Otacília da Paz Pereira
O designer educacional e as competências profissionais:
influências na seleção de recursos multimidiáticos
MESTRADO EM TECNOLOGIAS DA INTELIGÊNCIA
E DESIGN DIGITAL
Otacília da Paz Pereira
O designer educacional e as competências profissionais:
influências na seleção de recursos multimidiáticos
MESTRADO EM TECNOLOGIAS DA INTELIGÊNCIA
E DESIGN DIGITAL
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital –
Aprendizagem e Semiótica Cognitiva, sob a orientação da Profa. Dra. Sônia Maria de Macedo Allegretti.
BANCA EXAMINADORA
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A toda a minha família, fundamental para me ajudar a trilhar os caminhos que
eu escolhi. À mãe Anna que me ajuda a remover as pedras e à mãe Ita que mostra
as pequenas flores que os circundam.
Aos meus irmãos (Deo, Eva, Nina, Preto, Maria, Neno e Jan), cunhados
(Roseli, Ademar, Beto, Cecília, Raquel e Misael) e sobrinhos (Denise, Amanda,
Leonardo, Luísa, Beatriz, Marcus, Bianca e o pequeno André) que não me deixam
esquecer que a família é grande, mas o amor que sinto por eles é ainda maior.
À minha outra família, em especial à Carola, Paulo, Camila, Pedro, tios e
avós que sempre me incentivaram, desculparam minhas ausências e confiaram no
meu sucesso.
Ao Paulinho, meu amor, com quem quero dividir todas as conquistas. Esta é
apenas mais uma.
A Sonia, mais do que orientadora, amiga e companheira de jornada. Sempre
presente mostrando que o caminho da pesquisa é mais satisfatório do que árduo.
As professoras Cláudia Coelho Hardagh e Alda Luiza Carlini pela leitura
atenta e correções de rota.
À Edna Conti, pela presteza e atenção durante esses mais de dois anos de
convivência.
Aos professores e colegas do TIDD, que ampliaram minha visão de mundo e
contribuíram para minha atitude crítica.
À Gerência de Pessoal do Senac São Paulo que deu todo o apoio para que
que me fizeram, a partir do trabalho aqui proposto, ampliar o olhar e fazer minha
ação profissional ganhar novos contornos.
À Paula Carolei, com quem aprendo sempre, primeira leitora do meu projeto
de pesquisa. Ao Ricardo Stein, responsável pelas figuras que compõem esta
dissertação, e que sempre quebra vários galhos. À Jan, irmã querida, que fez a
leitura e revisão final deste trabalho. À Elisangela Almeida, “ás em informática” que
me ajudou na formatação final. A todos vocês, meus sinceros agradecimentos.
A todos os meus amigos que souberam respeitar minhas ausências e me
O advento das novas tecnologias de informação e comunicação causou um impacto
bastante representativo no mercado de trabalho e na forma como a educação é
encarada, ampliando espaços e possibilidades de aprendizagem, o que fez com que
muitos autores passassem a considerar a importância do design educacional.
Esta dissertação de mestrado apresenta algumas reflexões sobre o designer
educacional, profissional que atua na concepção, implementação e gerenciamento
de projetos educacionais que utilizam a internet como meio. A pesquisa teve seu
foco na tentativa de identificar as características do trabalho desenvolvido pelo designer educacional, seu perfil e as principais competências que devem nortear sua atuação.
Para tanto, foram utilizados autores cuja pesquisa gira em torno das questões do
design educacional, além daqueles cujo foco está mais voltado para a utilização de
recursos multimidiáticos na educação on-line. Na pesquisa de campo, de caráter
qualitativo, foram utilizados dados coletados a partir da discussão realizada em
grupo focal com os designers educacionais que atuam no Senac São Paulo. Desse
grupo, emergiram as seguintes categorias: recursos multimídia e aprendizagem,
perfil do designer educacional e papel do designer educacional. Os resultados
revelaram que há ainda muita confusão entre o papel e o perfil profissional mais
indicado para atuação nesta área, o que parece indicar a transitoriedade da
profissão e de suas principais características.
The advent of new information and communication technologies has caused a very
representative impact on the working market and on the form people face education,
expanding learning spaces and possibilities; what makes many authors to consider
the importance of educational design.
This master's degree dissertation presents some insights about educational
designer, a professional who works in the conception, implementation and
management of educational projects that use the internet. The research focused on
the attempt to identify the characteristics of the work developed by the educational designer, its profile and the main competencies that must guide such work.
In order to develop this paper, we mentioned authors whose research is about
educational design issues, in addition to those who are focused on the use of
multimedia resources towards online education. In a qualitative field research, data
collected from the discussion in a focal group with the educational designers who
work at Senac São Paulo were used. From this group, the following categories
emerged: multimedia resources and learning, educational designer‟s profile and educational designer‟s role. Result revealed there‟s still a lot of confusion between
the role and the most qualified professional profile to work in this area, which seems
to indicate the transitoriness of the professional and its main characteristics.
Figura 1: Modelo convencional de desenvolvimento de design educacional ... 49
Figura 2: Áreas de conhecimento envolvidas na atuação transdisciplinar do designer
educacional ... 57
Figura 3: Distribuição de papéis no design educacional tradicional ... 58
INTRODUÇÃO ... 13
1. APRESENTAÇÃO / QUESTÕES DE PESQUISA ... 13
2. ESTADO DA ARTE ... 15
3. JUSTIFICATIVAS ... 22
4. OBJETIVO GERAL ... 23
5. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 23
6. METODOLOGIA... 23
7. ESQUEMA GERAL DA DISSERTAÇÃO: ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS . 24 CAPÍTULO 1: A RELAÇÃO DOS RECURSOS MULTIMIDIÁTICOS COM O PROCESSO COMUNICACIONAL ... 26
1.1 História em quadrinhos ... 32
1.2 Podcasts ... 34
1.3 Vídeos didáticos e interativos ... 40
CAPÍTULO 2: O PERFIL DO DESIGNER EDUCACIONAL E SUA IMPORTÂNCIA NO TRABALHO MULTIDISCIPLINAR ... 44
2.1 Designer educacional: papel e perfil do profissional ... 50
CAPÍTULO 3: A ELABORAÇÃO DE UM CURSO ON-LINE ... 61
3.1. A produção de cursos a distância no Senac São Paulo ... 64
CAPÍTULO 4: ANÁLISE ... 71
4.1 Justificativa metodológica ... 71
4.2. Grupo focal ... 72
4.3. Montagem do grupo focal ... 74
4.4. Análise das categorias ... 76
4.4.1 – Recursos multimídia e aprendizagem ... 76
4.4.2 – Perfil do designer educacional ... 84
4.4.3 – Papel do designer educacional ... 90
CAPÍTULO 5: CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 94
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 100
INTRODUÇÃO
1. APRESENTAÇÃO / QUESTÕES DE PESQUISA
Desde pequena, me lembro de ser o terror dos adultos da minha família,
pois estava sempre à espreita, sempre esperando “pescar” algo de novo no ar.
Atenta a tudo, aprendi muito nos bancos escolares, nos livros que lia e que me
levavam a lugares incríveis. E foi essa paixão pelos livros me fez optar pela
Faculdade de Letras, da Universidade de São Paulo, na qual me formei em 2002.
