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A DEGLUTIÇÃO ONTEM E HOJE

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CEFAC

CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA

MOTRICIDADE ORAL

A DEGLUTIÇÃO ONTEM E HOJE

MÉRCIA Mª A. PINTO

FORTALEZA

1999

(2)

CEFAC

CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA

MOTRICIDADE ORAL

A DEGLUTIÇÃO ONTEM E HOJE

Monografia de conclusão do curso de especialização em Motricidade Oral Orientadora: Mirian Goldenberg

MÉRCIA Mª A. PINTO

FORTALEZA

1999

(3)

“A memória é seletiva, a lembrança diz respeito ao passado mas se atualiza sempre a partir de um ponto presente. As lembranças não são falsas ou verdadeiras, simplesmente contam o passado através dos olhos de quem o vivenciou”.

(4)

AGRADECIMENTOS

A todos os meus amigos que cooperaram tão gentilmente na

elaboração deste trabalho;

À Estephânia Silveira, Ana Lúcia Bizarria, Denise Klein, Roxane

Alencar, Patrícia Tavares e Vládia Figueiredo, um agradecimento

especial, pelo companheirismo;

(5)

RESUMO

O trabalho fonoaudiológico na área de motricidade oral, por

muitos anos, foi voltado para a deglutição. A deglutição era a “vilã” dos

problemas oclusais. Todo desvio nessa função era considerado

patológico e o paciente encaminhado à fazer mioterapia.

Através de estudos científicos muitos aspectos mudaram na

visão dos autores no que diz respeito à deglutição.

O objetivo deste trabalho foi entender essa transformação,

através de um levantamento bibliográfico, com o propósito de

compreender melhor a importância da deglutição para o sistema

sensório-motor oral, favorecendo o trabalho clínico.

É importante observar que, a deglutição considerada como uma

das funções mais importantes do sistema estomatognático, atualmente é

vista como conseqüência de outras funções ou de alterações orgânicas. O

conhecimento do processo dessa mudança pode levar o profissional a

(6)

SUMMARY

For many years the phonoaudiologist’s work in oral motricity was

turned to deglutition. Deglutition was the villain of occlusion problems. All

deviations in this function was considered pathologic and patients were led

to myotherapy.

Many scientific studies have changed many aspects of the

author’s sight about deglutition.

This study was undertook by making e literature review. Its

objective were to understand this major change and to comprehend better

the deglutition’s importance for the oral-motor-sensorial-system, then

helping the clinical care.

It is important to point out that deglutition is considered one of

the most significant functions of the stomatogmatic system, now viewed as

a consequence of other functions or organic alterations. The recognition of

this changing process can lead the practitioner to reevaluate his clinical

(7)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO... 8 2. DISCUSSÃO TEÓRICA... 10 2.1. História... 10 2.2. Definição... 12 2.3. Anátomo-fisiologia... 13

2.3.1. Mudanças de pressão durante a deglutição... 15

2.4. Desenvolvimento... 16 2.5. Alterações... 17 2.6. Considerações atuais... 19 2.6.1. Tratamento... 21 2.6.2. Deglutição X Má oclusão... 22 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 23 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 25

(8)

1 – INTRODUÇÃO

Um dos temas que mais preocupa e causa discussão na

Fonoaudiologia na área de motricidade oral, é a deglutição.

Durante anos a deglutição foi protagonista das alterações que

envolvem o sistema sensório-motor-oral. Os dentistas acreditavam que as

alterações oclusais eram causadas pelo pressionamento lingual nos

dentes no ato de engolir, e encaminhavam seus pacientes a fazerem

terapia fonoaudiológica para tratarem do problema de deglutição. Os

fonoaudiólogos por sua vez, desenvolviam sua terapia, baseada em

exercícios, objetivando a retirada da língua entre os dentes durante a

deglutição. Muitos aspectos mudaram quanto ao enfoque da avaliação e

terapêutico. Atualmente a deglutição ainda faz parte do elenco principal,

porém vista sob outras lentes. Lentes da ciência atual, do fonoaudiólogo

cientista.

