• Nenhum resultado encontrado

CONHECENDO JESUS CRISTO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "CONHECENDO JESUS CRISTO"

Copied!
108
0
0

Texto

(1)

CONHECENDO JESUS CRISTO

Belém-PA 2019

(2)

2

Copyring© Jonas Matheus Sousa da Silva, 2019

®Todos os direitos reservados

*Correção gramatical e estilística:

.: Maria Conceição de Lima.

*Diagramação: Jonas M. S. Silva

Catalogação na Publicação (CIP) Ficha Catalográfica feita pelo autor

S586c Silva, Jonas Matheus Sousa da, 1989 –

Conhecendo Jesus Cristo / Jonas Matheus Sousa da Silva. – Belém: Ed. do Autor, 2019.

108p.

ISBN: 978-85-5697-870-7

1.Religião 2.Cristianismo 3.Igreja Católica.

1.Título.

CDD: 230 CDU: 282

(3)

3

“Foi pelo sangue de Cristo que fomos remidos, foi por sua morte que fomos resgatados da morte;

estávamos caídos, e, pela sua humildade, fomos reerguidos da nossa prostração. Mas devemos também contribuir com nossa prostração. Mas devemos também contribuir com nossa pequena parte para ajudar os membros, pois nos tornamos membros dele:

Ele é a cabeça e nós somos o corpo”.

(SANTO AGOSTINHO Apud LITURGIA DAS HORAS v. III, 1995, p.1246)

(4)

4

(5)

5 ÍNDICE

PRÓLOGO: VOCAÇÃO CRISTÃ: CHAMADO AO

DISCIPULALADO...7

a) QUE É CRISTOLOGIA?...13

b) UMA COMPREENSÃO COM DEUS UNO E TRINO EM CHAVE COMUNICATIVA...15

c) SOBRE A BELEZA DA VIRGEM MARIA...24

I CRISTOLOGIA NA SAGRADA ESCRITURA...29

1 ANTIGO TESTAMENTO: FIGURAS E PROFECIA..29

2 QUERIGMA E VIDA NOVA NA COMUNIDADE...30

*TENTAÇÃO ECLESIAL...31

3 HOMOLOGHIAS E FÓRMULAS DE RESSURREIÇÃO...32

4 PRINCIPAIS TÍTULOS CRISTOLÓGICOS...39

5 EVANGELHOS SINÓTICOS...40

*MARCOS...41

*MATEUS...43

*LUCAS...45

6 JOÃO E APOCALIPSE...47

7 CRISTOLOGIA PAULINA...50

8 HEBREUS...58

II TABELA DOS PRIMEIROS CONCÍLIOS ECUMÊNICOS...61

III A JUSTIFICAÇÃO CONFORME O CONCÍLIO DE TRENTO...63

IV SISTEMÁTICA...67

1 PENSAMENTOS DE CRISTOLOGIA FRANCISCANA...67

(6)

6

2 JESUS CRISTO: CABEÇA DO COSMO E DA HISTÓRIA, PERSPECTIVA DO CARDEAL GIACOMO BIFFI...74 3 DE CRISTO À SUA IGREJA: ECLESIOLOGIA DE JOSEPH RATZINGER...84 REFERÊNCIAS...105

(7)

7 PRÓLOGO:

VOCAÇÃO CRISTÃ: CHAMADO AO DISCIPULADO

A fé do discípulo de Jesus, seguidor do Mestre, nasce do Querigma, que consiste em transmitir o evangelho que o Filho de Deus, que se fez homem e nos salvou do pecado e da morte, no amor divino, ao deixar-se crucificar, dando sua vida pelos seus. Jesus Cristo, verdadeiro Deus e homem, é o “crucificado que ressuscitou e está na glória divina com o mesmo poder do Pai, pelo

“Vínculo de amor”: o Espírito Santo.

Jesus, o Nazareu, foi por Deus aprovado diante de vós com milagres, prodígios e sinais, que Deus operou por meio dele entre vós, como bem o sabeis. Este homem, entregue segundo o desígnio determinado e a presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o pela mão dos ímpios.

Mas Deus o ressuscitou, libertando-o das angústias do Hades, pois não era possível que ele fosse retido em seu poder”. (ATOS 2,22-24).

O Filho chamou pessoas humanas para o seguirem, a fim de viverem neste mundo o mandamento da caridade, abnegando-se,

(8)

8

seguindo-o como Mestre e Senhor, mesmo atravessando a “porta estreita-cruz”, sempre no amor verdadeiro, até compartilhar com ele o mistério da glória. Como diz Jesus: “Aquele que não toma sua cruz e não me segue não é digno de mim. Aquele que acha sua vida, a perderá, mas quem perde sua vida por mim, a achará”.

(MATEUS 10,38-39).

De fato, é pela fé que o discípulo de Jesus Cristo, chamado “cristão” desde o ministério do apóstolo Paulo, em Antioquia (cf. Atos 11,26), é chamado a entregar sua vida a Deus na opção pelo Amor. Este amor que surge como assentimento da fé pessoal e eclesial à Trindade Santíssima e que, por graça, dá-se a conhecer, revelando-se à razão humana. “Em auxílio da razão, que procura a compreensão do mistério, vêm também os sinais presentes na Revelação.

Estes servem para conduzir mais longe a busca da verdade e permitir que a mente passe autonomamente a investigar inclusive dentro do mistério”. (JOÃO PAULO II. n.13, 2009, p.22)

Porém, a clareza da fé à razão, por ultrapassá-la, não dispensa o cristão da “noite escura da alma”, quando, esperando no Amor, pode vencer a angústia da dúvida, dando o salto no escuro, aderindo de maneira pura ao Senhor.

A dialética da fé é a mais sutil e notável de todas; tem uma sublimidade de que posso ter uma ideia, mas não

(9)

9

mais que isso. Posso muito bem executar o salto de trampolim no infinito [...], amar a Deus sem fé é refletir-se sobre si mesmo, mas amar a Deus com fé é refletir-se no próprio Deus. (KIERKEGAARD, 1979, p.129).

O amor incondicional do Cristão proporciona a entrega pelo Reino de Deus, que é etapa decisiva na conversão, a martiria, que significa martírio e testemunho.

