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Arq. NeuroPsiquiatr. vol.8 número2

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Academic year: 2018

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CONCEITO DE D E S A G R E G A Ç Ã O E M P S I Q U I A T R I A

M A U R Í C I O L E V Y J U N I O R *

Desagregação, desagregado, são palavras de uso corrente em psiquia-tria. Fala-se de desagregação verbal, ideativa, do pensamento, intelectual, mental ou psíquica, da personalidade (significados de extensão crescente). Simplificando, vamos abordar: a ) a desagregação do pensamento; b ) a desagregação mental ou psíquica.

"Por desagregação", diz Schneider *, "entende-se o fato de que as cone-xões de um pensamento não podem ser seguidas pelas demais pessoas e, para o observador, um pensamento carece de relação com aquilo que o pre-cede. E' indubitável que, em certas ocasiões, os esquizofrênicos falam e pensam deste modo; porém é indiscutível, também, que graus ligeiros de desagregação podem observar-se em toda a parte. Desagregadas, neste sen-tido, o são muitas pessoas, por natureza, e outras, em parte, em situações excitantes como, por exemplo, na embriaguez ou sob a ação da febre. 0 pensamento confuso pode ser qualificado, também, de "desagregado". Em sentido lato, portanto, os termos "desagregação" e "desagregado" podem ser utilizados para qualificar o pensamento em diversos estados, fisiológicos e patológicos: 1) na sonolência e na fadiga; 2 ) nos estados confusionais (psicoses sintomáticas, epilepsia, estados crepusculares psicogenéticos); 3 ) nas síndromes esquizofrênicas; 4 ) em estados demenciais (psicoses orgâ-nicas) .

Preferimos, entretanto, empregar terminologia mais precisa, fazendo dis-tinção entre pensamento desagregado, pensamento incoerente e pensamento demencial. 0 primeiro seria peculiar às síndromes esquizofrênicas (esqui-zofrenias ou patoplastias esquizofrênicas); o segundo caracterizaria os es-tados confusionais; o terceiro refere-se aos eses-tados demenciais.

Lange 2

assim descreve o pensamento desagregado: "Lucidez de cons-ciência com conceitos que se desintegram, junto a outros que se conservam intactos; claudicação geral da atitude intencional necessária para o pensa-mento ordenado; mudança brusca do objetivo do pensapensa-mento com falha das tendências determinantes. A mistura variada e a mudança rápida des-tes traços dão ao pensamento esquizofrênico seu caráter extravagante, sal-tuário, ilógico, caótico. A s manifestações intelectuais do esquizofrênico re-sultam, em certas ocasiões, mais estranhas porque a linguagem pode des-viar-se por sua conta, empregando-se palavras falsas para conceitos normais ou bem, utilizando-se, para conceitos esquizofrênicos, palavras que habitual-mente possuem outro significado". E, em outro lugar, apesar de tudo, a forma exterior do discurso pode resultar completamente ordenada nos

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quizofrênicos. Como diz Bumke, "muitas manifestações esquizofrênicas po-dem caracterizar-se pelo fato de que os maiores absurdos são apresentados sob a forma de um discurso cheio de sentido".

Atribuindo a desagregação do pensamento às síndromes esquizofrênicas, devemos, para melhor compreendê-la, abordar, rapidamente, a psicopatolôgia do pensamento esquizofrênico, aliás, ainda bastante discutida.

Para Bleuler, o distúrbio central seria a diminuição ou abolição da tensão associativa (Stõrung der Assoziationsspannung); Bleuler fala de um distúrbio oniróide da associação (traumhafle Assoziationsstõrung). Segun-do Bumke, "a essência Segun-do pensamento esquizofrênico consiste em que a uni-dade do pensamento se rompe, separando o conexo e unindo o desconexo e heterogêneo em uma só vivência". Grühle, ao estudar a psicopatolôgia dos esquizofrênicos, admite, como transtorno essencial do pensamento, o da iniciativa (Initiativstõrung). Beringer acentua a falta de ordenação hierár-quica das idéias. Para Kleist, é fundamental a orientação paralógica do pensamento (paralogische Aktivierungsstõrung).