Será que a deglutição é realmente a mais importante função

estomatognática? O que será que aconteceu na história da

Fonoaudiologia na área da mioterapia? A deglutição é causa ou

conseqüência dos problemas oclusais? Seu tratamento é efetivo? O que

os grandes cientistas pensam atualmente a respeito do assunto?

Estas são perguntas que com certeza envolvem os fonoaudiólogos.

Com este trabalho pretendo mostrar através da história, as

mudanças ocorridas no campo da deglutição.

(9)

chegar à interpretações clínicas, condutas e prognósticos mais efetivos.

Padovan (1997) observa que desde a década de 60 muitos

métodos mioterápicos foram criados e estavam voltados basicamente

para a reeducação da deglutição.

Marchesan & Krakauer (1995) enfatizam que o trabalho

fonoaudiológico restringiu-se à função da deglutição por muitos anos, e

alertam que o ato de engolir pode não ser o ponto principal, e sim ser

conseqüência do mau funcionamento de outras funções tais como a

mastigação e a respiração.

Por que a deglutição era tão importante para o sistema

sensório-motor- oral? O que mudou no pensamento dos autores? O qe

novas pesquisas revelam? Estas questões justificam meu interesse em

desenvolver este trabalho.

No decorrer do tempo, com o avanço da ciência, ocorrem

evoluções que mudam a sistemática da conduta terapêutica.

É necessário, na verdade, uma retomada histórica frente as

mudanças que estão acontecendo na área de motricidade oral,

principalmente no que se refere à deglutição.

Pode-se assim manter profissionais atualizados, estimulados à

pesquisa e busca de novos conhecimentos, conscientes que a teoria é

provisória, assim como a prática clínica.

Mostrarei opiniões de diversos autores na tentativa de ampliar o

conhecimento dos profissionais, favorecendo um crescimento

técnico-científico.

Espero que com este estudo, a deglutição seja esclarecida e

(10)

2 - DISCUSSÃO TEÓRICA

2.1 História

O estudo da motricidade oral iniciou-se com os problemas de

deglutição a partir da década de 50, quando os dentistas passaram a

relacionar movimento dentário com a força que a língua exercia sobre os

dentes no ato da deglutição.

Straub (1960), citado por Hanson & Barret (1995) apresentou

sua teoria do “Mau Funcionamento da Língua” descrevendo a deglutição

“pervertida”, ou seja, a deglutição com interposição lingual anterior. O

autor contratou um terapeuta da fala para ensinar aos seus pacientes

como engolir corretamente.

Os ortodontistas se preocupavam com a posição da língua no

ato de engolir, por acreditarem que causava recidivas em seus pacientes

já tratados e corrigidos ortodonticamente. A partir de então métodos

mioterápicos foram criados, tendo como motivo principal a reeducação da

deglutição, como considerou Padovan (1997).

Diversos autores, como Ferraz (1984), passaram a ver as

alterações de deglutição como uma das principais etiologias da má

oclusão.

Os ortodontistas há muitos anos já encaminham seus pacientes

(11)

anomalia e o encaminhamento eram feitos pelo ortodontista, ficando o

fonoaudiólogo responsável apenas pela terapêutica em si, voltada para

eliminação do padrão de deglutição incorreto.

A deglutição inadequada recebeu diversos nomes como

pervertida, desviada, revertida, infantil ou visceral, porém, o único que

sobreviveu foi o de deglutição atípica, como lembra Hanson (1993).

Todo desvio na deglutição que fugisse ao considerado padrão

era visto como patológico. O paciente então, era encaminhado a fazer

tratamento fonoaudiológico com o objetivo de eliminar diretamente a

interposição da língua no ato de deglutição.

A terapia baseava-se somente na sintomatologia: a língua que

se interpunha entre os dentes durante a deglutição.

