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Perfil econômico e mudanças na estrutura produtiva das cidades médias paulistas

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Academic year: 2021

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LUIS FERNANDO ROSALINO

PERFIL ECONÔMICO E MUDANÇAS NA ESTRUTURA PRODUTIVA DAS CIDADES MÉDIAS PAULISTAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia – campus de Presidente Prudente-SP, para a obtenção do título de Mestre em Geografia. (Linha de pesquisa: Desenvolvimento Regional)

Orientador: Prof. Dr. Eliseu Savério Sposito

PRESIDENTE PRUDENTE 2007

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Rosalino, Luís Fernando.

R699p Perfil econômico e mudanças na estrutura produtiva das cidades médias paulistas / Luís Fernando Rosalino. - Presidente Prudente: [s.n], 2007

xiii, 167 f. : il.

Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia

Orientador: Eliseu Savério Sposito

Banca: Everaldo Santos Melazzo, William Ribeiro da Silva Inclui bibliografia

1. Cidade média. 2. Perfil econômico. 3. Atributo do modo de produção. I. Autor. II. Título. III. Presidente Prudente - Faculdade de Ciências e Tecnologia.

CDD(18. ed.) 910

Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação – Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Presidente Prudente.

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Dedico este trabalho aos meus pais e irmãos que desde o princípio do meu ingresso na universidade auxiliaram, de várias maneiras, para seguir em frente. Amo vocês.

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RESUMO

A pesquisa tem como objetivo principal a elaboração de uma análise do perfil econômico e das possíveis mudanças na estrutura produtiva das cidades médias paulistas de Araçatuba, Bauru, Marília, Presidente Prudente e São José do Rio Preto, no período de 1994 a 2003, entendendo como perfil econômico a distribuição das atividades econômicas nas economias locais. A busca por esta temática está relacionada às mudanças ocorridas no meio de produção capitalista internacional no decorrer do século XX e às áreas que estas mudanças priorizaram. Estes processos impactam diretamente diversos níveis da produção e da circulação de mercadorias, priorizando localidades que ofereçam condições estruturais e conjunturais capazes de suprir as necessidades do processo produtivo que se desenha. As localidades selecionadas pelo capital são ou estão muito próximas às cidades mundiais, e/ou suas áreas metropolitanas.Outra motivação para o desenvolvimento desse trabalho foi a constatação de que as mudanças em curso não excluem, porém, não priorizam as cidades médias do Oeste paulista, que estão distantes da região metropolitana paulista, o que dificulta a observação dos desdobramentos produtivos que os teóricos das mudanças no meio de produção apontam para as áreas metropolitanas. Para auxiliar no entendimento do perfil econômico e verificação de mudanças na estrutura produtiva das cidades médias selecionadas, essa pesquisa busca elementos no processo de formação histórica do oeste paulista, destacando características semelhantes e/ou diferentes no processo de formação e, mesmo, de consolidação econômica destas cidades. Destacamos o setor secundário, em um primeiro momento, por conta da sua importância na formação urbana e produtiva das cidades médias e pelo processo de desconcentração industrial vivido pelo Estado de São Paulo, primordialmente, pela capital paulista no decorrer do século XX, o que entendemos ter sido uma importante oportunidade para as cidades médias estudadas se industrializarem. No estudo de casos focamos as variáveis número de empresas, renda média e número de empregados, selecionando os principais setores, categorias e atividades econômicas destas localidades. Os dados dos estudos de casos foram extraídos do banco de dados RAIS/CAGED elaborado pelo Ministério do Trabalho e Emprego. A realidade local difere, em alguns aspectos, das teorias econômicas contemporâneas que analisam o modo de produção. O perfil econômico das cidades estudadas está fortemente ligado ao capital local, ao mercado consumidor local e às tendências da economia brasileira, como o achatamento dos salários e a concentração do número de micro e pequenas empresas.

Palavras-chave: Cidades médias. Perfil econômico. Desconcentração industrial. Mudanças no modo de produção.

ABSTRACT

The research has as mean objective the elaboration of an analysis of the economic profile and of the possible changes in the productive structure of the medium cities from São Paulo State, that is, Araçatuba, Bauru, Marília, Presidente Prudente e São José do Rio Preto, in the period from 1994 to 2003, understanding as economic profile the distribution of the economic activities in the local economy. The search for this theme is related to the changes that happened in the international capitalist mean of production in the elapsing of the twentieth century and to the areas that these changes prioritized. These processes impact directly many levels of the production and of the merchandise circulation, prioritizing localities that offer structural and of the situation conditions able to supply the needs of the productive process that it is drawn. The localities selected by the capital are very close to the world cities or their

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metropolitan areas. Another motivation to the development of this work was the verification that the changes in course do no exclude, however, do not prioritize the medium cities of the West from São Paulo State that are far from São Paulo State metropolitan areas, that hinders the observation of the productive splitting that the mean of production changes’ theoretical ones indicate to the metropolitan areas. For aid in the understanding of the economic profile and in the verification of the changes in the productive structure of the medium cities selected, this research looks for elements on the process of historical formation of the West from São Paulo State, emphasizing the similar and/or different characteristics in the process of formation and, even, of economic consolidation of these cities. We emphasize the secondary sector, in a first moment, because of its importance on the urban and productive formation of the medium cities and because of the industrial disconcentration process lived by São Paulo State, primordially, by the capital from São Paulo in elapsing of the twentieth century, what we understand have been an important opportunity for the studied medium cities industrialize themselves. In the study of cases we focused the variables number of companies, income mean and number of employee, selecting the main sectors, categories and economical activities of these localities. The data of the studies of cases were extracted of the database RAIS/CAGED elaborated by Department of Labor and Job. The local reality differ, in some aspects, from contemporary economical theories that analyze the production way. The economic profile of the studied cities is strongly linked to the local capital, to the local consuming market and to the tendencies of the Brazilian economy, as the flattening of the wages and the concentration of the micro and small companies.

Key-words: Medium cities. Economic profile. Industrial disconcentration. Changes in the production way.

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SUMÁRIO

Índice... 8

Índice de figuras... 9

Índice de tabelas... 10

1 Introdução... 15

2 O formação das cidades médias do oeste paulista. Especificidades na produção do espaço urbano... 23 3 O processo de desconcentração industrial da região metropolitana paulista... 34

4 Os estudos de caso... 62

5 Os novos arranjos capitalistas e as economias locais... 133

6 Conclusão... 156

(7)

ÍNDICE

1 Introdução ...15

2 O formação das cidades médias do oeste paulista. especificidades na produção do espaço urbano ...23

2.1 Franja Pioneira ... 24

2.2 A diversificação agrícola e o processo agroindustrial ... 27

3 O processo de desconcentração industrial da região metropolitana paulista ... 34

3.1 Processo de desconcentração da indústria metropolitana paulista ... 34

3.2 Razões para a interiorização da indústria paulista ... 39

3.3 As cidades médias do interior paulista e a agroindústria ... 43

3.4 Indícios atuais do processo de desconcentração industrial ... 54

4 Os estudos de casos ... 62

4.1 Metodologia de extração, compilação e discrição dos dados empíricos ... 62

4.2 Araçatuba ... 66 4.2.1 Número de Empresas ... 66 4.2.2.Renda Média ... 71 4.2.3 Número de trabalhadores ... 75 4.3 Bauru ... 80 4.3.1 Número de Empresas ... 80 4.3.2 Renda média ... 85 4.3.3 Número de trabalhadores ... 89 4.4 Marília ... 96 4.4.1 Número de Empresas ... 96 4.4.2 Renda Média ... 100 4.4.3 Número de Trabalhadores ...104 4.5 Presidente Prudente ... 107 4.5.1 Número de Empresas ...108 4.5.2 Renda Média ... 112 4.5.3 Número de Trabalhadores ... 115

4.6 São José do Rio Preto ... 118

(8)

