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Áreas Protegidas e desenvolvimento em meio rural : o Parque Natural do Vale do Guadiana 20 Anos depois

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Áreas Protegidas e Desenvolvimento em Meio Rural. O Parque Natural do Vale do Guadiana 20 Anos Depois

Marco Gonçalo da Silva Costa

Dissertação de Mestrado em Gestão do Território – Ambiente e Recursos Naturais

(Versão corrigida e melhorada após defesa pública)

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2

Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à

obtenção do grau de Mestre em Gestão do Território – Ambiente e

Recursos Naturais, realizada sob a orientação científica da Professora

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3 Dedicatória Pessoal

Aos meus pais por toda a dedicação que tiveram por mim, mostrando a importância de

trilhar o caminho do saber para que eu chegasse até esta etapa de minha vida. A minha

esposa por todo o seu apoio, carinho e companheirismo incondicionais que trouxeram o

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4 Agradecimentos

Esta Dissertação representa a materialização de uma conquista da qual fizeram parte algumas pessoas, as quais gostaria de deixar o meu sincero agradecimento.

Primeiramente, agradeço a Professora Doutora Maria do Rosário Oliveira por sua dedicação e inteira disponibilidade na condução desta Dissertação.

Aos meus pais José Leonel e Maria Ondina por todo o incentivo que prestaram ao longo da minha caminhada académica, oferecendo-me todas as condições para que eu aqui chegasse.

Aos meus familiares e amigos do lado de cá e de lá do Atlântico, pelas boas vibrações emitidas.

Um muito obrigado a todas as entidades do Concelho de Mértola que gentilmente aceitaram o convite para participar das entrevistas. Sem elas, a riqueza deste trabalho não seria a mesma.

E por último, mas não menos importante, a minha esposa Thays Nunes, que de forma especial e carinhosa me deu força e coragem nos momentos mais difíceis.

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5 Áreas Protegidas e Desenvolvimento em Meio Rural. O Parque Natural do Vale do

Guadiana 20 Anos Depois. Marco Gonçalo da Silva Costa

RESUMO

Esta Dissertação tem como objetivo, avaliar o impacto da criação do Parque Natural do Vale do Guadiana no desenvolvimento local. Esta área protegida que em 2015 completa 20 anos de existência, está inserida numa região marcada profundamente por problemas de ordem estrutural, assinalados pela reduzida oferta de emprego, forte emigração e envelhecimento, baixa densidade populacional e níveis críticos de infraestruturas, equipamentos e serviços.

Assim sendo, passadas duas décadas desde a sua criação, importa saber de que modo uma área com este estatuto de proteção, neste território específico, influenciou a estrutura socioeconómica da região, procurando entender até que ponto é possível existir desenvolvimento sem comprometer a conservação dos recursos naturais e das belezas cénicas existentes na região e, ao mesmo tempo, constituindo-se como uma mais-valia para a população residente na geração de emprego e rendimento.

Para chegar aos resultados obtidos, a metodologia desta avaliação consistiu na integração de duas abordagens, uma de natureza mais quantitativa, baseada na seleção de indicadores estatísticos e outra qualitativa a partir de dados empíricos recolhidos com base em entrevistas presenciais com representantes de diversas entidades atuantes na região. A partir desta análise pode-se constatar que o parque foi benéfico, no sentido em que criou algumas condições favoráveis à dinamização desta área, que até ao início dos anos 90 era um território quase exclusivo das atividades agropecuárias, adicionando novas funcionalidades ao espaço, sobretudo o turismo, nas suas várias vertentes (ambiental, cinegética e cultural). Contudo, mesmo passados vinte anos desde a sua criação, o parque não é unanimemente aceite entre as populações, sendo que algumas das expetativas geradas em torno desta classificação nunca vieram a concretizar-se.

PALAVRAS-CHAVE: áreas protegidas, desenvolvimento sustentável, conservação da natureza, avaliação de impactos, vale do Guadiana

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6 Abstract

This thesis aims to evaluate the impact of the creation of the Guadiana Valley Natural Park in local development. This protected area, which in 2015 celebrates 20 years of existence, is set in a region deeply marked by structural problems, appointed by reduced job offers, strong emigration and aging, low population density and critical levels of infrastructure, equipment and services.

Thus, after two decades since its creation, it is important to know how an area with this protection statute, in this particular territory, influenced the socio-economic structure of the region, trying to understand the extent to which there can be development without compromising the conservation of natural resources and scenic beauty existing in the region and, at the same time, establishing itself as an asset for the resident population in generating employment and income.

To achieve the obtained results, the methodology of this evaluation consisted in the integration of two approaches, a quantitative one, based on the selection of statistical indicators and a qualitative one, from collected empirical data based on personal interviews with representatives of various organizations operating in region. From this analysis it can be seen that the park was beneficial, in the way it created some favorable conditions for boosting this area, which until the early 90s was an almost exclusive territory of agri-pastoral activities, adding new features to space, especially tourism in its various aspects (environmental, hunting and cultural). However, even after twenty years since its implementation, the park has not unanimity among the population, and some of the expectations generated around this classification never succeed.

KEYWORDS: protected areas, sustainable development, nature conservation, impact assessment, Guadiana Valley

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Índice

Introdução ... 13

Capítulo I – Enquadramento Conceptual ... 15

1.1 – O Conceito de Desenvolvimento Sustentável ... 15

1.2 – Conceito de Ruralidade ... 19

1.3 – Conceito de Áreas Protegidas, sua história e evolução no âmbito internacional ... 21

1.3.1 – O Duelo entre duas correntes: Preservacionistas versus Conservacionistas ... 23

1.4 – Áreas Protegidas e a Incorporação de Novos Conceitos ... 24

1.5 – Convenções e Conferências ... 25

1.6 – Evolução das Áreas Protegidas a Nível Europeu ... 35

1.6.1 – Áreas Protegidas e a Legislação no Continente Europeu ... 37

1.7 – Evolução das Áreas Protegidas a Nível Nacional ... 38

1.7.1– A Criação do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas ... 44

1.8 – A Gestão das Áreas Protegidas ... 45

Capitulo II – A Conservação da Natureza ... 51

2.1 – A Evolução do Conceito de Conservação da Natureza ... 51

2.2 – A Conservação da Natureza (Enquadramento Legal) ... 51

2.3 – A Conservação da Natureza (Quadro Institucional) ... 53

2.4 – Estratégias e Planos de Conservação da Natureza: O PACLIP ... 54

2.5 – Outros Estatutos de Conservação da Natureza ... 56

2.5.1 – Rede Natura 2000 ... 57

2.5.2 – Convenção de Ramsar ... 59

2.5.3 – Programa “MAB” e a Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO ... 62

2.5.4 – Rede de Reservas Biogenéticas do Conselho da Europa ... 63

2.5.5 – Áreas Importantes Para Aves (IBAs) ... 64

2.5.6 - Geossítios ... 66

2.5.7 – A Geoconservação em Portugal ... 66

2.5.8 – Áreas de Continuidade ... 68

2.5.9 – Domínio Público Hídrico ... 68

2.5.10 – Reserva Agrícola Nacional (RAN) ... 69

2.5.11 – Reserva Ecológica Nacional (REN) ... 71

Capítulo III – Caracterização Geral ... 74

3.1 – Localização e Limites da Área de Intervenção ... 74

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8 3.2.1 - Exploração Moderna da Mina de São Domingos e Período Cerealífero (1864–