Por conta da minha formação em Letras, comecei minha carreira como
revisora e redatora de textos (em editora de revistas e depois na área publicitária).
Mas a menina curiosa não deixou de existir, ao contrário. No ambiente
profissional, essa curiosidade se ampliava à medida que novos horizontes se
descortinavam e novas possibilidades apareciam. Nesse período as questões
referentes à linguagem e à comunicação passaram a ganhar força nas minhas
inquietações, já que convivia com esses dois temas cotidianamente.
Como o que me mantém viva é a busca por desafios, em 2005 comecei a
trabalhar como designer educacional no Senac São Paulo. Antes disso, nunca
tinha ouvido falar sobre o assunto e muito pouco sobre Educação a Distância,
e-learning, recursos multimídia, estratégias pedagógicas... Nada disso fazia parte
do universo que eu conhecia. Aliás, a própria questão educacional tinha passado
ao largo em minha vida. Talvez isso explique porque, até aquele momento, eu
não havia feito a licenciatura, apenas o bacharelado. Ao passar a trabalhar com o
tema, senti a necessidade de voltar aos bancos escolares para conhecer um
Assim, desde que comecei a atuar como designer educacional, outras
inquietações passaram a me desacomodar: o que está por trás do trabalho deste
profissional?; o que eu preciso saber (e como devo aplicar tais conhecimentos)
em busca de uma melhor solução didática para suprir determinada demanda?;
por que eu escolho um recurso tecnológico em detrimento de outro, se ambos são
capazes de comunicar o mesmo conceito?; e a linguagem inerente a cada um
destes recursos, até onde preciso conhecer o seu processo de formação para
fazer um bom trabalho?; será este um processo consciente ou intuitivo? quem é
afinal esse profissional?
São muitas perguntas e para a maioria delas não encontramos respostas
fáceis, nem prontas. Prova disso é que em março de 2008 participei como
especialista na descrição da profissão de designer educacional na Classificação
Brasileira de Ocupações (CBO). Essa profissão faz parte da família 2394: Programadores, avaliadores e orientadores de ensino. Com os demais especialistas convidados, travamos uma longa discussão sobre quem é esse
profissional, o que ele faz e quais competências são necessárias para o
desenvolvimento de um bom trabalho educacional. E cada um tinha algo a
contribuir, pois tudo dependia do contexto no qual esse profissional estava
inserido. Percebemos que, para algumas instituições, o designer educacional era
aquele que não só desenhava o curso on-line, mas também incluía e monitorava
os alunos no ambiente virtual de aprendizagem. Em outros casos, o trabalho
desse profissional não ia tão longe; ficava muito mais no âmbito de
desenvolvimento de soluções traçadas junto ao coordenador pedagógico, na
Hoje, atuo na mesma instituição de ensino, mas não mais como designer
educacional e sim como coordenadora pedagógica1. Apesar do distanciamento inevitável do fazer que a mudança de cargo me proporcionou, ainda tenho as
mesmas inquietações. Somadas a elas existe o ponto de vista do coordenador,
qual seja, verificar a personalidade e o perfil profissional de cada um dos
designers educacionais que trabalham na equipe para incluí-los ou não em
determinado projeto.
Este trabalho é uma tentativa de responder algumas das minhas principais
indagações. Nele, tentei trazer alguns rumos e sugerir novos caminhos para a
Educação, tema pelo qual, tenho certeza, minha curiosidade jamais cessará.
2. ESTADO DA ARTE
Vivemos em rede2. O advento das novas tecnologias de informação e
comunicação modificou a organização da sociedade de maneira geral e ampliou
os espaços de aprendizagem. Os alunos, paulatinamente, estão saindo das
quatro paredes das salas de aula tradicionais e entrando no universo on-line, em
que uma infinidade de portas e janelas se abre a cada clique do mouse.
O meio é outro e as questões de ensino-aprendizagem que vêm a reboque
também. Não todas, evidentemente. Mas uma delas tem chamado a atenção de
estudiosos da Educação, da Comunicação e da Tecnologia: o design educacional
on-line.
Andrea Filatro tem dedicado sua pesquisa acadêmica para as questões do
design educacional e seu papel na elaboração de cursos a distância. No seu
primeiro livro, Design Instrucional Contextualizado, a autora apresenta uma visão
geral sobre o tema e sobre o planejamento, a implantação, o acompanhamento e
a avaliação de projetos de EAD que fazem parte dos processos fundamentais de
design educacional. O livro, resultado de sua dissertação de mestrado, é
permeado pelo conceito de contexto, isto é, “a inter-relação de circunstâncias que acompanham um fato ou uma situação” (FILATRO, 2004, p.104) e sua reflexão atinge maior profundidade ao apresentar um modelo de design instrucional3
contextualizado.
Já no segundo livro, o foco está mais voltado para a prática. Apesar de
seguir a mesma linha teórica, a obra se apresenta como um guia, com ênfase na
elaboração de roteiros e storyboards, design de conteúdos multimídia e
gerenciamento de projetos de uma maneira mais ampla. Em ambos os livros, a
discussão gira em torno dos aspectos que o designer educacional deve levar em
conta durante o desenvolvimento de uma solução didática, seja em termos de
contexto, de abordagens pedagógicas ou mesmo de escolha de mídias, mas não
há um aprofundamento sobre o que deve determinar a escolha por um ou outro
recurso tecnológico que possa comunicar conceitos similares com linguagens
diferentes ou mesmo que aprofunde qual o perfil do profissional que irá trabalhar
como designer educacional, ou algo que se aproxime do objetivo das questões de
pesquisa ora apresentadas.
3 Preservamos aqui o termo utilizado pela autora, design instrucional. No capítulo 1 desta
George França dos Santos, em sua tese de doutorado, também observa as
questões inerentes ao design educacional. Mas seu foco é bem mais abrangente,
já que seu interesse maior é o de “explorar a hipermídia, seus ambientes e suas colaborações, para a prática da EAD”, a fim de entender “como as questões do
conhecimento são trabalhadas na rede.” (SANTOS, G., 2006, p. 20)
Nesse contexto, o designer educacional aparece como um “estrategista,
auxiliar no processo de aprendizagem e da produção de conhecimento do aluno
online”. (SANTOS, G., 2006, p. 56)
Para ele, o papel funcional do designer educacional assemelha-se ao papel
do professor, já que “esse profissional articula estratégias de aprendizagem,
seguindo os diferentes perfis e tendências de uma turma, possibilitando currículos
diferenciados e desenvolvidos frente às características e olhares de cada projeto.”
(SANTOS, G., 2006, p. 56)
O autor fala brevemente sobre o perfil desse profissional, ao relatar que
“sua formação ocorre nas áreas pedagógicas, com vasta experiência e
conhecimentos das tecnologias da informação e nas teorias da aprendizagem.”
(SANTOS, G., 2006, p. 59)
A discussão, no entanto, para por aí. Não há um aprofundamento sobre o
papel desse profissional, suas competências e perfil desejado para que realize um
trabalho consistente e que leve em conta as diversas interfaces a serem
realizadas durante todo o percurso.