-A FONTE BATISMAL

O próprio crucificado-ressuscitado confiou à sua Igreja a missão de evangelizar todos os povos e de conferir o sacramento do Batismo, proporcionando-lhes as graças da remissão dos pecados, da filiação divina em Cristo, pela incorporação no seu corpo místico, a Igreja.

O Batismo perdoa o pecado original, todos os pecados pessoais e as penas devidas ao pecado; faz participar da vida divina trinitária mediante a graça santificante, a graça da justificação que incorpora a Cristo e à sua Igreja; faz participar do sacerdócio de Cristo e constitui o fundamento da comunhão com todos os cristãos; propicia as virtudes teologais e os dons do Espírito Santo. O batizado pertence para sempre a Cristo: é marcado, com

(10)

10

efeito, com o selo indelével de Cristo (caráter).(COMPÊNDIO.q.263, 2005, p.91)

Pelo Batismo, o cristão recebe a vocação para comprometer-se vitalmente com Jesus, na Igreja e, por tal adesão pessoal, que, em nosso caso pastoral, manifesta-se no sacramento da Crisma, compromete-se a viver os preceitos do Senhor, em seu corpo eclesial e no mundo, conforme ensina o Concílio Vaticano II (1962- 1965): “As ALEGRIAS E AS ESPERANÇAS, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos discípulos de Cristo”. (GAUDIUM ET SPES. n.1, 1969, p.143).

Pelas virtudes teologais - fé, esperança e caridade (= amor) -, o autêntico cristão faz a diferença no mundo, conforme as palavras expressas na antiga Carta a Diogneto (Apud FOLCH GOMES, 1979, p.111), sobre os cristãos:

“[...] o que é a alma para o corpo, são os cristãos para o mundo: como por todos os membros do corpo está difundida a alma, assim os cristãos por todas as cidades do universo. [...] os cristãos habitam no mundo, mas não são do mundo’.

No Batismo, o novo cristão morreu para o pecado e para o egoísmo, ressuscitando sacramentalmente para a glória de pertencer a Cristo, tendo o amor por sua lei, subindo à cruz

(11)

11

cotidianamente, renunciando a seus instintos egoístas pelas virtudes e alargando seus horizontes pela graça divina.

-A FIDELIDADE DA IGREJA

Salvo, o povo cristão está neste mundo fugaz, não pertencendo a ele; mas está profeticamente, para testemunhar o evangelho, na fidelidade ao Senhor, participando da Igreja, assembleia dos chamados, reinando com Cristo pelo serviço caritativo ao próximo, sobretudo aos marginalizados do sistema social.

A vocação cristã se firma na fidelidade, que expressa pertença eclesial, pois: “A perfeita pertença de um homem à Igreja ocorre [...], quando o seu relacionamento com o Senhor Jesus no Espírito Santo é sem lacunas e sem frouxidão, de modo que a ‘restauração’ e a renovação do seu ser podem-se dizer completadas”. (BIFFI, 2009, p.

107).

A fidelidade consiste numa ascese diária, oferecendo-se cotidianamente a Deus na oração e intercedendo pelos demais membros do corpo eclesial e para o bem da humanidade, participando, assim, do sacerdócio de Cristo.

Para tanto, faz-se necessária a escuta ao Mestre que nos chama eternamente, e darmos, no aqui, enquanto existimos no mundo, presos por nosso corpo ao espaço e ao tempo, a nossa resposta-adesão pessoal e eclesial. Resposta

(12)

12

essa que deve ser renovada pelo livre arbítrio do discípulo, no agora, até o encontro definitivo com o Senhor, na eternidade.

-O TESTEMUNHO FRANCISCANO

Em São Francisco de Assis, encontramos sólido exemplo que nos anima a viver fielmente o Evangelho, correspondendo a esta vocação que recebemos no Batismo; pois na operação do Espírito do Senhor, o “Pobrezinho de Assis”, cotidianamente, anelava por viver mais perfeitamente o Evangelho, constituindo-o como regra viva para seus frades. “A regra e a vida destes irmãos é esta: viver em obediência, em castidade e sem nada de próprio e seguir a doutrina e os vestígios de Nosso Senhor Jesus Cristo”. (REGRA NÃO BULADA. n.1, 1999, p.107).

Assim, a espiritualidade franciscana arraíga-se no Evangelho vivenciado, para honrar a humanidade do Filho de Deus, encontrando alegria em viver a “Lei de Cristo”, como resposta vocacional.

Cristo é o caminho e a porta. Cristo é a escada e o veículo, o propiciatório colocado sobre a arca de Deus (cf.Ex 26,34) e o mistério desde sempre escondido (Ef 3,9). Quem olha para este propiciatório, com o rosto totalmente voltado para ele, contemplando-o suspenso na cruz,

(13)

13

com fé, esperança e caridade, com devoção, admiração e alegria, com veneração, louvor e júbilo, realiza com ele a páscoa, Isto é, a passagem.

(SÃO BOAVENTURA Apud LITURGIA DAS HORAS, 2000, p.1425).

Pois ser cristão é, diariamente, acolher a moção do Espírito Santo, vivendo a caridade como vocação, relacionando-se, na Igreja, com as irmãs, os irmãos e com o próprio Senhor, que é Pessoa viva e presente no meio de nós.

Por tudo isso, somos cientes de que a vocação cristã consiste em seguir Jesus Cristo, Deus e Homem, pessoa viva presente na sua Igreja, e aderirmos na fé, esperança e amor ao Seu evangelho, vivendo a Lei da caridade. E mais, sendo cotidianamente fiel ao seu evangelho, manifestando nosso assentimento cotidiano à vocação batismal, que é ser profeta, rei e sacerdote.

a) QUE É CRISTOLOGIA?

É a disciplina teológica que reflete sobre Jesus Cristo, Filho de Deus e sua ação na história para a nossa salvação, bem como a sua glorificação no evento pascal.

Fala-se de Cristologia do alto, aquela como a de João 1, que reflete a pré-existência do Filho, Verbo (=Palavra) eterno do Pai, gerado

(14)

14

eternamente no seio do Pai e a Sua entrada na história, mediante a Encarnação no seio da Virgem, por obra do Espírito Santo, tornando-se Jesus de Nazaré, sem perder a natureza e a personalidade divina. Por outro lado, a Cristologia de baixo, inicia a sua reflexão a partir da ação histórica de Jesus de Nazaré, considerando sua Páscoa e a Sua glorificação à direita do Pai, como no hino cristológico de Filipenses 2.