4.6.2 Renda média ... 124

4.6.3 Número de trabalhadores ... 128

5 Os novos arranjos capitalistas e as economias locais ...133

5.1 Sobre o sistema técnico atual ... 134

5.2 Renda e porte das empresas no Brasil ... 139

5.3 Os principais setores, categorias e atividades econômicas das cidades médias ... 146

6 Conclusão ... 156

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ÍNDICE DE FIGURAS

Nº Título Páginas

1 - Colonização de parte do Sudeste e do Sul brasileiro ...26

2 - Produto Interno Bruto per Capita dos municípios paulistas em 2003 ... 31

3 - Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios paulistas em 2000 ...32

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ÍNDICE DE TABELAS

Nº Páginas

1 - Modificação na estrutura setorial da indústria de transformação do interior do Estado de São Paulo: 1967-1980 (Valores em percentagem do VTI) ... 42

2 - Produção Agropecuária da Região Administrativa de São José do Rio Preto - safra 2002-2003 ... 46

3 - Produção Agropecuária da Região Administrativa de Marília - safra 2002-2003 ... 48

4 - Produção Agropecuária da Região Administrativa de Bauru - safra: 2002/2003 ... 49

5 - Produção Agropecuária da Região Administrativa de Araçatuba - safra 2002-2003. 50

6 - Produção Agropecuária da Região Administrativa de Presidente Prudente - safra 2002-2003 ... 51

7 - Porcentagem da taxa média de crescimento anual do PIB para o período de 1975/1996 (em %) ... 55

8 - Diferença entre as taxas de variação do PIB setorial local em relação aos setores do Brasil no período de 1975/1996 (em %) ... 56

9 - Número de empresas da indústria de transformação e % em relação ao Estado de São Paulo no período 1994/2003 ... 58

10 - Pessoal ocupado na indústria de transformação e % em relação ao Estado de São Paulo ... 59

11 - Araçatuba: Número de empresas em cada setor segundo o porte da empresa nos anos de 1994, 1998 e 2003 ... 66

12 - Araçatuba: Número de empresas e percentual em relação ao município das categorias selecionadas para os anos de 1994, 1998 e 2003 ... 69

13 -

Araçatuba: Número de empresas e percentual em relação ao município das categorias selecionadas através da CNAE/95 de 217 e 223 atividades para os anos de 1994, 1998 e 2003 ... 70

14 -

Araçatuba: Número de empregados, número absolutos de salários mínimos pagos e renda média do trabalhador de Araçatuba distribuído durante os anos de 1994, 1998 e 2003 e divididos por setor ... 71

15 - Araçatuba: Renda Média em salários mínimos das categorias selecionadas nos anos de 1994, 1998 e 2003 ... 73

(11)

16 - Araçatuba: Renda Média em salários mínimos das categorias selecionadas nos anos de 1994, 1998 e 2003, segundo a CNAE/95 de 217 e 223 categorias ... 74

17 - Araçatuba: Número de trabalhadores por porte das empresas nos ano de 1994, 1999 e 2003 ... 76

18 - Araçatuba: Número de trabalhadores das categorias selecionadas de acordo com a CNAE/95 de 59 categorias, nos anos de 1994, 1998 e 2003 ... 78

19 - Araçatuba: Número de trabalhadores por categorias de acordo com a seleção estabelecida anteriormente, para os anos de 1994, 1998 e 2003 ... 79

20 - Bauru: Número de empresas em cada setor segundo o porte da empresa nos anos de 1994, 1998 e 2003 ... 81

21 - Bauru: Número de empresas e percentual em relação ao município das categorias selecionadas para os anos de 1994, 1998 e 2003 ... 83

22 -

Bauru: Número de empresas e percentual em relação ao município das categorias selecionadas através da CNAE/95 de 217 e 223 categorias para os anos de 1994, 1998 e 2003 ... 86

23 -

Bauru: Número de empregados, número absolutos de salários mínimos pagos e renda média do trabalhador de Araçatuba distribuído durante os anos de 1994, 1999 e 2003 e divididos por setor ... 86

24 - Bauru: Renda Média em salários mínimos das categorias selecionadas através da CNAE/95 de 59 categorias nos anos de 1994, 1998 e 2003 ... 87

25 - Bauru: Renda média das categorias selecionadas de acordo com a CNAE/95 de 217 e 223 categorias, para os anos de 1994, 1998 e 2003 ... 88

26 - Bauru: Número de trabalhadores por porte das empresas nos ano de 1994, 1998 e 2003 ... 91

27 - Bauru: Número de trabalhadores das categorias selecionadas de acordo com a CNAE/95 de 59 categorias nos anos de 1994, 1998 e 2003 ... 93

28 - Bauru: Número de trabalhadores por categorias de acordo com a CNA/95 de 217 e 223 categorias econômicas para os anos de 1994, 1998 e 2003 ... 94

29 - Marília: Número de empresas em cada setor segundo o porte da empresa nos anos de 1994, 1998 e 2003 ... 97

30 - Marília: Número de empresas e percentual em relação ao município das categorias selecionadas para os anos de 1994, 1998 e 2003 ... 98

31 - Marília: Número de empresas e percentual em relação ao município das categorias selecionadas através da CNAE/95 de 217 e 223 categorias para os anos de 1994, 100

(12)

1998 e 2003

32 -

Marília: Número de empregados, número absolutos de salários mínimos pagos e renda média do trabalhador, distribuído durante os anos de 1994, 1998 e 2003 e divididos por setor ... 101

33 - Marília: Renda Média em salários mínimos das categorias selecionadas através da CNAE/95 de 59 categorias nos anos de 1994, 1998 e 2003 ... 102

34 - Marília: Renda média das categorias selecionadas de acordo com a CNAE/95 de 217 e 223 categorias, para os anos de 1994, 1998 e 2003 ... 103

35 - Marília: Número de trabalhadores por porte das empresas nos ano de 1994, 1998 e 2003 ... 104

36 - Marília: Número de trabalhadores por atividades econômicas de acordo com a CNAE/95 de 59 categorias nos anos de 1994, 1998 e 2003 ... 106

37 - Marília: Número de trabalhadores por atividades de acordo com a CNA/95 de 217 e 223 atividades econômicas para os anos de 1994, 1999 e 2003 ... 107

38 - Presidente Prudente: Número de empresas em cada setor segundo o porte da empresa nos anos de 1994, 1998 e 2003 ... 109

39 - Presidente Prudente: Número de empresas e percentual em relação ao município das categorias selecionadas para os anos de 1994, 1998 e 2003 ... 110

40 -

Presidente Prudente: Número de empresas e percentual em relação ao município das categorias selecionadas através da CNAE/95 de 217 e 223 categorias para os anos de 1994, 1998 e 2003 ... 111

41 -

Presidente Prudente: Número de empregados, número absolutos de salários mínimos pagos e renda média do trabalhador, distribuído durante os anos de 1994, 1998 e 2003 e divididos por setor ... 112

42 - Presidente Prudente: Renda Média em salários mínimos das categorias selecionadas nos anos de 1994, 1998 e 2003 ... 113

43 - Presidente Prudente: Número de trabalhadores por porte das empresas nos ano de 1994, 1998 e 2003 ... 114

44 - Presidente Prudente: Número de trabalhadores por porte das empresas nos ano de 1994, 1998 e 2003 ... 115

45 -

Presidente Prudente: Número de trabalhadores nas categorias econômicas selecionadas de acordo com a CNAE/95 de 59 categorias econômicas nos anos de 1994, 1998 e 2003 ... 118

(13)

CNAE/95 de 217 e 223 categorias econômicas para os anos de 1994, 1998 e 2003 ..

