Sumário
1 Espaço tangente e derivada 1
Lista de Figuras
1.1 vetor ⃗v . . . 1 1.2 vetor ⃗pv . . . 2 1.3 Vetor tangente em p . . . 2 1.4 Espaço tangente de p . . . 3 1.5 Diagrama 1 . . . 5 1.6 Diagrama 2 . . . 6 1.7 Diagrama 3 . . . 6 1.8 Diagrama 4 . . . 71.9 Imersão (não mergulho) . . . 9
1.10 Diagrama 5 . . . 10
1.11 Diagrama 6 . . . 10
1.12 Diagrama 7 . . . 12
1.13 Diagrama 8 . . . 13
Capítulo 1
Espaço tangente e derivada
No capítulo anterior definimos uma aplicação diferenciável entre duas vari-edades diferenciáveis. Nada mais natural do que se perguntar sobre a derivada dessa aplicação. Surge, então, o seguinte problema: Se as variedades em ques-tão não são espaços vetoriais (embora, localmente, sejam difeomorfas a umRn), como podemos derivar a tal aplicação?
Relembremos o que acontece em espaços euclideanos.
Quando pensamos em Rn como espaço vetorial, associamos um ponto v ∈ Rna um vetor com ponto inicial na origem 0 e ponto final em v.
v v
Figura 1.1: vetor ⃗v
Em outras situações, gostaríamos de pensar o mesmo vetor partindo de um ponto diferente da origem, digamos p∈ Rn.
p
p + v
v v
Figura 1.2: vetor ⃗pv
Este é o caso, por exemplo, do “vetor velocidade” ou “vetor tangente” a uma curva diferenciável c : R → Rn. Temos que c′(t) = (c′
1(t),· · · , c′n(t)) é um ponto deRne a curva entre os pontos c(t) e c(t) + c′(t)é tangente à curva.
c(t)
c(t) + c′(t)
c′(t)
Figura 1.3: Vetor tangente em p
Denotaremos pelos pares (p, v) aos vetores de ponto inicial p e ponto de che-gada p + v. O conjunto de todos esses pares, que éRn×Rn, chamamos de espaço
3 tangente deRne denotamos por TRn. O seus elementos são chamados de vetores
tangentes deRn.
Às vezes, denota-se o par (p, v) ∈ T Rn por vp o vetor tangente em p, mas às vezes é conveniente denotar um elemento de TRn apenas por v, sem fazer referência ao ponto; e uma vez fixado o ponto p, denotamos o conjunto de todos (p, v)para v ∈ Rnpor TpRnouRn
p.
Para reobter o primeiro ponto do par v ∈ T Rn, definimos a aplicação proje-ção π : Rn× Rn → Rnpor π(u, w) = u. Ou seja, para qualquer vetor tangente,
π(v)é exatamente onde v está. O conjunto pré-imagem de p, π−1(p)que chama-mos de fibra sobre p , é formado por todos os vetores tangentes em p.
p
Figura 1.4: Espaço tangente de p
Na terminologia de fibrados, dizemos que (TRn,Rn,Rn, π)é o fibrado (tan-gente) com baseRn, fibraRn, espaço total TRne projeção π. Veremos logo mais outros exemplos de fibrados e a definição mais geral.
Se f : Rn → Rmé uma aplicação diferenciável, e p ∈ Rn, a transformação linear Df (p) :Rn→ Rminduz uma tranformação linear deRn
p → Rmf (p)por
v 7→ [Df(p)(v)]f (p).
Para definir a derivada de uma aplicação diferenciável f : M → N, onde M e
N são variedades diferenciáveis, vamos associar a cada ponto x∈ M um espaço vetorial TxM, o espaço tangente a M em x, e mostrar que existe uma aplicação linear Df (x) : TxM → Tf (x)N, que chamamos de derivada de f no ponto x. Os elementos de TxM são os “vetores tangentes” às curvas diferenciáveis passando por x.
