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As transformações do estado moderno e os direitos econômicos e sociais: uma análise a partir dos direitos dos trabalhadores.

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Academic year: 2021

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UNIJUI – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DANIEL MATEUS SEIDEL SELZLER

AS TRANSFORMAÇÕES DO ESTADO MODERNO E OS DIREITOS ECONÔMICOS E SOCIAIS: UMA ANÁLISE A PARTIR DOS DIREITOS DOS

TRABALHADORES.

Ijuí (RS) 2015

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DANIEL MATEUS SEIDEL SELZLER

AS TRANSFORMAÇÕES DO ESTADO MODERNO E OS DIREITOS ECONÔMICOS E SOCIAIS: UMA ANÁLISE A PARTIR DOS DIREITOS DOS

TRABALHADORES.

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientador: Dr. Gilmar Antonio Bedin

Ijuí (RS) 2015

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Dedico este trabalho à minha família pela confiança em mim empenhada e pela compreensão nos momentos de ausência.

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AGRADECIMENTOS

A minha família, pelo apoio nos momentos difíceis, por acreditar na minha capacidade e por tudo o que ela significa em minha vida.

Ao meu orientador, professor Gilmar Antonio Bedin pelo auxílio empenhado na produção desta obra e pelo conhecimento a mim emprestado.

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“O dia em que pararmos de nos preocupar com Consciência Negra, Amarela ou Branca e nos preocuparmos com a Consciência Humana, o racismo vai desaparecer” (Morgan Freeman)

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RESUMO

O presente trabalho analisa o processo de transformação do Estado moderno, neste sentido, destaca que de sua fase absolutista o Estado passou para a sua fase liberal e, a partir do reconhecimento dos direitos econômicos e sociais, se transformou em Estado social. Os direitos econômicos e sociais tiveram suas primeiras manifestações ainda no século XIX, ampliando-se após a Primeira Guerra Mundial e se consolidaram após a Segunda Guerra Mundial. Em tal processo de transformação tiveram um papel fundamental os movimentos dos trabalhadores e a sua luta pelo reconhecimento de seus direitos. Na parte final, o trabalho destaca as transformações ocorridas no mundo do trabalho no século XX e suas implicações sobre os direitos dos trabalhadores e qual é a tendência atual da proteção destes direitos específicos.

Palavras Chave: Estado Absolutista. Estado Liberal. Estado Social. Direitos Econômicos e Sociais. Direitos dos Trabalhadores.

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ABSTRACT

This paper analyzes the transformation of the modern state, in this regard, points out that his absolutist phase the state has for its liberal phase, and from the recognition of economic and social rights, it turned into welfare state. The economic and social rights had its first manifestations in the nineteenth century, expanding after the First World War and were consolidated after the Second World War. In such a process of transformation played a key role workers' movements and their struggle for recognition of their rights. In the final part, the work highlights the transformations in the working world in the twentieth century and their implications on the rights of workers and what is the current trend of protecting these specific rights.

Keywords: Absolutist State. Liberal State. Social State. Economic and Social Rights. Rights of Workers.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 O ESTADO MODERNO E SUAS TRANSFORMAÇÕES ... 10

1.1 A Idade Média: Os antecedentes ao Estado Moderno ... 10

1.2 Estado Absolutista ... 12

1.2.1 Nicolau Maquiavel ... 13

1.2.2 Jean Bodin ... 15

1.2.3 Thomas Hobbes ... 16

1.3 Estado Liberal ... 17

1.3.1 O Estado Liberal e sua contextualização histórica ... 18

1.4 Estado Social ... 21

2 OS DIREITOS ECONÔMICOS E SOCIAIS E O ESTADO SOCIAL ... 24

2.1 Dos direitos econômicos e sociais ... 24

2.2 As primeiras legislações que acolhem os Direitos Sociais ... 29

2.3 Contexto histórico que impulsiona o Estado Social ... 32

2.4 A Consolidação dos Direitos Sociais ... 34

3 OS DIREITOS SOCIAIS E OS DIREITOS DOS TRABALHADORES ... 38

3.1 Principais Direitos dos Trabalhadores ... 39

3.2 As mudanças no mundo do trabalho no século XX ... 44

3.3 O Futuro do direito dos trabalhadores na atualidade ... 49

CONCLUSÃO ... 52

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INTRODUÇÃO

O Estado moderno passou, ao longo da sua trajetória, por diversas transformações. Do início absolutista se deslocou para uma conformação liberal e, em seguida, para uma conformação social. Neste processo, o reconhecimento das diversas gerações de direitos foi importante e ajudou na sua nova figuração. O presente trabalho se preocupa com o papel dos direitos econômicos e sociais – em especial dos direitos dos trabalhadores – na formação do Estado social

O reconhecimento dos direitos econômicos e sociais – em especial dos direitos dos trabalhadores – teve um papel significativo na transformação do Estado liberal (século XIX) em Estado social (século XX).

Como objetivo, buscamos analisar o papel desempenhado pelos direitos econômicos e sociais – em especial dos direitos dos trabalhadores – na transformação do Estado moderno de Estado liberal (século XIX) em Estado social (século XX). Descrever as diversas transformações históricas do Estado moderno; Identificar o surgimento e a evolução dos direitos sociais; Analisar os principais direitos dos trabalhadores.

Historicamente, o Estado passou por um processo de ampla transformação. Estas transformações tiveram origem ainda nos séculos XVII e XVIII (ruptura com o modelo absolutista do Estado moderno) e ganharam novos contornos no início do século XX (transformação do Estado liberal em Estado social). A emergência do Estado social foi um grande acontecimento histórico e marcou toda a trajetória do Estado durante o século XX e ainda permanece como fundamental na atualidade. Por isso, indagar sobre o papel desempenhado pelos direitos econômicos e sociais – em especial os direitos nos trabalhadores – neste processo é muito importante e se justifica pela relevância da mudança social que este processo produziu.

Como metodologia para realização do presente trabalho foi utilizado a pesquisa bibliográfica, desta forma buscando em diversas literaturas formas de contrapor e corroborar as informações obtidas.

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O trabalho está estruturado em três capítulos. No primeiro capítulo, intitulado O Estado moderno e suas transformações é realizada uma contextualização histórica iniciada pela Idade Média, período imediatamente anterior ao Estado moderno para em seguida abordar as principais características do Estado absolutista, Estado liberal e Estado social.

No segundo capítulo, intitulado Os direitos econômicos e sociais e o Estado social preocupa-se com a exploração dos principais direitos econômicos e sociais para em seguida situarmos as primeiras legislações a abordarem o tema, bem como o período em que os mesmos se intensificaram e posteriormente vindo a sua consolidação.

Por fim, no terceiro capítulo, intitulado Os direitos sociais e os direitos dos trabalhadores, são analisados, inicialmente, os principais direitos dos trabalhadores e, em seguida, são examinadas as principais mudanças ocorridas no mundo do trabalho ao longo do século XX (destaque para os modelos de produção fordista e toyotista) e, finalmente é traçado uma breve análise dos direitos trabalhistas na atualidade.

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1 O ESTADO MODERNO E SUA TRANSFORMAÇÕES

A concepção de Estado como hoje o conhecemos não se deu de forma simples nem imediata. Diversas foram as fases históricas ultrapassadas para que se chegasse a forma de Estado que vivenciamos. Etapas estas que ao longo dos séculos foram marcadas por grandes conquistas e evoluções.

Conceituar Estado trata-se de uma empreitada nada fácil, ao longo dos anos vários conceitos surgiram sem que fosse possível se chegar a uma unanimidade. Sua definição teve diversas variações de acordo com a ciência que o abordara,

encontrar um conceito de Estado que satisfaça a todas as correntes doutrinárias, é absolutamente impossível, pois sendo o Estado um ente complexo, que pode ser abordado de diversos pontos de vista e, além disso, sendo extremamente variável quanto à forma por sua própria natureza, haverá tantos pontos de partida quantos forem os ângulos de preferência dos observadores (DALLARI, 2012, p.119).

Com o objetivo de estudar a origem do Estado, Onélia Setúbal da Rocha de Queiroga o definiu como sendo “uma associação de homens submetida a um poder soberano que tem por escopo o bem comum dos que se encontram fixados nos limites de seu território” (1998, p. 19).