A autora que se aproxima um pouco mais da explicação sobre os domínios,
competências e padrões de desempenho do design educacional é Hermelina
Aberta e à Distância. A partir de uma proposta do International Board of
Standards for Training, Performance and Instruction (IBSTPI), comissão
internacional de pesquisadores que estudam e publicam listas de competências e
padrões de desempenho para profissionais das áreas de educação,
desenvolvimento de recursos humanos e tecnologias educacionais, a autora
recupera o universo de saberes e papéis a serem desempenhados pelos
profissionais da área. No texto de apresentação, Lina deixa claro que
o documento é informativo e educativo e também pode ser usado como ajuda de trabalho pelas gerências de projetos/programas para definir padrões de seleção e qualificação e pelos próprios profissionais que atuam na área, como instrumento de auto-avaliação.4 (ROMISZOWSKI, 2002, p.1)
Temos ainda outra contribuição de Hermelina e Alexander Romiszowski, no
artigo Retrospectiva e Perspectivas do Design Instrucional e Educação a
Distância: análise da literatura. Aqui, eles trazem os autores fundadores do design
educacional e suas principais contribuições, como Skinner, Robert Gagné e
Benjamim Bloom, por exemplo. Na sequência, traçam um panorama (entre os
anos 70 e 80) de como a área de design educacional foi se desenvolvendo em
países como Estados Unidos, Inglaterra e outros países da Europa, mesma época
em que o uso das tecnologias na educação começou a aparecer no Brasil. A
década seguinte é “marcada pela divulgação de várias novas ideias e invenção de
diversos novos produtos tecnológicos.” (ROMISZOWSKI, 2005, p. 19). Os autores
informam que foi nesse período que o pensamento de Howard Gardner (sobre as
4 Este artigo de fato foi bastante relevante para que se sistematizassem algumas questões sobre o
inteligências múltiplas), o sócio-interacionismo de Vygotsky e a andragogia foram
disseminados na comunidade acadêmica. Isso tudo sem esquecerem que foi
nesse período que os microcomputadores começaram a causar impacto na
sociedade. Finalmente, os autores apresentam o período compreendido entre
1990 e 2000, auge da inovação tecnológica, o que fez com que se ampliassem as
pesquisas na sua utilização para o processo de ensino/aprendizagem. O artigo é
bem interessante, pois à medida que os autores fazem a retrospectiva cronológica
sobre as questões de design educacional, trazem o que foi publicado sobre o
assunto, no Brasil e, principalmente, no exterior. Finalizam o artigo trazendo
perspectivas para a década atual5 e os estudos relacionados.
Lucia Santaella, por sua vez, apesar de não se debruçar especificamente
sobre o design pedagógico de cursos on-line, tem estudos fundamentais sobre a
questão da linguagem. Sua base teórica é essencialmente a semiótica peirciana,
para quem “todo pensamento se dá em signos, na continuidade dos signos”
(SANTAELLA, 2005, p. 32). No seu livro Matrizes da linguagem e pensamento:
sonora visual verbal: aplicações na hipermídia, a autora parte do pressuposto que
as linguagens se misturam e se multiplicam, sobretudo em função do casamento
entre os meios. Daí a necessidade de fixarmos nossos esforços na compreensão
de “como os signos se formam e como as linguagens e os meios se combinam e
se misturam”. (SANTAELLA, 2005, p. 28)
Vale lembrar que, segundo essa concepção, os meios são apenas canais
físicos nos quais as linguagens se corporificam e de onde (e para onde) transitam.
Para a autora,
o estudo de processos comunicativos deve pressupor tanto as diferentes linguagens e sistemas sígnicos que se configuram dentro dos veículos em consonância com o potencial e limites de cada veículo, quanto deve pressupor também as misturas entre linguagens que se realizam nos veículos híbridos de que a televisão e, muito mais, a hipermídia são exemplares. (SANTAELLA, 2005, p. 380)
A dúvida que ainda persiste sobre como o designer educacional escolhe
determinado recurso tecnológico como sendo o mais adequado para atingir uma
melhor solução didática (lembrando que cada mídia traz consigo uma linguagem
específica) ganha respaldo na busca da autora pelo entendimento da passagem
do nível lógico e cognitivo latente para o nível da manifestação das mensagens.
Já na obra Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo,
apesar de a autora estar preocupada com os processos de recepção que a
hipermídia potencializa, é possível vislumbrar ressonância com a problemática
aqui proposta, uma vez que se Lucia Santaella está com foco no leitor (que
podemos extrapolar para o aluno on-line), nosso foco se volta para o designer
educacional, que não poderá perder de vista as questões cognitivas de como as
pessoas aprendem, caso a escolha por determinada solução pedagógica for mais
consciente do que intuitiva.
A partir deste breve panorama foi possível observar que os autores
estudados apresentam o assunto de uma maneira bastante abrangente. Em
alguns casos, parece haver, inclusive, uma confusão entre o fazer do designer
educacional e o perfil mais adequado para este profissional. É sabido que não
existe uma receita de bolo que garanta que, ao sair do forno, aquele curso
desenvolvido por determinado designer educacional dê água na boca de alunos e
professores e deixe um gostinho de quero mais. De todo modo, os autores
sobre o assunto ou, no caso da obra de Santaella, apresentam questões
importantes sobre a comunicação que nos fazem traçar um paralelo com a
educação on-line6.
Como, de fato, o tema é bastante amplo, algumas questões passam ao
largo (ou são apresentadas de maneira superficial) na pesquisa dos autores ora
estudados. Uma delas é entender como o designer educacional escolhe um
recurso multimidiático em detrimento de outro, ou seja, quais os critérios que
estão por trás dessas escolhas.
Outro aspecto que deverá ser iluminado por esta pesquisa baseia-se nos
diferentes perfis profissionais de diferentes designers educacionais, uma vez que
formação acadêmica, vivência de mundo, e a própria personalidade de cada um
poderá facilitar (ou dificultar) o trabalho em uma equipe multidisciplinar. Afinal,
vale lembrar que o designer educacional é sempre intermediário, seja na
construção do conteúdo com o professor, seja na interface com os designers de
multimídia e programadores, por exemplo.
Enfim, a ideia é trazer para a discussão quem é este profissional, qual o
perfil desejado e quais competências ele precisa ter (ou procurar desenvolver)
para que isso se traduza em soluções educacionais interessantes. Além disso,
apresentaremos alguns critérios de escolha que o designer educacional faz ao
pensar uma solução pedagógica, refletindo a partir da questão da linguagem que
diferentes recursos multimidiáticos apresentam.
6 “Educação online é uma modalidade de educação a distância realizada via internet, cuja
3. JUSTIFICATIVAS
O crescente desenvolvimento de soluções educacionais on-line exige
profissionais qualificados para atuar neste campo. Um deles é o designer
educacional, cuja característica multidisciplinar faz com que tal profissional tenha
que caminhar por diversas áreas do conhecimento a fim de desempenhar um bom
trabalho. Porém, sabe-se que a teoria se modifica na prática, sobretudo quando é
solicitado que este profissional desenvolva treinamentos para o mercado
corporativo, em que muitas das concepções de aprendizagem acabam ficando em
segundo plano. De qualquer forma, imagina-se que as concepções de linguagem,
as concepções de mídia, além das concepções de aprendizagem devam estar
sempre latentes, vindo à tona à medida que o designer educacional se depare
com uma situação educacional, seja no desenvolvimento de um curso de
extensão ou em um simples objeto de aprendizagem que será inserido em uma
aula presencial.
