Diretor: Filipe Resende | Diretores-adjuntos: Afonso Sousa, Diogo Lopes, João Tavares e Raquel Trindade
Edição nº5 (Março de 2013)—Jornal Mensal
Opinião
Não percas nesta quinta edição a opinião do antigo aluno da
FCH e atual editor de política do Expresso, Martim Silva
Págs. 8 e 9
Culturismo
Nesta edição
conhece a saga
The Vengeance
triology e o livro
de Vergílio
Fer-reira “Em nome
da terra”
Págs. 10 e 11
Correio FCH
O Jornal Público na
Biblioteca e a falta
de civismo e “Os
meninos da
Católi-cos vs. Os outros
alunos” nas cartas
desta edição.
Pág. 15
“Não sou professor, nem
doutor, nem excelência ou
eminência(…) O meu nome
é Carlos”
Grande Entrevista - Págs. 4 a 6
Question à trois
Conhece Pedro
Pereira, aluno da
FCH e um jovem
talento escritor
Págs. 13
E x p o C a r r e i r a s
2013
Que relevância
tem a
ExpoCar-reiras? Quais as
novidades deste
ano? Sabe tudo
na FCH News d’O
Académico
2 | Editorial
Por aqui passaram talentos
"O talento é um título de responsabilidade.”
Charles de Gaulle21
Anos depois da fun-dação do curso de Comunicação Social e Cultural na FCH/UCP, sentimos a necessi-dade de tocar neste assunto pela importância que esta licenciatu-ra tem no panolicenciatu-rama atual da comunicação social em Portugal. Após alguns contactos com a primeira geração de alunos de comunicação, apercebemo-nos que a FCH não é apenas uma faculdade, é uma fábrica de talentos e de futuros profissio-nais.Hoje grande parte dessa pri-meira geração ocupa grandes cargos profissionais. São asses-sores de ministros, jornalistas ou investigadores consagrados.
O Académico espera, a partir
deste momento fazer um apa-nhado dessas duas décadas, com entrevistas, artigos ou mesmo reportagens.
Nesta quinta edição temos dois exemplos dessa primeira formação prodigiosa de Comuni-cação Social na Católica: Carlos Calaveiras, atual professor de Comunicação Radiofónica e jor-nalista da Rádio Renascença e Martim Silva, prestigiado jorna-lista, que é hoje editor de Políti-ca do Semanário Expresso.
Curso teórico ou não, a verda-de é que Comunicação na FCH continua a ser um curso de uma Faculdade de Excelência dentro da Católica e no panorama nacional do ensino superior por-tuguês.
Esperamos nas próximas edi-ções tocar neste tema e procu-rarmos estes atuais profissio-nais da Comunicação, de forma a entendermos a importância da nossa faculdade no panorama nacional e individual.
Para além da Comunicação, as outras Ciências Humanas na Católica também são muito valo-rizadas. O curso de Serviço Social é um dos melhores cursos a nível nacional. As Línguas Estrangeiras Aplicadas a mesma coisa e temos a certeza que daqui por alguns anos o mesmo vai acontecer com Psicologia, a licenciatura mais recente da FCH.
Embora digam que existem outras faculdades melhores que a nossa, a verdade é que a FCH da Católica tem um prestígio que nenhum outro estabelecimento de ensino tem. Tem exigência, cria desafios aos seus alunos.
Mas cuidado, o talento não é sinónimo de curso superior na FCH/UCP. O talento é algo que se desenvolve. Como já nos dis-seram vários antigos alunos da FCH o talento pode ser a humil-dade que cada um tem em que-rer aprender mais e ser capaz de ser crítico relativamente ao seu trabalho.
Como disse o ator Rui Moris-son “Se nascemos com jeito para fazer coisas e não traba-lharmos, nunca chegaremos a um nível pelo menos aceitável. Às vezes, sucede que um tipo com menos talento pode chegar mais longe.”
FCH News | 3
Expocarreiras 2013
No tempo presente, em que conseguir um estágio, e mais ainda um emprego, se transformou numa quimera, urge reduzir (na esperança de radicar) o fos-so entre o ensino superior e o mercado de trabalho. Neste sentido, surgiu a ExpoCarreiras, um evento promovido pela Faculdade de Ciências Humanas (FCH) da Universidade Católica Portu-guesa (UCP) que se apresenta já na sua 6ª edição.
Nascido em 2008, este projeto visa fomentar a comunicação e a proximida-de entre os alunos do ensino superior e o mercado de trabalho, com objetivo final de fazer chegar aos estudantes informações concretas sobre as expecta-tivas e requisitos da esfera laboral. Para tal, a FCH solicita a participação de diversas empresas da área da comunica-ção (quer no campo do jornalismo, quer no das relações públicas, entre outros) que se deslocam ao campus de Palma de Cima para esclarecer os estudantes e oferecer oportunidades de estágio.
Além dos objetivos já referenciados, procura-se ainda, com a ExpoCarreiras, promover a própria UCP, bem como a qualidade do seu ensino, que acompa-nha os seus alunos durante o processo de metamorfose e à saída do casulo
como competentes profissionais. Querendo inteirar-nos das especifici-dades da ExpoCarreiras 2013, entrevis-támos a aluna de 2º ano do curso de Comunicação Social e Cultural, Miriam Andrade, que tem participado ativa-mente na preparação deste evento. Qual é a relevância deste evento para os estudantes da UCP? Este evento é extremamente importante para todos os alunos da FCH porque promove o intercâmbio entre o mundo do trabalho e o estudante, preparando caminho para o seu futuro profissional. As empresas estarão aptas para recebe-rem os Currículos dos alunos, o que
poderá suscitar uma hipótese de empre-go e, principalmente, de estágio. É uma oportunidade a não perder!
Que novidades traz a ExpoCarreiras 2013?
O tema abordado no próximo dia 5 de Março será o aluno e o mercado de tra-balho. A ExpoCarreiras deste ano traz um toque de interatividade entre o alu-no e o especialista, onde as duvidas que os alunos tiverem em relação à sua entrada no mercado de trabalho serão respondidas numa das conferências da tarde. Será uma boa forma de esclarecer as cabeças confusas e ansiosas de todos nós.
Beatriz Isaac
Inês Andrade na FCH
A locutora da Cidade FM, vem dar uma palestra à FCH sobre a sua experiência em rádio. O encontro será no próximo dia 12 de março, a partir das 15:30 com lugar na AEFCH.
BREVE
Bênção das Fitas da FCH
No passado dia 14 de feve-reiro ficou decidido em Reu-nião Geral de Alunos (RGA) que a Bênção das fitas vai ser composta por duas ceri-mónias distintas: um primei-ra evento com presença nas instalações da FCH, e a res-petiva Bênção na Cidade Universitária juntamente com as outras universidades de Lisboa.
