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A importância do período seco no ciclo da vaca leiteira

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Academic year: 2021

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Relatório Final de Estágio

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

A IMPORTÂNCIA DO PERÍODO SECO NO CICLO DA VACA LEITEIRA

Marta Tavares Rodrigues

Orientador:

Professor Doutor João José Rato Niza Ribeiro

Coorientadores:

Professor Doutor Luís André de Oliveira Pinho Dr. Sérgio B. Pereira

Dr. John Borzillo

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Relatório Final de Estágio

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

A IMPORTÂNCIA DO PERÍODO SECO NO CICLO DA VACA LEITEIRA

Marta Tavares Rodrigues

Orientador:

Professor Doutor João José Rato Niza Ribeiro

Coorientadores:

Professor Doutor Luís André de Oliveira Pinho Dr. Sérgio B. Pereira

Dr. John Borzillo

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i Lista de figuras

Figura 1 – Estábulo das vacas secas na HFI e suas características ... 9

Figura 2 - O conceito de sustentabilidade da produção leiteira ... 12

Lista de gráficos Gráfico 1 – Distribuição da duração do PS no último ano na HFI obtido no software DairyComp 305® ... 9

Gráfico 2 – Estimativa de curva de lactação em função do PS precedente. ... 23

Lista de tabelas Tabela 1 – Resumo dos períodos e respetivos locais de estágio. ... 1

Tabela 2 – Características comuns aos médicos veterinários buiatras ... 11

Tabela 3 – Recomendações para índice de condição corporal ... 19

Tabela 4 – Recomendações para ingestão de matéria seca no PS ... 19

Tabela 5 – Recomendações para ingestão de proteína e energia no PS ... 19

Tabela 6 – Resultados do benchmarketing realizado, relativos à performance das vacas ao longo das lactações e duração do período seco ... 21

Tabela 7- Comparação da performance produtiva (lactações ajustadas aos 305 dias) dos animais a partir da 3ª lactação em função da duração do seu PS precedente ... 22

Tabela 8 - Cálculo da perda económica associada à diminuição de produção em PS mais curtos ... 24

Tabela 9 - Incidência de doenças no pós-parto no último ano na HFI e comparação com a média descrita da literatura ... 24

Tabela 10 - Cálculo da perda económica associada à inexistência de duas dietas diferentes no PS ... 25

Tabela 11 – Cálculo do resultado económico anual associado à construção de um novo estábulo para vacas secas na HFI ... 26

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ii

Í

NDICE DE

A

BREVIATURAS Ac – anticorpos

AVP – Azores Veterinary Practice BEN – balanço energético negativo BHB – beta Hidroxi-butirato

BRSV - vírus Respiratório Sincicial Bovino BST – somatotropina bovina

BVD – diarreia viral bovina

CCS – contagem de células somáticas CEO – chief executive officer

CMT – teste Californiano de Mastites

CWAS – Central Wisconsin Agriculture Services DA – deslocamento de abomaso

DCAD – diferencial catião-anião da dieta DEL – dias em leite

DP – dry period

HFI – Heller’s Farm Inc. IA – inseminação artificial

IBR – rinotraqueíte infeciosa bovina MS – matéria seca

MV – médico veterinário PI3 - parainfluenza 3 PS – período seco

ROI – Return on investment

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iii

R

ESUMO

O presente relatório foi elaborado no âmbito da unidade curricular “Estágio” do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária do ICBAS – UP. Este estágio teve lugar em 4 empresas, 2 em Portugal e 2 nos EUA: Diessen (Évora, 9 semanas), SVA (Fradelos, 4 semanas), AVP (Califórnia, 4 semanas) e CWAS (Wisconsin, 7 semanas). Durante estes períodos acompanhei serviço de clínica, reprodução e consultoria em bovinicultura de leite. No estágio na SVA foi ainda realizado um inquérito sobre o consumo de antibióticos a alguns produtores.

Durante a minha passagem pelo Wisconsin, foi possível constatar que a estabulação das vacas secas na HFI apresentava algumas limitações de espaço, o que forçava ao encurtamento de vários períodos secos (PS). Colocou-se a hipótese de estes PS mais curtos condicionaram negativamente a lactação seguinte. Recorreu-se ao software DairyComp 305® e compararam-se as produções de lactações precedidas por diferentes durações de PS (<41 dias vs 41-60 dias), tendo-se encontrado-se uma diferença de menos 629 kg para a lactação ajustada aos 305 dias para PS<41 dias. Usando o mesmo software, procedeu-se a uma análise comparativa entre 3 explorações assistidas pela CWAS, uma delas a HFI e corroborou-se este facto: a performance produtiva das vacas sujeitas a PS mais curtos era inferior; verificou-se que os animais não evoluíam da mesma forma, na produção, da 2ª para a 3ª lactação onde seria expectável atingirem o pico da produção (pico 2ª /pico 3ª =1)

Para fazer face a este problema, realizou-se um estudo económico para avaliar a viabilidade da construção de um novo parque de vacas secas. Considerou-se que poder-se-iam alocar vacas em lactação no mesmo pavilhão para proceder à amortização do investimento mais rapidamente. Para que o prazo de retorno do investimento rondasse os 5 anos seria necessário instalar 150 vacas extra e haveria um ROI a 20 anos de 4X. Concluiu-se, portanto, que o investimento em melhores condições de maneio tem um impacto positivo na produção e sempre que bem ponderado pode apresentar um interessante retorno económico.

Palavras-chave: bovinicultura de leite, Herd Health Management, Período Seco, produtividade

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A

BSTRACT

This report was carried out under the class “Professional training period” of Integrated Master in Veterinary Medicine in ICBAS – UP. I completed my internships at 4 companies - 2 in Portugal; Diessen (Évora, 9 weeks), and SVA (Fradelos, 4 weeks), and 2 in the USA; AVP (California, 4 weeks) and CWAS (Wisconsin, 7 weeks). During this time, I engaged in dairy medicine, which included: clinical medicine, reproductive programs, and herd consulting. During my internship in SVA, I also completed a survey at some dairy farms to understand antibiotic consumption trends.

In Wisconsin, I realized that dry cow housing at HFI Farms Inc. (HFI) is under-sized, forcing the herd to shorten dry period (DP) length for some cows. A hypothesis was raised; does DP shortening negatively impact a subsequent lactation? Using Dairy Comp 305®️ to compare milk yield as a function of DP length, I evaluated milk production in subsequent lactations using the following DP lengths: DP<41 d vs DP=41-60 d. I observed 629 kg less milk (305 days lactation) produced by cows in the DP<41d group. I also used Dairy Comp 305®️ to benchmark 3 dairy farms (CWAS customers) including HFI and confirmed this fact; cows with shorter DP demonstrated inferior subsequent lactation performance versus cows that experienced longer DP, when comparing 2nd and 3rd lactation peaks. It would be expected to observe a different peak

ratio between these 2 lactations but in fact the ratio was equal to 1.

To solve this problem, I completed an economic study to assess the feasibility of a new barn for dry cows. We considered the possibility of housing an additional pen of lactating cows in this new barn to help the investment amortization. We would need 150 additional lactating cows to pay for the investment in 5 years and we found a 4x ROI in 20 years. I concluded that an investment for better conditions for dry cows can impact milk yields positively while demonstrating a desirable ROI.

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A

GRADECIMENTOS

Ao ICBAS e a todos quantos fazem parte desta casa fantástica. Colegas, amigos, professores; professores que também se tornaram amigos e colegas que se tornaram professores… Não seria justo não enumerar alguns nomes… A Catarina Aluai, a Rita Brás e a Catarina Ferreira que levo com muito carinho no coração e que são seres genuinamente bons, altruístas e que tornam o mundo muito melhor, em particular o da veterinária… A todos os Professores do ICBAS, não só por todas as competências técnicas, mas porque na generalidade são seres humanos muito assertivos e transformaram-nos, sem presunções, numa referência de estudantes de veterinária.

Agradeço de forma sincera, ao meu orientador, Professor Niza Ribeiro por toda a sua disponibilidade, orientação, paciência e humanidade mesmo quando o caminho nos parece menos claro e mais difícil.

