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A voz da sabedoria

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Academic year: 2021

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CRISTINA CASÉR DE ARAÚJO

A VOZ DA SABEDORIA:

AS PERCEPÇÕES DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS ACERCA DAS RELAÇÕES ENTRE ESTRESSE OCUPACIONAL E ALTERAÇÕES VOCAIS

Palhoça 2009

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CRISTINA CASÉR DE ARAÚJO

A VOZ DA SABEDORIA:

AS PERCEPÇÕES DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS ACERCA DAS RELAÇÕES ENTRE ESTRESSE OCUPACIONAL E ALTERAÇÕES VOCAIS

Trabalho de pesquisa apresentado na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II, do curso de graduação em Psicologia, como requisito parcial para a obtenção do título de Psicólogo.

Orientadora TCC I: Prof.ª Fabiane Silveira Martins, Dr.ª Orientadora TCC II: Prof.ª Carolina Bunn Bartilotti, Esp.

Palhoça 2009

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CRISTINA CASÉR DE ARAÚJO

A VOZ DA SABEDORIA:

AS PERCEPÇÕES DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS ACERCA DAS RELAÇÕES ENTRE ESTRESSE OCUPACIONAL E ALTERAÇÕES VOCAIS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Psicologia e da Saúde e aprovado em sua forma final pelo Curso de Psicologia, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

_______________, _____ de ________________ de 2009.

Local dia mês

_____________________________________________ Prof.ª Carolina Bunn Bartilotti, Esp.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_____________________________________________ Prof.ª Maria Esther Souza Baibich, Esp.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_____________________________________________ Prof. Maurício Eugênio Maliska, Dr.

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Dedico este trabalho à minha avó Iracema de Sá Casér e ao meu noivo Danilo Puccini Lemos, amá-los-ei por toda a eternidade.

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AGRADECIMENTOS

Admito que não será fácil fazer meus agradecimentos, pois tenho receio de esquecer alguém, a essas pessoas peço perdão por tal falha, não foi, com certeza por desmerecimento, mas sim, pelo fato de que não sou exatamente um modelo de boa memória. Agradeço a Deus por ter me permitido tentar fazer diferença na vida de alguém, espero ter alcançado tal objetivo.

Agradeço à minha mãe Teresa Cristina Casér, por ter me dado as irmãs lindas e maravilhosas que tenho, por ter lutado tanto ao lado das filhas, e por ter me proporcionado uma infância maravilhosa! Também por ter sido a leoa que tanto fala e por ter me mostrado o que é ser uma mulher batalhadora. Ao meu pai Izeu Vieira Ribeiro de Araújo, por ter me ensinado a perceber a beleza nas pequenas e simples coisas da vida, apesar de todo o sofrimento causado. Aprendi a amar coisas que também amas pai, “let it be”. Ao meu padrasto Rogério André Saraiva Orceli, pela força, amizade e pelas cobranças. Nossas diferenças muitas vezes nos aproximam.

Agradeço à minha irmã Gabriela Casér de Araújo por ter estado ao meu lado em nossos momentos difíceis e maravilhosos, por ter superado o que ainda não o fiz, e por me orgulhar tanto. Agradeço por ter me dado a sobrinha mais linda do mundo, Isadora Luz! À Larissa Casér de Araújo minha irmã – filha, por ter me ensinado a amá-la demais. Lari, simples e lindamente te amo. Ao meu irmão e afilhado Douglas Casér Saraiva Orceli, presente que Deus pôs em minha vida e de minha família, não há sangue que nos distancie. Obrigada Negão por ter trazido vida às nossas vidas.

Agradeço aos meus tios e padrinhos Leila Maria Casér Silva e Golias Silva, por sempre terem sido os melhores padrinhos do mundo. Aos meus primos Rafael, Fernando e Luísa, nossa história é linda. Nando, obrigada pela força com os livros e dissertações.

Agradeço a todas as minhas amigas por tudo o que comigo construíram e por terem me ajudado a ser quem sou. Preciso aqui, sem desmerecer todas as outras amizades, citar as amizades que fiz durante a graduação, Renata Schweitzer, Natalie Cunha e Marina Vieira, mesmo agora não nos vendo com tanta freqüência, vocês fazem parte da minha vida, passamos momentos deliciosos juntas, entraram em minha vida num momento que muito precisei. Ainda referente às amizades conquistadas na graduação, preciso agradecer, também, por ter conhecido o Vilmar que por um tempo foi meu motorista quase particular, e o Fefo, amigo querido. Minhas amigas Raquel Caron e Mariana Apóstolo, foi muito bom passar um

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semestre inteiro com vocês e ainda saber, Mari, que suas impressões a meu respeito melhoraram. Apesar de toda a felicidade de concluir esse ciclo da vida, sentirei falta de encontrar quase todos os dias as minhas mais recentes amizades, Rê (amiga Scheyla), Melzinha, Bi, Dani, Paty e Nanda, vocês são pessoas especiais que Deus colocou em minha vida, amo vocês amigas, cuidem do meu buquê! E ainda Fê, Jú, Ana e Ernesto, bom semestre, aproveitem mais essa fase.

Quero agradecer a todos os professores pelo conhecimento dividido, em especial à Maria Esther Souza Baibich, por toda paciência, por todo o cuidado com as palavras, e por todos os conselhos, jamais os esquecerei, e ainda pelos convites carregados de confiança. À professora Carolina Bunn Bartilotti, minha orientadora, quero que saibas que foi muito prazeroso conhecê-la, nossos momentos de supervisão foram sempre muito divertidos! Paciência e carinho teve, também, o professor e coordenador Paulo Sandrini, obrigada por tudo e desculpe os incômodos. Agradeço a todos os professores que dispensaram seu precioso tempo para preencher o questionário, contribuindo assim, para a realização deste trabalho.

Voltando às amizades, Silvia Matos de Oliveira Corrêa (Til, Sil, amiga, miga, Biga, Dinda, Dida, Birigui, etc.) minha amiga amada, tudo o que passamos juntas foi demais! Agradeço por ter te conhecido e também por ter aceitado meu convite para ser minha madrinha de casamento. Amiga, amo muito você, o dindinho Jarssu e o Caquinho!

Família Lemos, a família de meu noivo e agora minha também, obrigada por terem compreendido minhas ausências.

Preciso agradecer a meu adorável noivo Danilo Puccini Lemos, por simplesmente existir em minha vida, por ser tão bondoso, generoso e maravilhoso para mim e minha família, não é em vão que todos o amam. Meu parceiro, meu amigo, meu amor, minha vida!Obrigada por todos os dias de paciência e por aceitar simplesmente estar ao meu lado quando na construção do presente trabalho eu estava. Meu amor eterno e verdadeiro. Preta, bebê amada, minha parceira de todas as horas, amo você neném.

Agradeço com todo meu coração à minha avó Iracema de Sá Casér por ter ajudado a me criar e ter proporcionado a minha graduação. Perdoe-me pelos meus erros, foi difícil para mim. Minha avó amada, eu te amo de uma forma inexplicável. Obrigada por ter me ensinado a ser uma mulher decente e honesta. Obrigada por tudo!

Por fim, agradeço à minha banca, os professores Maria Esther Souza Baibich e Maurício Eugênio Maliska por terem aceitado meu convite.

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Há homens que perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro. Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido... (Confúcio, 551 a.C. - 479 a.C.).

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RESUMO

A presente pesquisa está vinculada ao Projeto Saúde do Trabalhador do Núcleo Orientado Psicologia e Trabalho Humano do Curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, que desenvolve projetos que envolvem o processo trabalho-saúde-doença em trabalhadores de todas as categorias. Esta pesquisa caracteriza-se como um estudo referente às percepções de professores universitários acerca das relações entre estresse ocupacional e alterações vocais. Para tanto foi realizada uma pesquisa qualitativa e quantitativa, de natureza descritiva–exploratória e cujo delineamento é do tipo levantamento que investigou docentes de uma universidade de Santa Catarina. Para a realização da coleta de dados foi elaborado um questionário auto-aplicável que foi encaminhado a 488 professores universitários. Com uma amostra de 86 professores foram levantados dados importantes quanto aos fatores do ambiente de trabalho considerados como estressantes, aos sintomas de alterações vocais mais freqüentes, às percepções da presença de estresse ocupacional e de alterações vocais e às percepções das possíveis relações entre os mesmos. Pôde-se perceber alta incidência de alterações vocais e nível moderado de estresse ocupacional. Dentre as possíveis relações entre estresse ocupacional e alterações vocais verificou-se que os professores consideram que o estresse ocupacional pode contribuir para o desenvolvimento de alterações vocais. Diante dos resultados obtidos é possível perceber que a presente pesquisa cumpre com seu objetivo de descrever as percepções de professores universitários acerca das relações entre estresse ocupacional e alterações vocais. Longe de concluir estudos a esse respeito, os resultados desta pesquisa apontam para a necessidade de treinamento vocal para professores universitários no processo de integração do mesmo na organização e a necessidade também da criação de programas que atentem para a influência dos aspectos do trabalho sobre a saúde profissional, dentre eles a saúde vocal e a saúde mental.