Ao contrário da polémica discussão na rede social Facebook, após um dos membros da Comissão de Finalistas ter publicado o
aviso da Bênção, mui-tos dos alunos mais críticos não reagiram da mesma forma que nos comentários do Facebook tendo com-parecido apenas 12 alunos.
Até ao momento con-tabilizam-se cerca de 60 alunos inscritos na Bênção, apurou O Académico junto da Comissão de Finalis-tas. A Bênção será no dia 18 de maio.
4 | Destaque
GRANDE ENTREVISTA
E
le não gosta, nem tem
“prefixos” no nome, como
títulos de professor ou
doutor. O seu nome é
Calaveiras, Carlos Calaveiras,
40 anos. Há 21 anos foi um dos
alunos a inaugurar o curso de
Filipe Resende
Comunicação Social e Cultural
na Católica. Foi colega de turma
de figuras como Ricardo Araújo
Pereira ou Martim Silva.
A sua maior paixão é a Rádio.
Atualmente é professor de
Comunicação Radiofónica e
Jor-nalista da Rádio Renascença.
Passaram pelas suas mãos
imensos talentos do meio
radiofónico como Vasco
Pal-meirim, André Henriques e
outros
tantos
radialistas
conhecidos. O Académico foi
conhecer este descontraído
professor que pede para que
não lhe tratem por tal:
“Não sou professor, nem doutor, nem
excelên-cia ou eminênexcelên-cia(…) O meu nome é Carlos”
Foste um dos primeiros alunos de Comunicação na Católica.
Sim. Fui dos primeiros a entrar e dos segundos a sair, digamos assim.
Quem foi teu colega nesse primei-ro ano de Comunicação?
O Ricardo Araújo Pereira e o Miguel Gois, que foram para o humor. Ago-ra no jornalismo há muitos. Na SIC há imensos. Na TVI há vários. No grupo da Renascença são dezenas.
Mas nomes.
O atual editor da noite da Renascen-ça, José Pedro Frazão foi cá aluno. O editor da RFM da tarde Pedro Caei-ro, também foi cá aluno. Fora do grupo Renascença, temos o Paulo Fernandes na M80, o Ricardo Sérgio na Antena 3, temos na Cidade FM a Rita Rugeroni, que acho que já está na Comercial. São tantos. Na televi-são temos muita gente também. Temos o Martim Silva, editor de política do Expresso. Temos o Mar-tim Avillez Figueiredo. Temos o Luís Costa Branco que estava na SIC e agora é editor do Sol em Angola. São imensos.
São imensos talentos.
Sim. Eu conheço melhor os dois pri-meiros anos. Tiveram todos uma
empregabilidade elevada no setor. Estávamos em época de maré cheia, digamos assim e a maioria entrou nessa fase.
A rádio foi sempre o sonho da tua vida?
Sim, foi a primeira “doença grave” que apanhei. Isto é um bicho que se desenvolve nas pessoas. Antes de vir para a rádio, eu brincava às rádios em casa. Tinha uma rádio pirata. Quer dizer, não era bem pira-ta porque nem ia para o ar. Era “Me, myself and I” como diz a música dos Gift. Tinha um nome que não posso dizer aqui. Mas era uma rádio em
que fazia tudo. Fazia o programa, a informação. Também ouvia rádio de manhã à noite, a minha mãe tinha um rádio sempre ligado. Portanto quando acordava estava o rádio ligado lá ao fundo na cozinha. E ia para as aulas e vinha das aulas e ligava o rádio do carro.
E descobri uma coisa gira. Quando era pequeno a minha mãe mandava-me para a cama às dez da noite. Nós quando somos miúdos fazemos aquela “cowboiada” do “não quero ir, não quero ir” até que descobri que a Renascença tinha um progra-ma à noite, que era às dez e meia, que se chamava “Bola Branca:
Edi-Grande Entrevista a Carlos Calaveiras | 5
Carlos Calaveiras
ção alargada da noite” e então a minha mãe mandava-me para a cama às dez. Eu aguentava aquilo um bocado e às dez e meia enfiava o rádio debaixo da cama com um auri-cular e estava a ouvir a Bola Branca sossegado.
A minha mãe pensava que estava a dormir e estava a ouvir a Bola Bran-ca, e depois ouvia o noticiário das onze. Mas graças à Bola Branca comecei a ir para a cama às dez e meia. Depois vim para a Católica, quis Comunicação Social e vi-me inscrever na cadeira de Comunica-ção Radiofónica. A “doença” foi-se agravando ao longo dos tempos. Na altura a cadeira era opcional e vim-me para cá de véspera com um gru-po de alunos gru-porque tínhamos de garantir as vagas e portanto, a doen-ça era tão grande que quase nos obrigámos a inscrever na cadeira. A coisa agravou-se.
E nunca mais paraste…
É verdade. Eles [professores] acha-ram tanta graça ao miúdo que não saía daqui [estúdios de rádio da UCP], que acabaram por me contra-tar para a Católica e depois para a Renascença. Foi quase simultâneo.
Com quem é que já trabalhaste conhecido na rádio?
O vosso professor Ramos Pinheiro foi o meu primeiro diretor de infor-mação. Agora é administrador do grupo R/com. Agora fora o profes-sor, já entrevistei ministros, não sei se conta. Risos.
Se os ministros contam... Houve um ministro que me virou a cara a uma pergunta. O que foi simpático da parte dele. Fez-me um sinal que aquela pergunta não ia responder, e virou-me as costas. Foi engraçado. Com outra ministra, essa mais sim-pática. Eu cheguei atrasado ao servi-ço ao qual sou alheio e a senhora estava a sair quando cheguei. Falei com ela e disse-lhe:
“Doutora peço-lhe desculpa por ter chegado atrasado, importa-se de responder a umas perguntinhas rápidas? Eu sei que isto já acabou, mas é só para eu ter qualquer coisa para quando chegar à rádio.” E ela disse-me: “Ainda não almocei, estou quase a desfalecer, mas vá lá.” Foi muito porreira. Essa posso dizer quem foi. Foi a Dra. Maria de Belém. Foi impecável comigo e com uma outra colega que também se atrasou.
Que jovens promessas já passa-ram pelas tuas mãos nesta disci-plina de Comunicação Radiofóni-ca? Suponho que tenham sido bastantes.
Sim. Uma coisa que dá especialmen-te orgulho é ver ex-alunos desta cadeira em vários lugares. Ligar a televisão e estão lá, ou abrir o jornal e ver o nome. Ouvir as rádios e lá andam. É espetacular. É giro ver as pessoas que começam pequeninas e vão crescendo. Temos que ter qual-quer coisa cá dentro. Não sei se é um bicho, nem sei o que é, eu chamo -lhe bicho. É qualquer coisa que depois vamos regando, para aquilo crescer e tornamo-nos bons e é espetacular ver as pessoas, mesmo fora do jornalismo. Temos ex-colegas nossos que hoje são assesso-res de ministros, temos tudo. É fan-tástico! Este curso, esta universida-de abriu imensos horizontes a muita gente e deu emprego. E pelos vistos a empregabilidade continua alta, mesmo apesar da crise. Os alunos queixam-se que o curso é demasia-do teórico e esta disciplina é um oásis. Nesse aspeto, ainda bem que é assim porque à partida os alunos gostam. Temos um bom feedback e recebemos as nossas avaliações e temos estado sempre acima da média. O que é bom saber, é sinal que os alunos gostam e que valemos alguma coisa.
