UFPE — MA054 — 2013.2 — PROF. FERNANDO J. O. SOUZA
COMPLEMENTO AO T ´ OPICO 19 E
ALGUMAS SOLU ¸ C ˜ OES PARA A LISTA 04 – v. 1.0
Assuntos: Interpreta¸c˜ao dos conjuntos-solu¸c˜ao da equa¸c˜ao geral do 2
ograu em 2 vari´aveis como curvas cˆonicas; elimina¸c˜ao do termo cruzado por rota¸c˜ao.
Para o uso correto do m´etodo discutido neste texto, ´e importante a devida compreens˜ao das 12 equa¸c˜oes numeradas ao longo deste texto.
A equa¸c˜ao geral do 2
ograu nas duas vari´aveis x e y ´e:
Ax
2+ Bxy + Cy
2+ Dx + Ey + F = 0 (1) Para facilitarmos a convers˜ao desta equa¸c˜ao para sua equivalente em novas coordenadas, observemos que ela pode ser reescrita de uma forma matricial, a qual ´e mais complicada que (1) mas utilizar´a, diretamente, a matriz de mudan¸ca de coordenadas por rota¸c˜ao. Come¸caremos com matrizes de ordem 1 × 1, e as expandiremos como produtos de matrizes de ordem maior:
[0] = [Ax
2+Bxy+Cy
2+Dx+Ey+F ] = [Ax
2+Bxy+Cy
2]+[Dx+Ey]+[F ] ∴
[0] =
x y
A B/2 B/2 C
x y
+
D E
x y
+ [F ] (2) Acompanharemos a discuss˜ao do assunto usando o Item 1.v. da Lista de Exerc´ıcios Complementar 04, a saber, 4x
2− 4xy + 7y
2− 24 = 0, isto ´e:
[0] =
x y
2 − 2
− 2 7
x y
+
0 0
x y
+ [ − 24].
As partes quadr´atica e linear da equa¸c˜ao s˜ao codificadas pelas matrizes, Q = h
A B/2 B/2 C
i e L = [
D E] que, no Item 1.v, s˜ao iguais a
2 −2−2 7
e [
0 0]
respectivamente. Devido a Bxy = − 4xy (um “termo cruzado”, isto ´e, um
monˆomio em duas vari´aveis distintas), ´e necess´aria uma rota¸c˜ao, a qual ´e
uma mudan¸ca de coordenadas e, como tal, codificada por uma matriz M cujas colunas s˜ao dadas pelas coordenadas antigas dos novos vetores unit´a- rios. Estas coordenadas s˜ao obtidas pela rota¸c˜ao dos vetores unit´arios da base { (1, 0); (0, 1) } original (base canˆonica do R
2). Como estudamos:
x y
= M
x
1y
1
=
cos (θ) − sen(θ) sen(θ) cos (θ)
x
1y
1
(3)
A fun¸c˜ao f (x, y) = Ax
2+ Bxy + Cy
2+ Dx + Ey + F = 4x
2− 4xy + 7y
2− 24 definida no plano
1pode ser expressa em termos das coordenadas (x
1, y
1) de cada ponto P do plano com rela¸c˜ao ao sistema de coordenadas rotacionado Ox
1y
1(ou seja, o ponto P ´e o mesmo e o valor da fun¸c˜ao nele tamb´em: quem muda s˜ao as express˜oes daquele ponto por coordenadas e daquela fun¸c˜ao em termos destas): f (x, y) = ˜ f (x
1, y
1) = ˜ Ax
21+ ˜ Bx
1y
1+ ˜ Cy
12+ ˜ Dx
1+ ˜ Ey
1+ ˜ F . Em particular, a curva cˆonica descrita por f(x, y) = 0 tamb´em ´e descrita por f ˜ (x
1, y
1) = 0. Assim, para reescrevermos a Equa¸c˜ao (1) nas novas vari´aveis, precisamos calcular os coeficientes de ˜ f :
Ax ˜
21+ ˜ Bx
1y
1+ ˜ Cy
12+ ˜ Dx
1+ ˜ Ey
1+ ˜ F = 0. (4) Podemos aplicar a Equa¸c˜ao (3) para expressarmos x e y em termos de x
1e y
1, obtendo f´ormulas para os novos coeficientes em termos dos antigos. Usando a equa¸c˜ao (3) e sua transposi¸c˜ao,
x y
=
x
1y
1M
t, obtemos a matriz Q ˜ a partir do formato descrito na Equa¸c˜ao (2):
x y Q
x y
=
x
1y
1M
tQM
x
1y
1
=
x
1y
1Q ˜
x
1y
1
∴
Q ˜ = M
tQM (5)
Da mesma forma, L
x y
= LM
x
1y
1
= ˜ L
x
1y
1
∴
1f ´e fun¸c˜ao definida emR2 e, como tal, pode tamb´em ser vista como fun¸c˜ao dos pontos P do plano.