Esclarecer quem é este profissional para, a partir daí, tentar identificar o
que influencia suas escolhas em termos didático-pedagógicos, sobretudo na
busca do entendimento de como a linguagem e a comunicação dialogam no
desenvolvimento de soluções que possam favorecer um aprendizado mais efetivo
pode contribuir com profissionais que atuam com educação a distância. Daí a
4. OBJETIVO GERAL
Identificar as características do trabalho desenvolvido pelo designer
educacional, seu perfil e as principais competências que devem nortear sua
atuação.
5. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Descrever os diferentes recursos multimidiáticos e sua relação
comunicacional no desenvolvimento de soluções educativas, a partir de
seu uso pedagógico.
Enumerar as etapas para elaboração de um curso on-line na área de
Tecnologias Aplicadas à Educação do Senac São Paulo.
Desvelar, no contexto da prática educativa, o perfil do designer
educacional, suas principais competências e sua importância na
composição de uma equipe multidisciplinar no trabalho colaborativo.
6. METODOLOGIA
A metodologia escolhida para este trabalho está inserida dentro dos
estudos qualitativos de investigação. Entendemos que dentre as várias
possibilidades, o grupo focal se apresentou como uma linha metodológica
bastante interessante, já que
O objetivo do grupo focal, realizado com nove designers educacionais que
atuam na área de Tecnologias Aplicadas à Educação do Senac São Paulo,
buscou levantar algumas perspectivas do que é o trabalho do designer
educacional, quais são as competências necessárias para desenvolver um bom
trabalho, e quais os critérios que estão por trás de suas escolhas
didático-pedagógicas em termos de recursos de aprendizagem.
7. ESQUEMA GERAL DA DISSERTAÇÃO: ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS
Além desta introdução, a dissertação terá outros cinco capítulos.
No capítulo 1 - A relação dos recursos multimidiáticos com o processo
comunicacional -, é feita a conceituação de mídia, multimídia, hipermídia e
hipertexto para, a seguir, apresentarmos a questão da hibridização da linguagem.
Utilizamos os conceitos trazidos por Lucia Santaella sobre as matrizes da
linguagem e do pensamento para esta reflexão.
Finalmente, foram selecionados alguns recursos multimidiáticos que podem
ser utilizados na construção de soluções educacionais on-line, com ênfase na
linguagem de cada um desses recursos e como o papel do designer educacional
é fundamental também na articulação dos saberes linguísticos e comunicacionais
que cada um dos recursos traz em seu bojo.
No capítulo 2 - O perfil do designer educacional e sua importância no
trabalho multidisciplinar -, será apresentado o perfil do designer educacional, suas
principais competências e domínios da profissão. Como este profissional não
para a discussão como esta equipe se forma e o que se espera do designer
educacional, já que ele funciona como um intermediário/mediador entre os atores
do processo educacional. O objetivo deste capítulo é, fundamentalmente,
esclarecermos quem é este profissional, quais são as competências que estão na
base desta profissão e como se dá o trabalho em equipe.
No capítulo 3 - A elaboração de um curso on-line, apresentamos as
principais etapas de elaboração de um curso on-line no Senac São Paulo, como a
equipe está composta e quais são os envolvidos durante o processo. O objetivo é
apresentar o contexto institucional e quais as principais competências que se
espera do designer educacional em uma equipe com características
multidisciplinares.
No capítulo 4 - Análise -, é feita a análise das categorias emergentes do
grupo focal, à luz das teorias que embasam este trabalho. Servirão como
elementos de análise a transcrição das falas dos designers educacionais que
participaram do encontro.
Finalmente, no capítulo 5 - Considerações finais -, apresentamos as
reflexões que surgiram durante todo o processo da pesquisa, além de sugerir
CAPÍTULO 1: A RELAÇÃO DOS RECURSOS MULTIMIDIÁTICOS COM O PROCESSO COMUNICACIONAL
Século XXI. A indústria tecnológica está efervescente: a cada dia, novos
aparelhos e dispositivos móveis surgem e são incorporados cada vez mais
rapidamente pela sociedade.
Com a comunicação facilitada, o acesso à informação se amplia neste
cenário e a busca por formação também. Atualmente, o profissional que mais se
destaca é aquele que percebeu a importância de estar constantemente atualizado
em sua área de conhecimento, pois o paradigma é outro. Como diz Lévy (1999),
grande parte das competências adquiridas pelas pessoas quando iniciam em
determinadas profissões vão se tornando obsoletas com o passar do tempo.
Nesse sentido, a educação a distância on-line passa a ser encarada como
alternativa, já que se coaduna com uma necessidade imposta pela nova
configuração social. Não à toa, os alunos que optam por esta modalidade de
formação são cada vez mais exigentes. Em sua maioria, possuem algum
conhecimento das possibilidades da web, participam de comunidades de
relacionamento ou fazem compras pelo computador. Assim, é necessário que a
sala de aula virtual possibilite ao aluno uma aprendizagem dinâmica e
significativa, já que estes indivíduos “toleram cada vez menos seguir cursos
uniformes ou rígidos que não correspondem a suas necessidades reais e à
especificidade de seu trajeto de vida”. (LÉVY, 1999, p. 169)
Daí a importância de se fazer uma reflexão a respeito do processo
conteúdos e tecnologia aos alunos pode ser insuficiente, devendo considerar um
trabalho mais amplo e multidisciplinar, no qual diferentes profissionais de áreas
diversas atuem em equipe, a fim de possibilitar soluções educacionais eficientes e
eficazes para diversos alunos e suas respectivas necessidades de formação.
Dentre as várias possibilidades geradas a partir de um levantamento de
necessidades educacionais, é indiscutível que a hipermídia e o hipertexto figurem
com especial destaque. Antes, porém, de determos nossa atenção às suas
principais características e potencialidades educativas, vale fazer algumas
distinções entre mídia, multimídia, hipertexto e hipermídia.
Para isso, iremos nos basear na leitura de Gosciola (2003) e no que o
autor, a partir de uma ampla pesquisa em autores que se debruçaram sobre o
tema, traz para o contexto atual e define o que é cada um dos termos. Para ele,
“mídia é uma apropriação da pronúncia em inglês do latim media, que significa
meios” (p. 26), ou seja, canais físicos em que as linguagens ganham corpo e
permitem o seu trânsito livre.Já o prefixo hiper “significa estendido, ampliado. Isso sugere, portanto, que hipermídia são meios estendidos, ampliados”. (p. 27)
Hipertexto, por sua vez, “é um texto que faz referências a outros textos e que possibilita ir ao encontro deles” (p. 30).Ou seja, o hipertexto nada mais é do que um documento eletrônico que se liga a outros documentos eletrônicos de
naturezas diversas, que variam do texto ao vídeo, por exemplo7.