Quer-nos parecer que o pensamento desagregado do esquizofrênico apre-senta dois distúrbios fundamentais, em geral tanto mais acentuados quanto mais grave a desagregação: 1) Afrouxamento da capacidade de direção do pensamento, da intencionalidade, da iniciativa do pensar (Grühle). E' o en-fraquecimento ou rotura do "arco intencional" (Beringer), rotina essa que facilitaria o aparecimento de outros distúrbios, inclusive uma franca desa-gregação. 2 ) Mecanismo associativo fazendo-se de maneira incompreensível para o indivíduo normal. 0 pensamento toma uma orientação paralógica

( K l e i s t ) ; as associações afastam-se das possibilidades reais e lógicas (pen-samento autístico), perdendo "as características adquiridas pela experiência", ao contrário do que acontece na fuga de idéias e nos distúrbios associativos dos orgânicos 3

.

Empregando terminologia freudiana, podemos dizer que, então, o pro-cesso psíquico secundário (do pensamento lógico, consciente, realista) é par-cialmente substituído pelo processo primário (do inconsciente)4

, com suas condensações e deslocamentos, conforme veremos.

Finalmente, outras manifestações esquizofrênicas podem contribuir para acentuar a desagregação (interceptaçÕes, erupção ou imposição de pensamen-tos, estereotipias, verbigerações, neologismos, maneirismos, perseveração).

A desagregação torna-se, às vezes, tão acentuada que nada do que o doente exprime é compreendido. E' a chamada salada verbal ou esquizo-fasia. Nestes casos, os distúrbios do pensamento são acrescidos por distúr bios concomitantes da linguagem. Kleist e seus discípulos separam, da es-quizofrenia vera ou embotamento incoerente (inkohárentes Verblõdung) — esquizofrenia sensu striclo — a forma denominada esquizofasia. Naquela, o distúrbio é pré-verbal; nesta, processa-se na etapa verbal. Naquela, as alterações localizatórias seriam fronto-oecipitais; nesta, íronto-temporais.

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cami-nho mais seguro para a investigação dos mais profundos processos aními-cos" 5

.

Para a elaboração onírica, nosso psiquismo inconsciente utiliza-se de uma série de mecanismos — condensações, deslocamentos, simbolizações —-que permitem a exteriorização das idéias latentes sob a forma do chamado conteúdo manifesto do sonho,

Na esquizofrenia, podemos dizer que as forças inconscientes invadem pato logicamente, em grau variável, o psiquismo desperto e adaptado à reali-dade, do doente. 0 que, durante o sono se realiza no sonho, verifica-se, parcialmente, mutatis mutandis, no viver esquizofrênico. N o sonho, o in-consciente se manifesta pelas imagens oníricas; na vida desperta do esqui-zofrênico, dispõe, o inconsciente, de maiores meios de expressão, utilizandose tanto das representações e das palavras, como das ações. Muitas r r a -nifestaçÕes mórbidas, tidas por absurdas e incompreensíveis, deixam de o ser desde que — à luz do que afirmamos — se interpretem, conveniente-mente, os mecanismos subjacentes de condensação, deslocamento e simboli-zação. Como exemplos, podemos citar: a) Uma mulher6

, aborrecida por abandonar sua situação de "apoio", como dama de companhia de dona de casa, experimenta, agora, uma aversão irresistível por tudo que se assemelhe a um apoio, a um bastão; 6 ) Uma paciente, Maria L .7

, se arremessa con-tra as enfermeiras, para arrebatar-lhes as chaves; precipita-se, furiosa, so-bre uma mesa na qual vê um bule de café e quer derrubá-lo. Explicação: ela se vê numa luta entre o céu e o inferno, entre o bem e o mal; sua mis-são é defender o céu. A côr preta (do café) é a côr do diabo; as chaves, eram as chaves do céu. A doente aceita os símbolos pela realidade ou. inversamente, as coisas reais por símbolos *.