47 - São José do Rio Preto: Número de empresas em cada setor segundo o porte da empresa nos anos de 1994, 1998 e 2003 ... 120

48 - São José do Rio Preto: Número de empresas e percentual em relação ao município das categorias selecionadas para os anos de 1994, 1998 e 2003 ... 122

49 - São José do Rio Preto: Número de empresas e percentual em relação ao município utilizando a CNAE/95 de 217 e 223 categorias para os anos de 1994, 1998 e 2003 .. 123

50 -

São José do Rio Preto: Número de empregados, número absolutos de salários mínimos pagos e renda média do trabalhador, distribuído durante os anos de 1994, 1998 e 2003, divididos por setor ... 124

51 -

São José do Rio Preto: Renda Média em salários mínimos das categorias selecionadas de acordo com a CNAE/95 de 59 categorias econômicas nos anos de 1994, 1998 e 2003 ... 126

52 - São José do Rio Preto: Renda média das categorias selecionadas de acordo a CNAE/95 de 217 e 223 categorias para os anos de 1994, 1998 e 2003 ... 127

53 - São José do Rio Preto: Número de trabalhadores por porte das empresas nos ano de 1994, 1998 e 2003 ... 128

54 -

São José do Rio Preto: Número de trabalhadores em categorias econômicas selecionadas de acordo com a CNAE/95 de 59 atividades econômicas nos anos de 1994, 1998 e 2003 ... 130

55 -

São José do Rio Preto: Número de trabalhadores por categorias de acordo com a CNAE/95 de 217 e 223 categorias econômicas para os anos de 1994, 1998 e 2003 ... 131

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1 – INTRODUÇÃO

A proposta desta dissertação é, em linhas gerais, a elaboração de uma análise do perfil econômico e das possíveis mudanças na estrutura produtiva das cidades médias paulistas de Araçatuba, Bauru, Marília, Presidente Prudente e São José do Rio Preto, no período de 1994 a 2003. Entendendo como perfil econômico a distribuição das atividades econômicas nas economias locais.

As cidades médias selecionadas foram escolhidas pela semelhança histórica do processo de ocupação do Oeste paulista, em que estas cidades se inseriram, pela importância na rede urbana paulista, sendo estas cidades sedes de suas respectivas regiões administrativas no estado de São Paulo, e, por serem objeto de estudos do Grupo de Pesquisa Produção do Espaço e Redefinições Regionais (GAsPERR), grupo em que me insiro desde 2004.

O objetivo deste trabalho surge diante da compilação de informações extraídas do banco de dados RAIS/CAGED oferecido pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Utilizando tais informações realizou-se um estágio não obrigatório no ano de 2002, onde foram trabalhados, apenas para Presidente Prudente, indicadores de renda média, escolaridade da mão de obra, número de empregados e número de empresas desagregadas por setores e atividades da economia formal local, para o período 1985 – 2000.

No desenvolvimento do trabalho nos deparamos com uma série de explicações econômicas da última década do século XX e começo do século XXI, que apontam para outro momento histórico denominado por muitos como pós-fordismo, sustentado por processos como a pós-industrialização, a financeirização, a globalização, dentre outros. Ganha destaque a influência na esfera econômica e social do crescimento da informatização, das comunicações, dos fluxos financeiros e das novas técnicas e tecnologias.

Estes processos impactam diretamente diversos níveis da produção e da circulação de mercadorias em particular e da riqueza em geral, sobretudo, no que diz respeito às relações de trabalho, seja na renda, na qualificação ou em sua organização, no dinamismo de alguns setores ditos mais modernos, no padrão de localização das plantas industriais ou em seu formato, destacando não só o mercado consumidor ou as fontes de matérias-primas, mas também as características das localidades onde serão instaladas. A escala geográfica local ganha relevância à medida que o capital torna-se mais seletivo quanto aos territórios escolhidos para sua reprodução, ao mesmo tempo em que o global tornou-se palco das decisões inerentes à sua reprodução ampliada.

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Do ambiente econômico apontado, podemos destacar a influência do conjunto de processos e políticas da prática neoliberal, que se propagaram rapidamente pelo globo no começo da década de 70, difundida a partir da Inglaterra de Thatcher e pelos Estados Unidos de Reagan, só implantado no Brasil com o governo Collor a partir de 1989, sendo amplamente utilizado durante toda a década de 90 e começo do século XXI. Como não poderia deixar de ser, este ambiente econômico passa a ser determinante para as mudanças na dinâmica econômica das cidades.

As novas formas de reprodução do capital valorizam em demasia o setor deserviços que não atingem o globo de forma una, mas selecionando localidades que possuem condições estruturais e conjunturais capazes de suprir as necessidades do processo produtivo que se desenha. Tais processos são mais visíveis em cidades intimamente ligadas aos mercados globais. No caso do Brasil e outras países do globo, essas áreas são preferencialmente as metrópoles, suas áreas metropolitanas e cidades muito próximas a elas1. Localidades que possuem um amplo parque industrial e necessitam de serviços ligados ao capital produtivo, à informatização, lazer, educação, segurança, entre outros.

Aponta-se, acima, a idéia de que as cidades devem suprir as necessidades infra-estruturais e conjunturais para a reprodução capitalista e, mais do que isto, há o imperativo de que os meios para a mencionada reprodução devam se fazer presentes nelas, sendo que apenas desta forma a cidade poderá se engajar em novas perspectivas econômicas.

Como vimos, as tendências globais do capitalismo apontadas por autores como Sassen priorizam em demasia as cidades possuidoras de infra-estrutura que atenda ao sistema produtivo, mas não só, existe ainda a necessidade destas localidades possuírem um parque industrial importante e um mercado consumidor diversificado que necessite de acesso à serviços e mercadorias avançadas. Todavia, o panorama que se desenha para áreas metropolitanas pouco se encaixa com a realidade de uma parcela das cidades médias. O caso do Estado de São Paulo é emblemático, cidades do interior paulista, sobretudo as localizadas no Oeste do estado, não acompanharam o desenvolvimento industrial da capital e seu entorno, e ainda ficaram à margem do processo de desconcentração da indústria paulista2. O que seria uma oportunidade de ampliar e diversificar o parque produtivo local e, talvez aí, criar ou aumentar as possibilidades de engendrar em seus territórios as tendências produtivas atuais.

Com as dificuldades de leituras e análises, baseada nas teorias econômicas contemporâneas mais aceitas, da realidade local com história e dinâmica econômica diferente

1 SASSEN, 1998, p. 76 e 78. 2 NEGRI, 1996, p. 171.

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da priorizada pelo capital, decidimos ampliar nossas leituras, agregar nas nossas análises o estudo de parte da dinâmica econômica brasileira, aumentar nosso recorte temporal e o escopo de localidades. Decidimos abarcar as cidades médias do Oeste paulista.

Embora a discussão sobre cidades médias seja relativamente nova nos estudos geográficos, utilizaremos como bibliografia, textos elaborados por grupos de pesquisa como GAsPERR e antigo SIMESPP, agora Centro de Estudos e Mapeamento da Exclusão Social para Políticas Públicas – CEMESPP – vinculados ao departamento de Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP, e outros autores como Milton Santos (2003), Andrade e Serra (2001), Amorim Filho (2001), Pontes (2001) e alguns trabalhos de Sposito que nos revelaram pistas importantes sobre o temário. Deixando claro que priorizamos o enfoque econômico, não negando o urbanístico, o social, o cultural, entre outras esferas da realidade.

Ainda que não tenhamos a pretensão de elaborar um conceito de cidade média, conceito este ainda em franca discussão no meio geográfico, entendemos que as definições sobre cidades médias perpassam por alguns critérios quantitativos e outros qualitativos. Um deles é o parâmetro demográfico, utilizado recentemente por autores como Andrade & Serra (2001). Este critério não pode ser desprezado, principalmente quando são levantados dados sobre mercado consumidor local, como Amorim Filho (2001) ressalta:

[...] o critério demográfico (embora cômodo e não negligenciável) é capaz apenas de identificar o grupo ou faixa que pode conter as cidades médias. [...]