Desta forma, o que se busca neste primeiro capítulo é contextualizar as diferentes fases pelas quais passaram o Estado, começando pela Idade Média, período que antecede o Estado moderno e em seguida passando a análise dos três períodos que compõe esta forma de Estado, ou seja, Estado absolutista, Estado liberal e Estado social.

1.1 A Idade Média: Os antecedentes ao Estado Moderno

A Idade Média, período histórico que antecede o Estado moderno, teve como marco inicial o século V e foi marcado predominantemente pela atividade rural. O enfraquecimento do comércio resultou na necessidade da humanidade, não encontra-se outra medida encontra-senão à vinculação a economia de subsistência. Esta realidade fez

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com que ocorresse “a ruralização da sociedade e a estagnação econômica, política e social.” (BEDIN, 2013, p.22).

A preponderância da atividade rural deu origem a um sistema econômico e social denominado feudalismo. Nele o senhor feudal, detentor da propriedade da terra cedia um pedaço desta ao seu servo, que desta forma “adquire a condição de vassalo” (BEDIN, 2013, p.23), para que a cultivasse em troca do seu sustento e proteção. Esta relação

de dependência foi a forma de proteção e de garantia de sobrevivência encontrada pelo homem diante da fraqueza das organizações políticas e da quase inexistência de formas urbanas de convivência, de sociabilidade e de relacionamento típicos das cidades (BEDIN, 2013, p.35).

Como consequência desta servidão houve a acentuação das hierarquias sociais, visto que as funções junto à sociedade eram previamente estabelecidas, havendo segundo a estrutura social “os que rezam, os que combatem e os que trabalham” (BEDIN, 2013, p.43).

O modelo de sociedade feudal baseado na relação entre o senhor e seu vassalo ocasionou a fragmentação do poder central, ou seja, as prerrogativas, antes inerentes ao império, passaram de certa forma a serem exercidas pelos senhores feudais. Com a monarquia cada fez mais enfraquecida “a sociedade feudal passou a se articular a partir de uma grande pluralidade de micropoderes e de uma estrutura política co-clerical universal estabelecida pela Igreja.” (BEDIN, 2013, p.46). Desta forma, “a aspiração da Igreja em erigir um Império da Cristandade e a consequente pretensão de interferir em assuntos temporais estará fundada na religião” (SUNDFELD, 2000, p. 33).

Por volta de 1300 a sociedade feudal, assim como era concebida, encontrou o seu limite, as constantes crises vivenciadas, bem como as modificações econômicas que se seguiram mostravam que uma nova realidade estava por vir. Rapidamente as cidades passaram a se recuperar, o comércio já apresentava sinais de mudanças e o feudalismo já não apresentava mais o vigor de antes.

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A nova realidade trazia consigo como símbolo “o florescimento do comércio e a emergência dos centros urbanos” modificando assim o perfil da sociedade, até então predominantemente rural. Esta atual conjuntura fez com que “a cidade adquirisse uma força política própria, que viabilizava formas de sociabilidades urbanas e novos instrumentos do exercício do poder” o que acarretou no rompimento com sistema feudal o qual daria lugar a sociedade burguesa moderna. (BEDIN, 2013, p.57 - 60).

Este novo panorama fez com que a Igreja, até então tida como um dos basilares da organização social também entrasse em declínio. A decadência vivenciada pela Igreja trouxe junto consigo o enfraquecimento do poder papal, visto então como absoluto. As constante disputas de poder travadas com a monarquia, que encontrava-se em ascensão, fez com que este não mais respondesencontrava-se aos anencontrava-seios espirituais da sociedade.

A situação vivenciada pela Igreja juntamente com o declínio da Idade Média possibilitou o surgimento de um novo movimento denominado Renascimento. Este trazia em seus ideais a valorização do homem, que sendo senhor de suas ações, deveria buscar o seu desenvolvimento e assim atingir seus objetivos. “O Renascimento foi, portanto, o início dos tempos modernos [em que os indivíduos] libertos da teologia e do mundo transcendente” (BEDIN, 2013, p.73-74) passaram a formar a sua própria história.

1.2 Estado Absolutista

Os anos que se seguiram foram marcados pela transição da Idade Média para o Estado moderno. O detrimento do poder, antes sob domínio do senhor feudal e da Igreja agora já pertencia ao Rei. Os monarcas “nos séculos XVI e XVII [...] dominaram ou aniquilaram os principais poderes que lhes faziam concorrência” absorvendo para si todos os poderes inerentes ao Estado apresentando-se “como um corpo específico, dotado de soberania” (BEDIN, 2013, p.82-85).

Durante o Estado absolutista, o monarca é tido como soberano, concentrando em si todos os poderes inerentes ao Estado, cabendo a ele governar, legislar, julgar,

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o que faz com que na concepção histórica o rei personificava em sua figura o próprio Estado. Este “período se caracteriza pela formação do Estado, de um poder soberano dentro de certo território, sujeitando todos os demais” (SUNDFELD, 2000, p. 34).

Contudo, ao contrário do que pode-se pensar, não se trata o absolutismo de um governo autoritário, segundo Bousset

são coisas totalmente diferentes, o governo absoluto e o governo arbitrário. É absoluto em relação à coação; não havendo nenhum poder capaz de forçar o soberano, neste sentido, ele é independente de toda autoridade humana. Mas isto não significa que o governo seja arbitrário (apud BONNEY, 1989, p.64-65).

Nesse sentido, segundo Lenio Luiz Streck e José Luis Bolzan de Morais “o absolutismo não se confunde com a tirania, posto que sua ilimitação diz com uma autonomia em face de qualquer limite externo, mas gerando limites internos com relação a valores e crenças da época” (2010, p. 45).

Fundamentalmente, o que se buscava devido a sua necessidade, era um poder central único que fosse suficientemente forte a ponto de estabelecer a ordem e pudesse fazer frente a eventuais ameaças inimigas. Desta forma, “o Estado absolutista foi compreendido pelas sociedades europeias como um regime superior de governo, pela capacidade desenvolvida pelos reis em assegurar a ordem e dispor de homens e bens para o engrandecimento do reino” (LOPES, 1996, p. 19).

1.2.1 Nicolau Maquiavel

A primeira expressão teórica a debruçar-se sobre os princípios do Estado moderno encontra-se em Maquiavel, com ele “começam muitas coisa importantes na história do pensamento político, inclusive uma nova classificação das formas de governo” (BOBBIO, 2001, p. 83). Para Maquiavel todos os Estados que existem e já existiram são e foram sempre repúblicas ou monarquias (apud BOBBIO, 2001, p.83).

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no sentido estrito da palavra, é um movimento intelectual que se inicia no final do século XV, florescendo no primeiro quarto do século XVI, e que visa livrar-se das disciplinas intelectuais da Idade Média, para voltar à Idade Clássica, estudada diretamente nas fontes pelos humanistas, e não mais através da transmissão cristã. Mas, no sentido amplo da palavra, o Renascimento é muito mais: é o fato considerável da majestosa construção medieval, fundada sobre a dupla autoridade do Papa, no âmbito espiritual, e do Imperador no temporal, desabar definitivamente (CHEVALLIER, 2001, p. 17).

É em O Príncipe, pequeno opúsculo, como ele mesmo denominou, que Maquiavel traz uma espécie de compêndio com diversas instruções consideradas relevantes tanto para conquista quanto para a manutenção dos principados. Nele o autor traz desde a classificação, principados, novos e hereditários, até qual a melhor forma de agir diante das diversas situações que possam se apresentar.

Na concepção do autor “o critério para distinguir a boa política da má é o seu êxito” (BOBBIO, 2001, p. 88), justificando desta forma os atos emanados pelos príncipes a manutenção do seu poder. Desta forma, “predicava a doutrina do poder com todos os princípios suficientes a uma sociedade estável” (QUEIROGA, 1998, p. 44), ou seja, aquele que deseja manter seu Estado, deve estar disposto a fazer o que for preciso, daí a celebre frase, os fins justificam os meios.