Achas que os alunos que saem das universidades têm potencial na rádio?
Claro! Ninguém nasce ensinado. Mas assim de anos para anos, há umas pessoas que aparecem e aquilo é inato nelas. Mas isso é como o Mara-dona no futebol. Ele não precisava de treinar, aquilo já vinha com ele. Há pessoas na rádio, como há em todas as profissões, que aquilo pare-ce que já vem formatado. Mas 99% das pessoas que trabalham em rádio, aquilo é muito trabalho. Aqui-lo aprende-se, aquiAqui-lo evolui-se. Não sais daqui, mesmo depois do curso, especialista em rádio. É preciso ires para um sítio onde vais avançando e melhorando. Vais aprendendo com os mais velhos, com as pessoas que lá estão.
Como o próprio Professor José Patrício diz, 95% é trabalho e 5% é talento.
Sim, é fundamental. Tens que ser humilde. Tens que querer aprender. Tens que ouvir os mais velhos. Tens que levar na cabeça. Tens que apa-nhar secas à porta da Procuradoria, ou dias e dias atrás de certas pes-soas.
Por exemplo eu estou agora há dias e dias atrás de uma pessoa que não me atende o telemóvel, e quando me atende diz que está ocupada. Anda-mos nisto. Quando é preciso, teAnda-mos
6 | Destaque
que ir buscar o almoço a alguém ou comprar cafés e cigarros.
Se me dissesses dá-me aí três ingre-dientes fundamentais diria, vontade de aprender, humildade de ouvir os mais velhos e força de vontade, são três coisas fundamentais para esta e para outras profissões. Porque essa frase do “Aí tenho uma grande voz” Isso não é nada. As pessoas da rádio têm que ter a capacidade de ter uma boa comunicação, expressividade, trabalho, vontade e humildade.
Conhecemos o Carlos de Comuni-cação Radiofónica. Como é o Car-los da Rádio Renascença?
Risos. Isso só vendo, podes fazer-me
uma entrevista lá. Eu tento ser a mesma pessoa, é isso que eu digo na primeira aula que não sou profes-sor, nem doutor, nem excelência ou eminência.
Tu até dizes que não tens prefixos no nome.
Não. O meu nome é Carlos e portan-to tenportan-to estar à vontade. O professor Patrício costuma dizer que nós esta-mos à vontade, o que é diferente de estarmos à “vontadinha”. Portanto são coisas diferentes. Eu aqui tento ser o mais igual a mim próprio. Ten-to ser eu próprio. O Carlos da Renas-cença é igual ao Carlos da Católica sendo que na Renascença diz mais umas asneiras. Porque lá é a sério e com maior pressão, é complicado quando as coisas estão acontecer no momento. Quando me dizem para ter determinada coisa na hora, temos que ser rápidos a reagir. Aqui na Católica tentamos por pressão mas não conseguimos chegar ao mundo real. Às vezes é difícil gerir isso tudo.
Que grandes acontecimentos já testemunhaste na rádio?
Ui! Não sei quanto tempo tens, mas posso estar aqui horas a falar sobre isso.
Então os momentos que te vêem assim à cabeça.
Olha lembrei-me de um que estamos quase a repetir, a mudança do Papa. Quando morreu o Papa João Paulo II eu estava na Rádio. A Renascença é a emissora católica portuguesa e o que posso dizer-te que o Papa mor-reu num sábado, dia 2 de abril de 2005. Há datas que sei de cor! O papa morreu num sábado e nós entrámos em alerta vermelho na quarta-feira à noite, três dias antes. As folgas foram cortadas às pessoas, foram reforçados os turnos. Apanhei a morte do Papa, apanhei o concla-ve, apanhei a escolha do Papa Bento XVI, apanhei a queda da ponte Entre -Os-Rios. Fiz essa noite e madruga-da. Apanhei o 11 de setembro. O primeiro avião ainda estava em casa, o segundo avião estava a sair de casa. Entrei na rádio às 15 horas e saí às 8 da manhã do dia seguinte. Apanhei as duas eleições do Barack Obama. Todos os atos eleitorais por-tugueses, eu estava presente. Incluindo a demissão do engenheiro Guterres, do engenheiro José Sócra-tes. Falhei agora precisamente a resignação do Papa Bento XVI. Apa-nhei a segunda Guerra do Golfo. Nessa também estava de prevenção assim que o saudoso Carlos Fino deu a notícia, eu estava na cama mas calçado e vestido e foi só sair de casa e ir para a rádio.
De quem trabalha contigo, os que vieram da Católica estão mais bem preparados?
Depende, vamos tentar ser sinceros. Eu acho que nalgumas coisas sim, noutras não. Ou seja naquela coisa que se chama a teoria e isso engloba a cultura geral, acho que a Católica está à frente de todas. Naquela coisa do “estás pronto para ir fazer jorna-lismo”, já uma coisa prática, aí penso que há universidades melhores que a Católica. Em termos de à vontade prática, acho que a Católica não está à frente, não estou a dizer que está em último. Mas lá está, isto é um equilíbrio.
Em todas as grandes entrevistas que fizemos temos sempre uma pergunta “bombástica” e a nossa pergunta para ti é…
Meu Deus!
Andaste numa universidade Cató-lica, trabalhas numa rádio católi-ca e a que pergunta que fazemos é :és católico?
Eu sou aquilo que se designa um católico não praticante. O que quer isto dizer? Eu tive educação católica, como 99% dos portugueses. Sou batizado, fui à catequese, os meus pais são católicos e educaram-me tudo isso. Agora se me perguntas se vou à missa, normalmente não vou. Se calhar é neste momento que vou ser despedido. Vão rescindir o con-trato, mas sim tenho uma educação católica e tenho essa formação na minha vida.
“Naquela
coi-sa que se
chama a
teo-ria e isso
engloba a
cultura geral,
acho que a
Católica está
à frente de
todas.”
Opinião | 7
Muito mais que uma universidade…
Martim Silva
Editor de Política do jornal Expresso
F
oi há 21 anos que pela
primeira vez subi as
escadas que dão
aces-so ao edifício principal
e mais antigo da Universidade
Católica Portuguesa, em
Lis-boa. Eu e uma centena de
outros jovens olhávamos
então com esperança e
ansie-dade as pautas com as notas
dos exames de acesso ao 1º
ano do curso de Comunicação
Social (e Cultural) da Católica.
Eramos novos na
Universida-de. Como novo era o curso,
que se estreava.