1960) ... 75

3.2.2 - Encerramento da Mina e Êxodo Rural (1960 - 1985) ... 79

3.2.3 - Entrada na Comunidade Económica Europeia (1986) até a Atualidade ... 80

3.3 – Caracterização Biofísica ... 83

3.3.1– Geologia e Geomorfologia ... 83

3.3.2 – Hidrogeologia ... 85

3.3.3 – Hidrologia e Hidrografia ... 86

3.3.4 – Solos e Capacidade de Uso ... 88

3.3.5 – O uso do solo ao longo do tempo ... 89

3.3.6 – Clima ... 92 3.4 – Caracterização Biológica ... 94 3.4.1 – Aspetos Biogeográficos ... 94 3.4.2 – Flora e Vegetação ... 96 3.4.3 – Fauna ... 97 3.5 – Caracterização Socioeconómica ... 101 3.5.1 – População Residente ... 101 3.5.2 – População Agrícola ... 102 Capítulo IV - Metodologia ... 104 4.1 – Opções Metodológicas ... 104

4.2 – A Utilização de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (Análise Quantitativa) ... 106

4.3 – A Entrevista Base Para a Análise Qualitativa ... 108

Capítulo V – Resultados ... 110

5.1 – Análise Quantitativa: Indicadores de Desenvolvimento Sustentável ... 110

5.2 – Análise Qualitativa: Entrevistas ... 121

5.3 – Resultados Finais: confrontação das análises quantitativa e qualitativa ... 130

5.4 – Limitações e Importância da Investigação ... 136

Conclusão ... 137

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9 Lista de Quadros

Quadro 1 - Tipologia e área das várias tipologias de áreas protegidas em Portugal Continental

... 57

Quadro 2 - Áreas da Rede Natura 2000 em Portugal Continental ... 58

Quadro 3 - Zonas húmidas classificadas como Sítios Ramsar em Portugal Continental ... 61

Quadro 4 - Reservas da biosfera em Portugal Continental ... 63

Quadro 5 - Reservas biogenéticas em Portugal Continental ... 64

Quadro 6 - Área das figuras de conservação da natureza em Portugal continental ... 65

Quadro 7 - Nível de escolaridade nos concelhos de Mértola e Serpa ... 114

Quadro 8 - Confrontação das análises quantitativa e qualitativa ... 135

Lista de Figuras Figura 1 - Percentagem de AP´s existentes, nos países europeus, que garantem a proteção das espécies referenciadas na Diretiva habitats existentes no território ... 37

Figura 2 - Constituição da Rede Fundamental de Conservação da Natureza ... 52

Figura 3 - Estatuto de proteção da área de intervenção do Plano de Gestão do Vale do Guadiana ... 59

Figura 4 - Número de sítios Ramsar e evolução da área acumulada ... 60

Figura 5- Organização espacial das Reservas da Biosfera ... 63

Figura 7 - Enquadramento geológico da faixa piritosa portuguesa ... 84

Figura 8 - Bacia hidrográfica do Rio Guadiana em Portugal ... 87

Figura 9 - Carta dos solos de Portugal Continental segundo a classificação da FAO ... 88

Figura 10 - Mapa da temperatura média diária do ar em Portugal Continental ... 93

Figura 11 - Mapa da precipitação total em Portugal Continental ... 94

Figura 12 - Carta biogeográfica de Portugal Continental ... 95

Figura 13 - Variação da população residente - Baixo Alentejo 1991-2011 ... 102

Figura 14 - Produtores agrícolas por faixa etária no concelho de Mértola ... 103

Figura 15 - População residente nos concelhos de Mértola e Serpa ... 110

Figura 16 - Índice de envelhecimento nos concelhos de Mértola e Serpa ... 111

Figura 17 - População ativa nos concelhos de Mértola e Serpa ... 112

Figura 18 - Saldo migratório nos concelhos de Mértola e Serpa ... 113

Figura 19 - Taxa de desemprego nos concelhos de Mértola e Serpa ... 115

Figura 20 - Número de empresas nos concelhos de Mértola e Serpa ... 115

Figura 21 - Explorações agrícolas nos concelhos de Mértola e Serpa ... 116

Figura 22 - Ganho médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem nos concelhos de Mértola e Serpa ... 117

Figura 23 - Despesas em ambiente dos municípios por habitante nos concelhos de Mértola e Serpa ... 118

Figura 24 - Receitas em ambiente dos municípios por habitante nos concelhos de Mértola e Serpa ... 119

Figura 25 - Associados das organizações não-governamentais de ambiente por 1000 habitantes nos concelhos de Mértola e Serpa ... 120

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Figura 27 - Taxa bruta mortalidade ... 148

Figura 28 - Número de indivíduos em idade ativa por idoso ... 148

Figura 29 - Densidade populacional ... 149

Figura 30 - Taxa de analfabetismo ... 149

Figura 31 - População empregada ... 149

Figura 32 - Poder de compra per capita ... 150

Figura 33 - Bombeiros (Nº) ... 150

Lista de Anexos Anexo I - Gráficos e tabelas: Análise quantitativa ... 149

Anexo II - Guião das entrevistas ... 152

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11 Lista de Abreviaturas

ADPM: Associação de Defesa do Património de Mértola APA: Agência Portuguesa do Ambiente

CEE: Comunidade Económica Europeia

CEEVF: Centro Experimental de Erosão do Vale Formoso CMM: Câmara Municipal de Mértola

CMS: Câmara Municipal de Serpa CNA: Comissão Nacional do Ambiente

CNUAD: Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento DGA: Direção-Geral do Ambiente

DGADR: Direção-Geral da Agricultura e Desenvolvimento Rural DPH: Domínio Público Hídrico

EEA: European Environment Agency

ENCNB: Estratégia Nacional da Conservação da Natureza e da Biodiversidade FCSH: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

FPG: Fórum Português de Geoparques

ICNF: Instituto de Conservação da Natureza e Florestas LPN: Liga para a Proteção da Natureza

MAOTE: Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia ONGA: Organizações Não-Governamentais do Ambiente

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12 PACLIP: Plano de Ação para a Conservação do Lince Ibérico em Portugal

PAPCAM: Projeto Agropecuário da Cooperativa Agrícola de Mértola PDGL: Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa

PEDAP: Programa Específico de Desenvolvimento da Agricultura Portuguesa PNVG: Parque Natural do Vale do Guadiana

RAN: Reserva Agrícola Nacional REN: Reserva Ecológica Nacional

RFCN: Rede Fundamental de Conservação da Natureza RNAP: Rede Nacional de Áreas Protegidas

SNAC: Sistema Nacional de Áreas Classificadas

SNPRCN: Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza UICN: União Internacional para a Conservação da Natureza

UNESCO: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization WCED: World Commission on Environment and Development

ZEC: Zona Especial de Conservação ZPE: Zonas de Proteção Especial ZSP: Zona Sul Portuguesa

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13 Introdução

Esta dissertação foi realizada no âmbito do Mestrado em Gestão do Território, área de especialização em Ambiente e Recursos Naturais.

Tem como objetivo principal, analisar as consequências da implementação do Parque Natural do Vale do Guadiana na região do Baixo Alentejo, situado entre os concelhos de Mértola e Serpa, dois territórios que têm vindo a sofrer consecutivamente graves perdas em suas estruturas demográficas. Esta é uma região de solos pobres, agravados por anos de usos inadequados, que vieram acentuar ainda mais os problemas já existentes referentes a debilidade estrutural deste recurso, traduzindo-se atualmente em graves consequências no que diz respeito ao esgotamento e erosão do solo.

A metodologia que serviu de base a esta avaliação foi desenvolvida recorrendo a dois métodos diferentes: a análise quantitativa, fundamentada na utilização de indicadores de desenvolvimento sustentável e análise qualitativa baseada na recolha de dados empíricos através da entrevista presencial com representantes das várias entidades com intervenção no território. A partir dos resultados obtidos nas duas análises separadamente foi possível então realizar uma confrontação entre as duas ferramentas metodológicas de maneira a extrairmos uma avaliação global dos efeitos da criação do parque nesta região.