Embora não tão conhecida quanto O Príncipe, é em Comentários sobre a Primeira Década de Tito Lívio, importante obra a tratar da teoria política, que Maquiavel faz seus apontamentos sobre as repúblicas, espécies de governos e suas Constituições. É nele que Maquiavel faz referência a um governo que considera ideal, o governo misto o qual mesclaria as três formas existentes: a democracia, a aristocracia e a monarquia, mantendo desta forma um equilíbrio.

Dentre as contribuições de Maquiavel, destaca-se “seu trabalho de construção do alicerce da reflexão política moderna. Esta construção significa que o pensamento do autor permitiu a emancipação da esfera política das considerações morais e dos preceitos religiosos” (BEDIN, 2013, p. 99), sendo que a partir de então o homem passou a ser o centro dos relacionamentos políticos.

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1.2.2 Jean Bodin

Importante filósofo da era absolutista, foi o jurista francês Jean Bodin, autor da obra Os Seis Livros da República, “maciço monumento de ciência política e de direito público, rebarbativo e sem ventilação, carregado de erudição e despido de quaisquer atrativos, O Príncipe representa o passatempo insignificante de um amador desenvolto” (CHEVALLIER, 2001, p.50).

Para Bodin, a organização de um Estado somente é possível através de um poder soberano, essencial a organização de uma comunidade política, capaz de uni-la em torno de um propósito. A soberania, absoluta e perpétua deve ser exercida por um líder, a quem compete propor e revogar leis, submetendo-as a todos, estando apenas o mesmo imune a qualquer que for, neste sentido, refere o autor que o poder absoluto era um poder sem nenhum limite – exceto a lei divina e natural. Era também sinônimo de soberania, que ele definia como o poder absoluto e perpétuo de uma república (apud BONNEY, 1989, p.28).

Bodin reconhece como possíveis e existentes, apenas três formas de Estado: a monarquia, a aristocracia e a democracia. Assim, a soberania será exercida apenas pelo rei, no caso da monarquia, pelo povo no caso da democracia e por uma minoria no caso da aristocracia. O que não é possível, segundo Bodin, é a existência de um governo misto, ou seja, onde se pudesse reunir mais de uma forma de governo, visto que sendo a soberania indivisível, tal forma tornar-se-ia incompatível.

Embora defensor do regime monárquico, “a monarquia preferida por Bodin não é qualquer monarquia. Não é de forma alguma a monarquia tirânica, [...] pois, acima das leis do soberano, mantém ele, a primazia das leis da natureza, reflexo da razão divina. [...] A monarquia, que preconiza o jurista angevino, só pode ser a monarquia real ou legítima, como a chama” (CHEVALLIER, 2001, p. 60-61)” ou seja, é “aquela em que os súditos obedecem às leis do monarca e o monarca às leis da natureza e a propriedade dos bens” (apud CHEVALLIER, 2001, p. 60-61). O que se observa é que para Bodin, mesmo sendo soberano, o poder inerente ao monarca encontra limitações

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na natureza divina, diferente de Maquiavel, que segundo o qual o objetivo alcançado, justifica a prática realizada.

1.2.3 Thomas Hobbes

Dentre os filósofos que se dedicaram aos ideais do absolutismo, Thomas Hobbes merece importante destaque, considerado o “maior filosofo político da Idade Moderna, até Hegel” (BOBBIO, 2001, p. 107), Hobbes foi autor importantes obras sobre o Estado moderno, das quais merece especial evidencia, o Leviatã.

Para o autor, o poder soberano também era absoluto, contudo “em contraste com Bodin, Hobbes não reconhecia qualquer lei natural ou divina a limitar a autoridade do príncipe” (QUEIROGA, 1998, p. 47), trazia na justificação ao poder absoluto do rei a concepção de que para que possam viver em sociedade os homens precisam de alguém que os governe, visto que estes “não possuem uma sociabilidade natural” (apud BEDIN, 2013, p.114) o que traz consigo a necessidade de que cada indivíduo transfira ao soberano os seus poderes. Para ele, o estado de natureza, em que todos os homens são iguais, acarreta somente discórdia e anarquia, diferente de quando há a transferência de todas as vontades de uma sociedade a um só homem que os represente. A partir desta concepção “a organização dos homens em sociedade passa a ser justificada a partir do próprio homem que, tomado em estado de natureza, faz um acordo – o pacto social” (CORRÊA, 2006, p.47).

Outra semelhança existente entre Bodin e Hobbes é fato de ambos considerarem o governo misto o caminho para ruína de um Estado. Segundo Hobbes, é certo que o poder soberano não pode ser dividido senão a preço da sua destruição (apud BOBBIO, 2001, p.112). Para Norberto Bobbio, o raciocínio de Hobbes tem simplicidade exemplar: se o poder soberano está efetivamente dividido, não é mais soberano; se continua a ser de fato soberano, não está dividido – a divisão é só aparente (2001, p. 112).

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Assim, segundo o autor, a única forma possível de os indivíduos viverem em sociedade, é diante de um poder absoluto, imune a todas as leis, ao qual caberá soberanamente conduzir o Estado de forma a garantir a sua estabilidade.

1.3 Estado Liberal

As concepções do liberalismo traziam como sujeito central o indivíduo e seus direitos, cabendo ao estado uma intervenção mínima, restringindo assim sua atividade apenas a manutenção da segurança e a preservação das liberdades civis e econômicas.

Para Bobbio, o liberalismo é uma determinada concepção de Estado, na qual este tem poderes e funções limitadas, e como tal se contrapõe tanto ao Estado absoluto quanto ao Estado que hoje chamamos de social (apud STRECK; MORAIS, 2010, p.57). De acordo com os princípios liberais, este se apresentou como

uma teoria antiestado. O aspecto central de seus interesses era o indivíduo e suas iniciativas. A atividade estatal, quando se dá, recobre um espectro reduzido e previamente reconhecido. Suas tarefas circunscrevem-se à manutenção da ordem e segurança, zelando que as disputas porventura surgidas sejam resolvidas pelo juízo imparcial sem recurso à força privada, além de proteger as liberdades civis e a liberdade pessoal e assegurar a liberdade econômica dos indivíduos exercitada, no sentido da proteção dos indivíduos (2010, p.61).

Com vistas a garantir esta forma de atuação mínima do Estado, garantindo assim a predominância dos valores liberais, foi que os teóricos do liberalismo articularam a teoria da separação dos poderes, entendiam estes que “decompondo a soberania na pluralidade de poderes, salvaria a liberdade” (BONAVIDES, 1980, p.9).

Originalmente atribui-se a Locke e Montesquieu a teoria segundo a qual se organizaria o então Estado constitucional. Para Locke, o poder o qual cabe ao governante não se encontra tão minimizado, assim “o poder se limita pelo consentimento, pelo direito natural, de maneira mais ou menos utópica” (BONAVIDES, 1980, p. 12).

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Diferente da proposta criada por Locke, a teoria constituída por Montesquieu trouxe em si uma perspectiva muito mais radical. Para este a única forma de evitar-se os atos absolutistas, era uma separação total dos poderes até então inerentes ao Estado. Desta forma, o que se confere “é que nele a divisão não tem apenas caráter teórico, como em Locke, mas corresponde a uma distribuição efetiva e prática do poder entre titulares que não se confundem” (BONAVIDES, 1980, p.15).

Como consequência, atribui-se a Montesquieu a versão mais completa desta teoria, para ele somente o poder detém o poder e sob esta ótica que este desenvolveu a teoria da tripartição dos poderes, na qual se dividem os poderes de um Estado em executivo, legislativo e judiciário.

Como visto, a ideologia pregada pelos liberais trazia em seu escopo a ingerência mínima do Estado, sendo classificada conforme Merquior como liberdades negativas, ou seja, o direito de não sofrer interferências arbitrarias (2014, p. 334) ou ainda como direitos assentados contra o Estado e desta forma, o que se estabeleceu foram os direitos de primeira geração, Direitos Civis.