A gratidão às pessoas que me acolheram neste longo e diverso período de estágio nunca caberia neste parágrafo. Existe gente de facto muito generosa, disponível e aberta a partilhar o seu conhecimento com os outros. Muito obrigada às equipas das organizações por onde passei: ao Dr. Miguel Pimentel e ao Dr. Bruno Carneiro da Diessen; aos MV da SVA: Doutor Luís Pinho, Dr. Luís Figueiredo, Dr. Pedro Meireles e Dr. Carlos Cabral; aos MV da AVP: Dr. Sérgio Pereira, Dr. Scott Cantor, Andrés Rojas e Dr. Jorge Aranda e ainda ao Dr. Marty Martin e Dr. Dave Hamman da CWAS. Foram meses muitíssimo enriquecedores! Um agradecimento especial também à equipa da HFI, em especial ao Cody Heller por me ter lá acolhido de forma tão generosa. Obrigada aos meus amigos brasileiros, Gui Magon e à Eduarda Sacardi pelos momentos únicos que vivemos na California.

Ao meu mentor e amigo, John Borzillo, um sincero obrigado por me ter ajudado neste processo de construção de confiança, pelos ensinamentos, pela abertura da sua casa e por toda a amizade.

Um agradecimento a todos os meus amigos com quem tenho tido a sorte de partilhar tanta coisa boa e que sempre me apoiaram e se entusiasmaram com o meu ingresso na veterinária, dando-me força para que conseguisse conciliar durante tanto tempo o estudo e o trabalho… E claro, à minha segunda família que foi a Farmácia Giro, por tudo quanto lá aprendi e por me terem feito crescer tanto enquanto pessoa.

Um obrigada especial à família de sangue, que é aquela escora humana que lá está sempre… À minha irmã Inês, à minha tia Júlia e ao meu avô António que tanto significam para mim.

Ao João Pedro, por estes 12 anos de caminhada, pela sua tolerância a esta minha fraqueza pelo estudo, por partilhar comigo este gosto pelos animais e acima de tudo, pelo amor.

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No término desta jornada não podia terminar sem agradecer aos que me ensinaram o valor da vida e do trabalho: os meus pais. Tive a sorte de ser educada muito mais pelo exemplo que pela palavra. O Alberto e a Dores serão para sempre a minha referência de humildade, resiliência, generosidade e amor. Sempre deixando-me voar, apoiando as minhas decisões e este meu percurso académico mais atípico. Ao meu pai, em particular, pela sua sensibilidade sui

generis: foi com ele que aprendi que se devemos um imenso respeito a todos os animais, ainda

mais devemos, àqueles que cumprem esta função tão nobre de nascerem e crescerem para nos alimentarem, tornando o nosso prato mais nutritivo, diverso e saudável. A agricultura e a pecuária sempre foram, são e continuarão a ser uma Causa Justa.

Não sei se deva agradecer a Deus ou ao cosmos, mas alguma destas entidades será responsável por me ter feito nascer num tempo tão maravilhoso. Mesmo no meio de uma pandemia, vivemos tempos de abundância, de ciência e tecnologia, de desafios, mas também de soluções! Sinto profundamente que todo este percurso que tenho tido oportunidade de trilhar é uma bênção divina.

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Í

NDICE Índice de abreviaturas ... ii Resumo ... iii Abstract ... iv Agradecimentos ... v Índice ... vii Preâmbulo ... 1

1. Atividades desenvolvidas durante o estágio ... 1

2. Aplicação do método herd health management à resolução de um problema... 9

2.1. O Problema ... 9

2.2. Objetivo ... 10

2.3. Revisão ... 10

2.3.1. Herd Health Management ... 10

2.3.2. Benchmarketing nas explorações de leite ... 13

2.3.3. O período seca na vaca leiteira ... 14

Duração do PS ... 14

Instalações ... 16

Espaço de manjedoura ... 17

Espaço de descanso/cama ... 17

Movimento entre grupos e stress social ... 18

Maternidade ... 18

Maneio nutricional ... 19

2.4. Materiais e Métodos ... 20

2.5. Resultados ... 21

2.5.1. Benchmarketing ... 21

2.5.2. Perdas de produção observadas associadas à alteração da duração do PS ... 22

2.5.3. Estimativa e apreciação da incidência de doenças de pós-parto ... 24

2.5.4. Ganhos associados à alteração da gestão nutricional no PS ... 24

2.5.5. Viabilidade económica para a construção de um estábulo na HFI ... 25

Decisão ... 28 Follow-up ... 28 Discussão ... 28 Conclusão ... 30 Bibliografia ... 31 Anexos...33

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1

P

REÂMBULO

O presente relatório encontra-se dividido em 2 principais capítulos. O primeiro capítulo descreve resumidamente a maioria das atividades desenvolvidas nos diferentes locais de estágio. Dedica-se um espaço significativo a esta descrição uma vez que as atividades foram muito diversas, mas também, porque se achou pertinente ir destacando as principais diferenças observadas quer na forma de produção quer no tipo de assistência médico-veterinária prestada nos diferentes locais. O segundo capítulo descreve a aplicação do método Herd Health

Management à resolução de um problema associado à estabulação das vacas secas encontrado

numa exploração do Wisconsin.

1. A

TIVIDADES DESENVOLVIDAS DURANTE O ESTÁGIO

O estágio curricular do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária, enquadrado no 6º ano deste ciclo de estudos, tem como objetivos: proporcionar a aquisição de competências técnicas e científicas especificamente direcionados para o exercício da atividade profissional, promover a inserção profissional dos recém mestres no mercado de trabalho, bem como potenciar sinergias entre o meio académico e as Instituições de acolhimento dos estudantes. Os locais de estágio foram selecionados com o objetivo de poder contactar com diferentes realidades da bovinicultura de leite tanto em Portugal, como no estrangeiro. O plano inicial de estágio contemplava o trabalho de 1 mês na área do consumo de antibióticos na Universidade de Utrecht. Infelizmente, devido a todos os constrangimentos associados à pandemia do COVID-19, este estágio teve de ser cancelado pela própria instituição. Deste modo, o estágio extracurricular realizado nos meses de outubro e novembro na Diessen foi submetido para apreciação no sentido de se perfazerem as 16 semanas de estágio curricular. No anexo 1 é apresentado em tabela, o resumo de todas as atividades realizadas e casuística observada nos diferentes locais de estágio, bem como uma caracterização sumária das explorações visitadas.

Tabela 1 – Resumo dos períodos e respetivos locais de estágio

Semanas Início Fim Empresa Local

9 01/10/2019 31/11/2019 Diessen, Serviços Veterinários Évora, PT

4 06/01/2020 02/02/2020 SVA, Exp Leite Fradelos, PT

4 03/02/2020 01/03/2020 Azores Veterinary Practice California, EUA 7 02/03/2020 17/04/2020 Central Wisconsin Agriculture Services Wisconsin, EUA

Diessen, Serviços Veterinários – Évora, Portugal

O estágio na Diessen (Alentejo) teve início em outubro de 2019 e teve duração de 9 semanas, tendo acompanhado 2 dos clínicos da empresa. Aqui, o trabalho foi maioritariamente dedicado à realização de visitas de controlo reprodutivo. Pude desenvolver a técnica de palpação manual e tive oportunidade de discutir com os clínicos diferentes abordagens e estratégias de

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2

controlo reprodutivo utilizadas nas explorações. No contexto do trabalho reprodutivo, tive ainda oportunidade de participar na realização de um trabalho interessante em colaboração com a empresa MSD Animal Health. Este trabalho consistiu em pesar e medir perímetro torácico e altura à garupa de uma amostra representativa de animais de uma exploração e construção de curvas de calibração. O objetivo era aferir, se seria possível antecipar a idade ao 1º serviço. Os resultados das pesagens são apresentados no anexo 2. Concluiu-se não só que seria possível inseminar os animais mais cedo, como ainda ajustar a curva de alimentação dos vitelos até ao desmame no sentido de maximizar o crescimento dos animais nos primeiros meses de vida.

O trabalho de clínica durante este período foi relativamente reduzido, no entanto tive oportunidade de assistir e auxiliar na realização de algumas cirurgias e acompanhar algumas consultas. Participei na realização de trabalho de sanidade, nomeadamente no Programa Nacional de Controlo e Erradicação da Tuberculose e ainda auxiliei na realização de vacinação nos rebanhos das explorações. Foi possível em 2 explorações, auxiliar na recolha de amostras para testagem dos rebanhos para Mycobacterium avium subsp. paratuberculosis e Neospora

caninum. Nestas 2 explorações, os proprietários estavam voluntariamente a tentar

controlar/eliminar estas doenças. Participei ainda numa formação promovida pela Segalab relacionada com o controlo de Neosporose e novas abordagens de diagnóstico.