A principal conclusão extraída desta avaliação prende-se, sobretudo, com a mudança no uso do solo, que até então era tipicamente agropecuária. Esta alteração favoreceu o despontar de um novo setor turístico na região, com novas possibilidades, revigorado a partir da “patrimonialização” do que antes era “apenas” rural. Porém, outros acontecimentos favoreceram também esta atividade, como o ordenamento cinegético, criando as reservas de caça associativas e turísticas no território, atividade esta de grande impacto, sobretudo, no concelho de Mértola assumido como: “Mértola, capital nacional da caça” adicionando desta forma, para além das vertentes já existentes rural e ambiental, uma nova vertente turística: a cinegética.

Este trabalho é organizado por cinco capítulos, começando pelo enquadramento conceptual, onde são apresentados alguns dos conceitos basilares importantes para um maior entendimento do tema proposto. Neste ponto são ainda abordados os acontecimentos históricos que alicerçaram a evolução dos conceitos inerentes as áreas

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14 protegidas. Em seguida, passamos para o segundo capítulo, onde se explora o conceito de conservação da natureza e a sua evolução, expondo esta matéria mediante ao seu enquadramento legal e ao seu quadro institucional. Constam ainda deste capítulo a enumeração dos outros estatutos conservacionistas, e os regulamentos integrantes da Rede Fundamental de Conservação da Natureza.

O Capítulo terceiro aprofunda a discussão sobre a caracterização geográfica do território em estudo. Neste ponto serão expostos as principais características em termos históricos, biofísicos e biológicos que estiveram na base da classificação desta área protegida. Posto isto, o Capítulo IV dá o seguimento natural desta investigação e entra no ponto referente às opções metodológicas consideradas para a análise, em que serão apresentados os métodos de avaliação em ciências socias e o modo como eles foram aplicados nesta avaliação.

Por fim, no Capítulo V serão apresentados os resultados alcançados da investigação a partir da utilização dos métodos anteriormente descritos, acompanhados da respetiva reflexão acerca das suas particularidades. Com base nas ilações obtidas será desenvolvida a conclusão que encerra este estudo, procurando demonstrar quais foram os impactos da criação do parque para a região no desenvolvimento local.

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15 Capítulo I – Enquadramento Conceptual

Para desenvolver e apoiar o tema proposto, torna-se necessário a descrição de alguns conceitos, que servirão como parâmetros de embasamento para a abordagem ao tema:

1.1 – O Conceito de Desenvolvimento Sustentável

Os modelos de crescimento e desenvolvimento recentes têm promovido o aumento dos problemas de qualidade ambiental derivados ao rápido crescimento populacional, dos processos de urbanização, do progressivo uso de recursos e consequente geração de resíduos e da incrementação dos níveis de consumo e resultantes impactos ambientais, o que conduz à procura de modelos que reduzam estas ações visando o desenvolvimento sustentável.

Em 1983, as Nações Unidas encarregou a primeira ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland, de conceber e presidir uma comissão especial e independente para tratar de “uma agenda global para a mudança”, o relatório “Nosso Futuro Comum”. Divulgado em 1987, o relatório é resultado de mais de três anos de trabalho da Comissão Brundtland e um dos elementos mais importantes no que consiste sobre a conservação da natureza e desenvolvimento no mundo (Rios e Irigaray, 2005). O documento tinha como mensagem principal evidenciar a urgência na tomada de ações de maneira a garantir um futuro para as gerações futuras. A reorientação dos percursos do desenvolvimento, a adoção de novas normas de conduta e, acima de tudo, a consciência de que apenas a ação integrada poderia levar o mundo ao desenvolvimento sustentável (Rios e Irigaray, 2005, p.18).

Desta forma, surge assim a primeira conceituação oficial que agregava os elementos de tempo e espaço ao conceito de desenvolvimento: “Desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades” (Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1987).

Este documento destacou-se, sobretudo, no iniciar do debate sobre a tomada de consciência em que o desenvolvimento e o ambiente são dois conceitos que devem caminhar juntos. Crescimento e desenvolvimento económicos geram modificações nos

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16 ecossistemas e nenhum ecossistema, seja onde estiver, está totalmente a salvo da ação humana. O desenvolvimento torna-se um processo devastador, na medida em que tende a simplificar os ecossistemas e a reduzir a sua diversidade biológica (Rios e Irigaray, 2005). No seguimento desta linha, a diminuição e/ou extinção de espécies vegetais e animais pode acarretar em limitações para as gerações futuras, ou seja, o desenvolvimento sustentável tem por princípios a conservação da diversidade biológica em suas diferentes formas, através da diversidade genética, diversidade de espécies, diversidade de ecossistemas e de processos ecológicos.

Desta maneira, ao conceito definido pela Comissão Brundtland foi integrada a componente ambiental: “desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que atende da melhor forma possível às necessidades atuais e futuras do homem sem afetar o ambiente e a diversidade biológica” (Lubchenco et al., 1991).

Com o conceito definido, o desafio maior consistia em transformar a teoria em prática e em ações políticas internacionais. A ideia de desenvolvimento sustentável nos finais dos anos de 1980, já discursava sobre a necessidade de mudança nos padrões de consumo das sociedades, apelava para o crescimento económico em regiões carentes de condições humanas básicas e ao mesmo tempo exigia uma diminuição de consumo nos países onde seu grau e/ou tendência no tempo fosse muito elevado.

Mas a essência conceptual do desenvolvimento sustentável vai além das relações de consumo humano e equidade social. O ponto central está na definição de sustentabilidade. A sustentabilidade, conforme estabelecida no conceito em questão, é uma propriedade complexa que pressupõe a sustentabilidade ecológica, económica e social, no tempo e no espaço.

Nesse sentido, o conceito de desenvolvimento sustentável abrange diferentes proporções de análise, como: espaço, tempo, sistemas sociedade-natureza, teorias económicas, modelos tecnológicos e o conhecimento disponível. Assim como também, os elementos de políticas locais, nacionais e internacionais, e da análise de potenciais catástrofes naturais e daquelas correlacionadas com a ação humana, como as guerras, vazamentos radioativos e epidemias (Rios e Irigaray, 2005).

Rodrigues (in Cavalcanti, 1997) define três requisitos básicos para a adoção do modelo de desenvolvimento sustentável:

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Participação: entendida como a capacidade do cidadão de participar e influenciar os processos de tomada de decisões e no meio transformar as relações de poder vigentes;

Descentralização: é o processo de estabelecimento de instâncias intermediárias de tomada de decisões e de poder de atuação, legitimamente representativas dos setores envolvidos;

Política ambiental: trata-se da adequação dos instrumentos – sociais, jurídicos e económicos – e da articulação com outras categorias das políticas públicas – económicas, sociais e territoriais. Deverá caracterizar-se por ser reguladora e por permitir o controlo social e estatal sobre o ambiente.

Porém, ainda que se tenham conseguido avanços significativos nas teorias científicas e políticas, dos modelos teóricos, da definição de seus princípios e pressupostos, não há parâmetros definidos para o “desenvolvimento sustentável” (Rios e Irigaray, 2005).

No entanto, o ano de 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e Desenvolvimento (CNUAD), realizada no Rio de Janeiro tornou-se num marco histórico nas questões relacionadas com o desenvolvimento sustentável. O objetivo primordial desta conferência seria criar condições para conciliar o desenvolvimento socioeconómico com a conservação e proteção da natureza. A base para esta noção estava na conjugação dos três pilares da sustentabilidade (ambiental, económico e social). O desenvolvimento sustentável baseia-se num modelo desenvolvimentista que possibilita o equilíbrio entre as três vertentes expostas, diferindo do modelo tradicional, onde a grandeza económica sobressai-se relativamente às outras duas vertentes. Tradicionalmente, representa-se a ideia de sustentabilidade recorrendo-se a um triângulo equilátero com três dimensões e três vértices, a qual a área central condiz com o equilíbrio para o desenvolvimento sustentável.

