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OS ATLETAS SERGIPANOS EM DEBATE: análise da cobertura jornalística do PAN RIO-2007

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Sérgio Dorenski Dantas Ribeiro André Marsiglia Quaranta Luciana Carolline Pina Garcia

Paula Aragão

INTRODUÇÃO

Este estudo analisa a cobertura jornalística acerca dos atletas sergipanos, a partir da mídia impressa e televisiva1, que participaram

dos Jogos Pan-americanos realizados no Rio de Janeiro. Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa e, na “colheita” dos dados, selecionamos um jornal de circulação diária2, envolvendo todo mês de julho de 2007, capturando as informações

sobre os atletas que participaram dos Jogos. No tocante à mídia televisiva, observamos a cobertura feita pela TV SERGIPE3 a partir de uma reportagem

que nos chamou a atenção intitulada “Retrospectiva do Pan 2007”, na qual é feita uma síntese da participação dos atletas sergipanos neste evento. Assim, segue a linha de análise do trabalho4 realizado pelo Observatório

da Mídia Esportiva5 sobre os atletas catarinenses que participaram das

Olimpíadas de 2004.

No âmbito acadêmico, no tocante à pesquisa (ensino e extensão), vêm-se desenvolvendo estudos que relacionam a Educação Física, esporte e mídia - a exemplo de Santa Catarina/UFSC - num “campo” específico 1 Uma versão preliminar deste estudo foi apresentada no IV Congresso Sulbrasileiro de

Ciências do Esporte, realizado em setembro de 2008, em Faxinal do Céu/PR. Agradecemos as sugestões que foram feitas naquela oportunidade, especialmente a de incluir a análise da programação televisiva.

2 JORNAL DA CIDADE. Jornal de grande circulação e tradição no Estado de Sergipe.

Fundado em 02 de fevereiro de 1970.

3 Emissora afiliada à Rede Globo de Televisão no Estado de Sergipe.

4 PIRES et al. (2006). Catarinenses Olímpicos na Mídia Impressa Regional: a dialética

local-global na cobertura dos Jogos Olímpicos de 2004.

5 O grupo Observatório da Mídia Esportiva, fundado em 2003 na UFSC, tem como objetivo,

além da reflexão do fenômeno Mídia, estimular o ensino, a pesquisa e a extensão. A partir de outubro de 2007, constituiu-se também no DEF/ UFS.

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6 Recorte da cultura geral que se refere ao âmbito das manifestações do fenômeno esporte,

incluindo-se ai suas práticas, intencionalidades e sentidos/significados, e que são socialmente produzidos e compartilhados, com a participação cada vez maior da mídia esportiva (PIRES, 2007). Ver também Pires (2003) – Cultura Esportiva e Mídia: abordagem crítico-emancipatória no ensino de graduação em Educação Física.

7 Ver Bourdieu (2002).

8 Em alusão ao termo usado pela mídia televisiva local referindo-se aos atletas sergipanos

que participaram dos Jogos.

denominado cultura esportiva6. Neste aspecto, aqui se configura mais um

destes “campos”, bem como convida-nos a ficarmos com o olhar atento, “observando” o fenômeno esportivo em suas teias e tramas no jogo do poder, seja ele político, econômico, coercitivo ou/e principalmente, simbólico7.

Sendo assim, seguimos algumas categorias que foram levantadas no estudo de Pires et al. (2006) e que servirão de reflexão neste, como:

Referência ao local (reportagens com ênfase na Naturalidade dos atletas

e sua relação de identidade com o local); Expectativas e Realismo (as expectativas dos atletas/público/jornalistas e dificuldades enfrentadas);

Preparação (reportagens que fazem referência ao treinamento dos atletas

– físico, técnico, tático ou psicológico, entre outros); Retrospecto (as conquistas e derrotas que ocorreram em outras competições, bem como o ranking dos atletas); Ineditismo Feminino (reportagens que envolvem a primeira mulher a participar em alguma modalidade ou nos Jogos – acrescentamos o caráter inédito do único atleta nordestino no ciclismo);

Avaliando a Participação (envolvem as reportagens de “consolo” aos

atletas e público, pelo fato da derrota) e Presente Perpétuo (esta categoria é formada por reportagens que projetam para outras competições, como é o caso das Olimpíadas de Pequim).

Portanto, abriremos uma discussão conceitual que norteia nosso “olhar” sobre o fenômeno esportivo, bem como, analisaremos a partir da mídia impressa local, a cobertura jornalística dos atletas “sergipanamericanos”8.

CONSIDERAÇÕES CONCEITUAIS NO TRATO COM O FENÔMENO ESPORTIVO

Os Jogos Pan-americanos representam para as Américas a grande competição com perfil Olímpico, apesar dos Estados Unidos não considerarem pelo menos no grau de prioridade uma competição tão importante, pois seus interesses estão voltados para as Olimpíadas e Campeonatos Mundiais, visto que os melhores atletas, bem como, as

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melhores equipes não vêm para a competição na sua maioria. No entanto, ela simboliza, em âmbito americano, o potencial de interesses políticos, sociais, econômicos, a partir do fenômeno esportivo.

