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Os tratados de proteção de investiemtnos e as restrições aos fluxos de capitais internacionais para o setor produtivo

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Academic year: 2017

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“Os Tratados de Proteção de Investimentos e as Restrições aos Fluxos de

Capitais Internacionais para o Setor Produtivo”.

Autor: José Andrade Brandão

BRASÍLIA

(2)

OS TRATADOS DE PROTEÇÃO DE INVESTIMENTOS E AS

RESTRIÇÕES AOS FLUXOS DE CAPITAIS

INTERNACIONAIS PARA O SETOR PRODUTIVO

Dissertação apresentada à Universidade Católica de Brasília como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Direito, no curso de Pós-Graduação stricto sensu.

Orientador: Prof. Dr. Roberto de Araújo Chacon de Albuquerque

BRASÍLIA

(3)

Ficha elaborada pela Biblioteca Central da UCB

17/12/09

B817t Brandão, José Andrade

Os tratados de proteção de investimentos e as restrições aos fluxos de capitais internacionais para o setor produtivo / José Andrade Brandão. – 2009.

174f. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2009. Orientação: Roberto de Araújo Chacon de Albuquerque

1. Investimentos- proteção. 2. Globalização. 3. Acordos internacionais- tratados- fluxo de capitais. I. Albuquerque, Roberto de Araújo Chacon de, orient. II.Título.

(4)

Dissertação defendida e aprovada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre no curso de Pós-Graduação stricto sensu em Direito, defendida e aprovada em

________________, pela banca examinadora constituída por:

___________________________________________________

Prof. Dr. Roberto de Araújo Chacon de Albuquerque

Orientador

___________________________________________________

Prof. Dr.

Examinador Interno

___________________________________________________

Prof. Dr.

Examinador Externo

(5)
(6)

“São válidas as normas de ação às quais todos os possíveis atingidos poderiam dar o seu assentimento, na qualidade de participantes de discursos racionais[...] E ‘discurso racional’ é toda tentativa de entendimento sobre pretensões de validade problemáticas, na medida em que ele se realiza sob condições da comunicação que permitem o movimento livre de temas e contribuições, informações e argumentos no interior de um espaço público constituído através de obrigações ilocucionárias. Indiretamente, a expressão refere-se também a negociações na medida em que estas são reguladas através de procedimentos fundamentados discursivamente”.

(7)

investimentos estrangeiros e do processo de globalização, os quais vêm transformando a economia mundial. Nesse contexto, o investimento estrangeiro direto - IED - vem crescendo de modo mais rápido do que a produção ou o comércio em escala mundial. Devido à multiplicação dos IED, os investimentos tornaram-se fator determinante no grau de desenvolvimento de muitos países. As negociações relativas à proteção de investimentos ainda estão em fase inicial. Não há consenso a respeito de um eventual documento comum sobre a matéria, apesar das negociações no âmbito das organizações internacionais e regionais. Importante salientar que, numa economia mundial em rápida expansão, tratados de proteção de investimentos, acordos e convenções podem constituir um importante instrumento de atração de investimentos e cooperação internacional.

(8)

The current work analyzes relevant aspects of the protection for foreign investments and the process of globalization that has been changing the world economy. In this context, direct foreign investment – DFI has been growing more rapidly, on a world scale, than production or commerce. Due to the rise of DFI, investments have become a determinative factor of the degree of development of many countries. Negotiations regarding the protection of investments are still in an initial phase. Furthermore, there is no consensus on a future common document regarding this topic, despite negotiations undertaken by international and regional organizations. It is important to highlight that in an increasingly growing world economy, investment protection treaties and conventions can constitute an important attraction tool for investments and international cooperation.

(9)

APPI – Acordo de Promoção e Proteção de Investimentos AMI – Acordo Multilateral de Investimentos

BIS – Banco de Compensações Internacionais (Bank for International Settlements) EMN - Empresa Multinacional

GATT – Acordo Geral de Tarifas e Comércio IED – Investimento Estrangeiro Direto

MIGA – Agência Multilateral de Proteção de Investimentos MERCOSUL – Mercado Comum do Sul

NAFTA – Acordo de Livre Comércio da América do Norte OMC – Organização Mundial do Comércio

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ONU – Organização das Nações Unidas

P&D – Pesquisa e desenvolvimento

TRIMS – Acordo de Medidas de Investimentos Relacionadas ao Comércio UE – União Européia

(10)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 3

1. O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO ... 7

1.1. A globalização ... 7

1.2. A globalização financeira ... 11

1.3. O imposto Tobin... 18

1.4. A globalização Produtiva ... 19

1.5. A interdependência econômica ... 29

1.6. Ativos disponíveis para investimentos ... 30

2. ASSIMETRIAS INTERNACIONAIS INERENTES À GLOBALIZAÇÃO FINANCEIRA ... 33

2.1 Assimetrias Políticas ... 33

2.2. Assimetrias econômicas ... 39

2.2.1. Sobre as disposições gerais de capitais estrangeiros ... 39

2.2.2. Sobre investimentos diretos estrangeiros. ... 41

2.2.3. Sobre investimentos em portfólios. ... 42

2.2.4. Créditos externos. ... 44

3. OS ORGANISMOS MULTILATERAIS E A PROTEÇÃO DO INVESTIMENTO 48 3.1. Banco Mundial ... 48

3.1.1. Agência Multilateral de Proteção de Investimentos (Miga) ... 49

3.2 Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) ... 53

3.3. Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)... 55

3.4. Acordo Multilateral de Investimentos (AMI) ... 62

3.4.1 Objetivos... 64

3.4.2. Histórico ... 64

3.4.3. Impactos do Acordo e críticas ... 65

3.4.4. A evolução das negociações do Acordo Multilateral de Investimentos ... 65

3.5. Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) ... 66

3.5.1. Organização Mundial do Comércio (OMC) ... 69

3.5.2. Acordo de Medidas de Investimento relacionadas ao Comércio (Trims) ... 73

4. OS ORGANISMOS REGIONAIS E A PROTEÇÃO DO INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO ... 75

4.1. União Européia ... 75

4.2. Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) ... 78

4.3. Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) ... 81

5. O BRASIL E A PROTEÇÃO DO INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO ... 86

(11)

5.2. Histórico ... 87

5.3. Proteção de Investimento direto estrangeiro através de tratados bilaterais ... 94

5.4. Acordos bilaterais e de proteção do investimento direto estrangeiro encaminhados ao Governo Brasileiro ao Congresso Nacional ... 96

5.5. Efeitos ... 103

5.6. Análise de Modelos ... 104

5.6.1. O Acordo de Promoção e Proteção Recíproca de Investimentos Brasil/Estados Unidos ... 104

5.6.2. O Acordo de Promoção e Proteção Recíproca de Investimentos Brasil/Alemanha ... 105

5.6.3. O Acordo de Promoção e Proteção Recíproca de Investimentos Brasil/França ... 109

5.6.4. O Acordo de Promoção e Proteção Recíproca de Investimentos Brasil/Reino Unido ... 111

5.6.5. Protocolo de Buenos Aires sobre Promoção e Proteção de Investimentos Provenientes de Estados não Membros do MERCOSUL ... 112

5.6.6. Protocolo de Colônia para a Promoção e a Proteção Recíproca de Investimentos Provenientes de Estados Membros do MERCOSUL ... 114

5.6.7. Relevância dos APPIs para a atração dos investimentos. ... 115

6. RESTRIÇÕES À IMPLEMENTAÇÃO PELO BRASIL DE ACORDOS DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO RECÍPROCA DE INVESTIMENTOS ... 117

6.1. Restrições políticas ... 117

6.2. Restrições administrativas ... 120

6.3. Restrições jurídicas ... 122

6.3.1. Restrições constitucionais: absolutas e relativas ... 124

6.4. Restrições legais ... 126

6.5. A eliminação de restrições ... 130

CONCLUSÃO ... 134

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 138

(12)

INTRODUÇÃO

A presente dissertação tem como objetivo analisar a problemática da celebração de Acordos de Promoção e Proteção de Investimentos (APPI). Analisa, ainda, como esses acordos podem se constituir em um fator de alocação de recursos derivados da globalização financeira para o setor produtivo brasileiro, contribuindo, potencialmente, para o ingresso do Brasil no seleto grupo de países desenvolvidos, adotando-se, como estratégia de pesquisa, aspectos históricos e bibliográficos.