Mediante o exposto no relatório a vertente económica incorpora-se sempre a ambiental na totalidade dos níveis de decisão, onde são revistos os objetivos e modelos de desenvolvimento, servindo-se, para tal, de análises e repartição equitativa de benefícios e custos económicos e ambientais desenvolvidos, utilizando o avanço tecnológico e a reorganização de processos produtivos, de consumo e diminuição da

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18 produção de resíduos mediante ao aumento da eficiência e alterações nos hábitos de vida. A vertente social está ligada à estabilização do crescimento populacional, a difusão das condições de bem-estar social, educacional, do acesso às redes de informação e da inclusão nos procedimentos de decisão. A vertente ambiental está relacionada à conservação e à apreciação dos valores e recursos naturais e ambientais, onde estão incluídos ar, água, solo e a diversidade biológica, diminuindo o ritmo de extinção de ecossistemas e habitats; ajustando-os aos padrões e a intensidade de uso de recursos; à capacidade dos sistemas naturais e à referente capacidade de carga; bem como ao desenvolvimento de informação e ações de educação ambiental (WCED, 1987).

A prática da sustentabilidade ambiental relativamente aos processos de tomada de decisão é desenvolvida, entre outros aspetos, mediante a definição de indicadores de sustentabilidade que possibilitem determinar medidas de avaliação do desempenho dos Governos (Jacob, 1991, p.237). Porém, a utilização de indicadores clássicos como o PIB ou o consumo de combustíveis fósseis per capita, passaram a ser considerados não representativos da realidade de uma região ou país. Verdadeiramente, a aplicação de indicadores como ferramentas de medição tem gerado um enorme debate entre diferentes autores. O ponto fulcral desta discussão prende-se, sobretudo, com o nível de objetividade, pertinência, significância e enviesamento relativamente à informação a ser sintetizada e transmitida.

Apesar dos esforços com o passar dos anos, os indicadores demonstram haver dificuldade em atingir os objetivos propostos a nível mundial. Se por um lado, segundo a definição do Banco Mundial, verificou-se uma real diminuição do número de pessoas em situação de pobreza, a verdade é que as diferenças entre nações e territórios continuavam cada vez maiores (Fisher et al., 2005). Todavia, na perspetiva ambiental do desenvolvimento sustentável, observa-se que apesar do aumento no número de áreas estatuto de proteção um pouco por todo o mundo, continuam também a persistir a perda de áreas húmidas, o declínio das superfícies florestais e ao mesmo tempo, um aumento no número de países com graves dificuldades no abastecimento de água para consumo humano. (Fisher et al., 2005).

Estas constatações leva-nos a uma consideração sobre o real efeito das estratégias de desenvolvimento que têm vindo a ser realizadas ao longo dos anos. Pois apesar do conceito de desenvolvimento sustentável estar orientado de acordo com a

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19 junção dos três pilares, que em teoria são inseparáveis, segundo alguns autores o que se observa é uma clara tendência no favorecimento de estratégias puramente económicas e nesse sentido, a sobrevalorização desse aspeto pode vir a ser comprometedor do ponto de vista da conservação dos recursos naturais, ao mesmo tempo, retirar da sociedade a sua importância dentro do conceito inicial, colocando em causa toda a sustentabilidade do próprio sistema de desenvolvimento (Fisher et al., 2005).

1.2 – Conceito de Ruralidade

Por ruralidade compreende-se a combinação das características que definem a presença de uma condição ou qualidade rural, ou seja, que pertence ao campo e à vida agrícola. Assim, ruralidade é um estado. Um estado em que se encontra determinado espaço, de tal forma que as atividades e características das suas populações são marcadamente rurais. Significa isto que vivem de uma economia ligada à produção agrícola ou pecuária, diretamente dependentes da terra e da aptidão dos seus solos e recursos (Burnay, 1989).

Deste modo o mundo rural distingue-se, para além das suas fronteiras geográficas, através do reconhecimento de todo um tecido económico e social composto pela conjugação de diversas atividades, intimamente relacionadas às competências de cada área. Ainda assim, o espaço rural abrange, para além do enquadramento da vida e da atividade social e económica das suas populações, encargos essenciais para a sociedade como um todo. Trata-se portanto, de áreas indispensáveis ao equilíbrio ecológico, as quais têm vindo a desempenhar, cada vez mais, a função de espaços singulares de recreação, repouso e lazer.

Neste sentido, é essencial dotar o espaço rural de estruturas que proponham uma dinamização económica e social, de maneira a criar vias que possibilitem a integração social dos habitantes rurais em complemento ao que são as necessidades urbanas e, ao mesmo tempo, reconhecendo o seu papel num processo global político e económico de um mesmo território fornecendo as inovações necessárias em seu proveito.

A ruralidade é esse habitat construído durante gerações pela atividade agropecuária, é o território em que esse setor teceu uma sociedade. Esse conceito engloba uma visão

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multidisciplinar que reivindica aspetos antropológicos, sociopolíticos, ecológicos, históricos e etnográficos. (Perico, Ribeiro, 2002, p.27).

Em Portugal, a paisagem rural domina 92,7% do território nacional, dividido entre áreas agrícolas (46,3%), florestal (26,4%) e áreas naturais ou naturalizadas (20%), onde cerca de 70% das freguesias são consideradas predominantemente rurais (PNDR, 2005). Com relação à distinção entre o rural e o urbano, podemos verificar, que as famílias residentes em áreas rurais estão mais passíveis de sofrerem situações de pobreza quando comparadas com famílias residentes em áreas urbanas. Diante desta realidade em Portugal o Alentejo é a região que apresenta as mais altas taxas de pobreza (Alves, 2009).

Nesta área do território português profundamente marcada pelas atividades ligadas ao setor primário, principalmente a agricultura, existem diversos problemas relacionados com as estruturas demográficas, sociais e económicas, onde a perda de importância económica da agricultura, contribuiu em grande parte para a desestruturação do tecido social e económico da região, dando origem a movimentos migratórios e, consequentemente, ao envelhecimento e decréscimo populacional.

A conservação da natureza é normalmente vista como um obstáculo, que impede ou condiciona o desenvolvimento. Normalmente essa associação é feita a favor de políticas que visam unicamente o crescimento económico em detrimento de um desenvolvimento integrado e sustentado.

Através da utilização racional dos recursos é que poderemos enfrentar as crescentes necessidades alimentares da população, respondendo assim aos desafios surgidos nas últimas décadas, que apontam inevitavelmente, para a necessidade de aumento da capacidade de produção por parte da sociedade. Esta situação deverá ser resultado da exploração equilibrada das paisagens, de forma a permitir a manutenção da biodiversidade e não comprometer a utilização futura desses mesmos recursos. Esses propósitos há muito pensados por estudiosos de diversas áreas são, sem dúvida, o suporte para uma política de conservação da natureza, que não opõem crescimento a desenvolvimento, pelo contrário, um complementa o outro, e a conjugação desses entendimentos é vista cada vez mais como conceitos de grande relevância para as questões atuais.

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21 1.3 – Conceito de Áreas Protegidas, sua história e evolução no âmbito internacional

Este capítulo tem por objetivo apresentar a evolução do conceito de áreas protegidas no âmbito internacional, desde a sua origem no século XIX até à atualidade, evidenciando o modo como se foi articulando, primeiro com a conservação da natureza e, mais tarde, com o desenvolvimento sustentável.

Inicialmente, a noção de se salvaguardar determinados espaços, baseava-se em pelo menos dois princípios: a proteção de territórios considerados sagrados, como por exemplo, a criação de florestas sagradas na Rússia e a manutenção dos stocks de recursos naturais, como as reservas reais de caça, presentes nos registos históricos assírios de 700 a. C. (Bensusan, 2006). Contudo, somente em meados dos séculos XIX é que surge, verdadeiramente, a noção de consagrar espaços para a conservação de paisagens naturais, mais concretamente, através da criação do Parque Nacional de Yellowstone nos EUA, em 1872.