Depois das áreas mais
tradi-cionais de ensino na Católica,
como o Direito, a Economia e
Gestão e a Teologia, a
Univer-sidade abria-se ao jornalismo.
Isto acontecia precisamente
no momento em que em
Por-tugal explodia a comunicação
social privada. A SIC estava
quase a nascer, a TVI
seguia-lhe os passos meses depois. O
Público tinha nascido havia
pouco tempo, o DN e o JN
tinham sido privatizados.
Era um momento de
espe-rança. Um momento de todas
as esperanças… Aliás,
Portu-gal era considerado o bom
aluno da Europa, o dinheiro
comunitário entrava no país e
a fatura parecia que nunca iria
chegar.
Duas décadas depois, vocês,
que subiram como eu as
esca-das de acesso à UCP cheios de
ilusões e energia, têm um país
e um mundo muito diferentes.
A democracia generalizou-se
no mundo, e a globalização faz
crescer países… mas noutros
pontos do mundo. Cá dentro o
que se sente é tudo menos
oti-mismo: é a crise que não há
maneira de ir embora, os
empregos que não regressam,
o crescimento económico que
se transformou numa quimera.
A questão já não é tanto o
sítio para onde vão quando
tiverem o canudo, mas se vão
ter um local para onde ir…
A comunicação social vive
essa angústia diariamente. O
mercado publicitário
retraiu-se fortemente, com uma
dimi-nuição considerável das
recei-tas que se sente em todo o
lado. Começando nas
televi-sões, mas passando
fortemen-te pela imprensa e rádios.
CONVIDADO ESPECIAL
O mote da generalidade dos
órgãos de comunicação social
já não é saber como fazer o
mesmo com menos recursos.
Agora, é fazer menos com
menos. Ponto final.
Ao mesmo tempo, e numa
suprema ironia, nunca se
con-sumiu tanta informação,
nun-ca se produziram tantas
notí-cias, nunca se leram tantas
novidades como agora.
É verdade, também há
cias boas, ou pelo menos,
notí-cias que permitem manter a
esperança.
A internet é global. Está no
mundo inteiro, em todo o lado
e a toda a hora, e está também
nas nossas mãos, com os
tele-fones de última geração e
apa-relhos como os tablets.
Estamos todos ligados e a
informação é cada vez mais
“Eu e uma centena de outros jovens olhávamos
então com esperança e ansiedade as pautas com
as notas dos exames de acesso ao 1º ano do curso
de Comunicação Social (e Cultural) da Católica.”
8 | Opinião
imediata, instantânea, e com
maior dificuldade da
manu-tenção do papel de mediação
do jornalista.
Esta sociedade global das
redes de informação é a vossa
sociedade. Este é o ar que
res-piram. E vocês são os atores e
protagonistas que se seguem.
Serão vocês a estar ao
coman-do, sejam jornalistas ou
traba-lhando em qualquer outro
lugar ligado à comunicação e
à sociedade da informação
global.
Daqui a duas décadas
serão vocês os líderes de
opi-nião, os jornalistas que
defi-nem a agenda, os
comunica-dores que definem as
tendên-cias. Serão vocês os “ricardos
araújos pereiras” (meu colega
no primeiro ano do curso),
serão vocês quem vai estar a
pilotar as redações deste país,
como hoje estão antigos
alu-nos da Católica, seja na SIC, no
Público, na Rádio Renascença
ou na Sábado. Ou no Expresso,
obviamente.
Tenho imenso prazer e
mesmo orgulho em ter feito
parte da primeira fornada de
“católicos” de comunicação
social. E tenho a profunda
convicção que daqui a vinte
anos vocês pensarão o
mes-mo. A Católica é uma
excelen-te Universidade, que se
man-tém no topo do que melhor se
faz em Portugal há décadas. E
a Católica são os professores,
são os funcionários. Mas são
sobretudo vocês, o futuros
trabalhadores e empresários
deste país.
Há vinte anos recebi
conheci-mento e informação de
pro-fessores como Braga da Cruz,
Adriano Moreira, Pedro
Maga-lhães, José Luís Garcia,
Adéri-to Tavares e tanAdéri-tos outros que
recordo com carinho. Recebi
ensinamentos de rigor,
exi-gência e excelência.
Mas também recebi uma nova
família que ainda hoje chamo
minha.
“
Isto acontecia precisamente no
momento em que em Portugal explodia a
comunicação social privada. A SIC estava
quase a nascer, a TVI seguia-lhe os
pas-sos meses depois. O Público tinha
nasci-do havia pouco tempo, o DN e o JN tinham
sido privatizados.”
P.S.: agora aqui para
nós que ninguém nos
ouve, digam-me uma
coisa, as tertúlias no
bar ainda são tão
divertidas e intensas
como eram?
Crónica | 9
A
bre os olhos, devagar, dei-xando lentamente, a penumbra do nascer do sol, dar vida às íris de cor ver-de que lhe dão o mundo. Que lhe dão ela. Esta a descansar ainda. Um anjo num nenúfar de linho branco, enge-lhado, impressão digital que revela o que se passou durante a noite. Na noite que durou mil noites. Mas ele não a olha logo, tem medo, medo de se aperceber de que tudo não passou de um sonho bom. Olha para o mog-no pesado da cómoda que sustem um velho espelho, testemunha do verda-deiro eu que ele guarda dentro de si e que mais ninguém conhece. Um eu que chora, que dança e que faz care-tas. O seu olhar vai subindo pelas linhas de madeira que fazem o móvel até que se detém no velho espelho. Não reconhece o que vê. Os traços que limam o seu rosto mantem-se, já os conhece de cor, mas a sua expres-são hieroglífica não se assemelha a nada do que já viu. Olha para o seu reflexo, sarapintado por autocolantes que nascem pela superfície gelada do espelho, e vê o que esperou anos por ver. Vê o que o fez enlouquecer de desespero e esperança ao mesmo tem-po. Vê Amor. Recíproco, genuíno e sem fim. Quase que nem consegue aperceber se disso... Disso que leva pintado na cara. Disso que nasceu do universo de sensações que está ali, deitado, ao seu lado, a respirar peque-nas lufadas de eternidade no seu pes-coço. Ela. Tudo.Com a subtileza de quem engana linhas de chuva fugindo pelos seus intervalos, destapa-se, lança com mil cuidados de veludo as pernas quentes para fora da cama e senta-se. Olha o espelho de novo. Vê o sol que cada vez cresce mais na sua cara. Sorri. Levanta-se e fica de pé. Com a cama nas suas costas. A olhar se ao espe-lho. O velho espeespe-lho. A sua cara feliz. Respira fundo e vira-se para ela, a ternurenta ela. A razão pela qual o mundo gira esta ali, à sua frente, com uma gasta camisola de lã que ele usa inverno após inverno, entrelaçada nos lençóis de amor que tem para lhe dar. Cobririam o mundo inteiro, o
univer-so inteiro. E ele univer-sorri de novo. Sorri muito. Quer partir os maxilares só para poder sorrir ainda mais. Meu Deus, ela está mesmo ali. Ele quase que nem consegue acreditar, mas é verdade. Ela está mesmo ali, deitada, de olhos carinhosamente fechados, com um sorriso de favos de mel. Ela está ali.
