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O período após a segunda guerra mundial foi marcado pela ampliação e consequente consolidação do Estado social. Contudo a forma com que essa consolidação se deu não é unanime entre os que a abordam. Para alguns autores o que se deu após os anos quarenta do século XX não foi uma alteração na ordem

qualitativa, mas apenas uma alteração de índole quantitativa, nesse sentido assevera Marsh que as reformas pós guerra se tratavam de uma modificação e não de uma inovação, já para Laubier é no período pós guerra que a política social se desenvolve em sua especificidade (apud LARA, 1991, p. 204).

Nos anos que se seguiram as políticas estatais voltaram-se a estabelecer um crescimento econômico possibilitando a consecução de um bem estar. Às políticas de seguridade social estabeleceram além de uma função econômica, também uma função política, uma vez que eram vistas como uma forma de assegurar a paz social, nesse sentido Jordana de Pozas refere que

a convicção de que a injustiça social, a falta de saúde e higiene de massas, o fenômeno do desemprego, da exploração e baixo padrão de vida dos trabalhadores, embora se deram no interior de determinado países, constituíam um grave perigo para a normalidade econômica internacional e a paz exterior (apud LARA, 1991, p. 206).

Foi nessa acepção que a Carta do Atlântico, primeiro documento a referir as aspirações econômicas e sociais da época prescreveu, segundo Dupeyroux a necessidade de estabelecer a mais completa colaboração entre todas as nações no campo econômico, a fim de assegurar, para todos, melhores condições de trabalho, progresso econômico e seguridade social (apud LARA, 1991, p. 206).

No ano de 1944, durante a vigésima sexta reunião da Conferencia Geral da Organização Internacional do Trabalho, esta prescreveu em suas recomendações a necessidade de se estender os seguros sociais a todos os trabalhadores, bem como de se garantir uma assistência social a aqueles cujos recursos sejam insuficientes e ainda, refere sobre a necessidade de se garantir a toda população, uma estrutura médica financiada através dos impostos (LARA, 1991).

A Assembleia Geral das Nações Unidas no ano de 1948 aprovou uma das mais importantes legislações sobre direitos. A Declaração Universal de Direitos Humanos que além de abordar “direitos e liberdades clássicas (direito de propriedade, liberdade de pensamento, de opinião e expressão...) prescreveu que os direitos econômicos e

sociais constituem um dos elementos característicos do Estado social” (LARA, 1991, p. 210).

Com o objetivo de proporcionar garantias jurídicas aos direitos prescritos na Declaração de 1948 foi aprovado no ano de 1966 o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais o qual prescreve já em seu preâmbulo que “o ideal do ser humano livre, liberto, do temor e da miséria, não pode ser realizado a menos que se criem condições que permitam a cada um gozar de seus direitos econômicos, sociais e culturais” (BRASIL, 1992).

Refere o presente pacto que os Estados Parte deverão adotar medidas, em especial as legislativas, que visem proporcionar meios para a asseguração dos direitos previstos, devendo ser emitidos e apresentados relatórios junto ao Conselho Econômico e Social contendo fatores que dificultem o pleno cumprimento das obrigações previstas. Em contrapartida este conselho irá emitir relatórios, podendo incluir recomendações referentes ao cumprimento das disposições do presente pacto, podendo ainda, se entender necessário, encaminhar a Comissão de Direitos Humanos para fins de estudo e de recomendações de ordem geral (BRASIL, 1992).

A consolidação do Estado social iniciada na década de quarenta consubstanciavam-se em uma série de valores. O sentimento de solidariedade derivados da segunda guerra aliados ao temor de novas convulsões fez com que o Estado estabelecesse uma gama de sanções políticas “motivadas por razões de índole econômica e social, pois não é em vão que se considerou que os objetivos do bem estar possuíam funções econômicas e políticas como entendeu-se que era um elemento essencial para a manutenção da paz” (LARA, 1991, p. 340).

As políticas sociais, amplamente desenvolvidas nos trinta anos posteriores a segunda guerra, passaram em decorrência da crise de 1973 a sofrer objeções. As concepções de Estado social em que havia uma interdependência entre desenvolvimento econômico e políticas sociais passaram a ser rejeitadas em alguns países. Segundo estes, os investimentos em políticas sociais constituem um obstáculo para o crescimento econômico, contudo segundo Lara na comparação internacional

se observa que países que realizam importantes investimentos sociais têm obtido resultados econômicos iguais ou superiores a países que possuem um Estado social menos desenvolvido (1991 p. 341).

Defensores de uma política estatal de ingerência mínima, a teoria Neoliberalista surgiu na década de setenta como oposição ao Estado social. Como não se trata do objetivo do presente estudo a análise mais detalhada desta forma de Estado, optamos apenas por mencioná-la.

Da análise do até então explorado, observamos que há uma íntima ligação entre os direitos econômicos e sociais e os direitos dos trabalhadores. Este é o tema do próximo capítulo.

3 OS DIREITOS SOCIAIS E OS DIREITOS DOS TRABALHADORES

Resgatada a trajetória histórica dos direitos sociais é importante agora contextualizar como no interior deste processo foram sendo configurados os direitos dos trabalhadores. Neste sentido, merece destaque que a preocupação em regular as relações de trabalho é bastante antiga e coincide, em boa medida, com a trajetória dos direitos sociais.

Desde o mundo antigo até hoje, o direito do trabalho passou por grandes mudanças. Nos primórdios da humanidade o trabalho era realizado por escravos, os quais, tratados como objetos, não possuíam qualquer direito, tampouco, os direitos trabalhistas. Na era feudal, predominava o regime da servidão, em que o senhor feudal concedia a seu servo um pedaço de terra para a cultivasse em troca de proteção militar e política, sendo que este em contrapartida deveria entregar parte do que produzia.

Com o advento do Estado moderno, as relações trabalhistas passaram aos poucos a serem regulamentadas. As primeiras legislações a abordarem os direitos trabalhistas preocuparam-se em limitar a jornada de trabalho, visto que esta em alguns casos chegava a dezesseis horas no verão.

A Revolução Industrial estabeleceu um marco nas relações trabalhistas, a qual segundo Martins acabou transformando trabalho em emprego. Os trabalhadores, de maneira geral, passaram a trabalhar por salários, passando o direito do trabalho e o contrato de trabalho a desenvolver-se a partir de então (2010, p. 05).

No ano de 1919 com o intuito de selar a paz entre os países que compunham a Primeira Guerra Mundial foi assinado na França o Tratado de Versalhes, no qual importantes referências a proteção ao trabalho foram expressas, dentre as quais a criação da Organização Internacional do Trabalho, órgão criado com a finalidade de estabelecer diretrizes à tutela trabalhista no âmbito internacional.

Ainda nos anos em que ocorreram a Primeira Guerra Mundial surgiram as primeiras Constituições a abordarem os direitos trabalhistas. A Carta que de forma pioneira instituiu em seu texto a proteção as relações de trabalho foi a Mexicana no ano de 1917, seguida pela Constituição de Weimar no ano de 1919 e finalmente estendendo-se a um grande número de países nos anos seguintes.

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