L ˜ = LM (6) A este ponto, ´e interessante sabermos que, em geral, a mudan¸ca de coorde- nadas inversa seria representada por M
−1mas, neste contexto, M
−1= M
tporque a matriz M representa uma mudan¸ca de base entre duas bases or- tonormais. M
−1representa a rota¸c˜ao inversa (isto ´e, aquela pelo ˆangulo trigonom´etrico − θ). Finalmente, como nosso objetivo ´e eliminar o “termo cruzado” Bxy, o que desejamos ´e:
B ˜ = 0 ∴ B ˜
2 = 0 ∴ Q ˜ =
A ˜ B/2 ˜ B/2 ˜ C ˜
=
A ˜ 0 0 C ˜
(7) Mas ˜ Q = M
tQM pela Equa¸c˜ao (5), donde obtemos que:
B ˜ = B
2 cos
2(θ) − sen
2(θ) + (C − A) cos (θ)sen(θ)
∴
usando o ˆangulo dobro de θ, B ˜ = B
2 cos (2θ) + C − A
2 sen(2θ) ∴
B ˜ = 0 ⇐⇒ B cos (2θ) = (A − C) sen(2θ) (8)
Num dos caminhos por trigonometria, calculamos ˜ A e ˜ C a partir de um certo sistema de equa¸c˜oes envolvendo sen(2θ). Noutro caminho por trigono- metria, calculamos M e, a partir deste, ˜ Q. H´a tamb´em solu¸c˜oes por autova- lores (um assunto de ´ Algebra Linear)
2. Seguiremos a primeira abordagem.
Para ela, podemos usar o ˆangulo trigonom´etrico no intervalo 0,
π2deter- minado por cot(2θ) = (A − C)/B, e trabalhar com sen(2θ) > 0 como no livro-texto [Boulos/Camargo, 3
aed.] - Se¸c. 23.C. Tamb´em poder´ıamos usar θ ∈ −
π4,
π4determinado por tan (2θ) = B/(A − C) se A 6 = C, e θ =
π4se A = C, como em alguns outros textos. Usaremos o primeiro destes intervalos.
Assim: θ ∈ 0,
π2∴ 2θ ∈ (0, π) ∴ sen(2θ) > 0 ∴ cot (2θ) = A − C
B (9)
2Nestas solu¸c˜oes, ˜Ae ˜Cs˜ao os autovalores deQ(escolhidos numa ordem arbitr´aria mas, uma vez escolhidos, as dire¸c˜oes dex1 ey1 s˜ao definidas pelos respectivos autovetores).