Com passos de calma e cuidado, ele atravessa o mar de madeira que forra o chão até chegar ao porto segu-ro que observa com amor desde que acordou. É perfeita. Tudo nela o é. Desde os seus pés de desenho cuida-do, que espreitam, sorrateiramente, pela ponta da manta de lã que a prote-ge, até ao seu cabelo castanho, curto, luminoso, que leva em si os cheiros do paraíso. Tudo é a perfeição. E ele continua a caminhar até ela.
Chegou. Ao lado da cama onde o futuro feliz dormita. Tem-na exata-mente à sua frente. O seu corpo e ela, em suspensão, preso num momento de total graciosidade. Um anjo a des-cansar. E o sorriso continua agarrado de unhas e dentes àquela cara cansa-da, gasta. Ele flete as suas pernas junto à extremidade da cama que flu-tua diante de si, uma nuvem, e fecha os olhos. Fecha-os e quase que vê mais ainda. De repente, o entrelaçado de sensações, cheiros, imagens e sonhos que jorram daquele amanhe-cer, daquele novo dia, fazem-no estremecer por dentro. As suas costas são rasgadas, de cima a baixo, por um fulminante arrepio.
Um arrepio diferente dos arrepios normais. Não vem do frio ou do medo, vem do fogo que o amor deixa como rasto quando vagueia por um corpo simples, adormecido, dormen-te. Um arrepio de recomeço.
Assim, alimentado pela brisa de uma nova vida, de uma nova esperan-ça, ele aproxima-se dela, do seu cor-po, da sua cabeça, do seu brilho. Ain-da agachado de encontro às arestas da cama, deixa o seu braço baloiçar pelo ar até cair em torno dela. Outro arrepio. Aproxima a sua cabeça da dela, e como se fosse dar um trago numa bebida quente, deixa os seus lábios tocarem na face quente daque-la que o faz respirar. Beija-a. Com ternura e leveza. Com carinho, com cuidado, com tudo. E o mundo nasce de novo. Um Big Bang num quarto na penumbra. Pousa a sua face na dela, fecha os olhos com muita força, com a força de quem se quer agarrar a um futuro bom. Quer aquilo para sempre. Quer aquilo até ao fim. Tan-to querer, tanTan-to sentir, tanta coisa, tanta coisa que leva agora consigo, todo ele é combustão. Combustão de tudo de mau que levava, pesadamen-te, às costas. Tudo isso se incendeia e faz libertar o que usará para construir a vida que quer partilhar com ela.
Encosta os seus lábios na orelha dela, deixa-os suspensos por entre a cortina de veludo que é o seu cabelo, e solta-se. "Sempre esperei por ti."
Cama
10 | Culturismo
Há um ditado chinês que
diz “Antes de embarcares
numa viagem de vingança,
cava duas sepulturas”. Este
ditado, irá ser essencial para
entender a obra do
realiza-dor. A trilogia de Park
Chan-wook não apresenta
segui-mento mas é contudo unida
por um tema, facto que lhe
valeu a atribuição do título
“A trilogia da vingança”. As
suas personagens
implacá-veis buscam pelo restauro
da honra e pela aplicação do
castigo. “Tu até não és mau
rapaz, mas sabes porque
tenho de te matar”, diz uma
das personagens de Park.
Percorram comigo esta saga
que viaja por caminhos de
justiça, crueldade, fé e
kar-ma, até chegarmos à reposta
para a pergunta, “valerá
mesmo a pena?”
Começamos com
Sym-pathy for Mr. Vengeance
(2002), onde um rapaz
sur-do-mudo trabalha numa
barulhenta fábrica. Fará
tudo ao seu alcance para
conseguir arranjar um rim
para a sua irmã doente, até
mesmo raptar uma criança
de modo a conseguir o
res-gate. Contudo, há algo que
corre mal.
O segundo filme da saga
e o mais aclamado
mundial-mente é Oldboy (2003). Um
homem é preso durante 15
anos sem saber porquê. Oh
Dae-su é libertado e é-lhe
CINEMA
dito que tem apenas 5 dias para
decifrar o seu cativeiro e obter
a sua vingança.
Em Lady Vengeance (2005), o
terceiro filme, entre tons de
branco e vermelho, pureza e
luxúria, é a vez de Geum-ja, a
belíssima protagonista
femini-na brilhar. Juntando os temas
recorrentes dos outros dois
filmes, Geum-ja é tramada por
um rapto e a morte de uma
criança. Aguarda
calculosamen-te os treze anos na prisão
femi-nina criando futuras aliadas e
traçando o seu plano.
Em três filmes, três diferentes
pontos de vista: Mr. Vengeance
lida com a futilidade da
vingan-ça; Oldboy trata-a como uma
experiência espiritual e Lady
Vengeance lida com a sua
absol-vição. Três casos de pessoas
normais que levaram este ato
ao seu extremo mais poético e
psicótico.
A trilogia da vingança
(2002-2005),
Park Chan-wook
“Quando um herói decide
vingar-se, a sua até agora
tedio-sa vida acaba e ele renasce
como uma pessoa
completa-mente diferente. Com a
conclu-são da vingança à vista, o herói
tem de enfrentar o facto de que
o prazer até esse ponto terá de
chegar a um fim. Os meus
fil-mes são as histórias de pessoas
que culpam os outros pelas
suas ações porque se recusam a
culpabilizar a elas mesmas”, diz
o realizador. Os temas de
vin-gança e destino trágico são
entrelaçados de tal maneira
que nos anestesiam.
Apesar de não haver heróis
ou vilões, cada personagem tem
direito ao seu destaque e as
motivações para as suas ações
são lentamente reveladas,
justi-ficadas e depois
completamen-te destruídas à medida que o
destino interfere para levar
tudo a um ponto de completo
desamparo e inutilidade.
11
“Querida. Veio-me hoje uma
vontade enorme de te amar. E
então pensei: vou-te escrever.
Mas não te quero amar no
tem-po em que te lembro. Quero-te
amar antes, muito antes”.
Começa assim este romance
de Vergílio Ferreira. Amor em
forma de livro ou livro em
for-ma de amor. João é o narrador
que escreve a Mónica, a esposa
já falecida. A ela escreve do
envelhecimento e da
degrada-ção do corpo utilizando uma
fórmula quer crua quer humana
e fala sempre, sempre do amor,
do mistério que o próprio
homem representa.
“Porque a grandeza ou a
miséria de um homem está
fechada à chave mas ninguém
sabe quem tem a chave”.
Da primeira à última página,
a ternura e a crueza andam de
mãos dadas numa escrita fluida
mas que se sente triste e
ama-ciado pela memória de Mónica.