Esses acordos impõem condições à adoção de medidas de nacionalização de ativos pelo Estado Parte, receptor do investimento, obrigando-o a admitir o pagamento de indenização imediata e justa, estabelecendo ainda mecanismos de solução de controvérsias entre o investidor e o Estado Receptor, inclusive fora do âmbito da jurisdição local.

Assim, o principal objetivo do APPI é proteger os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) do poder do Estado Receptor, nas questões afetas à admissão e ao tratamento dos investimentos estrangeiros, evitando os chamados riscos “não-comerciais” ou políticos.

A celebração de APPIs no mundo teve início em 1959 e tomou impulso no início dos anos 80.

Segundo Fernando Paulo de Mello Barreto Filho

As regras de investimentos têm-se multiplicado tanto em instrumentos bilaterais quanto multilaterais. Até 1992, mais de 500 acordos bilaterais de investimentos haviam sido assinados por países da OCDE, e, em números crescentes, por países na América Latina e da Europa Central e do Leste. 1

Contudo, somente a partir de 1993, o governo brasileiro deu início às assinaturas de APPIs com os governos dos países que têm dirigido maiores fluxos de investimentos ao país. Foram firmados 14 acordos. Entretanto, até este momento, o Congresso Nacional não concluiu a apreciação de nenhum dos APPIs a ele enviados.

1 BARRETO FILHO, Fernando Paulo de Mello. O Tratamento Nacional de Investimentos Estrangeiros, Brasília, Fundação Alexandre

(13)

No contexto dos vários processos da globalização, entre eles o da globalização financeira e produtiva, destaca-se uma das peculiaridades da economia global, que é o aumento de importância dos fluxos de IEDs.

Segundo o mesmo autor,

Os atuais fenômenos de globalização e de regionalização da economia mundial se caracterizam não somente pelo aumento no volume de exportação mundial de mercadorias e de serviços, mas também pelo crescimento dos investimentos externos diretos que excedem tanto o da produção mundial quanto do comércio de bens e serviços. 2

O processo de globalização financeira tem por fim a integração dos mercados financeiros locais, tais como os mercados de empréstimos e financiamentos através de títulos públicos e privados, títulos cambiais e de seguros, nos mercados internacionais. Enquanto isso, os mercados nacionais operariam apenas como uma expressão local de um grande mercado financeiro global. O processo de globalização produtiva se dá, essencialmente, pelo investimento direto internacional, pela reinversão dos lucros desses investimentos, pela difusão de padrões tecnológicos, pelos modelos de organização industrial, pela internacionalização das estruturas de mercado e da competição empresarial.

Nesse contexto, ao problema de assinaturas de APPIs, integra-se, não só o investimento de capital estrangeiro, mas também ao das empresas multinacionais ou transnacionais.

Para uns, o capital estrangeiro e a instalação no país de empresas multinacionais ou transnacionais é uma forma de colonialismo, com freqüentes intervenções na vida do país; para outros, é uma necessidade para o desenvolvimento econômico.

Nos últimos anos, “os estudiosos da literatura sobre IDE vêm buscando uma teoria que explique quais seriam os determinantes dos IEDs, ou seja, por que empresas localizadas num país inserem sua atividade no exterior e por que elas escolhem um país e não o outro” (ALMEIDA JÚNIOR, 2005, p. 2) 3.

2 Idem, p. 15.

3 ALMEIDA JÚNIOR, Antônio José Medina. Determinantes do Investimento Direto Estrangeiro no Brasil. 2005. 81f. Dissertação (Mestrado

(14)

Os países buscam investimentos estrangeiros diretos com o objetivo de se desenvolverem. Para tanto, criam políticas nacionais de forma a atrair e disciplinar tais investimentos.

Na concepção de Niklas Luhmann, a sociedade é um sistema estruturado de ações significativamente relacionadas.

O desenvolvimento da teoria de sistemas parece lógico que se conceba a sociedade como um sistema social que, em um ambiente altamente complexo e contingente, é capaz de manter relações constantes entre as ações. Para tanto, o sistema tem que produzir e organizar uma seletividade de tal forma que ele capte a alta complexidade e seja capaz de reduzi-la a bases de ação, passíveis de decisões. Quanto mais complexo é o próprio sistema, tanto mais complexo pode ser o ambiente no qual ele é capaz de orientar-se coerentemente. 4

Partindo desses pressupostos, é possível verificar em que medida os APPIs podem contribuir para a alocação de recursos da globalização financeira ao sistema produtivo, tornando-se um fator de atração de capitais estrangeiros para esse setor.

Os APPIs assinados pelo governo brasileiro não foram ratificados pelo Congresso Nacional. Existem dificuldades para sua ratificação em decorrência de interpretação de algumas cláusulas.

Esta pesquisa objetiva verificar a atual situação dos APPIs assinados pelo governo brasileiro, que se encontram no Congresso Nacional, ressaltando a importância desses acordos para a alocação de investimentos produtivos.

A hipótese básica da pesquisa é mostrar que o Brasil, ao firmar acordos internacionais de proteção a investimentos estrangeiros, especialmente, na forma de acordos bilaterais, reduz obstáculos aos fluxos de recursos, oriundos da globalização financeira, para o setor produtivo brasileiro.

A dissertação, desconsiderando a introdução e a conclusão, foi estruturada em seis Capítulos, os quais, por meio do exame de aspectos da globalização e da atual política

(15)

brasileira em relação aos tratados de proteção aos investimentos, buscam identificar os fatores que podem contribuir para a atração dos IEDs.

O Capítulo 1 trata do processo da globalização, da globalização financeira, da Taxa Tobin, da globalização produtiva, da interdependência global e dos ativos disponíveis para investimentos.

O Capítulo 2 apresenta algumas assimetrias políticas e econômicas à globalização.

Os Capítulos 3 e 4 verificam a atuação de alguns organismos internacionais e regionais na proteção aos investimentos estrangeiros.

O Capítulo 5 analisa o Acordo de Promoção e Proteção Recíproca de Investimentos Brasil/Estados Unidos e os Acordos de Promoção e Proteção Recíproca de Investimentos que tramitaram no Congresso Nacional ou foram excluídos de sua pauta a pedido do Governo Federal.