Para o teólogo Karl Rahner (1978, pp.293-294):

Jesus não é simplesmente Deus em geral, mas o Filho; a segunda pessoa divina, o Logos de Deus é que é homem, ele e somente ele. Existe, portanto, pelo menos uma ‘missão’, uma presença no mundo, uma realidade de economia da salvação, que não somente se apropria, mas é própria de uma pessoa divina determinada. Neste caso, não se fala apenas ‘sobre’ esta pessoa determinada no mundo.

Considerando a primeira parte do axioma teológico de Karl Rahner, que diz “A Trindade ‘econômica’ é a Trindade ‘imanente’”, significando que, assim como Deus se revela na história, não difere do seu ser/agir na eternidade, a Cristologia é sempre uma disciplina compreendida

(15)

15

inseparavelmente daquela disciplina que reflete sobre a Santíssima Trindade.

b) UMA COMPREENSÃO COM DEUS, UNO E TRINO, EM CHAVE COMUNICATIVA

Para uma apresentação mais acessível sobre o mistério de Deus, uno e trino, encontramos um capítulo, “Trindade e Comunicação”, do livro “Teologia da Comunicação”, de Felicísimo Martínez Dìez.

Assim, apresentamos uma síntese pormenorizada desse capítulo, a fim de transmitir uma compreensível apresentação teológica do mistério mais augusto de nossa fé, neste em que está radicada toda a Cristologia.

-Como falar da Trindade?

Para a Comunidade Cristã, a Santíssima Trindade é modelo e protótipo de toda a comunicação que está no centro de sua fé e perpassa a sua práxis. Perante o mistério Santíssimo de Deus, cabe o silêncio e a adoração, pois o homem se dá conta de que é incapaz de compreender todo o mistério que é o centro da fé cristã. Mesmo Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, Gênios teológicos, aproximaram-se deste mistério não ousando a pretensão de compreendê- lo no todo. O silêncio sempre constitui a atitude

(16)

16

mais saudável para o teólogo perante o mistério de Deus, porém é preciso falar de Deus; o fiel deve falar Dele como questão mais importante, a partir da Revelação e da história em Jesus Cristo.

Nele, Deus se tornou condescendente com a história humana, tornando possível uma modesta e cautelosa linguagem sobre Ele mesmo e seu mistério. Esta é a única via de acesso ao mistério da Trindade: a revelação histórica.

Assim, a linguagem mais apropriada para nomear Deus se torna então a narrativa. Em Jesus Cristo, Deus se revela como Pai e Filho e Espírito Santo: a Trindade não é apenas um mistério lógico pois ela tem a ver com a vida de cada pessoa, Ela é bastante concreta: a Trindade é, sobretudo, mistério de comunhão.

A nossa fé é prática, não deve ser reduzida a meras explicações teológicas, é preciso concentrar a nossa experiência e práxis cristã baseada na fé na Santíssima Trindade. Deus uno e trino é a fonte e o modelo da vida cristã em todas as suas dimensões, faz-nos viver a comunhão pessoal.

-Politeísmo, monoteísmo, Trindade

A partir do discurso de São Paulo Apóstolo, no Areópago (cf. Atos 17,24-34), faz-se uma exposição correta da importância e o do desejo da busca de Deus na história humana;

busca-se o Deus Criador, como tarefa fundamental

(17)

17

e desejo profundo do coração dos homens. Mas, é só na revelação de Deus, em Jesus Cristo, que o Divino vem mais diretamente ao nosso encontro pessoal, e nós temos essa segurança da resposta dialogal para com Ele, pois entramos em relação com a sua face misericordiosa.

A história religiosa das culturas está repleta de imagens sobre Deus, as sementes do Verbo, imagens que se projetam na experiência humana, em projetos históricos da humanidade e nos modelos de convivência da sociedade. Não raramente se constrói um deus à imagem e semelhança do homem. Assim, as representações da divindade têm uma força de legitimação do status quo na história dos povos, do politeísmo ao monoteísmo.

Também na reta confissão da Santíssima Trindade Cristã, diversos modelos de religião sustentam o legítimo modelo de sociedade e de convivência e comunicação, refletindo o modelo de religião e a concepção de Deus, que legitimem uma forma humana de convivência e comunicação.

Ao final do século XX, viu-se o politeísmo com certa benevolência democrática, porém, deve-se considerar que em povos politeístas também se fazia guerra. Não se pode atribuir ao politeísmo um irenismo que nunca houve, pois traz no seu bojo guerreiro uma certa tendência para afirmar-se como uma verdade sobre os demais, tendência inconsciente que o

(18)

18

leva para o monoteísmo, pois a guerra é para auto-afirmação sobre os demais povos. Está aí a sua forte carga de competição e de conflito, aspiração de domínio exterminando os deuses dos demais povos.

Por seu turno, a inclinação ao monoteísmo é substancial: a Confissão de Fé afirma o único Deus verdadeiro, nisso não há estranheza sobre guerra e conflito para a afirmação do único Deus, pois é sua única verdade. Ademais, deve-se refletir sobre esse modelo de religião que talvez esteja mais próxima da reta concepção de Deus. Pode-se chamar essa classe de monoteísmo de “monoteísmo atrinitário”

que, na verdade, constituiu-se uma crítica de Karl Rahner aos manuais da teologia do século XVI até o século XX, que relegavam o mistério da Trindade apenas ao âmbito lógico, distante da vida concreta de cada cristão, de modo que, para o simples cristão se excluíssem o dogma da Trindade, afirmando-se apenas Jesus Cristo como Deus. Pouquíssima coisa mudaria na vida da Igreja e dos cristãos àquela época.

Para os povos, o sentido social e político do monoteísmo estrito está na recusa à democracia de convivência e propicia formas autoritárias e totalitárias, comprometendo uma reta e legítima comunicação que engrandece o ser humano, porém, deve-se reconhecer que o monoteísmo é conquista judaico-cristã e a ação

(19)

19

política do povo de Israel, por muitas vezes, inspirou-se nesta imagem de Deus: a monarquia.

