Orientações em Saúde
O poder da
atitude preventiva
Jucelma Avanzi Catto
Engenheira de Segurança do Trabalho – CASS/Reitoria
Marcus Vinícius Queiroz Rocha
Médico do Trabalho – CASS/Reitoria
ABRIL DE 2021
Prevenir é cuidar!
Os novos tempos trouxeram mudanças inesperadas nos locais de trabalho e afetaram os recursos, os processos, os métodos e a produtividade, e, talvez o mais importante, as relações profissionais. Com isso, fundamental é a preservação da higidez nos ambientes laborais por meio de práticas e atitudes intencionais positivas e prevencionistas, seja no trabalho remoto ou no presencial.
Sob os efeitos da pandemia global pela COVID-19, que impôs o isolamento e o distanciamento social como medida para conter a disseminação do vírus, para muitos profissionais o local de tra-balho se tornou a própria residência.
Nesse contexto desafiador, inicia-se a campanha do Abril Verde, mês alusivo à Segurança e Saúde no Trabalho, que traz a reflexão sobre a necessidade de novos caminhos para o mundo do trabalho, com ações em prol de ambientes mais seguros e saudáveis, em garantia da pro-teção dos trabalhadores no exercício de suas profissões. É uma campanha coordenada pelo Programa Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho (Programa Trabalho Seguro) da Justiça do Trabalho e replicada por vários órgãos, instituições e organizações.
No dia 28 de abril celebra-se o Dia Mundial da Segurança e Saúde do Trabalho, instituído em 2003 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), com o propósito de lembrar as ví-timas de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. Nessa data, no ano de 1969, ocorreu uma explosão que matou 78 trabalhadores em uma mina localizada do estado norte-americano da Virgínia. Uma data que poderia representar apenas um dia de luto pela morte dos mineiros norte-americanos e de tantos outros profissionais que perderam suas vidas trabalhando,
trans-forma-se em um dia de reflexão sobre a vida e pela defesa do trabalho decente1, seguro e
saudável.
Segundo estimativas da OIT, a cada ano no mundo, 7.500 pessoas morrem por dia devido a condições de trabalho inseguras e insalubres, o que corresponde a cerca de 5% a 7% dos óbitos registrados, com custos humanos incalculáveis. Além disso, as perdas econômicas derivadas de doenças e acidentes ocupacionais, geralmente passíveis de prevenção, chegam a 4% do Produ-to Interno BruProdu-to (PIB) mundial. Além da violação de direiProdu-tos humanos e laborais, ambientes de trabalho inseguros e insalubres geram enormes prejuízos econômicos e perda da produtivida-de no trabalho, afetando negativamente a geração e a distribuição produtivida-de riquezas (Observatório produtivida-de Saúde e Segurança no Trabalho – OIT/MPT).
No Brasil, a Lei nº 11.121, de 25/05/2005, também instituiu o 28 de abril como o Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho, com o objetivo de cons-cientizar empregados, empregadores, governos e sociedade civil sobre os riscos de acidentes e doenças no trabalho, visto que, de acordo com o Observatório de Segurança e Saúde no Traba-lho, são registrados acidentes a cada 49 segundos.
Entre as reflexões propostas pela data oficial no calendário brasileiro, o órgão gestor nacional do Programa Trabalho Seguro defende que o mecanismo mais eficiente para a redução de aci-dentes é o investimento sistemático em medidas de segurança e saúde dos trabalhadores
e o desenvolvimento de uma cultura prevencionista nos ambientes laborais, com apoio de seus dirigentes.
Tais medidas dizem respeito a uma série de normas e procedimentos que buscam prevenir aci-dentes e doenças ocupacionais, uma vez que os locais de trabalho podem oferecer riscos pela exposição a agentes físicos, químicos, biológicos, ergonômicos (em ambientes administrativos) e de acidentes e, assim, comprometer a saúde e a segurança do trabalhador, seja de forma ime-diata ou ao longo do tempo. No atual panorama, são ainda identificados riscos mentais e sociais em função do isolamento e do distanciamento social. Acidentes e doenças do trabalho, doenças profissionais, violência, assédio moral e sexual, e outros temas relacionados fazem parte dos temas observados.