Duas curvas α, β : (−ϵ, ϵ) → M passando por x em t = 0 são equivalentes em x se existe uma carta local φi : Ui → eUiem x tal que (φi◦α)′(0) = (φi◦β)′(0). Esta definição independe da escolha da carta, uma vez que, se tivermos outra
φj : Uj → eUj, então
(φi◦ α)′(0) = D(φj ◦ φ−1i (φi(x))(φi◦ α)′(0) (φi◦ β)′(0) = D(φj ◦ φ−1i (φi(x))(φi◦ β)′(0).
De fato, esta é uma relação de equivalência no conjunto das curvas diferenciá-veis passando por x. A classe de equivalência de α, [α], é chamada de vetor
tan-gente a α em x, denotada também por α′(0). O espaço tangente a M em x,TxM, é o conjuntos desses vetores.
Podemos definir uma estrutura de espaço vetorial em TxM, visto que uma carta local φi : Ui → eUi, x ∈ Ui, induz uma bijeção Dφi(x)entre TxM eRm que associa a cada classe [α] o vetor (φ◦ α)′(0) ∈ Rm. Este vetor independe do representante da classe de equivalência [α]. Veja que esta é sobrejetiva, pois se
v ∈ Rm, então α(t) = φ−1i (φi(x) + tvé uma curva diferenciável passando por x e a imagem de [α] é v.
Vejamos que a estrutura de espaço vetorial independe das cartas locais. Ora, se φj : Uj → eUjé outra carta local com x∈ Uj, então
Dφj(x) = (Dφj◦ φ−1i )(φi(x))· Dφi(x).
Assim, se definimos a estrutura vetorial em TxM de modo que Dφi(x) é um isomorfismo, então Dφj(x)também é, pois (Dφj◦ φ−1i )(φ(x))é isomorfismo. 1 Exercício. 1) Mostre que a dimensão do espaço tangente TxM a Mm em x é dim(TxM ) = m.
2) O fibrado tangente a M , T M , é uma variedade de dimensão 2m.
Seja f : M → N uma aplicação diferenciável entre duas variedades diferen-ciáveis. Se α : (−ϵ, ϵ) → M é uma curva diferenciável com α(0) = x, então
f◦ α é uma curva diferenciável em N que passa por f(x). Defina Df (x) : TxM → Tf (x)N
[α]7→ [f ◦ α].
Veja que esta definição independe da escolha de α na classe de equivalência e que dadas duas cartas locais ψ : W ⊂ N → fW ⊂ Rne φ : U ⊂ M → eU ⊂ Rm, tais
5 que f (x)∈ W, x ∈ U, então Df(x) é dada por
Df (x) = (Dψ(f (x)))−1◦ D(ψ ◦ f ◦ φ−1)(φ(x))◦ Dφ(x),
que, sendo composta de aplicações lineares, é uma aplicação linear, chamada de
derivada de f no ponto x. Esta é a melhor aproximação linear de uma aplicação
diferenciável f : M → N entre variedades num ponto x.
Suponha que φ : U ⊂ M → eU ⊂ Rm é uma parametrização em x ∈ U e
ψ : V ⊂ N → eV ⊂ Rnparametriza y = f (x) e φ(x) = 0, ψ(y) = 0. Se eU é pequeno o suficiente o seguinte diagrama comuta:
M f h = ψ◦ f ◦ φ−1 N e U Ve φ ψ Figura 1.5: Diagrama 1 Logo, h :Rm → Rné diferenciável.
Pela regra da cadeia em espaços euclideanos, tomando as derivadas devemos ter também um diagrama comutativo de transformações lineares
Ora, considerando tais cartas locais, temos então que Df (x) = D(ψ−1◦ h ◦
φ) : TxM → TyN. Como vimos anteriormente, esta aplicação está bem definida (independe das cartas locais).
Regra da cadeia
Assim como no caso euclideano, um ferramenta muito útil relativa às deriva-das de aplicações é a regra da cadeia.