Leonardo Boff [na sua primeira fase, quando escrevia em sintonia com a Igreja], considerando a Trindade e a figura de Deus na sociologia, mostra que sempre, tal figura legitima o modo de vida e o modo político que se estabelece sobre determinado povo marcado por esta figura de Deus: monoteísmo rígido, que segue, por exemplo, o modelo de relações sociais que enfraquece a possibilidade de uma verdadeira comunicação entre as pessoas, porém, no cristianismo, sendo Deus comunhão de pessoas, abre-se mais para o diálogo a partir de uma semelhante dignidade entre as pessoas, porque Deus é acreditado e experimentado como comunhão de amor. Assim, a Trindade fundamenta teologicamente o mistério da comunhão e da comunicação humana.

Este é o traço mais característico da fé cristã: o Deus Uno e Trino harmonizando a unidade, a pluralidade, a identidade e a alteridade pessoal, tornando possível o diálogo e a comunicação. Apenas a partir da fé trinitária se possibilita uma fundamentação teológica da comunicação.

-A Trindade, mistério de comunhão e comunicação

A Santíssima Trindade é mistério em duplo sentido, mas, além de ser mistério lógico,

(20)

20

pois supera a capacidade humana de compreensão e verbalização, o que foi bem expresso na história do dogma e de muitas heresias que representavam, muitas vezes, uma repulsa ao aspecto paradoxal do cristianismo, buscando uma simplificação lógica do pensamento. Acima disso, a Trindade é mistério de salvação, pois essa é a verdadeira dimensão teologal da Fé. Por isso, as primeiras formulações trinitárias surgiram no contexto neotestamentário, no âmbito litúrgico e querigmático, a partir da Ressurreição de Jesus sob o influxo do Espírito.

A Trindade é o objeto central e básico da fé cristã, mais importante transcendental para humanidade, marcando predominantemente a experiência concreta do cristão. A partir dessa dimensão teologal, inclusive se encontra a pré- compreensão da Santíssima Trindade, como sementes do Verbo nas culturas, mostrando, por vezes, uma determinada concepção de Trindade em panteões de deuses primitivos, isso em diversas culturas não cristãs.

O problema central para a teologia trinitária é o modo de harmonizar a unidade de natureza com a Trindade das pessoas; é uma questão muito próxima à realidade da comunicação; assim, a cultura hebraica e cristã entrou em contato com a cultura românica e helênica e suas simbologias. No centro da fé cristã, está a confissão de Deus que é Pai e Filho e Espírito Santo: não é um Deus solitário, fechado

(21)

21

em si; Ele é comunicação de ser Uno e Trino:

Deus comunidade de Amor, Nele são simultaneamente três pessoas intimamente relacionadas, cuja unidade reside na comunhão pessoal, relação característica entre as pessoas divinas.

Enquanto algumas explicações da Trindade, nos primeiros séculos entenderam mais o dever de salvaguardar-se no monoteísmo, gerando heresias, negando até a Trindade, como o modalismo ou docetismo, outras correntes inclinaram-se mais para a defesa da pluralidade, ignorando a igualdade, afirmando alteridades distintas em Deus, hierarquizando de modo subordinacionista, embora, sempre a afirmação de alteridade deixasse aberta a possibilidade de comunicação.

Santo Tomás de Aquino elaborou sua doutrina trinitária partindo das processões divinas do Filho, que é gerado pelo Pai e, do Espírito, expirado do Pai do Filho, dando lugar às relações de paternidade, filiação, expiração ativa e expiração passiva; as três relações, opostas e incomunicáveis são as três pessoas da Trindade.

A partir das processões do Filho e do Espírito, seguem-se, na história, as suas missões. Tudo em torno da comunicação intratrinitária.

Tradicionalmente, na teologia trinitária, para se falar da comunicação intrínseca e da inabitação de uma pessoa da Trindade noutra, fala-se circunmicessão e pericorese. Há de se

(22)

22

ressaltar a íntima relação entre Jesus, o Pai (Abbá) e o Espírito Santo, este manifesto na história pela sua promessa e vinda como agente da comunhão divina, guiando toda a vida e obra de Jesus e a Igreja, desde o mistério Pascal.

-A Trindade, fundamento teológico de toda comunicação

A interioridade íntima de Deus entrou na história humana tornando-a uma história de salvação. Deus se autocomunica ao criar o ser humano à sua imagem e semelhança, tornando-o capaz de Deus e desejando a Deus profundamente.Ele se revela a partir da Encarnação e da páscoa do Verbo que se fez carne e habitou entre nós para, nossa salvação.

A Santíssima Trindade não é uma mônada, fechada em si mesma, mas é sempre abertura e comunicação que vem ao encontro da sua criatura, que cria, que entra na história e redime o ser humano e envia seu Espírito Santo para santificação.

A relação que existe entre a Trindade imanente, que é o mistério íntimo de Deus, e a Trindade econômica, que é o projeto da salvação realizado na história, foi cunhada no axioma fundamental de Karl Rahner: “a Trindade econômica é a Trindade imanente, e vice-versa”;

no entanto, para Walter Kasper que o reformulou, o axioma é “a comunicação intratrinitária está

(23)

23

presente de uma forma nova na auto comunicação soteriológica, sobre palavras, sinais e ações, sobretudo na figura do Homem Jesus de Nazaré”.

De fato, só temos acesso ao Mistério íntimo de Deus Trindade através da sua Revelação progressiva na história, culminando em Jesus e na compreensão que a Igreja recebe do Espírito.

Deus se interessa pela história do homem e se projeta trazendo-lhe a salvação, manifestando uma solidariedade trinitária com a história do ser humano, fundamentando a comunicação humana e a solidariedade entre as pessoas. Para tanto, deve-se compreender a ação Salvadora de Deus em Jesus Cristo, na história, como derivada da comunhão intratrinitária, que se torna a fonte e origem de toda a comunhão autêntica e da comunicação, pois a pregação e a práxis de Jesus revela Deus Pai, não apenas como Deus onipotente, mas que age, libertando no centro da história do seu povo. Portanto, Jesus é o rosto humano de Deus que se aproxima do homem para salvá-lo.

Leonardo Boff, a partir dessa consideração, compreende a Trindade como modelo ideal-concreto para a nossa sociedade para ser mais humana, dado que somos imagem e semelhança da Trindade. Para ele, a forma de convivência social que hoje temos não pode agradar a Deus, pois não encontramos lugar de digna inclusão para a maior parte das pessoas e não há participação plena; porém, a Trindade se

(24)

24

apresenta como um modelo de toda a convivência social igualitária e respeitosa das diferenças.