[...] o critério da classificação baseada no tamanho demográfico tem sido o mais utilizado para identificar as cidades médias, pelo menos como primeira aproximação. Tal critério toma a população urbana como ‘proxy’ do tamanho do mercado local, assim como um indicador para o nível de infra-estrutura existente e grau de concentração das atividades.(AMORIM FILHO, 2001, p. 2 e 3).

O critério demográfico é um bom indicativo para levantarmos o potencial de um mercado consumidor. Podemos aliar a esta análise, renda, escolaridade, dinâmica econômica, entre outros. É latente a dificuldade explicativa deste critério, que somente aliado à outros pode gerar bons resultados, mas ele, em particular, dá conta de explicar uma pequena parcela da realidade, sendo, a nosso ver, insatisfatório para definirmos uma cidade média. Acompanhando este raciocínio, concordamos também com Sposito (2001), que afirma:

Não há correspondência direta entre o tamanho demográfico de uma cidade e seu papel na rede urbana ou, em outras palavras, cidades de mesmo porte populacional podem desempenhar papéis que diferem em sua natureza e importância.

As múltiplas formas de aglomeração urbana que se constituem, com intensidade crescente a partir da segunda metade do século XX, apresentam realidades urbanas que expressam integração do ponto de vista funcional,

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ainda que, no caso brasileiro, o tamanho populacional tome como base os limites municipais (SPOSITO, 2001, p. 613 -614).

Em ambas as passagens, a autora problematiza a utilização do critério demográfico, inclusive sugerindo critérios qualitativos que ultrapassem e qualifiquem as classificações sobre porte de cidades. Entre os critérios sugeridos, destaca-se a importância do papel de uma cidade média para seu entorno e a função exercida por este município dentro da rede urbana.

Seguindo este referencial, torna-se importante destacar os aspectos internos da cidade, que influenciam e são influenciados pelas características regionais, e da rede urbana em que estas cidades se inserem. Sposito (2003) assegura:

Não se deve, no entanto, obedecer rigidamente a separação entre os estudos urbanos que busquem compreender os espaços internos das cidades e as redes urbanas, mas ao contrário, articular as suas múltiplas determinações. Os fortes indicadores de centralidade regional e de complexidade de comércio e serviços, principalmente os índices de informatização urbana [...] comparecem, para além do fator demográfico, como os indicadores fundamentais para se identificar uma cidade média, contextualizando-a no tempo e no espaço de referência. (SPOSITO, 2003, p.8)

Levando em conta os aspectos apresentados, destacamos a importância de entender não só a cidade dentro de um contexto urbano, historicamente e espacialmente constituído, como também referenciarmos seus aspectos intra-urbanos. Estes aspectos são vinculados à dinâmica regional e à função na divisão territorial do trabalho que a localidade desempenha. Sendo assim, é importante salientar a capacidade de centralidade que uma cidade média exerce. Este último fator é um dos determinantes para atrair e para criar capacidade de atração de fluxos diversos para uma cidade. Uma grande capacidade de centralidade pode criar subsídio para um mercado consumidor diversificado, com maior ou menor utilização de tecnologia, consumo de bens e serviços contemporâneos que busque acesso a mercados em diferentes escalas, pode aumentar o ritmo e crescimento das cidades, atraindo imigrantes, etc.

As características intra-urbanas são fundamentais para entendermos ou classificarmos as cidades, fundamentalmente as médias. Sposito (2003), em outra passagem, ressalta alguns critérios intra-urbanos para um melhor entendimento das cidades médias:

1) desempenho e dinamismo econômico, definido pela capacidade de agregação de valor das atividades produtivas localizadas na cidade, o que remete, imediatamente, à estrutura ocupacional da população economicamente ativa, principalmente aquela ligada ao setor secundário com alta qualificação e índice informacional;

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2) a complexidade na relação entre pobreza urbana e concentração espacial da riqueza, critério que deve ser contextualizado no atual estágio da formação socioespacial brasileira;

3) evolução urbana recente, considerando-se a taxa de crescimento urbano e o dinamismo dos movimentos migratórios em direção à cidade e no seu contexto meso e macro-regional, mesmo que estejamos enfatizando os aspectos demográficos, anteriormente criticados como a grande e limitante referência para a compreensão da cidade média.

O primeiro critério de análise destaca a utilização de tecnologia e a qualificação da mão-de-obra no setor secundário e o segundo, a concentração da riqueza. Estes dois critérios são primordiais para avaliar o mercado consumidor local, as características do sistema produtivo local, a inserção de tecnologia, etc. Fornecendo informações que podem avaliar o poder de consumo, a possibilidade de diversificação de serviços ofertados, a necessidade de serviços ligados à produção, comunicação, transporte, entre outros. Criando possibilidades de inserção destas localidades no conjunto de territórios priorizados pelo modo de produção capitalista contemporâneo.

O terceiro critério diz respeito, entre outros aspectos, à centralidade e ao potencial do mercado consumidor local. Aspectos estes já discutidos.

Como ressaltamos anteriormente, não temos a pretensão de criar um conceito ou mesmo discutir teoricamente o que é uma cidade média. Contudo, concordamos e utilizaremos neste trabalho a visão de Elias (2006)3, que ressalta que cidades médias:

[...] são aquelas que comandam a produção regional em seus aspectos técnicos.

Análises que queiram ultrapassar o limiar dos parâmetros demográficos que apóiam classificações, no âmbito das quais se encontra o nível das cidades médias, têm que trabalhar com a compreensão das relações que se desenvolvem entre as cidades e entre essas e as áreas rurais, pela identidade ou pela diversidade de seus papéis urbanos. (ELIAS, 2006, p.25)

Neste trabalho entende-se que as cidades selecionadas comandam a produção regional através de uma forte relação entre estas cidades e as regiões que as circundam. Esta relação foi construída historicamente, por meio do implemento das funções administrativas, produtivas, pela diversificação do setor de serviços e comércio, entre outras. O que ajudou a assegurar, até o momento, a função de comando e a centralidade que estas cidades exercem.

3 O trabalho citado foi elaborado por um grupo de pesquisadores interessados em cidades médias do Brasil e apresentado ao MCT / CNPq, Edital 07/2006. Este grupo tem como coordenadora e proponente da proposta a professora Dr. Denise de Souza Elias e como vice-coordenadora a professora Dr. Maria Encarnação Beltrão Sposito.

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No segundo capítulo buscaremos semelhanças entre as cidades estudadas. Abordaremos o processo de colonização do Oeste paulista, discutindo a ocupação através da franja pioneira e alguns fatores que motivaram a inclusão desta região na lógica capitalista do final do século XIX e, principalmente, do século XX.

Dentro do processo de ocupação da região inserimos a discussão da diversificação produtiva e a formação do mercado consumidor local, levando em conta elementos como os imigrantes, o parcelamento do solo rural, a infra-estrutura ferroviária, a produção agrícola, entre outros. Destacando a derrocada do café, a ascensão da cultura do algodão, amendoim, gado, cítricos, biomassa, entre outros.

O desenvolvimento da agroindústria local ganha destaque neste segundo capítulo, principalmente no auxílio à formação do capital produtivo, na consolidação do mercado consumidor local e no auxilio à substituição da monocultura cafeeira e sua estrutura fundiária e social.

Através das ferramentas PIB per capita e IDH, buscamos dados que indiquem se o processo histórico de produção regional, que perpassa todo século XX, criou ou ajudou a criar semelhanças ou diferenças nas economias das cidades estudadas no começo do século XXI. Mesmo entendendo que estes indicadores sociais e econômicos são generalizadores.

O terceiro capítulo enfoca o processo de industrialização do interior paulista, buscando a continuidade histórica de formação de um parque produtivo nas cidades estudadas. Para tanto, focaremos o estudo no processo de desconcentração industrial pelo qual a região metropolitana paulista passou no decorrer da década de 1960, 70 e 80, por entendermos que este evento criou oportunidades para o surgimento e consolidação de um parque industrial nas cidades médias do interior paulista. Nesta perspectiva, destacamos o processo de interiorização da indústria no estado de São Paulo.

