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O cenário trabalhista nacional passou por grandes mudanças ao longo dos anos. Não diferente dos demais países este enfrentou vários períodos de altos e baixos. Atrelado ao panorama econômico o mercado de trabalho oscilou entre etapas de estabilidade e de quedas em suas perspectivas.

Contudo, são nos primeiros anos do século XXI que se percebe a ocorrência de mudanças significativas em busca da estabilização dos postos de trabalho. A adoção de uma “política fiscal conservadora mantendo o tripé juros altos, superávit primário e metas de inflação, aliada a manutenção das reformas microeconômicas prevista no acordo do o FMI” (PEDROSO, 2013, p. 140), bem como “a busca por um estreitamento em suas relações internacionais fez com que, conforme Dedecca, entre 2003 e 2009, as exportações triplicaram, sendo que, pela primeira vez, o crescimento econômico foi acompanhado de saldos comerciais externos positivos” (apud PEDROSO, 2013, p. 141).

O crescimento econômico propiciou ao governo brasileiro a possibilidade de investimento em políticas sociais destinadas à promoção da igualdade. Segundo Pedroso, no que diz respeito ao mercado de trabalho, este crescimento econômico foi acompanhado pela tendência a formalização do trabalho (2013, p. 142). Conforme a autora, segundo dados do DIEESE

é possível dividir a maior parte da primeira década do século XXI, do ponto de vista da relação entre crescimento e emprego, em dois momentos: o primeiro, entre 2001 e 2003, em que o aumento médio do PIB foi de 1,7% e o crescimento total do emprego formal foi de

12,6%, o que significa um expansão média de 4,2%; o segundo, entre 2004 e 2008, período em que o PIB cresceu um média de 4,7%, o emprego formal aumento 33,5% e o crescimento médio anual do emprego formal foi de 5,9% (apud PEDROSO, 2013, p.142).

Ainda segundo dados do DIEESE a taxa de desemprego no ano de 2014 continuou diminuindo. Em comparação entre três regiões do país, Porto Alegre, São Paulo e Fortaleza o crescimento do nível de ocupação oscilou entre 0,4% (São Paulo) e 3,1% (Fortaleza), tendo Porto Alegre atingido um patamar de 0,5% mantendo a tendência de declínio iniciada em 2004.

Não obstante a estabilização da taxa de desemprego, no final do ano de 2014 um conjunto de medidas buscando conter os gastos e retomar o crescimento econômico foram tomadas pelo governo. Tais medidas tiveram influência direta nas relações trabalhistas. Entre essas providências encontram-se as medidas provisórias 664 e 665 que estabelecem novos critérios para a obtenção do seguro desemprego e acesso a benefícios previdenciários.

Muito embora ainda não tenha sido sancionado pela presidente da república, o Senado Federal aprovou no dia 06 de maio deste ano o projeto de lei que regulamenta os direitos garantidos pela proposta de emenda à Constituição número 66, aprovada em março de 2013. Conhecida como a PEC das domésticas, esta assegurou aos trabalhadores domésticos os mesmos direitos garantidos a todos os trabalhadores com carteira assinada.

Outra importante mudança trabalhista que é discutida pelo governo nacional é o projeto de lei 4330 que dispõe sobre os contratos de terceirização e as relações de trabalho deles decorrentes. Este projeto tem causado muitas polêmicas no cenário brasileiro, discute-se muito em torno das consequências decorrentes de sua aprovação. Defendido por aqueles que entendem que este projeto trará benefícios a trabalhadores prestadores de serviços, é em contrapartida rechaçado por grande número dos sindicatos e trabalhadores por entenderem que se aprovado, causará uma precarização do mercado de trabalho.

Com o intuito apenas exemplificativo, estas são apenas algumas das mudanças estabelecidas no cenário trabalhista nos últimos anos. Da mesma forma que ocorreram em diversas mutações legislativas, algumas estabelecem novos direitos aos trabalhadores, há aquelas que restringem o acesso e ainda as que só saberemos as suas consequências após a sua entrada em vigor.

CONCLUSÃO

O Estado ao longo dos anos passou por diversas transformações. Da sua concepção absolutista, fundada no poder supremo do monarca, passou ao Estado liberal (idealizador dos princípios de liberdade). Em seguida, se transformou em Estado social.

Estas formas de Estado, cada qual com suas peculiaridades, propiciaram o surgimento de uma gama significativa de direitos. Estes direitos são classificados em três gerações. A primeira é denominada de direitos civis ou liberdades clássicas; a segunda geração de direitos políticos; e a terceira geração de direitos econômicos e sociais.

Os direitos econômicos e sociais tiveram sua primeira manifestação ainda no período liberal do Estado moderno. As constantes reivindicações da sociedade por melhores condições de vida fizeram com que o Estado começasse a estabelecer políticas de proteção social. Neste contexto, os movimentos dos trabalhadores teve um papel importante.

De fato, os trabalhadores sempre foram muito atuantes e sempre buscaram construir formas de proteção em suas atividades e assim melhorar sua condição de respeito e dignidade. Com o passar dos anos, as legislações trabalhistas foram cada vez mais se consolidando e estabelecendo sistemas de proteção ao trabalhador. A criação da Organização Internacional do Trabalho, quando da assinatura do Tratado de Versalhes, estabeleceu um grande passo na busca pela tutela dos direitos trabalhistas.

A busca pela tutela dos direitos dos trabalhadores esteve presente nos mais diversos países e esteve estritamente vinculada a luta mais ampla de efetivação dos direitos econômicos e sociais. É desta luta que emerge uma nova fase do Estado moderno: O Estado social. Esta nova fase do Estado se alicerça na busca pela igualdade material entre os grupos sociais e, em especial, na proteção dos grupos mais carentes da sociedade. A sua principal contribuição foi a construção de uma

rede protetiva para todos os segmentos sociais mais carentes e uma forte proteção dos trabalhadores.

Esta contribuição começa a ser discutida no final do século XX e entra em choque com o novo modelo de produção emergente no mundo: o modelo toyotista. Daí, portanto, a importância de se discutir a sua implantação nos diversos países do mundo, com destaque para países como o Brasil, de modernidade tardia (que, tradicionalmente, tem mais dificuldades em tornar efetivos os direitos dos trabalhadores) e que passaram, nas últimas décadas por transformações democráticas.

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