isto não é verdade.

O não atendimento da veracidade das informações é tratado com muito vigor pelo CDC, pois a manipulação de informações inverídicas, até pelo princípio da boa fé objetiva já é repudiada pela norma.

A não correção de informações constantes de cadastro, bancos de dados, e congêneres é fortemente combatida, tanto que, tipificada como crime pelo artigo 73, do CDC.

Brilhante enfoque do tema é dado por Leonardo Roscoe Bessa, que preleciona o seguinte:

Os bancos de dados de proteção ao crédito só estão autorizados a realizar o tratamento de informações verdadeiras (art. 43, § 1º, do CDC). Cuida-se de atributo fundamental. A informação falsa ou inexata simplesmente não serve para avaliar corretamente a

solvência da pessoa interessada na obtenção do crédito. A verdade deve refletir a situação mais moderna do consumidor em

relação ao fato. Assim, informação verdadeira é informação

(37)

atualizada. Sem embargo da obviedade, a Diretiva 95/46/CE determina que os dados, além de exatos, devem ser atualizados (art. 6º).

O não atendimento ao tributo da veracidade é, provavelmente, o que mais tem provocado o Poder Judiciário a se manifestar sobre os limites da atuação dos bancos de dados de proteção ao crédito. As ações, em sua maioria, são ajuizadas contra o fornecedor que registrou, por equivoco, dívida inexistente, ou quando, mesmo após o pagamento da dívida, o registro não foi cancelado. Algumas poucas são propostas contra entidade arquivista.

A relevância do atributo da exatidão da informação levou o legislador a instituir o tipo penal específico. A pessoa responsável pelo banco de dados que deixar de corrigir imediatamente informação que sabe, ou deveria saber, ser inexata pratica a infração penal descrita no artigo 73 do CDC.

Em síntese, o registro de informação que não atende ao atributo da veracidade, além de ensejar a incidência de sanções administrativas e civis, caracteriza ilícito penal.”30

Ainda sobre o tema Antônio Carlos Efing, diz:

“Esta disposição corrobora a aplicação compulsória do princípio da veracidade já analisada, estendendo-se a aplicação do princípio da boa-fé. Apesar de redundante – visto que estes princípios não deveriam derivar de obrigação legal, mas do bom senso e moralidade social -, a importância desse instituto se fixa justamente no momento da apreciação de eventual dado inverídico que venha a ser encontrado em arquivo de consumo. Neste momento, a responsabilização deve percorrer o caminho rumado pelos dados, alcançando a origem da inveridicidade. Dados verazes, assim dizendo, são aqueles que representam os fatos justamente como ocorreram sem distorções.”31

Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamim ao comentar a matéria, assim se pronuncia:

“Antes de mais nada, os dados arquivados, é até despiciendo mencionar, precisam ser verazes, ou seja, dizem tudo (nada truncam ou omitem) e tudo o que dizem representa os fatos tal como são. É com base neste direito que se fixa o dever para o arquivista de anotar, junto com a informação que recebe, a sua fonte. Isso porque

30 BESSA, Leonardo Roscoe.

(38)

o dado de consumo, assim como a publicidade, pode, por omissão, deixar de ser veraz, sempre que traduza apenas parte da realidade.”32

5.2.4. INFORMAÇÕES COM LINGUAGEM DE FÁCIL COMPREENSÃO

Quando o § 1º, do artigo 43, do CDC, determina que as informações registradas nos bancos de dados e cadastros de consumidores devem se realizar em linguagem de fácil compreensão, tem por objetivo assegurar que os cadastros sejam entendidos sem dificuldades, tanto de parte do consumidor, como de parte do fornecedor.

Não haveria razão de ser, permitir o acesso às informações constantes dos arquivos, se os dados delas constantes fossem cifrados ou em código, impedindo o conhecimento das mesmas pelo consumidor. Neste mesmo sentido é vedado registro em língua estrangeira.

O acesso do consumidor as informações com linguagem de fácil compreensão é o que lhe permitirá entender os dados constantes do registro, podendo então se necessário promover sua correção, retificação ou cancelamento, se for o caso. A fácil compreensão também é de interesse do fornecedor, que entendendo claramente o conteúdo das informações terá melhor capacidade de análise na concessão do crédito.

Ao manifestar-se sobre a matéria o Desembargador Rizzatto Nunes, diz:

“A regra do § 1º segue a sistemática adotada pela Lei 8.078, de exigência de utilização de termos claros, objetivos em linguagem de fácil compreensão e, naturalmente verdadeiros.