(16)

1. O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO

1.1. A globalização

Para se entender o processo de proteção a investimentos, é necessário, primeiramente, analisar o processo de acumulação de capital e o processo da globalização.

Para Braudel (citado por ALCOFORADO)5, até o século XV, existiram cinco economias-mundo: a) Europa; b) China; c) Índia; d) África árabe, e e) as Civilizações pré-colombianas.

O processo de mundialização do capital se iniciou com a expansão da economia-mundo da Europa, com vistas a estabelecer relações comerciais com as economias-mundo da Índia e da China. O impulso, intrínseco ao capitalismo na sua incessante e crescente busca de lucro e mercado, leva-o a ultrapassar fronteiras dos locais às regionais, internacionais e até continentais. Está na própria essência do seu sistema.

Alcoforado, escrevendo sobre o processo de mundialização do capital relata que

Pode-se afirmar que a mundialização do capital é um processo que se iniciou há mais de cinco séculos, aprofundou-se ao longo do tempo com a evolução da economia-mundo capitalista e se consolidou na era atual, englobando todo o sistema econômico do planeta. 6

Considerando que a acumulação de capital estrangeiro se iniciou há mais de cinco séculos e desenvolveu-se, ao longo do tempo, com a evolução do capitalismo, é equívoco entender a acumulação de capital como um fenômeno recente. A acumulação de capitais teve diferentes fases, as quais foram distinguidas por Alcoforadoda seguinte forma:

PERÍODO DA MUNDIALIZAÇÃO7 DO CAPITAL

Período Fases Características

1450-1850 Primeira Expansionismo mercantilista

1850-1950 Segunda Industrial-imperialista-colonialista

5 ALCOFORADO, Fernando. Globalização e desenvolvimento. São Paulo: Nobel, 2006, pp. 17-18. 6 Idem, p. 16.

7Mundialização (do francês

(17)

1950-1989 Terceira Descolonização Guerra–Fria - Reestruturação produtiva

Pós-1989 Globalização Declínio do Estado Nação – Reestruturação do

sistema interestatal Fonte: Alcoforado, 2006, p. 19

Ao longo desse processo de mundialização do capital, ocorrido entre os séculos XVI e XX, em diferentes momentos históricos, a Holanda, a Inglaterra e os Estados Unidos se revezaram na liderança da economia capitalista.

Foi, no entanto, a partir do pós-guerra (1945) que o mundo desenvolveu as condições necessárias para que globalização financeira e produtiva se tornasse à palavra-chave do século passado.

Chesnais (apud Lacerda) 8 prefere o termo mundialização a globalização,

por entender que corresponde com maior exatidão à essência da expressão inglesa “globalização”, a qual nas suas palavras, “traduz a capacidade estratégica de todo grande grupo oligopolista, voltado para a produção manufatureira ou para as principais atividades de serviços, de adotar, por conta própria, um enfoque e conduta ‘globais’”.

Não existe na realidade consenso a respeito do conceito de “globalização”. No entanto, não há dúvida de que esse é um fenômeno complexo, o qual assume características distintas nas diferentes esferas das relações econômicas internacionais, tendo conseqüências, especialmente, no Estado, nas finanças, na produção, no uso de novas tecnologias e nos investimentos.

Reinaldo Gonçalves (apud Prado) nos traz a seguinte idéia sobre os distintos

processos da globalização

A idéia de globalização como fenômeno sócio-econômico foi sustentada por autores como Reinaldo Gonçalves (1999) que argumentou que a globalização pode ser definida como a interação de três processos distintos, que têm ocorrido ao longo dos últimos 20 anos, e que afetam as dimensões financeira, produtiva-real, comercial e tecnológica das relações econômicas internacionais. Estes processos são: a expansão extraordinária dos fluxos internacionais de bens,

(18)

serviços e capitais; o acirramento da concorrência nos mercados internacionais; e a maior integração entre os sistemas econômicos nacionais. 9

Do fenômeno da globalização, pode-se destacar efeitos de dois processos, que estão profundamente interligados: a globalização financeira e a globalização produtiva.

A globalização financeira provocou uma grande integração dos sistemas financeiros mundiais e a expansão no movimento de capitais internacionais.

Gonçalves (1994, p. 15) analisou as transformações ocorridas nas estruturas industriais

O avanço do progresso técnico tem sido tão extraordinário que parece envolver uma ruptura de paradigma técnico-científico. Neste sentido, pode-se argumentar em termos de “destruição criadora” com a substituição de antigas por novas “combinações”, seja em termos de produtos e processos, como em termos de métodos de organização da produção. Como resultado, o sistema produtivo é afetado por mudanças drásticas, que inter alia têm levado à reestruturação

produtiva a nível mundial e a alteração dos padrões de concorrência e de níveis de competitividade. 10

A globalização provocou a reestruturação produtiva tanto nos países desenvolvidos, quanto nos países em desenvolvimento. Houve uma diminuição do ciclo de vida útil dos produtos e das tecnologias empregadas, aumentando a competitividade dos mercados provocando, assim, uma inovação nos produtos e serviços.

De modo geral, podemos afirmar que a globalização é um processo de integração das economias mundiais, intrinsecamente relacionado à flexibilização dos movimentos de mercadorias, capitais e pessoas entre países, mas pouco se tem feito quanto ao livre trânsito de pessoas. Daí os crescentes problemas das imigrações ilegais geralmente oriundas dos países mais pobres,

São marcas dos novos tempos da economia globalizada: as facilidades de comunicação, o processamento veloz de informações, a formação de blocos econômicos regionais e multilaterais, a maior mobilidade internacional dos fatores produtivos (capital,

9 PRADO, Luiz Carlos Delorme, Globalização: Notas sobre um conceito controverso. Disponível em: www.ie.ufjr.br. Acessado em

30.10.2008.

(19)

matérias-primas) e a valorização da importância da informação e do dinheiro, como importantes bens de capital ("economia da informação").

A expansão dos fluxos de Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) tem sido considerada, também, um dos marcos da globalização e da transnacionalização da economia mundial nas últimas décadas. Por isso, tem se dado maior importância à atração de IEDs pelos países em desenvolvimento.

Nesse contexto a participação de um país em acordos internacionais de proteção a investimentos constitui um fator de atração de IED. De acordo com Correa e Kumar (2003, p. 34),

há dificuldade em se mensurar em que medida a participação em tratados internacionais de proteção a investimentos pode influenciar a atração de IEDs pelos países em desenvolvimento. Segundo esses autores, os fluxos de IEDs são, em grande medida, atraídos pelo tamanho do mercado, níveis de renda, níveis de urbanização, proximidades geográficas e culturais, além da qualidade da infra-estrutura. O fator da participação em um acordo sobre investimento possui um papel subsidiário na atração desses capitais, o que pode ser demonstrado, segundo esses autores, pelo fato de que a China possui leis restritivas sobre a entrada de investimentos e é um dos países em desenvolvimento que mais atraiu investimentos estrangeiros na última década. Os fatores políticos – entre eles a participação em acordos bilaterais, regionais ou multilaterais de investimentos, a proteção legal, ou seja, a possibilidade de se tratar o capital estrangeiro da mesma forma que o capital nacional (tratamento nacional), facultando a possibilidade de se transferir os lucros e repatriar o capital sem incidência de encargos – parecem exercer papel relevante, embora não determinante, para a atração de IEDs. 11

Segundo Salacuse12 (1990: p. 43), a participação em acordos internacionais de proteção a investimentos é apenas uma medida de fortalecimento de confiança utilizada para promover a atração de IEDs, reduzindo, assim, os eventuais riscos que o investidor teria na ausência de tais regras.

