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Ao analisar-se as mudanças estabelecidas nos padrões trabalhistas ao longo do século XX se faz necessário o exame dos dois principais métodos de produção: o fordismo e o toyotismo.

No início do século XX a forma de produção automotiva consistia em um trabalho basicamente artesanal. Segundo Thomas Gounet nele, eram operários extremamente especializados, grandes mecânicos, que fabricavam artesanalmente os veículos de A a Z. (1999, p. 18). Este processo demandava um longo decurso de tempo bem como encarecia em muito a produção.

Com o intuito se estabelecer uma readequação a esta realidade, criando uma produção em massa e desta forma barateando o custo e consequentemente expandindo o mercado consumidor é que em 1913 surge o modelo fordista. Segundo Márcia Naiar Cerdotte Pedroso

a origem do modelo fordista está ligada aos novos métodos de organização da produção e do trabalho implantados na fábrica de automóveis Ford. No começo do século XX, o industrial norte- americano Henri Ford (1863 – 1947), introduziu mudanças básicas na organização do trabalho. O empresário lançou as bases de um sistema em que os trabalhadores, que até então eram vistos apenas como mão de obra a ser utilizada no limite de suas capacidades, poderiam também ser considerados consumidores. Em meio a um época de significativa expansão econômica em nível mundial, onde novas potências industriais surgiam na disputa por mercados, como Japão e Alemanha, e a existência de impérios coloniais impediam o livre comércio, Ford idealizou uma forma de transformar os Estados Unidos no seu maior e melhor consumidor (2013, p. 16).

O ideal fordista consistia em estabelecer na indústria de automóveis uma produção de massa propiciando um fortalecimento no mercado local para que posteriormente se expandisse para o exterior. A proposta adotada por Ford consistia em implantar o modelo de produção concebido por Frederick Taylor, o qual tinha como método simplificar a forma de produção, eliminando tarefas desnecessárias e desta forma barateando o custo de produção. Neste sentido estabelece Lipietz que o tayorismo,

denominado organização científica do trabalho na época de seu aparecimento, no início do século XX, é um movimento de racionalização do trabalho baseado na separação cada vez mais nítida entre os responsáveis pela concepção e organização da produção (engenheiros e técnicos) e, de outro lado, seus executores, os operários (apud Gounet, 1991, p.59).

Neste viés, o trabalho dentro das fábricas era realizado com a utilização de uma esteira em que o trabalhador posicionado junto a sua extensão realizava “um número de gestos limitados, sempre os mesmos, repetidos ao infinito durante sua jornada de trabalho. O parcelamento significa que o trabalhador não precisa mais ser um artesão especialista em mecânica. Acontece a desqualificação dos operários” (GOUNET, 1991, p. 19).

O modelo fordista expandiu-se ao longo da década de trinta, vindo a consolidar- se no período após a segunda guerra mundial. Seu estabelecimento contou com o auxílio de políticas estatais destinadas promover o reestabelecimento econômico no período pós-guerra. Neste sentido, segundo Resende,

durante as décadas de 30 e 60 que o Estado veio a desempenhar um papel promocional, envolvendo-se na sociedade na medida em que garantia prestações necessárias ao desenvolvimento de uma igualdade não meramente liberal e formal, mas que propiciasse o livre curso dos direitos sociais, econômicos e culturais e que caminhasse rumo, cada vez mais, uma igualdade substancial, material.

O Direito do Trabalho, assim foi produto do capitalismo, temperado pelo Estado Social. De igual forma, o sindicato, à época, funcionava como contraparte da fábrica fordista/taylorista, pois originário da concentração de trabalhadores sob mesma subordinação jurídica. Naquele específico momento, podia-se dizer que Estado, sindicato e trabalhador estavam unidos e que dessa união resultavam limites ao poder exclusivo do mercado de ditar regras de como se deveria portar o mundo do trabalho (apud PEDROSO, 2013, p. 24).

A partir da década de 60 o modelo fordista passou a apresentar seus primeiros sinais de desgaste. Juntamente com a insatisfação de determinadas camadas sociais referente as políticas estatais destinadas a promoção social, impulsionaram gradualmente a superação do ideal fordista bem como o enfraquecimento do Estado Social.

Ganha espaço então modelo toyotista, surgido após a segunda guerra mundial frente a necessidade de uma forma distinta de produção que se adaptasse a realidade japonesa, uma vez que em decorrência da derrota, o país enfrentava certas limitações no período pós-guerra. Segundo Gounet seu mercado demasiadamente restrito, a impossibilidade do consumo de massa que aliados a falta de espaço impossibilitaram a instalação do sistema fordista ao Japão (1999, p. 23 – 24). No mesmo sentido Coriat atribui a expansão toyotista a necessidade de atender a um mercado interno que solicita produtos diferenciados e pedidos pequenos, dadas as condições limitadas do pós-guerra no Japão (apud ANTUNES, 1999, p. 24).