A partir de Deus Uno e Trino, os cristãos podem postular uma sociedade que possa ser imagem e semelhança da Trindade, com base na própria fé em Deus que nos dá melhor compreensão do Mistério da Santíssima Trindade, e que sempre nos permite construir uma sociedade com relação às distorções sociais cristãs de convivência, comunicação e comunhão do próprio Deus instaurada no mundo. A fé na Santíssima Trindade deve levar os cristãos a constituírem uma sociedade justa, comunicativa e em Comunhão plena, e verdadeiramente humana.

c) SOBRE A BELEZA DA VIRGEM MARIA

No corpo escriturístico judaico-cristão, sobressaem várias personalidades femininas que deram seu contributo pessoal na história da salvação. São mulheres como Sara, Raquel, Rute, Judite, Ester, Isabel, Marta, Madalena, entre outras, que se destacam pela beleza das virtudes, temor de Deus, sensibilidade feminina, esponsalidade e maternidade. No entanto, enfatizamos, coerentemente com a nossa fé, a mulher Maria de Nazaré, mãe de Jesus Cristo, essa que se desvela para nós como a mulher por excelência. De fato, a fé da Igreja, desde os tempos antigos, proclama sua grandeza pelos

(25)

25

dogmas da Sua Virgindade perpétua e Maternidade divina, como afirma Joseph Ratzinger (2013, p.25):

O mais antigo dogma mariano, e o mais fundamental, afirma: Maria é virgem (ἀεί παρϑένοϛ : Symbola DS 10-30; 42/67; 72, 150) e mãe, e pode, com efeito, ser chamada de “Mãe de Deus” (Τεοτόχος: DS 251, concílio de Éfeso). As duas coisas estão estreitamente ligadas: quando ela é chamada de Mãe de Deus, isso constitui, antes de tudo, uma expressão da unidade entre ser-Deus e ser-homem em Cristo, que é tão profunda que não se pode, para os eventos carnais, como aquele do seu nascimento, construir um Cristo meramente humano, separado da totalidade de sua existência pessoal

Por isso, nota-se que não pode haver uma genuína Cristologia, sem uma autêntica Mariologia.

A beleza das virtudes, em Maria, mostra-se na declaração do Arcanjo Gabriel:

"Alegra-te, cheia de graça! O Senhor é Contigo!"(Lucas 1,28). De fato, não é uma beleza tanto proveniente da meiguice ou formosura da Virgem, no entanto, tal estética brota numa mulher eleita, toda repleta da graça advinda do Ser divino,

(26)

26

que habita o coração dessa moça de Nazaré;

portanto, uma mulher adornada de virtudes.

A presença de Maria é a autenticidade presencial da mulher extremamente singular no grau do temor de Deus. É nessa lógica que ela se declara "a serva do Senhor"(Lucas 1,38), colocando-se em uma atitude voluntária de pessoa que acolhe e se conforma ao projeto do Pai. Maria é uma pessoa humana que, em todo o seu ser, é respeito e exultação perante o mistério de Deus;

ela triunfa de alegria perante a irrupção da salvação na história humana, pela encarnação do

"Inominável-transcendente" na imanência do seu ventre.

Na expressão mariana "Eles não têm mais vinho" (João 2,3), contextualizada na festa de casamento em Caná, da Galiléia, a sensibilidade feminina, em Maria, manifesta-se como uma empatia caritativa para com as outras pessoas humanas, no caso, os noivos. Uma intuição peculiar que aponta os caminhos da realização humana, fazendo a diferença por não omitir sua valorosa atuação.

O dom do amor, refletindo a fidelidade esponsal de Maria, salienta-se na sua maternidade, pois ela é mãe cheia de amor e responsabilidade para com Jesus, o bendito fruto do seu ventre, a quem, quando recém-nascido, ela amamenta e envolve em paninhos. Preocupa-se com ele, (por exemplos, quando fica no templo com os doutores e nas suas peregrinações

(27)

27

missionárias), acompanha seu mistério pascal, partilha da dor de seu filho ao pé da cruz, aí onde sua maternidade se expande, por solicitude de seu crucificado filho, abraçando com ternura o discípulo amado, bem como toda a comunidade dos discípulos de Jesus.

Nesse sentido, mantendo a devida compreensão da analogia, pode-se chamar a Maria por “Esposa de Deus Pai”, conforme já o fizera São João Damasceno (676 - 749) e o Papa Pio XII, na Proclamação do Dogma da Assunção de Maria à Glória Celeste (MUNIFICENTISSIMUS DEUS, n.21, ano 1950). Para tanto, os teólogos Scheeben e Feckes (1955, p. 93 – nossa tradução), consideraram:

Pode-se chamar a mãe do Filho de Deus esposa do Pai em modo especial. Ela, de fato, como mãe por dom do Pai, concebeu como próprio filho o Filho Dele; o possui em comunhão com o Pai e está unida ao Pai através do Filho que é, ao mesmo tempo, seu próprio filho. Todavia, essa expressão, enquanto serve para indicar a união de Maria com Deus, é menos utilizada, e com razão.

Designando, efetivamente, a mãe do Filho de Deus como esposa do Pai, enquanto Pai insinuar-se-ia a ideia de que o Filho do Pai exista somente pela colaboração da mãe, e, como consequência, que a mãe seja

(28)

28

associada ao Pai mesmo na geração do Verbo eterno. Um dos principais motivos, pelo qual o apelativo de esposa, dado à Mãe de Deus, vem referido geralmente ao Espírito Santo, mais que ao Pai, é o de evitar essa falsa interpretação.

Então, Maria é a mulher mais esplendorosa da Escritura Sagrada, da história da salvação, é ela a "mulher vestida de sol"

(Apocalipse 12,1); pois, dentre tantas estrelas, nela refulge a beleza das virtudes, o temor de Deus, a sensibilidade feminina e a esponsalidade materna. Em Maria, as virtudes de todas as personalidades femininas da História da salvação encontram sua perfeição e culminância, a ponto de considerarmos Maria o modelo de perfeição para todos que se deixam iluminar pela Palavra de Deus.