1.3.1 O Estado Liberal e sua contextualização histórica

O período que se segue à queda do Estado absolutista, traz em si uma nova realidade. Os ideais através dos quais o soberano, senhor de todo o Estado, detinha o poder absoluto, deram lugar ao Estado liberal, onde seu poder fora em muito restringido. O que se viu na verdade, foi uma classe, a burguesia, que “não mais se contentava em ter o poder econômico; queria, sim, agora, tomar para si o poder político, até então privilégio da aristocracia, legitimando-a como poder legal-racional, sustentando em uma estrutura normativa a partir de uma Constituição” (STRECK; MORAIS, 2010, p.51). Segundo Darcísio Corrêa

a Revolução Burguesa encarregou-se de atender às necessidades da nova estrutura libertando os agentes econômicos, constituindo-os em sujeitos de direito, livres e iguais, autonomia essa que possibilita o contrato de trabalho, a troca e a circulação de mercadorias e, a concorrência entre proprietários (2006, p.56).

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Contudo o que se vê após a revolta social, em que os ideais eram tidos como comuns a toda sociedade, não mais interessa a burguesia hora no poder, esta “só de maneira formal os sustenta, uma vez que no plano de aplicação política eles se conservam, de fato, princípios constitutivos de uma ideologia de classe.” (BONAVIDES, 1980, p.5). Os ideais de liberdade pregados pelos revolucionários, diferente do que se propunha durante a revolução, não se estenderam ao povo, a burguesia que passou a classe dominante era a única que realmente se beneficiou com as conquistas obtidas.

Desta forma, o Terceiro Estado, o qual fora instigado pela classe burguesa para juntos, sob seus ideais revolucionários buscarem a liberdade, se manteve a margem das conquistas obtidas. Como consequência “não advinha para a burguesia dano algum, senão muita vantagem demagógica, dada a completa ausência de condições materiais que permitissem às massas transpor as restrições do sufrágio e assim correr, por via democrática, à formação da vontade estatal” (BONAVIDES, 1980, p.8).

O direito ao sufrágio e a representação originalmente ocorria de forma censitária, ou seja, tais direitos eram garantidos apenas à cidadãos prósperos. Contudo

esse ordenamento burguês, [...] não passou de uma forma histórica transiente, que foi logo substituída pelo sufrágio universal masculino. O advento da democracia no Ocidente industrial a partir da década de 1870 significou a preservação definitiva das conquistas liberais: liberdade religiosa, direitos humanos, ordem legal, governo representativo, e legitimação da mobilidade social (MERQUIOR, 2014, p. 43).

Com a adoção do sufrágio, ainda que de forma restrita, em meados do século XIX, verifica-se uma nova realidade voltada as liberdades garantidas ao cidadão. Até então tinha-se como visto, apenas direito à liberdade negativa, de não sofrer influências estatais, passando-se agora os cidadãos a tomarem partido nos assuntos públicos, conceituados assim como direitos positivos.

A etapa que se segue, traz em si um Estado liberal onde a realidade apresentada não se satisfaz com um Estado em que a intervenção se dá de forma mínima. Os

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anseios do Terceiro Estado por uma política social mais justa fez com que representantes da época não encontrassem outra medida senão a sua democratização. A democracia fora atingida de forma plena através do sufrágio universal pela primeira vez no início do século XX.

Esta somente ocorreu face as constantes pressões exercidas pelas classes operárias até então oprimidas. O Terceiro Estado que não era visto como cidadão uma vez que conforme Immanuel Kant o empregado doméstico, o balconista, o trabalhador, ou mesmo o barbeiro não são [...] membros do Estado, e assim não se qualificam como cidadãos (apud MERQUIR, 2014, p. 182), o que ocorre é que “tais pessoas subsistem mediante a venda de seu trabalho e portanto, não contando com uma base de propriedade, não são independentes o bastante para o exercício de direitos políticos (MERQUIOR, 2014, p.182).

O fim do século XIX fora marcado expressivamente pela Revolução Industrial, o que fez com que a burguesia, na busca pelo capital, mantivesse os operários em condições de trabalho subumanas, estes “morriam de fome e de opressão, ao passo que os mais respeitáveis tribunais do Ocidente assentavam as bases de toda sua jurisprudência constitucional na inocência e no lirismo daqueles formosos postulados de que todos são iguais perante a lei” (BONAVIDES, 1980, p.32).

Insatisfeita com as condições de trabalho e com a exploração exercida pela burguesia a classe operária não viu outro modo senão organizar-se a fim de reivindicar garantias que os permitissem viver dignamente. E foi com vistas a garantir estes direitos reclamados pelas classes trabalhadoras, que no decorrer dos próximos anos foram instituídas legislações de proteção ao trabalho.

Estas profundas mudanças alcançadas pelos menos favorecidos, fez com que já no começo do século XX uma nova forma de Estado tomasse força, surge assim o Estado social com a finalidade precípua de garantir através da intervenção estatal, uma justiça social que assevere melhores condições de subsistência aos cidadãos.

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1.4 Estado Social

As transformações ocorridas no final do século XIX em muito modificaram a realidade da época. A saturação do atual sistema liberal, impulsionado pela Revolução Industrial fez com que o sistema capitalista em vigor necessitasse de profundas reestruturações.

Este novo panorama, trouxe consigo um aumento da população urbana, uma vez que cada vez mais as populações rurais migravam para as cidades em busca de melhores condições de vida, fazendo com que as estruturas existentes se encontrassem rapidamente saturadas. Como consequência deste êxodo houve um aumento da classe pobre, a qual não via outra forma senão sujeitar-se as péssimas condições de trabalho ou até muitas vezes ficando adstritas ao desemprego.

Assim, o que se viu, foi a necessidade do Estado se readequar frente as questões sociais, uma vez que a nova realidade advinda da Revolução Industrial fizesse com que o então Estado liberal não mais conseguisse “solucionar os novos problemas gerados pela transformação do sistema capitalista” 1(CLARAMUNT, 1999,

p.30).

O Estado social surgiu diante de uma realidade em que as classes menos favorecidas insatisfeitas ao verem seus direitos oprimidos pela burguesia, buscaram fazer valer as conquistas até então angariadas. O direito ao voto, que no início do século XX teve suas primeiras expressões na forma universal, foi a principal arma utilizada pelos operários com vistas a garantir um sistema que os assistisse.

Para a burguesia a conquista do sufrágio universal por parte do proletariado resultou em inestimável derrota. Com a manutenção do voto censitário a classe burguesa conservava o controle político, sendo que a partir desta perda as classes operárias passaram a se manifestar de fato na democracia.

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Foi através do direito ao sufrágio, que em grande parte dos países, as classes trabalhadoras vislumbraram a forma com a qual conseguiriam haver para si, através da atuação estatal prestações que garantissem uma equidade nas relações existentes. Segundo Bonavides

quando o Estado, coagido pela pressão das massas, pelas reivindicações que a impaciência do quarto estado faz ao poder político, confere, no Estado constitucional, ou fora deste, os direitos do trabalho, da previdência, da educação, intervém na economia como distribuidor, dita o salário, manipula a moeda, regula os preços, combate o desemprego, protege os enfermos, dá ao trabalhador e ao burocrata a casa própria, controla as profissões, compra a produção, financia as exportações, concede o crédito, institui comissões de abastecimento, provê necessidades individuais, enfrenta crises econômicas, coloca na sociedade todas as classes na mais estreita dependência de seu poderio econômico, político e social, em suma, estende sua influência a quase todos os domínios que antes pertenciam, em grande parte, à área da iniciativa individual, nesse instante o Estado pode com justiça receber a denominação de Estado social (1980, p.208)

Embora o surgimento da democracia tenha contribuído de forma essencial ao surgimento do Estado social em alguns países, não se pode vincular o seu estabelecimento exclusivamente a este fato. Como exemplo Maria Josefa Rubio Lara esclarece que na Alemanha o Estado de bem-estar se afirmou em um regime não democrático, e até mesmo as famosas leis bismarckianas foram motivadas, em parte, com a finalidade de conter as tendências democráticas (1991, p. 335).

Já na opinião de Carlos Ochando Claramunt, a característica essencial do Estado de bem estar social se materializou a nível político em um pacto sociopolítico entre sindicatos, organizações empresárias e Estado, sobretudo a partir do momento em que os governos sociais democratas alcançaram o poder (1999, p. 40). Neste sentido, refere Lara que tanto em suas origens mais remotas como o mais próximo do Estado de bem-estar parece ser impulsionado direta ou indiretamente pelo crescimento e organização da classe trabalhadora (1991, p. 337).