Os pacientes eram diagnosticados como deglutidores atípicos e

ficavam meses e até anos em tratamento fonoaudiológico. A terapia era

centrada em exercícios de língua, lábios, bochechas, palato mole e

mandíbula, assim afirma Marchesan (1989). A autora enfatiza, ainda, que

o trabalho limitava-se ao desenvolvimento da propriocepção do tônus

muscular e da mobilidade dos órgãos fonoarticulatórios e posteriormente

à adequação das funções de sucção, mastigação, deglutição e fala.

Indiscriminadamente estes eram os passos para o atendimento

terapêutico.

Os fonoaudiólogos apenas executavam os exercícios, ou

seja, faziam um trabalho puramente técnico.

Bianchini (1995) relata que, por não entender a razão pela qual

alguns pacientes apresentavam sucesso na terapia

enquanto outros fracassavam, embora executando exercícios de forma esmerada

foi

(12)

buscar respostas num diagnóstico mais específico e embasado em

teorias de áreas afins.

Marchesan (1994) considera que a partir desta perspectiva, a

Fonoaudiologia, na área da mioterapia, deu um grande passo. Uma luta

árdua iniciou-se para saber o que cada linha da Ortodontia tinha como

proposta, além de estudos sobre crescimento crânio-facial e suas

variações. A autora explica ainda que o conhecimento dos conceitos,

descrições, definições de outras áreas correlatas à Fonoaudiologia, além

do conhecimento da morfofisiologia do indivíduo orientam a terapia

fonoaudiológica. O fonoaudiólogo não é mais aquele profissional que faz

exercícios iguais para todos os indivíduos.

O conhecimento certamente aumentou trazendo novas visões a

respeito das alterações de deglutição. Deve-se retomar conceitos e

definições para que se compreenda o processo de mudança referente a

esta função..

2.2 Definição

A deglutição tem como principal função a propulsão do

alimento da boca para o estômago. Douglas (1994) define a deglutição

como o ato de engolir, isto é, o transporte do bolo alimentar ou de

líquidos, da cavidade oral até o estômago.

É uma atividade neuromuscular muito complexa, que pode ser

iniciada conscientemente, o que se completa mediante a integração no

sistema nervoso central de impulsos aferentes e eferentes organizados no

(13)

2.3 Anátomo-fisiologia

A deglutição faz parte do sistema estomatognático, o qual age

conjuntamente envolvendo as estruturas anatômicas que o compõe.

Participam da deglutição estruturas ósseas como o

maxilar, a mandíbula, a coluna cervical e o osso hióide; estruturas

cartilaginosas como as cartilagens da laringe; estruturas musculares como

a língua e mais 31 pares de músculos, principalmente os supra-hioideos,

como o digástrico e o estilo-hioideo, e os infra-hioideos e por fim as

estruturas neurais como 6 pares cranianos e os nervos cervicais assim

explica Macedo Filho (1998).

O processo da deglutição é programado e executado por

refinado controle neuromuscular, com mecanismos de controle cortical e

do tronco cerebral. Caracteriza-se por uma sucessão de fenômenos

interrelacionados, durando de 3 a 8 segundos. Possui três fases: a

oral, a faríngea e a esofágica, como refere Douglas (1994).

A fase oral pode ser considerada a partir da apreensão do

alimento ou da sucção do alimento líquido na cavidade oral. Inclui o

preparo eficiente do alimento para ser deglutido.

Estando pronto, o bolo alimentar é deslocado para um canal

transversal no dorso da língua. Os lábios se aproximam e os músculos

temporal, masséter e pterigóideo medial estabilizam a mandíbula. A ponta

da língua eleva-se e encosta-se contra a papila retroincisal e face palatina

dos incisivos superiores. Em seguida sua parte anterior pressiona o

(14)

contração do milo-hioideo, produz-se elevação maciça da parte anterior

da língua, deslizando o bolo alimentar para trás, seguindo um plano

inclinado determinado pela posição da língua. Estes são os movimentos

ondulatórios da língua que guiam o bolo alimentar para trás. Finalmente, a

parte posterior da língua dirige-se em sentido oposto e para cima

seguidamente. O músculo milo-hioideo está contraído juntamente com os

músculos estiloglosso e palatoglosso. A pressão exercida pelo bolo

alimentar nos pilares anteriores da faringe, na base da língua e palato

mole, determina a geração de impulsos nervosos que, por via aferente,

dão inicio à ação reflexa da deglutição que faz parte da fase faríngea.