* A c o m p a r a ç ã o c o m o sonho — v i m o - l o — é l í c i t a e e s c l a r e c e d o r a . T a l n ã o p a r e c e s e r o c a s o q u a n d o a a n a l o g i a se f a z c o m o p e n s a m e n t o p r i m i t i v o . O p e n s a -m e n t o n o r -m a l é r e a l i s t a , a d a p t a d o à r e a l i d a d e . P o r sua c a p a c i d a d e d e p e n s a r , o ho-m e ho-m c h e g a a o c o n h e c i ho-m e n t o d o r e a l . N o s o n h o , a o c o n t r á r i o — e , t a ho-m b é ho-m , e ho-m p a r t e , n a e s q u i z o f r e n i a — o p e n s a m e n t o n ã o é u m c o n h e c i m e n t o , u m v o l t a r s e p a r a o m u n -d o , o b j e t i v o o u s u b j e t i v o , m a s a p e n a s u m m o -d o -d e e x p r e s s ã o ( D a l b i e z ) . N o -d i z e r d e B l e u l e r , t r a t a - s e d e u m p e n s a m e n t o d e r r e i s t a ou a u t i s t a ( d e r e i s t i c h e s D e n k e n ) , s e m a l c a n c e p r a g m á t i c o . O r a , n o s e l v a g e m , o p e n s a m e n t o , se b e m q u e p r i m i t i v o , m a i s p r ó x i m o a e l e m e n t o s i n t u i t i v o s o u s e n s í v e i s , m a i s d e p e n d e n t e d e f a t o r e s ca-t a ca-t í m i c o s e c o m ca-t e n d ê n c i a s m á g i c a s — n ã o é, e n ca-t r e ca-t a n ca-t o , a p e n a s e x p r e s s i v o ( c o m o n o c a s o d o p e n s a m e n t o d e r r e i s t a ) , p o r é m p r i n c i p a l m e n t e c o g n i t i v o e r e a l i s t a . P a r e c e n o s , p o i s , i m p r ó p r i a , a e q u i p a r a ç ã o f e i t a p o r a l g u n s a u t o r e s e n t r e o p s i q u i s m o p r i -m i t i v o e o e s q u i z o f r ê n i c o .

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Visto, assim, em linhas gerais, o que entendemos por desagregação do pensamento, passemos, agora, a um exemplo. Antes, porém, convém acen-tuar que, no pensamento desagregado, apesar da ausência de uma clara re-presentação teleológica, freqüentemente se entrevê a influência de uma idéia diretriz: após uma série de saltos entre frases ou fragmentos de frases, o pensamento pode voltar ao "tema" fundamental. De qualquer modo, po-rém, há um afrouxamento da capacidade de direção do pensamento e a in-capacidade para a resolução de novos problemas. Faltam, ao esquizofrê-nico, as relações do todo com a parte, e a hierarquização das associações.

P e d i m o s a u m a p a c i e n t e e s q u i z o f r ê n i c a ( M . A . G . , 43 a n o s , b r a n c a , b r a s i l e i r a , c a s a d a , i n t e r n a d a n o H o s p i t a l C e n t r a l d o J u q u e r i — R . G . , 2 4 . 1 8 6 ) , c o m n í t i d a d e s a g r e g a ç ã o i d e a t i v a , q u e n o s e x p l i c a s s e d e t e r m i n a d o s p r o v é r b i o s , q u e r e s c r e v e n d o u m a p e q u e n a h i s t ó r i a , q u e r p o r o u t r o m e i o q u a l q u e r . E i s d o i s d o s r e s u l t a d o s o b t i -d o s * :