1.1 Teorema. Dadas duas aplicações diferenciáveis de classe C1, f : M → N, g :
N → P, M, N, P variedades C1. Então g◦ f : M → P ∈ C1e tem-se
TxM Dfx Dh0 TyN f Rm Rfn Dφ0 Dψ0 Figura 1.6: Diagrama 2
Demonstração. Se φ : U ⊂ M → eU ⊂ Rm é uma parametrização em x ∈ U,
ψ : V ⊂ N → eV ⊂ Rn parametriza y = f (x), η : W ⊂ P → fW ⊂ Rp parametriza z = g(y) e φ(x) = 0, ψ(y) = 0 e η(z) = 0.
Vamos mostrar que o seguinte diagrama comuta:
j = η◦ g ◦ ψ−1 η P f W M f h = ψ◦ f ◦ φ−1 N e U Ve φ ψ Figura 1.7: Diagrama 3
Derivamos o seguinte diagrama temos, por definição,
D(g◦ f)(x) = Dη0−1◦ D(j ◦ h)0 ◦ φ0.
Pela regra da cadeia entre aplicações de abertos em espaços euclideanos,
7 M g◦ f j◦ h P e U Ve φ η Figura 1.8: Diagrama 4 Assim, D(g◦ f)(x) = (Dη−10 ◦ Dj0◦ Dψ0)◦ (Dψ0−1◦ Dh0◦ Dφ0) = Dgy◦ Dfx.
Outra construção do espaço tangente é dada a seguir. Para tanto, considera-se a priori M ⊂ Rn.
Já se sabe que a derivada é a melhor aproximação linear de uma aplicação. Podemos usar a derivada para identificar o espaço linear que melhor aproxima uma variedade M num ponto M .
Seja φ : M → eU ⊂ Rkuma parametrização em x, com φ(x) = 0. A melhor aproximação linear de φ−1 : eU → M em 0 é dada por
v 7→ φ−1(0) + Dφ−10 (v) = x + Dφ−10 (v).
Definimos, então, o espaço tangente a M em x como sendo a imagem da aplicação Dφ−10 : Rk → Rn. Ou seja, TxM é o subespaço vetorial deRn cuja
translação paralela x + TxM é a melhor aproximação linear a M passando por x. Neste caso, um ponto v ∈ Rnque pertence ao subespaço vetorial TxM é um
vetor tangente a M em x.
2 Exercício. Mostre que esta definição também independe da escolha da carta local.
Imersões, submersões e mergulhos
Agora que definimos derivada de uma aplicação entre variedades, podemos trazer conceitos da análise para este contexto.
Como já foi dito, estamos interessados em estudar o comportamento de apli-cações entre variedades e, em particular, se elas são difeomorfas, ao menos local-mente.
Assim como em espaços euclideanos, uma condição necessária para que uma aplicação f : M → N, entre variedades de mesma dimensão, seja um difeomor-fismo local em x é que sua derivada Df (x) : TxM → Tf (x)N seja um isomor-fismo.
1.2 Teorema. Seja f : Mm → Nm aplicação diferenciável entre variedades
dife-renciáveis duja derivada no ponto x é um isomorfismo. Então, f é um difeomor-fismo local em x.
3 Exercício. Demonstre o Teorema1.2.
1.3 Observação. Recordemos que uma aplicação linear é chamada de não singular
se a sua matriz representante tem determinante não nulo.
O Teorema 1.2 nos diz que para verificar se f leva difeomorficamente uma vizinhança do ponto x numa vizinhança de sua imagem f (x) basta verificar se
det[Df (x)]̸= 0, onde [A] é a matriz de uma aplicação linear A.
Um exemplo típico de um difeomorfismo local que não é global é a função
f :R → S1
1.4 Lema. Seja X uma variedade suave não-compacta e Ki ⊆ intKi+1 uma
sequência de compactos tais que X =∪i∈NKi. Dadas sequências ϵi > 0e ωi > 0
de números positivos onde i∈ N então existem funções f; g : X → R+suaves tais
que para todo x∈ Ki+1\ intKitemos que 0 < f (x)≤ ϵie ωi ≤ g(x)
Demonstração. Exercício.