A participação em acordos internacionais, para esse autor, é um sinal claro e positivo aos investidores, significando boa receptividade ao investidor estrangeiro.

11 CORREA, Carlos, e KUMAR, Nagesh. Protecting Foreign Investment: Implications of a WTO Regime and Policy Options. Londres: Zed

Books, 2003.

12 SALACUSE, Jeswald w. “Bit by Bit: The Growth of Bilateral Investment Treaties and Their Impact on Foreign Investment in Developing

(20)

Com relação aos efeitos da globalização, podemos afirmar que quanto mais integrados à economia internacional, maiores as exigências de reformulações das estratégias de atuação do Estado e de fortalecimento de seus núcleos coordenadores e reguladores.

No âmbito da globalização, constata-se o enfraquecimento dos Estados nacionais, quando baseados na soberania absoluta, no intervencionismo, no centralismo estatal e no favorecimento do papel das empresas nacionais.

Nota-se a necessidade de uma reformulação do conceito de soberania nacional, face à redução da capacidade de intervenção dos Estados para a condução das suas políticas financeiras e de investimentos.

1.2. A globalização financeira

A globalização financeira é um processo de integração dos mercados financeiros locais, tais como: os mercados de empréstimo e financiamento de títulos públicos, privados, cambiais de seguros. Assim, os mercados nacionais operariam, apenas, como uma expressão local de um grande mercado financeiro global.

Considerando os aspectos históricos da globalização financeira, a partir do final da Segunda Guerra Mundial, tornou-se necessária a construção de um novo sistema monetário internacional, de modo a tornar o comércio mundial um importante instrumento para potencializar o desenvolvimento do mundo capitalista.

Na conferência de Bretton Woods13, algumas propostas de remodelagem do sistema monetário surgiram, destacando-se, dentre elas, a do economista inglês John Maynard Keynes, o qual propunha a sepultura do ouro como garantia necessária do comércio internacional, e a de Henry White, secretário do Tesouro dos Estados Unidos da América, que propunha a instituição deum sistema dólar-ouro, proposta que acabou prevalecendo.

13 Bretton Woods foi o nome dado a um acordo de 1944 no qual estiveram presentes 45 países aliados e que tinha como objetivo reger a

(21)

Conseqüentemente, surgiu dessa conferência um sistema monetário internacional que foi extremamente importante para o reflorescimento do comércio mundial, sobre o qual se baseou o crescimento econômico do pós-guerra.

Dentro desse contexto, foram criadas as quatro principais instituições econômicas do pós-guerra: a) o sistema de taxas de câmbio de Bretton Woods; b) o Fundo Monetário Internacional (FMI); c) o Banco Mundial; e d) o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT).

O sistema Bretton Woods consagrou um sistema de gestão de taxas de câmbio chamado “padrão dólar-ouro”, o qual procurava flexibilizar o chamado “padrão ouro”, que foi a base do sistema monetário internacional anterior à Primeira Guerra Mundial.

Gremauddestaca que

[...] O sistema montado em Bretton Woods teve seu fim decretado por Nixon em 1971, com o rompimento da conversibilidade do dólar em relação ao ouro. A partir de então, segui-se um período de forte instabilidade, baseada, depois de 1973, em taxas flutuantes de câmbio [...] choques do Petróleo (1973 e 1979) (...) Essa maior instabilidade fez com que, nas últimas décadas, o cenário econômico mundial modificasse sobremaneira. Podem-se apontar duas grandes linhas: (i) as transformações na esfera produtiva; e (ii) a globalização financeira. Nesse ponto, verifica-se o crescimento dos investidores institucionais, como os fundos de pensão, com grande massa de recursos em busca de valorização. Barateia-se assim a colocação de títulos de dívida direta por parte das empresas, levando ao chamado processo de securitização e à proliferação dos bonds, commercial papers, floating rate notes. Tais modificações pressupõem mercados secundários bem

organizados, viabilizando a liquidez dos títulos e, nesse sentido, o desenvolvimento dos sistemas de informações foi fundamental. 14

Eric Hobsbawm (apud Dalcero) escrevendo sobre o início da globalização

financeira argumenta que

A partir da década de 60 esse cenário sofreu uma mudança qualitativa. O surgimento do eurodólar representa a primeira vez na história em que um grande volume de uma determinada moeda passava a ser transacionada fora da base territorial e do controle de sua respectiva autoridade monetária. Entre os problemas gerados por esse fenômeno estava a capacidade desse mercado “criar” moeda, na medida em que

(22)

empréstimos bancários eram concedidos em dólares fora do âmbito de regulação do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos. 15

As empresas americanas, com filiais na Europa, faziam empréstimos alternadamente, de acordo com a taxa de juros, beneficiando-se desse novo sistema.

As fragilidades estruturais do sistema de Bretton Woods cresciam, como indicou o estudo de Robert Triffin (Paradoxo de Triffin)16

Para Robert Triffin, a produção futura de ouro, a um preço fixo, não conseguiria suprir as necessidades existentes, de modo que a fonte de liquidez internacional necessária para lubrificar o crescimento, dentro do sistema de Bretton Woods, teria de ser o dólar. O único caminho para colocar esses dólares nas mãos do restante do mundo era o déficit na balança de pagamentos norte-americana.

Foi assim que os criadores de Bretton Woods fizeram, inadvertidamente, um sistema monetário mundial, dependente dos déficits norte-americanos, os mesmos que todos consideravam desestabilizantes na década de 60. Se os déficits dos EUA continuassem, a confiança no dólar e, posteriormente no sistema, seria minada, resultando a instabilidade. Porém se os déficits fossem eliminados, o restante do mundo ficaria privado dos dólares que necessitava para construir suas reservas e financiar o crescimento econômico.

Susan Trange (apud Dalcero) analisa esse novo sistema de criação

exponencial de moeda do mercado financeiro internacional

A análise da autora ressalta o vínculo existente entre as motivações políticas dos governos e a forma como atuaram ou deixaram de atuar

no mercado. Estabeleceu-se assim uma espiral de

desresponsabilização sobre os que seriam acentuadas com os sucessivos choques dos anos 70. 17

Todo esse processo é acompanhado de profundas inovações financeiras e por uma política de liberalização de circulação dos capitais, por diferentes economias como a

15 HOBSBAWM, Eric. The Age os Extremes. Nova York: Phanteon Books, 1994.

16 Triffin, Robert, The International Monetary Position of the United States, em Harris, Seymour E. (ed.), The Dollar in Crisis, Nova York e

Burlingame, 1961, P.23.

(23)

dos Estados Unidos, em razão de seus déficits comerciais e do Japão em função dos seus superávits.

Nesse contexto, as alterações nas estruturas financeiras foram analisadas por Lacerda da seguinte forma

Do ponto de vista financeiro, a globalização, está definida pela espetacular expansão dos fluxos financeiros internacionais. A tendencial desregulamentação observada na maioria dos países, o avanço da internacionalização da produção financeira (como a colocação de títulos no mercado internacional e derivativos)18 e a liberação cambial facilitaram a

expansão das relações financeiras internacionais. 19

A formação de atividades fora do controle do sistema de bancos centrais foi iniciada principalmente pela migração de capital das multinacionais dos EUA para a Europa, para facilitar o financiamento da sua expansão global.