1 — " F a l a r é p r a t a , c a l a r é o u r o " — Resposta: " C u r i o s i d a d e i n a u d i t a ! . . . E o c h e r i f e m o s t r a n d o a s a l a d e a r m a s a o r a p a z d i s s e : a g o r a v o c ê m e e x p l i c a p o r q u e é q u e t o d a s p e s s o a s q u e e u c o n h e ç o t o d o i n s t a n t e à d i z e r " F a l a r é p r a t a , c a l a r é o u r o " . O c o i t a d i n h o e n t ã o f i c o u r u b o r i z a d o p e g o u u m p u n h a l r e l u z e n t e c r a v o u n o p e i t o d i -z e n d o : " D e u m a f a c a d a eu m o r r o ! ! ! "

2 — " A p r e g u i ç a é a m ã e d e t o d o s o s v í c i o s " — Resposta: " H i s t ó r i a e m C h i m e r a ! . . . H a v i a u m R e y m u i t o p o d e r o s o . U m d i a a p a r e c e u u m c h a m a d o t e l e g r á -p h i c o e m c i m a d a e s c r i v a n i n h a v i n d o d o E s t a d o s - U n i d o s q u e d i z i a — V e n h a R e y B r a s i l ! s e m R a i n h a . N o r t e - A m e r i c a . Q u a n d o f o i n a h o r a d o t r a b a l h o o R e y f i c o u s u r p r e h e n d i d o m a s b a s t a n t e a l e g r e . L e u u m a s d e z v e z e s o t e l e g r a m a d e p o i s p e g o u o p h o n e e c o m u n i c o u à R a y n h a f a z e n d o nesse m o m e n t o as d e s p e d i d a s ! d ' a h i a m e i a h o r a u m n a v i o d o C o r p o E s c o l a p a r t i a l e v a n d o o R e y e u m a g r a n d e c o m i t i v a . A R a y -nha c h o r a v a ! m a s c h o r a v a t a n t o ! ? q u e a t é q u a s i os m o s q u i t o s p e r d e r a m a s a z a s d e t a n t a a f l i ç ã o q u e a q u e l e c h o r o e s p a l h a v a ! ! ! ! Q u a n d o f o i d a q u i a p o u c o ?! d e u u m e s t r a l o ! ? a p a r e d e se a b r i u e a p a r e c e u S . » E x . » o i s t e r i s m o : u m r a p a z m a i s l i n d o d e s t e m u n d o d i z e n d o n ' u m a g a r g a l h a d a . . . ú n i c a A p r e g u i ç a é a m ã e d e t o -d o s os v i c i o s ü ! — e a c a b o u - s e a h i s t o r i a . "

O u t r o e x e m p l o , o c o r r i d o c o m W . S., 16 a n o s , b r a n c a , b r a s i l e i r a , s o l t e i r a , R . G . 36.248.

" F a l a r é p r a t a , c a l a r é o u r o " — Resposta: " F a l a r é a e x p l i c a ç ã o , s â o o s p a n o -r a m a s d a s c a -r n e s , c o u -r o s d o s c -r o c o d i l o s q u e s e -r v e p a -r a f a z e -r s a p a t o s q u e t a n t o s as m o ç a s e s e n h o r a s d i s t i n t a s u s a m ; c a l a r d o t e z o u r o q u e s ã o a s s e m e l h a n ç a s d o c o r a -ç ã o , o s f i l h o s , as c r i a n -ç a s i n o c e n t e s . "

Finalmente, vejamos as principais diferenças que, com o pensamento desagregado, apresentam: a) o pensamento incoerente; 6 ) o encontrado nos estados de demência orgânica; c ) a fuga de idéias.

a) Aplica-se o termo "incoerente" quando, às conexões ideativas incom-preensíveis — também existentes na desagregação esquizofrênica — adicio-nam-se distúrbios da consciência (obnubilação, estados crepusculares). 0 pensamento incoerente distingue-se, pois, facilmente, do pensamento

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gregado porque este é acompanhado de lucidez, enquanto que naquele há transtornos da consciência (Lange, Bumke, Stransky, Mayer-Gross, Jahrreiss). Dois são os principais casos em que encontramos a incoerência do pensa-mento: 1) confusão mental das psicoses sintomáticas; 2 ) estados crepus-culares epilépticos (nestes, há maior lentidão, perseveraçao e viscosidade).

