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Como antes referido, os direitos dos trabalhadores suplantaram diversos obstáculos até chegar ao que conhecemos hoje. As evoluções transpassadas tratam- se de grandes vitórias ao longo dos séculos e que pouco a pouco foram configurando um rol tutelas que garantem ao trabalhador uma condição de vida um pouco mais digna. Ao longo do presente tópico se abordará aqueles que consideram-se os principais direitos trabalhistas na atualidade.

Uma das reivindicações mais antigas por parte dos trabalhadores é a regulamentação do período diário de trabalho. Considera-se jornada de trabalho o período “em que o empregado tem de se colocar em disponibilidade perante seu empregador, em decorrência do contrato” (DELGADO, 2011, p. 810). O cálculo da jornada de trabalho é realizado segundo alguns critérios gerais, como o tempo efetivamente trabalhado, o tempo em que o empregado fica à disposição do empregador e o tempo despendido pelo empregado no deslocamento de sua residência até o local de emprego, bem como o tempo de retorno.

O primeiro critério, o tempo efetivamente trabalhado, considera apenas o período em que o empregado esteve exercendo suas atividades para o seu empregador, ou seja, não se considera para o cálculo da jornada de trabalho os períodos em que o empregado esteve em qualquer tipo de intervalo entre jornada ou por algum motivo não foi possível o exercício do seu trabalho, bem como se desconsidera o período em que o trabalhador esteve simplesmente a disposição. Tal critério tende a ser rechaçado pelos ordenamentos trabalhistas e não diferente o faz a lei trabalhista nacional, a qual segundo o artigo quarto da Consolidação das Leis do Trabalho

“considera-se como de serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens...” (BRASIL, 1946).

Já o segundo critério, o tempo em que o empregado fica à disposição do empregador, engloba o período “independentemente de ocorrer ou não efetiva prestação de serviços” (DELGADO, 2011, p. 812). Como se vê da leitura feita do artigo quarto da Consolidação das Leis do Trabalho, trata-se do posicionamento adotado pelo sistema trabalhista nacional.

No que concerne ao tempo despendido pelo empregado no trajeto até o seu local de emprego, bem como no seu retorno, “a doutrina e a jurisprudência trabalhistas têm entendido, com firmeza e de modo pacífico, que tal critério não se encontra acobertado pela regra do artigo 4º da CLT” (DELGADO, 2011, p. 813). O fato de a legislação acidentaria do trabalho ter equiparado ao acidente trabalho o acidente sofrido no trajeto, tal posicionamento não tem o condão de ampliar a jornada do empregado.

A fundamentação para que se estabelecesse uma regulamentação estipulando uma jornada de seis horas diárias para turnos ininterruptos e de oito horas diárias para os demais trabalhador encontra amparo segundo Martins

em pelo menos quatro critérios: biológicos, que dizem respeito aos efeitos psicofisiológicos causado ao empregado, decorrente da fadiga. Após oito horas de trabalho há diminuição do rendimento do trabalhador; sociais, o empregado deve poder conviver e relacionar-se com outras pessoas, de dedicar-se a família, de dispor de horas de lazer; econômicos, referem-se a produção da empresa, em que o empresário aumenta a jornada de trabalho, pagando horas extras, justamente para aumentar a produção, daí a necessidade da fiscalização do Estado, de sua tutela, para limitar a jornada de trabalho e para que não haja excessos. A limitação da jornada de trabalho pode diminuir o problema do desemprego; humanos, diminuir os acidentes de trabalho. É sabido que, no período em que o trabalhador presta serviços cansado ou quando faz horas extras ocorre maior índice de acidentes de trabalho (2010, p. 509-510).

Ao trabalhador garante-se também direitos relativos ao seu descanso. Prescreve o ordenamento jurídico nacional que ao trabalhador será proporcionado um período de repouso semanal remunerado, bem como ao final de cada ano de trabalho o direito a férias.

Trata-se o repouso semanal remunerado do direito de o trabalhador afastar-se de suas atividades sem que deixe de perceber sua remuneração habitual. O objetivo deste direito é proporcionar ao trabalhador um período de repouso para que possa reestabelecer suas energias através de seu descanso, convívio com a família e atividades de lazer. A legislação pátria estabelece que este descanso deve se dar de preferência aos domingos e por um período não inferior a vinte e quatro horas consecutivas.

O direito a férias consiste na prerrogativa concedida ao empregado de após transcurso de doze meses, período aquisitivo, gozar de trinta dias de descanso sem prejuízo de sua remuneração, acrescidas ainda de um terço para que o empregado efetivamente possa dispor desse período. As férias, segundo Martins visam a restauração do organismo após um período em que foram despendidas energias no trabalho. Importam direito ao lazer, ao descanso, ao ócio (2010, p. 577).

Trata-se as férias de direito irrenunciável, não podendo portanto o empregado dispor delas. Contudo, se for do interesse do empregado, poderá este converter um terço de suas férias em abono pecuniário no montante referente a remuneração que lhe seria devida nos dias correspondentes.

Constitui importante tutela também aos direitos dos trabalhadores a garantia derivada do princípio da isonomia. Ao estabelecer que “todos são iguais perante a lei”, assim como ao prescrever que “constituem objetivos de República Federativa do Brasil, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (PLANALTO), entre outros tantos, a Constituição Federal garantiu também aos trabalhadores a sua inclusão independente de qualquer característica.