Desta forma, os fatos que levaram ao surgimento do Estado social nos mais diversos países, não se constituíram de forma idêntica, o que se viu foi o surgimento

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de uma forma de Estado em resposta às necessidades inerentes a realidade de cada nação.

Compete ao Estado a partir desta nova estruturação estabelecer políticas que propiciem ao cidadão um mínimo de proteção. Segundo Francisco José Contreraz Peláez é preciso reparar os danos, independentemente se é possível ou não investigar com precisão suas causas ou identificar os responsáveis. Ganha terreno a ideia da socialização do risco, o que segundo o autor, trata-se de uma redistribuição igualitária das consequências advindas do desenvolvimento, diminuindo assim, os danos suportados por aqueles que foram diretamente prejudicados (1996, p. 22).

Este modelo de Estado, o qual se caracteriza pelo intervencionismo nos mais diversos setores, também não foi diferente na economia. Com o crescimento decorrente da industrialização, não foi possível a manutenção do sistema capitalista burguês, o qual primava pela liberdade econômica. Com isso, coube à atuação estatal estabelecer políticas de regulamentação do mercado, normatizando importações e exportações afim de estabelecer um equilíbrio que beneficiasse tanto as empresas como o próprio Estado. Neste sentido refere Claramunt ser o Estado Social

uma forma de organização institucional baseada no compromisso público com o pleno emprego, a política econômica, a existência de sistemas mais ou menos amplos de provisão universal de certos bens, serviços e transferência e as políticas redistributivas em prol da desigualdade econômica e social (1999, p. 54).

À vista disso, é neste período em que se busca a atuação estatal como forma de proteção aos cidadãos trabalhadores e os até então marginalizados, que surge a terceira geração de direitos, ou seja, os direitos econômicos e sociais, caracterizados como direito de receber uma prestação do Estado ou ainda direitos garantidos através da atuação estatal, os quais serão amplamente abordados no próximo capítulo.

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2 OS DIREITOS ECONÔMICOS E SOCIAIS E O ESTADO SOCIAL

Neste contexto de profundas transformações, em que o Estado passa a intervir nas relações tanto econômicas como privadas, é que surge a terceira geração de direitos, os quais, segundo vimos, se concretiza de forma diferente das duas primeiras gerações, ou seja, enquanto que nestas, suas premissas dispunham no fato de não sofrer interferências estatais – direitos negativos ou direitos civis – e o direito de poder intervir ou participar na formação política estatal – direitos positivos ou direitos políticos – aquela verifica-se nos direitos de haver para si uma prestação estatal, ou ainda, de ter através do Estado direitos garantidos, consagrando assim os direitos econômicos e sociais.

O ideário do Estado social embora com o Estado socialista não se confunda, dele sofreu grandes influências. Os princípios socialistas relativos à proteção do trabalhador, distribuições de riquezas, assim como as concepções de cidadania induziram de forma significativa tanto no surgimento do Estado social, quanto no desenvolvimento dos direitos econômicos e sociais (BEDIN, 2002).

Neste contexto, que no presente capítulo será abordado primeiramente a uma análise dos principais direitos econômicos e sociais para em seguida localizarmos as primeiras legislações a mencionarem tais garantias, bem como contextualizar o período em que houve sua expansão e consolidação.

2.1 Dos direitos econômicos e sociais

Os direitos econômicos e sociais, os quais tiveram sua experimentação nas duas primeiras décadas do século passado, estão divididos segundo José Afonso da Silva em dois tipos de direitos (apud BEDIN, 2002, p. 63):

a) Os direitos relativos ao homem trabalhador;

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Dentro desta primeira classificação, seguindo Bedin, os direitos relativos ao homem trabalhador se subdividem segundo a sua destinação, ou seja, individual ou coletiva. Entre os direitos destinados a proteger os homens em suas relações individuais de trabalho, encontram-se as seguintes prerrogativas (2002, p. 64):

a) O direito à liberdade de trabalho

O direito à liberdade de trabalho consiste na autonomia conferida aos cidadãos de livremente poderem escolher o trabalho que melhor lhes aprouver. No mesmo sentido Bedin o define como a faculdade que os homens possuem de escolher e exercer uma profissão que melhor lhes convêm (2002, p. 64).

Muito embora seja muito mais antigo, o referido direito possui estreita ligação com o direito ao pleno emprego, o qual consiste em um dos pilares do Estado social, conforme Claramunt o compromisso com o pleno emprego foi a essência de muitos dos Estados de bem estar fortes (1999, p.38). Esta relação se dá, uma vez que a liberdade de trabalho somente pode ser exercida em sua plenitude caso seja garantidas condições para tal.

b) O direito ao salário mínimo

O trabalhador no final do século XIX, além de exercer suas funções sob péssimas condições de trabalho, ao final recebia do empregador uma quantia ínfima, a qual era incapaz de suprir as necessidades suas e de sua família. Desta forma, trata o direito ao salário mínimo da garantia de que o trabalhador receba um mínimo suficiente para que seja possível suprir as suas necessidades básicas.

Segundo Sérgio Pinto Martins, já no Código de Hamurabi haviam determinações sobre o salário mínimo de empregados diaristas, artesãos, carpinteiros e outros. Ainda segundo o autor o Tratado de Versalhes, em 1919, estabeleceu como um de seus princípios básicos que o salário deve assegurar ao trabalhador um nível conveniente de vida, tal como seja compreendido na sua época e no seu país (2010, p. 321). No Brasil a garantia ao salário mínimo teve sua primeira manifestação no ano de 1936

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através de um decreto expedido pelo então Ministério do Trabalho, Industria e Comércio (2010, p.10) e anos depois em 1943 integrou a ainda vigente Consolidação das Leis do Trabalho Brasileira.

c) O direito a jornada de trabalho de oito horas

Nos primórdios das relações trabalhistas, os empregados eram submetidos a jornadas de trabalho extremamente excessivas, chegando a 16 horas diárias, sem que houvesse inclusive, qualquer distinção entre homens, mulheres e crianças.

Devido a estes abusos, muitos movimentos reivindicatórios buscavam a diminuição da jornada de trabalho, fazendo-se necessário a intervenção estatal afim de regulamentar um número máximo de horas a serem exercidas pelos trabalhadores.

Esta limitação quanto a jornada de trabalho foi se consolidando ao longo dos anos, sendo que na Inglaterra, em 1847, foi fixada a jornada de trabalho em 10 horas. No ano de 1901 a legislação Australiana fixou a jornada de trabalho em 8 horas e assim ocorreu em diversos países nos anos seguintes. No ano de 1919 passou a constar na Convenção da Organização Internacional do Trabalho, a qual estabeleceu em seu artigo 2º a duração máxima de oito horas diárias e 48 horas semanais (MARTINS, 2010).

A limitação da jornada de trabalho de oito horas figurou pela primeira vez em uma Constituição no direito brasileiro no ano de 1934, segundo Martins a Carta Magna trazia na alínea c do § 1º do artigo 121 a limitação ao trabalho diário não excedente de oito horas, reduzíveis, mas só prorrogáveis nos casos previstos em lei (2010, p. 506).

d) O direito ao descanso semanal remunerado

O direito ao descanso semanal remunerado consiste no “período em que o empregado deixa de prestar serviços uma vez por semana ao empregador de

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preferência aos domingos e nos feriados, mas percebendo remuneração” (MARTINS, 2010, p. 565).

Tal direito teve sua primeira previsão legal “em 1877, pelas leis suíças” (BEDIN, 2002, p. 64). No Brasil o direito ao descanso semanal teve sua primeira manifestação constitucional na Carta Magna de 1934, contudo sem a garantia da remuneração, a qual passa a ser incluída apenas na Carta Política de 1946.

e) O direito a férias anuais remuneradas

O direito a férias consiste em um afastamento durante determinado período, concedido ao trabalhador após decorrido um período de trabalho. Segundo Martins, tal prerrogativa trata-se de um complemento ao descanso semanal remunerado e visa garantir ao operário um período de descanso afim de retomar o rendimento perdido devido ao trabalho (2010, p.575).