É importante verificar o entendimento de Fernando Rezende, que, analisando a história da evolução dos sistemas tributários e escrevendo sobre a globalização econômica e financeira, conclui

[...] Do lado financeiro, a diversificação dos instrumentos hoje utilizados para mover capitais através dos oceanos, e a velocidade com que esses recursos se movem de uma parte a outra do globo terrestre, fazem com que a ignorância das regras internacionais desse jogo possa representar enorme prejuízo para aqueles que as desrespeitam. A questão é particularmente pertinente no caso dos capitais que se dirigem para o setor produtivo. As exigências da modernização e da competitividade não dispensam o recurso a fontes externas de financiamento, cuja sensibilidade a fatores que reduzem a rentabilidade dos investimentos por elas financiados é conhecida. Práticas comuns no passado em muitos países em desenvolvimento, de penalizar o investimento externo tributando o lucro auferido por empresas estrangeiras (no momento da realização e por ocasião da sua remessa ao país de origem), não tem, portanto, mais lugar. 20

Portanto, este fenômeno não trata apenas do crescimento de transações financeiras com o exterior, mas da integração dos mercados financeiros nacionais com a

18 A internacionalização dos mercados introduz novos riscos aos aplicadores e, com o intuito de diminuí-los, tem-se a proliferação dos

chamados derivativos (mercados futuros e swaps de câmbio e juros).O mercado de derivativos é o mercado no qual a formação de seus preços deriva dos preços do mercado à vista. Incluem-se os mercados futuros, os mercados a termo, os mercados de opções e o mercado de swaps.

19 LACERDA, Antônio Corrêa de. O impacto da globalização na economia brasileira. 4. ed. São Paulo: Contexto, 1999. p. 27.

20 RESENDE, Fernando. Evolução da estrutura tributária: experiências recentes e tendências futuras. Campinas: UNICAMP, 2000. p.

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formação de um mercado financeiro internacional e têm projeções no financiamento dos investimentos produtivos e até nos lucros auferidos pelas empresas.

Verifica-se o crescimento dos investidores institucionais, como os fundos de pensão, com colocação de títulos de dívida das empresas levando ao processo de securitização das dívidas.

Para Giogio Romano Schutte

De acordo com dados do BIS, as transnacionais realizam cerca de 50% das operações dos contratos de câmbio (swaps) e, de qualquer forma, as

intervenções delas nos mercados de câmbio são várias vezes superiores às necessidades de pagamento de suas transações comerciais. Ou seja, as transnacionais não só têm a capacidade de se adaptar às flutuações da esfera financeira, como também atuam nos seus moldes. Não há dúvida, portanto, de que as operações financeiras das transnacionais se tornaram parte central das suas estratégias globais e que determinam, da mesma forma que a sua capacidade tecnológica, seu poder de controle dos mercados, o que aumenta sua superioridade aos demais atores na esfera produtiva. A gestão centralizada do caixa permite ter uma visão global das atividades financeiras, organizar fluxos financeiros internos, a capacidade de deslocar fundos e lucros entre filiais, a fixação de preços de transferência, empréstimos internos, antecipação ou adiamento de pagamentos interfiliais, formas de repartição dos resultados, além de aproveitar o máximo possível as oportunidades de aplicações financeiras que nos aparecem diversos cantos do mundo. [...] As transnacionais são evidentemente também atrizes da globalização financeira, mas enfatizei que conseguem mobilizar esta participação em beneficio e não em detrimento das suas atividades produtivas. Em outras palavras, a globalização financeira, inclusive as crises por ela provocadas, ajuda a expansão das transnacionais. 21

Na estrutura das transnacionais, a gestão financeira se tornou um centro de lucro com obrigação de resultados, desenvolvendo para isso comportamentos especulativos típicos dos demais atores da globalização financeira.

Michel Chossudovsky nos faz a seguinte advertência

As economias nacionais estão interligadas, os bancos comerciais e os negócios (controlados por 750 corporações globais) transcendem limites econômicos, o comercio internacional está interligado e os mercados financeiros de todo o mundo conectam-se por um sistema de telecomunicações em tempo real [...]. As reformas macroeconômicas são um reflexo concreto do sistema capitalista de pós-guerra e de sua

21 SCHUTTE, Giogio Romano. Considerações a respeito da globalização produtiva num mundo financeirizado. Disponível em:

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evolução destrutiva. A direção macroeconômica adotada nos âmbitos nacional e internacional desempenha um papel central no surgimento de uma nova ordem econômica global: essas reformas regulam o processo da acumulação capitalista no mundo todo [...]. Desde a crise da dívida do início dos anos 80, a busca do lucro máximo tem sido engendrada pela política macroeconômica, ocasionando o desmantelamento das instituições do Estado, o rompimento das fronteiras econômicas e o empobrecimento de milhões de pessoas. [...] a economia mundial é dominada por um punhado de bancos internacionais e monopólios globais. Esses poderosos interesses financeiros e industriais entram cada vez mais em conflito com a sociedade civil. Embora o espírito do liberalismo anglo-saxão tenha um compromisso com o “fenômeno da competição”, a política macroeconômica do G722 tem sido, na pratica (por meio de um rígido

controle fiscal e monetário), responsável por uma onda de fusões (mergers) e compras em corporação [...].23

O fenômeno da globalização tem sido um fator de grande instabilidade. O crescimento dos fluxos financeiros e a desregulamentação das economias mundiais vêm sendo acompanhadas de crises freqüentes.

Na década de 70 houve sucessivas crises, como as crises as do petróleo e a crise gerada pela elevação da Taxa de Juro nos EUA, nos Governos Carter e Reagan.

O cenário dos anos 80 foi marcado pela crise da dívida dos países em desenvolvimento. Os mercados financeiros nessa década constituíram-se de modo distinto dos mercados de Bretton Woods: passaram a ser transacionados por muito mais créditos do que aqueles garantidos por ações e títulos públicos.

Na década de 90, houve as crises cambiais do México, da Ásia e da Rússia, país que mergulha no caos político e financeiro com a desvalorização do rublo.

A globalização financeira provocou uma grande integração dos sistemas financeiros mundiais e uma expansão no movimento de capitais internacionais. No ambiente de regras transparentes, estáveis e previsíveis recursos da globalização financeira podem dirigir-se para o setor produtivo?

22Grupo dos Sete G7, formado pelos ministros da Fazenda das sete potências industriais (Alemanha, Japão, Itália, França, Grã-Bretanha,

Canadá e Estados Unidos), que se encontram anualmente para coordenar a política econômica e monetária mundial.

23 CHOSSUDOVSKY, Michel. A globalização da pobreza: impactos das reformas do FMI e do Banco Mundial. São Paulo: Moderna,

(26)

Shirakawa, Okina e Shiratsuka24 (apud Prado) discutiram o tema, que ficou conhecido como o paradoxo de Fedlstein & Harioka, estabelecendo um elevado grau de correlação entre a poupança e investimento.

Para Fedlstein & Harioka a globalização financeira não contribui para aumentar a mobilidade de poupança entre países. Os países que são grandes investidores externos e estão integrados no sistema financeiro internacional mantêm a maior parte da riqueza financeira em carteira.