SVAExpLeite, Lda – Fradelos, Portugal

Neste período de 1 mês, acompanhei 4 dos 5 veterinários que constituem a equipa na gestão e consultoria técnica e económica de explorações, controlos reprodutivos, cirurgias, clínica e ainda revisão técnica das máquinas e salas de ordenha. As explorações localizavam-se sobretudo entre Douro e Minho. Durante este mês pude verificar que o controlo reprodutivo das explorações e gestão técnica e económica são as principais atividades desenvolvidas pelos veterinários. Não obstante, todos os dias estava um clínico destacado para o serviço de urgência, pelo que a casuística apresentada em anexo, reflete o facto de diariamente ter acompanhado esse veterinário.

Apesar de ter realizado algumas palpações no contexto dos controlos reprodutivos, neste estágio destacam-se o maior número de cirurgias realizadas (DA), trabalho de clínica mais denso e a realização de um maior número de necropsias. Ainda assim, houve oportunidade de acompanhar 2 auditorias no âmbito da Saúde do Úbere. Durante estas visitas, foi possível aprofundar conhecimentos e rever conceitos no âmbito dos 4 pilares de um programa de Qualidade de Leite, nomeadamente: ambiente, rotina de ordenha, máquina e o próprio animal.

Ainda durante este estágio foi aplicado um questionário (anexo 3) a alguns produtores acerca do consumo de antibióticos. Apresentam-se no anexo 4 os resultados preliminares de estatística descritiva dos 26 questionários respondidos. Este trabalho fazia parte do plano de

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trabalho previsto para a Holanda, razão pela qual dedico a este assunto os parágrafos seguintes, sem mais desenvolvimentos neste relatório.

Resultados e discussão preliminares do questionário sobre antibióticos em explorações leiteiras do Norte do País

Como principais achados deste estudo (anexo 4), destaca-se o facto de ainda serem usados como primeira escolha antibióticos críticos1 para a medicina humana como o caso das

cefalosporinas de 3ª e 4ª geração e das quinolonas. Nas 2 principais doenças dos vitelos, pneumonia e diarreia neonatal, a enrofloxacina foi a molécula mais referida em ambas as situações. Ainda assim, 6/26 (23%) das explorações referiram conseguir controlar a maioria das diarreias apenas com reidratação oral, não referindo nenhum antibiótico. No entanto, uma exploração referiu ter necessidade de usar paramomicina de forma profilática em todos os vitelos. Colocou-se uma pergunta relativa à utilização de antibióticos nas mastites, diferenciando-as em “mamite de farrapos” e “mamite de aguadilha” com o objetivo de se associar empiricamente mais a Gram positivos ou Gram negativos, respetivamente. O mais interessante nesta questão foi perceber que nas “mamites de aguadilha” apenas 1/3 não administra bisnagas intramamárias, o que na maioria dos casos seria o mais indicado.

Nas situações de claudicação, retenção placentária e metrite, a 1ª linha mais indicada foi o ceftiofur, sendo que a maioria dos produtores indica a grande vantagem de este não apresentar intervalo de segurança para o leite.

Outros aspetos relevantes registados na realização dos questionários: uma das explorações referiu só instituir tratamento nas mamites após cultura de leite em sistema da própria exploração; uma exploração referiu ter diferentes abordagens no tratamento das diarreias no vitelos em função de serem machos ou fêmeas (reidratação oral nas fêmeas vs antibiótico parenteral nos machos). A maioria das explorações referiu tratar a maioria das mamites de forma empírica enquanto que apenas uma referiu enviar sempre leite para cultura antes de instituir tratamento com antibiótico; uma das explorações referiu administrar Kexxtone® (dispositivo intra-ruminal de monensina) a todos os animais adultos no peri-parto, mas não considerava este medicamento um antibiótico; outra exploração referiu a mesma abordagem terapêutica para o tratamento empírico de mamites com diferentes apresentações clínicas.

A maioria das explorações referiu que sempre que instituía um tratamento fazia-o com base em orientações anteriores do veterinário que funcionavam como recomendações/ protocolos pré-estabelecidos de forma mais ou menos informal. Ressalva-se que este questionário teve uma amostra relativamente pequena e apenas foi feito um tratamento sumário dos dados. O facto de existirem diferentes pessoas responsáveis por diferentes grupos de animais numa exploração

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também constitui uma limitação aquando da aplicação do questionário, pois nem sempre a pessoa que o respondia era aquela que realizava todos os tratamentos.

Azores Veterinary Practice – Patterson, California - EUA

Durante o mês de fevereiro estagiei na Califórnia na Azores Veterinary Practice. Esta equipa era constituída por 4 médicos veterinários com os quais trabalhei de forma rotativa. As explorações de bovinos de leite são maioritariamente de grande dimensão (300-5000 animais em ordenha) e o médico veterinário executa pouco trabalho de medicina curativa uma vez que a maioria das equipas das explorações já está treinada e muitas das abordagens terapêuticas estão protocolizadas. Durante este mês tive oportunidade de realizar um elevado número de controlos reprodutivos, sendo que na primeira quinzena apenas por palpação manual e na segunda já com recurso a ecografia, através de um empréstimo, cortesia da empresa IMVimaging norte americana. Foi possível utilizar o mesmo ecógrafo também no exame andrológico do macho num centro de recolha de sémen no qual a empresa prestava serviço. Curiosamente, nos EUA os bovinos não são submetidos a intradermotuberculinização anual como em Portugal. Apenas os animais que são movimentados entre explorações ou dadores de sémen são sujeitos a este procedimento. Neste centro de recolha de sémen pude também participar na realização de intradermotuberculinicação aos touros (nos EUA é executada a simples na tábua do pescoço).

Apesar de não ser obrigatório, é comum na Califórnia as vacas serem vacinadas para brucelose com a vacina viva RB51. Este procedimento é realizado em novilhas entre o 4º e 5º mês de vida (podendo ser realizada até aos 12 meses) e implica a aplicação de brinco oficial específico e marcação com tatuagem. Como os rebanhos são de grande dimensão, este trabalho é bastante moroso, sendo que provavelmente ¼ do estágio foi dedicado a esta atividade. Neste momento de vacinação, normalmente era também aplicada vacina para as principais doenças respiratórias e Leptospirose. Nos EUA, a vacinação para a Leptospirose (L. canicola, L.

grippotyphosa, L. hardjo, L. icterohaemorrhagiae, and L. pomona) é uma prática enraizada em

praticamente todos os rebanhos. Normalmente a 1ª administração é feita antes do 1º serviço e depois anualmente a cada lactação.

Do ponto de vista de experiência na execução de procedimentos, foi bastante positivo o facto de ter tido oportunidade de realizar uma cesariana sozinha sem auxílio, curiosamente numa cabra, pois a empresa também presta serviço a explorações de pequenos ruminantes. Executei várias recolhas de sangue em vitelos e avaliei a qualidade do encolostramento pela medição das proteínas séricas totais em refratómetro. Recolhi várias amostras de sangue para medição de BHB e urina para medição de pH em vacas secas. Auxiliei na realização de necropsias e participei igualmente no follow-up após receção de resultados laboratoriais. Também na

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Califórnia observei com alguma frequência doenças que em Portugal têm muito menor expressão como é o caso da actinomicose e da querotoconjuntivite infeciosa bovina. Nos EUA também vi alguns casos de leucose enzoótica bovina, ao contrário de Portugal onde há um programa nacional de erradicação e vigilância e a doença está praticamente erradicada.

Na Califórnia, é prática comum a recria, nos primeiros meses de vida, ser feita por outra exploração, genericamente designada por Calf Ranch. Os animais são enviados no primeiro dia de vida para esta exploração e aí criados até ao desmame, momento em que regressam à exploração de origem. Curiosamente esta situação seria ilegal em Portugal, uma vez que a legislação Europeia não prevê o transporte de animais com menos de 7 dias de vida. Por esta razão, este foi o estágio em que menos contactei com as questões de maneio da recria e suas principais problemáticas. Nas explorações de leite que visitei que faziam recria própria verifiquei que era prática comum a administração no primeiro dia de vida de anticorpos orais (em bólus ou gel) para coronavírus e E.coli.