Formas locais
1.5 Definição. Seja f : M → N uma aplicação diferenciável entre variedades.
Dizemos que f é:
1. Imersão em x ∈ M, se Df(x) : TxM → Tf (x)N é injetiva; Se valer para
9
2. Submersão em x ∈ M, se Df(x) : TxM → Tf (x)N é sobrejetiva; Se valer
para todo x∈ M, diz-se que f é uma submersão.
3. Mergulho se f é uma imersão e um homeomorfismo de M sobre sua imagem f (M )⊂ N.
Exemplo: Uma imersão que não é mergulho.
R f
Figura 1.9: Imersão (não mergulho)
Observe que f pode ser tomada como imersão, mas não é um mergulho por
não ser homeomorfismo. ♢
A imersão canônica é a aplicação inclusão de inc : Rm → Rn, m ≤ n, que leva (a1,· · · , am)no ponto (a1,· · · , am, 0,· · · , 0).
Na verdade, a menos de difeomorfismos, esta é a única imersão.
1.6 Teorema. Seja f : M → N uma imersão em x. Então existem coordenada
locais em torno de x e y = f (x) tais que
f (x1,· · · , xm) = (x1,· · · , xm, 0,· · · , 0).
Demonstração. Escolha cartas locais φ(x) = 0 e ψ(y) = 0 tais que o diagrama
abaixo comute Agora, aplicamos o Teorema da função inversa para g.
Como Dg0 :Rm → Rné injetiva, por uma mudança de base emRnpodemos
supor que tem um matriz n×m da forma(Im
0
)
, com Ina matriz identidade n×n. Defina a aplicação G : eU × Rn−m → Rnpor
G(u, v) = g(u) + (0, v).
Note que G leva um conjunto aberto deRnemRne a matriz de DG
0 = In. Daí,
pelo teorema da inversa, temos que G é um difeomorfismo local deRnem torno de 0.
M f g N e U Ve φ ψ Figura 1.10: Diagrama 5
Veja também que g = G◦ inc, inc = inclusão canônica. Já que ψ−1e G são difeomorfismos locais em 0, também o é ψ−1◦G. Logo, esta última pode se usada como carta local de N em y.
Ademais, diminuindo eU e eV se necessário, temos que o diagrama abaixo co-muta M inc N e U Ve φ−1 ψ−1◦ G Figura 1.11: Diagrama 6
1.7 Corolário. Se f é uma imersão em x, então é uma imersão numa vizinhança
de x.
É importante notar que a imersão é uma condição de natureza local, estrita-mente. Se tivermos uma imersão entre duas variedadesde mesma dimensão, por exemplo, é o mesmo que termos um difeomorfismo local.
11 Por outro lado, difeomorfismos (globais) devem satisfazer, ao mesmo tempo, uma condição topológicaglobal e uma diferencial local: devem ser difeomorfis-mos locais e devem ser bijeções.
Em geral, o nosso interesse recai sobre a imagem das imersões. Na imersão canônica, sua imagem é o melhor exemplo de uma subvariedade. Entretanto, nem sempre a imagem uma imersão qualquer é uma subvariedade. Isto porque para f (M ) ser uma variedade é necessário que todo ponto tenha vizinhanças pa-rametrizáveis. Mas, f (U ) não necessariamente é um aberto em N .
FAZER OS EXEMPLOS AQUI
Exemplos como a Figura 1.9, deixa-nos em dúvida se podemos obter infor-mações globais a partir do teorema de imersões.
1.8 Definição. Uma aplicação f : M → N é chamada de própria se a pré-imagem
de todo conjunto compacto em N é compacta em M .
Podemos reformular a noção de mergulho na Definição1.5: um mergulho é uma imersão injetiva e própria.
Apresentamos agora uma extensão global do Teorema1.6.