João, isolado, vai percorrendo
os seus pensamentos, a sua vida
com a mulher num momento de
introspeção e solidão. E toma a
primavera como estado ideal. “É
primavera e não me apetece
sair dela, é a terra natal de
todos os sonhos da vida, mesmo
que lá não tenha nascido
nenhum. Porque os grandes
sonhos não são deles mas do
tempo em que devem ser. Os
grandes sonhos só nascem
depois de terem morrido”.
Publicado em 1990, dois
anos depois, Vergílio Ferreira
foi galardoado com o prémio
Camões como culminar de uma
carreira de um escritor
brilhan-te. Neste, como em outros
romances, foca o silêncio, o
abandono e a própria condição
humana. “Só eu hei-de saber o
teu mistério, só eu saberei o teu
ser” ou “A um olhar sem
pieda-de o homem é tão caricatura do
homem”.
Faz várias reflexões sobre o
“Eu”, próprias da corrente
exis-tencialista, em que João toma a
palavra e escreve sobre ele e
sobre Mónica. No final, “Eu te
batizo em nome da Terra, dos
astros e da perfeição. E tu dirás
está bem.”
Em Nome da Terra
, de
Vergílio Ferreira (1990)
Susana Gil Soares
Em Nome da Terra
,
de Vergílio Ferreira,
Bertrand Editora,15.93€
LITERATURA
A mensagem subjacente nos
três filmes, parece ser que a
vingança nunca acaba por
tra-zer paz, só leva a que as
perso-nagens se sintam não
realiza-das ou a que acabem ainda pior
do que começaram.
O realizador utiliza técnicas
inovadoras cheias de estilo
acompanhando atos
horripilan-tes com esplendida música
clássica: está criada uma
expe-riência memorável. As cenas
chegam a ser tão improváveis e
mesmo absurdas, que não há
outra opção se não rir. Uma
violência sádica e muito, muito
negra com que o cinema
euro-peu não lida tão
frequentemen-te.
Os filmes não são para uma
tarde de domingo com a
famí-lia. Há partes muito violentas e
os temas são emotivos. Mas tal
como diz o realizador, para
uma experiência que evoque
passividade, mais vale ir a um
Spa. Esta é uma saga que vale a
pena ver e rever e apreciar a
beleza de cada imagem de um
filme como hoje em dia há tão
poucos.
12| (Des)focado
Manifestação "Que Se Lixe a Troika" no dia 2 de Março
Fotografia Por:
12| (Des)focado
Question à trois| 13
Pedro Pereira: Um jovem talento escritor
E
screver. Escrevemos milhões de palavras duran-te a nossa vida toda. De trabalhos de casa a contra-tos de trabalho. Das coisas mais importantes às mais banais, desenhamos letras praticamente durante toda a nossa vida, mas poucos conseguem transpor aDiogo Lopes
barreira do direto e imediato significado do que aparece no papel à nossa frente. Poucos con-seguem criar sensações, imagens e às vezes até pessoas na nossa cabeça unicamente através de a’s, o’s ou u’s. Abençoados são os que conseguem dar-nos tudo isso através daquilo que criam com tanto carinho e, com trabalho, imaginação e sensibilidade,Entre nós, alunos, temos um exemplo desses: Pedro Pereira. Um jovem escritor que já faz magia de caneta na mão desde os doze anos e que vai demonstran-do vezes e vezes que promete muito mais. Com dois romances praticamente feitos, e com os prémios Leya a chamarem por si, decidimos ouvir o que ele tem para dizer.
Desde quando escreves?
Como começaste?
Escrevo desde os doze
anos. Lembro-me da data pois
foi quando saiu o filme
“Senhor dos Anéis.” Ao
mes-mo tempo estava a ler os
livros e pensei para mim
mes-mo: “Estou sempre a imaginar
mundos e personagens
por-que não fazer o mesmo?”
Escrevi vários manuscritos
inacabados desde essa altura,
alguns com menos de vinte
páginas outros com cento e
poucas.
Em que baseias o que
escre-ves?
Nas vivências e nas não
vivências. Tento sempre
incluir parte da minha “voz”
no que escrevo, seja um ideal
ou uma opinião contudo
pro-curo sempre retratar vidas ou
situações, mundos que nunca
irei conhecer. Uma busca por
paisagens, pessoas e
momen-tos que podem nunca vir a
acontecer, tento capturar em
palavras o melhor que posso e
assim sinto-me mais completo
como se tivesse vivido mais
do que posso no quotidiano.
Em suma: Escrevo sobre o que
não vivo, aquilo que desejo
viver e aquilo que já vivi. Tudo
num pequeno pacote de
pala-vras que procuro expressar da
melhor forma até ir de
encon-tro aquilo que eu sinto.
Perspetivas para o futuro?
Continuar a escrever ao
mes-mo ritmes-mo (1000 palavras por
dia durante a semana, 4000
por dia aos fim-de-semanas),
procurar acabar umas
quan-tas histórias curquan-tas que estão
atrasadas, procurar uns
con-cursos em que participar e
finalmente tentar escrever
uma primeira história em
inglês para lançar sobre um
formato de e-book.
“Tento sempre
incluir parte da
minha “voz” no
que escrevo, seja
um ideal ou uma
opinião”
14 | Edição Limitada
P
orque festivais de
músi-ca não são só músimúsi-ca,
bandas, concertos,
ten-das e loucura à
fartaza-na, o Talkfest regressa pela
segun-da vez na história para provar
isso mesmo. Esteja o caro leitor
em qualquer uma das vertentes
do curso de Comunicação, que
vis-lumbrará no Talkfest aquela visão
idílica de se trabalhar no que se
gosta.
Sim, já sabemos que a semana
vai ser prolífica em conferências e
palestras, mas a verdade é que o
Talkfest promete oferecer algo
certamente especial. De dia 6 a 8,
ali mesmo na Aula Magna, a
mis-são deste festival é debater o
pre-sente e o futuro da indústria. Dos
dinossauros da área como Álvaro
Covões (Everything is New) ou
Tozé Brito (SPAutores), aos mais
rookie mas não menos capazes
como Artur Mendes (Boom
Festi-val) ou Joaquim Durães (Milhões
de Festa), todos virão com ideias
no bolso.
Não fossem as aulas mais
teóri-cas já de si interessantes, as
práti-cas - entenda-se, os concertos -
são igualmente prometedoras.
Paus, Salto ou Capitão Fausto
Talkfest'13:
uma oportunidade de emprego
darão o melhor dos usos à
sua retórica. Poucas
asentações se afiguram
pre-cisas: estamos perante os
especialistas na matéria.
Falar de festivais em
Por-tugal é falar de uma das
maiores e mais lucrativas
indústrias nacionais, daí
que não seja nada
descabi-do afirmar que um dia
mui-tos de nós estaremos
tam-bém a trabalhar na
confe-ção de um festival. Estavam
à procura de uma
oportuni-dade de emprego? Não
dei-xem escapar esta.