A primeira legislação a trazer o direito a férias em seu escopo foi na Inglaterra, esta “surgiu em 1872, destinada aos operários das industrias. Somente em 30 de julho de 1919, foi promulgada a primeira lei que concedeu férias a todos os trabalhadores assalariados, na Áustria” (MARTINS, 2010, p. 575).

f) O direito à igualdade de salário para trabalhos iguais

O direito a igualdade de salário trata-se de uma equiparação salarial para trabalhadores que exercem a mesma função, sem que haja portanto, qualquer distinção de sexo ou idade.

O primeiro país a trazer o direito a igualdade de salários em sua Constituição foi o México no ano de 1917, constando posteriormente no Tratado de Versalhes no ano de 1919.

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Ainda seguindo os ensinamentos ofertados por Bedin, temos como antes abordado, os direitos coletivos dos trabalhadores, os quais se subdividem em (2002, p. 66):

a) Direito a liberdade sindical

O direito à liberdade sindical consiste na prerrogativa concedida aos trabalhadores de livremente a seu arbítrio organizarem-se em forma de um sindicato afim de deliberarem sobre os assuntos relativos as relações que lhes possam convir. Trata-se assim a liberdade sindical de

uma espécie de liberdade de associação. É o direito de os trabalhadores e empregadores se organizarem e constituírem livremente agremiações que desejarem, no número por eles idealizado, sem que sofram qualquer interferência do Estado, nem uns em relações aos outros, visando à promoção de seus interesses ou do grupo que irão representar (MARTINS, 2010, p. 709).

O direito à liberdade sindical surgiu já no século XIX em que os operários buscavam melhores condições de trabalho, bem como organizavam-se desta forma afim de constituírem uma espécie de seguro visando prevenir eventos como doenças, invalidez e ainda garantir as famílias um mínimo no caso de óbito.

b) Direito a greve

O direito a greve, exercido como forma de pressionar o empregador, consiste na prerrogativa “que possui a classe operária de paralisar suas atividades, como meio de pressão, para constranger os empregadores a aceitar seus pontos de vista sobre determinada questão" (BEDIN, 2002, p. 67).

O presente direito, nas antigas legislações era visto como delito e desta forma proibia-se o exercício da mesma. Segundo Martins, de delito a mesma passou a liberdade, no Estado liberal, e, posteriormente, a direito, nos regimes democráticos (2010, p. 851).

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Quanto aos direitos relativos ao homem consumidor, ainda tomando por referência Bedin, segundo o qual, se tratam de direitos em relação ao homem como sujeito que consome bens e serviços públicos, estes se subdividem em (2002, p. 69):

a) Direito a seguridade social

O direito a seguridade social consiste em um conjunto de ações estatais voltadas a garantir direitos relativos à previdência social à assistência social e à saúde. O direito a assistência social surgiu como parte de uma legislação na França, já na época da declaração de direitos de 1793. Já os direitos relativos a previdência social, surgiram constitucionalmente com as Constituições Mexicana e de Weimar na Alemanha. O direito à saúde, também foi concebido ainda no decorrer do século XX, segundo José Afonso da Silva, a primeira Constituição a abordar o tema como direito fundamental foi a Carta italiana (apud BEDIN, 2002, p. 70)

b) Direito a educação

O direito a educação segundo Celso de Mello é mais compreensivo e abrangente que o da mera instrução. A educação objetiva propiciar a formação necessária ao desenvolvimento das aptidões, das potencialidade e da personalidade do educando (apud MORAES, 2011, p. 857). Sua primeira manifestação ocorreu em 1917 com a Constituição Mexicana.

c) Direito a habitação

O direito à habitação passou a integrar o texto de uma Constituição com a Carta mexicana no ano de 1917, muito embora a “demanda por habitações dignas é uma reivindicação bastante antiga” (BEDIN, 2002, p. 72).

2.2 As primeiras legislações que acolhem os Direitos Sociais

No tópico anterior abordou-se alguns dos direitos econômicos e sociais, lembrando que tal rol exposto não se trata de uma relação engessada, taxativa e sim

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de uma seleção meramente exemplificativa, uma vez que as garantias tuteladas variam de acordo com o período histórico aos quais se referem e desta forma passando por processo de constante mutação. Agora se abordará as primeiras legislações, algumas ainda no período liberal, que tiveram em seu escopo o amparo aos direitos econômicos e sociais.

Ao longo dos séculos diversas foram as batalhas travadas em busca de melhores condições de vida. Até serem positivados e desta forma passarem ser garantidos com efetividade, os direitos sociais atravessaram diversas mudanças.

Para entender-se um pouco melhor a evolução dos direitos econômicos e sociais é necessário que se faça uma breve reconstrução histórica de sua evolução. Tal retomada remonta-se a meados do século XVIII onde a primeira industrialização ocorrida na Inglaterra e posteriormente estendendo-se aos demais países da Europa ocidental mudou o panorama dos sistemas de assistência social vigentes. Esta época foi marcada por um período de grande miséria, a qual fora “superada finalmente na segunda metade do século XIX graças ao crescimento da produtividade na agricultura e na indústria, a uma elevada oferta de postos de trabalho, a melhora nos transportes e a criação de mercados locais e regionais” (RITTER, 1991, p.64).

A forma com as quais os países passaram a lidar com a pobreza existente variaram de um para outro. Nos países como França e Inglaterra, pôs-se em prática os ideais do liberalismo, diminuindo-se a assistência social para desta forma obrigar a busca pelo trabalho. Contudo diante do fracasso destas medidas, marcados por diversos problemas sociais como as grandes epidemias de cólera, não houve outra forma senão a intervenção estatal na relações políticas e sociais.

Diante das necessidades oriundas de um desenvolvimento bastante complexo, foi que no ano de 1834 que a Inglaterra instituiu a famosa Lei dos Pobres, a qual segundo Gerhard A. Ritter tratou-se de uma legislação de uma pré-história do Estado Social, nela segundo o autor buscava-se complementar, com subsídios dos impostos para a pobreza, os salários dos operários que estavam abaixo de um mínimo existencial especialmente no campo (1991, p.70).

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A primeira legislação a garantir formas de proteção ao trabalhador também surgiu na Inglaterra. Tratavam-se, segundo Ritter,

de leis sobre as fabricas e minas aprovadas em 1833 e 1850, que limitaram o trabalho das mulheres e das crianças e introduziram na indústria de algodão um jornada de trabalho de dez horas no máximo para estes, que posteriormente se estendeu as fábricas de outros setores industriais. E como existia uma estreita colaboração entre homens e mulheres na organização do trabalho nas fábricas, a redução da jornada de trabalho foi imposta também, em um nível considerável, para a maior parte do operários homens (1991, p. 76).

Outra importante conquista atribuída de forma pioneira a legislação inglesa foi o direito à liberdade sindical. Tais organizações surgiram ainda no século XIX, inicialmente com o intuito de garantir políticas de proteção a doentes e idosos. Contudo, o que se vê após a ampliação do sufrágio no ano de 1967 são sindicados atuando livres da intervenção estatal, capazes de estabelecer negociações buscando melhores condições de trabalho, intervindo inclusive na sua organização (RITTER, 1991).

Muito embora a Alemanha estivesse atrás de países como Inglaterra e Suíça no que concerne a regulamentação das relações sindicais e trabalhistas, a mesma foi precursora ao criar o que foi considerado o primeiro sistema moderno de seguridade social no ano de 1880, buscando proteger seus trabalhadores dos riscos causados por doenças, acidentes, invalidez e velhice. Através destas reformas, operadas por Bismarck, que unindo forças entre segurados, empresários e Estado que a Alemanha instituiu formas eficazes de assistência social coletiva objetivando a diminuição da miséria até então existente.

O modelo de seguridade social alemão passou a servir de referência a diversos países europeus, implementações como o seguro desemprego que desde a transição do século XIX para o século XX já havia se difundido amplamente no país, na Inglaterra tornou-se obrigatório apenas no ano de 1911 e ainda destinado a uma pequena parcela dos trabalhadores.