Mais de metade das explorações assistidas pela Azores tinha um quadro onde eram anotadas semanalmente pontos fortes e fracos e objetivos para a semana seguinte. Era aqui que semanalmente, no final da visita reprodutiva eram registados alguns achados que o veterinário considerava relevantes fazer nota para discutir com o proprietário / gestor ou responsável. A dimensão das explorações na California determina que, muitas vezes haja mais do que um responsável e que o proprietário esteja frequentemente alheio de muitas questões da exploração. Isto justifica a existência de reuniões de equipa frequentes. Tive igualmente oportunidade de participar nestas reuniões com os proprietários / gestores / responsáveis e muitas vezes com outros profissionais (nutricionistas, engenheiros, inseminadores, etc).

Central Wisconsin Agriculture Services – Alma Center, Wisconsin - EUA

Durante o mês de março e até dia 17 de abril (7 semanas) estagiei na CWAS no Wisconsin. Esta empresa, prestadora de serviços na área da agricultura, além dos serviços veterinários (3 médicos) ainda realiza consultoria na área da produção vegetal. Aqui, acompanhei a prestação de serviços médico-veterinários a explorações de leite, sendo que normalmente à quinta e sexta-feira trabalhava na HFI, exploração em que o Dr. Borzillo (sócio da CWAS) é coproprietário. As explorações com as quais contactei no Wisconsin apresentavam diferentes dimensões: (desde 40 animais em estabulação tie-stall até 1300 em free-stall). Também aqui, tendencialmente, as equipas das explorações estavam treinadas para tratar os animais para a maioria das patologias seguindo protocolos pré-estabelecidos com o auxílio do médico veterinário.

À semelhança dos estágios anteriores, realizei um elevado número de controlos reprodutivos, desta vez com recurso a um ecógrafo da própria CWAS. Destaca-se o facto de aqui já ter sido possível realizar 2 cirurgias de DA de forma completamente autónoma ainda que

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supervisionada. Considero muito positivo a autonomia que me foi dada na resolução das diferentes distocias em que estive presente. É muito frequente no Wisconsin a realização de “roll and tag” para resolução de DAE, sem recurso à cirurgia propriamente dita, pelo que também tive oportunidade de auxiliar nesta técnica várias vezes. Na CWAS presenciei mais medicina individual do que na Califórnia, essencialmente nas explorações mais pequenas que são abundantes neste Estado.

Em regra, 2 dias por semana eram dedicados a trabalhos na HFI que na sua maioria eram realizados numa base semanal: movimentação de animais entre grupos, vacinações, secagens, protocolos de IA a tempo fixo, etc. Realizei também algumas necropsias em novilhas desta exploração que tivemos que eutanasiar. Foi particularmente positivo o facto de ter desenvolvido a técnica de IA, a qual já realizo hoje com destreza. Destaco ainda o facto de o Dr. Borzillo ter sido muito importante no meu processo de construção de autoconfiança. Houve um grande estímulo a que realizasse muitos procedimentos sozinha, inclusivamente alguns controlos reprodutivos em que ele apenas monitorizava o meu trabalho por um ecrã e não era ele a realizar o procedimento. Considero, portanto, que este estágio foi uma grande mais valia no meu percurso académico nesta fase em particular.

Estive igualmente presente durante 3 dias num leilão de equídeos (maioritariamente frequentado por indivíduos Amish) onde o veterinário é à semelhança de Portugal, responsável pelo bem-estar animal no local e emissão de um certificado sanitário.

Algum tempo livre durante o estágio foi dedicado ao contacto com o software DairyComp 305®. Pude consultar dados de explorações, não só da HFI como de outras clientes da CWAS. Análise crítica relativa à minha experiência de estágio

Fazendo uma rápida apreciação sobre as diferentes experiências que tive durante este período de estágio, destaco alguns aspetos que considero pertinentes e que distinguem os diferentes locais/países:

Papel do médico veterinário: provavelmente pela natureza das equipas que acompanhei, em todas elas, o veterinário assume cada vez um papel de consultor e se afasta do exercício apenas da medicina individual. Esta realidade foi particularmente evidente na Califórnia, muito associada a explorações de grande dimensão.

Organização das equipas veterinárias/ especialização: nas 4 equipas onde tive oportunidade de estagiar, apercebi-me de uma tendência transversal a todas elas, de especialização dos clínicos, em diferentes áreas.

Treino de equipas/colaboradores das explorações: na Califórnia, os próprios veterinários formam os funcionários das explorações para o diagnóstico precoce de doença, sendo que na maioria

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dos locais, os tratadores dos parques de pós-parto sabiam fazer um exame físico relativamente completo. No Wisconsin, apesar de não ter visto a formação a ser ministrada aos funcionários, existem locais onde são os próprios funcionários da exploração que rolam as vacas e fixam o abomaso para resolução de DA e fazem os diagnósticos de gestação com recurso a ecógrafo. Na HFI, por exemplo, estava protocolizada a monitorização de todas as vacas recém paridas com medição da temperatura 3 dias após o parto, e este era um indicador de saúde/ doença. Também era realizada a medição do pH urinário nas vacas secas quinzenalmente no sentido de monitorizar a dieta aniónica oferecida a este grupo.

Existência de protocolos pré-estabelecidos nas explorações: verifiquei uma tendência de protocolizar a maioria dos procedimentos (nomeadamente terapêuticos) com o aumento de dimensão das explorações. O facto de a abordagem à patologia estar protocolizada em nada diminui ou faz prescindir a necessidade do veterinário, antes o responsabiliza e convoca a envolver-se na sua elaboração e monitorização. Foi também na Califórnia que mais protocolos vi estabelecidos pelo veterinário e presenciei à sua discussão e redefinição.

Estratégias de controlo reprodutivo: nas explorações maiores, normalmente a abordagem reprodutiva é mais estandardizada, enquanto que nas mais pequenas as decisões são mais tailor

made. Em Portugal, em geral, a abordagem é mais individualizada e os animais não são

submetidos “às cegas” aos protocolos reprodutivos. Na Califórnia, por vezes eram avaliados tantos animais num controlo reprodutivo numa manhã, que um diagnóstico de gestação negativo não implicava a avaliação da função ovárica, uma vez que invariavelmente os animais eram submetidos todos ao mesmo protocolo reprodutivo de ressincronização.

Esquemas de vacinação dos rebanhos: a administração de vacinas nos rebanhos adultos nos EUA ocorre num esquema diferente do que é comum verificar em Portugal. As vacas são vacinadas em função da fase do ciclo produtivo em que se encontram e este procedimento é muitas vezes realizado durante o controlo reprodutivo pelo próprio veterinário. Também a vacinação para a salmonelose (S. dublin) é uma prática recorrente nos EUA, ao contrário de Portugal. É comum os animais adultos serem vacinados no dia da secagem ou da confirmação de gestação pré-secagem e nos momentos dos outros controlos reprodutivos pós-parto até à próxima gestação.

Circuito do medicamento veterinário e disponibilidade de antibióticos: O modelo de comercialização e prescrição do medicamento veterinário em Portugal e nos EUA é diferente. Em Portugal, a venda do medicamento veterinário pelo distribuidor por grosso ou retalhista implica uma requisição ou uma receita médico-veterinária, respetivamente. Além disso, ainda é obrigatório o registo de todas as administrações realizadas no livro de medicamentos ou em

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formato semelhante, o qual deve ser assiduamente assinado pelo veterinário. Nos EUA, o circuito do medicamento não implica nenhum destes registos: a exploração requere ao distribuidor os medicamentos e respetivas quantidades e o veterinário responsável pela exploração é contactado telefonicamente no sentido de validar/ autorizar aquele pedido. Curiosamente, nos EUA, a disponibilidade de moléculas (nomeadamente antibióticos) é muito menor do que na Europa2. A título de exemplo: nos EUA não existe nenhuma quinolona com indicação em

ruminantes com mais de 22 meses; a tilmicosina que é permitida em Portugal no período seco, está igualmente proibida em animais adultos nos EUA; também a disponibilidade de anti-inflamatórios não esteroides nos EUA é reduzida, estando praticamente reduzida à fluinixina meglumina, ao contrário da oferta mais diversificada que existe em Portugal.