7 A definição de Pierre Lévy (2001, p. 33) para o hipertexto também é bastante apropriada e traduz
a perspectiva do autor a respeito da cibercultura. Para ele, hipertexto é um “conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, sequências sonoras, documentos completos que podem eles mesmos ser hipertextos. Os itens de informação não são ligados linearmente, como em uma corda com nós, mas cada um
Gosciola, a partir da leitura de Laufer e Scavetta, define a multimídia como
sendo “o conjunto de meios utilizados ao mesmo tempo para a comunicação de
conteúdos que pode ser navegado de maneira linear ou não linear”.8
Finalmente, o autor apresenta a hipermídia como
o conjunto de meios que permite acesso simultâneo a textos, imagens e sons de modo interativo e não linear, possibilitando fazer links entre elementos de mídia, controlar a própria navegação e, até, extrair textos, imagens e sons cuja sequência constituirá uma versão pessoal desenvolvida pelo usuário. (2003, p. 34)
Desse modo, é importante ressaltar que a característica máxima que deve
diferenciar a hipermídia de conceitos como hipertexto e multimídia é o alto nível
de interatividade permitido ao usuário, além do acesso não linear promovido pelos
links entre os conteúdos.
Vale salientar ainda que a hipermídia possui uma linguagem própria e
particular, uma vez que ela congrega um conjunto de linguagens como a
fotográfica, a sonora, a visual e a audiovisual. Não por acaso, Lucia Santaella
(2005) dedica um capítulo inteiro do seu livro a discutir suas principais
características. Para a autora,
o primeiro grande poder definidor da hipermídia está na hibridização das matrizes de linguagem e pensamento, nos processos sígnicos, códigos e mídias que ela aciona e, consequentemente, na mistura de sentidos receptores, na sensorialidade global, sinestesia reverberante que ela é capaz de produzir, na medida mesma em que o receptor ou leitor imersivo interage com ela, cooperando na sua realização. (2005, pp. 391-2)
8
Roger Laufer & Domenico Scavetta. Texto, hipertexto, hipermedia, Porto: Rés, 1997 apud
De fato, as questões de recepção, sobretudo quando se trata de um curso
on-line, são importantes. A mesma autora, em outra obra de bastante relevância9, amplia a discussão aqui delineada, ao buscar compreender quais são os tipos de
leitores e suas principais características. Porém, como nosso foco de pesquisa é
o designer educacional, figura fundamental no processo de roteirização de
estruturas hipertextuais e hipermidiáticas, não iremos além nesta discussão.
Apesar de ter antecipado a apresentação do hibridismo de linguagens que
a hipermídia congrega, vale apresentarmos sucintamente quais são as demais
matrizes de linguagem propostas por Santaella, a saber: matriz visual, matriz
verbal e matriz sonora, para, em seguida, apresentar alguns recursos didáticos
que podem ser desenvolvidos, considerando suas configurações e estruturas e a
natureza de sua linguagem. O objetivo aqui é apresentar algumas possibilidades
didáticas de utilização de tais recursos para que o designer educacional consiga
refletir sobre a melhor escolha, considerando soluções educacionais específicas.
*
Lucia Santaella parte de três matrizes básicas: a verbal, a visual e a
sonora, a fim de buscar padrões inerentes a cada uma delas. Discípula de Peirce,
a autora associa as três matrizes aos conceitos de primeiridade, secundidade e
terceiridade.10
Para Santaella (2005, p. 18), “a linguagem verbal está para a terceiridade, assim como a visual está para a secundidade e a sonora para a primeiridade”, já
9
SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004.
10
que “o verbal é uma questão do símbolo, o visual, uma questão do índice e o
sonoro, uma questão do ícone”.
Na matriz sonora, a autora apresenta os três elementos constituintes da
música: ritmo, melodia e harmonia e seus desdobramentos. Já na matriz visual, a
forma é o principal eixo de sua linguagem e se subdivide em: formas não
representativas, formas figurativas e formas representativas (ou simbólicas).
Finalmente, na matriz verbal, a autora mostra que suas principais possibilidades
são: a descrição, a narração e a dissertação.
É sabido que o designer educacional, ao desenvolver um curso on-line,
muitas vezes se depara com a necessidade de misturar a palavra escrita ao som,
ou de se valer de imagem e texto para contar uma história de outra forma. Nem
sempre as matrizes serão encontradas em seu estado “puro”, mas imbricadas de
características das demais.
Assim, o designer educacional tem a seu dispor muitas possibilidades de
recursos didáticos a serem desenvolvidos, cada um com uma linguagem própria e
específica, servindo a diferentes finalidades e estilos de aprendizagem.
Justamente por isso, entender como as pessoas aprendem é fundamental. Esse é
um tema de extrema complexidade e alguns autores se detiverem em sua
exaustiva exploração.
Um deles foi o psicólogo australiano, John Sweller11, cuja teoria da carga cognitiva apresenta uma série de princípios que devem nortear um ambiente de
aprendizagem eficiente e que promova um aumento na capacidade do processo
de cognição humana. Esta teoria “parte das implicações da capacidade limitada
da memória de trabalho12 para o desenho das instruções, centrando-se na forma como estas impõem uma carga cognitiva aos aprendizes” (MIRANDA, 2009, p.
232).
Andrea Filatro, a partir desta teoria, diz que
o design instrucional deve adotar princípios que reduzam a carga cognitiva, liberando a memória de trabalho para os processos de integração com os modelos mentais. Isso significa, por exemplo, eliminar informações visuais irrelevantes, omitir música de fundo e som ambiente que não estão relacionados ao conteúdo e apresentar textos objetivos. (2008, p. 73)
É sabido também que, nesta teoria, os alunos aprendem melhor quando se
combinam palavras e imagens, de preferência, de modo simultâneo, para que não
tenha sua atenção dividida entre um texto e uma animação na mesma tela, por
exemplo.
Como cabe ao designer educacional “especificar que tipo de informações
verbais e não verbais devem fazer parte dos conteúdos do aprendizado
eletrônico” (FILATRO, 2008, p. 84), conhecer como é possível minimizar a carga
cognitiva – em prol de uma aprendizagem mais eficaz – dos alunos que irão se deparar com a solução educacional proposta é imprescindível.
A partir de agora, o foco de nossa pesquisa se volta para alguns recursos
midiáticos passíveis de utilização em cursos on-line, suas principais
características e possibilidades pedagógicas. Como a quantidade e as
possibilidades são inúmeras, optou-se por restringir a pesquisa aos seguintes
12 A memória de trabalho possui uma capacidade limitada. Ela retém e manipula sons e imagens
recursos: histórias em quadrinhos (HQ), podcasts e vídeos didáticos e interativos,
a fim de fazer esse levantamento.
*
1.1 História em quadrinhos
Desde os primórdios o ser humano conta histórias. Seja de modo circular,
por meio do discurso oral reproduzido por gerações, seja de modo rupestre, com
inscrições em cavernas. Seja, ainda, na linearidade que a escrita proporcionou.
Uma ótima maneira de contar uma história é utilizando o espaço
circunscrito dos quadrinhos13. Diariamente, leitores diversos têm acesso a esse tipo de narrativa em revistas, tiras de jornais, charges divulgadas na TV ou na
internet, ou nos famosos "gibis".
São muitos os tipos de histórias em quadrinhos, com diferentes
personagens que lhes dão vida: super-heróis, animais antropomorfizados,
voltadas para o público adulto, com forte apelo sexual, ou criadas para o universo
infantil e suas peripécias. De qualquer forma, algumas características são
mantidas: a utilização de personagens, com suas falas curtas impressas em
balões14 ou legendas, de fácil compreensão, e com cenários que ajudam na representação da história, de cunho real ou com maior apelo fictício.