De forma específica, estabeleceu a legislação pátria a proibição a distinção entre trabalhadores urbanos e rurais visando garantir os mesmos direitos aqueles que trabalham no campo e na cidade. De maneira especial também se garantiu, afim de se evitar as distinções e abusos que ocorriam no passado, a proteção ao trabalho da mulher, desta forma se estabeleceu legalmente a equiparação tanto salarial como nos

demais direitos relativos ao trabalho. A mulher se prescreveu ainda o direito de haver para si, o exercício de atividades compatíveis com sua capacidade física bem como a adequação dos ambientes de trabalho a suas necessidades.

No ano de 1966 foi criado o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, inicialmente visava “assegurar aos empregados uma garantia pelo tempo de serviço prestado às empresas, mediante opção do empregado. O referido sistema era compatível com a estabilidade decenal” (MARTINS, 2010, p. 463) e desta forma o empregado no momento da contratação fazia a opção pelo direito a estabilidade ou ao FGTS. Com o advento da Constituição Federal o FGTS passou a ser um direito do trabalhador, deixando de existir a norma que exigia a opção. Trata-se portanto o Fundo de Garantia de Tempo de Serviço de

recolhimentos pecuniários mensais, em conta bancária vinculada em nome do trabalhador, conforme parâmetro de cálculo estipulado legalmente, podendo ser sacado pelo obreiro em situações tipificadas pela ordem jurídica, sem prejuízo de acréscimo percentual condicionado ao tipo de rescisão de seu contrato laborativo, formando, porém, o conjunto global e indiferenciado de depósitos um fundo social de destinação legalmente especificada (DELGADO, 2011, p. 1206).

Constitui importante ferramenta trabalhista, tanto do ponto de vista do empregado como do empregador, o chamado aviso prévio. Trata-se de “comunicação que uma parte do contrato de trabalho deve fazer a outra de que pretende rescindir o referido pacto sem justa causa, de acordo com o prazo previsto em lei, sob pena de pagar indenização substitutiva” (MARTINS, 2010, p. 405). Constitui o aviso prévio, como bem assevera Martins, o período mínimo que a lei determina para que seja avisada a parte contrária de que vai ser rescindido o contrato de trabalho, de modo que o empregador possa conseguir novo empregado para a função ou o empregado possa procurar novo emprego (2010, p. 405), no mesmo sentido prescreve Delgado que trata-se de mecanismo atenuador do impacto da resilição, conferindo ao contratante surpreendido certo prazo para se ajustar ao término do vínculo (2011, p. 1119).

Com o intuito de “prover assistência financeira temporária ao trabalhador desempregado em virtude de dispensa sem justa causa” bem como o de “auxiliar os trabalhadores na busca ou preservação do emprego” (PLANALTO) que a legislação brasileira atendendo ao disposto na Constituição Federal, regulamentou o seguro desemprego. Desta forma, após transcorrido certo decurso de prazo, período aquisitivo, nos casos previstos em lei, fará o trabalhador jus a um seguro, pelo prazo estabelecido conforme o período trabalhado.

O estabelecimento de condições de trabalho foi uma das grandes conquistas angariadas pelos trabalhadores. Depois de por muitos séculos terem exercido suas atividades sob condições de grande precariedade, estabeleceu-se já no transcurso do século XX a partir de várias convenções expedidas pela Organização Internacional do Trabalho, recomendações visando a preservação da saúde do trabalhador. Desta forma a “segurança e medicina do trabalho são o segmento do Direito do Trabalho incumbido de oferecer condições de proteção à saúde do trabalhador no local de trabalho, e de sua recuperação quando não estiver em condições de prestar serviços ao empregador” (MARTINS, 2010, p. 651). O ordenamento jurídico brasileiro traz um conjunto de normas visando a preservação da integridade do trabalhador os quais integram tanto a Consolidação das Leis Trabalhistas e a Constituição Federal, como Portarias expedidas pelos órgãos competentes.

Dentre os direitos trabalhistas, elenca-se entre os mais importantes, sem dúvida, a garantia de um salário mínimo suficiente para suprir as necessidades básicas do trabalhador e de sua família. A tutela salarial garantida ao trabalhador brasileiro vem esculpida pela legislação pátria sob três aspectos principais. Neste sentido refere Delgado que

a proteção que a ordem justrabalhista brasileira defere ao valor do salário manifesta-se, essencialmente, através de três ideias e mecanismos combinados: a noção de irredutibilidade do valor salarial; os mecanismos de correção salarial automática; a determinação de existência de um patamar mínimo de valor salarial no conjunto do mercado, além de certas categorias determinadas (2011, p. 726, grifo do autor).

Abordados os principais direitos dos trabalhadores, em caráter individual, a seguir será relacionado os principais direitos trabalhistas coletivos como a liberdade de associação sindical e o direito de greve.

Constitui a liberdade sindical de um direito conferido a trabalhadores e empregadores de poderem livremente organizarem-se em forma de um sindicato, sem qualquer ingerência estatal “visando a promoção de seus interesses ou dos grupos que irão representar” (MARTINS, 2010, p. 709).

Trata-se a greve de uma paralisação nas atividades por parte dos trabalhadores com o intuito de pressionar o empregador a concessão de determinada exigência. Segundo a lei 7.783 de 1989 a greve é considerada, em nossa legislação, como a suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a empregador (apud MARTINS, 2010, p.857).

Integram os direitos trabalhistas uma grande gama de garantias buscando sempre estatuir normas que visem equilibrar as relações existentes em face do empregador. A sua mutação é nitidamente observada nos mais diversos campos e nos mais diversos países o que será objeto de análise no próximo tópico.

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