Palavras-chave: Estresse ocupacional. Alterações vocais. Saúde do trabalhador. Professores universitários.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – População X Amostra ... 47

Gráfico 2 – Condições de saúde (n=86)... 51

Gráfico 3 – Presença de desconforto físico (n=85) ... 52

Gráfico 4 – Afastamento do trabalho por motivo de estresse ocupacional e/ou alterações vocais (n=86) ... 54

Gráfico 5 – Percepções de presença de estresse ocupacional (n=85) ... 63

Gráfico 6 – Nível de estresse (N=86) ... 64

Gráfico 7 – Percepções de alteração vocal (n=85) ... 70

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Características da amostra sexo, idade, curso de graduação, titulação completa,

estado civil, e número de filhos (n=86)... 48

Tabela 2 – Desconfortos físicos: Categorias, Tipos de Desconfortos Físicos e Freqüência. (n=48)... 52

Tabela 3 – Tempo dos afastamentos (n=18) ... 54

Tabela 4 – Motivos de Afastamentos (n=18) ... 55

Tabela 5 – Nível de satisfação ... 57

Tabela 6 – Percepções de fatores do ambiente que são ou podem ser estressantes... 59

Tabela 7 – Outros fatores do ambiente que são ou podem ser estressantes (n=9) ... 59

Tabela 8 – Total de horas trabalhadas e tempo de docência. ... 60

Tabela 9 – Fatores do ambiente de trabalho que podem contribuir para o desenvolvimento de alterações vocais (n.=84)... 66

Tabela 10 – Alterações/sintomas vocais apresentados por professores universitários (n=37). 68 Tabela 11 – Sintomas de alterações vocais que os professores costumam apresentar (n=69). 69 Tabela 12 – Percepções de possíveis relações entre estresse ocupacional e alterações vocais (n= 82). ... 73

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LISTA DE SIGLAS

ABS – Associação Brasileira de Stress AEM – Alterações Estruturais Mínimas CEP – Comitê de Ética em Pesquisa CFP – Conselho Federal de Psicologia CMI – Charted Management Institute

CPCSSP – Centro Psicológico de Controle do Stress de São Paulo DESAT - Departamento de Saúde do Trabalhador

ISMA – BR – International Stress Management Association no Brasil ISSL – Inventário de Sintomas de Stress para Adultos

OMS – Organização Mundial de Saúde

PUCCAMP – Pontifícia Universidade Católica de Campinas

SC – Santa Catarina

SGA – Síndrome Geral de Adaptação

SINAN – Sistema Nacional de Informações de Agravos de Notificações SMT – Saúde Mental no Trabalho

SPSS - Statistical Package for the Social Sciences

SRTE – Superintendência Regional do Trabalho e Emprego TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UCE – Unidade de Contexto Elementar

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 14 1.1 PROBLEMÁTICA... 15 1.2 OBJETIVOS ... 19 1.2.1 Geral... 19 1.2.2 Específicos... 19 1.3 JUSTIFICATIVA... 19 2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 24

2.1 A PSICOLOGIA NO CAMPO DA SAÚDE DO TRABALHADOR ... 24

2.2 ESTRESSE: TIPOS E CONCEITOS... 26

2.2.1 Enfrentamento (coping) e fontes de estresse ... 29

2.2.2 Estresse ocupacional na docência... 31

2.2.3 A Teoria Psicossomática... 33

2.4 A VOZ ... 35

2.3.1 Alterações vocais no docente: a voz como instrumento de trabalho... 37

3. MÉTODO ... 41

3.1 TIPO DE PESQUISA... 41

3.2 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS... 42

3.3 CARACTERÍSTICAS DA ORGANIZAÇÃO E DA POPULAÇÃO ... 44

3.4 PROCEDIMENTOS ... 44

3.4.1 Contato com a organização e a população ... 45

3.4.2 Coleta e Sistematização dos dados ... 46

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS... 47

4.1 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA ... 47

4.2.1 Condições de saúde ... 51

4.2.2 Afastamento do trabalho ... 53

4.3 FATORES E CONDIÇÕES DO AMBIENTE DE TRABALHO E ESTRESSE OCUPACIONAL ... 56

4.3.1 Nível de Satisfação ... 57

4.3.2 Fatores do ambiente de trabalho que são ou podem ser estressantes ... 59

4.4 PERCEPÇÕES DE ESTRESSE OCUPACIONAL... 62

4.4.1 Percepções de presença de estresse ocupacional em professores universitários ... 62

4.4.2 Nível de estresse em professores universitários ... 63

4.5 FATORES DO AMBIENTE DE TRABALHO E SINTOMAS DE ALTERAÇÕES .. 66

4.5.1 Fatores do ambiente de trabalho que podem contribuir para o desenvolvimento de alterações vocais ... 66

4.5.2 Sintomas de Alteração Vocal... 67

4.6 PERCEPÇÕES DE ALTERAÇÕES VOCAIS ... 70

4.6.1 Percepções de presença de alterações vocais em professores universitários ... 70

4.6.2 Nível de Alteração vocal ... 71

4.7 PERCEPÇÕES QUANTO ÀS RELAÇÕES ENTRE ESTRESSE OCUPACIONAL E ALTERAÇÕES VOCAIS ... 73

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REFERÊNCIAS... 81

APÊNDICE A – Questionário Auto-aplicável ... 93

APÊNDICE B – Carta do Comitê de Ética em Pesquisa... 97

APÊNDICE C – Informativo aos Coordenadores dos Cursos ... 98

APÊNDICE D – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ... 99 APÊNDICE E – Relações entre os objetivos e os itens do Questionário Auto-aplicável100

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1 INTRODUÇÃO

Seguindo os preceitos da grade curricular do Curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) para cursar a 8ª fase, o acadêmico deve optar por um dos dois Núcleos Orientados oferecidos pelo curso, sendo eles, Núcleo Orientado em Psicologia e Trabalho Humano ou Núcleo Orientado em Psicologia e Saúde. Ao passo que o acadêmico escolha o primeiro, ele tem outras três opções de projetos: Identidade Profissional, Gestão de Pessoas e Saúde do Trabalhador para que, na escolha de um deles, possa desenvolver atividades em estágios e dar início ao Trabalho de Conclusão de Curso.

O presente projeto está vinculado ao Núcleo Orientado em Psicologia e Trabalho Humano e ao Projeto Saúde do Trabalhador que tem como principais objetivos a promoção de saúde e prevenção de acidentes e doenças advindas do trabalho. As atividades atualmente desenvolvidas pelos acadêmicos nos estágios do Projeto Saúde do Trabalhador são: Grupo de Desenvolvimento Humano com funcionários da Biblioteca Universitária da (UNISUL) e Plantão Psicológico na Superintendência Regional do Trabalho (SRTE).

Com fulcro nas possibilidades de atuação do psicólogo direcionado à promoção de saúde e prevenção de doenças do trabalhador, este Trabalho de Conclusão de Curso teve como objetivo central descrever as percepções de professores universitários acerca das relações entre estresse ocupacional e alterações vocais. Para tanto, este primeiro capítulo apresenta como introdução ao projeto, a problemática e juntamente a ela o problema de pesquisa, os objetivos que se pretende alcançar e a justificativa do projeto.

O segundo capítulo trata de esclarecer algumas questões teóricas referentes ao estresse como conceitos, características, tipos e fases de estresse, bem como alguns sintomas dessa patologia versando mais especificamente sobre o estresse ocupacional na docência. São abordados, também, os conceitos da Teoria psicossomática e relações com o estresse ocupacional e as alterações vocais. Esse capítulo relata ainda, aspectos funcionais da voz, seu papel como instrumento de trabalho e suas alterações mais comuns em professores. Cabe aqui explicar que o termo estresse apresenta-se com tal grafia por obedecer à gramática da Língua Portuguesa. No caso de se apresentar sob a grafia stress, pode-se notar que estará grifada em itálico por se tratar de uma palavra escrita em língua estrangeira para obedecer à escrita dos autores estudados.