Alguns autores consideram, que os parques nacionais surgiram para defender a vida selvagem ameaçada pela civilização urbano-industrial, “aniquiladora da natureza”. Esta noção exemplifica de forma contundente a rutura da relação sociedade-natureza, onde os parques são considerados vitais para a perpetuação da biodiversidade num mundo dominado pela intervenção humana, no entanto a conservação de tais espaços dependia diretamente da dinâmica externa aos seus limites (Therborg e Van Schaik, 2002).

A partir dos anos 60, do século passado, a problemática da degradação ambiental generalizada, tornou-se tema de maior repercussão na sociedade. É diante deste momento que são assinados vários acordos internacionais que visavam minimizar os principais impactos causados por essa deterioração do ambiente. Estes acordos contribuíram, em grande parte, para a formação futura de legislação nacional ambiental dos países envolvidos.

As alterações profundas nos ecossistemas terrestres, marinhos e costeiros, decorrentes da exploração intensiva pelo homem dos serviços que prestam, têm um impacto profundo particularmente na biodiversidade e, por isso, tornou-se imperativo criar instrumentos dirigidos à pesquisa dos impactos das atividades humanas na diversidade biológica, à manutenção dos processos ecológicos, à preservação da

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22 natureza e à utilização sustentável dos recursos naturais (Millennium Ecosystem Assessment, 2005).

Dentro deste contexto, a conservação da natureza é a disciplina que se dedica a resolução dessa problemática. Trata-se, portanto, de uma matéria multidisciplinar, onde estão agrupados os conhecimentos de diversas disciplinas aplicadas como a ecologia, a genética, a taxonomia e a dinâmica de populações mas também fatores económicos e sociais favorecendo desta forma uma abordagem holística dos dilemas que afetam a diversidade biológica. Os instrumentos que têm sido utilizados com o objetivo de travar a perda de biodiversidade pertencem às mais diversas áreas de atuação, e são geralmente agrupados de uma forma prática em diferentes áreas: a social, a económica, a financeira, a científica, a institucional e a legislativa. A articulação entre as diversas áreas é essencial para a eficácia das políticas de conservação da natureza, sendo desta forma incluídos também nas demais estratégias nacionais de conservação da natureza.

Apesar destas estratégias enfatizarem a responsabilidade da sociedade em geral pela conservação e uso sustentável dos recursos naturais, são na verdade os governos os que têm grande comprometimento neste assunto, pois são eles os responsáveis pela composição de legislação e gestão da conservação da natureza ao mais alto nível.

De certa forma, os diplomas de legislação ambiental possuem algum efeito, mesmo que de modo indireto na conservação da natureza e a sua incorporação nas diversas políticas setoriais são aspetos essenciais no contexto das políticas de conservação. Todavia, existem dois conjuntos de leis que estabelecem a base da legislação referente à proteção da natureza: os alusivos à declaração de áreas protegidas e às listas de espécies ameaçadas.

Diversos são os acordos internacionais voltados para o interesse de proteção das áreas mais frágeis e emblemáticas do património natural, entre os mais emblemáticos destaca-se o programa Man and Biosphere da UNESCO de 1971, a Convenção sobre Zonas Húmidas do mesmo ano, a Convenção sobre a Proteção do Património Natural e Cultura de 1972, a Convenção de Paris de 1974, a Convenção de Bona de 1979, a Convenção de OSPAR para a Proteção do Meio Marinho do Atlântico Nordeste de 1992 e a Convenção sobre a Diversidade Biológica decorrente da Conferência do Rio de Janeiro de 1992. Estas iniciativas revelaram-se de grande importância no que diz respeito a preservação de áreas de elevado valor ecológico, paisagístico e cultural.

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23 Atualmente a extensão da superfície terrestre coberta por áreas protegidas situa-se nos 15,4% (UICN, 2014).

1.3.1 – O Duelo entre duas correntes: Preservacionistas versus Conservacionistas

As ações contemporâneas de criação de áreas protegidas possui suas origens muito antes destas convenções e até mesmo ao movimento ambientalista, ainda durante o século XVIII. Serviram de base para o desenvolvimento das teorias conservacionistas e preservacionistas que surgiram nos Estados Unidos da América no século XIX e que atualmente ainda exercem grande preponderância nas estratégias ambientais e de conservação da natureza.

Com ênfase na teoria preservacionista, criou-se nos Estados Unidos o primeiro parque nacional do mundo, o Yellowstone National Park, em 1872, ainda que a definição do conceito de Parque tivesse surgido anos antes (1830) por George Catlin (McCormick, 1992),e até mesmo, a existência de outros modelos de áreas protegidas definidas anteriormente a esse período.

O desenvolvimento de parques nacionais ou de outras áreas naturais protegidas é considerado por alguns autores como um fenómeno global. A intenção inicial que alicerçou a criação de áreas naturais protegidas em vários países foi com o propósito de sociabilizar a fruição, pela totalidade da população, das belezas cénicas presentes nesses territórios. Nos EUA, a implementação do Parque Nacional de Yellowstone patenteou um triunfo da corrente preservacionista, entre eles consta o nome do naturalista Jonh Muir, na época o maior expoente preservacionista.

Na visão dos preservacionistas, as áreas virgens deveriam receber proteção total, sendo permitido no seu interior apenas atividades de caráter educativo ou de recreação (McCormick, 1992). No entendimento dos preservacionistas, havia uma separação intrínseca entre homem e natureza. Para eles, “natural” era aquilo que prescindia da presença ou atuação humana, e que permanecia tal como foi originalmente criado pela “ação divina”.

Exemplo dessa consciência, Diegues (1994) cita o “Wilderness Act” dos EUA, de 1964, que circunscrevia as áreas selvagens como aquelas que não haviam sofrido a ação humana, onde o homem era visitante e não morador.

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24 Porém, esse pressuposto que fazia parte das formas de percepção da sociedade urbana perante a natureza, não era o único. Conservacionistas, com pressuposições distintas, também admitiam ser praticável a exploração dos recursos naturais de forma racional e sustentável. Seu maior representante foi Gifford Pinchot, para o qual a conservação deveria estar apoiada em três princípios: desenvolvimento (o uso dos recursos pela geração presente); prevenção do desperdício; e o desenvolvimento dos recursos naturais para todos (McCormick, 1992).

A contenda conceptual à volta dos objetivos de conservação da natureza, exposta pelos ideais de Muir e Pinchot nos finais do XIX, permanece bastante presente. A noção da desagregação homem-natureza prosseguiu orientando os pressupostos vinculados as ideologias nacionais de áreas protegidas. Para Holdgate,

O movimento de Parques Nacionais foi criado por pessoas que acreditavam que os lugares mais selvagens e bonitos do mundo deveriam ser protegidos, como fios de ouro na tapeçaria da cultura humana. E esses pioneiros foram impelidos pela urgência e paixão. Eles constataram as ameaças aos lugares selvagens chegando através de várias formas – das madeireiras, das minerações, das estradas, dos reservatórios, e por trás de tudo, a arrogância, que tratava a vida selvagem como algo sem valor em comparação ao mundo artificial construído como parte dos sistemas económicos humanos (IUCN, 1993).

1.4 – Áreas Protegidas e a Incorporação de Novos Conceitos

Progressivamente, aos objetivos originais dos sistemas de áreas naturais protegidas foram sendo incorporados novos conceitos que priorizavam, cada vez mais, a conservação da biodiversidade das áreas escolhidas (Ghimire, 1993), e não apenas as belezas cénicas, como anteriormente.