6 ) Quanto- ao pensamento, muitas vezes saltuário e alógico, dos esta-dos demenciais, relativamente fácil é diferençá-lo da desagregação esquizo-frênica. Na desagregação, predomina o distúrbio qualitativo; a demência é uma alteração quantitativa. Aquela é mais um desvw ( p a r a l ó g i c o ) ; ebta, um déficit. Na desagregação (Zerfahrenheit, de Kraepelin) encontramos os fenômenos particulares de interceptação, escapamento, erupção ou imposição de pensamentos, aos quais se junta ou serve de base a orientação paralógica da inteligência (condensações, simbolizações, deslocamentos). As faculdades intelectuais se desviam, perdem certas capacidades de ação, mas não se des-moronam. Há lucidez da consciência. A memória, a atenção, a compreen-são podem estar perfeitamente conservadas. Na demência, há empobreci-mento intelectual permanente. Ressaltam, no pensaempobreci-mento, a pobreza dos conceitos e os deficits alógicos, facilmente compreensíveis à luz dos distúr-bios concomitantes, a saber: alterações das funções mnésticas (memória pro-priamente dita, fixação e reprodução), com diminuição do número dos con-ceitos disponíveis; dificuldade da apercepção; falta de agilidade e lentifi-cação dos processos mentais; redução do horizonte psíquico. Na demência, podemos dizer que há verdadeiro desmoronamento da inteligência ( Z e r f a l l ) .

c ) Na fuga de idéias o pensamento perde, completamente, o " f i o con-dutor", com mudança contínua da representação final. Mas o que caracte-riza o distúrbio é a maneira compreensível por que se efetuam as associa-ções das idéias, "com supremacia das associaassocia-ções exteriores e das palavras

(assonância) sobre os interiores" ( B l e u l e r ) . Na desagregação, as conexões são incompreensíveis; pelo contrário, na fuga de idéias, "elas são normais entre membro e membro e, em certas ocasiões, até se tornam mais visíveis que no pensamento normal, devido, precisamente, à falta de representação superior" 8

.

D E S A G R E G A Ç Ã O M E N T A L O U P S Í Q U I C A

N o indivíduo normal, as diferentes funções dos três setores da perso-nalidade — cognitivo, afetivo e conativo — trabalham harmônicamente, per-mitindo-lhe estabelecer contacto adequado com a realidade, compreendê-la e atuar sobre ela, pragmàticamente. Esta unidade funcional da mente pode estar mais ou menos comprometida. T a l transtorno — ausência de coesão e de harmonia das diferentes funções psíquicas entre si e com o ambiente — constitui a desagregação mental,

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fe-nômenos de automatismo mental, seria um desagregado. Genii Perrin -1

apõe o rótulo "desagregação da personalidade" aos casos de nutomatismo mental. 2 ) Num sentido mais restrito, desagregação mental significa esquizofrenia ou esquizomorfia.

Bleuler, estudando a demência precoce, de Kraepelin, preferiu denominála — visto nem sempre ser precoce, nem demência propriamente dita -de esquizofrenia, porque "seu característico mais importante é a cisão das diversas funções psíquicas" 1 0

. Por essa mesma razão, alguns autores, refe-rindo-se à esquizofrenia ou demência precoce, falam de "desagregação da individualidade" (Wernicke), "ataxia intrapsíquica" (Stransky), "discord3n-cia" (Chaslin), "perda de unidade interior" ( K r a e p e l i n ) , "doentes dissocia-dos" ( A n g l a d e ) .