Ainda no capítulo três, levantaremos dados sobre o setor secundário de algumas cidades e regiões do estado de São Paulo, incluindo as localidades que são foco da nossa pesquisa. A base de dados que utilizamos neste capítulo é análogo a dos principais estudos sobre o processo de desindustrialização, utilizando variáveis semelhantes como a pessoal, ocupado na indústria de transformação, número de empresas da indústria de transformação e, incluímos novas, como PIB e PIB por setor de atividade econômica.

Para aprimorar a análise sobre o perfil econômico de Araçatuba, Bauru, Marília, Presidente Prudente e São José do Rio Preto, seria necessário o acompanhamento e o levantamento de dados do setor terciário. Evidente que não desvinculamos o setor terciário do perfil econômico das cidades estudadas, mas este setor vem sendo analisado amplamente por

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vários ramos científicos. Para esta pesquisa destacaremos, apenas, as principais atividades do comércio e serviços, faremos uma comparação com as atividades que sobressaem na escala global, nacional e local e tentaremos identificar algumas razões que levaram estas atividades a se sobressaírem.

Este trabalho prioriza os setores primário e secundário, destacando o setor primário por conta da forte presença deste setor na inserção e consolidação do capital nestas cidades; observamos a forte presença na história ou no parque produtivo de atividades de beneficiamento, comercialização ou assistência da e na produção rural.

O setor secundário ganha destaque neste projeto por alguns motivos. Assim como o setor primário, este setor auxiliou a diversificação produtiva, a sustentação e ampliação do mercado consumidor local, e se consolidou no decorrer do século XX com capital local. Uma situação nos chamou a atenção e também nos motivou a estudar a indústria local: a pequena participação destas cidades no PIB secundário do estado de São Paulo, mesmo depois do processo de desindustrialização da capital paulista.

Outro grande motivo para priorizarmos a indústria, diz respeito a um projeto de estágio não obrigatório realizado no ano de 2002, já mencionado. Este trabalho nos motivou a buscar explicações e comparações com outras cidades de formações históricas semelhantes à de Presidente Prudente.

O capítulo quatro traz a descrição das tabelas com os principais dados empíricos levantados pela pesquisa. Esta descrição, embora exaustiva, foi um excelente exercício para analisarmos e apresentarmos de forma simples os dados empíricos. Desta forma, podemos acompanhar o desempenho das três variáveis separadamente e para cada cidade em particular.

No capítulo cinco destacamos as teorias que analisam as mudanças e os desdobramentos do processo capitalista atual. Nosso objetivo, com isso, é entender ou ter pistas do comportamento das economias locais, buscando compreender a emergência de certos setores e se há a conformação dos principais setores das cidades de São José do Rio Preto, Bauru, Marília, Presidente Prudente e Araçatuba, com os principais setores apontados nas recentes teorias econômicas, ou se o comportamento econômico destas cidades está mais próximo das características da economia nacional.

As principais teorias que selecionamos dizem respeito, entre outros, às explicações sobre a ascensão do setor terciário em detrimento do setor industrial; às novas tecnologias e seus desdobramentos para a produção e para ampliação da terceirização, do trabalho informal e da prestação de serviços; à ascensão dos novos signos e símbolos do período

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técnico-científico-informacional; e às principais atividades e ramos desta nova fase de acumulação do modo de produção.

No quinto capítulo enfocamos, ainda, o comportamento das empresas no país, principalmente quanto ao porte. Destacamos o comportamento das micro e pequenas empresas e das empresas de médio e grande porte. Para tanto, utilizamos trabalhos de órgãos públicos e textos científicos. Nosso objetivo com este exercício foi levantar informações sobre a concentração do número de empresas de micro e pequeno porte e, principalmente, comparar as principais atividades locais, nacionais e internacionais, para entendermos o comportamento da economia local.

De posse das informações empíricas e teóricas no decorrer da história, fizemos no quinto capítulo, uma análise dos dados empíricos das cidades estudadas. Analisamos o comportamento das variáveis, os principais setores econômicos, destacamos as principais atividades das cidades médias e comparamo-los com as atividades nacionais e internacionais que se sobressaem.

Para finalizar os trabalhos, temos as conclusões. Buscamos sintetizar as análises dos dados empíricos, salientando o perfil econômico das cidades médias selecionadas, e identificar possíveis mudanças na estrutura produtiva destas cidades médias.

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2 – A FORMAÇÃO DAS CIDADES MÉDIAS DO OESTE PAULISTA. ESPECIFICIDADES NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO.

As cidades médias selecionadas para a pesquisa - Araçatuba, Bauru, Marília, Presidente Prudente e São José do Rio Preto - foram escolhidas pela semelhança histórica do processo de ocupação do Oeste paulista, em que estas cidades se inseriram, pela importância na rede urbana paulista, sendo estas cidades sedes de suas respectivas regiões administrativas no estado de São Paulo, e, por serem objeto de estudos do Grupo de Pesquisa Produção do Espaço e Redefinições Regionais (GAsPERR), grupo em que me insiro desde 2004.

As semelhanças entre as cidades podem ser constatadas desde os primórdios de suas colonizações. O processo de ocupação da região Oeste do Estado de São Paulo data de primórdios do séc. XX com o avanço da franja pioneira4. Suas funções na divisão territorial do trabalho com a produção de café e, em maior importância, depois da década de 1930, na produção de alimentos, na pecuária e com o algodão, são muito semelhantes, servindo de ponto de apoio à reprodução do capital agrário; apoio à balança comercial brasileira com a exportação de matérias primas; importante zona de especulação imobiliária pelo parcelamento do solo, tendo como principal mercado consumidor o trabalhador livre local e imigrante.

Neste processo, o capital produtivo começa a se estabelecer voltado para a transformação de matérias primas agrícolas, sendo o café o produto de maior interesse. Depois da crise de 1929 e a conseqüente baixa do café, outras culturas agrícolas tiveram sua importância destacada para a região, dentre elas temos o algodão, o gado bovino, o amendoim, a cana-de-açúcar e, com o passar do tempo, a citricultura, lembrando que embora o café tenha perdido o status de cultura hegemônica, este produto continua sendo cultivado no Oeste paulista.

É neste processo de diversificação da produção agrícola que a agroindústria começa a se desenvolver e se estabelecer como principal ramo manufatureiro das cidades médias estudadas.

4 Entendemos que a noção de franja pioneira encontrada na obra de Monbeig (1984) é mais pertinente que a de frente pioneira no processo de ocupação do interior paulista.

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2.1. Franja pioneira

Há dois conceitos utilizados por Monbeig (1984) para relatar um processo de incorporação pelo capital de uma área natural. O primeiro conceito é o de “frente de ocupação” que, segundo o autor, dá a idéia de um processo de ocupação organizada, que ocorre de forma uniforme, sendo aparada em sua retaguarda por uma ampla infra-estrutura para os trabalhadores, como se tivesse a organização, a estratégia de um front de um exército (p.165). Outro conceito é o de “franja pioneira”, utilizado pelo autor para explicar o processo de ocupação do Oeste paulista. Este conceito, inicialmente elaborado por Browman, dá conta de uma ocupação pouco organizada, com manchas de vegetação nativa, não ocupadas, envolvidas por pastagens e culturas, seguindo, no máximo, o traçado provável das estradas de ferro e, mais tarde, pelas rodovias. “É uma fronteira que progride irregularmente e em direções confusas” (p.165). Em comum, as cidades médias do Oeste paulista passaram pelo mesmo processo de ocupação, fazendo parte da expansão da franja pioneira.

Como motivadores do processo de ocupação destacam-se a necessidade de expandir as lavouras de café; a decadência da produção cafeeira do Vale do Paraíba; o declínio da extração mineral em Minas Gerais; e o capital especulativo, fortalecido pela política de emissão de moeda pelo governo nacional, a fim de possibilitar o pagamento do trabalhador livre e financiar a Guerra do Paraguai. Com isto, a compra e a venda de terras tornaram-se um atrativo, e a franja pioneira garantiu mais um elemento para progredir5.