Correio FCH | 15
O Jornal Público na
Biblioteca e a falta
de civismo
CARTA 1
Exige-se que um futuro profissional da Comunica-ção Social seja uma pessoa bem informada e que leia jornais. No nosso campus existe uma estante presente na Biblioteca onde todos os dias é colocado o Jornal O Público para os alunos poderem tirar e ler. Mas a verdade é que quando vou buscar O Público, já não existem exemplares.
Um dia quando fui buscar o jornal, à hora de abertura da Biblioteca, estavam na estante imensos exempla-res. Tirei um exemplar para mim e para mais uma cole-ga e estava uma funcionária atrás de mim. Virei-me para a deixar passar e fiquei parado para guardar os jor-nais na minha mochila
Quando olho para a mes-ma funcionária, provavel-mente dos serviços admi-nistrativos da Universidade, vejo-a tirar uma resma de
Carta enviada por um aluno do 3ºAno
Quando vim para a universidade pensei que todos os alunos e cursos fossem trata-dos da mesma forma mas ao longo dos tem-pos tenho visto que há uma diferença de tra-tamento entre os alu-nos da Faculdade de Economia e as restan-tes faculdades.
É verdade que pagam mais que os outros cursos, mas acho esta realidade injusta.
Agora com as mudanças dos alunos de enfermagem para o campus de Lisboa, vieram mais tantos alunos para o nosso edifício, quando deve-ria existir espaço livre no edifício deles.
Constatando factos e realidades. Eles têm um edifício quase topo de gama, com ar con-dicionado, cinco eleva-dores, o dobro do bar e da nossa cantina jun-tas, uma telepizza, jornais gratuitos dis-tribuídos no seu edifí-cio como o semanário Sol, Diário Económico e Jornal de Negócios. Têm espaços para estudarem. Têm uma grande máquina de cafés Nespresso. Têm benefícios que nin-guém tem.
A minha questão é
“Os meninos de
Economia vs. Os
outros alunos”
jornais deixando apenas um exemplar e foi-se embora. Fiquei espantado com aque-le comportamento da parte desta indelicada funcioná-ria.
Considero isto uma autêntica vergonha pelo facto de funcionários tira-rem os jornais todos, para supostamente darem aos professores e doutores da universidade. Aquela estan-te é para os alunos e não percebo porque é que os senhores professores dou-tores, (muitos deles rece-bem o suficiente para pode-rem assinar um jornal) não dizem às suas secretárias para deixarem aqueles jor-nais para os alunos. Consi-dero isto uma falta de res-peito perante os alunos que muitas vezes não têm possi-bilidade de ter o jornal O Público, porque alguns senhores professores que-rem poupar uns “trocos”.
CARTA 2
porquê este exagero entre esta e as outras faculdades? Por paga-rem mais? Apenas por esse fator? Às vezes tenho dúvidas sobre essa questão e coloco uma pergunta diferen-te: Será que eles têm mais pessoas interes-sadas nos seus alunos? Ou seja que se preocu-pam exclusivamente com o seu bem-estar. Será que os serviços administrativos e dire-ção desta faculdade têm como única priori-dade os seus alunos?
Se assim é penso que deveria haver uma maior preocupação em relação aos alunos por parte da nossa facul-dade, como “mimarem -nos” com coisas sim-ples. Por exemplo adquirirem uma máquina de café como a máquina Nespresso deles. Porem o eleva-dor do bloco 2 a fun-cionar, melhorarem algumas instalações. Colocarem alguns jor-nais na entrada do nosso edifício. Pensa-rem em simples coi-sas, mas que fariam toda a diferença para haver maior motiva-ção e energia para estudarmos e traba-lharmos mais.
Carta enviada por um aluno do 3ºAno
Correio FCH
Este espaço também pode ter a
tua opinião. Para isso basta
envia-res o teu texto para o e-mail
o.academico.geral@gmail.com e
poderás vê-lo publicado na edição
de abril.
16 |Parte para rasgar
O Belo Horrível
João Tavares
Obras Adiante (Circule com Cau-tela)Já o ano passado, o hall de entrada tinha sofrido obras, mas parece que não terão sido sufi-cientes. Afinal, tirar o multiban-co da entrada para pôr um sím-bolo da faculdade em linóleo no chão é uma decisão acertada, mas que não satisfaz o desejo de requinte. O desafio desta vez era maior, e impunha-se que se selasse a passagem não só no hall, mas também no parque de estacionamento ao lado, obri-gando quem passa à tal volta ao bilhar grande (com o bónus de se pisar lama) que tanto entre-tém toda a gente, como se sabe.
Até agora não chegou ao conhecimento do grande públi-co, como sempre, o que estas obras reservam aos utilizadores do edifício, mas aqui na Parte Para Rasgar decidimos quebrar o efeito kinder surpresa e reve-lar algumas das alterações que serão efetuadas e que se nos afiguram de tanta ou maior sen-satez que as primeiras: Criação de uma parede entre o A2 e a porta principal, o que dá jeito para que o visitante que quer chegar ao auditório tenha logo direito a uma visita guiada com-pleta ao edifício; na parte exte-rior, que se encontra cercada, vai ser construída uma mega estátua de uma santa igual à que já existe e que ocupará todo o espaço que atualmente está vedado, sendo que a santa anti-ga vai ser doada a uma institui-ção de caridade; tapar as janelas com papel higiénico numa tenta-tiva forçada de abordar técnicas experimentais de decoração de interiores.
Os Nossos Novos Coleguinhas
Temos um novo curso, que abriu a meio do semestre e que se adequa perfeitamente ao pólo da Palma de Cima: Enfermagem. Tanto, que a outra parte das obras que estão a ser feitas, ser-ve para equipar os novos alunos, que precisam de um laboratório para fazer lá as coisas deles, cor-tar ratos ao meio e mexer em células estaminais, tudo muito parecido com bruxaria, de modo que aqui na Católica, este curso não deve durar muito...
Mas o dinheiro nas obras já foi gasto e espantem-se vocês, alu-nos da FCH, de ele ser aquele com que vocês pagam todos os meses, para continuar a ter um edifício onde entra chuva! Espantem-se de o mesmo dinheiro, que nunca é canalizado para algo que beneficie os vos-sos curvos-sos, esteja a ser usado para construir um laboratório (que é sempre muito barato) para aspirantes a médicos frus-trados, que chegam agora do nada!
E não estranhem o aumento de gente que se veste como quem vai a uma reunião admi-nistrativa de uma multinacional. São os nossos “colegas” de enfer-magem. A boa notícia? Diz-se que vão finalmente arranjar o elevador da torre Este. Say
Hal-lelujah!