13 “Na Europa, em meados do século XIX, a arte em quadrinhos foi apreciada, depois do seu
surgimento, com a edição das histórias de Busch (na Alemanha) e de Topffer (na Suíça). No fim do século XIX, surge o primeiro herói dos quadrinhos: O Menino Amarelo, (Yellow Kid) criado por Richard Outcault e publicado semanalmente no Jornal New York World, no final do século XIX.”, in
http://www.eproinfo.mec.gov.br/webfolio/Mod83201/cont1/hq3_intro.html. Acesso em 01/09/2010.
14 Segundo Asa Briggs e Peter Burke (2004, p.14), alguns fenômenos midiáticos são mais antigos
do que se imagina. Com relação aos balões de falas, eles informam que “podem ser encontrados
O interessante é que a linguagem utilizada nos quadrinhos, apesar de
escrita, reflete os traços da oralidade, uma vez que as situações normalmente ali
apresentadas se dão a partir de diálogos, em que os personagens interagem e
expressam sensações e sentimentos pela face ou pelo corpo. Daí ser
fundamental que a linguagem visual seja feita com esmero, para transmitir, ao
leitor, verossimilhança.
Independentemente se a história em quadrinhos será utilizada com fins
didáticos ou não, a concepção da ideia que a baseia é feita a priori, em um roteiro
pré-concebido a partir de palavras e imagens. Segundo Eguti (1999),
como o produto final deve ser lido como um todo visual, percebe-se que a imagem predomina sobre o texto. No entanto, o conceito de história narrada é ampliado e desenvolvido pelas palavras que, tanto pelo seu significado como por seu aspecto gráfico e visual, complementam a arquitetura da composição de cada quadro.
Vale ressaltar ainda que existem alguns passos básicos que não podem
ser negligenciados durante o desenvolvimento do roteiro: que história se quer
contar? A resposta a esta pergunta deverá conter três linhas, o story line. Na
sequência, deve-se ampliar essa espinha dorsal para a criação da sinopse. E,
finalmente, o argumento, que vai unir os personagens e as situações narradas na
HQ.
(http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas/revistas_link.cfm?Edicao_Id=245&Artigo_I
D=3810&IDCategoria=278&reftype=2– Acesso em 05/08/2010).
Pedagogicamente, as HQs são utilizadas, principalmente, com o objetivo
de estabelecer uma provocação inicial, para suscitar uma dúvida, iniciar uma
Super-homem das revistas em quadrinhos, com 400 anos de antecedência, mergulhando de
discussão em grupo de maneira descontraída, apontar conceitos-chave
escondidos em situações do dia-a-dia ou apresentar um caso que sirva como
estudo.
É possível dizer, ainda, que as histórias em quadrinhos colaboram no
entendimento do conteúdo abordado, pelo fato de possuir indicações que
remontam a significados e associações. Ou seja, pela maneira como a cena é
demonstrada no quadrinho, o aluno pode identificar a intenção do texto,
remontando o significado daquele exemplo em sua mente15.
Imagem, balões de fala e pensamento, onomatopeias. Com predominância
da matriz visual, nas histórias em quadrinhos facilmente se encontram as outras
duas matrizes, ou, pelo menos, a matriz verbal da linguagem16.
1.2 Podcasts
Se Thomas Edison, o pai da “lâmpada elétrica”, fosse vivo, certamente
tomaria um susto com a profusão de possibilidades de comunicação que a
descoberta da energia elétrica proporcionou. Hoje, internet, televisão e rádio
concorrem pela atenção do usuário/expectador/ouvinte. Mas durante pelo menos
três décadas, o rádio era hegemônico. Até a chegada da televisão, era ele que
levava informação e entretenimento aos lares de todo o mundo. Quem nunca
15
São inúmeras as possibilidades de utilização de HQs em salas de aula. Confira em: http://www.ensino.net/novaescola/121_abr99/html/material.htm. Acesso em 07/08/2010.
16
Gustavo Cunha de Araújo et al fazem coro a esse entendimento, pois, para eles, “a mensagem
das histórias em quadrinhos é transmitida ao leitor por dois processos: por meio da linguagem verbal – expressa a fala, o pensamento dos personagens, a voz do narrador e o som envolvido – e por meio da linguagem visual – no qual o leitor interpretará as imagens contidas nas histórias em
ouviu histórias de audiências inteiras com o ouvido colado ao rádio da sala
acompanhando as aventuras de heróis e anti-heróis nas radionovelas?17
Não demorou para que este meio de comunicação se prestasse à
educação. Segundo Consani,
o ideal humanista de Roquette-Pinto, que influenciou profundamente a relação entre rádio e educação no Brasil, era plenamente justificável: o rádio, enquanto inovação tecnológica de grande potencial, deveria ser empregado prioritariamente para levar educação e cultura a todas as partes do país. (2007, p.33)
Durante algumas décadas, a educação a distância passou a ser veiculada
através das ondas do rádio. O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
(Senac), no ano de 1947, inaugurava a “Universidade do Ar” (UNAR) que tinha como objetivo capacitar comerciantes e empregados em técnicas comerciais, por
meio de programas de rádio. Esses programas eram organizados em “lições”,
produzidos por uma equipe multidisciplinar e apresentados por locutores ou
artistas. A Universidade do Ar atingiu sua maior audiência na década de 1950,
com 80 mil ouvintes.18
O tempo passou, tecnologias novas surgiram, meios de comunicação se
modernizaram, mas o rádio não deixou de existir e isso nem é questionável.19
17 É histórica a apresentação adaptada da obra de ficção científica A guerra dos Mundos proposta
pelo cineasta Orson Welles. No final de outubro de 1938, a rádio Columbia Broadcasting System levou ao ar sua transmissão e deixou muitos ouvintes em pânico ao acreditarem que os extra-terrestres estavam invadindo seu país. Confira mais detalhes em
http://www.pucrs.br/famecos/vozesrad/guerradosmundos/index2.htm (Acesso em 20/11/2010).
18 Estas informações podem ser encontradas em:
http://www.sp.senac.br/jsp/default.jsp?tab=00002&newsID=a7409.htm&subTab=00200&uf=&local= &testeira=453&l=&template=&unit=ANY. Acesso em 25/03/2010
19André Lemos, estudioso da cibercultura, faz a mesma ressalva: “não é o fim do rádio como meio
Afinal, ele favorece uma cumplicidade, pouco vista nos outros meios, pois é
possível sintonizá-lo enquanto dirigimos ou nos deslocamos de qualquer outra
forma, quando estamos em casa, fazendo faxina, lendo ou tomando banho. Ele
não pressupõe uma atitude passiva, como a televisão ou o cinema, já que você
liga o rádio e não é impedido de fazer outras coisas. Ele continua convivendo com
outras mídias e, nesse novo contexto, se moderniza.
Esse caráter móvel da atual sociedade facilita a utilização do rádio. As
novas gerações estão sempre conectadas com mp3 ou celulares nos quais, entre
outras coisas, é possível sintonizar a emissora de rádio preferida, ouvir arquivos
de música ou podcasts. E são eles quem nos interessam mais de perto.