Já o terceiro capítulo presta esclarecimentos acerca do método, expondo o tipo de pesquisa, a descrição do instrumento de coleta de dados, características da organização e da

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população, ou seja, os caminhos utilizados para o alcance dos objetivos deste projeto. Por seguinte, o quarto capítulo expõe a Análise e a Discussão dos Dados, onde são apresentados discutidos os dados coletados que foram agrupados conforme os objetivos da presente pesquisa.

1.1 PROBLEMÁTICA

O trabalho pode ser entendido como uma “via de mão dupla” podendo dar ao homem o sentimento de utilidade, produção, segurança familiar e suporte financeiro. O trabalho pode ainda:

[...] proporcionar um objetivo e dar sentido à vida. Ele pode dar estrutura e conteúdo a nosso dia, semana, ano e vida. Ele pode nos dar uma identidade, auto-respeito, apoio social e recompensas materiais. Isso provavelmente acontece quando [...] os trabalhadores podem desfrutar de um grau razoável de autonomia, quando o “clima” no local de trabalho é amigável e apoiador e quando o trabalhador é recompensado de forma adequada por seu esforço. Quando isso acontece, o trabalho pode ser um dos mais importantes fatores promotores de saúde (salutogênicos). (LEVI, 2007, p. 169)

Mas ao longo da história o trabalho vem sofrendo inúmeras transformações em função das mudanças no âmbito sócio-econômico-cultural, político e tecnológico. Esse constante movimento teve início com a Revolução Industrial e a partir desta, novas formas de administração como taylorismo, fordismo e toyotismo, foram surgindo em busca de maior produtividade, aumento da carga horária e maior lucratividade.

As mudanças na esfera do labor humano e em todos os níveis da sociedade continuaram a fazer parte do desenvolvimento da história do trabalho e assim, da mesma forma, nas últimas décadas. Segundo Cooper (2007), sobre as mudanças no âmbito mundial, nos anos 60 houve a adoção de novas tecnologias, já nos anos 70, enfrentaram-se altos índices de inflação, na década de 80 a busca pelo sucesso pessoal e a inovadora globalização.

Para acompanhar as exigências e as transformações no trabalho, o homem precisou de grande capacidade de adaptação física, mental e social. Nesse processo as empresas foram se ajustando às transformações, fizeram enxugamentos que resultaram em empresas menores, com menos funcionários trabalhando mais, aumento na sobrecarga horária e implementação de tecnologias com demandas que exigem maior velocidade de resposta

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gerando assim, tensões e insegurança no trabalho. (COOPER, 2007).

Tais alterações, inseguranças e as cobranças do trabalho, os muitos acidentes e as doenças advindas do mesmo, como o estresse, passaram a preocupar profissionais da área da saúde. Conforme Lipp (1996, p. 299), “toda mudança que exija adaptação por parte do organismo causa um certo nível de stress”, sendo assim o trabalho pode ser considerado um ambiente estressante. Segundo Rosch (1996, p.13), “a maior fonte de stress para os adultos é o stress profissional”.

Partindo desse entendimento, o estresse ocupacional é uma das doenças do trabalho mais graves, com expressão mundial e tem gerado grande preocupação na comunidade científica. No relatório de 2001 sobre Saúde Mental na Europa, a Organização Mundial da Saúde afirma que “os problemas de saúde mental e transtornos relacionados ao stress constituem a principal causa global de morte precoce na Europa”. (LEVI, 2007, p. 174). Pesquisas mostram índices muito altos de estresse em todo o mundo. Segundo Cooper (2007), em pesquisa realizada no Reino Unido pelo Charted Management Institute (CMI) com 5.000 gerentes britânicos, constatou – se que quase dois de cada três dos pesquisados vivenciaram maior insegurança no emprego, moral baixo, entre outros em função de grandes reestruturações nas empresas. Conforme Lipp (1996, p.299), uma pesquisa realizada com 100 pessoas em Baltimore, revelou que 30% destas apresentaram alguns sintomas de stress.

No Brasil os números de adoecimentos relacionados ao estresse ocupacional são da mesma forma, alarmantes. Rossi (2007a) cita um estudo realizado pela International Stress Management Association no Brasil (ISMA – BR) no período de 2003 – 2004, que pesquisou 1.000 profissionais brasileiros e constatou que 70% desses sofriam significativos níveis de stress ocupacional.

Lipp (1996, p. 300) menciona dissertações de mestrado realizadas por psicólogos na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Puccamp) sobre o stress ocupacional de alguns profissionais de São Paulo que constataram “um alto nível de stress em executivos – tanto homens, como mulheres -, policiais militares, professores e bancários”.

Determinadas profissões, seus instrumentos e ambientes de trabalho se apresentam com características potencialmente mais estressoras e para Reinhold (1996), a docência tem se mostrado como uma destas. Pesquisas realizadas em vários países apontam índices elevados de estresse ocupacional em professores. Kyriacou e Sutcliffe (1978b apud REINHOLD, 1996, p. 173) indicam pesquisa realizada na Inglaterra com 257 professores onde foi verificado que “20% deles consideram que ser professor é muito ou muitíssimo

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estressante e que os sintomas de stress mais freqüentes são 'sentir-se exausto' e 'frustrado'”. Em pesquisa realizada com professores de escolas secundárias da Austrália, foram aplicados 574 questionários e foi verificado que: “45% estão pelo menos 'moderadamente estressados', sendo metade destes 'altamente estressados'”. (TUTTEMAN; PUNCH, 1990 apud REINHOLD, 1996, p. 173).

O estresse ocupacional em docentes pode ocorrer em função de vários agentes estressores. Moracco et al. (1982 apud REINHOLD, 1996, p. 173) agruparam cinco fatores de estressores ocupacionais dos professores com base em um estudo realizado com 691 professores primários e secundários norte–americanos: “falta de apoio da administração, trabalho com os alunos, falta de segurança financeira, relacionamento com colegas e sobrecarga de trabalho”.

Em meados da década de 90, Reinhold (1996) acusava que faltavam estudos sobre estresse ocupacional em professores no Brasil. Por tal motivo, em 1984, a autora realizou uma pesquisa em São Paulo com 72 professoras de primeiro grau de escolas públicas estaduais. Com tal estudo Reinhold chegou aos seguintes resultados: do total de professoras participantes apenas 4% percebem seu trabalho “nem um pouco estressante”, 43% - a maioria- consideram “um pouco estressante”, 39% avaliam como “muito estressante” e 14% como “muitíssimo estressante” os aspectos de seu trabalho. (REINHOLD, 1996, p. 178).

Além do estresse, outro tipo de doença do trabalho aqui pesquisada são as alterações vocais, que apresentam maior ocorrência em profissionais que utilizam a voz como instrumento de trabalho. Ao ter conhecimento do estudo realizado pelo programa de extensão em saúde do trabalhador, a pesquisadora pôde perceber que muitos fatores que podiam influenciar no desenvolvimento de alterações vocais, coincidiam com as fontes de estresse anteriormente estudadas por ela. Nesse sentido, Pamponet (2008) argumenta que “a grande incidência de alterações vocais nos profissionais que utilizam a voz como principal instrumento de trabalho, desperta uma atenção especial e uma maior preocupação por parte dos fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas”.

Conforme Behlau, Dragone e Nagano (2004), existem duas categorias de alterações vocais: as funcionais e as orgânicas, as primeiras decorrentes do comportamento vocal ou mau uso da voz; já as orgânicas, independem do uso da voz. De acordo com Alavarsi, Guerra e Sacaloski (2000, p. 202), além dessas duas, existe ainda mais uma classificação: as orgânico-funcionais, “sendo as disfonias funcionais mais comuns em professores”.

As doenças da voz podem trazer ao indivíduo prejuízos muitas vezes irreversíveis. No que se refere aos profissionais que utilizam a voz como instrumento de trabalho “sabe-se

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que, muitos deles acabam manifestando doenças laríngeas, que podem implicar num leve impacto profissional até um agravamento maior, podendo levar á [sic.] tratamentos cirúrgicos, muitas vezes, alterando a qualidade vocal original”. (PAMPONET, 2008).