A desagregação manifesta-se, tanto pela incoordenação das diversas fun-ções psíquicas entre si — o que fêz Minkowski dizer, figuradamente, que o atingido é o "espaço intersticial" 1 1

— como pela falta de adaptação de cada função ao real [perda do contacto vital com a realidade ( M i n k o w s k i1 2

) ] . "Os conteúdos do pensamento nem resultam adequados entre si, nem condu-zem a uma ressonância emotiva compreensível, nem tampouco às ações cor-respondentes" ( L a n g e1 3

) . Esta dissociação ou desagregação da vida psí-quica do doente é o verdadeiramente "esquizofrênico".

Entretanto — quer-nos parecer — como acentua Bumke, o fenômeno psíquico, ainda que mórbido, constitui uma unidade. E, se para o indiví-duo normal uma reação afetiva ou uma ação motora de um esquizofrênico podem parecer discordantes, consideradas do ponto de vista do doente, das modificações globais sofridas por seu psiquismo, talvez sejam perfeitamente consonantes.

"Recordemos também aqui, diz Bumke 1 4

, "as relações com respeito a nossos sonhos. O indivíduo são pode experimentar, em sonhos, as mais ter-ríveis coisas sem o correspondente eco emocional e nele esta contradição resulta, seguramente, de comparar, num juízo a posteriori, o pensar onírico com o pensar da vigília. Mas é preciso ver que, para êle, as coisas tive-ram, em sonho, outro significado".

B I B L I O G R A F I A

1. S c h n e i d e r , K u r t — P r o b l e m a s d e P a t o p s i c o l o g i a y d e P s i q u i a t r i a C l í n i c a . T r a d , e s p a n h o l a , E d . X a v i e r M o r a f a , M a d r i d , 1947, p á g . 56.

2 . L a n g e , J. e B o s t r o e m , A . — P s i q u i a t r i a . T r a d . E s p a n h o l a , E d . M i g u e l S e r v e t , M a d r i d , 1942, p á g . 50.

3 . B l e u l e r , E . — L e h r b u c h d e r P s y c h i a t r i c E d . J u l i u s S p r i n g e r , 3.ª e d i ç ã o , B e r -lin, 1920, p á g . 57.

4 . F r e u d , S. — O b r a s c o m p l e t a s . V o l . 9, M e t a p s i c o l o g i a . T r a d . E s p a n h o l a de B a l l e s t e r o s y d e T o r r e s . E d . A m e r i c a n a , B u e n o s A i r e s , p á g . 176.

5 . F r e u d , S. — L o c c i t .4

, v o l . 2 , p á g . 284.

6 . B l e u l e r , E . — L o c . c i t .3

(7)

7. M i n k o w s k i , c i t . p o r D a l b i e z , R . — O m é t o d o p s i c a n a l í t i c o e a d o u t r i n a d e F r e u d . T r a d u ç ã o b r a s i l e i r a d e J. L e m e L o p e s , E d . A g i r , R i o d e J a n e i r o , 1947, t o m o I , p á g . 249.

8 . B u m k e , O . — N u e v o T r a t a d o d e E n f e r m e d a d e s M e n t a l e s . T r a d u ç ã o e s p a n h o l a d a 5.ª e d i ç ã o a l e m ã , E d . F . S e i x , 1946, p á g . 86.

9 . G e n i l P e r r i n — L e s P a r a n o ï a q u e s . E d . M a l o i n e , P a r i s , 1926, p á g s . 44 e 99.

10. B l e u l e r , E . — D e m e n t i a p r a e c o x o d e r G r u p p e d e r S c h i z o p h r e n i e n . I n M a n u a l d e P s i q u i a t r i a d e A s c h a f f e n b u r g , 4.ª p a r t e , V o l . 1.

1 1 . M i n k o w s k i , E . — L a S c h i z o p h r é n i c E d . P a y o t , P a r i s , 1927, p á g . 80.

1 2 . M i n k o w s k i — L o c . c i t .1 1

, p á g . 77-87.

1 3 . L a n g e , J. — L o c . c i t .2

, p á g . 268.

1 4 . B u m k e , O . — L o c . c i t .8

, p á g . 716.

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