1.9 Teorema. Um mergulho f : M → N mapeia difeomorficamente M sobre
uma subvariedade de N .
Demonstração. Precisamos mostrar que a imagem de qualquer aberto V ⊂ M é
um subconjunto aberto de f (M ).
Se f (V ) não é aberto em f (M ), então existe uma sequência de pontos yj em f (M ) que não pertence a f (V ), mas converge a um ponto y em f (V ). O conjunto{y, yj} é compacto, logo sua pré-imagem em M deve ser um compacto. Cada ponto yj tem uma única pré-imagem xjem M , bem como y tem única pré-imagem x ∈ V . Como {x, xj} é compacto, podemos tomar uma subsequência convergindo para um ponto z∈ M.
Assim, f (xj)→ f(z). Já que f(xj)→ f(z), por injetividade de f, z = x. Afirmo que f (V ) é aberto: Com efeito, já que xj → x e V é aberto, então para j grande o suficiente, xj ∈ V . Mas, isto contradiz yj ∈ f(V ). Logo, f(M)/ é, de fato, uma variedade.
É claro que f : M → f(M) é um difeomorfismo, pois f é um difeomorfismo local entre M e f (M ). Já que é bijetiva, a sua inversa f−1 : f (M )→ M está bem definida, e é localmente diferenciável.
1.10 Teorema. Se Nné uma subvariedade de Mm, então é a imagem de um
mer-gulho f : Pp → M.
Demonstração. Com efeito, se N é uma subvariedade diferenciável, tem uma
es-trututa diferenciável proveniente de uma cobertura por cartas de subvariedade. Para esta estrutura diferenciável temos que a inclusão inc : N → M é um mergulho C∞.
1.11 Observação. Se M é uma variedade compacta, então toda aplicação f :
M → N é própria. Assim, mergulhos em variedades compactas são, simplesmente, imersões injetivas.
Forma local das submersões
A submersão canônica é exatamente a projeção deRmemRn, com m≥ n, proj : (x1,· · · , xm) 7→ (x1,· · · , xn). O próximo resultado nos diz que, a menos de
difeomorfismos, toda submersão é localmente canônica.
1.12 Teorema. Seja f : M → N uma submersão em x e f(x) = y. Existem
coordenadas locais em x e y tais que f (x1,· · · , xm) = (x1,· · · , xn).
Demonstração. Dada uma parametrizações local com φ(x) = 0 e ψ(y) = 0 tais
que o diagrama abaixo comute.
M f g N e U Ve φ ψ Figura 1.12: Diagrama 7
Como Dg0 :Rm → Rné sobrejetiva, fazemos uma mudança de coordenadas
13 Defina G : eU → Rmpor
G(a) = (g(a), an+1,· · · , am), onde a = (a1,· · · , am).
Temos a matriz de DG0 = [Im], donde G é um difeomorfismo local em 0. Daí, existe a inversa G−1e é um difeomorfismo local de algum aberto eU′contendo 0 em eU.
Por construção, g = proj◦ G, logo g ◦ G−1é a submersão canônica. Então, o diagrama1.13comuta.
M f proj N f U′ Ve φ◦ G−1 ψ Figura 1.13: Diagrama 8
1.13 Observação. Se f : M → N é uma aplicação Cr e S ⊂ M é uma
subvarie-dade, então f restrita a S é uma aplicação Crde S em N e sua derivada em cada
ponto é a restrição da Df ao espaço tangente a S o qual é um subespaço do espaço tangente a M .
Por exemplo, restringindo a projeção πn+1 : (x1, . . . , xn+1) 7→ xn+1 à esfera Snobtemos uma aplicação diferenciável que não se anula em apenas dois pontos.
A aplicação antípoda, restrição de f : x7→ −x a Sn, a :Sn→ Sné
diferenciá-vel. E já que a◦ a = Id, a antípoda é um difeomorfismo.