(29)

29

I CRISTOLOGIA NA SAGRADA ESCRITURA

Segundo São Jerônimo (séc. IV), o que realizou a tradução Vulgata da Sagrada Escritura,

“Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo”; Santo Agostinho de Hipona, seu contemporâneo, também ensina sobre a unidade da Sagrada Escritura: ”O que estava latente no Antigo Testamento, tornou-se patente no Novo”.

1 ANTIGO TESTAMENTO: FIGURAS E PROFECIA

Figuras:

*Adão (Gn 1-3)

*Melquisedec (Gn 12, 18)

*Sacrifício de Isaac (Gn 22)

*Cordeiro pascal (Êx 12)

*Água da rocha (Êx 17, 1-6)

*Fonte do Templo (Ez 47)

*Serpente de bronze (Nm 21, 4-9)

*O servo do Senhor (Is 52-53)

*O Filho do Homem (Dn 7)

Profecias

*Proto-evangelho (Gn 3,15)

(30)

30

*Bênção a Abraão (Gn 12,3)

*Profeta semelhante a Moisés (Dt 18,15)

*O sofrimento do Messias e sua glória (Sl 22)

*Concebido pela virgem (Is 7,14)

*Ungido pelo Espírito (Is 11)

*Servo do Senhor (Is 52-53)

*A nova aliança (Jr 31, 31-34)

*Do Egito chamei o meu filho (Os 11,1)

*Entrada real do Messias em Jerusalém (Zc 9,9)

*O transpassado (Zc 12,10)

*O Pastor ferido e as ovelhas dispersas (Zc 13,7)

*Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim (Ml 3,1)

*Nascimento do Messias em Belém de Judá (Ml 5,2)

2 QUERIGMA E VIDA NOVA NA COMUNIDADE

O Querigma, primeiro anúncio da fé, é a semente essencial da fé viva que a comunidade recebe do evento único de nossa salvação e da revelação de Deus, que compreende a morte e ressurreição do Senhor, com o dom do Espírito Santo, a comunidade dos discípulos, a Igreja, Novo Povo de Deus. Para o Padre Mário Antonelli (2015, p.1): “A comunidade experimenta o senhorio de Jesus Cristo dentro do conjunto de atitudes, de experiências, de iniciativas que são frutificação da Páscoa de Jesus e, ao mesmo

(31)

31

tempo, assinalam a proveniência não humana desta vida nova”.

O Querigma é o conteúdo fundamental da pregação apostólica, para suscitar a fé em meio a judeus e gentios, mediante o anúncio e a experiência da presença salvadora de Deus em Cristo e no Espírito Santo.

*TENTAÇÃO ECLESIAL

Mesmo com a irrupção da Vida Nova na Igreja, mediante a Páscoa de Cristo e a comunicação do Espírito Santo, a humanidade marcada pela tríplice concupiscência, é sempre tentada pela voz enganadora de satanás a procurar construir o Reino de Deus de um modo mais fácil que não comporte o sofrimento implícito na cruz. Impor a fé através das forças ideológica e militar, por exemplo, como ocorreu na Europa, no regime medieval da Cristandade: Quem não fosse cristão não era cidadão. Assim, não há genuína adesão a Cristo, mas se é cristão por conveniência ou por coerção.

Para o Padre Mário Antonelli (2015, p.2):

A existência nova da Igreja desenrola- se como luta: sempre. Não existe vida nova que não seja combate, resistência dramática na novidade

(32)

32

pascal de Jesus Cristo. E à origem dessa luta há sempre uma tentação. A tentação mais radical, aquela que, por excelência, merece o título de

‘satânica’, consiste no atribuir-se à carne e ao sangue a realização da relação nova com Deus; abafando a palavra da cruz e recusando o poder dela. A vontade vai se ensoberbecendo na presunção de alcançar a comunhão com Deus pelo caminho bem conhecido das imagens humanas de Deus e de seu Ungido.

3 HOMOLOGHIAS E FÓRMULAS DE RESSURREIÇÃO

*Homologhias

O Padre Mário Antonelli (2015, p.3) define “homologhia”, conforme o Novo Testamento:

Para indicar o ato litúrgico/testemunhal de confessar Jesus reconhecendo-o como Senhor: em seu sentido próprio;

homologhein significa ‘proclamar/

declarar o próprio acordo com’. A homologhia é ‘declaração sobre a qual se está de acordo’ [...] ela é a concórdia pascal, pois todos falam e aclamam a mesma palavra, a da Páscoa de Jesus, o Senhor.

(33)

33

Segue-se algumas formas dessas declarações:

> Jesus é Senhor!:

1Cor 12,3: “...ninguém pode dizer: Senhor Jesus!

se não é movido pelo Espírito Santo”

Rm 10, 9: “...se confessas com a boca que Jesus é Senhor, se crês de coração que Deus o ressuscitou da morte, tu te salvarás”

>Maranatha!:

1 Cor 16,22: “Quem não ama o Senhor seja maldito. Vem, Senhor (Maranatha)!

Ap 22, 20: “Aquele que testemunha tudo isso diz:

Sim, venho logo. Amém. Vem, Senhor Jesus”

>Tradição – Paradósis

1 Cor 11,23s: “Pois eu recebi do Senhor o que vos transmiti: O Senhor, na noite que foi entregue, tomou o pão, dando graças o partiu, e disse: Isto é o meu corpo que se entrega por vós.

Fazei isto em memória de mim”

(34)

34

1 Cor 15, 3ss: “Antes de tudo, eu vos transmiti o que havia recebido: que Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras, e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia segundo as escrituras, apareceu a Cefas e depois aos doze”

*Fórmulas de ressurreição

Rm 10, 9s: “se confessas com a boca que Jesus é Senhor, se crês de coração que Deus o ressuscitou da morte, tu te salvarás. Com o coração cremos para ser justos, com a boca confessamos para ser salvos”

1 Cor 6,14: “E Deus, que ressuscitou o Senhor, vos ressuscitará com seu poder”

1 Ts, 1,10: “esperando, do céu, a vinda do seu Filho, que ele ressuscitou da morte: Jesus, que nos livra da condenação futura”

At 13, 32s: “Quanto a nós, vos anunciamos a boa notícia: A promessa feita aos antepassados foi cumprida por Deus a seus descendentes, ressuscitando Jesus, como está escrito no Salmo dois: Tu és meu filho, eu hoje te gerei””

(35)