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Nos anos que se seguiram, cada vez mais os direitos econômicos e sociais passaram a ser contemplados nos mais diversos países da Europa. Segundo Ritter, em 1914,

treze Estados europeus, de catorze, tinham algum sistema de seguros ou de responsabilidade civil dos empresários por acidentes de trabalho, doze tinham planos de saúde e sete ofereciam pensões para uma idade mais elevada. Do total destes trinta e dois seguros, dezoito eram obrigatórios e catorze eram facultativos (1991, p.112).

No período anterior a primeira guerra, a forma com a qual se buscou amparar os cidadãos passou por algumas mudanças. Ao invés de preocupar-se somente com a maneira com que se remediaria os diversos problemas, passou-se a investir na prevenção, ampliando também programas de saneamento básico, de prevenção a tuberculose e proporcionando acesso a médicos de forma mais efetiva.

2.3 Contexto histórico que impulsiona o Estado Social

Como analisado no tópico anterior, os direitos econômicos e sociais passaram lentamente, no decorrer do século XIX e início do século XX a compor os textos legais dos países europeus. No presente tópico passaremos a analisar o período em que estes direitos foram ampliados e passaram a integrar o corpo constitucional de alguns países.

Importante referenciar neste momento que, muito embora já no século XIX algumas legislações passaram a ser integradas por sistemas de proteção e amparo ao cidadão, os direitos econômicos e sociais como “terceira geração de direitos surgiu no início do século XX” (BEDIN, 2002, p. 61). Neste sentido refere Ritter que após mostrarem sua capacidade de funcionamento os direitos econômicos e sociais se ampliaram durante a primeira guerra mundial e no período entre guerras (1991, p.130).

A primeira guerra mundial promoveu um sentimento de solidariedade entre cidadãos dos países que compunham as batalhas. As ações para minorar a miséria e desigualdade, bem como as intervenções estatais, amparadas pelos sindicatos, na

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regulação da mão de obra acabaram fortalecendo a integração entre estes e os empresários.

O Tratado de Versalhes, celebrado em Genebra no ano de 1919, com o objetivo de promover a paz após a primeira guerra trouxe entre outras considerações a proteção dos direitos econômicos e sociais, uma vez que “a justiça social é um pressuposto necessário para a paz e a insatisfação gerado pela injustiça, a miséria e as privações que, para um grande número de pessoas implicam certas condições de trabalho, põe em perigo a paz e a harmonia universal” (LARA, 1989, p. 176).

Como uma importante ferramenta de amparo aos trabalhadores e para desta forma garantir a justiça social, foi que o Tratado de Versalhes previu a criação da Organização Internacional do Trabalho, a qual tinha como objetivo estabelecer políticas proteção no âmbito internacional através de realização de convênios e expedição de recomendações.

Após a primeira guerra mundial, a Alemanha, a qual restava derrotada, com o objetivo de reestabelecer as suas estruturas e assim propiciar melhores condições de vida de seus cidadãos, promulgou no ano de 1919 a Constituição de Weimar, esta por sua vez, “abriu um novo caminho para o desenvolvimento do Estado Social ao ancorar os direitos sociais do indivíduo, o reconhecimento explícito dos direitos dos sindicatos a coparticipar da configuração das relações econômicas e a aceitação da ideia de comitês” (RITTER, 1991, p.143).

Com o advento da Constituição de Weimar, os trabalhadores passaram a ter maior influência nas relações de trabalho, através do fortalecimento das organizações sindicais, garantida pela liberdade de associação, bem como com o reconhecimento de acordos coletivos realizados entre as organizações patronais e trabalhadores assegurados perante aos tribunais. Também se deve a Constituição de Weimar a instituição de conselhos de trabalhadores, criados com a finalidade de “defender os interesses profissionais” (LARA, 1991, p.94)

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Foi em sua segunda parte, que a Constituição Weimariana, trouxe o capítulo Direitos e deveres fundamentais dos alemães, instituindo diversas normas de proteção aos direitos econômicos e sociais com objetivo promover a prosperidade geral e o progresso social.

Muito embora se reconheça a importância histórica da Constituição de Weimar, que claramente “avançou na regulamentação de direitos econômicos e sociais, esta teve como ponto fraco a falta de atenção dedicada as garantias legais daqueles” (LARA, 1991, p. 92), neste sentido refere Ritter que as determinações eram como normas programáticas, cuja execução não poderia ser reivindicada perante um tribunal (1991, p.145).

A primeira Constituição latino americana a trazer formalmente em seu texto a tutela aos direitos sociais foi a Constituição Mexicana no ano de 1917. Entre os direitos previstos na Carta mexicana estavam previstos a garantia a liberdade de trabalho, a uma jornada de trabalho, direito a greve, a seguridade social entre outros.

Inúmeros foram os países que no período entre guerras passaram a inserir na estrutura de suas Constituições a proteção aos direitos econômicos e sociais, contudo diante do contexto, sem presunção de se esgotar o assunto, optou-se pelos exemplos acima expostos.

No próximo tópico passaremos a analisar o período pós segunda guerra mundial, em que diante da necessidade de se estabelecer normas de regulamentações políticas e econômicas, os direitos econômicos e sociais e em consequência o Estado social se expandiram e consolidaram.

2.4 A Consolidação dos Direitos Sociais

O período após a segunda guerra mundial foi marcado pela ampliação e consequente consolidação do Estado social. Contudo a forma com que essa consolidação se deu não é unanime entre os que a abordam. Para alguns autores o que se deu após os anos quarenta do século XX não foi uma alteração na ordem

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qualitativa, mas apenas uma alteração de índole quantitativa, nesse sentido assevera Marsh que as reformas pós guerra se tratavam de uma modificação e não de uma inovação, já para Laubier é no período pós guerra que a política social se desenvolve em sua especificidade (apud LARA, 1991, p. 204).

Nos anos que se seguiram as políticas estatais voltaram-se a estabelecer um crescimento econômico possibilitando a consecução de um bem estar. Às políticas de seguridade social estabeleceram além de uma função econômica, também uma função política, uma vez que eram vistas como uma forma de assegurar a paz social, nesse sentido Jordana de Pozas refere que

a convicção de que a injustiça social, a falta de saúde e higiene de massas, o fenômeno do desemprego, da exploração e baixo padrão de vida dos trabalhadores, embora se deram no interior de determinado países, constituíam um grave perigo para a normalidade econômica internacional e a paz exterior (apud LARA, 1991, p. 206).

Foi nessa acepção que a Carta do Atlântico, primeiro documento a referir as aspirações econômicas e sociais da época prescreveu, segundo Dupeyroux a necessidade de estabelecer a mais completa colaboração entre todas as nações no campo econômico, a fim de assegurar, para todos, melhores condições de trabalho, progresso econômico e seguridade social (apud LARA, 1991, p. 206).

No ano de 1944, durante a vigésima sexta reunião da Conferencia Geral da Organização Internacional do Trabalho, esta prescreveu em suas recomendações a necessidade de se estender os seguros sociais a todos os trabalhadores, bem como de se garantir uma assistência social a aqueles cujos recursos sejam insuficientes e ainda, refere sobre a necessidade de se garantir a toda população, uma estrutura médica financiada através dos impostos (LARA, 1991).

A Assembleia Geral das Nações Unidas no ano de 1948 aprovou uma das mais importantes legislações sobre direitos. A Declaração Universal de Direitos Humanos que além de abordar “direitos e liberdades clássicas (direito de propriedade, liberdade de pensamento, de opinião e expressão...) prescreveu que os direitos econômicos e

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sociais constituem um dos elementos característicos do Estado social” (LARA, 1991, p. 210).

Com o objetivo de proporcionar garantias jurídicas aos direitos prescritos na Declaração de 1948 foi aprovado no ano de 1966 o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais o qual prescreve já em seu preâmbulo que “o ideal do ser humano livre, liberto, do temor e da miséria, não pode ser realizado a menos que se criem condições que permitam a cada um gozar de seus direitos econômicos, sociais e culturais” (BRASIL, 1992).