Dentre os profissionais da voz, a literatura pesquisada aponta que a classe docente tem se mostrado bastante propensa a distúrbios ou alterações vocais. Com base em literatura internacional, “os professores apresentam alto risco de desenvolver distúrbio vocal de ordem ocupacional, apontando a referência de 60% dos professores pesquisados à voz alterada como problema de desempenho profissional”. (SMITH et al., 1997 apud FONOCLIN, 2008).

A título de informação Dragone e Behlau (2006) evidenciam o índice elevado de atendimentos de professores nas clínicas fonoaudiológicas. Guimarães (2001, p. 07) corrobora afirmando que “dentre todos os profissionais da voz, o professor é o mais suscetível à alteração e despreparado para atender a demanda vocal diária”.

Dentre as alterações vocais conhecidas, algumas são as mais comuns entre professores: fadiga vocal ocupacional, síndrome de tensão musculoesquelética, nódulos das pregas vocais, pólipo de prega vocal, edema de Reinke, Alterações Estruturais Mínimas (AEM) e câncer de laringe. (BEHLAU, DRAGONE e NAGANO, 2004). Essas alterações não serão investigadas, pois não fazem parte dos objetivos tais investigações.

Segundo Guimarães (2001, p. 08), “a incidência de patologias vocais em professores é alarmante. A porcentagem de professores com alteração vocal é muito maior comparada com a população em geral e a outros profissionais”. (GUIMARÃES, 2001, p. 08). Outra autora também corrobora com esse entendimento afirmando que “de acordo com estudos realizados entre profissionais que trabalham com a voz, a docência é uma das profissões com maior incidência de alterações vocais”. (ALMEIDA, 2000, p. 08).

Durante todo o processo de sua formação acadêmica, a presente autora pôde perceber que por muitas vezes os professores universitários eram acometidos por disfunções de voz, com freqüência estavam nas salas de aula com sintomas claros de alterações vocais tais como rouquidão e falha na emissão de voz. Desta forma na sua observação empírica e com base no que foi apresentado sobre as doenças advindas do trabalho docente (estresse e alterações vocais), este projeto de pesquisa pretende investigar: quais as percepções de professores universitários acerca das relações entre estresse ocupacional e alterações vocais?

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1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Geral

 Descrever as percepções de professores universitários acerca das relações entre estresse ocupacional e alterações vocais.

1.2.2 Específicos

 Identificar os fatores do ambiente de trabalho considerados como estressores pelos professores universitários;

 Descrever as percepções da presença de estresse em professores universitários;  Identificar os fatores ambientais que possam causar e/ou intensificar alterações vocais em professores universitários;

 Descrever as percepções dos professores universitários quanto à presença de sintomas típicos de alterações vocais;

 Descrever as percepções da presença de alterações vocais em professores universitários.

1.3 JUSTIFICATIVA

O interesse no tema surgiu quando a autora teve conhecimento do programa de extensão em saúde do trabalhador que começou um trabalho de levantamento de dados a respeito da saúde vocal dos docentes de uma Universidade de Santa Catarina. Tal trabalho apontou que pouco mais da metade da população pesquisada apresentou-se com três sintomas de alteração vocal e quase a metade com mais de três sintomas, sendo este o ponto de corte da escala utilizada, que indica a existência de alteração e fadiga vocal. A partir desses dados a

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presente autora percebeu a necessidade de pesquisar mais profundamente sobre a saúde emocional e vocal dos professores universitários.

Com a revisão bibliográfica pôde-se perceber vasta literatura e pesquisas sobre estresse ocupacional e suas conseqüências na saúde, qualidade de vida pessoal e laboral dos trabalhadores. Conforme Rossi (2007b, p. 09), “estudos indicam que o ambiente de trabalho, a estrutura corporativa e diversas outras interações entre emprego e empregado contribuem para respostas individuais de stress e tensão”. Conseqüentemente, a organização acaba tendo problemas de desempenho ruim, baixo moral, alta rotatividade, absenteísmo e violência no local de trabalho. (QUICK et al., 1997 apud ROSSI, 2007b).

O estresse ocupacional traz prejuízos não só para o indivíduo que o sofre, mas para todos os sistemas dos quais faz parte. Para Bernik, “o estresse já é um problema econômico e social, de saúde pública, que implica em gastos não só para o indivíduo, mas também para empresas e governos”. (BERNIK, 1997 apud FILGUEIRAS; HILPPERT, 2007, p. 112).

De acordo com Goetzel et al. (1998 apud ROSSI, 2007c, p. xix), em pesquisa realizada com 46.000 trabalhadores “constatou-se que os custos de atendimento à saúde eram quase 50% maiores para os indivíduos que relatavam níveis elevados de stress quando comparados aos trabalhadores isentos de risco”. Confirmando esses dados alarmantes, Posen (1995 apud FILGUEIRAS; HILPPERT, 2007, p. 112) indica que “o estresse é a causa mais comum de doenças, sendo provavelmente responsável por aproximadamente 70% das consultas a médicos de família”.

Alguns autores apontam a gravidade das conseqüências do estresse ocupacional, como Rosch (1996, p. 13) que em seu prefácio ressalta que a Organização Mundial de Saúde (OMS) descreveu o estresse ocupacional como uma “epidemia global”. Também Perkins afirma que “mais de 50% das mortes nos Estados Unidos a cada ano são decorrentes de doenças associadas ao estresse”. (PERKINS, 1995, p. 15)

Segundo Silvany Neto et al. (1998 apud PORTO et al., 2006, p. 819), apenas recentemente, houve um incremento nos estudos dedicados a este setor [educação], escassos há uma década [no Brasil]. Corroborando com a percepção da falta de estudos acerca dos problemas relacionados à docência e principalmente a distúrbios psíquicos em professores, em meados da década de 90, Reinhold (1996, p. 176) ressaltava a “inexistência” [sic.] de estudos acerca do estresse ocupacional em professores no Brasil.

Delcor (2004, p. 187) cita as investigações de Codo (1999) sobre a saúde mental dos professores de 1º e 2º graus em todo o país, abrangendo 1.440 escolas e 30 mil professores, revelando que 26% da amostra estudada apresentavam exaustão emocional.

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Caracterizando mais um dado preocupante se for levado em conta que a exaustão emocional é uma característica do estresse em níveis mais altos.

Penteado (2008, p. 18) relaciona dois de seus trabalhos (2003, 2006) enfatizando a necessidade de trabalhos que aprofundem a investigação de aspectos subjetivos que levem em conta as percepções dos professores acerca do tema da voz/ saúde vocal. Apesar da falta de estudos nacionais que levem em conta a percepção dos professores, “as pesquisas dos últimos anos sobre stress ocupacional do professor têm nos ajudado a levantar e compreender melhor as fontes e os sintomas de stress decorrentes desse trabalho tão fundamental de educar nossos jovens”. (REINHOLD, 1996, p. 191).

As conseqüências do estresse ocupacional na vida do trabalhador transcendem o psicológico influenciando todo o funcionamento do organismo tendo conseqüências orgânicas e fisiológicas. Além do estresse ocupacional que acomete professores de forma preocupante, “a atividade exercida pelos professores é considerada de risco [também] quanto ao desenvolvimento de alterações vocais”. (LEMOS; RUMEL, 2005, p. 08).

O Jornal do Conselho Federal de Fonoaudiologia (2006, p. 16) cita comentário da fonoaudióloga Márcia Tiveron quanto ao levantamento feito pelo Departamento de Saúde do Trabalhador (DESAT) de São Paulo, em que “constatou-se que 97% das readaptações funcionais por distúrbios da voz estão concentradas entre as profissões relacionadas ao ensino (professor, auxiliar de desenvolvimento infantil, coordenador pedagógico, entre outros)”.

Pinto e Furk (1988, p. 13) mencionam levantamento realizado pelo Departamento Médico da Secretaria de Higiene e Saúde juntamente com o Departamento de Saúde Escolar da Secretaria Municipal de Educação em São Paulo que traz entre outros, os seguintes dados:

- a alta incidência de disfonia entre os professores;

- nos casos mais graves, há a necessidade de afastamento do professor de seu trabalho bem como a contratação de professor substituto;

- as alterações na voz do professor levam a piora no estado de saúde “tanto física (rouquidão, dor de garganta, perda de voz, etc.) quanto emocional (fadiga geral, tensão pela dificuldade de falar, etc.)”