O surgimento desses novos conceitos levaram com que sucedesse o alargamento dos limites das áreas naturais protegidas, para que os ecossistemas, seus processos biológicos e espécies fossem plenamente contemplados e mantidos. Então, sob o prisma da conservação da biodiversidade e dos bancos genéticos, as áreas naturais protegidas passaram a cumprir o papel de “antítese do desenvolvimento”, servindo principalmente

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25 como laboratórios para a pesquisa básica das ciências biológicas. Como por exemplo, pode-se citar os objetivos para o estabelecimento de um dos parques nacionais na Suíça, em 1914: “criar e manter um laboratório de campo nos Alpes, onde pesquisa sobre flora e fauna pudesse ser realizada a longo prazo, em condições ambientais inalteradas, evitando os efeitos decorrentes de qualquer atividade humana” (Quintão, 1983:15).

O interesse clamado à conservação da biodiversidade e dos bancos genéticos, como um dos objetivos dos parques nacionais e de outras áreas naturais protegidas, fortaleceu a noção de que a presença humana nessas áreas deveria ser consentida unicamente em posições muito particulares e restritas. Empregando a categoria parque como exemplo, pode-se averiguar que bastantes deles foram concebidos onde já havia ocupações humanas antecedentes, que foram removidas e tiveram de abandonar áreas que originalmente ocupavam. Essa situação ocorreu, por exemplo, com os Maasai no Quénia, os Ik em Uganda e os pescadores artesanais no Canadá.

1.5 – Convenções e Conferências

Nos primeiros anos da década de 30 já haviam sido fundados parque nacionais em várias partes do planeta. Porém, não estava instituído um conceito mundial para essa área natural protegida. Com o intuito de estabelecer a definição deste conceito, realizou-se a Convenção para a Preservação da Fauna e Flora em seu Estado Natural, em 1933, na cidade de Londres. Essa Convenção determinou que os parques nacionais deveriam ser áreas:

a) Que fossem geridas pelo poder público, e cujos limites não poderiam ser alterados, onde nenhuma parte poderia estar sujeita à alienação, a menos que decidido pelas autoridades legislativas e competentes;

b) Que fossem definidas para propagação, proteção e preservação da fauna silvestre e da vegetação nativa, e para a preservação de objetos de interesse estético, geológico, pré-histórico, arqueológico e outros de interesse científicos, para o benefício e o desfrute do público em geral;

c) Onde a caça, abate ou captura da fauna, e os danos ou a coleta da flora, deveriam ser proibidos, exceto sob a direção ou controle das autoridades responsáveis;

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26 d) Onde existiriam instalações de auxílio construídas para o público em geral a

observar a fauna e a flora.

Em 1948, a UNESCO juntamente com o governo francês realizaram um encontro que visava a coordenação e início dos trabalhos de cooperação internacional no campo da conservação da natureza, Nesta reunião, foi fundada a União Internacional para a Proteção da Natureza (UIPN) (Amend, 1991), que abrangia agências governamentais e não-governamentais. Sendo seu objetivo:

A promoção de ações em bases científicas, que possam garantir a perpetuidade dos recursos naturais, dos quais todos os seres vivos dependem, não apenas por seus valores culturais e científicos intrínsecos, mas também para o bem-estar económico e social da humanidade (Quintão, 1983).

A partir de sua origem, foram concebidas, dentro da própria UIPN, instâncias que abordavam questões referentes aos parques nacionais. Uma dessas instâncias foi a Comissão de Parques Nacionais e Áreas Protegidas (CPNAP), instalada em 1960. Essa comissão visava a “promoção e manutenção dos Parques Nacionais e outras áreas, as quais são dedicadas à proteção dos recursos naturais; bem como dar orientação nas situações de administração e manutenção de tais áreas” (Quintão, 1983).

No ano da formação da CPNAP, foi editado o Red data book, onde estavam listadas 135 espécies animais ameaçadas de extinção, em especial os mamíferos mais comuns e de grande porte. No entanto, alguns anos antes, em 1954, a partir da tomada de consciência do aumento do número de exemplares de plantas em extinção, tornou-se necessária a adoção de práticas que apontastornou-sem para manutenção dos habitats propriamente ditos em vez de espécies específicas. Essa noção teve grandes influências dentro da própria UIPN, que passou a considerar principalmente à conservação e não apenas à Proteção. Tal mudança de visão dentro da entidade levou a alteração do seu nome, de UIPN para UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza), a partir de 1965.

A primeira Conferência Mundial sobre Parque Nacionais foi realizada no ano de 1962 na cidade de Seattle nos EUA. Essa Conferência chamou a atenção para a necessidade de se conservar os ambientes marinhos; de se realizar interpretações dos

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27 atributos dos parques nacionais, visando programas educativos; de se impedir alguns tipos de obras (como barragens, por exemplo); e de se planear e coordenar pesquisas científicas com base interdisciplinar (Quintão, 1983).

Um dos êxitos mais importantes dessa Conferência, com relação à convivência homem-natureza, são as chamadas exceções ao princípio geral estabelecido para os parques, as quais foram assim expressas:

Podem justificar-se exceções ao princípio básico da não-exploração dos recursos naturais, quando se relacionem com direitos privados que existam antes da criação do parque: direito de habitação, direito de agricultura e pecuária, direito de prospecção, direito de caça. Sem dúvida, estas atividades se devem permitir apenas em pequenas áreas do parque e no que for possível não devem ser de natureza permanente. A longo prazo se deve aspirar a uma redução ou finalização das atividades. (Harroy, 1963 apud Amend, 1991:459).

Harroy verificou, que era tarefa quase impossível traçar apenas uma descrição na definição de uma área inteira, essa constatação levou a adoção de zonamento de parque. Pois para o autor, desenvolver o sistema de zonamento gerava a hipótese de proteger extensos ecossistemas sob a configuração de parque nacionais, mesmo que alguns espaços dentro desse contexto fossem utilizados pelo homem.

As recomendações resultantes da primeira Conferência Mundial sobre Parques Nacionais (1962), em conjunto com as experiências em curso nos países sedes de parques nacionais, redefiniram um novo conceito para este modelo de área natural, durante a 10ª Assembleia Geral da UICN, realizada em Nova Deli, em 1969. Desta forma um Parque Nacional necessitaria de ter uma área relativamente extensa, e cumprir com os seguintes requisitos:

a) Que um ou mais ecossistemas não estivessem materialmente modificados pela exploração e ocupação humana, e onde espécies de plantas e animais, e sítios geomorfológicos e habitats fossem de especial proveito científico, educacional e recreativo, ou abrangesse paisagens naturais de grande beleza;

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28 b) Que a mais alta autoridade capacitada do país tomasse medidas no sentido de prevenir ou eliminar, ao máximo, a exploração ou ocupação de toda a área, e mantivesse, verdadeiramente, os aspetos ecológicos, geomorfológicos ou estéticos que justificaram a instituição da referida área;

c) Que fosse autorizada a entrada de visitantes sob condições especiais, para fins educativos, culturais e recreativos.

A partir dos anos 50, e principalmente durante a década de 70, houve um significativo crescimento no estabelecimento de áreas naturais protegidas um pouco por todo o planeta, com o incremento de cerca de 1300 novos parques. De acordo com o relatório intitulado Nosso Futuro Comum, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Ambiente e Desenvolvimento (1987), durante os anos 70 a expansão em extensão da rede de áreas naturais protegidas foi superior a 80%, sendo que deste total ⅔ são pertencentes a áreas de proteção estabelecidas em países em desenvolvimento. A década seguinte manteve, em média, a mesma tendência registada na década anterior. As perdas de biodiversidade registadas em todas as regiões do planeta, principalmente nos trópicos, foi uma das razões apontada por Ghimire (1993) como um dos fatos determinantes para o significativo aumento do número de áreas naturais protegidas instituídas em países em desenvolvimento. Estes países passaram a considerar essas áreas como espaços potencialmente geradores de rendimentos através das atividades turísticas e reconheceram nesse conceito uma ferramenta política proveitosa para o controle de recursos florestais.