Na globalização financeira, o movimento internacional de capitais é influenciado pela interação de algumas variáveis, tais como expectativas, riscos e incertezas. As expectativas dos investidores estão relacionadas com a taxa de retorno esperada do investimento, que é a eficiência marginal do capital.

A sobrevalorização cambial não estimula o ingresso de capitais externos, pois exige do investidor estrangeiro um montante de divisas relativamente elevadas para a compra da moeda nacional do país receptor do Investimento Estrangeiro Direto (IDE). O preço baixo também serve de estímulo às remessas de divisas para o exterior.

Quanto ao investimento internacional, as expectativas ficam atreladas ao comportamento futuro das taxas de juros e das taxas de câmbio.

As expectativas de desvalorização cambial podem induzir a uma saída dos investimentos, do mesmo modo que, as expectativas de sobrevalorização cambial podem induzir opostamente os fluxos de investimentos internacionais em ativos financeiros.

A globalização financeira tem sido fator de grande instabilidade. A desregulamentação dos serviços financeiros internacionais e o crescimento dos fluxos financeiros no mundo são processos que vêm sendo acompanhados por freqüentes crises.

A proposta de um imposto sobre transações financeiras internacionais surge como uma proposta de racionalização da globalização financeira.

24 Shirakawa, Okina e Shiratsuka

Financial Market Globalization: Present and Future, IMES (Institute for Monetary and EconomicStudies)

(27)

1.3. O imposto Tobin

A taxa Tobin, ou imposto Tobin, é um imposto sobre os capitais financeiros internacionais, que depende do prazo de permanência do capital no país; quanto maior permanência, menor o imposto.

O imposto Tobin foi proposto por James Tobin, premiado com o Nobel de economia de 1982, que vem desde os anos 70 do século passado defendendo o estabelecimento de um imposto sobre transações cambiais. Mesmo com uma alíquota de 0,1% sobre cada transação, por exemplo, seria fortemente penalizada a aplicação de curtíssimo prazo, por envolver muitas entradas e retiradas de capital. O imposto teria o objetivo de inibir a especulação financeira. Este seria cobrado nas transferências de recursos de um país a outro, quando de sua conversão em moeda local, incidindo sobre a operação de conversão de divisas. Não afetaria, no entanto, os investimentos de longo prazo.

Pedro Luis Dalcero, escrevendo sobre a busca de uma alternativa racional à globalização financeira e à volatilidade de capitais, traça o contexto em que foi proposto o imposto Tobin, mostrando-o da seguinte maneira

Quando teve fim o regime de taxas fixas de Bretton Woods, o pensamento econômico dividiu-se sobre seus impactos. Milton Friedman25, ao lado da maioria dos economistas, afirmou que os governos passariam a ter muito mais liberdade para conduzir políticas macroeconômicas sob um regime de taxas flexíveis. James Tobin discordava desse quase consenso e, já no início dos anos 70, alertava para as dificuldades inerentes à administração de políticas macroeconômicas num ambiente em que volumes significativos de capitais realizavam rápidos movimentos transfronteiriços. Em janeiro de 1972, lançou a proposta de um imposto sobre o mercado de câmbio... Os valores diários negociados nesse mercado de moedas “foreing exchange” são

realmente vultosos, evoluindo de US$ 18 bilhões no início dos anos 70 para US$ 150 bilhões em 1987. Segundo dados do BIS, passaram de US$ 860 bilhões em 1992 para US$ 1,230 trilhões em 1995. Trata-se da maior atividade financeira do mundo. 26

Dalcero afirma que a proposta Tobin é apenas uma iniciativa regulatória para um mercado que apresenta características de barbárie.

25 Economista americano, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 1976.

26 DALCERO, Pedro Luís. Globalização financeira e volatilidade de capitais: a busca de uma alternativa racional. 1997. p. 137.

(28)

Em um contexto de globalização financeira, amplia-se muito a vulnerabilidade dos países para as crises econômicas, cambiais27 e financeiras28.

Félix (apud Dalcero) argumenta sobre a impossibilidade da aplicação de um

imposto dessa natureza.

Mesmo que as principais economias do mundo subscrevessem um tratado criando o imposto, sua aplicação seria inviável em função da existência de pequenos paraísos fiscais. David Felix, no trabalho ‘Financial Globalization versus fre trade: case for the Tobin Tax’, demonstra as diferenças existents entre desenvolver um produto financeiro e registrá-lo (escapando de taxações nacionais) e transferir todas as atividades de planejamento, comercialização e marketing para esses locais. 29

Convém mencionar a declaração do mega-especulador George Soros30, que definiu as finanças internacionais como “fora de alcance da lei, onde predomina a força”.

O imposto Tobin não pode ser visto como um imposto global. Seria, como aponta Inge Kaul (apud Dalcero)31, um imposto nacional fruto de um acordo internacional, a ser recolhido nacionalmente pelos Estados.

Por esta razão, o problema é muito complexo. O volume de capitais voláteis circulando na economia internacional constitui um fator de desestabilização das economias nacionais.

1.4. A globalização Produtiva

Para compreender o investimento produtivo, é preciso conhecer a globalização produtiva, que é a produção e a distribuição de produtos dentro de redes, em escala mundial, com acirrada concorrência entre grandes grupos multinacionais.

O processo de globalização produtiva ocorre, essencialmente, pelo investimento direto e a reinversão dos lucros desses investimentos, pela difusão de padrões

27 É um descontrole na paridade entre uma moeda forte e a moeda nacional, podendo trazer um desequilíbrio na balança de pagamentos. 28 Uma crise financeira é normalmente desencadeada quando há, em determinada nação, um maior número de agentes pessimistas em relação

aos demais. Suas principais consequências são a desvalorização de ativos financeiros e a iliquidez de diversas instituições, ou seja, a confirmação e o agravamento dos motivos que geraram o pessimismo inicial.

29 FELIX, Devid.Financial Globalization versus fre trade: case for the Tobin Tax”, UNCTAD discussion papers, n. 108, novembro, 1995. 30 SOROS, George. Revista Veja, São Paulo, 1º maio 1996.

(29)

tecnológicos, modelos de organização industrial e pela internacionalização das estruturas de mercado, com forte competição empresarial.

Este processo também pode ocorrer com a aquisição de uma empresa existente, pela criação de uma nova empresa ou por novos investimentos em empresas coligadas. Mas a essência de tais operações é sempre o controle da gestão empresarial.

Na sua forma mais simples, está associado a uma estrutura produtiva formada por empresas locais, beneficiando-se das vantagens comparativas tradicionais, usando tecnologias e técnicas gerenciais desenvolvidas a partir da realidade doméstica, com relativo isolamento da competição internacional, a não ser através do comércio exterior.

Na sua forma mais complexa, este processo está associado às economias fortemente internacionalizadas, nas quais as estruturas produtivas se caracterizam por forte participação de empresas transnacionais.

Para Goldenstein a globalização produtiva é uma revolução mundial

Uma verdadeira revolução na medida em que suas bases tecnológicas, produtiva comercial e financeira sofrem mudanças radicais. Este processo, que vem sendo chamado de globalização, tem levado à integração dos mercados de bens, de serviços e capitais. 32

Essas transformações tiveram início nos anos 60 e 70. Contudo, somente em meados da década de 80, houve um processo em larga escala de fusões, aquisições e incorporações em nível internacional formando uma rede internacional por meio de empresas e suas subsidiárias.