Valor regular e pré-imagem
Uma das maiores utilidades do teorema de classificação local está na natureza geométrica de soluções de equações funcionais.
Se y é um ponto de N e f : M → N, as soluções da equação f(x) = y é o subconjunto de M ao qual já chamamos pré-imagem de y,e denotamos f−1(y). Para aplicações mais gerais, não necessariamente este conjunto é de natureza ge-ométrica bem definida, mas se f é uma submersão temos uma boa descrição geométrica para ele.
Seja f : M → N uma aplicação Crentre variedades diferenciáveis. Dizemos que x ∈ M é um ponto regular se Df(x) é sobrejetiva. Dizemos que y ∈ N é um valor regular se f−1(y)possui apenas pontos regulares. Em particular, se
f−1(y) = ∅, então y é valor regular.
Um ponto que não é valor regular é chamado de valor crítico de f . o conjunto solução{x : f(x) = y}, quando y é um valor crítico, pode ser bem complicado.
1.14 Proposição. Sejam X e Y variedades de mesma dimensão onde X é uma
variedade compacta e f : X → Y contínua. A função #f−1(y) é localmente constante quando y percorre os valores regulares y de f .
Demonstração. Seja y um valor de f , pela proposição anterior, temos que #f−1(y) é finito. Assim podemos considerar f−1(y) = {p1, ..., pr}. Como X e Y possuem a mesma dimensão, pelo Teorema da Aplicação Inversa, para cada pi ∈ f−1(y) existe Uiaberto no qual f|Ui é um difeomorfismo com sua imagem f (Ui) = Vi
aberto em Y para cada i∈ {1, ..., r}. Como estamos supondo a variedade como sendo de Haudorff, podemos supor s.p.g. esses abertos Ui’s como sendo dois-a-dois disjuntos. Tome y∈ ˜V ⊆∩ri=1Vicom ˜V aberto.
Seja w ∈ ˜V , segue que w ∈∩ri=1f (Ui), logo existe um único wi ∈ Uital que
f (wi) = w(pois f é um difeo em Ui) para cada i∈ {1, ..., r}, segue que f−1(w) possui pelo menos r pontos. Note que poderiam existir pontos de f−1(w)que não estão em nenhum Ui para todo i ∈ {1, ..., r}. Vamos mostrar que existe
y∈ V ⊆∩ri=1Vital que isso não ocorre.
1 Afirmação. Existe V ∋ y aberto contido em∩ri=1Vi tal que para todo w em V
temos que f−1(w)⊆∪ri=1Ui.
Suponha, por absurdo, que a afirmação não vale. Podemos tomar{Vn}∞n=1a
vizinhança básica enumerável de y (pois as variedades diferenciáveis satisfazem o segundo axioma de enumerabilidade, e portanto satisfazem o primeiro axioma de enumerabilidade), assim, para toda Vnvizinhança aberta de y existe wn ∈ Vntal
que xn ∈/ ∪r
i=1Ui com f (xn) = wn. Assim, wn → y quando n → ∞. Como
xn ∈ X para todo n ∈ N com X compacto, existe uma subsequência convergente
xk→ x quando k → ∞. Agora, note que:
15
Daí x ∈ f−1(y), segue que existe j ∈ {1, ..., r} tal que x = pj ∈ Uj. Como
xn → x existe n0 ∈ N tal que para n ≥ n0temos que xn ∈ Uj, um absurdo, pois
tomamos xn ∈/ ∪r
i=1Ui para todo n∈ N. Logo vale a afirmação, e f−1(w)possui
exatamente r pontos se w ∈ V . O que termina a prova.
1.15 Teorema. Seja f : M → N uma aplicação diferenciável e y um valor
re-gular de f . Então, a pré-imagem P = f−1(y)é uma subvariedade de M tal que
dim(P ) = dim(M )− dim(N).
Demonstração. Seja x∈ P . Tome coordenadas locais em torno de x e y de modo
que f (x1,· · · , xm) = (x1,· · · , xn)e y corresponda a (0,· · · , 0).