Neste cenário que configurava a expansão do número de áreas naturais protegidas, foi realizada a Conferência da Biosfera, em Paris no ano de 1968. Esta Conferência foi importante ao abordar assuntos relacionados com o uso e conservação mais racionais da biosfera, analisando o impacto das atividades humanas sobre a mesma, levantando a discussão sobre os efeitos da poluição do ar e da água, os desmatamentos, a excessiva exploração de monoculturas e a drenagem de áreas inundadas. Para além disso, a Conferência desempenhou um relevante papel na sensibilização das nações menos desenvolvidas da necessidade da conservação.

De entre as conclusões mais importantes da Conferência da Biosfera está a tomada de consciência da necessidade de enfatizar o entendimento do caráter

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inter-29 relacional do ambiente, onde o uso e a conservação racional do ambiente humano e das áreas naturais protegidas não estavam apenas relacionadas com as questões científicas, ou seja, existiam outras dimensões que deveriam ser englobadas nessa discussão como as dimensões política, social e económica, que até então estavam fora do seu raio de ação.

A Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano ocorreu no ano de 1972, na cidade de Estocolmo. Em termos práticos a Conferência de Estocolmo, como ficou conhecida, foi quase uma continuidade da Conferência da Biosfera que havia sido realizada quatro anos antes em Paris.

Segundo McCormick (1992), a Conferência de Estocolmo foi um marco fundamental no desenvolvimento do ambientalismo mundial. Pela primeira vez foram abordados de forma concreta as questões políticas, sociais e económicas do ambiente global, num fórum que contou com o envolvimento de vários governos de todo o mundo, onde a intenção principal era de interprender ações corretivas. A Declaração de Princípios adotada durante a Conferência menciona que: “Os recursos da terra incluindo, o ar, a água, o solo, a flora, a fauna e exemplos especialmente representativos dos ecossistemas naturais têm que ser salvaguardados para o benefício das gerações presentes e futuras através de um cuidadoso planeamento ou gestão, conforme apropriado.” E que: “O Homem tem a responsabilidade de salvaguardar e gerir sabiamente a vida selvagem e respetivos habitas atualmente em perigo devido a uma combinação de fatores adversos.”

Este encontro conduziu a resultados imediatos e importantes como, por exemplo, a elaboração de um plano de ação, aprovado pela Assembleia-Geral das Nações Unidas a 15 de Dezembro de 1972, o qual levou a criação do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), constituindo-se como a primeira agência mundial voltada unicamente às questões ambientais e cujas recomendações referentes aos parques nacionais e áreas protegidas estimularam a implementação de áreas protegidas à escala global como estratégia para a conservação da natureza.

Importantes foram também os debates entre os países menos desenvolvidos e mais desenvolvidos em relação as diferentes prioridades relacionadas com as questões ambientais, a evolução do pensamento ambientalista, (que passou de objetivos limitados à proteção da natureza e conservação da biosfera e dos recursos naturais para

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30 uma visão mais ampla, que abordava o modo irracional da biosfera pelos seres humanos) e, por fim, da intensificação do envolvimento das organizações não-governamentais.

Porém, a maior herança da Conferência de Estocolmo tenha sido talvez, a inclusão de forma definitiva das questões ambientais na agenda mundial e a determinação da ideia de que os dilemas ambientais eram transcendentes as linhas fronteiriças, e que estavam fortemente ligadas a questões políticas, económicas, sociais e culturais.

Ainda durante os anos 70, foi criado o Programa Man and Biosfere (MAB) da UNESCO, tinha por objetivo introduzir as noções de desenvolvimento equilibrado nas relações do homem com o seu ambiente. Deu-se então início a incorporação na realidade da ocupação humana no interior das áreas naturais protegidas, através de reservas da biosfera.

As reservas da biosfera são espaços que pretendem ir ao encontro da otimização da relação homem-natureza. Desta forma, são observadas, ao mesmo tempo, como amostras representativas dos biomas do globo de ecossistemas diferentes, como exemplificação de gestão em harmonia de culturas variadas, como locais de experiência do desenvolvimento sustentado e como núcleos de monitoramento, pesquisa e educação ambiental das condições dos ecossistemas englobados (Brito, 2000).

Em 1972, em Banff, no Canadá, realizou-se a 11ª Assembleia-Geral da UICN, neste evento foi dado outro importante passo relativo à ocupação humana em áreas naturais protegidas. Diz respeito a incorporação oficial do princípio de zonamento às definições de parque nacionais adotadas durante a Assembleia de Nova Deli e ratificadas pelo 2º Congresso Mundial de Parque Nacionais, realizado em Yellowstone, durante o ano de 1972. Sem dúvida, este passo possibilitou reconhecer que as comunidades humanas com características culturais singulares eram parte integrante desses mesmos ecossistemas. Desta forma, foram assim definidas 11 “zonas”:

a) Zonas Naturais Protegidas;

 Zona de Proteção Integral;

 Zona de Maneio de Recursos;

 Zona Primitiva ou Silvestre; b) Zonas Antropológicas Protegidas;

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31

 Zona de Ambiente Natural com Culturas Humanas Autóctones;

 Zonas com Antigas Formas de Cultivo;

 Zona de Interesse Especial;

c) Zonas Protegidas de Interesse Arqueológico ou Histórico;

 Zona de Interesse Arqueológico;

 Zona de Interesse Histórico.

Em 1978 o PNUA requisitou a IUCN a produção de uma estratégia para a conservação, inicialmente as primeiras delineações debatidas na Assembleia-Geral da IUCN de 1978 em Ashkhabad, faziam referência apenas à conservação de espécies e áreas protegidas, o documento definitivo editado em 1980 juntamente com o WWF (Fundo Mundial para a Proteção da Natureza) e o PNUA, incluiu outras questões como a população, o desenvolvimento e os recursos (Adams, 2004). A definição de conservação da natureza referente no texto salienta essa visão: “ (…) gestão da utilização humana da biosfera de modo a que possa proporcionar de forma perene, os maiores benefícios às gerações atuais, mantendo ao mesmo tempo o seu potencial para satisfazer as necessidades e as aspirações das gerações futuras.”

Para seus autores, esse documento refletia um compromisso tanto dos membros da UICN, como dos organismos envolvidos na sua elaboração, dava uma visão genérica dos problemas ambientais mais importantes, e buscava auxiliar na conquista do desenvolvimento sustentável, através da conservação dos recursos vivos (McCormick, 1992). A Estratégia era composta por três objetivos principais a alcançar:

 Manter os processos ecológicos essenciais e os sistemas vitais;

 Preservar a diversidade genética;

 Assegurar o aproveitamento sustentado das espécies e dos ecossistemas. Na sequência do lançamento da Estratégia mundial para a conservação, realizou-se o III Congresso Mundial de Parques, na cidade indonésia de Bali, em 1982. Este evento reafirmou a posição a ser tomada quanto a problemática existente nas relações entre homem e áreas naturais protegidas, com ressalta para importância dos direitos das comunidades residentes as quais possuíssem atributos culturais característicos, e recomendações para o exercício da gestão dessas áreas em conjunto com os seus habitantes originais (Diegues, 1994). No universo das comunidades com

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32 características específicas, estão as comunidades indígenas, cujos direitos já haviam sido expostos na 12ª Assembleia Geral da UICN, no Zaire em 1975.

O estabelecimento de áreas naturais protegidas não deve trazer como consequência o desalojamento de indígenas ou causar a rutura de seus estilos de vida tradicionais sempre e quando estes grupos não afetem a integridade ecológica da área (Eidsvik, 1990 apud Amend & Amend, 1992: 461).