Destino de materiais de risco especificados / subprodutos e resíduos de medicamentos: a gestão destes resíduos é muito diferente nos dois países. Em Portugal o Sistema de Recolha de Cadáveres de Animais Mortos na Exploração (SIRCA) é responsável pela recolha de cadáveres e respetiva destruição. Nos EUA, a identificação individual dos animais não é obrigatória, sendo que também não é obrigatória a destruição dos cadáveres por este método, sendo que estes podem simplesmente sofrer compostagem juntamente com outros resíduos orgânicos da exploração. Ao contrário de Portugal, em que a Valormed é responsável pela gestão de embalagens de medicamentos e medicamentos fora de uso e é prática fazer esta gestão, nos EUA, não existe nenhuma organização desta natureza e as embalagens de medicamentos são descartadas no lixo comum.

Experiência adquirida: considero que as diferentes experiências que tive foram muito proveitosas e pela natureza da sua diversidade enriqueceram os meus conhecimentos e deram uma perspetiva mais alargada sobre a bovinicultura de leite. Logicamente, realço os locais onde desenvolvi mais competências técnicas e onde me foi dada mais autonomia para realizar procedimentos sozinha. Ainda assim, sei que a autonomia foi dada no momento em que fazia mais sentido: no final do estágio.

(21)

9

2. A

PLICAÇÃO DO MÉTODO HERD HEALTH MANAGEMENT À RESOLUÇÃO DE UM PROBLEMA

2.1. O

P

ROBLEMA

Figura 1 – Estábulo das vacas secas na HFI e suas características

Durante o decorrer do trabalho realizado na HFI no Wisconsin, foi possível constatar que o estábulo das vacas secas desta exploração estava subdimensionado o que inviabilizava a atribuição de um PS adequado aos animais e ainda impossibilitava a aplicação de uma gestão nutricional (2 dietas diferentes) mais adequada a esta fase do ciclo produtivo. Assim, a estratégia da gestão em vigor passava por encurtar os PS a partir da segunda lactação, não sacrificando, no entanto, o PS do final da 1ª lactação. No gráfico seguinte está representada a distribuição da duração dos períodos secos dos 365 dias que precederam o estágio.

Gráfico 1 – Distribuição da duração do PS na HFI obtido no software DairyComp 305® no período de 4/3/2019 a 3/3/20

Neste gráfico é possível verificar a variação da duração do período seco nesta exploração. Esta variação é função essencialmente da disponibilidade de espaço no estábulo. Verifica-se que a estratégia delineada pela gestão é a que está a ser executada: os animais de 1ª lactação têm um PS mais longo uma vez que ainda estão em crescimento enquanto que no final da segunda lactação e seguintes já são atribuídos PS mais curtos.

Verificado Ideal Ocupação a 03/03/2020 118 vacas secas Número de cubículos 116 Mínimo: 118 Espaço de manjedoura 30 metros (sem divisórias) Mínimo: 83 metros (0,7 m/vaca3)

(22)

10

2.2. O

BJETIVO

Com este trabalho pretendeu-se avaliar:

• Se o encurtamento do período seco comprometia a produção de leite da lactação seguinte e determinar a magnitude das perdas económicas associadas

• O Impacto económico da possibilidade de realizar uma gestão nutricional diferente • Se a estabulação e sobrelotação em vigor está a determinar maior incidência de doença

no pós-parto

• A viabilidade económica para a construção de um novo estábulo de vacas secas com vista a alargar o PS na segunda lactação e seguintes.

2.3. R

EVISÃO

2.3.1.

HERD HEALTH MANAGEMENT

A gestão da saúde do rebanho nas explorações de leite não é de todo, um conceito novo. Os programas de controlo de mastites e os controlos reprodutivos são os clássicos e contam com praticamente meio século, no entanto não significa que estes estejam amplamente implementados por todo o mundo. Existem vários obstáculos à implementação dos mesmos. Por um lado, nem sempre os produtores parecem sensíveis para este tipo de trabalho por parte do veterinário. Por outro lado, os próprios médicos veterinários nem sempre se sentem comprometidos ou imaginam envolvidos neste género de atividade. Este tipo de trabalho exige, por parte do veterinário, forte capacidade de comunicação e elevadas capacidades técnicas de organização e gestão.4

Nem sempre é fácil iniciar este tipo de atividade. Existem duas questões práticas que o médico veterinário coloca quando se depara com esta realidade: Por onde começar e como começar?: O foco deve ser dirigido ao rebanho e não ao animal individual: é necessário o conhecimento e capacidades técnicas que começam necessariamente nas escolas de veterinária (que mantêm ainda, em muitos casos, o foco predominante na clínica individual) e necessita posterior complemento nalgumas áreas, nomeadamente: nutrição aplicada, estabulação, gestão económica aplicada à agricultura, gestão da qualidade, etc. Outro aspeto fundamental, prende-se com o facto de o veterinário ser apenas mais um profissional, consciente de que o diálogo entre os outros profissionais: nutricionistas, técnico de podologia (…) e próprio agricultor deve ser equilibrado, e que só com trabalho de equipa se pode realizar com mais assertividade uma análise SWOT(pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e ameaças) para elaboração dos objetivos das intervenções a empreender.5

Alguns estudos têm apontado algumas características (resumidas na tabela 2) associados aos médicos veterinários buiatras, que podem explicar algumas das dificuldades verificadas

(23)

11

ainda no desenvolvimento deste tipo de trabalho, mas também pontos fortes que podem potenciar o seu início.

Tabela 2 – Características comuns aos médicos veterinários buiatras (adaptado de 5,6 )

Pontos Fortes Pontos fracos

Grande disponibilidade Atitude muitas vezes dominante Relação baseada na confiança Fala muito, ouve pouco

Fortes conhecimentos técnicos sobre doença Não segue uma abordagem estruturada

Fortes conhecimentos na área de fertilidade Fracos conhecimentos de gestão, economia e empresas Profissão “protegida” Incerteza sobre o que pode vender como serviço ou

produto ao cliente

Formação contínua Pouco pró-ativo, espera demasiado

Os problemas caracterizados na tabela são gerais em natureza, mas podem ser classificados nos seguintes grupos: a) atitude e comunicação, b) administração de negócio e marketing, c) capacidades veterinárias e zootécnicas.

Apresento um exemplo prático: é comum o veterinário ser chamado para aconselhamento e tratamento de casos de mastite frequentes numa exploração, mas quando este propõe um programa de controlo de saúde do úbere, o produtor é bem mais relutante em aceitar. Este fenómeno está, em parte, relacionado com comportamentos económicos. Isto é, as decisões são tomadas não só de forma racional, mas também são influenciadas fortemente por argumentos não racionais. O comportamento associado à tomada de decisão é influenciado por: perceção, impressões, emoções, atitudes, motivações e preferências. Se um MV quer vender um novo serviço, isto é, um programa de saúde de rebanho, tem que necessariamente considerar estes aspetos.6

Apesar de não ser o âmbito deste trabalho e não se pretender aprofundar esta questão, importa perceber como é que o produtor paga este serviço e como é que o MV o vende. Quando a receita dos médicos veterinários nas explorações está essencialmente associada a serviços de reprodução, é necessário perceber como podem estes novos serviços de consultoria ser cobrados: apesar de relacionados, são muitas vezes independentes da área reprodutiva.

Perante este cenário, torna-se imperativo, que os MV que pretendam trabalhar neste domínio invistam, em formação de curta duração de gestão, nutrição, desenvolvam competências na área da gestão relacional e de conflitos, tenham capacidade de comunicação adaptada às equipas das explorações, empatia pelas mesmas e pelo trabalho que estas desenvolvem. É de extrema importância que os colaboradores sintam o seu trabalho reconhecido e valorizado. Quando isto acontece, mais facilmente se conquista a sua disponibilidade para que participem ativamente nas tarefas associadas aos programas de saúde de rebanho.6,7

(24)

12 O método

Dentro das explorações, os programas de saúde de rebanho e gestão da produção podem como já referido, ser adaptados às diferentes áreas, tais como: reprodução, saúde podal, qualidade do leite, produção de leite, nutrição ou gestão de recria. No anexo 5 encontra-se representado o protocolo de saúde de rebanho com os seus principais componentes6. O início

do desenvolvimento destes programas poderá ter como ponto de partida normalmente uma das seguintes opções:

1. Autoavaliação pelo produtor do desempenho em diferentes áreas

2. Análise de pontos fortes e fracos gerais feitas após inspeção geral da produção 3. Uma auditoria mais profunda da exploração com base nos pontos destacados pelo

veterinário ou pelo próprio produtor.