Como primeiros migrantes para povoar a região, temos indivíduos de Minas Gerais6 e, mais tarde, os produtores das antigas áreas cafeeiras do estado de São Paulo. Os caminhos escolhidos para as incursões no território foram os leitos de rios e córregos. Mais tarde, esses caminhos serviram para delimitar as áreas das fazendas quando do seu registro.

As áreas que se configuram como propriedades rurais e que foram destinadas ao plantio do café encontravam-se nos espigões, que eram as áreas mais indicadas para o plantio da cultura, pois minimizava os riscos de estiagem devido à elevação dessas áreas em relação ao seu entorno.

A necessidade de proteger as lavouras de café do risco de estiagem é, sem dúvida, um importante motivador para a ocupação dos espigões, que também foram escolhidos pelas empresas ferroviárias para o traçado das linhas férreas que ligariam a capital paulista e o porto

5 Op. cit., p. 107.

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de Santos ao interior do estado, lembrando que os traçados das rodovias e ferrovias também seguiam outros motivadores, como antigos caminhos. É neste contexto que as cidades em voga são fundadas. Negri (1996) afirma que:

Em Bauru e no Oeste Pioneiro, regiões recém abertas ou em processo de abertura, as cidades novas davam suporte para uma atividade agrícola relativamente recente, basicamente no comércio e nos transportes, não havendo uma indústria de transformação, mas apenas pequenas unidades produtivas circunstanciais, de apoio à construção civil ou à agricultura local. (NEGRI, 1996, p.27).

As funções urbanas exercidas pelas principais cidades da franja pioneira são claramente, nos seus primórdios, de transporte e como entrepostos comerciais, pois segundo Monbeig (1984), “o trilho e a estrada de rodagem criam os sítios favoráveis às fundações urbanas. A facilidade das relações com as velhas zonas e com os desbravamentos opera uma verdadeira seleção entre patrimônios, para transformá-los em cidades” (p.347). Estes patrimônios selecionados operam a importante função de ligação entre as áreas produtoras e as zonas antigas do estado de São Paulo.

Mesmo com privilégios de localização e com conexão às estradas de ferro e às rodovias, não era garantido a nenhuma cidade o desenvolvimento e nem uma importante função na rede urbana. Na verdade, a função que a cidade desempenhava na rede de comunicação e/ou na franja pioneira garantia-lhe ou lhe garantiu um papel de destaque. Monbeig destaca duas funções importantes que alguns patrimônios e cidades desempenhavam na franja pioneira, sendo que as “bocas de sertão”, “[...] se situam na orla das zonas em que começa a penetrar o povoamento” (p.348), serviram, dentre outras coisas, como ponto de convergência da produção agrícola de uma determinada região; e as cidades denominadas “pontas de trilhos” foram os pontos terminais provisórios das principais ferrovias do Oeste paulista, desempenhando o importante papel de ponto de escoamento da produção, ponto de embarque e desembarque de passageiros e, em alguns casos, ponto de manutenção do maquinário.

Todas as cidades médias estudadas foram, por alguns anos, “bocas de sertão” ou “pontas de trilhos”7, o que lhes ajudou a garantir, nesse momento histórico, suas funções de comando nas regiões em que pertencem. Foram nessas cidades que o capital produtivo se instalou e que se criaram as condições para a instituição de entrepostos comerciais de destaque, tanto comercializando os produtos da franja pioneira como os vindos da capital paulista. Também foi nessas localidades que o aparato burocrático do Estado veio se instituir,

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possibilitando/consolidando às cidades médias atuais a função administrativa8, implementando o fator de comando existente, fator este que já se fazia presente com a posição estratégica que as cidades desempenhavam na rede de comunicação do interior e pelo setor comercial e agroindustrial que começa a se implantar nestas localidades. Ressalta-se que o principal produto deste período é o café, que só vai perder sua hegemonia no começo dos anos 30 do século XX.

A crise do café do final da década de 1920 e começo da de 1930 com certeza vai atingir essas cidades, pois o café era o grande produto destas localidades, sobretudo para os grandes fazendeiros que tinham seus investimentos voltados para esta cultura. Para minimizar os efeitos da crise, o Oeste paulista contou com a diversificação de culturas9, possível por alguns fatores, entre eles, o pequeno produtor rural que arrendava as terras ainda recobertas pela vegetação nativa, derrubava as matas e formava as lavouras de café; para se manter na terra, plantavam diversas culturas para fins de alimentação e venda do excedente. A diversificação produtiva do campo contou ainda com a criação de gado10.

Os pequenos produtores rurais da região Oeste paulista contavam com um contingente importante de imigrantes que influenciaram a formação e diversificação produtiva local.

Figura 1: Colonização de parte do Sudeste e do Sul brasileiro

Fonte: Silveira 2003.

Organizador: Luis Fernando Rosalino

8 MONBEIG, 1984, p. 367.

9 SALLUM Jr., 1982; WHITACKER, 2003, p.50. 10 MONBEIG, 1984, p. 302-307.

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De acordo com a Figura 111, que retrata a distribuição espacial dos imigrantes no Brasil, se deslocaram para as regiões das cidades médias do Oeste paulista, principalmente, italianos, japoneses, alemães e espanhóis. Estes povos migraram para a região em um período de recessão do café, entre os anos de 1930 e 1960. Não é objetivo deste trabalho analisar as razões dos fluxos migratórios que chegaram ao Brasil. Para tanto, ver Silveira (2003), que analisa a influência destes povos na formação territorial do Sul do Brasil.

Importante destacar as características que estes povos levaram para as áreas em que colonizaram. Silveira (2003) aponta seis características importantes:

1) grau de consumo superior aos escravos e a maioria dos luso-brasileiros; 2) trabalho familiar; 3) conhecimentos técnicos repassados por gerações; 4) hábitos econômicos equilibrados (trabalho persistente e consumo sóbrio); 5) forte vontade de independência; 6) uma forte ideologia do trabalho. (SILVEIRA, 2003, p. 184).

O autor destaca importantes características para a formação e consolidação do mercado consumidor local. A presença de imigrantes fortaleceu a renda local de diversas formas, entre elas, pelo maior consumo de mercadorias, o que implementou o setor comercial local e pelo trabalho familiar, o que muda a relação com a terra, aumentando a produtividade e exigindo uma diversificação da produção e geração de excedente para sustento da família.

2.2. A diversificação agrícola e o processo agroindustrial

Os pontos abordados há pouco ajudaram a estabelecer a diversificação agrícola. Este cenário, aliado ao mercado consumidor local e à implantação das agroindústrias ligadas ao algodão, à seda, ao amendoim, à pecuária, entre outras, ajudam a explicar os motivos pelos quais as cidades selecionadas prosperaram após a crise de 1929. A especulação imobiliária e/ou a crise financeira dos grandes produtores rurais do café ajudou a estabelecer um processo de parcelamento da terra rural, atraindo novos habitantes à região. Assim, o mercado consumidor local ganhou relevância, auxiliando no processo da diversificação produtiva regional.

A exceção no processo de consolidação do mercado local e na estruturação econômica fica por conta de Bauru, que tem uma função de destaque na malha ferroviária

11 A figura 1 foi extraída da tese de Silveira (2003), p. 63, mas modificada de acordo com os interesses deste trabalho.

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nacional, pois ramificavam desta localidade as principais ferrovias da margem esquerda do rio Tietê. As ferrovias Paulista e Sorocabana passavam por Bauru e a Noroeste do Brasil12 partia de Bauru até as barrancas do Rio Paraguai, em Corumbá.