35

*Fórmulas de morte

Rm 5,8: “Pois bem, Deus nos demonstrou seu amor no fato de que, sendo ainda pecadores, Cristo morreu por nós”

Rm 14,15: “Contudo, se o que tu comes faz sofrer teu irmão, não ages com amor. Não destruas, com o que comes, alguém por quem o Messias morreu”

1 Cor 8,11: “E por teu conhecimento se perde o fraco, um irmão por quem Cristo morreu”

2 Cor 5, 14s: “Porque o amor de Cristo nos pressiona, ao pensarmos que, se um morreu por todos, todos morreram. E morreu por todos, para os que vivem não vivam para si, mas para quem por eles morreu e ressuscitou”

*Fórmulas de entrega

-Deus: sujeito

Rm 4, 24s: “...o crer naquele que ressuscitou da morte Jesus, Senhor nosso, que se entregou por nossos pecados e ressuscitou para nos tornar justos”

(36)

36

Rm 8, 32: “Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou para todos nós, como não vai dar de presente todo o resto com ele? ”

Jo 3, 16: “Deus tanto amou o mundo, que entregou seu Filho único, para que quem crer não pereça, mas tenha vida eterna”

- Jesus: sujeito

Gl 1, 3s: “graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo, que se entregou por nossos pecados, para tirar-nos da perversa situação presente, segundo o desejo de nosso Pai”

Gl 2, 19s: “...Fui crucificado com Cristo, e já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim.

Enquanto vivo na carne mortal, vivo de fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”

Ef 5,2. 25: “agi com amor, como Cristo vos amou até entregar-se por vós a Deus como oferenda e sacrifício de aroma agradável [...]Homens, amai vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela”

Tt 2, 14: “Ele [Jesus Cristo] se entregou por nós, para resgatar-nos de toda iniquidade, para adquirir um povo purificado, dedicado às boas obras”

(37)

37

*Fórmulas de Kenósis

2 Cor 8,9: “Pois conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por vós se tornou pobre para vos enriquecer com sua pobreza”

Fl 2, 5-11: “Tende os mesmos sentimentos de Cristo Jesus.

Ele, apesar de sua condição divina, não fez alarde de ser igual a Deus, mas se esvaziou de si

e tomou a condição de escravo, fazendo-se semelhante aos homens.

E mostrando-se em figura humana, humilhou-se,

tornando-se obediente até à morte, morte de cruz.

Por isso, Deus o exaltou e lhe concedeu um título superior a todo título,

para que, diante do título de Jesus, todo joelhe se dobre,

no céu, na terra e no abismo;

e toda língua confesse para a glória de Deus Pai:

Jesus Cristo é o Senhor! ”

(38)

38

*Fórmulas de morte/ressurreição

1 Ts 4,14: “Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, o mesmo Deus, por meio de Jesus, levará os defuntos para estar consigo”

Rm 14, 9:

“Para isso morreu o Messias e ressuscitou:

Para ser Senhor de mortos e de vivos”

*Discursos missionários

At 2, 22-36: “Israelitas, escutai minhas palavras:

Jesus de Nazaré foi um homem acreditado por Deus diante de vós com os milagres, prodígios e sinais que Deus realizou por meio dele, como bem sabeis. A este, entregue segundo o plano previsto por Deus, vós crucificastes pela mão de gente sem lei, e o matastes. Mas Deus, libertando-o dos rigores da morte, ressuscitou-o, pois a morte não podia retê-lo. O próprio Davi diz dele: Ponho sempre diante de mim o Senhor; com ele à direita não vacilarei. Por isso, meu coração se alegra, minha língua exulta e minha carne descansa esperançosa: porque não me deixarás na morte, nem permitirás que teu fiel conheça a corrupção.

Tu me ensinarás o caminho da vida, me encherás de alegria em tua presença. Irmãos, posso dizer- vos com toda a franqueza: o patriarca Davi morreu e foi sepultado, e o sepulcro dele se conserva até

(39)

39

hoje entre nós. Mas como era profeta e sabia que Deus lhe havia prometido com juramento que um descendente carnal seu se sentaria em seu trono, previu e predisse a ressurreição do Messias, dizendo que não ficaria abandonado na morte, nem sua carne experimentaria a corrupção. A este Jesus, Deus ressuscitou, e todos nós somos testemunhas disso. Exaltado à direita de Deus, recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e o derramou. É o que estais vendo e ouvindo. Pois Deus não subiu ao céu, mas diz: Disse o Senhor ao meu Senhor, senta-te à minha direita, até que faça de teus inimigos estrado de teus pés.

Portanto, toda a Casa de Israel reconheça que a este Jesus, que crucificastes, Deus nomeou Senhor e Messias”

-Outros discursos missionários: cf: At 3, 12-26; At 4, 8-12. 24-30; At 5, 29-32.

4 PRINCIPAIS TÍTULOS CRISTOLÓGICOS

*Cristo/Messias (At 5, 42: “E não cessavam, a cada dia, no templo ou em casa, de ensinar e anunciar a boa notícia do Messias [=Cristo]

Jesus”)

*Senhor (Rm 14, 9:

“Para isso morreu o Messias e ressuscitou:

Para ser Senhor de mortos e de vivos”)

(40)

40

*Filho de Deus (Rm 1, 3s: “a respeito do seu Filho, nascido fisicamente da linhagem de Davi, a partir da ressurreição, estabelecido Filho de Deus com poder pelo Espírito Santo”).

5 EVANGELHOS SINÓTICOS

Os evangelhos sinóticos, Mateus, Marcos e Lucas, são assim denominados pois nos apresentam o Senhor de um modo mais similar quanto à forma que utilizam.

Assim, syn+optico, significa que Mateus, Marcos e Lucas, se dispostos em três colunas paralelas (sinopse), podem ser compreendidos de um só relance de vista com conteúdos muito similares. João, por outro lado, possui uma maneira mais desenvolvida e espiritual, por se tratar de um escrito do final do I século, quando a comunidade já estava mais desenvolvida na compreensão de sua fé na identidade de Jesus Cristo e na sua relação com o Pai e o Espírito.

Conforme a teoria exegética das duas Fontes Sinópticas, comparando os textos dos três primeiros evangelhos entre si, Mateus e Lucas, de modos coincidentes, citam passagens de Marcos e, também, coincidem na citação de ditos (loghions) de Jesus que não estão em Marcos.