- ausência dos professores às aulas por motivo de disfonias. As autoras ressaltam ainda a importância dos dados levantados para uma atuação urgente e efetiva.

Em Santa Catarina mais especificamente, existem dados bastante preocupantes. Lemos e Rumel (2005, p. 9) realizaram pesquisa com 236 professores de 13 escolas de Educação Infantil e do Ensino Fundamental da rede municipal de ensino da cidade de

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Criciúma-SC e mostraram que do total de professores pesquisados, 190, ou seja, 80,50% relataram problemas de voz.

Com base em pesquisa realizada pelo Projeto Bem-Estar do Núcleo Psicologia e Trabalho Humano pertencente ao Curso de Psicologia da UNISUL, Rosar (2008) 1 faz análise dos dados obtidos junto aos professores da instituição. Ao considerar a categoria “auto-percepção e atividades relacionadas à saúde vocal”, a autora refere que “60% de toda a pesquisa compreende problemas sintomatológicos relacionados à voz em três aspectos, todavia chega-se a quase 50% dos demais que possuem mais de três sintomas”. (ROSAR, 2008, p. 30) 2.

Dentre os quinze sintomas de fadiga vocal que mais aparecem e analisados pela autora, a sensação de secura na garganta aparece assinalada por 53 dos pesquisados, a rouquidão é indicada por 50 participantes, as falhas na voz foram apontadas por 34 dos professores, e 13 dos pesquisados indicaram perda da voz no final da frase. Como última variável aqui destacada, a percepção acerca do desgaste vocal foi indicada por 55% dos pesquisados. (ROSAR, 2008, p. 37) 3.

Vale ressaltar que artigos publicados pelo Jornal do Conselho Federal de Fonoaudiologia (2006, p. 16) e pela Fonoclin (2008) denunciam que apesar da preocupante demanda de profissionais como professores, radialistas e atores com alterações vocais relacionadas ao trabalho, “o Ministério da Saúde ainda não incluiu o distúrbio de voz entre os agravos de notificação compulsória ao Sistema Nacional de Informações de Agravos de Notificações (SINAN)”. Cabe à pesquisadora deste projeto, grifar tal denúncia e expor seu espanto depois de ter estudado tantas alterações vocais advindas do trabalho.

Sendo assim, pretende-se que novas pesquisas referentes a tal tema sejam realizadas já que, cabe aqui ressaltar, a dificuldade de encontrar bibliografias que auxiliassem o presente projeto, tendo em vista a escassez de literatura sobre a relação entre fatores emocionais e alterações vocais. Bem como as percepções dos professores quanto às variáveis e os fatores do seu trabalho que possam influenciar em possíveis adoecimentos.

Diante do que já foi exposto, julga-se que o presente projeto de pesquisa tem pertinência, relevância acadêmica e científica justificadas pelo fato de que muitos são os trabalhos e pesquisas já realizados a respeito do estresse e das alterações vocais que acometem professores, mas pouco há sobre a relação entre os dois. Destaca-se ainda a

1

ROSAR, K. C. Saúde do trabalador – saúde vocal dos docentes da Universidade do Sul de Santa Catarina. 50 f. Palhoça: 2008. Trabalho não publicado.

2

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relevância social deste projeto, pois os resultados obtidos contribuirão para a continuidade de ações já realizadas na UNISUL pelo Projeto Saúde do Trabalhador e estimular novos estudos e intervenções junto aos professores da mesma universidade.

3

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A PSICOLOGIA NO CAMPO DA SAÚDE DO TRABALHADOR

Dentro das possibilidades de atuação e prática do psicólogo estão: a clínica, a psicologia social, da educação, hospitalar, do esporte, organizacional e do trabalho, entre outras. Esta seção limitar-se-á à Psicologia do Trabalho e à atuação do psicólogo no campo da saúde do trabalhador.

Para relatar a trajetória da Psicologia do Trabalho, Sampaio (1998) aponta três faces da mesma: a Psicologia Industrial, que surge no pós Revolução Industrial voltada inicialmente à seleção e à colocação profissional; a Psicologia Organizacional, apontada pelo autor como uma ampliação dos objetos da anterior; e a Psicologia do Trabalho, a terceira face indicada pelo autor e voltada para uma compreensão mais próxima do homem que trabalha.

No que diz respeito à Psicologia do Trabalho, são várias as possibilidades de atuação do psicólogo, sendo com estudos e pesquisas, implantação de ações, aplicação de instrumentos, entre outros. Nesse sentido, são muitas as possibilidades indicadas como atuação do Psicólogo do Trabalho:

[...] questões de ergonomia, saúde do trabalhador, organização do trabalho, seleção, treinamento técnico, orientação vocacional, motivação e satisfação, comprometimento, significado do trabalho, relações interpessoais, liderança e comportamento grupal, estilo gerencial, treinamento e desenvolvimento gerencial, clima e cultura organizacional, comunicação e organização informal, relações de trabalho, negociação sindical e análise organizacional e institucional. [...]. (SPINK, 1996 apud GOULART, 1998, p. 41).

Segundo Goulart e Sampaio (1998, p. 13), “A Psicologia do Trabalho constitui, hoje, um campo de aplicação dos conhecimentos oriundos da ciência psicológica a questões relacionadas ao trabalho humano, com vistas a promover a saúde do trabalhador e sua satisfação em relação ao trabalho”. Versando aqui, mais especificamente sobre a saúde do trabalhador no Brasil, Gomes-Minayo e Thedim-Costa (1997) citados por Louzada (2005, p. 01) referem que teve início nos anos 80, com intuito de mudar a situação da saúde da população e marcada por movimentos sociais. Segundo Louzada (2005), nessa época, as atividades e campo de trabalho na saúde do trabalhador eram limitados à medicina do trabalho e saúde ocupacional.

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Para Ulrich (2005, p. 24) “o objeto da saúde do trabalhador pode ser definido como o processo saúde e doença dos grupos humanos em sua relação com o trabalho”. A saúde pode ser entendida como integridade física, biológica, psíquica e social do indivíduo em todos os seus aspectos, bem como no trabalho. A Psicologia do Trabalho entende que o trabalhador alcança ou mantém a saúde quando esse utiliza com eficiência:

[...] estratégias de mediação individuais e coletivas capazes de fazer face às adversidades do contexto de produção, de reduzir o custo humano negativo e de gerar vivências de prazer no trabalho (seja de uma forma direta ou pela re-significação do sofrimento que se dá pela transformação do contexto de produção), configurando-se o predomínio do bem-estar no trabalho. (PSICOLOGIA ON LINE, 2004).

Para tanto, o auxílio da atuação multiprofissional com engenheiros, médicos do trabalho, psiquiatras e psicólogos se faz importante. Nesse sentido, a saúde do trabalhador é apontada por Gomes-Minayo e Thedim-Costa (1997, apud LOUZADA, 2005, p. 1) como associação de práticas interdisciplinares teóricas que envolvem técnicas “sociais, humanas e interinstitucionais” com intenção de promover a saúde e o bem-estar, prevenindo assim, possíveis acidentes e doenças profissionais.

Conforme Lacaz (1996 apud LOUZADA, 2005), além dos impactos do trabalho sobre o corpo do indivíduo, abriu-se espaço com a saúde do trabalhador, para a subjetividade, para o saber e a percepção dos trabalhadores a respeito de suas atividades, e passou-se a considerar todos esses aspectos nas intervenções e interpretações do real. Corroborando com esse entendimento alguns autores salientam que a saúde do trabalhador adotou “um olhar que não se detém apenas nos aspectos biológicos, incorporando o psíquico e o social e que requer a atuação sobre os problemas humanos no trabalho a partir de um outro locus, o do serviço de saúde”. (SATO; LACAZ; BERNARDO, 2006, p. 283).

Há onze anos atrás Sampaio (1998) dividiu as possibilidades de atuação do psicólogo do trabalho em pequenos grupos como: treinamento de pessoal; seleção e colocação de pessoal; planejamento de recursos humanos; avaliação de desempenho, entre outros. Outras divisões feitas pelo autor são: saúde mental no trabalho (SMT) e condições de trabalho, com algumas atividades específicas como:

 Na primeira (SMT),

- realização de estudos epidemiológicos sobre saúde mental no trabalho; - implantação e gestão de programas preventivos de saúde mental no trabalho; - realização de estudos de estresse ocupacional; entre outros.