Em particular, no intervalo escolhido:
θ = π
4 ⇐⇒ 2θ = π
2 ⇐⇒ cot (2θ) = 0 ⇐⇒ A − C = 0 ⇐⇒ A = C ∴ θ = π
4 ⇐⇒ A = C (10)
No exemplo, cot (2θ) =
4−7−4=
34. Da identidade trigonom´etrica sen
2(2θ) = 1/ 1 + cot
2(2θ)
(11) segue-se que sen
2(2θ) = 1/ (1 + (3/4)
2) = 1/ (1 + (9/16)) = 16/25 no exem- plo. Mas sen(2θ) > 0 ∴ sen(2θ) = 4/5. Finalmente, das Equa¸c˜oes (5), (3) e (7), calculamos
A ˜ = A cos
2(θ) + Csen
2(θ) + B cos (θ)sen(θ);
C ˜ = Asen
2(θ) + C cos
2(θ) − B cos (θ)sen(θ)
∴
A ˜ + ˜ C = (A + C) (cos
2(θ) + sen
2(θ)) = A + C;
A ˜ − C ˜ = (A − C) (cos
2(θ) − sen
2(θ)) + B (2 cos (θ)sen(θ)) = (A − C) cos (2θ) + B sen(2θ)
Substituindo A − C por B cot (2θ) seguindo a Equa¸c˜ao (9), obtemos o sistema:
A ˜ + ˜ C = = A + C;
A ˜ − C ˜ = B/sen(2θ) (12) No exemplo:
( A ˜ + ˜ C = A + C = 4 + 7 = 11 ∴ 2 ˜ A = 11 − 5 = 6 ∴ A ˜ = 3 A ˜ − C ˜ =
sen(2θ)B=
4/5−4= − 5 ∴ C ˜ = 11 − 3 = 8 ∴
3x
21+ 8y
21− 24 = 0 ∴ x
218 + y
213 = 1 (equa¸c˜ao reduzida)
Como ˜ D = 0 = ˜ E neste exemplo, n˜ao h´a monˆomios de grau 1, e uma trans- la¸c˜ao n˜ao ser´a necess´aria
3. Sendo positivos os coeficientes dos termos qua- dr´aticos, conclu´ımos que se trata de uma elipse. S´o tendo sido efetuada uma
3Se houvesse algum termo puramente linear, uma transla¸c˜ao poderia ser necess´aria ou n˜ao.
rota¸c˜ao, seu centro ´e a origem do sistema de coordenadas original, O (0, 0).
Comprimento do eixo maior: 2a = 2 √
8 = 4 √ 2.
Comprimento do eixo menor: 2b = 2 √
3 ∴ c = √
a
2− b
2= √
8 − 3 = √ 5 ∴ Distˆancia focal 2c = 2 √
5; e excentricidade e =
ac= p 5/8.
Foram tamb´em pedidos os v´ertices e focos. Para eles, ´e necess´ario en- contrarmos θ ou, alternativamente, M de modo que possamos explicitar o novo sistema de coordenadas Ox
1y
1, no qual ´e bastante conveniente expres- sar as coordenadas daqueles pontos devido `as informa¸c˜oes j´a encontradas acima. Mas cos (2θ) = cot (2θ) sen(2θ) =
34·
45=
35. Somando os respecti- vos membros das identidades trigonom´etricas cos (2θ) = cos
2(θ) − sen
2(θ) e cos
2(θ) + sen
2(θ) = 1, obtemos que cos
2(θ) =
12(1 + cos (2θ)) =
12·
85=
45. Como θ ∈ 0,
π2, temos que cos (θ) > 0 ∴ cos (θ) = 2/ √
5. Combinando este valor com
45= sen(2θ) = 2sen(θ) cos (θ), obtemos que sen(θ) = 1/ √
5. Assim, chegamos `a base ortonormal F =
f b
1, f b
2associada a Ox
1y
1, onde:
f b
1= (cos (θ), sen(θ))
E=
√15(2, 1)
Ee f b
2= ( − sen(θ), cos (θ))
E=
√15( − 1, 2)
E, e E ´e a base ortonormal original. Neste novo sistema de coordenadas, dado por (O, F ), os v´ertices da elipse tˆem coordenadas ( ± 2 √
2, 0) e (0, ± √ 3), en- quanto os focos tˆem coordenadas ( ± √
5, 0).
Se desej´assemos as coordenadas destes seis pontos com rela¸c˜ao ao sis- tema de coordenadas Oxy original, poder´ıamos aplicar a mudan¸ca de coor- denadas inversa (encapsulada em M
−1) ou, simplesmente, notar que x
1e y
1s˜ao os coeficientes de f b
1e f b
2. Por exemplo: o foco F
1de coordenadas (x
1, y
1) = ( − √
5, 0) ´e F
1= O − √
5 f b
1+ 0 f b
2= O − √
5 f b
1e, portanto, suas coordenadas (x, y) no sistema original (O, E ) s˜ao:
F
1= (0, 0) − √
5
√15(2, 1)
E= ( − 2, − 1). E assim por diante.
1.w. 4x
2+ 4xy + 7y
2− 24 = 0.
Solu¸ c˜ ao: Devido ao termo cruzado 4xy, ´e necess´aria uma rota¸c˜ao. Como feito acima, utilizamos o ˆangulo θ ∈ 0,
π2determinado por cot (2θ) =
4−74=
−
34. Da identidade trigonom´etrica sen
2(2θ) = 1/ (1 + cot
2(2θ)), segue-se que sen
2(2θ) = 1/ (1 + (3/4)
2) = 1/ (1 + (9/16)) =
1625. Devido `a escolha de θ em
0,
π2, temos que 2θ ∈ (0, π) e, portanto, sen(2θ) > 0. Logo, sen(2θ) = 4/5.