Podcast é a junção de Ipod (aparelho produzido pela Apple, para reproduzir
arquivos mp3) e o termo Brodcast, palavra inglesa que significa transmissão. Em
linhas gerais, podcast pode ser definido “como um programa de rádio
personalizado gravado nas extensões mp3, ogg ou mp4, formatos digitais que
permitem armazenar músicas e arquivos de áudio num espaço relativamente
pequeno.” (BARROS, MENTA, 2007). Esses arquivos podem ser reproduzidos
diretamente no navegador, ou seja, de modo on-line, como também podem ser
também é muito bom ouvir um programa massivo no carro ou os comentários dos jogos de futebol nos estádios em tempo real com um radinho de pilha. Usuários com papéis diferenciados, funções diferenciadas e mídias diferenciadas. Não se trata da substituição de um formato por outro, já que os dois sistemas suprem necessidades não concorrentes: o rádio massivo coloca o ouvinte em sintonia com uma esfera coletiva; a emissão personalizada permite escolhas de acordo com o gosto pessoal, além de um controle do espaço e do tempo da audição”. Trecho retirado do artigo PODCAST. Confira em http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/404nOtF0und. Acesso em 08/07/2010.
baixados para serem ouvidos posteriormente no próprio computador ou em outros
aparelhos.
Essa nova forma de comunicação está associada, como já dito, a
mudanças de cunho social. Agora, as pessoas podem ouvir, na hora e local que
julgarem mais conveniente, seus programas ou entrevistas favoritos ou, por que
não?, a uma radionovela do curso a distância em que está matriculado.
Mas antes de nos determos no uso pedagógico que pode ser feito a partir
de um recurso como este, é importante salientar suas principais características
em termos de linguagens.
Apesar de oral, a oralidade radiofônica “vai se modificando com a inclusão de fórmulas de expressão consagradas pela audiência e mantém um certo
respeito às normas cultas de expressão” (CONSANI, 2007, p. 28), ou seja,
mesmo com base na oralidade, o rádio valoriza o que preconiza a expressão
escrita da linguagem. Não é de se espantar que,
no caso específico da comunicação sonora, é notável como a fluência verbal requer um modo de organizar ideias diferente (e complementar) daquele empregado para nos comunicarmos por escrito. Isso talvez explique por que algumas pessoas preferem falar de improviso, contrapondo-se àquelas que não abrem mão de suas anotações prévias. (CONSANI, 2007, p.29)
Mais uma vez nos deparamos com uma roteirização que se utiliza da
linguagem falada e escrita, e que deve levar em consideração a construção de
falas curtas, com entonação clara e limpa, se possível com fundos musicais e
sonoplastias, sem perder de vista o contexto no qual a audiência se insere,
A imaginação e criatividade do designer educacional, a partir dos objetivos
educacionais propostos, é que ditará qual caminho escolher para disponibilizar
conteúdos por meio de podcasts, ou mesmo numa utilização mais ampla de
recursos de áudio em cursos on-line. Afinal, a quantidade de formatos possíveis
de serem trabalhados em uma programação em áudio é imensa.
Barbosa Filho (2003) dedica um capítulo inteiro do seu livro na
classificação dos gêneros radiofônicos e respectivos formatos. Para ele, são sete
os gêneros radiofônicos, a saber: jornalístico, educativo-cultural, entretenimento,
publicitário, propagandístico, de serviço e especial (focado em programas infantis
e de variedades).
No levantamento feito pelo autor, o gênero que, de imediato, se presta a
questões voltadas à área educacional é o educativo-cultural. Ele acredita que o
gênero não deva ser usado isoladamente, mas
como parte integrante de uma estratégia de difusão de conhecimentos em que estejam contemplados outros meios, sendo sua atuação definida por ações que estimulem o aprendizado por meio do uso da linguagem do imaginário ou que existam como sustentação de ações educativas em que há o emprego da imagem e do impresso. (BARBOSA FILHO, 2003, p. 111)
O autor apresenta, ainda, alguns formatos possíveis, como o programa
instrucional – empregado como suporte a cursos de alfabetização e de ensino de idiomas, por exemplo; a audiobiografia – cujo tema central é a vida de uma personalidade; o documentário educativo-cultural – feito de maneira mais elaborada, que pressupõe a utilização de trilhas, efeitos e vinhetas para
apresentar temas de interesse e finalidade educacional específica; e, finalmente,
o programa temático cuja finalidade é a discussão de temas sobre a produção do
Porém, essa lista pode ser ampliada, uma vez que outros gêneros
radiofônicos, como o gênero jornalístico, por exemplo, são passíveis de serem
utilizados com um caráter mais formativo. É possível disponibilizar aos alunos
entrevistas com especialistas abordando temas complementares às aulas ou
mesmo notícias e curiosidades sobre o que está sendo trabalhado em
determinada disciplina ou curso.
A interatividade também pode ser explorada por meio da abertura de
espaço para comentários dos alunos sobre o conteúdo que foi ouvido. Ampliando
a participação do aluno, cria-se mais um ponto forte no processo de
aprendizagem.20
Retomando a teoria das matrizes de Santaella, não é difícil perceber que a
matriz preponderante neste meio é a matriz verbal, se pensarmos que o podcast
pode ser utilizado para apresentar ao ouvinte entrevistas de diversos tipos.
Porém, a matriz sonora também entra como pano de fundo quando a trilha
sonora, os ruídos e variados tipos de sons compõem uma dramatização, por
exemplo, ou divide as seções de uma programação radiofônica.
20
1.3 Vídeos didáticos e interativos
A televisão está presente na vida das pessoas. Antes circunscrita às casas,
esse meio de comunicação tem ganhado outros espaços, como as salas de
espera de consultórios médicos, diferentes tipos de transporte público das
grandes capitais e até os elevadores de prédios comerciais.
A partir dos nos 60 seu predomínio foi cada vez maior e fez com que a
televisão assumisse um lugar de destaque na sociedade, praticamente obrigando
os outros meios de comunicação a se modificarem, a fim de encontrarem um
âmbito de atuação próprio.
Esse potencial midiático que a televisão encerra leva à reflexão sobre as
possibilidades educativas que dela podem ser extraídas. Não é de se espantar
que grande parte dos estados brasileiros possua sua TV Educativa ou voltada à
cultura de uma maneira mais ampla. A Fundação Roberto Marinho é um exemplo
nesse sentido, já que desenvolve programas educativos21, transmitidos pela
programação aberta da principal emissora do país a toda a população.
Aproveitar a gama de possibilidades dos recursos de vídeo é bastante
importante também no ambiente virtual de aprendizagem. Algumas instituições de
ensino utilizam teleconferências22 ou videoconferências23 como base para suas
21 A Fundação Roberto Marinho desenvolve vários projetos de formação. Merecem especial
destaque o Telecurso 2000 e o Telecurso TEC, ambos voltados para a formação de jovens e adultos. Confira em: http://www.frm.org.br/. Acesso em 26/05/10.
22 Na teleconferência o sinal de televisão é gerado e transmitido via satélite até os pontos em que
se encontram os alunos. A informação que chega transita por via de mão única, do local de transmissão para o de recepção, sem retorno. A interação, neste caso, não é contemplada.
23
aulas. Instituições que não possuem equipamentos específicos para tal fim podem
desenvolver seu próprio material em vídeo para determinada situação educativa.
Porém, há que se tomar cuidado nesse desenvolvimento já que, para
muitos, a linguagem utilizada segue o modelo clássico do documentário, quando
não o da aula tradicional, sem muito dinamismo. Essa linguagem é mais lenta,
mais expositiva, menos atrativa e pode, facilmente, desinteressar o aluno.