E aqui neste § 1º designa, além de tudo, a proibição de uso de códigos. Está vedado o arquivo de informação cifrada.”33

32 BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e.

Código Brasileiro de Defesa do Consumidor

Comentado pelos Autores do Anteprojeto, p. 378, 6ª edição, Rio de Janeiro: Ed. Forense Universitária.

33 NUNES, Luiz Antonio Rizzatto.

Comentários ao Código de Defesa do Consumidor Direito Material,

(39)

A opinião de Antônio Carlos Efing a respeito do dispositivo ‘em linguagem de fácil compreensão’, é a seguinte:

“Este dispositivo impossibilita a utilização de sinais, ‘códigos indecifráveis’ (expressão de João Batista de Almeida nota 82 Efing), símbolos, para representar dados ou situações relativas ao consumidor. A fácil compreensão a que se remete o CDC representa a obrigação de que as informações arquivadas sejam expressas, além de objetivamente, claramente e verazmente, em linguagem que se faça compreender a todos os que necessitem utilizar os serviços dos arquivos de consumo e inclusive ao arquivado. Por este motivo, impera sejam as informações lançadas na língua pátria.”34

O entendimento de Leonardo Roscoe Bessa é de que os registros que não atendam a exigência da linguagem de fácil compreensão, não podem ser arquivados, sob pena de responder civil e administrativamente, assim dizendo:

“A exigência com relação a registro de fácil compreensão objetiva que o interessado, ao exercer o direito de acesso, possa compreender exatamente o conteúdo e significado da inscrição, até para, se for o caso, exigir a retificação ou cancelamento da informação.

Não se admitem, portanto, informações codificadas, linguagem técnica, prolixa e utilização de idioma estrangeiro. Em conseqüência, pedidos de registros que não atentem para tais requisitos devem ser indeferidos. Caso contrário, o banco de dados estará sujeito a sanções administrativas e civis.”35

No mesmo sentido ensina Reynaldo Andrade da Silveira, afirmando:

“De nada adiantaria, se ao consumidor fosse assegurado o direito de acesso ao registro ou cadastro e, diante da leitura da informação, não fosse capaz de entender o seu conteúdo. Assim, se os registros fossem codificados, o direito de acesso não teria nenhum sentido.”36

O entendimento a respeito da interpretação deste dispositivo não revela qualquer dúvida, tanto que a consideração de Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin, é curta e objetiva, nos seguintes termos;

34 EFING, Antônio Carlos.

Bancos de Dados e Cadastro de Consumidores, p. 131, São Paulo: Ed. RT,

2002.

35 BESSA, Leonardo Roscoe.

(40)

“Finalmente, não só verazes, objetivos e claros, os dados arquivados devem ser de fácil entendimento. Vedada, portanto, a utilização de símbolos, códigos ou idioma estrangeiro.”37

5.2.5. INÍCIO E VIGÊNCIA DAS INFORMAÇÕES

Uma vez registradas as informações do consumidor no banco de dados, lá não poderiam elas permanecerem por toda vida, ou seja, eternamente, pois as informações relativas a concessão de crédito representam uma situação conjuntural do consumidor, que pode se modificar no decorrer do tempo, fazendo com que a realidade de hoje, não o seja a realidade de amanhã, mesmo porque a inscrição de qualquer um como negativo em bancos de dados de proteção ao crédito, é produto de um determinado desarranjo financeiro, que uma vez superado tem como resultado a recuperação credíticia do inscrito, e até porque em um raciocínio lógico, o cidadão médio não deseja estar com seu nome incluído como negativo em banco de dados.

O tempo de vida útil destas informações foi regulamentado no CDC através de dois dispositivos, que são os parágrafos 1º e 5º do artigo 43. No § 1º, a determinação é de um prazo de cinco anos como teto máximo para que as informações registradas constem dos cadastros; já no § 5º, o prazo para que as informações permaneçam ativas é o da prescrição do direito de cobrança.

Sobre o assunto Leonardo Roscoe Bessa, informa:

“O CDC, seguindo tendência internacional, estabelece limites temporais aos registros nos bancos de dados de proteção ao crédito. Há, na verdade, duas referências a limites cronológicos na Lei 8.078/1990.38

37 BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e.

Código Brasileiro de Defesa do Consumidor

Comentado pelos Autores do Anteprojeto, 6ª ed. 2ª reimpressão, p. 379, Rio de Janeiro: Ed. Forense Universitária. 2000.

38 BESSA, Leonardo Roscoe.

(41)

O § 1º do art. 43 do CDC dispõe que “os cadastros e dados de consumidores” não podem conter informações negativas referentes a período superior a cinco anos. O § 5º, do mesmo artigo, estipula, por seu turno: “consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao crédito junto aos fornecedores”.