A autoavaliação feita pelo produtor ou a 1ª inspeção feita pode servir de base para uma auditoria mais profunda ou para uma discussão entre o veterinário e o produtor:

• O produtor perceciona como pontos fracos os mesmos do veterinário?

• Quais são as prioridades do produtor para lidar com os problemas detetados considerando os seus objetivos?

• Quais são os custos e os benefícios ou efeitos das atividades a serem propostas? • Qual seria o cronograma para resolver esses problemas?

• Quais seriam os custos envolvidos?

Se a resposta a estas perguntas e discussão levam à conclusão de que a implementação de um programa de saúde de rebanho e de gestão da produção vale a pena é feita uma planificação das atividades e visitas. 7

Por último, importa referir, que apesar deste trabalho incidir essencialmente sobre a gestão económica das explorações, o médico veterinário, consultor na bovinicultura de leite deverá considerar e estar atento aos outros pilares de sustentabilidade da mesma:

Figura 2 - O conceito de sustentabilidade da produção leiteira: 4 pilares fundamentais8

O pilar Sociedade está intimamente ligado à gestão da paisagem, qualidade e segurança alimentar. A ética relaciona-se, entre outros aspetos com os modos de criação e o bem-estar animal, sendo que na ecologia deverão considerar-se o uso eficiente dos recursos, emissões de gases de efeito de estufa, poluição do solo, recursos aquáticos, uso responsável de pesticidas, antibióticos, hormonas, etc. A importância relativa destes 4 pilares poderá variar entre

Sustentabilidade da Produção Leiteira

(25)

13

continentes e regiões, situação política, socioeconómica, cultural e religiosa de cada país.8 Este

conceito é aqui referido pelo facto de que a consultoria médico-veterinária não se deve resumir à gestão económica e cada vez mais ajudar a dar respostas nestes diferentes pilares, numa abordagem: Uma Saúde.

2.3.2.

BENCHMARKETING NAS EXPLORAÇÕES DE LEITE

O benchmarketing constitui uma ferramenta para a melhoria de práticas empresariais, consistindo numa ferramenta de comparação entre empresas. O processo de benchmarketing inicia-se com a definição do problema; em segundo lugar identificam-se os critérios para comparação de soluções, em terceiro procede-se à identificação das entidades (empresas) com quem se vai comparar, ao que se segue pesquisa e obtenção de dados e termina com a implantação de ações específicas. Segundo a Comissão Europeia é um “processo contínuo e sistemático que permite a comparação das performances das organizações e respetivas funções ou processos face ao que é considerado o melhor nível, visando não apenas a equiparação dos níveis de performance, mas também a sua superação”9.

Da definição anterior, facilmente se depreende que também na pecuária o Benchmarketing pode ser uma ferramenta útil desde que se trabalhem com explorações comparáveis. Entre outros aspetos, a utilização desta ferramenta apresenta como principais vantagens:

▪ Identificar pontos críticos de sucesso

▪ Diminuição de erros, redução de custos e melhoria de processos e práticas ▪ Identificação de objetivos e prioridades

No entanto, deverá considerar-se igualmente que o benchmarketing pode apresentar algumas desvantagens, nomeadamente, se houver possibilidade de distorção dos dados das empresas em estudo, ou mesmo quando a empresa se limita a copiar os sistemas já implementados de outras empresas.

O Benchmarketing pode ser uma ferramenta muito útil no desenvolvimento de programas de saúde de rebanho, na medida em que pode servir como referência na elaboração de objetivos e metas. Logicamente que a análise e comparação de indicadores não pode ser feita sem reflexão e ponderação de tudo quanto contribui para aquele fator, mas pode ser um instrumento de trabalho.

Frequentemente, as análises de benchmarketing sugerem a necessidade de realizar investimentos. O investimento torna-se imperativo na maioria das empresas para que os seus produtos ou serviços se mantenham ao melhor nível, competitivos e capazes de dar resposta ao mercado num determinado momento. O investimento pressupõe sempre um retorno sendo, que se torna importante fazer referência aqui a 2 conceitos importantes10:

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14

ROI (Return on investment): representa o volume de rendimentos obtidos a partir de uma determinada quantia de recursos investidos, ou seja, representa, basicamente, a relação entre o custo/benefício. Os valores de ROI desejáveis variam muito entre indústria e mercados, pelo que também não é objetivo deste trabalho aprofundar esta temática

ROI = ((lucros obtidos – investimento) /investimento) x 100

Prazo de retorno do investimento (PRI): é um indicador de atratividade do negócio, pois mostra o tempo necessário para que o empreendedor recupere tudo o que investiu; é o prazo de tempo necessário para que os ganhos acumulados de um investimento sejam iguais ao custo cumulativo, ou seja quanto tempo leva para um investimento pagar por si mesmo.

PRI = Investimento Total / Lucro Líquido

2.3.3.

O

PERÍODO SECA NA VACA LEITEIRA

Apesar de frequentemente as vacas secas serem consideradas: “Second citizens” ou “non-working cows”, o PS constitui uma importante fase do ciclo da vaca leiteira e é igualmente um importante fator de produtividade. O PS não é o fim de uma lactação, mas sim, o início da lactação seguinte na medida em que grande parte do que nele acontece irá impactar na lactação seguinte. Os fatores de risco para a maioria das doenças do pós-parto ocorrem durante o PS, com sinais clínicos de doença a evidenciarem-se no pós-parto. Doenças como hipocalcémia, hipomagnesémia, edema do úbere, cetose, deslocamento de abomaso e mastite começam frequentemente no PS. Assim, neste período é particularmente relevante a implementação de programas de gestão de saúde nomeadamente: vacinação, cuidados podais e monitorização nutricional. Quando a produção de leite cessa, dá-se início à involução da glândula mamária, a qual se completa aproximadamente em 2 semanas após o dia de secagem. Entretanto, antes do parto, as modificações hormonais características desta fase iniciam a rápida proliferação de células secretoras. A duração do PS pode influenciar a proliferação destas mesmas células. Tipicamente os animais são agrupados desta forma3:

• Vacas secas - “far-off” (60-22 dias antes do parto)

• Pré parto - “close-up” (vacas e novilhas): 21-28 dias antes do parto • Maternidade (1-3 dias antes do parto)

• Pós-parto (vacas e novilhas): 10-21 dias pós-parto

DURAÇÃO DO PS

Um PS de 6-8 semanas para as vacas leiteiras foi na generalidade pensado para maximizar a produção de leite na lactação seguinte. No entanto, o interesse de um PS tão longo tem sido intensivamente questionado considerando todos os melhoramentos que têm sido efetuados

(27)

15

desde melhoria genética e nutricional com consequente aumento de produção ao momento da secagem.

Uma revisão sistemática de 2013 avaliou o conhecimento existente relativo à duração do PS e a sua relação com o balanço energético, fertilidade e saúde. Tanto o encurtamento do PS como a sua omissão reduziram a produção de leite, aumentaram a percentagem de proteína e tendia a reduziram o risco de cetose na lactação seguinte. Estudos individuais reportaram melhoria do balanço energético com PS curtos ou omissos relativamente ao PS tradicional, no entanto não havia alteração na percentagem de gordura e não houve diferença na ocorrência de mastite, metrite ou falhas reprodutivas na lactação seguintes. A adoção de PS mais curtos tem sido limitada essencialmente pelas perdas associadas, no entanto muitos produtores têm sido bem sucedidos com um PS seco mínimo de 45 dias 11.