Ferrés (1996) sistematizou algumas modalidades de utilização didática do
vídeo. Para ele, essa sistematização não deve ser entendida como definitiva, mas
apenas “como base para uma utilização didática eficaz e como passo fundamental para a descoberta de novas formas de uso”. (FERRÉS, 1996, p. 20)
Das possibilidades apresentadas pelo autor, nos interessa, sobretudo, a
videolição, ou exposição sistematizada de alguns conteúdos e o vídeo interativo.
“A videolição poderia ser considerada como o equivalente de uma aula expositiva”. (FERRÉS, 1996, p. 21). Vale salientar ainda que o ritmo, a estrutura e
a duração são pré-estabelecidos na videolição e não permitem nenhuma espécie
de mudança. Como recurso didático utilizado para estudo individualizado em
ambientes virtuais tem seu uso potencializado, já que possibilita que um programa
possa ser visto tantas vezes quantas sejam necessárias, ao mesmo tempo em
que permite retroceder ou avançar o ritmo.
Já o vídeo interativo tem origem no encontro de duas tecnologias: o vídeo e
a informática. Deixando de lado a linearidade e a unidirecionalidade da
programação audiovisual, no vídeo interativo há o constante diálogo entre o
homem e a máquina. As sequências de imagens e decisões de
o rumo que a história deverá seguir, podendo assistir a diferentes “finais” pré -definidos.
Normalmente, essa estratégia é utilizada para trazer exemplos reais do dia
a dia e contrapor as consequências de diferentes escolhas/tomadas de decisão
frente a um mesmo problema. Nesse sentido, o aluno exerce total influência de
acesso ao conteúdo e o percurso é definido pela sua interação, o que permite que
ele exerça sua autonomia, colaborando para a construção efetiva do seu próprio
conhecimento.
Seja como videolição, seja com um grau maior de interatividade, há, no
vídeo, uma mistura de elementos expressivos, que englobam os visuais e
sonoros. Apesar de terem identidade isoladamente, eles somente adquirem
significado em conjunto. Para Ferrés,
o significado global de um programa supera o significado parcial de cada um dos elementos que o configuram. Sequer se pode dizer que o significado do programa seja o resultado da soma de cada um de seus elementos. Em todo caso, seria o resultado da soma das interações que se estabelecem entre todos seus elementos que o configuram. (1996, p. 67)
Como estratégia de aprendizagem, a utilização do vídeo em aulas on-line
pode servir apenas como meio de informação. Mas, para o autor, ele pode “se
converter também em um excelente instrumento para que o aluno aprenda a
formular perguntas, para que aprenda a expressar-se, para que aprenda a
aprender”. (FERRÉS, 1996, p. 70),
*
De tudo o que foi exposto até aqui, é fácil perceber que há uma ampla
os encontros educativos. Conhecer a linguagem inerente a cada um deles, e a
hibridização de múltiplas linguagens que muitos destes recursos trazem em seu
bojo, é determinante para proporcionar uma escolha pedagógica eficaz.
Assim, o designer educacional tem um papel fundamental neste processo.
Daí a importância de conhecer as possibilidades que a internet, a multimídia e a
hipermídia apresentam a fim de que traduza essas potencialidades em prol da
educação on-line.
Vale considerar ainda que este profissional não trabalha sozinho, mas faz
parte de uma equipe multidisciplinar, da qual participam desde os professores
responsáveis pela elaboração do conteúdo, passando por webdesigners,
ilustradores e programadores. Dessa forma, é fundamental esclarecermos quem é
este profissional, quais são as competências que estão na base desta profissão e
CAPÍTULO 2: O PERFIL DO DESIGNER EDUCACIONAL E SUA IMPORTÂNCIA NO TRABALHO MULTIDISCIPLINAR
Com a disseminação do uso das tecnologias de informação e
comunicação, em especial da internet, a educação a distância (EAD) ganhou
novos contornos, carecendo de um processo constante de maturação e
modificação da sua forma. Se antes a EAD utilizava como principais meios o
rádio, a TV ou o material impresso, agora ela acontece, sobretudo, em ambientes
virtuais de aprendizagem24, o que faz com que o olhar sobre o planejamento e a
implementação de conteúdos e atividades educacionais se amplie e se modifique.
Com isso em mente, vários pesquisadores se dedicaram a estudar o
impacto da internet na educação, a aprendizagem em cursos on-line, o papel do
professor nesse contexto e como planejar situações de aprendizagem
significativas em meios digitais, todos esses assuntos intensamente discutidos
nos últimos anos.
Neste trabalho, o que nos interessa é, fundamentalmente, o último item
destacado no parágrafo anterior, pois as questões referentes ao desenvolvimento
de material didático, aliado ao planejamento, implementação e avaliação de
atividades em cursos on-line necessitam de um permanente debruçar, trazendo
novas perspectivas e diversos pontos de vista.
24 Para Allegretti (2003, pp. 66-7), ambiente de aprendizagem “é aquele que propicia ou
potencializa a aprendizagem, tendo como elementos constitutivos: a estrutura física (concreta ou virtual); as metodologias empregadas, possibilitadas pelo ambiente; bem como as condições de socialização; todos esses elementos devem estar articulados e não justapostos como se fossem
Entre os principais autores que iluminaram tais questões, temos como
principal expoente Andrea Filatro, com dois livros publicados sobre o tema. Para
ela, todo esse trabalho pode ser resumido como “o planejamento, o
desenvolvimento e a utilização sistemática de métodos, técnicas e atividades de
ensino para projetos educacionais apoiados por tecnologias” (FILATRO, 2004, p.
32).
A partir do advento da internet, o processo de desenho pedagógico
também se modifica e se amplia, pois sai das linhas retas do material impresso, e
sua produção de materiais didáticos, para ambientes hipermidiáticos com uma
infinidade gigantesca de recursos25.
Assim, fazemos eco às palavras da autora quando ela diz que tal processo
é mais amplo e complexo, já que
envolve – além de planejar, preparar, projetar, produzir e publicar textos, imagens, gráficos, sons e movimentos, simulações, atividades e tarefas relacionados a uma área de estudo – maior personalização dos estilos e ritmos individuais de aprendizagem, adaptação às características institucionais e regionais, atualização a partir de feedback constante, acesso a informações e experiências externas à organização de ensino, favorecendo ainda a comunicação entre os agentes do processo (professores, alunos, equipe técnica e pedagógica, comunidade) e o monitoramento eletrônico da construção individual e coletiva de conhecimentos. (FILATRO, 2004, p.33)
Porém, a partir de agora passamos a nos distanciar de Filatro, com relação
à escolha semântica dos termos design instrucional, adotados por ela nas duas
25 “O uso dessas tecnologias implica em romper com a linearidade da representação do
pensamento e implicam em novas formas de expressar o pensamento, comunicar, perceber o espaço e o tempo, organizar e produzir conhecimento com o uso de múltiplas linguagens (escrita,
visual, sonora...)”. in ALMEIDA, Maria Elizabeth B. de; PRADO, Maria Elisabette B. B. Desafios e possibilidades da integração de tecnologias ao currículo. Artigo elaborado para subsidiar o curso
“Ensinando e aprendendo com as TICs”, promovido pelo Ministério da Educação, sob
responsabilidade da Secretaria de Educação a Distância, no ano de 2008.