Observe-se, de início, que, enquanto o § 1º alude a informações negativas, o § 5º refere-se a informações que possam impedir ou dificultar a obtenção de crédito. A distinção tem pouca relevância prática, especialmente porque as entidades de proteção ao crédito realizam, basicamente, o tratamento de informações negativas, que servem, portanto, para denegar a concessão de crédito ao consumidor. Acrescente-se o fato de a informação ser oriunda de entidade de proteção ao crédito já traz, por si só, estigma negativo. Assim, nenhum tipo de informação deverá ser mantido nos arquivos após transcurso de qualquer dos prazos39.

Há outra sutil distinção na redação dos dois dispositivos que merece observação. O § 1º determina que os bancos de dados não podem conter informações negativas referentes a período superior a cinco anos; o § 5º estabelece que, consumada a prescrição, não serão fornecidas informações. Interpretação meramente literal poderia levar a conclusão de que há dois regimes: no primeiro caso, a informação deve ser retirada; no segundo, a informação é mantida nos arquivos, mas com o óbice de ser transferida a terceiros. Não é o que deve ocorrer. Os bancos de dados de proteção ao crédito não coletam informação para uso próprio. Sua atividade está voltada para o fornecimento das informações armazenadas para terceiros. Manter o dado sem poder transferi-lo é o mesmo que não possuir a informação. Assim por questão de segurança, é melhor que toda informação que extrapole seu limite temporal, seja em decorrência do § 1º ou do 5º, seja definitivamente excluída dos arquivos dos bancos de dados40.

O termo inicial da contagem do prazo deve coincidir com o momento em que é possível efetuar a inscrição da informação nos bancos de dados de proteção ao crédito: um dia após o vencimento da dívida. O critério é objetivo, pois não deve ficar submetido à vontade de bancos de dados ou do fornecedor, sob pena de esvaziar, por completo, o propósito legal de impedir conseqüências negativas, como a denegação de crédito, em decorrência de dívidas consideradas – legalmente – antigas e irrelevantes. Assim, vencida a obrigação e não havendo pagamento, inicia-se a respectiva contagem do prazo de cinco anos, independentemente da efetiva inscrição nos arquivos de consumo41.

39

(42)

Desse modo, para possibilitar a correta aplicação da lei, no que concerne ao aludido limite temporal e, também, em relação ao atributo da clareza, é dever do fornecedor indicar a data de vencimento da obrigação. De outro lado, os bancos de dados de proteção ao crédito não podem efetuar ou aceitar o registro de qualquer informação negativa, sem data de vencimento da obrigação42.

5.2.5.1 – Cinco anos – art. 43 - § 1º

O parágrafo 1º, do artigo 43, determina e confere ao consumidor a proteção frente ao poder econômico, via de regra exercido pelo fornecedor, de que mesmo tendo passado por dificuldades, e como conseqüência se tornado inadimplente, esta pecha de caloteiro imposta pelos bancos de dados de proteção ao crédito não pode lhe pesar por toda a vida.

O legislador entendendo que o prazo de cinco anos é suficiente para resguardar os interesses dos fornecedores, e não prejudicar o consumidor por tempo exagerado, dispôs que este seria o prazo máximo de vida útil para as informações constantes em bancos de dados, estabelecendo um equilíbrio nas relações de consumo.

Com a velocidade imposta pela informática e a massificação das relações de consumo, não podemos afirmar que este prazo máximo de cinco anos é o ideal para vida útil das informações constantes dos bancos de dados de proteção ao crédito, hoje as situações conjunturais da economia e das pessoas se modificam rapidamente, até mesmo por várias vezes em um só ano. Ainda que, este prazo já exija uma atenção especial, de qualquer maneira é aceitável, o que não poderia se permitir é que o consumidor carregasse este ‘rótulo de negativo’ por toda a vida.

42

BESSA, Leonardo Roscoe. O consumidor e os Limites dos Bancos de Dados de Proteção ao Crédito, p. 211, São Paulo: Edição RT, 2003.

(43)

Inspirado em Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin, Antônio Carlos Efing assim disserta:

“Além das normas que regram a atuação dos repositórios de consumo nas fases de coleta, armazenamento e divulgação de informações, também discorre o CDC sobre a imperatividade de extinção dos dados a partir de determinado momento. O Código de defesa do Consumidor atribui prazos prescricionais para manutenção de dados em arquivos de consumo.