A segunda fase da deglutição, a faríngea, é involuntária na qual

os músculos supra-hioideos, faríngeos, laríngeos e linguais se contraem.

A faringe se alonga ao mesmo tempo que há parada respiratória. O bolo

alimentar, ao passar da boca para a faringe, atravessa a circunferência

orofaríngea, que regula a passagem de partículas de grande tamanho não

trituradas satisfatoriamente na mastigação. A fim de impedir que o

alimento se direcione para as vias respiratórias superiores, a orofaringe é

fechada a partir da nasofaringe, pela elevação do palato mole e pela

aproximação da parede posterior da faringe. O osso hióide e a laringe se

movem para cima e para frente pela contração do músculo genio-hioideo,

o que provoca o rebaixamento da epiglote, fechando a entrada da laringe.

Com a constrição faríngea o esfíncter esofágico superior

(músculo cricofaríngeo), que em situação de repouso permanece fechado

para impedir a entrada do ar no esôfago, relaxa-se, abrindo-se para a

passagem do bolo. O músculo milo-hioideo também se relaxa, o osso

hióide desce e a laringe volta à sua posição original. Abre-se a glote,

(15)

faríngea. Movimentos peristálticos deslocam o bolo alimentar do esfíncter

esofageano ao estômago, constituindo-se assim, a terceira fase da

deglutição que é inconsciente e involuntária.

Durante todas as fases da deglutição, o bolo alimentar é

empurrado por uma onda de pressão positiva desde a boca até o

estômago.

2.3.1 Mudanças de pressão durante a deglutição

O espaço oronasofaringeano, quando está equilibrado,

possui uma pressão subatmosférica em seu interior.

Aragão (1995) explica que após algum tempo de inspiração e

expiração nasal, a pressão atmosférica do meio ambiente invade a Matriz

Funcional Oronasofaringeana, ou seja, o espaço oronasofaringeano,

revertendo a pressão no interior da mesma. No momento em que ocorre a

mudança de pressão de negativa para positiva inicia-se uma deglutição.

Bradley (1981) concorda quando afirma que, ao iniciar-se a

seqüência da deglutição, a pressão na boca e faringe é próxima a da

atmosférica. O autor enfatiza ainda que o alimento se move através da

boca, faringe e esôfago por ação de uma pressão positiva e para que isto

ocorra é imprescindível o vedamento labial.

Aragão (1995) conclui esclarecendo que a deglutição é o

fenômeno que ocorre para manter a pressão subatmosférica do sistema

estomatognático, já que a cada ato de engolir, a pressão negativa na

(16)

Portanto existe um ciclo: pressão negativa intra-oral

à

inspiração/ expiração nasal

à

pressão positiva intra-oral

à

deglutição

à

pressão negativa intra-oral.

2.4 Desenvolvimento

A deglutição inicia-se na vida intra-uterina. A partir da 12ª

semana de gestação o feto já apresenta esboços de deglutição, porém,

só por volta da 32ª semana é que será efetiva, quando ocorre a

coordenação entre sucção e deglutição. O bebê passa então a deglutir o

líquido amniótico, contribuindo no equilíbrio de seu volume.

A deglutição é reflexa nos primeiros meses de vida com

controle no tronco cerebral e está intimamente relacionada, em

termos funcionais, à respiração e sucção. Passa a ser voluntária à

medida que outras funções aparecem como a mastigação, que é

uma ação voluntária e controlada corticalmente, como considera Alltmann

(1990).

A deglutição infantil caracteriza-se pela interposição da

língua no ato de engolir. Petrelli (1994) explica que a criança ao deglutir

impulsiona a língua para frente para criar selamento anterior para a

deglutição. Felício (1994) concorda ao afirmar que a língua interpõe-se

à maxila e à mandíbula na deglutição infantil para promover a

estabilização mandibular permitindo a atuação mais eficiente dos

músculos supra-hióideos para elevar o osso hióide.