Música Maestro
Durante o mês que passou, Miguel Relvas voltou a brilhar, cantando, por cima de um coro de manifestantes que o vaiavam. Mas não só a tentativa do minis-tro de se destacar mais que as críticas que lhe apontavam falhou, como os seus dotes de artista da canção deixaram mui-to a desejar...mesmo.
Aquela carinha de criança reguila que ele sempre ostenta por ser mestre em fazer maroti-ces e safar-se pelo buraco de uma agulha, parecia querer des-vanecer-se e o suor escorria-lhe pela cara, denunciando o nervo-sismo que lhe tirava o fôlego para conseguir articular meros ditongos. De modo que como show musical, falhou completa-mente, mas em termos de entre-tenimento foi um momento de grande valor artístico! Tanto o foi, que este revisitar de Grândo-la ViGrândo-la Morena, de Zeca Afonso, está de novo a prestar serviço cívico à comunidade, servindo para enxovalhar políticos por todo o país.
Exemplo disso, foi o segundo concerto da tourneé de Relvas no ISCTE, onde foi o público a cantar, pelo que a cara de crian-ça marota se desvaneceu final-mente. O menino Miguelito des-ta vez fugiu com o rabinho entre as pernas, sem cantar, o que é uma pena pois parece que ia interpretar cançonetas muito bonitas sobre jornalismo, que teriam certamente como temas das letras empreendimentos à la
Berlusconi em empresas de
comunicação e a criação de uma nova comissão de censura.
Porém, uma coisa é certa: se esta coisa do governo lhe correr mal (o que é muito provável), Relvas já pode ir cantar para um cabaret para ganhar a vida...
17
A verdadeira
história da
carne de
cavalo
E
ra uma vez um cavalo chama-do Trovão, que andava pelos campos a espreitar éguas e vitelas. Certo dia encontrou uma pedra no chão. Não era uma pedra qualquer, era uma mágica, parecida com a do Harry Potter. Ele ficou com a capacidade de mudar de corpo com outros animais, quando assim o quisesse.Numa manhã de agosto, Trovão avistou uma vaca que tinha coragem para iniciar conversa com éguas, algo que ele não possuía porque era tími-do. E, por isso, mudou de corpo com a respetiva vaca. No dia a seguir foi morto e as almôndegas acusaram ADN de cavalo.
Dário Alexandre
C
onfesso que desta vez tenho algumas difi-culdades em saber especificamente do que vou falar, sabendo que a nossa Faculdade este mês esteve uma paz de alma e eu ainda deixo, de vez em quan-do, o meu cérebro a descansar na almofada. Destacaria talvez, como tópicos mais interessan-tes, o regresso dos filhos pró-digos de Erasmus, e as obras. Sim, fico-me por dizer “obras”, porque o meu juízo mental relativamente a este tema assemelha-se a de um burro quando está indeciso entre uma cenoura ou palha, e já percebi que existe uma espé-cie de competição entre estas obras e as de Lisboa em geral, que me fazem ficar mais magro, e mais maldisposto do que o habitual .Quanto aos regressados, tal mito sebastianista, trazem uma verdadeira lufada de ar fresco sentindo, eu na minha inocência, uma enorme com-paixão por eles, por aterrarem neste ecossistema músico-católico, sem qualquer tipo de preparação ou esclarecimento que os ajude a retomar o ritmo de uma vida académica lisboe-ta que desgaslisboe-ta qualquer um, como de uma volta ao mundo se tratasse.
Não é que isto esteja muito diferente, afinal foram só seis, o bar foi sempre fiel a si
mes-Notes from the Up
Palm (Para os alunos
de Erasmus
especial-mente)
José Paiva
mas, o bar foi sempre fiel a si mesmo, as aulas são uma pla-taforma de moodelização do nosso sono, e os professores seguem o seu papel, sem nun-ca cessar! Parece um pouco chato, mas também foi só aquele tempo, menos do que uma gravidez (o que é bom, se é que me entendem), não esperavam grandes mudanças ou esperavam?É claro que todos os alunos lutaram para que algumas coi-sas fossem diferentes, a inser-ção de estilos musicais varia-dos, tal como a nova baguete de pizza, demonstram o nosso braço firme! E nós também fizemos isto por vocês! Sabía-mos que iam encontrar novas culturas, então adotámos de tudo um pouco em termos musicais, deixamos alguns ratos entrar no nosso quoti-diano (nalguns países dá sor-te), e revolucionámos a restau-ração católica, tudo em vosso nome!
Não se assustem, pois isto está quase igual, e meus caros companheiros erasmusianos, desejo sinceramente que se sintam novamente em casa, ensinem-nos coisas novas, mas livrem-nos de estrangeirismos, já basta a linguagem em códi-go morse dos alunos de Direito e o inglês do Sr. António. Se sofrerem de stress pós-erasmus, consultem a Clemen-tina, pode ser que ela vos recambie para lá! Boa sorte!
Jornal O Académico - Edição de fevereiro
FCH Ilustrada
Pesos
&
Contrapesos
Jornal O Académico
Publicação dos Alunos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa Diretor: Filipe Resende
Diretores-Adjuntos: Afonso Sousa, Diogo Lopes, João Tavares e Raquel Trindade
Redação: Beatriz Isaac, Dário Alexandre, Gonçalo Fonseca, Inês Correia, Joana Portugal, José Paiva, Sara dos Santos e Susana Gil Soares
Contatos: o.academico.geral@gmail.com Visita a nossa página no Facebook:
https://www.facebook.com/JornaloAcademico
(In)direto
Pequeno espaço de leitura onde são escritos poemas que
carecem de interpretações individuais, porque os poemas
precisam disso, necessitam que cada leitor os sinta e os
aplique para que eles possam viver.
Poema nº2
Destroços expoentes nos rostos dos que cá ficam. Vendo a sua efemeridade plena reduzida à sobrevivência
Sem que fosse dada permissão, foram desfocados e afastados de si. Séculos de confrontos,
Memórias ressequidas, permanecem nas entrelinhas das mais liberais conquistas.
Ganhando destreza vão seduzindo maiorias. O futuro?
Palavra simbólica para a imaginação humana
Fica assim entregue a mentalidades viciantes que ousam penetrar, inces-santemente, em todos,
Até, mesmo, naqueles que fizeram juras de reverter o sentido dos pontei-ros da decadência humana.
Joana Portugal
A nova equipa da Quase FM, uma rádio com “quase tudo”
Obras (-10)
O segundo semestre trouxe consigo mais obras. Além do estaleiro estar mal orga-nizado, o barulho das obras é incómodo.
Bênção dos Finalistas (+6)
Ficou decidido em RGA que a Bênção dos Finalis-tas vai ser na Cidade Uni-versitária e vai ter também uma cerimónia solene com lugar na FCH. É bom che-gar-se a consenso após tanta confusão sobre este assunto.
Harlem Shake da AEFCH (+3)
A AEFCH não escapou à moda dos “Harlem Sha-kes” e fez um divertido vídeo deste fenómeno viral da Internet.