Assim, próximo a x, f−1(y)é o conjunto dos pontos (0,· · · , 0, x1,· · · , xn). Precisamente, seja V a vizinhança de x na qual o sistema de coordenadas (x1,· · · , xm) está definido. Então, f−1(y)∩V é o conjunto de pontos onde x1 = 0,· · · , xn = 0. As funções xn+1,· · · xm forma, assim, um sistema de coordenadas sobre o con-junto f−1(y)∩ V que é relativamente aberto em f−1(y)(veja a figura).
1.16 Observação. Informações sobre o valor regular são úteis, pro exemplo, quando
queremos encontrar pontos que não pertencem a uma imagem f (x).
Quando dim M > dim N , a regularidade de um valor y significa que f é uma submersão em cada ponto da pré-imagem x∈ f−1(y).
Quando dim M = dim N , f é um difeomorfismo local em cada ponto de f−1(y). Este um caso muito importante.
E, se dim M < dim N , então todo ponto em f (M ) é um valor crítico, e por-tanto, os valores regulares são aqueles nunca atingidos por f .
Exemplo:
1. Seja f : Rk → R, f(x) = |x|2 = ∑k
i=1x2i. A derivada Dfa no ponto
a = (a1,· · · , ak)tem matriz (2a1,· · · , 2ak). Assim, Dfa : Rk → R é sobrejetiva a menos que f (a) = 0, donde todo número não nulo é um valor regular para f . Em particular, isto prova que a esferaSk−1 = f−1(1), é uma variedade de dimensão k− 1.
2. Grupos de Lie são aqueles que têm estrutura de variedade e cujas operações de grupo são diferenciáveis. Um exemplo de grupo de Lie é o seguinte: Considere o grupo ortogonal O(n), o grupo das transformações lineares de Rnpreservando distância. O espaço de matrizes Mn(R) é uma variedade, de fato é nada mais do queRn2
O(n) é o grupo de matrizes tais que A · At = Id, onde At é a matriz transposta de A. Vamos mostrar que O(n) é uma superfície compacta di-ferenciável de dimensãon
2(n− 1) em R
n2
. Para isto, seja S(Rn) = {A ∈ M
n(R); At = A} ≈ R
n
2(n+1) vejamos
que O(n) é pré-imagem de um valor regular da aplicação diferenciável
f : Mn(R) → S(Rn), f (A) = AAt. Se mostrarmos que a identidade
I ∈ S(Rn)é valor regular para f , então obteremos que O(n) = f−1(I)é superfície diferenciável de dimensão n2− n
2(n + 1) =
n
2(n− 1) em R
n2
. Assim, tome X ∈ O(n) = f−1(I). Temos que f′(X) : Mn(R) → S(Rn), dada por f′(X) = XHt+ HXt, é sobrejetiva.
De fato, dada uma matriz S∈ S(Rn), seja V = SX
2 , então f′(X)· V = X ( SX 2 )t + ( SX 2 ) Xt = (XXt)S 2 + S 2(XX t) = S.
Por outro lado, O(n) é fechado, pois é imagem inversa do “ponto” I por f , qual é um subconjunto fechado do contradomínio e f é contínua.
A isomorfismo Mn(R) ≈ Rn2
implica que O(n) é um subconjunto da es-fera de centro 0 ∈ Rn2
e raio√n, já que cada vetor linha de uma matriz
X ∈ O(n) tem comprimento 1. Logo, O(n) é fechado e limitado em Rn2, ou seja, O(n) é compacto.
♢ Suponha agora que g1,· · · , gksão funções diferenciáveis a valores reais defi-nidas sobre uma variedade M de dimensão l≤ k.
Pergunta-se: Sob quais condições o conjunto Z de zeros comuns é um objeto geométrico razoável?
Para responder, considere a aplicação g = (g1,· · · , gk) : M → Rk.
Já que Z = g−1(0), então Z é uma subvariedade de M se 0 é valor regular de
g, pelo teorema1.15.