Procedendo como antes, chegamos ao sistema de equa¸c˜oes abaixo:
( A ˜ + ˜ C = A + C = 4 + 7 = 11 ∴ 2 ˜ A = 11 + 5 = 16 ∴ A ˜ = 8 A ˜ − C ˜ =
sen(2θ)B=
4/54= 5 ∴ C ˜ = 11 − 8 = 3 ∴
8x
21+ 3y
21− 24 = 0 ∴ x
213 + y
218 = 1 (equa¸c˜ao reduzida)
Como n˜ao h´a monˆomios de grau 1, uma transla¸c˜ao n˜ao ser´a necess´aria. Sendo positivos os coeficientes dos termos quadr´aticos, conclu´ımos que se trata de uma elipse. S´o tendo sido efetuada uma rota¸c˜ao, seu centro ´e a origem do sistema de coordenadas original, O (0, 0).
Comprimento do eixo maior: 2a = 2 √
8 = 4 √ 2.
Comprimento do eixo menor: 2b = 2 √
3 ∴ c = √
a
2− b
2= √
8 − 3 = √ 5 ∴ Distˆancia focal 2c = 2 √
5; e excentricidade e =
ac= p
5/8. Para a localiza-
¸c˜ao dos v´ertices e e dos focos desta elipse, calculemos a base ortonormal F associada ao novo sistema de coordenadas Ox
1y
1, isto ´e, (O, F ): cos (2θ) = cot (2θ) sen(2θ) = −
34·
45= −
35. Somando os respectivos membros das iden- tidades trigonom´etricas cos (2θ) = cos
2(θ) − sen
2(θ) e cos
2(θ) + sen
2(θ) = 1, obtemos que cos
2(θ) =
12(1 + cos (2θ)) =
12·
25=
15. Como θ ∈ 0,
π2, temos que cos (θ) > 0 ∴ cos (θ) = 1/ √
5. Combinando este valor com
4
5
= sen(2θ) = 2sen(θ) cos (θ), temos que
4sen(θ) = 2/ √
5. Assim, chega- mos `a base ortonormal F =
f b
1, f b
2associada a Ox
1y
1, onde:
f b
1= (cos (θ), sen(θ))
E=
√15(1, 2)
Ee f b
2= ( − sen(θ), cos (θ))
E=
√15( − 2, 1)
E, e E ´e a base ortonormal original. Neste novo sistema de coordenadas, dado por (O, F ), os v´ertices da elipse tˆem coordenadas (0, ± 2 √
2) e ( ± √
3, 0), en- quanto os focos tˆem coordenadas (0, ± √
5).
4Logo, o seno e o cosseno est˜ao trocados com rela¸c˜ao ao Item 1.v, donde este θ ´e o complemento do θda primeira solu¸c˜ao de 1.v.
1.x. 5x
2+ 12xy − 12 √
13x − 36 = 0.
Resposta: Com o sistema de coordenadas Ox
1y
1obtido atrav´es da rota¸c˜ao pelo ˆangulo θ tal que cos (θ) =
√313e sen(θ) =
√213, expressamos a equa¸c˜ao em termos de Ox
1y
1:
9x
21− 4y
2− 36x
1+ 24y
1− 36 = 0
Completando os quadrados, revelamos uma segunda mudan¸ca de coordena- das Cx
2y
2obtida por transla¸c˜ao a partir de Ox
1y
1:
9(x
1− 2)
2− 4(y
1− 3)
2− 36 ∴ 9x
22− 4y
22− 36 = 0
O vetor −→ OC de transla¸c˜ao ´e expresso na base ortonormal F associada a Ox
1y
1como −→ OC = (2, 3)
F. Da´ı:
x
224 − y
229 = 1 (hip´erbole) Centro
5: C. Comprimento do eixo transverso: 2 √
4 = 4. Coordenadas dos v´ertices em Cx
2y
2: ( ± 2, 0). Comprimento do eixo imagin´ario: 2 √
9 = 6.
5Claro,C tem coordenadas (0,0) emCx2y2.