Segundo o Ministério da Saúde (2001), são consideradas medidas de proteção da saúde e pre-venção de doenças e agravos relacionados ao trabalho:
1 Formalizado pela OIT em 1999, Trabalho Decente é um conceito que sintetiza a sua missão histórica de promover oportunidades para que homens e mulheres obtenham um trabalho produtivo e de qualidade, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humanas, sendo considerado condição fundamental para a superação da pobreza, a re-dução das desigualdades sociais, a garantia da governabilidade democrática e o desenvolvimento sustentável. Trata-se de um conceito central para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pelas Nações Unidas,
1. Substituição do agente ou substância tóxica por outra menos lesiva ou tóxica;
2. Instalação de equipamentos de proteção coletiva;
3. Enriquecimento do conteúdo das tarefas nos trabalhos monótonos e repetitivos;
4. Mecanização de determinadas tarefas, de modo a tornar o trabalho mais leve e confortável;
5. Incremento da participação dos trabalhadores nos processos de decisão, garantin-do-lhes autonomia para organizar o trabalho, diminuindo as pressões de tempo e de produtividade;
6. Educação e informação do trabalhador;
7. Uso de equipamentos de proteção individual (EPI), em determinadas circunstân-cias;
8. Medidas organizacionais como diminuição do tempo de exposição a determinado agente;
9. Controle médico de saúde ocupacional, com exames admissionais e periódicos;
10. Vigilância em saúde do trabalhador, visando à detecção precoce de alterações ou agravos decorrentes da exposição a condições de risco presentes no trabalho. Os acidentes de trabalho têm impacto humanitário, social e econômico. O setor econômico com maior número de notificações foi o de atendimento hospitalar, desde o ano de 2012, seguido do comércio varejista de mercadorias em geral e a administração pública. No entanto, a grande maioria dos acidentes e doenças do trabalho são previsíveis e, por consequência, são também preveníveis. Mas, o que é acidente e doença do trabalho? E doença profissional?
Segundo o regime jurídico dos servidores públicos federais (Lei nº 8.112/1990), acidente do trabalho (ou acidente em serviço) é o dano físico ou mental sofrido pelo servidor, que se rela-cione, mediata ou imediatamente, com as atribuições do cargo exercido.
A doença do trabalho resulta das condições ambientais do local em que o trabalho é realizado e com o qual a enfermidade se relacione diretamente, isto é, a enfermidade decorre de um fator de risco associado à atividade exercida no ambiente de trabalho.
Doença profissional é aquela desencadeada pelo exercício do trabalho, típica de determinada atividade e constante de uma relação elaborada pela Previdência Social.
Ou seja, enquanto as doenças do trabalho podem ser causadas por diferentes fatores, as doenças profissionais são próprias de determinada profissão e são reconhecidas pela Previdência Social.
Em caso de suspeita de uma doença relacionada ao trabalho, o trabalhador-servidor deve ser avaliado pelo Médico do Tra-balho, que é o profissional de saúde especialista neste tipo de análise.
Em tempos de crise, o estabelecimento de condições de trabalho decente, seguro e sau-dável clama à autorresponsabilidade e à atitude preventiva como garantia da saúde completa, conforme conceituada pela Organização Mundial da Saúde (OMS): Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade.
Os diferentes fatores de risco que afetam a saúde e a qua-lidade de vida no trabalho podem ser gerenciados median-te ações preventivas que asseguram a inmedian-tegridade física e mental e geram maior produtividade, além de satisfação no trabalho, sentimento de pertencimento e de ser cuida-do com carinho.
A prevenção nos ambientes de trabalho traduz cautela, prudência, diligência e vigilância com a própria vida e com a vida do próximo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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