Tais empresas beneficiaram-se de oligopólios diferenciados, devido à força de suas marcas, de oligopólios concentrados e de rendimentos crescentes de escala, fomentando o comércio mundial ao investir e ampliar a comercialização de seus produtos.

Os padrões tecnológicos e a estrutura organizacional tiveram de acompanhar os vigentes no exterior. A competição local é o reflexo da competição global entre as empresas.

(30)

A aplicação da tecnologia da informação, mediante a utilização dos circuitos integrados, veio permitir a utilização de novas tecnologias como a de robôs industriais.

Novos padrões produtivos redefiniram a noção de competitividade, o importante é inovar e aperfeiçoar.

Escrevendo sobre a globalização produtiva, Alcoforado destaca que

A reestruturação produtiva teve por objetivo oferecer respostas à crise do fordismo e do toyotismo. Reconhecem os estudiosos que o fordismo se tornou um meio de organização social, um mantenedor da sociedade de consumo em todo o planeta. Seu declínio, na década de 1970, que causou a crise de uma sociedade inteira, se deu pela quebra do pacto entre trabalho e capital, que acabou com o Welfare State

(Estado do Bem-Estar Social). O fordismo tem como objetivo a produção em larga escala, que necessita de um consumo também em larga escala. Essa necessidade levou os capitalistas a dividirem, em forma de aumento de salários, os lucros com os trabalhadores, permitindo-lhes comprar o que produziam. A crise no fordismo desencadeou a derrocada dos partidos sociais democratas em todo mundo e se refletiu economicamente no crescimento lento da economia e na queda de produtividade, resultante da insatisfação dos trabalhadores com o sistema vigente e manifestada por faltas ao trabalho, desinteresse pelo processo produtivo, greves e outras formas de protestos. A situação piorou também para as contas públicas pela queda da tributação do Estado: além de a receita ter-se reduzido, ele tinha de arcar com o seguro-desemprego para uma grande massa de população alijada dos postos de trabalho. Outro fator que desencadeou a crise do fordismo foi o substancial aumento de preço do petróleo, em 1973 e 1979 – literalmente o combustível de toda indústria fordista. Houve um enorme aumento nas taxas de juros americanas, que causou, nos anos 1980, a chamada "crise da dívida externa" nos países subdesenvolvidos. A conseqüência foi o começa da reestruturação produtiva, principalmente nos setores básicos de produção e de trabalho. Foram adotadas novas ideologias, novas formas de administração, de gerenciamento e de produção. Principal modelo e motor da reestruturação produtiva contemporânea, o toyotismo começou a ser implantado definitivamente em 1962 e tem como principal característica e objetivo a produção somente do necessário e no menor tempo. É o just-in-time. Ao contrário do

fordismo, em que a produção determina a demanda, no toyotismo a demanda determina a produção; ou seja, só se produz o que é pedido, por isso se produz mais rápido e melhor. O just-in-time surgiu da

(31)

mais do que o japonês trouxe o fim da produção em massa. Outra finalidade do toyotismo foi enfrentar o sindicalismo japonês, que era forte, atuante e responsável por muitas greves. O toyotismo criou o sindicato incorporado à empresa, cuja finalidade defensora do trabalhador era discutível. Principal meio de implantação do just-in-time é o kanban, uma espécie de cartão de controle de ida e vinda de

mercadoria. Kanban é uma técnica de gestão de materiais e de produção no momento exato, que é controlado pelo movimento do cartão. O sistema kanban é um método de estabelecer o autocontrole na fábrica, independentemente de gestões paralelas e controles computacionais. Teve inicio na Toyota, com um programa para controlar o fluxo da produção em todo o sistema produtivo. O objetivo era de controlar e envolver a mão-de-obra. 33

Uma indústria pode atender o mercado internacional a partir de três estratégias: a) a exportação; b) a oferta local ou c) licenciamento. As características dos produtos e dos mercados são as aberturas de espaços para estratégias diferentes.

Há uma mudança de uma produção padronizada para uma produção flexível, sob encomenda. A atuação das empresas também é modificada, de modo a continuarem competitivas e lucrativas.

Outra mudança verificada é a estrutural de grandes organizações verticalizadas para organizações horizontais com formação de redes internacionais, por meio de suas subsidiárias, ampliado o grau de integração e divisão do trabalho.

Como assevera Almeida

Grande parte do comércio vem sendo efetuado entre as próprias economias capitalistas desenvolvidas e segue um padrão conhecido: comércio intra-setorial e mesmo intrafirmas, seguindo regras de alocação ótimas de recursos e de divisão de mercados. Os investimentos diretos, por sua vez, seguem igualmente os fluxos das principais correntes de comércio, conduzindo, portanto, a uma marginalização crescente das economias menos desenvolvidas. 34

Porém, uma pergunta se impõe: o que levou as empresas a se globalizar? Estudos iniciais sobre as teorias das empresas multinacionais tiveram início na década de 60.

33 Op. Cit. Alcoforado, 2006, pp. 35-39.

(32)

O estudo destas teorias foi analisado por Lima Júnior que, citando HYMER, KINDLEBERGER, VERNON e HIRATUKA, assim expõe

(33)

rotinização da produção, juntamente com a entrada de novos concorrentes na economia doméstica, as empresas passariam a optar pela abertura de subsidiárias em outros países (terceiro estágio). De acordo com HIRATUKA (2002), essa opção ocorreria tanto pela avaliação de que os custos de produção seriam menores no exterior, como pela ameaça de perda dos ganhos monopólicos com a entrada de novos concorrentes locais. Assim, a teoria do ciclo de produção descrevia a seqüência de expansão das empresas, ou seja, inicialmente atendendo à demanda local, posteriormente atendendo aos mercados através das exportações e dos representantes comerciais e, finalmente, produzindo nos mercados de destino por meio de filiais. 35

O modelo dos ciclos do produto é o que melhor explica a tendência das empresas a se globalizar, geralmente produtos de alta tecnologia se convertem em produtos tradicionais, ficando mais dependentes do custo da mão-de-obra e com menor capacidade de influenciar os preços de mercado. Este ciclo dos produtos em três estágios (novo produto, produto maduro e produto padronizado).

Raymond Vernon chegou ao modelo dos ciclos do produto a partir das conclusões de um estudo com o objetivo de explicar a dinâmica dos investimentos das empresas norte-americanas no mercado internacional nas décadas de 1950 e 1960.

Para Vernon (apud Prado)

as empresas de todos os países industriais avançados não seriam fundamentalmente diferentes na sua capacidade de obter informações sobre os conhecimentos científicos contemporâneos e entender as implicações de seus princípios para a pesquisa tecnológica. No entanto, segundo esse autor, havia uma grande distância entre acesso aos conhecimentos científicos contemporâneos e a transformação desses em produtos comercializáveis. Os riscos e custos envolvidos no desenvolvimento de produtos implicavam que apenas em condições muito especiais fosse interessante para as empresas realizar tais empreendimentos. Nesse sentido as empresas norte-americanas estavam em uma posição privilegiada. Tais empresas atuavam em uma economia grande e dinâmica, com um amplo e sofisticado mercado financeiro, onde a dura concorrência estimulava atividades de P&D, que permitissem ganhos maiores do que os possíveis em mercados tradicionais. 36

(34)

As indústrias de alta tecnologia dependem mais de seu acesso aos recursos financeiros e humanos para P&D, da imagem de confiabilidade, qualidade de suas marcas, da sua capacidade gerencial e de distribuição, do que do valor de sua folha de pagamentos.