É importante observar que a interposição lingual na deglutição

(17)

medida que o espaço intra oral aumenta a língua acomoda-se dentro da

cavidade oral. Marchesan & Junqueira (1998) esclarecem que o

crescimento diferencial entre língua e cavidade bucal presente na criança

justificam esta interposição lingual. As autoras relatam, ainda, que a

língua segue a curva de crescimento dos tecidos de origem neural do

corpo crescendo de forma estável chegando ao seu tamanho máximo aos

oito anos de idade. Já a mandíbula cresce mais lentamente atingindo um

platô entre oito e doze anos de idade. A língua, a maxila e a mandíbula só

terão uma relação de tamanho equilibrado quando se completar o

crescimento ósseo-muscular.

Portanto a maneira de deglutir acompanha o crescimento infantil,

respeitando a anátomo-fisiologia do indivíduo.

2.5 Alterações

Irei me deter somente à fase oral da deglutição devido esta ser

a questão deste trabalho.

Como comentado anteriormente, a fase oral diz respeito ao

preparo do alimento para ser deglutido e a propulsão deste da cavidade

bucal à faringe.

Neste momento há participação efetiva e conjunta de várias

estruturas como: lábios, língua, mandíbula, maxila, dentes, palato e

receptores existentes na boca. Qualquer intercorrência em uma destas

estruturas poderá afetar diretamente a deglutição.

Quando há alteração no processo de deglutição na fase oral

(18)

Alltmann (1990) define deglutição atípica como o

pressionamento da língua contra a superfície lingual dos dentes incisivos

e caninos ou a protrusão desta entre os dentes da arcada superior e

inferior durante o repouso e o ato de engolir. A autora considera ainda

que qualquer desvio do padrão normal adulto de deglutição caracteriza a

deglutição atípica.

Petrelli (1994) descreve que, na deglutição atípica, a ponta da

língua é pressionada entre os incisivos, podendo seus bordos laterais

também penetrar entre os pré-molares e molares.

Ferraz (1984) aponta como características de deglutição atípica:

pressionamento atípico da língua; participação da musculatura perioral;

movimentos de cabeça durante a deglutição; alteração na articulação de

fonemas; língua volumosa, alargada; cuspir ou acumular saliva nos cantos

da boca; baba noturna; dificuldades de deglutir pílulas e dificuldades

de deglutir com os lábios separados. Alltmann (1990) concorda e

acrescenta que a deglutição atípica envolve todas as alterações

musculares e funcionais dos órgãos fonoarticulatórios que a ela se

associam tais como alteração das posturas labial, lingual e mandibular;

alteração da motricidade dos órgãos fonoarticulatórios; inadequação da

força muscular de lábios, língua, bochechas e músculos elevadores

da mandíbula e respiração bucal. Já Marchesan (1989) explica que

existem motivos para a deglutição estar alterada que podem ser:

amígdalas hipertróficas levando a protrusão da língua; palato estreito e

sem condições de um bom ajuste da língua; o palato é alto dificultando o

contato com a língua; a força insuficiente da língua para juntar o alimento

e se acoplar contra o palato; o hábito infantil persiste; a anatomia do

(19)

mordida aberta anterior; o indivíduo é portador de má-oclusão dentária

tipo classe II; a arcada é pequena; o paciente está em fase de dentição

mista com troca de dentes. A autora justifica que a atipia ocorre em

decorrência de problemas anteriores.

Há polêmica a respeito do termo deglutição atípica para

alterações de deglutição já que nem sempre trata-se de uma atípia e sim

de uma adaptação às possibilidades funcionais do indivíduo.

2.6 Considerações atuais

O sistema estomatognático identifica um conjunto de estruturas

bucais que desempenham funções comuns

lábios, língua, bochechas, palato duro, véu palatino, dentes, maxila e mandíbula agem através de

controle neuromuscular realizando as funções orais na qual a deglutição

está incluída. Tomé, Farret & Jurach (1996) consideram que o

desempenho da deglutição está diretamente relacionado às estruturas

anatômicas.