Primeiramente, vale enfatizar que a prescrição, apesar de entendida por alguns como contrária à justiça, deve ser considerada como indispensável à segurança e estabilidade de todos os direitos dos cidadãos, que sem ela poderiam sofrer permanentemente ameaça de serem demandados. Surge a prescrição, para o devedor, como uma forma de aliviá-lo do pesado fardo – sobretudo nos dias atuais, em que o bom nome na praça foi substituído pelas consultas em tempo real realizadas em empresas que dispõem de subsídios que permitem uma vasta concentração de dados, inclusive e principalmente relativos à idoneidade financeira do cidadão, das quais depende o consumidor para alcançar a possibilidade de participação efetiva no mercado de consumo, condição indispensável a todos os cidadãos que não se encontrem em estado de isolamento – da inadimplência; peso este que se pretende elidir ou atenuar em observância à evolução social, que caminha com vistas a igualar o devedor a qualquer outro cidadão, levando em consideração que a inadimplência não exprime a vontade de nenhuma das partes envolvidas na relação que a originou43.

Este tipo de comportamento, de se perdoar os que cometem atos condenáveis é normal na nossa vida privada, e também no mundo jurídico, tecendo considerações sobre o tema Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin ensina:

(44)

usado para macular uma vida inteira, passada e futura, de correção como contratante e consumidor.”44

“Consequentemente, nenhum dado cadastral depreciativo pode superar o qüinqüênio. Essa é a vida útil máxima e genérica de qualquer informação incluída em banco de dados. É o lapso que o Código considera razoável para que uma conduta irregular do consumidor seja esquecida pelo mercado. Se até os crimes mais graves prescrevem, não há razão para que o consumidor fique com sua ‘folha de antecedentes de consumo’ maculada ad eternum”45.

No mesmo sentido Leonardo Roscoe Bessa, diz:

“O CDC, seguindo tendência internacional, estabelece limites temporais aos registros nos bancos de dados de proteção ao crédito. Há, na verdade, duas referências a limites cronológicos na Lei 8.078/1990.”46

O § 1º do art. 43 do CDC dispõe que “os cadastros e dados de consumidores” não podem conter informações negativas referentes a período superior a cinco anos.

Observe-se, de início, que, enquanto o § 1º alude a informações negativas,....

Há outra sutil distinção na redação dos dois dispositivos que merece observação. O § 1º determina que os bancos de dados não podem conter informações negativas referentes a período superior a cinco anos47;

5.2.5.2. – Prescrição à Cobrança – art. 43 - § 5º

O CDC também determina que as informações registradas nos bancos de dados de proteção ao crédito, não podem mais serem processadas se ocorrer

44 BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e.

Código Brasileiro de Defesa do Consumidor

Comentado pelos autores do Anteprojeto, 6ª ed. p. 380. 45 Idem, p. 382

46 BESSA, Leonardo Roscoe.

O consumidor e os Limites dos Bancos de Dados de Proteção ao Crédito, p. 207, São Paulo: Ed. RT. 2003

(45)

prescrição relativa à cobrança de débitos objeto da anotação, isto significa dizer que, quando o fornecedor não tiver mais possibilidade jurídica de perseguir o seu crédito, esta ocorrência não poderá constar dos referidos bancos de dados como informação negativa do consumidor.

Tal disposição legal é perfeitamente factível com o princípio da equidade, ou seja, se o débito não tem mais o poder de gerar direito positivo ao credor (fornecedor), razão não há para que gere direito negativo contra o devedor

(consumidor), se o fornecedor perdeu seu direito sobre o produto da relação de

consumo (crédito), não podem os bancos de dados e cadastro de consumidores de

proteção ao crédito continuarem se beneficiando do fornecimento de informação incapaz de produzir direito, nem o fornecedor prejudicar o consumidor sem ter mais qualquer direito legal sobre o débito.

João Batista de Almeida ao falar sobre o tema , diz:

“... ao contrário de incentivar o calote, impede a aplicação de pena de caráter perpétuo, vedada pela Constituição da República (art. 5º,XLVII,b) e uniformiza o tratamento da matéria ao impedir efeitos extrajudiciais da dívida prescrita e não permitir que esta perturbe eternamente a vida do consumidor, cassando-lhe o crédito e a possibilidade de reabilitação. Se prescreve o direito de punir do Estado, não haveria razão para não se considerar prescrita a veiculação de mera informação cadastral48.

A uma primeira leitura dos dispositivos constantes dos parágrafos 1º e 5º, do artigo 43, do CDC, poderia se entender que existem dois tipos de proibição quanto a permanência de informações de consumidores em cadastros de proteção ao crédito, a primeira delas relativa ao parágrafo 1º, afirma categoricamente que ‘não poderão

conter informações negativas referentes a período superior a cinco anos’, ou seja,

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