Vamos reformular isso em termos das funções gi.
Note que cada gi : M → R é diferenciável e sua derivada num ponto x é dada por Dgi(x) : TxM → R, ou seja, Dgi(x)é uma funcional linear sobre o espaço vetorial TxM.
17 Além disso, é fácil ver que Dg(x) : TxM → Rké sobrejetiva se, e somente se, os funcionais Dg1,· · · , Dgksão linearmente independentes em TxM. (exer-cício) Neste caso, diremos que g1,· · · , gksão independentes em x. Reescrevendo o teorema anterior nesses termos, obtemos:
1.17 Proposição. Se as funções diferenciáveis a valores reais g1,· · · , gksobre M
são independentes em cada ponto onde todas se anulam, então o conjunto dos zeros comuns é uma subvariedade de M de dimensão dim(M )− k.
1.18 Definição. Seja Z ⊂ M uma subvariedade. O número codim(Z) = dim(M)−
dim(Z) é chamado de codimensão de Z com respeito a M .
Será que toda subvariedade pode ser “talhada” em M por funções indepen-dentes?
Nem sempre é verdade, mas vale em alguns casos.
1.19 Proposição. Se y é uma valor regular de uma aplicação diferenciável f :
M → N, então a subvariedade pré-imagem f−1(y) é gerada por funções inde-pendentes.
Demonstração. Tome um difeomorfismo h de uma vizinhança W de y tal que h(y) = 0∈ Rk. Faça g = h◦ f e verifique que 0 valor regular para g. Portanto, as funções coordenadas de g são as procuradas.
1.20 Proposição. Toda subvariedade de M é localmente gerada por funções
inde-pendentes.
Demonstração. Sejam Z uma subvariedade de codimensão k e z ∈ Z.
2 Afirmação. Existem k funções independentes g1,· · · , gk definidas em alguma
vizinhança W de z em M tal que Z∩ W é o conjunto de zeros comuns das gi. Note
que estamos considerando a subvariedade Z∩ W na variedade W .
Segue imediatamente da forma local das imersões para a imersão Z → W . (ver exercício a seguir)
Em particular, tomando Z como um espaço euclideano qualquer vê-se que toda variedade está localmente definida por uma coleção de funções independen-tes em espaços euclideanos. Novamente, não é verdade que todas as variedades possam ser globalmente geradas por funções independentes.
1.21 Proposição. Seja Z a pré-imagem de um valor regular y∈ N por uma
aplica-ção diferenciável f : M → N. Então, o núcleo da derivada Df(x) : TxM → TyN
em qualquer ponto x∈ Z é o espaço tangente a Z, TxZ.
Demonstração. Já que f é constante em Z, Df (x) é zero sobre TxZ. Mas, Df (x) :
TxM → TyN é sobrejetiva, por definição de valor regular. Logo, a dimensão de de seu núcleo deve ser
dim(TxM )− dim(TyN ) =dim(M )− dim(N) = dim(Z).
Assim, TxZé um subespaço vetorial do núcleo que tem mesma dimensão do núcleo todo, e disto segue TxZ =ker(Df (x)).
4 Exercício. 1. Mostre que se f é uma submersão em x, então o é em uma vizinhança de x.
2. Seja Nnsubvariedade de Mm. Mostre que T N identifica-se com uma
sub-variedade de T M por um mergulho T N ,→ T M..
3. SLn(R) = {A ∈ GLn(R); det A = 1} é uma subvariedade de GLn(R).
4. Prove que Dg(x) : TxM → Rké sobrejetiva se, e somente se, os funcionais
Dg1,· · · , Dgksão linearmente independentes em TxM.
5. Suponha que Z é uma subavariedade de dimensão k de M e que z ∈ Z. Mostre que existe um sistema de coordenadas locais{x1,· · · , xk} numa
vi-zinhança U de z em M tal que Z ∩ U está definido pelas equações xk+1 = 0,· · · , xm = 0.