O complexo sensório motor oral age conjuntamente e qualquer

alteração em uma das estruturas leva a modificações no

funcionamento de todo o sistema. Padovan (1997) relata que as funções

são dependentes da mesma neuromusculatura, elas se interrelacionam

e, estando uma alterada as outras apresentam incidências patológicas.

Será que realmente são sinais patológicos ou é a única maneira

do sistema funcionar, já que o mesmo age integradamente? Sabe-se

atualmente que, na presença de uma alteração, mínima que seja, as

estruturas modificam seus padrões de funcionalidade para viabilizar todo

(20)

sistema estomatognático deve ser avaliado como um conjunto de

estruturas que é capaz de realizar funções adaptando-se às mudanças

existentes. Portanto a deglutição pode estar adaptada à alterações

que o indivíduo possa apresentar, como problemas orgânicos ou mau

funcionamento de outras funções, como a respiração e a mastigação.

Petrelli (1994) considera que na presença de uma mordida

aberta anterior o paciente irá impulsionar a língua para frente a fim de

deglutir. Afirma ainda que quando os incisivos superiores estão muito

protruidos em relação aos incisivos inferiores, a deglutição ocorre com

uma interposição de lábio inferior numa tentativa de selar anteriormente a

cavidade bucal. Entende-se por isso um mecanismo normal e único

possível de ser realizado.

Pode-se a partir deste raciocínio questionar o que é

normalidade: Existe padrão normal de deglutição, já que indivíduos com

alterações anatômicas fazem adaptações para conseguir deglutir?

Os parâmetros de normalidade passaram a ser revistos.

Bianchinni (1995) explica que indivíduos diferentes com faces distintas,

possuem características peculiares que não deveriam ser confundidas

com atipias. A autora demonstra ainda que para cada tipo crânio-facial,

existe musculatura e funcionalidade diferentes. Portanto, a maneira de

deglutir vai depender do que o indivíduo apresenta.

Lembrando um pouco a respeito da fisiologia da deglutição,

observa-se que na fase oral é necessário um eficiente preparo do

alimento para que se realize a posteriorização do mesmo para a faringe.

É fundamental ainda a respiração nasal para que ocorra a mudança de

(21)

alimento da boca até o estômago. Se o indivíduo não consegue

realizar uma boa mastigação a deglutição poderá ficar alterada, assim

como se o indivíduo não possuir respiração nasal prejuízos à deglutição

poderão acontecer.

Na literatura encontra-se referências sobre este raciocínio.

Jabur (1996) afirma que quando a mastigação é feita de maneira

ineficiente o indivíduo deglute o alimento em partículas maiores, alterando

a deglutição. Köhler, Köhler & Köhler (1996) referem que indivíduos com

respiração bucal, por estarem com a boca aberta constantemente,

desviam a língua em sua posição de repouso e movimentação. Marchesan

& Krakauer (1995) enfatizam que a deglutição pode estar alterada em

decorrência do mau funcionamento de outras funções, como a mastigação

e a respiração, e que trabalhando de forma correta tanto a respiração

quanto a mastigação, a deglutição pode adequar-se por si só.

O tratamento para a deglutição então, vai depender das

condições anatômicas do sujeito e do funcionamento de outras funções.

2.6.1 Tratamento

A compreensão e interpretação dos fatores que causam as

alterações de deglutição, são fundamentais para direcionar qual o

caminho terapêutico mais adequado.

Marchesan & Junqueira (1998) consideram que, antes de

qualquer terapia é fundamental sempre lembrar-se da normalidade, que

sofre variações de acordo com a idade e que é dependente das

características anatômicas encontradas e da observação de outras

(22)

enfatizando que deve-se procurar a real causa da alteração e suas

implicações, delimitar a melhor época para o tratamento

fonoaudiológico e suas possíveis limitações, discutir e trabalhar

juntamente com outros profissionais e efetivar se realmente o trabalho é

necessário.