Em meados da década de 80, os debates sobre as populações residentes em áreas naturais protegidas já se encontrava bastante difundido, porém, ainda persistia uma carência na adoção de ações práticas em muitos países. No ano de 1985, houve a inclusão na lista de parque nacionais da ONU/UICN de unidades cujo interior existissem áreas com povoados, cidades, serviços de comunicação e atividades correlatas, desde que permanecessem numa zona específica e não prejudicassem a conservação efetiva das demais zonas (Amend & Amend, 1992).

Apesar da forte influência do conceito inicial americano, juntamente com a difusão do termo parque nacional, em alguns países europeus, o Canadá e o Japão passaram a ensaiar diferentes particularidades no conceito até então existente dando origem, com o passar dos anos, a modelos alternativos de parques nacionais mais tolerantes às questões relacionadas com o uso e à ocupação de suas áreas por parte das populações residentes (West & Brechin, 1991). As novas dinâmicas adotadas por esses países foram uma mais-valia para a evolução do conceito internacional, tanto dos próprios parques nacionais, como também das áreas naturais protegidas, impulsionando o surgimento de outras categorias de utilização. Segundo West & Brechin (1991).

The conservation movement has increasingly adopted concern for cultural preservation and ecodevelopment and expanded its repertories of types of protected areas to include biosfere reserves and other designations that are not as exclusionary in their concept and definitions as the traditional United States model of national parks (West & Brechin, 1991: xix).

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33 A Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e Desenvolvimento foi realizada na cidade brasileira do Rio de Janeiro, em 1992. A Rio-92, como ficou conhecida, tinha por objetivo avaliar o percurso percorrido desde a Conferência de Estocolmo e conceber um novo plano de ação. A Convenção sobre a Diversidade Biológica foi enfim posta em prática, a qual atualmente ainda mantém um papel decisivo na composição das políticas de conservação da natureza e a estrutura de sistemas de áreas protegidas funcionais nos países assinantes. O êxito da Convenção deve-se ao fato do comprometimento dos países signatários em adotar estratégias e programas nacionais que visem a conservação e o uso sustentável da diversidade biológica, incluir a conservação da biodiversidade nos seus diversos planos, programas e políticas setoriais e intersectoriais, gerar um sistema de áreas protegidas e desenvolver diretrizes para a seleção, implementação e gestão dessas áreas.

Este evento foi de enorme relevância na inclusão das áreas naturais protegidas aos planos de desenvolvimento dos diversos países, para que estas conseguissem conduzir, ao mesmo tempo, benefícios à população local e tivessem garantida sua conservação; e a necessidade de existência de mais áreas naturais protegidas.

Até então, a maior parte das nações, mesmo tendo desenvolvido ferramentas para a proteção da natureza não tinha produzido um documento de referência onde consistissem os objetos da conservação da natureza, a sua conexão com os outros aspetos de importância nacional, a sua preferência em relação a esses e quais as principais medidas a adotar.

No ano de 1994, foi adotada pela UICN a definição de área protegida que vigora atualmente: “área de terra e/ou mar particularmente dedicada à proteção e manutenção da diversidade biológica e dos recursos naturais e culturais associados e gerida através de meios legais ou outros eficientes” ao mesmo tempo apresentou também o atual sistema composto por seis categorias de áreas protegidas de acordo com o seu objetivo de gestão:

I. Reserva Nacional Estrita/Área Selvagem – área protegida gerida particularmente para a ciência e proteção da vida selvagem;

II. Parque Nacional – área protegida gerida particularmente para a proteção dos ecossistemas e recreação;

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34 III. Monumento Natural – área protegida particularmente para a conservação de

características naturais específicas;

IV. Área de gestão de Habitats/Espécies – área protegida gerida particularmente para conservação através de gestão intervencionada;

V. Paisagem terrestre/marinha Protegida – área protegida gerida particularmente para a proteção da paisagem terrestre/marinha e recreação;

VI. Área Protegida para a Gestão de Recursos – área protegida particularmente para o uso sustentável dos ecossistemas naturais.

Este sistema de seis categorias tinha sido já definido no ano de 1992, durante a realização do IV Congresso Mundial de Áreas Protegidas da UICN, em Caracas na Venezuela, onde foi defendido o estabelecimento de práticas de gestão que envolviam parcerias com um elevado número de setores diretamente interessados para o benefício das populações, das áreas protegidas e da biodiversidade. Passa então a ser cada vez mais importante harmonizar as necessidades das comunidades com a defesa da natureza, tendo em conta um panorama futuro da ampliação dos conflitos devido à carência de recursos, às alterações climáticas, ao crescimento da população, ao incremento do consumo, a fragilidade económica e ao uso sucessivo de tecnologias inapropriadas.

A interdependência entre o bem-estar humano e a manutenção dos recursos naturais é largamente reconhecida internacionalmente, nesse sentido, cresce o interesse em estimular o envolvimento das comunidades locais, das instituições não-governamentais e das entidades do setor privado na gestão das áreas protegidas. A interação entre as componentes naturais e humanas aliadas à utilização racional dos recursos naturais e ao desenvolvimento sustentado da região e das atividades económicas e culturais tradicionais, estão na base dos critérios que atualmente promovem a criação de áreas protegidas.

Uma das práticas mais comuns na gestão de áreas protegidas diz respeito ao conceito de zonamento, essa noção tem por objetivo assegurar o desenvolvimento sem por em causa a conservação das áreas em questão, consiste na delimitação de áreas restritas, onde o nível de proteção é total (reservas integrais), nessas áreas o acesso é feito de forma limitada, onde é admitida haver interferência humana de forma

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35 controlada, e adicional na implementação de medidas de gestão que promovam o uso sustentável dos recursos para garantir a fixação dos habitantes e o progresso socioeconómico local.

Durante o V Congresso Mundial de Áreas Protegidas realizado em Durban, na África do Sul, no ano de 2003, estudos demostraram que três em cada cinco das ameaças mais habituais nas áreas naturais protegidas estão relacionadas a uma gestão ineficaz e não a impactos diretos sobre os recursos existentes (ESPARC, 2004). Esta conclusão revelou que a eficácia na adoção de modelos de gestão permanece, porém, em muitas áreas aquém do desejável.

A Assembleia-Geral das Nações Unidas, através da Resolução 61/2003, de 20 de Dezembro de 2006, afirmou o ano de 2010 Ano Internacional da Biodiversidade. Este ano coincide com o Objetivo Biodiversidade 2010 sancionado no Plano Estratégico para a Conservação da Diversidade Biológica. A partir dos compromissos firmados, países de todo o mundo adotaram o compromisso de obter em 2010 uma considerável diminuição do atual ritmo de perda de biodiversidade ao nível global, regional e local.

A iniciativa do Ano Internacional Da Biodiversidade tem por objetivo a sensibilização da opinião pública para a relevância da biodiversidade, de intensificar as ações de combate a perda de biodiversidade e de propagação e estimação das medidas executadas e dos resultados alcançados. O movimento crescente dos constrangimentos ambientais confere a essa iniciativa um valor especialmente importante para o melhoramento dos modelos de gestão de áreas protegidas existentes ou mesmo a criação de novos modelos que garantam a concretização dos objetivos das áreas. 1.6 – Evolução das Áreas Protegidas a Nível Europeu

A Europa abriga uma enorme diversidade de habitats naturais e seminaturais que sustentam uma ainda maior multiplicidade de espécies. Em muitos casos tratam-se, sobretudo, de espécies endémicas e/ou em vias de extinção, no entanto, o continente europeu é marcado por um longo historial no que diz respeito ao uso e ocupação do solo para fins agrícolas, resultando numa considerável perda de biodiversidade nos ecossistemas primitivos e uma alteração substantiva da paisagem.

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