Diferente do princípio fordista em que se tinha como meta a produção em massa, o modelo toyotista primava pela produção de “muitos modelos, cada um em pequena quantidade, e é a demanda que deve fixar o número de veículos de cada modelo” (GOUNET, 1999, p. 26).

No entender de Coriat, há quatro fases distintas que levaram ao advento do toyotismo.

Primeira: a introdução, na indústria automobilística japonesa, da

experiência têxtil, dada especialmente pela necessidade de o trabalhador operar simultaneamente com várias máquinas. Segunda: a necessidade de a empresa responder à crise financeira, aumentando a produção sem aumentar o número de trabalhadores.

Terceira: a importação das técnicas de gestão dos supermercados dos

EUA, que deram origem ao kaban. Segundo os termos atribuídos a Toyoda, presidente fundador da Toyota, “o ideal seria produzir somente o necessário e fazê-lo no melhor tempo”, baseando-se no modelo dos supermercados, de reposição dos produtos somente depois da sua venda Quarta fase: a expansão do método kaban para as empresas subcontratadas e fornecedoras (apud ANTUNES, 1999, p. 24, grifo do autor).

Para que fosse possível a implantação do sistema toyotista, modificou-se também a dinâmica de trabalho realizada pelo trabalhador, o modelo fordista que primava pelo princípio um trabalhador uma máquina, deu lugar a um trabalhador considerado polivalente, “as operações essenciais do operário passam a ser, por um lado, deixar as máquinas funcionarem e, por outro, preparar elementos necessários a esse funcionamento de maneira a reduzir ao máximo o tempo de não produção” (GOUNET, 1999, p. 27), desta forma cabe ao trabalhador operar simultaneamente em torno de cinco máquinas.

Da mesma forma, a estruturação na forma de trabalho se modifica. Enquanto que no modelo fordista o trabalho era divido entre os trabalhadores, cada qual executando sua tarefa singularmente, no modelo toyotista o trabalho realiza-se por equipes, primando conforme Antunes por uma multivariedade de funções (apud PEDROSO, 2013, p. 35).

Com a instituição dos trabalhos em grupo, o modelo toyotista inseria uma nova forma de organização hierárquica em suas fábricas, segundo Ben Watanbe, no sistema Toyota, os engenheiros chão de fábrica deixam de ter um papel estratégico e a produção é controlada por grupos de trabalhadores (apud ANTUNES, 1999, p.29), horizontalizando assim a estruturação das decisões dentro da empresa.

Esta flexibilização do trabalhador permite que a empresa trabalhe com um número menor de operários, tirando melhor proveito de suas capacidades. Contudo o que se vê é a intensificação da exploração do trabalho, uma vez que nos casos de aumento da demanda o trabalhador é submetido a jornadas extras. Segundo Gounet a política básica é usar o mínimo de operários e o máximo de horas extras (GOUNET, 1999, p. 30).

O principal obstáculo enfrentado pelas empresas japonesas para implantação deste sistema enxuto consistiu na oposição realizada pelos sindicatos. Segundo Ricardo Antunes em 1950,

houve um expressivo movimento grevista contra um processo de demissões em massa na Toyota (entre 1600 a 2 mil trabalhadores). A longa greve dos metalúrgicos foi derrotada pela Toyota. Foi, nessa nova contextualidade, a primeira derrota do sindicalismo combativo no Japão.

Nos anos seguintes, novas manifestações se seguiram em protesto contra a racionalização dos postos de trabalho e em busca de reajustes salariais e novamente o sindicato fora vencido. No ano de 1953 como forma de desmoralizar a mobilização “o presidente da Nissan promove um locaute na fábrica e espera que a greve se esgote” (GOUNET, 1999, p. 31).

Aproveitando a desestruturação dos movimentos sindicais, a empresa Toyota cria um sindicado próprio atrelado a sua filosofia como forma de regular os movimentos combativos. Não havendo outra alternativa, os trabalhadores cedem e passam a integrar esta nova organização sindical. No entender de Antunes essa foi a condição essencial para o sucesso capitalista da empresa japonesa (1999, p. 25). Logo a ideia se expande atingindo as demais empresas do país.

A crise do petróleo no ano de 1973 e a resseção econômica ocorrida entre 1973 e 1975 caracterizaram-se como um divisor de águas no senário mundial colocando em evidencia novamente concepções de uma economia liberal. O Neoliberalismo surge no cenário mundial juntamente com o modelo de produção toyotista, o qual expandia-se a partir do Japão, manifestando-se como opção aos sistemas vigentes.

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