Refere o presente pacto que os Estados Parte deverão adotar medidas, em especial as legislativas, que visem proporcionar meios para a asseguração dos direitos previstos, devendo ser emitidos e apresentados relatórios junto ao Conselho Econômico e Social contendo fatores que dificultem o pleno cumprimento das obrigações previstas. Em contrapartida este conselho irá emitir relatórios, podendo incluir recomendações referentes ao cumprimento das disposições do presente pacto, podendo ainda, se entender necessário, encaminhar a Comissão de Direitos Humanos para fins de estudo e de recomendações de ordem geral (BRASIL, 1992).

A consolidação do Estado social iniciada na década de quarenta consubstanciavam-se em uma série de valores. O sentimento de solidariedade derivados da segunda guerra aliados ao temor de novas convulsões fez com que o Estado estabelecesse uma gama de sanções políticas “motivadas por razões de índole econômica e social, pois não é em vão que se considerou que os objetivos do bem estar possuíam funções econômicas e políticas como entendeu-se que era um elemento essencial para a manutenção da paz” (LARA, 1991, p. 340).

As políticas sociais, amplamente desenvolvidas nos trinta anos posteriores a segunda guerra, passaram em decorrência da crise de 1973 a sofrer objeções. As concepções de Estado social em que havia uma interdependência entre desenvolvimento econômico e políticas sociais passaram a ser rejeitadas em alguns países. Segundo estes, os investimentos em políticas sociais constituem um obstáculo para o crescimento econômico, contudo segundo Lara na comparação internacional

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se observa que países que realizam importantes investimentos sociais têm obtido resultados econômicos iguais ou superiores a países que possuem um Estado social menos desenvolvido (1991 p. 341).

Defensores de uma política estatal de ingerência mínima, a teoria Neoliberalista surgiu na década de setenta como oposição ao Estado social. Como não se trata do objetivo do presente estudo a análise mais detalhada desta forma de Estado, optamos apenas por mencioná-la.

Da análise do até então explorado, observamos que há uma íntima ligação entre os direitos econômicos e sociais e os direitos dos trabalhadores. Este é o tema do próximo capítulo.

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3 OS DIREITOS SOCIAIS E OS DIREITOS DOS TRABALHADORES

Resgatada a trajetória histórica dos direitos sociais é importante agora contextualizar como no interior deste processo foram sendo configurados os direitos dos trabalhadores. Neste sentido, merece destaque que a preocupação em regular as relações de trabalho é bastante antiga e coincide, em boa medida, com a trajetória dos direitos sociais.

Desde o mundo antigo até hoje, o direito do trabalho passou por grandes mudanças. Nos primórdios da humanidade o trabalho era realizado por escravos, os quais, tratados como objetos, não possuíam qualquer direito, tampouco, os direitos trabalhistas. Na era feudal, predominava o regime da servidão, em que o senhor feudal concedia a seu servo um pedaço de terra para a cultivasse em troca de proteção militar e política, sendo que este em contrapartida deveria entregar parte do que produzia.

Com o advento do Estado moderno, as relações trabalhistas passaram aos poucos a serem regulamentadas. As primeiras legislações a abordarem os direitos trabalhistas preocuparam-se em limitar a jornada de trabalho, visto que esta em alguns casos chegava a dezesseis horas no verão.

A Revolução Industrial estabeleceu um marco nas relações trabalhistas, a qual segundo Martins acabou transformando trabalho em emprego. Os trabalhadores, de maneira geral, passaram a trabalhar por salários, passando o direito do trabalho e o contrato de trabalho a desenvolver-se a partir de então (2010, p. 05).

No ano de 1919 com o intuito de selar a paz entre os países que compunham a Primeira Guerra Mundial foi assinado na França o Tratado de Versalhes, no qual importantes referências a proteção ao trabalho foram expressas, dentre as quais a criação da Organização Internacional do Trabalho, órgão criado com a finalidade de estabelecer diretrizes à tutela trabalhista no âmbito internacional.

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Ainda nos anos em que ocorreram a Primeira Guerra Mundial surgiram as primeiras Constituições a abordarem os direitos trabalhistas. A Carta que de forma pioneira instituiu em seu texto a proteção as relações de trabalho foi a Mexicana no ano de 1917, seguida pela Constituição de Weimar no ano de 1919 e finalmente estendendo-se a um grande número de países nos anos seguintes.

3.1 Principais Direitos dos Trabalhadores

Como antes referido, os direitos dos trabalhadores suplantaram diversos obstáculos até chegar ao que conhecemos hoje. As evoluções transpassadas tratam-se de grandes vitórias ao longo dos séculos e que pouco a pouco foram configurando um rol tutelas que garantem ao trabalhador uma condição de vida um pouco mais digna. Ao longo do presente tópico se abordará aqueles que consideram-se os principais direitos trabalhistas na atualidade.

Uma das reivindicações mais antigas por parte dos trabalhadores é a regulamentação do período diário de trabalho. Considera-se jornada de trabalho o período “em que o empregado tem de se colocar em disponibilidade perante seu empregador, em decorrência do contrato” (DELGADO, 2011, p. 810). O cálculo da jornada de trabalho é realizado segundo alguns critérios gerais, como o tempo efetivamente trabalhado, o tempo em que o empregado fica à disposição do empregador e o tempo despendido pelo empregado no deslocamento de sua residência até o local de emprego, bem como o tempo de retorno.

O primeiro critério, o tempo efetivamente trabalhado, considera apenas o período em que o empregado esteve exercendo suas atividades para o seu empregador, ou seja, não se considera para o cálculo da jornada de trabalho os períodos em que o empregado esteve em qualquer tipo de intervalo entre jornada ou por algum motivo não foi possível o exercício do seu trabalho, bem como se desconsidera o período em que o trabalhador esteve simplesmente a disposição. Tal critério tende a ser rechaçado pelos ordenamentos trabalhistas e não diferente o faz a lei trabalhista nacional, a qual segundo o artigo quarto da Consolidação das Leis do Trabalho

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“considera-se como de serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens...” (BRASIL, 1946).

Já o segundo critério, o tempo em que o empregado fica à disposição do empregador, engloba o período “independentemente de ocorrer ou não efetiva prestação de serviços” (DELGADO, 2011, p. 812). Como se vê da leitura feita do artigo quarto da Consolidação das Leis do Trabalho, trata-se do posicionamento adotado pelo sistema trabalhista nacional.

No que concerne ao tempo despendido pelo empregado no trajeto até o seu local de emprego, bem como no seu retorno, “a doutrina e a jurisprudência trabalhistas têm entendido, com firmeza e de modo pacífico, que tal critério não se encontra acobertado pela regra do artigo 4º da CLT” (DELGADO, 2011, p. 813). O fato de a legislação acidentaria do trabalho ter equiparado ao acidente trabalho o acidente sofrido no trajeto, tal posicionamento não tem o condão de ampliar a jornada do empregado.

A fundamentação para que se estabelecesse uma regulamentação estipulando uma jornada de seis horas diárias para turnos ininterruptos e de oito horas diárias para os demais trabalhador encontra amparo segundo Martins

em pelo menos quatro critérios: biológicos, que dizem respeito aos efeitos psicofisiológicos causado ao empregado, decorrente da fadiga. Após oito horas de trabalho há diminuição do rendimento do trabalhador; sociais, o empregado deve poder conviver e relacionar-se com outras pessoas, de dedicar-se a família, de dispor de horas de lazer; econômicos, referem-se a produção da empresa, em que o empresário aumenta a jornada de trabalho, pagando horas extras, justamente para aumentar a produção, daí a necessidade da fiscalização do Estado, de sua tutela, para limitar a jornada de trabalho e para que não haja excessos. A limitação da jornada de trabalho pode diminuir o problema do desemprego; humanos, diminuir os acidentes de trabalho. É sabido que, no período em que o trabalhador presta serviços cansado ou quando faz horas extras ocorre maior índice de acidentes de trabalho (2010, p. 509-510).

Ao trabalhador garante-se também direitos relativos ao seu descanso. Prescreve o ordenamento jurídico nacional que ao trabalhador será proporcionado um período de repouso semanal remunerado, bem como ao final de cada ano de trabalho o direito a férias.

Referências

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