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 Na segunda, condições de trabalho,

- participação em equipe multidisciplinar de intervenção ergonômica no trabalho; - treinamento de empregados em prevenção de acidentes de trabalho juntamente com o técnico de segurança do trabalho;

- realização de pesquisas nesta área.

Conforme o Anexo II da Consolidação das Resoluções do Título Profissional de Especialista em Psicologia, instituída pela Resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP) nº013/2007 são outras possibilidades de atuação do psicólogo no campo da saúde do trabalhador: ação humana nas organizações, desenvolvimento de equipes, planejamento de condições de trabalho, estudo e intervenção dirigidos à saúde do trabalhador, desenvolve, analisa, diagnostica e orienta casos na área da saúde do trabalhador, observando níveis de prevenção, reabilitação e promoção de saúde, participa de programas e/ou atividades na área da saúde e segurança de trabalho, subsidiando-os quanto a aspectos psicossociais para proporcionar melhores condições ao trabalhador, buscar melhor qualidade de vida no trabalho.

Segundo Sato, Lacaz e Bernardo (2006, p. 284), levando em conta o pouco tempo da atuação do psicólogo direcionada a saúde do trabalhador, relatam que são as necessidades e as demandas observadas na prática em programas e serviços de saúde que possibilitam novas pesquisas no campo da saúde do trabalhador, auxiliando assim a delimitação de suas atuações. Pois vale ressaltar que os autores apontam ainda, que não há homogeneidade nas atividades, e que assim, não é possível encontrar respaldo teórico-conceitual homogêneo quanto às teorias psicológicas que as fundamentam.

Pode-se dizer que a atuação do psicólogo na saúde do trabalhador é desenvolver programas de prevenção a acidentes e doenças do trabalho, disseminar as informações sobre higiene, práticas e hábitos de vida saudável, fazer levantamentos ergonômicos (com auxílio de outros profissionais), grupos de desenvolvimento humano, atenção à saúde mental dos trabalhadores, etc. De forma geral, esses aspectos podem ser resumidos como a busca integral de promoção do bem-estar biopsicossocial dos trabalhadores.

2.2 ESTRESSE: TIPOS E CONCEITOS

(27)

decorrer do tempo até o conceito atual. Lipp (1996, p. 17) cita (LAZARUS; LAZARUS, 1994) para falar das primeiras referências à palavra stress que significava “aflição” e “adversidade” que datam do século XIV.

A mesma autora cita Spielberger (1979) para mencionar que no século XVII, a palavra stress com origem no latim, passou a ser utilizada em inglês para designar “opressão, desconforto e adversidade”. (LIPP, 1996, p.17). Lipp (1996) refere ainda que, nessa época a mesma palavra foi utilizada pela física para definir o desgaste de materiais submetidos a excessos de peso, podendo assim fazer analogia com o ser humano, já que os indivíduos precisam lidar com pesos em sua vida.

Atualmente, o conceito mais aceito e utilizado mundialmente é o do endocrinologista Canadense Hans Selye que, em 1936, definiu estresse com enfoque biológico, como um elemento que produz mudanças na estrutura e na composição química do corpo caracterizando-se como Síndrome Geral de Adaptação (SGA), “síndrome do stress biológico” ou, também conhecido como “a síndrome do simplesmente estar doente” (1952, apud LIPP, 1996, p. 18).

Para Lipp estresse pode ser entendido como:

[...] um estado de tensão que causa uma ruptura no equilíbrio interno do organismo. É por isso que às vezes, em momento de desafios, nosso coração bate mais rápido, o estômago não consegue digerir a refeição e a insônia ocorre. Em geral, o corpo todo funciona em sintonia, como uma grande orquestra. Desse modo, o coração bate no ritmo que se entrosa com os outros órgãos. [...] mas quando o stress ocorre, esse equilíbrio, chamado de homeostase pelos especialistas, é quebrado e não há mais entrosamento entre os vários órgãos do corpo. (LIPP, 2000 apud ULRICH, 2005, p. 13)

Seguindo cronologicamente os conceitos acima referenciados, pode-se entender que o estresse não é uma patologia moderna, surgida nos tempos atuais. Segundo Perkins (1995), o estresse existe desde quando existe o homem, os fatores estressantes percorreram desde o homem primitivo, passando pelos tempos bíblicos até os dias de hoje.

Para Perkins (1995, p. 12) o modo de lidar com o estresse é que “pode estabelecer a diferença entre saúde e doença, vida e morte”. Coincidindo, assim, com o estresse ideal citado por Lipp (2008), a autora divide o estresse em três tipos diferentes:

 Estresse positivo: trata-se do estresse em seu início, conhecido também como fase de alerta. Há aumento de energia, produção, criatividade. Esse estresse tem tempo limitado, pois o estresse em maior tempo passa a trazer prejuízos.

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adaptação do indivíduo. Produz prejuízos à produtividade e a capacidade laboral.

 Estresse ideal: diz respeito à capacidade do indivíduo de lidar com o estresse, ele aprende a gerenciar os efeitos e os sinais do estresse de modo eficiente. Há alternância entre estar em alerta e sair desta fase, sem prejuízos se assim ocorrer.

De acordo com Filgueiras e Hilppert (2007), na primeira metade deste século, com base na homeostase – busca de equilíbrio do organismo – Cannon descreveu três fases da SGA, são elas:

 fase de alerta, na qual o organismo foge ou luta, há mobilização das energias (liberação de adrenalina e corticóides) em busca de ações e soluções;

 na fase de resistência, o organismo procura manter as ações da fase anterior e sintomas como a sensação de desgaste podem começar a aparecer;

 a fase de exaustão ocorre quando o estresse é contínuo, o desgaste é tamanho que o organismo já não tem mais como reagir, podendo levar à morte.

Lipp (2000 apud ULRICH, 2005) no Inventário de Sintomas de Stress para Adultos Lipp (ISSL) apresenta uma quarta fase acrescentada antes da fase de exaustão: a fase de quase-exaustão. A autora diferencia a nova fase da exaustão desta forma:

Nesta fase há um enfraquecimento da pessoa, que não consegue mais se adaptar ou resistir ao estressor, nesta fase a pessoa ainda consegue trabalhar e ‘funcionar’ na sociedade até certo ponto, ao contrário do que ocorre na fase de exaustão, quando a pessoa pára de ‘funcionar’ adequadamente, não conseguindo na maioria das vezes trabalhar ou concentrar-se. (LIPP, 2000 apud ULRICH, 2005, p. 15)

Na fase de alerta ocorre uma “revolução orgânica”, o organismo trabalha em função da “adaptação imediata” à situação estressora. A esse respeito o autor afirma que desta forma, o estresse não pode ser entendido necessariamente como uma “alteração patológica doentia”. (BALLONE, 2005b). Segundo Weiss, o estresse prepara seu corpo e também sua mente para outras situações de perigo, para o autor as pessoas “[...] precisa[m] aprender a administrar as reações e as condições que o provocam [estresse]”. (WEISS,1991, p. 38)

Portanto se assim não for, se o organismo não estiver preparado para lidar com o estresse, o indivíduo pode desenvolver doenças sérias, como: depressão, câncer, doenças coronarianas (PERKINS, 1995); baixa imunidade, problemas gastrointestinais (BALLONE, 2005b); pânico, transtornos de ansiedade (DATTI, 1997); pressão alta, enfarte, artrites, asma e doenças de pele (LIPP e cols., 1994).

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Eustress: é o bom estresse, constitui-se principalmente da fase de alerta, o indivíduo sente-se impulsionado a agir, criar, trabalhar e solucionar problemas. Quando uma pessoa recebe a notícia de aprovação para uma vaga de emprego, por exemplo, o seu corpo reage fisiologicamente “o organismo desencadeia um processo de reação psicofísica que acarreta um estado de alarme interno, essa possibilidade é denominada de eustress”. Este tipo de estresse ocorre por meio de estímulos positivos e/ou agradáveis, o que vai diferenciá-lo é a forma que a pessoa o vivencia. (MIRANDA, 2007).

Distress: conhecido como o mau estresse, é o estresse que traz conseqüências ruins ao organismo. Pode ser entendido como a “incapacidade para superar a vivência de experiências estressantes desgasta o indivíduo, levando a uma ruptura do bem-estar individual, o que constituiria o distress”. (JEKEL; ELMORE; KATZ, 1999 apud SPARRENBERGER; SANTOS; LIMA, 2003).