A partir de um bom diagnóstico pode-se ter um tratamento mais

efetivo voltado para a causa e não somente para o sintoma respeitando

sempre as limitações do indivíduo, e suas reais possibilidades

terapêuticas.

2.6.2 Deglutição X Má oclusão

Afinal, a deglutição causa realmente má-oclusão?

Tomé, Farret & Jurach (1996) compreendem que não é

propriamente a função inadequada da língua que conduz a

malformação dentária, e sim a posição incorreta de repouso.

Medeiros (1997) também acredita que alterações de oclusão são

causadas muito mais pela postura incorreta de repouso da língua do que

pela deglutição alterada. O autor explica que a duração da força da língua

em contato constante com os dentes parece ser fator mais importante do

que no movimento da deglutição, que é intermitente. Está de acordo com

o que expõe Van Der Linden (1990), que a duração total diária do toque

da língua contra os dentes no ato de engolir não passa de dez minutos,

sendo assim muito pouco para produzir movimento nos dentes.

É relevante observar esta visão atualizada a respeito da

deglutição para que se possa ter um trabalho mais objetivo e adequado às

(23)

3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Resolvi estudar a respeito da deglutição, por ser um tema

bastante discutido e até hoje incompreendido na Fonoaudiologia.

Há mais de 30 anos vários pesquisadores e cientistas vêm se

dedicando ao estudo das relações existentes entre a presença das

más-oclusões dentárias e as alterações de deglutição. Retomando à história,

a deglutição era o principal aspecto visto pelos dentistas e pelos

fonoaudiólogos. Atualmente sabe-se que a deglutição não é o ponto

principal para que se inicie uma terapia fonoaudiológica. Porém, a

quantidade de pacientes que surgem para ser atendidos devido

apresentar uma “deglutição atípica”, mesmo apresentando condições

anatômicas desfavoráveis, é muito grande. É importante apresentar aos

profissionais tanto da Odontologia como da Fonoaudiologia as mudanças

ocorridas a respeito da deglutição.

Ocorreram várias transformações, o conhecimento aumentou. A

consciência dessas modificações, com certeza, vai ajudar o profissional a

acompanhar a evolução científica, favorecendo um trabalho atualizado

e efetivo.

A fonoaudiologia buscou conhecimentos de outras áreas,

enriquecendo e orientando seu trabalho em relação à definição de

conceitos e descrições, demonstrando que tratar apenas do sintoma da

deglutição alterada sem olhar a causa pode levar a terapia ao completo

fracasso. Admite-se então, que o diagnóstico é o aspecto fundamental par

(24)

Os estudos realizados promoveram uma verdadeira revolução

nos conceitos e condutas que envolvem a deglutição. O que era

patologia passou a ser sintoma, a atipia virou adaptação, a função

considerada inadequada transformou-se em característica normal,

peculiar para cada tipo de indivíduo. Como conseqüência, o tratamento

também se modificou, estando atualmente voltado para a eliminação da

etiologia da alteração da deglutição.

Observa-se realmente que muita coisa mudou em decorrência de

estudos aprofundados a respeito da anatomia, fisiologia, crescimento

crânio-facial, neurologia, além de uma leitura crítica a respeito de

alterações em relação a maneira de deglutir, fazendo-se então uma

revisão nos conceitos de patologia e normalidade.

As mudanças exigem uma ruptura com aspectos já solidificados

e que tendem a perpetuar-se. Sabe-se que pode ser difícil fazer esta

quebra, porém, espero que este estudo favoreça à reflexão destes

paradigmas, levando os profissionais a andarem em favor das

(25)

4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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para sua reeducação. Rio de Janeiro, Enelivros, 1989. 121 p.

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195 p.

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FELÍCIO, C.M. Fonoaudiologia nas desordens têmporo-mandibulares: uma ação educativa-terapêutica. São Paulo,

Pancast, 1994. 179 p.

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(26)

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