A função ferroviária de Bauru garantiu um importante parque de reparo das linhas e do maquinário das ferrovias, trazendo consigo um grande número de empregados. Tornou-se um ponto estratégico para o embarque e desembarque de passageiros, o que garantiu, desde o começo do séc. XX, o incremento dos setores comerciais e de serviço, através dos viajantes ou mesmo do mercado consumidor local. A indústria de peças e acessórios também foi relevante neste momento histórico para a economia local.

A infra-estrutura e os ramos anexos à ferrovia entram em crise com a mudança do modal de transporte, pois a partir da “JK” (Juscelino Kubitschek de 1956 a 1960) privilegia-se o modal rodoviário e o transporte ferroviário entra em estagnação com a falta de investimentos e a não ampliação da malha férrea. As décadas seqüentes são marcadas pela decadência das ferrovias por conta da falta de investimentos públicos, o que levou à diminuição da extensão das linhas férreas13. Este cenário gerou desdobramentos negativos para a economia de Bauru14. Com a depressão da infra-estrutura ferroviária a cidade fica dependente do seu mercado e estrutura produtiva local.

Os dados históricos de formação das cidades pioneiras são relevantes para afirmarmos um processo muito semelhante de ocupação entre as cidades selecionadas. Mesmo as de fundação mais antigas foram criadas por conta da expansão da franja pioneira, motivada pelo anseio de multiplicar os lucros do capital monopolista cafeeiro e do capital especulativo imobiliário. Depois da crise da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, temos o parcelamento do solo rural e o aumento da população local.

As relações de semelhança entre estas cidades além de serem encontradas em seus processos de colonização, também são encontradas em seus processos de formação do setor industrial. Autores como Sposito (1991), Dundes (2001), Mourão (1994) e outros, relatam a formação da indústria nas cidades da franja pioneira, com destaque para Presidente Prudente e Marília, como vemos a seguir:

Assim sendo, as cidades paulistas foram fundadas ou redinamizadas a partir de uma expansão agrícola (sobretudo, das áreas de plantio de café), mas já significativamente influenciadas por novas determinações: a agricultura diversificada e a indústria nascente, como se o processo de urbanização

12 LOSBAK, 2004, p. 26.

13 SILVEIRA, 2003, capítulo III. 14 LOSBAK, 2004, p. 28.

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tivesse a sua matriz econômica no campo, visto que se conformava a rede urbana a partir do avanço do complexo cafeeiro. (SPOSITO, 1991, p.70). A ocupação de terras da Alta Paulista, onde se localiza Marília surge na transição da economia agroexportadora do café para a economia industrial... A atividade industrial vai surgir na cidade pela transformação do algodão. [...]

O início do processo de industrialização da cidade tem sido associado à instalação das máquinas de beneficiamento de algodão, principalmente após 1936, quando chegam as grandes unidades de capital de fora, nacional e estrangeiro, como a SANBRA, Anderson Clayton e a Matarazzo. (MOURÃO, 1994, p. 57).

No início da década de 30, entretanto, a cultura cafeeira desenvolvida na região já declinava em virtude da crise de superprodução de 1929. Deste modo, em meados dessa década, o algodão começou a ser cultivado na região, substituindo gradativamente a cultura do café.

[...]

Essas duas culturas (algodão e amendoim) tiveram importância econômica e social na região, pois proporcionaram um avanço no desenvolvimento urbano regional, sobretudo em Presidente Prudente, principal centro de comercialização da produção e onde estavam instaladas grandes beneficiadoras desses produtos (Matarazzo, Anderson Clayton, Lótus, SANBRA, entre outras). (DUNDES, 2001, p. 71).

Fica claro que os processos históricos de formação da indústria são tão semelhantes que em alguns momentos se confundem. As cidades desenvolveram este setor via capital local15, principalmente após a saída das empresas de capital externo da região no decorrer do século XX. Importante destacar que as agroindústrias são as principais atividades industriais do Oeste paulista, principalmente com as atividades têxteis e alimentícias. Nota-se a forte presença do beneficiamento do algodão, cultura encontrada em toda a região e, em um primeiro momento, beneficiado por empresas nacionais e multinacionais.

Com a derrocada do algodão, novas alternativas agrícolas surgem. Assim, regiões como as de Marília e Presidente Prudente ainda apostam na extração de óleos vegetais com a ascensão da cultura do amendoim16. São José do Rio Preto continua com o processo de diversificação agrícola com o milho, a laranja, o arroz, a cana-de-açúcar, as seringueiras e, com maior destaque, a pecuária17. Para atender a agroindústria local18, Bauru segue a mesma linha de diversificação agrícola com a produção pecuarista e com a produção do milho, do algodão e do amendoim. Infelizmente carecemos de dados para discorrer sobre a produção agrícola de Araçatuba, embora o epíteto de “terra do boi gordo” possa nos dizer alguma coisa. O problema é: a partir de que época?

15 DUNDES, 2001, p.72; MOURÃO, 1994, p.58. 16 MOURÃO 1994, p.85; DUNDES, 2001. 17 WHITACKER, 2003, p.53.

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Tanta semelhança nos perfis econômicos das cidades médias estudadas nos remete, ainda que superficialmente, a pensar na lógica capitalista produtiva do decorrer do século XX. Em um primeiro momento temos a produção de algodão e a extração de óleos com o esmagamento de seu caroço. Esta evolução do algodão só ocorreu por conta do café e para atender o mercado externo, pois o período de guerras levou grandes países produtores de algodão a sacrificar suas lavouras. A derrocada do algodão se deu pela perda de produtividade da cultura na região, sobretudo pelo esgotamento do solo. Entra em cena então, nas décadas de 60 e 70, a extração de óleo do amendoim, que compete com a soja sulista, mas que acaba entrando em derrocada. Os processos e elementos narrados auxiliaram na diversificação da produção agropecuária do Oeste paulista. No decorrer do século XX ganha destaque a produção de cereais, cítricos, agroenergéticos e intensifica a criação pecuarista.

Como vimos tal diversificação atendeu o capital produtivo em escala local, com as agroindústrias; e nacional, visando atender o aumento do consumo urbano e no intuito de criar divisas para o país19. A lógica capitalista permeia as semelhanças econômicas das zonas produtoras de matérias primas, a divisão do trabalho produziu territórios semelhantes, e só os diferentes usos, dos signos e símbolos elaborados em cada etapa do capital, por uma sociedade pontualmente localizada, pode levar à heterogeneidade e às vantagens competitivas locais.

Não negamos a diversificação industrial dessas cidades; é evidente que as atividades industriais de menor expressão se diferenciam. Talvez consigamos no final da pesquisa mostrar que alguns ramos industriais não ligados à agroindústria tenham destaque, quanto o número de empregados, ao número de empresas, e a renda média. Contudo, até a década de 1970 encontramos a primazia da agroindústria de capital local e com grande semelhança entre as cidades.

Buscando entender as dinâmicas econômicas locais, colocamos em voga o processo de desindustrialização ocorrida no Estado de São Paulo nas décadas de 1970 e 1980. Este tema será abarcado adiante, pois analisar este processo nos ajudará na obtenção de indícios da seqüência histórica no processo de industrialização das cidades destacadas na pesquisa.

As semelhanças históricas de formação do Oeste paulista são latentes. No entanto, essas cidades começam a se diferenciar por vários motivos, entre eles, pelos diferentes imigrantes, diferentes formas de produção do solo, qualidade e quantidade da malha de transportes. Para buscar indícios desta diferenciação na atualidade ou ainda das semelhanças entre as cidades médias estudadas, buscamos um retrato da renda local através do PIB

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(Produto Interno Bruto) per capita e de algumas características sociais através do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de cada município. Sabemos que são índices generalizadores que podem, ou melhor, camuflam as desigualdades entre as classes sociais.