O mais difícil é delimitar em que fase e que tipo de estresse um indivíduo pode estar acometido. Para Lipp (1984 apud FILGUEIRAS; HILPPERT, 2007, p. 117), “o que determina um ou outro são as características reais dos estímulos e também a interpretação que o sujeito dá a eles, relacionada à aprendizagem e ao repertório de respostas que já possui”.

Uma pessoa com estresse na fase de exaustão, o estresse negativo ou distress, é preocupante e deve receber atenção multiprofissional. “O stress é reconhecido como um dos riscos mais sérios ao bem-estar [bio]psicossocial do indivíduo”. (BATEMAN; STRASSER, 1983 apud ROSSI, 2007b, p. 09).

Nesse sentido pode-se entender o estresse, em sua fase inicial, como fator impulsionador de ações reativas, criatividade ação e produção, não sendo da mesma forma se sua atuação sobre o indivíduo perdurar por mais tempo. Cada pessoa administrará o estresse conforme seu aparato estratégico e a forma que percebe os fatores estressantes.

2.2.1 Enfrentamento (coping) e fontes de estresse

Deve-se levar em conta que a mesma situação pode surtir efeitos distintos em pessoas diferentes. Weiss (1991, p. 39) afirma que “os acontecimentos são neutros, [...] cada pessoa vê o mundo de modo diferente e a ele reage de muitas maneiras”. Em conformidade com esse entendimento das diferentes percepções quanto aos fatores do mundo, a terapia cognitivo-comportamental [bastante utilizada para o tratamento de estresse],

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considera que os problemas psicológicos podem ser compreendidos em termos de sistemas de respostas intercalados: o cognitivo, afetivo/fisiológico e o comportamental. O modo como uma pessoa percebe o ambiente a sua volta (reação cognitivo) é seletivo e depende de um conjunto de regras e crenças adquiridas no desenvolvimento desta pessoa. As reações cognitivas influenciam e são influenciadas pelas reações afetivas, fisiológicas e comportamentais. Assim, nas desordens de ansiedade e na depressão, o indivíduo percebe e avalia a situação de forma distorcida, tendenciosa (distorção cognitiva), propiciando a ocorrência de afetos desagradáveis (angústia, desânimo, etc), de reações fisiológicas correspondentes (sudorese, taquicardia, tonteira, fraqueza, etc), e de comportamento (bloqueio, colapso, tremor, fuga, evitação, etc), que acabam confirmando as hipóteses negativistas acerca de situação e da auto-imagem. (FALCONE, 1993).

É a partir desse entendimento que se pode entender o coping. O termo foi descrito por Lazarus citado por Antoniazzi (et al., 1998), Moreira e Mello Filho (1992 apud FILGUEIRAS; HILPPERT, 2007) como o conjunto de estratégias que o indivíduo dispõe para enfrentar e se adaptar às situações de estresse. Coping é definido “[...] como uma variável individual representada pelas formas como as pessoas comumente reagem ao estresse, determinadas por fatores pessoais, exigências situacionais e recursos disponíveis”. (LAZARUS & FOLKMAN, 1984 apud PINHEIRO, TRÓCCOLI E TAMAYO, 2003).

Folkman e Lazarus criaram um método de coping que envolve quatro conceitos principais:

(a) coping é um processo ou uma interação que se dá entre o indivíduo e o ambiente; (b) sua função é de administração da situação estressora, ao invés de controle ou domínio da mesma; (c) os processos de coping pressupõem a noção de avaliação, ou seja, como o fenômeno é percebido, interpretado e cognitivamente representado na mente do indivíduo; (d) o processo de coping constitui-se em uma mobilização de esforço, através da qual os indivíduos irão empreender esforços cognitivos e comportamentais para administrar (reduzir, minimizar ou tolerar) as demandas internas ou externas que surgem da sua interação com o ambiente. (FOLKMAN; LAZARUS, 1980 apud ANTONIAZZI, DELL’AGLIO; BANDEIRA, 1998).

Algumas dicas para preparar o corpo e a mente para defesa contra o estresse (coping) podem ser conseguidas com hábitos de vida diária. As seleções do Reader’s Digest (1997) apontadas na Coleção Saúde e Sabedoria sobre estresse propõem como auxiliares na prevenção do estresse:

- hábitos alimentares saudáveis, - noites bem dormidas;

- postura correta; - atividade física;

Levando em consideração que cada indivíduo lida e percebe aspectos e situações de forma diferente conforme Weiss (1991), pode-se questionar sobre a origem das fontes de

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estresse. De acordo com Lipp (1996, p. 20), “tudo o que cause uma quebra na homeostase interna, que exija alguma adaptação pode ser chamado de um estressor”.

O estresse pode proceder de duas fontes diferentes, mas com hábitos saudáveis o indivíduo pode preparar o corpo para se defender e se adaptar às duas. Conforme Ballone (2005b), o estresse pode se originar de fontes externas ou internas.

O mesmo autor aponta transtornos afetivos e traços de personalidade como exemplos de fontes internas de estresse. Lipp (1996) cita alguns autores para dar exemplos de fontes de estresse interna como, (ELLIS, 1973) que indica crenças irracionais; (LIPP; ROCHA, 1994) falta de assertividade e dificuldade de expressão dos sentimentos, entre outros.

A alta correlação encontrada entre níveis de stress e o número de crenças irracionais aponta para a possibilidade das distorções cognitivas funcionarem como fontes internas de stress no ser humano adulto. Há que se refletir, também, quanto ao fato de que esta relação é ainda mais evidente quando se considera o fator idade. Os dados indicam que os pensamentos disfuncionais se consolidam e se tornam mais estressantes com o passar do tempo, conforme aponta a correlação altamente significante entre idade e crenças irracionais encontrada no presente estudo. (LIPP, PEREIRA; SADIR, 2005).

Quanto às fontes externas de estresse, Lipp (1996, p. 21) afirma que, essas, são situações e condições externas que afetam o organismo, tais como: acidentes, mudança de chefia, trabalho em excesso ou desagradável, família em desarmonia, etc. Entende-se que aspectos do trabalho podem se apresentar como importantes fontes externas de estresse.

Sendo assim, o trabalhador muitas vezes não tem controle sob os aspectos do trabalho que possam ser para ele, fontes estressoras. Ao seu alcance estão hábitos de vida que podem lhe dar suporte e prepará-lo para enfrentar e administrar ou fugir do que possa lhe afligir (coping). O trabalho docente também pode ser apontado como grande fonte de estresse ocupacional, levando muitos desses profissionais ao afastamento de suas atividades.

2.2.2 Estresse ocupacional na docência

O trabalho é entendido pela sociedade como promotor de dignidade, de enobrecimento e de saúde. Para Codo (1998) o trabalho contribui para a formação da identidade dos indivíduos, sua inserção na vida social e no mundo.

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Mas não só de boas contribuições que se constitui a relação do homem com o trabalho. “O trabalho humano possui um duplo caráter: por um lado é fonte de realização, satisfação, prazer, estruturando e conformando o processo de identidade dos sujeitos; por outro, pode também se transformar em elemento patogênico, tornando-se nocivo à saúde”. (DELCOR et al., 2004).

Um fator do trabalho que pode ser entendido como contribuinte para o adoecimento atualmente são os laços contratuais. Segundo Cooper (2007, p. 5), muitas organizações optam hoje por contratos terceirizados, por funcionários horistas, com flexibilidade, nesse sentido “o contrato psicológico entre o patrão e o empregado [...] está sendo razoavelmente enfraquecido à medida que um número cada vez maior de empregados não considera mais seu emprego como seguro [...]”.

Partindo desses entendimentos o ambiente de trabalho pode ser considerado como promotor de fontes externas de estresse, o estresse ocupacional. Rossi (1997, p. 60) aponta a sensação da falta de controle como uma das grandes responsáveis pelo desenvolvimento do estresse no trabalho, “assim o funcionário tem grandes responsabilidades, mas pouca autonomia para tomar decisões”.

“Uma série de problemas clínicos e psicológicos tem sido associada ao estresse organizacional, [...] que contribui para o desenvolvimento de distúrbios funcionais, problemas psicossomáticos e doenças degenerativas”. (ROSSI, 2007b, p. 9). Nesse sentido, Ballone (2005a) indica transtornos relacionados ao estresse como “depressões, ansiedade patológica, pânico, fobias, doenças psicossomáticas”, entre outras.