Em 2008, Watters e colaboradores conduziram um ensaio numa exploração comercial do Wisconsin onde vacas Holstein (n=781) foram sujeitas a períodos secos de diferente duração: curto=35d e tradicional=55d com o objetivo de avaliar: produção, qualidade do leite, qualidade do colostro e incidência de desordens metabólicas. As vacas dos grupos com PS tradicional foram alimentadas com uma dieta de baixa energia até 34 dias antes da data prevista do parto, sendo que no restante período foram alimentadas com uma dieta de transição de densidade energética moderada e o grupo curto apenas com dieta de transição. As vacas sujeitas a PS tradicional tendiam a produzir mais leite que o grupo curto, sendo que estas diferenças foram encontradas na segunda lactação. A qualidade do colostro, medida em concentração de Imunoglobulinas G não diferiu entre grupos à semelhança do Score de Células Somáticas e casos de mastite. A incidência de cetose, retenção placentária, deslocamento de abomaso e metrite também não apresentou diferenças12.

Contrariamente, Annen e colaboradores, avaliaram 7 estudos realizados entre 2002 e 2004 concluindo que não havia perdas produtivas após PS de 30 dias, para vacas multíparas com ou sem tratamento com bST, no entanto a modificação dos períodos secos em vacas primíparas afetava negativamente a produção da lactação seguinte, sendo que estas continuam a requerer 60 dias de período seco. PS mais curtos parecem promover a maior ingestão de matéria seca e minimizar extremas alterações metabólicas e fisiológicas durante o período de transição. Segundo Annen, a mudança de dietas durante os últimos 60 dias de gestação deve estar reduzida a 1 ou até mesmo zero13.

Assim, a decisão de encurtar o PS, e em quantos dias, é dependente de muitos fatores, incluindo a produção e composição do leite durante os dias extra de lactação e da subsequente lactação, incidência de doenças metabólicas, eficiência reprodutiva bem como questões de logística: instalações, capacidade de ordenha, etc. Períodos secos mais curtos podem permitir

(28)

16

menor número de grupos e de mudança de dieta e tendencialmente conduzem a um aumento de ingestão de matéria seca e um balanço energético mais favorável, apesar de na generalidade comprometerem a produção seguinte.14–16.

INSTALAÇÕES

Segundo Nordlund17, existem 5 fatores chave associados ao sucesso do período de

transição, sendo que o final do PS faz parte deste período:

• Espaço de manjedoura tanto nos grupos pré-parto como pós-parto • Minimização de movimentos entre grupos e stress social no peri-parto • Aumento do conforto associado a áreas de descanso maiores

• Áreas de descanso de areia

• Colaboradores sensíveis para a monitorização efetiva dos animais no peri-parto O desenho das instalações de cada exploração deve considerar o plano de gestão do período de transição pré-estabelecido na exploração. Este desenho deve promover o ótimo conforto, bem como o baixo stress ambiental, considerando a competição por comida e espaço de descanso e movimento de animais entre grupos. Finalmente, deve ser seguro tanto para tratadores como animais e promover um trabalho eficiente e facilitado. A gestão do período de transição inclui a definição dos grupos por categoria e número de animais em cada. Esta definição de grupo deve ser feita com base em vários critérios, nomeadamente número médio de partos semanais, nutrição, etc. O movimento destes grupos deve ser minimizado ao máximo a fim de evitar stress social, especialmente nos 2-10 dias que antecedem o parto.

Em explorações de grande dimensão, normalmente existem vários parques para cada grupo/fase, além do parque de hospital ou de vacas em tratamento que é feito no sentido de proporcionar especial conforto e isolamento do restante rebanho. No entanto, nas explorações mais pequenas, o grande desafio é desenvolver grupos com adequado número de animais. Há que considerar que muitos grupos exigem mais movimentos de animais, que quando feitos com número reduzido de vacas e várias vezes por semana pode constituir um fator de stress para os mesmos. O tamanho e organização dos grupos difere em função da dimensão da exploração, mas na generalidade, dependente:

• Do período que a vaca permanece em cada grupo

• Possível sazonalidade de partos ou baixas esporádicas na taxa de conceção que implicam uma distribuição de partos não homogénea

• Capacidade dos parques disponíveis para permitir o estabelecimento dos planos e protocolos

(29)

17

O melhor dado para planear o número de animais por grupo é sem dúvida, o registos de partos e o tamanho do rebanho adulto pré-existente ou que se pretende atingir, quando o objetivo é o crescimento. 3,18

ESPAÇO DE MANJEDOURA

O espaço mínimo de manjedoura vai variando ao longo do ciclo da vaca leiteira. Sabe-se que a vaca que não tem as ingestões mínimas no período seco não irá atingir a capacidade de ingestão máxima no pós-parto. Para maximizar a ingestão de matéria seca pelos animais recomenda-se as seguintes medidas em função do grupo:

• Secas (“far-off”): 46 - 61 cm • Pré e pós-parto:76-96 cm • Lactação: 61 cm

Quando se trabalham com instalações pré-existentes, para o grupo de pré e pós-parto, como regra, devem rondar densidades de 80% quando os animais têm acesso a cerca de 60 cm de espaço de manjedoura ou pode aproximar-se dos 100% se os animais tiverem acesso a mais de 76 cm. 3 Estudos de vídeo de Nordlund19 demonstraram que se cada espaço de manjedoura

apresentar 60 cm de largura, haverá uma taxa máxima de ocupação de 80%, independentemente do número de animais no grupo. O espaço de manjedoura não deve ser calculado com base num único dia, mas ter como base o número de partos médio semanais ao longo do ano. Calcula-se o número médio de partos por semana dividindo o número total de partos por 52. Sendo que este número deve ser multiplicado pelo número de semanas que cada animal deve permanecer em cada grupo. 19 Uma vez que a distribuição de partos pode variar ao

longo do ano (numas explorações mais que outras) é necessário prever a possível sobrelotação. Nigel Cook e Ken Nordlund da Universidade do Wisconsin construíram uma folha de cálculo20

de livre acesso que permite calcular espaço de manjedoura quando existe uma ocorrência de partos 40% acima do número médio. Nestes casos, sabemos que se este espaço for proporcionado, em 90% do tempo os objetivos para o espaço de manjedoura são cumpridos.A recomendação clássica dos 76 cm assume que os parques apresentam headlocks ou divisórias verticais entre cada animal. Caso isto não aconteça, deve ser proporcionado espaço adicional.

19

ESPAÇO DE DESCANSO/CAMA

A cama composta profunda é um interessante tipo de estabulação para vacas de pré-parto em confinamento. Recomenda-se um mínimo de 9,2 m2 de área de cama complementados com

corredor de alimentação externo ou zona de exercício exterior. Se a área de cama é contínua com a área de alimentação são necessários no mínimo 11,4m2/animal, sendo que a área de

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18

cama deve ocupar a maioria da superfície. Se for usado o sistema de cubículos, a areia é o material de cama preferível por ser o de maior conforto e pelo menor risco de mastite comparado com os materiais orgânicos. A largura do cubículo deve ser superior em relação a vacas em lactação devendo variar entre os 1,27 e os 1,32 m e um comprimento de 3 m devendo o tubo limitador de avanço do pescoço e do peito estar colocados a 1,8 m. Idealmente, a largura de cubículo para novilhas (springers) rondaria o 1,22m no sentido de evitar que os cubículos de sujem com tanta frequência. No entanto, caso as estas novilhas em pré-parto estejam no mesmo parque das vacas secas adultas não deverá sacrificar-se 2/3 do rebanho em área de descanso no sentido de beneficiar a limpeza dos cubículos. 18,21,22

MOVIMENTO ENTRE GRUPOS E STRESS SOCIAL

A minimização de reagrupamentos e movimentação entre grupos é consistente com programas de transição de sucesso. As vacas são animais sociais, pelo que a separação do grupo cria sempre stress no animal e, portanto, a estratégia deverá ser mover grupos de animais e não animais isoladamente. Sabe-se que os primeiros 2 dias após movimento para um novo grupo são caracterizados pelo aumento dramático de interações antagonistas, descrita como turbulência social. Assim, grupos em que os animais entram e saem numa base diária são considerados muito mais instáveis em comparação com explorações em que os movimentos são feitos numa base semanal. 19,23

MATERNIDADE

Uma maternidade pode ser considerada tanto um parque em que as vacas são alojadas horas antes do parto, como um grupo de pré-parto onde os animais entram aproximadamente 3 semanas antes do parto e tenham o parto nesse mesmo local. Se a maternidade tem uma estrutura social estável (sem adições constantes), não existe problema em estadias mais longas. No entanto, se novas vacas são adicionadas frequentemente, recomenda-se no máximo uma estadia de 48 horas. Quando os animais são movimentados numa base diária, deve haver um colaborador sempre responsável pela monitorização dos animais perto do termo de gestação para que estas sejam transferidas para a maternidade apenas no momento oportuno. Sabe-se que quando os animais são alocados na maternidade demasiado cedo há maior incidência de nados mortos em comparação com o movimento dos animais realizado quando o parto já se encontra na fase II com apresentação de membros. Em explorações em que o grupo de pré-parto se encontra em sistemas de cubículos há de fato uma tendência para que os animais sejam movimentados demasiado cedo a fim de evitar partos nos corredores ou cubículos.