Assim, essa fonte de loghions foi denominada em

(41)

41

alemão por “Quelle” (fonte), significada por Q.

Assim temos o esquema:

Nesse sentido, Q, é uma fonte hipotética, reconstituída a partir da análise dos Evangelhos Sinóticos.

*MARCOS (Roma,70 dC- III geração)

O evangelho segundo Marcos é o mais antigo. Possui linguagem mais arcaica, refletindo as crenças populares da cultura da época. Sua sonoridade se torna cacofônica pela insistente repetição dos conectivos KAY (e) para ligar as frases e orações do seu texto. No entanto, Marcos é o iniciador do evangelho como gênero literário.

Ressalta a humanidade de Jesus. As paixões humanas do Nazareno são enfatizadas na Sua apresentação. Ele geme e suspira (7,34;

8,12); indigna-se e entristece-se (3,5); parece

(42)

42

estar fora de si, pela sua total entrega ao ministério (3,21); ama e acolhe as crianças (9,36;10,16); expulsa os mercadores do templo (11,15ss); sofre física e moralmente na Sua Paixão e morte (14, 32-42).

Marcos apresenta Jesus como “o Filho do Homem”. Na cultura bíblica, essa expressão tem o significado de “criatura humana” (Ez 5,1; Ez 13,2), porém, em Daniel 7, 13s é uma figura messiânica-escatológica, ao centro da história da humanidade. Em Marcos, tal expressão está associada à profecia do Servo do Senhor de Isaias 52, 13-53,12. (cf. Mc 10, 45).

Nesta preferência pelo título “Filho do homem” dado a Jesus, associada à profecia do Servo, Marcos ressalta o tema do segredo messiânico. Jesus prefere não aplicar a si o título de Messias/Cristo, recomendando silenciar quem lhe pretende divulgar como Messias, pois tem consciência de que a sua missão messiânica não se confunde com os anseios de seu povo por um messias-davídico, político e belicoso, mas como Servo do Senhor, que redime e liberta a humanidade por seus sofrimentos, em obediência a Deus.

Mesmo os discípulos de Jesus não conseguiram compreender isso no seu convívio com o Nazareno, senão após a sua morte e ressurreição com a efusão do Espírito Santo sobre a Igreja nascente. (cf: 1, 10-45; 4, 10-13; 5, 1-43;

6, 33-44. 52).

(43)

43

Marcos destaca o título cristológico

“Filho de Deus” (1,1. 11; 3,11; 5,7; 9,7; 14, 61s;

15,39), tais títulos acompanham os milagres operados por Cristo. Jesus é, assim, um verdadeiro homem que age com a dynamis(poder) divina. No entanto, Jesus não é apresentado como um grande profeta como os do Antigo Testamento – Moisés e Elias – que também realizaram prodígios em nome de Deus.

Jesus é apresentado como o Filho de Deus em sentido próprio, concede o perdão divino aos seres humanos, destruindo o poder do pecado e do mal ao cumprir a Aliança no Seu sangue, por Sua Paixão, morte e ressurreição, dando a vida como Servo do Senhor, para a remissão dos pecados do mundo.

O Evangelho escrito por Marcos é um caminho de seguimento de Jesus onde, no relacionamento íntimo com o Mestre, a comunidade dos discípulos ruma ao mistério da cruz e do sepulcro vazio, com a boa nova da ressurreição; assim, os discípulos vão compreendendo a identidade de Jesus como Cristo-Servo e Filho de Deus.

*MATEUS (Síria, após 70 dC, aos judeus)

Mateus ou Levi, o cobrador de impostos que, ao chamado de Jesus, ergueu-se da sua sede na coletoria e, deixando tudo, seguiu

(44)

44

o Mestre. Sendo contado entre os doze apóstolos, escreveu o evangelho para uma comunidade de hebreus convertidos a Jesus Cristo, radicados na Síria, após a Guerra Judaica que culminou no ano 70, com a tomada de Jerusalém. Os Padres da Igreja, Papias e Eusébio de Cesaréia registraram que a primeira recensão do seu evangelho, datando de próximo ao ano 50, foi escrita em hebraico; tal recensão está perdida.

Mateus, adequando-se aos seus destinatários, cita aproximadamente 43 vezes o Antigo Testamento para comprovar, com base nas Sagradas Escrituras do povo hebreu, que Jesus é o Messias prometido na Lei e nos Profetas, pois Ele cumpre em si e na sua ação as Profecias e Figuras escriturísticas, iluminando-as e levando-as ao seu termo.

Ao princípio deste evangelho, Jesus é apresentado numa genealogia como descendente de Davi e de Abraão, cumprindo as promessas messiânicas feitas por Deus a eles.

Nesse sentido, enfatiza-se a majestade de Jesus, evitando referências a paixões e sentimentos em Jesus, ou a algo que sugira limitação humana no Mestre. Dá-se muita ênfase aos milagres operados por ele sobre o ser humano, as forças naturais e sobrenaturais, realçando o tema da Sua onisciência. Utiliza-se por 13 vezes a expressão “prostrar-se” perante Jesus, indicando sua majestade divina.

Referências

Documentos relacionados

[r]

Depois da Ressurreição de Jesus, os apóstolos lideraram a Igreja de Jesus e continuaram a pregar Seu evangelho. Os apóstolos viajavam

Ainda uma última achega: A chegada dos tirocinantes à EPI e respectivo curso envolve uma série de “praxes” e tradições antigas, que longe de estarem deslocadas, são fundamentais

Dito de outra forma, é a ação do efeito de isolamento, conjugado à ação do efeito neutralizador identificado por Saes, e designado por Poulantzas como efeito de unidade, que oferece

Somos o Corpo de Cristo e membros uns dos outros: assim Deus nos dispôs em Jesus, uns para os outros,!. Apóstolos,

É importante salientar que o serviço no qual o Servidor se está empenhado e o faz por amor a Jesus Cristo, à sua Sagrada Liturgia e à Igreja, não deve ser

Exportação Exportação Variável Exportação Valor da Varia segundo o tipo de produto.. No caso do lucro ser a base de cálculo, ele corresponde ao lucro real antes da provisão

O contexto escolhido para a realização do estudo foi o ensino superior, tendo como amostra os acadêmicos do curso de Administração de uma universidade da cidade de Rio Verde (GO) e