Nas organizações escolares não acontece diferente. De acordo com Porto et al. (2006, p. 819), os professores indicam que algumas características do trabalho estão mais associadas ao adoecimento como “trabalho repetitivo, ambiente estressante, ritmo acelerado, fiscalização contínua e pressão da direção”. Reinhold (1996, p. 176) conclui que:

[...] os professores estão sujeitos a muitos fatores estressantes ligados à sua atividade profissional [ele acrescenta ainda que] nem sempre esses professores têm recursos próprios ou ambientais para lidar adequadamente com seu stress ocupacional, podendo, em decorrência, apresentar reações de stress em graus variados, resultando em exaustão, depressão, raiva, sintomas psicossomáticos.

Esteve (1999) é citado por Ulrich (2005) quanto a um levantamento realizado de todas as licenças oficiais por doenças dos Arquivos de Inspeção Médica da Delegação de

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Educação e Ciência em Málaga, durante sete anos, compreendidos entre 1982 e 1989. Dentre os resultados encontrados as distensões de tornozelo, as laringites e as depressões ficaram em primeiro lugar e as licenças ginecológicas não associadas à maternidade apareceram alternadamente entre segundo e terceiro lugar.

No que se refere ao estresse no trabalho docente, alguns autores o definem como:

[...] uma síndrome de respostas de sentimentos negativos, tais como raiva e depressão, geralmente acompanhada de mudanças fisiológicas e bioquímicas potencialmente patogênicas, resultante de aspectos do trabalho do professor, e mediada pela percepção de que as exigências profissionais constituem uma ameaça à sua auto-estima ou bem-estar. (KYRIACOU; SUTCLIFFE, 1978; MORACCO; MCFADDEN, 1982 apud REINHOLD, 1996, p. 169).

Ulrich (2005, p. 24) aponta estudos de Maslach e Leiter (1999) em vários campos de atuação de profissionais, bem como com professores, e que estes concluíram que “quando o trabalhador sofre de desgaste físico e emocional, ele não é o único responsável e que as ‘causas’ localizam-se mais no ambiente de trabalho do que no indivíduo”.

Se forem retomados os entendimentos de que o indivíduo pode fortalecer sua saúde com hábitos de vida para lutar (coping) e enfraquecer a atuação e influência dos fatores externos, pode-se aumentar a responsabilidade do indivíduo quanto ao seu adoecimento. Os mesmos autores acima citados indicam que, para solucionar problemas de adoecimento dos trabalhadores as ações devem partir tanto do individual como do organizacional, o que nem sempre acontece conjuntamente.

Por fim e com base nos autores citados é possível perceber que as condições do ambiente de trabalho e a forma como os trabalhadores se relacionam com os aspectos e as situações presentes nesse ambiente, podem ser consideradas determinantes no processo saúde/ doenças dos trabalhadores. De maneira particular o trabalho docente pode se apresentar como gratificante e satisfatório, mas também um campo de adoecimento físico com conseqüências emocionais, e de adoecimento emocional e mental com conseqüências físicas conforme a rege a Teoria Psicossomática.

2.2.3 A Teoria Psicossomática

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explicar as relações entre estresse ocupacional e alterações vocais. Cabe então ressaltar que “a palavra psicossomática é formada pelas palavras gregas: psique (alma) + soma (corpo), tendo sido usada por Anaxágoras, filósofo grego pré-socrático que defendia a concepção dualista do ser humano (500-428 AC)”. (TONELLI, 2008). Atualmente a psicossomática é conceituada, na literatura pesquisada, como “doenças determinadas, agravadas ou desencadeadas por razões emocionais, com presença de alterações orgânicas constatáveis (asma, hipertensão, dermatites, diabete [sic.] etc.)”. (BALLONE; ORTOLANI, NETO (2007, p. 180).

De acordo com Mello Filho (1992),

o corpo de teoria da psicossomática moderna, ao longo do tempo, desenvolveu-se em três fases. A primeira foi estimulada pela psicanálise com o enfoque dos estudos sobre a gênese inconsciente das enfermidades, teorias da regressão e sobre os benefícios secundários do adoecer entre outros. A segunda é a fase intermediária, behaviorista, que se concentrou em pesquisas em homens e animais, tendo como auxiliar para sua interpretação as ciências exatas, havendo um grande avanço nos estudos sobre stress. Já a terceira fase, atual, chamada de multidisciplinar ou interdisciplinar, destaca a importância da dimensão social e suas interconexões com a visão psicossomática, necessariamente possuindo uma interação entre os diferentes profissionais de saúde. (apud SILVA; MÜLLER, 2007).

Segundo Ballone, Ortolani e Neto (2007), na psicossomática sempre há relação entre a queixa (os sintomas apresentados) e a alteração orgânica. O mesmo autor aponta ainda que,

na doença psicossomática o sistema nervoso autônomo (SNA) é sempre mobilizado. Alguns autores aceitam a idéia de que, na doença psicossomática, o afeto seja suprimido e dirigido ao SNA devido a alguma dificuldade da pessoa em reconhecer e verbalizar seus sentimentos e emoções (alexitimia). (BALLONE; ORTOLANI, NETO (2007, p. 182).

A psicossomática possibilita aos psicólogos, o trabalho interdisciplinar com os demais profissionais da saúde e das ciências humanas e sociais por “objetiva[r] sempre estudar a complexa dinâmica entre fatores fisiológicos, psicológicos e sociais”. (SPINELLI, 2002). A teoria psicossomática percebe o homem como ser biopsicossocial, integrando e compreendendo a influência entre estes. “Por ser uma abordagem integrativa da pessoa, o profissional que se utiliza da psicossomática vai além da realidade física da doença, sem, no entanto, negá-la”. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MEDICINA COMPLEMENTAR).

Silva e Müller (2007) referem o conceito da Síndrome Geral de Adaptação – Estresse (Selye, 1956; Ramos,1994), e apontam que a mesma “contribuiu para a abordagem psicossomática, [pelo fato] de como o corpo se transforma sob o efeito do stress”. Quanto à

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Síndrome Geral de Adaptação, o estresse, Ballone (2007) aponta que,

Os efeitos [...] sobre o indivíduo cronicamente ao longo do tempo compõem o substrato fisiopatológico das doenças psicossomáticas. Cada órgão ou sistema são envolvidos e apenados pelas alterações fisiológicas continuadas do Estresse, de início apenas com alterações funcionais e depois, com lesões também anatômicas.

Uma das queixas mais freqüentes feitas pelos indivíduos diz respeito ao estresse no trabalho, sendo que uma grande parte das doenças psicossomáticas está diretamente relacionada com essa questão. (ALVES, 2000 apud CANTOS; SILVA; NUNES, p. 2005). Na docência são percebidos muitos adoecimentos que demonstram o entrelace do sofrimento psíquico, com os comportamentos de risco, os problemas relacionais e predisposições fisiológicas.

Diversos autores apontam problemas de saúde do professor relacionados às suas condições de trabalho, como questões emocionais, esgotamento mental e estresse, doenças do aparelho respiratório e vias aéreas superiores, dor de garganta, faringite, laringite, rouquidão e disfonia, assim como problemas cardiológicos, circulatórios e ortopédicos. (GONÇALVES; PENTEADO; SILVÉRIO, 2005, p. 48). Conforme o que foi exposto pôde-se notar, com a literatura e com os dados coletados, que a classe docente é altamente acometida por sintomas e alterações vocais e essas alterações acabam por afetar todas as esferas de sua vida (social, pessoal e profissional), gerando ansiedade e angústia que acabam por acarretar o estresse.

2.4 A VOZ

A comunicação humana pode ocorrer de diversas formas dentro de duas possibilidades: a comunicação verbal e a não-verbal (gestos, olhares, expressões corporais, tom de voz). O foco principal deste projeto de pesquisa ater-se-á à linguagem falada por meio do uso da voz, considerando ainda outros fatores que influenciam as mesmas.

A voz é uma das múltiplas formas de comunicação humana, apresentando-se desde o nascimento por meio do choro, riso e grito. É o modo básico de comunicação, porém constituindo-se como poderoso meio de interação. (BEHLAU; PONTES, 2001).

Conforme Boone e Plante (1994), a fala possui função sobreposta [ou superposta] por utilizar órgãos designados para outras funções no corpo humano, sendo estas vitais. Os

Referências

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