A figura 2 apresenta o PIB per capita no ano de 2003. As cidades médias selecionadas então em intervalos semelhantes de PIB per capita de R$5.600 a R$7.640. Este é um intervalo modesto se compararmos ao intervalo mais elevado que corresponde a municípios com PIB per capita acima de R$50.000. Importante notar que no entorno das cidades médias estudadas encontramos municípios com melhor desempenho, principalmente próximos a São José do Rio Preto, Araçatuba e Bauru. Se relacionarmos isso à centralidade exercida por uma cidade média, há a possibilidade de aumento das vendas comerciais locais. Entendemos que o PIB per capita não é o melhor indicador, uma vez que ele camufla, entre outros aspectos sociais e econômicos, a concentração de renda, mas achamos interessante pelas perspectivas econômicas que este indicador cria. A área entre Marília e Bauru chama a atenção também por ter um considerável número de municípios com baixo PIB per capita, já que na porção central do estado de São Paulo não há muitos municípios nesta situação. Mais uma vez, não temos elementos para explicar tal fato.

Figura 2: Produto Interno Bruto per Capita dos municípios paulistas em 2003

Fonte: Fundação Seade; PNUD Organizador: Luis Fernando Rosalino

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Buscando relacionar o produto interno bruto per capita dos municípios com escolaridade, longevidade e poder de compra, lançamos mão da figura 3, que traz o IDH elaborado pela Fundação Seade, baseado nos dados do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) para todos os municípios paulistas no ano de 2000. Assim como no mapa anterior, podemos constatar que as cidades médias pesquisadas estão em intervalos semelhantes, todavia, agora fazem parte de um intervalo relevante, positivo. Este intervalo abarca municípios de 0,8 a 0,9 em uma escala que vai até 1, ficando atrás apenas de municípios de 0,9 a 1 na escala de IDH.

Figura 3: Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios paulistas em 2000

Fonte: Fundação Seade; PNUD Organizador: Luis Fernando Rosalino

No mapa as cidades médias selecionadas se destacam em suas regiões, principalmente em Presidente Prudente, Marília e Bauru, por conta do grande número de municípios, circunscritos a estas cidades, com IDH menor que 0,800. As regiões de São José do Rio Preto e Araçatuba possuem uma quantidade grande de municípios com IDH de 0,800 a 0,900. Relacionando as figuras 2 e 3, e levando-se em conta que na formulação do IDH encontramos indicadores como poder de compra, podemos notar indícios de bom poder de compra nas cidades médias estudadas e nos municípios ao seu entorno.

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As semelhanças entre as cidades selecionadas para esta pesquisa são muitas, passando pelo seu histórico de formação, suas funções na colonização do estado, nas culturas agrícolas produzidas até meados do século XX, no IDH e no PIB per capita de cada município. Contudo, as diferenças são evidentes quando observamos a diversificação agropecuária, a ser tratada mais a frente, e as diferenças regionais, começando com os PIBs per Capita e com o IDH dos municípios ao entorno das cidades médias estudadas.

Durante o histórico de formação da dinâmica econômica estadual, alguns processos poderiam auxiliar na diversificação das cidades médias e suas regiões, sobretudo na diversificação da produção industrial, diminuindo, inclusive, a dependência da agroindústria. Destacaremos no capítulo 3 o processo de Desconcentração Industrial do Estado de São Paulo. Neste processo histórico foram criadas possibilidades para a penetração, rumo ao interior do Estado de São Paulo e para outras regiões do país, da indústria instalada na capital paulista.

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3 – O PROCESSO DE DESCONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL DA REGIÃO METROPOLITANA PAULISTA

Na busca por apreender a dinâmica econômica das cidades médias do interior paulista, entendemos ser necessária uma análise calcada nos processos históricos de formação da indústria paulista, tais como a formação da indústria no Estado de São Paulo e/ou processo de desconcentração industrial da Região Metropolitana paulista, no sentido do interior do estado. No entanto, não nos aprofundaremos ou mesmo tangenciaremos os primórdios da indústria paulista20, a não ser o processo de industrialização do interior. Para tanto, focaremos o estudo no processo de desconcentração industrial pelo qual a região metropolitana paulista passou no decorrer das décadas de 70 e 80, por entendermos que este evento criou oportunidades para o surgimento e consolidação de um parque industrial nas cidades médias do interior paulista. Não obstante, tentaremos levantar indícios que nos ajude a verificar ou refutar a continuação do processo de interiorização da indústria paulista, ainda que utilizemos uma base de dados distinta dos principais estudos sobre este processo, mas com as mesmas variáveis e incluindo algumas novas.

3.1. Processo de desconcentração industrial paulista

Durante toda a década de 1990 foi elaborada uma leva de trabalhos que visavam estudar o processo de desconcentração industrial da Região Metropolitana de São Paulo, com números que precisavam as décadas de 1970 e 1980, nos quais os autores buscaram comprovar a migração da indústria para o interior paulista e demais regiões do país. Alguns trabalhos serviram de base à análise deste processo, dentre eles as obras de Negri, Tartaglia e Lencioni, autores os quais entendemos ser necessários para tal fim.

A década de 1960 marca os primeiros debates sobre uma alternativa para os problemas ocorridos pela concentração da indústria nacional e do dinamismo econômico de ilhas no território, pouco articuladas com o restante do país. Aliado à pouca irradiação econômica destas ilhas, juntam-se os preocupantes desdobramentos da falta de políticas sociais e urbanas dos principais centros econômicos brasileiros.

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A cidade de São Paulo e sua região metropolitana, como maior pólo econômico nacional, careceram de políticas públicas para um crescimento urbano que minimizasse problemas ambientais e sociais, que se somaram aos problemas econômicos, geraram a perda de competitividade da região metropolitana de São Paulo, primordialmente por conta da constituição do que Negri entendeu ser “deseconomias de escala” ou “custos da aglomeração urbana”. Na lista de problemas estavam dificuldades de locomoção, tanto de mercadorias como de pessoas; deterioração, falta e/ou má localização de equipamentos públicos e de serviços como educação, saneamento básico e saúde; problemas ambientais tais como qualidade do ar, ocupação irregular de mananciais e qualidade da água; o forte movimento sindical; a especulação imobiliária; a diminuição da qualidade de vida e seus desdobramentos. Motivados pela perda de competitividade, pela pressão social e pelo nascente movimento ambientalista, o governo do estado e a União criaram a partir dos anos 1960 uma série de restrições à instalação de novas plantas industriais na capital e sua região metropolitana, incentivando a migração de indústrias para o interior paulista e outras regiões do país, uma vez que a concentração industrial foi identificada como uma das raízes dos problemas urbanos da metrópole. Como já citado acima, o município da capital e seu entorno apresentavam outros problemas econômicos, sociais e ambientais. Contudo, o Estado, em suas diversas esferas, focou sua atuação na concentração industrial desta região.

Dentre as principais medidas despendidas para minimizar a característica concentradora da região metropolitana paulista, temos, no âmbito da União, as políticas de incentivo à investimentos em outras regiões do país, principalmente pelo intermédio das superintendências regionais e dos desígnios instituídos nos Planos Nacionais de Desenvolvimento da década de 1970. Os incentivos passavam por facilidades na obtenção de créditos; isenção de impostos; produção de infra-estrutura; criação e contribuição para o surgimento de tecnopolos como os de São Carlos (Universidade Federal de São Carlos), de São José dos Campos (CTA e ITA), em Campinas (CTI) e em Piracicaba (CENA); investimentos no setor produtivo, como a construção e ampliação das refinarias de petróleo no interior do estado de São Paulo (Refinaria do Planalto Paulista, em Paulínia; Refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão e a Refinaria Henrique Lages, em São José dos Campos), produção de Refinarias no Sul e Nordeste do país, criação do Pólo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, a ampliação da Cosipa, em São Paulo e de outras siderúrgicas em outras regiões do país, e a Embraer, em São José dos Campos, para falar de alguns investimentos no setor produtivo no interior paulista e em outras regiões; disseminação de infra-estrutura para telecomunicações como a ampliação da rede de telefonia no interior paulista e em outras

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