Maternidades individuais, tipo box, parecem diminuir a turbulência social, no entanto, as vacas enquanto animais sociais acabam por sofrer algum stress quando afastadas do grupo.

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19

Assim, quando esta é a alternativa, a passagem dos animais para estas boxes deve ser limitada a poucas horas.19

MANEIO NUTRICIONAL

Não existe uma única abordagem ou programa para a gestão do período seco. Um dos objetivos deverá ser a manutenção da condição corporal, sendo que as variações não devem ser superiores a ½ ponto (30 kg). 24

Tabela 3 – Recomendações para índice de condição corporal em função da fase da lactação25

Momento Condição Corporal (1-magra, 5 – gorda)

Parto 3,2-3,5

Inseminação 2,5-3,0

Lactação tardia 3,0-3,5

Secagem 3,2-3,5

A divisão típica do período seco em 2 partes está essencialmente associada à variação da capacidade de ingestão durante a lactação e alteração das necessidades nutricionais dos animais. A divisão em 1 ou 2 grupos no PS depende do espaço, da mão-de-obra, mas essencialmente da duração do PS, sendo que nos PS mais curtos muitas vezes se utiliza a estratégia de apenas um grupo.26

A vaca seca apresenta necessidades nutricionais claramente abaixo duma vaca em lactação, pelo que a ingestão de matéria seca deve rondar metade da ingestão de matéria seca da vaca em lactação:

Tabela 4 – Recomendações para ingestão de matéria seca no PS25

Peso Corporal Far-off Close-up

Kg Kg/dia Kg/dia

680 12,3-13,6 9,1-10,9

Também a ingestão de proteína e energia variam durante o período seco, sendo que as necessidades aumentam com a aproximação do dia do parto. A possibilidade de ter 2 grupos diferentes no PS ao invés de 1 grupo único permite dar resposta a estas diferentes necessidades nutricionais de forma mais ajustada.

Tabela 5 – Recomendações para ingestão de proteína e energia no PS25,27

Far-off Close-up

Proteína Bruta (% MS) 12-13 15-16

Energia NET (Mcal/kg) 1,32-1,43 1,54

A manipulação da concentração de cálcio no período seco tem particular importância para a melhor adaptação do animal às elevadas necessidades deste mineral no peri-parto. Assim

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20

classicamente, existem 2 abordagens: limitar a ingestão de cálcio no período seco e o recurso à clássica dieta aniónica.

A dieta aniónica é uma estratégia unanimemente aceite e com resultados bastante consistentes. Está bem documentado que as dietas acidogénicas (baixo DCAD) no pré-parto reduzem o risco de hipocalcemia no início da lactação seguinte. Com este tipo de dieta induz-se um estado de acidose metabólica compensada que confere às vacas a capacidade de manter um concentração sérica de cálcio adequada quando se inicia a síntese de colostro e leite. A hipocalcemia transitória no peri-parto está associada a um risco aumentado de desordens uterinas e metabólicas, sendo que estas doenças estão igualmente relacionadas com a diminuição da performance produtiva dos animais. Uma meta-análise realizada em 2019 que incluiu 42 estudos concluiu que a redução do DCAD nos grupos de pré-parto apesar de reduzir ligeiramente a ingestão de matéria seca (devido à menor palatibilidade) promove uma maior ingestão no pós-parto. As vacas multíparas produzem mais leite bem como sólidos quando alimentadas com estas dietas, o mesmo não foi demonstrado para as primíparas, o que pode ser atribuído à escassez de estudos. Assim, as vacas multíparas deverão ser alimentadas no pré-parto com um DCAD negativo, mas não inferior a -150 mEq/kg por kg/MS.28,29

2.4. M

ATERIAIS E

M

ÉTODOS

Para se estimar e caracterizar a magnitude do problema associado à atual estabulação das vacas secas na HFI procedeu-se à inspeção de dados, inspeção da exploração e inspeção clínica. Assim, recorreu-se ao software DairyComp 305® (versão consultor) para proceder à:

1. Realização de um benchmarketing entre 3 explorações clientes da CWAS (incluindo a HFI), com o objetivo de caracterizar e comparar a performance dos animais ao longo das várias lactações. Para que a comparação fosse o mais fidedigna possível, escolheram-se explorações de elevada produção e com sistema de maneio similar, tal como: ▪ Ordenha 3 x/dia

▪ Estabulação em cubículos com cama de areia ▪ Elevada qualidade da dieta

▪ Semelhante maneio da recria

2. Estimativa das perdas de produção e económicas associadas à alteração da duração do PS, feita com base na produção a 305 dias a partir da 3ª lactação, inclusive (para <41dias e >60 dias comparado com 41d<PS<60d). Também foi construída uma curva de lactação com base nos diferentes picos atingidos e este valor comparado para a curva de lactação a 305 dias dado pelo software. Neste cálculo foi excluída a 2ª lactação, porque normalmente é precedida de PS de 60 dias e logicamente que a 1ª lactação não precedida de PS.

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21

3. Estimativa e apreciação da incidência de doença no pós-parto no último ano na HFI. Com dados fornecidos pelo nutricionista da exploração, Joshua Butler e pelo CEO da mesma, Cody Heller, procedeu-se ainda:

4. Ao cálculo dos ganhos associados à instituição de duas diferentes dietas no período seco (far-off e close-up), passíveis de serem implementadas caso se construa um novo pavilhão. Este cálculo foi feito com base nos preços de matérias-primas fornecidos pelo nutricionista, somado ao valor de produção de forragens pela própria exploração

5. À construção de uma folha de cálculo com os vários inputs anteriores no sentido de avaliar a viabilidade económica da construção de um novo estábulo. Esta folha contempla a possibilidade de alocar neste estábulo vacas leiteiras de baixa produção (dieta mais barata) no sentido de amortizar o investimento mais rapidamente. A folha foi construída com a possibilidade de alterar as diversas variáveis possibilitando o cálculo do prazo de retorno do investimento bem como o próprio ROI a 20 anos. As variáveis são: valor de empréstimo, produção de leite / animal, preço de leite, preço da dieta, mão-de-obra, e ainda número de vacas extra a alojar.

2.5. R

ESULTADOS

2.5.1. BENCHMARKETING

A totalidade dos resultados do benchmarketing realizado encontram-se no anexo 6. Os parâmetros mais relevantes para o problema em causa são os seguintes:

Tabela 6 – Resultados do benchmarketing realizado, relativos à performance das vacas ao longo das lactações e duração do período seco

Performance por lactações Schmitz’s

farm

Marti’s farm

HFI

Pico produção 1ª lactação (kg) 44,0 41,3 42,7 Pico produção 2ª lactação (kg) 53,6 54,9 53,1 Pico produção 3ª e seguintes lactações (kg) 61,3 58,6 54,0

Rácio pico (1ª/3ª) 0,7 0,7 0,8

Rácio pico (2ª/3ª) 0,9 0,9 1,0

Pico DEL 1ª lactação (dias) 84,0 80,0 89,0

Pico DEL > 2ª lactação (dias) 60,0 60,0 67,0

Média DEL (dias) 221,0 175,0 176,0

Período Seco

% animais com período seco (40-49 dias) 94 87 80

Média dias PS (todas as lactações) 55 60 49

% de animais com período seco 100 100 100

Imagem

Tabela 1 – Resumo dos períodos e respetivos locais de estágio
Gráfico 1 – Distribuição da duração do PS na HFI obtido no software DairyComp 305® no período de  4/3/2019 a 3/3/20
Tabela 2 – Características comuns aos médicos veterinários buiatras (adaptado de  5,6  )
Figura 2 - O conceito de sustentabilidade da produção leiteira: 4 pilares fundamentais 8
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Referências

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