Liliane Renyi e Alexandre Lintz, escrevendo sobre oportunidades de investimentos, concluem que

Pode-se considerar a procura constante por oportunidade de investimento como um dos principais objetivos da administração financeira. Esta procura que torna a fronteira eficiente de investimentos descrita por Markowitz cada vez mais atraente no

trade-off retorno vs. risco. É nesta busca incessante de maximização

da relação retorno/risco que surge a tendência dos investimentos transporem a fronteira doméstica dos mercados de capitais e se aventurarem em um mercado repleto de boas oportunidades: o mercado de capitais internacionais. Existem algumas diferenças básicas entre mercados domésticos e internacionais que tornam possíveis estes ganhos na relação retorno/risco. Primeiramente, tem-se a questão das diferenças entre o ambiente doméstico e internacional com relação aos fatores produtivos. Neste contexto, podem-se encontrar as inúmeras barreiras referentes à movimentação de bens, capital e trabalho em proporções infinitamente menos rígidas no ambiente doméstico do que no ambiente internacional. Existem também os fatores monetários, onde o mercado internacional passa a contar com novos elementos relativos à conversibilidade cambial e barreiras ao fluxo de capitais, que podem ser impostos através de mecanismos, tais como taxações, restrições de prazos e outros (Análise do Mercado Financeiro Internacional – Um panorama de investimentos no Brasil-OCDE-2003). São estas diferenciações que acabam por gerar distorções de oportunidades de investimento e consumo em diferentes regiões/países, e que conseqüentemente levaram ao surgimento de diferentes oportunidades de alocação de recursos. 37

Na globalização produtiva a estrutura da concorrência internacional envolve forte disputa por atração de investimentos, envolvendo, inclusive, os governos dos países e, para atrair esses investimentos, é preciso um clima favorável ao investimento.

Quais os principais fatores que levam a atração de investimentos? Para

CAMPOS E KINOSHITA (apud Lima Júnior),

37 RENYI, Liliane e LINTZ, Alexandre, ANÁLISE DO MERCADO FINANCEIRO INTERNACIONAL UM PANORAMA DE

(35)

Campos e Kinoshita (2003) estudaram os fatores determinantes do estoque de investimento direto externo para 25 economias em transiçãoutilizando dados em painel para o período entre 1990 e 1998. O objetivo foi o de examinar a importância das instituições e das economias de aglomeração versus as dotações de fatores e as condições iniciais em explicar a escolha locacional dos investidores externos. Segundo os autores, os determinantes locacionais do IDE foram classificados em cinco grupos de variáveis: as variáveis clássicas relacionadas às vantagens específicas dos países, ou seja, o tamanho do mercado, o custo do trabalho, a habilidade da força de trabalho, à distância em relação aos mercados da Europa Ocidental e a infra-estrutura; os fatores relacionados à política macroeconômica e às reformas econômicas, tais quais a taxa de inflação, um índice de restrição ao IDE e um índice de liberalização externa; duas variáveis que representassem a importância das instituições que foram a qualidade da burocracia e a observância do cumprimento das leis; a economia de aglomeração representada pelo estoque de IDE defasado; por fim, as variáveis que representassem as condições iniciais, que foram respectivamente a dotação de recursos naturais e a abertura comercial. As estimações realizadas pelos autores mostraram que os principais determinantes foram às instituições, as economias de aglomeração, o baixo custo da mão-de-obra e os recursos naturais abundantes. Além disso, os investidores externos têm preferência por países que são mais abertos para o comércio, com poucas restrições ao IDE e com progressos na liberalização externa. Sendo assim, também os resultados obtidos por CAMPOS e KINOSHITA (2003) demonstram que os fatores tradicionais continuam sendo os principais determinantes dos IDEs. 38

O conhecimento desses fatores constitui um meio de correção dos efeitos negativos do investimento estrangeiro quanto à competitividade com o segmento do capital nacional.

Para NONNENBERG e MENDONÇA,

estimaram com base em dados de painel, os principais determinantes dos investimentos diretos externos em 33 paísesem desenvolvimento no período de 1975 a 2000. Além disso, os autores também realizaram um teste de causalidade no contexto de dados em painel no intuito de verificar se o investimento direto externo tem efeito sobre o PIB. As variáveis selecionadas para explicar o investimento direto foram o PIB, a taxa média de crescimento real do PIB nos últimos cinco anos, a qualificação da força de trabalho, o grau de abertura comercial, a taxa de inflação, a taxa de risco, o consumo percapita de energia, o

índice Dow Jones e o somatório do PIB dos maiores exportadores de capital da OCDE para países em desenvolvimento. Os resultados encontrados pelos autores demonstraram que fatores como tamanho e ritmo de crescimento do produto, qualificação da mão-de-obra,

38 LIMA JÚNIOR, Antônio José Medina. Determinantes do Investimento Estrangeiro no Brasil. Belo Horizonte: Editora Cedeplar, 2005.

(36)

país, desempenho do mercado de capitais e grau de abertura da economia estão entre os principais determinantes de IDE, apresentando os sinais esperados e sendo significativos. Já o consumo

percapita de energia e o PIB da OCDE não foram significativos. No

que tange ao teste de causalidade, os autores concluíram que os investimentos diretos externos não possuem efeito positivo sobre o PIB. Segundo os autores, é o PIB do país que tem efeito sobre a entrada de investimento, o que corrobora com o fato da China, maior economia em desenvolvimento do mundo, ter se tornado um dos maiores países receptores de capital. 39

O principal motivo da pesquisa foi testar a efetividade de alguns fatores determinantes para a atração de investimentos estrangeiros.

Com relação aos aspectos tecnológicos, a contribuição das empresas multinacionais para o Brasil foi avaliada por Marcelo José Braga Nonnenberg, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), nas seguintes palavras

Com relação aos aspectos tecnológicos, as evidências sugerem que o esforço inovador das empresas domésticas era, na década de 70, igual ou maior do que o das EMNs localizadas no Brasil. Esse resultado confirma as expectativas teóricas apresentadas, de que as multinacionais ou geram tecnologia nos países de origem ou, quando investem em geração de tecnologia no exterior, o fazem para aumentar suas possibilidades de entrar em redes de pesquisa como forma de obter conhecimento gerado nos países hospedeiros. Por outro lado, as EMNs foram responsáveis por transferências significativas de tecnologia, tanto de produto quanto de processo, ao longo da década de 70, que permitiram a indústria nacional atingir padrões de produção, nos setores controlados por essas corporações, não muito diferentes dos observados nos países industrializados. 40

Dessa forma, verifica-se a necessidade de se adotar um ambiente de oportunidades para os investimentos, livres de controles rígidos, alternativo ao capital especulativo.

Segundo o mesmo autor, analisando a contribuição das EMNs para o desenvolvimento brasileiro nas últimas décadas, chega-se à conclusão de que

39 NONNENBERG, Marcelo José Braga. Determinantes dos investimentos externos e impactos das empresas multinacionais no Brasil: as décadas de 1970 e 1990. Rio de Janeiro; Brasília: IPEA, 2003, p. 68.

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