Todavia, por trás deste Evento Esportivo, há representações para além das marcas, dos índices, dos recordes, das conquistas dos atletas, ou seja, a rede de interesse que perpassa os Jogos ganha uma dimensão para além do aspecto esportivo, principalmente, o aspecto econômico9. Para

Campos (2007, p. 66):

[...] o projeto criado pelo Comitê Organizador do evento previa, além de infra-estrutura em nível olímpico [...], também a realização de uma série de projetos que beneficiariam a cidade-sede, como a despoluição da Baía da Guanabara e a extensão do Metrô até a Barra da Tijuca. Percebe-se então que um investimento massivo de capital era esperado e, portanto, os interesses neste Evento multiplicaram-se. Sem contar que o Estado – Federal, Estadual, Municipal – garantiu a maior parte destes investimentos. Além do quê, o próprio Governo Federal10 vê os Jogos

Pan-americanos como “uma oportunidade de investimento na cidade do Rio de Janeiro e no País”11. Ora, temos então, no centro desses interesses, o esporte12

que possibilita a aglutinação de uma rede de corporações e entre elas, a mídia. Para Pires (2007), as grandes mudanças no esporte, em grande medida, foram provocadas pela facilitação e acesso ao espetáculo esportivo através dos meios de comunicação de massa, principalmente a televisão. Neste sentido, constitui-se uma cultura “nova”, ou melhor, uma cultura esportiva. Não é à toa que o CONFEF (Conselho Federal de Educação Física)13 fora convidado

9 Guardadas as suas devidas proporções, vemos na antiguidade uma possível similitude

desses interesses observados na atualidade, onde para Pitágoras havia três tipos de pessoas que iriam assistir aos jogos olímpicos, eram elas: os atletas, que seriam aqueles que estavam para brilhar; aqueles que estavam para assistir aos jogos; e aqueles que só estavam ali para comercializar os seus produtos, não importando o que acontecia (CHAUÍ 2003, p. 25).

10 “Governo injeta mais R$ 467 mi (sic) no Pan e, na linha fina, foi lembrado que, com esse valor,

a participação da instância federal já era de R$ 1,28 bilhão e que esse valor já superava em quase dez vezes a previsão inicial de gastos governamentais com o evento” (CAMPOS, 2007 p. 72).

11 Ibidem.

12 Aqui, seguimos a idéia do esporte enquanto uma instituição que se caracteriza no final do

século XVIII e início do XIX, na Inglaterra e ganha o caráter hegemônico, expandindo-se para o resto do mundo (ver BRACHT, 1997).

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a participar do programa de Observadores Rio 2007, com o objetivo de discutir questões que aumentem as chances de candidaturas a grandes eventos esportivos. Longe de ser um órgão legítimo e representativo da Educação Física Brasileira, o Conselho aqui mostra sua “cara” com seus reais interesses quando se trata da prática esportiva.

Para Betti (apud Pires, 2003) o esporte, como produto cultural cujo reconhecimento e aceitação global aumentam à medida que se torna cada vez mais um telespetáculo, configura-se um bom exemplo de como a cultura se adapta às novas formas de oferta e consumo tecnologicamente mediado. Assim, vemos nas transmissões dos jogos um prolongamento da casa. Os atletas e as disputas ficam muito próximos e com eles, os produtos da mídia, como diria Thompson (1988), para potenciais consumidores.

Nos estudos de Pires (1998), percebe-se o quanto o fenômeno esportivo, ao longo da história, é apropriado para diversos interesses, sejam eles funcionais, ideológicos, sob a pseudo-idéia de sociabilização, a partir da ótica do espetáculo e da mercadorização. Obviamente que o elemento mediador destes interesses é a mídia. No “enredo” dos Jogos Pan-americanos Rio-2007, existe a marca destas apropriações no conchavo de bastidores e que nossos olhos não conseguem captar todas as “tramas”, mesmo assim, segue o alerta de Pires e Silva (2006, p.12):

Apesar das críticas, houve quem ganhasse com os Jogos [...]: começa pelas grandes empreiteiras nacionais, as mesmas de sempre, passando pelas administrações públicas nos três níveis de governo, que ganharam visibilidade e reconhecimento social como benfeitores do esporte brasileiro, mesmo que às custas de verbas públicas; continua pelo COB, que levou também os louros do “sucesso” dos Jogos, especialmente seu Presidente Carlos Nuzzman e seus familiares e amigos, cujas empresas viraram prestadoras de vários serviços ao Co-Rio, sem qualquer concorrência14. E ganharam também os

dirigentes profissionais do esporte brasileiro que, com a organização do Pan, obtiveram “cacife” para vôos maiores, na gestão de novos eventos esportivos internacionais no Brasil. 14 Cf.: EF. Órgão oficial do confef. Setembro de 2007. (p. 18-22).

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Hoje vivemos numa “ditadura”15 do esporte-espetáculo.

Parafraseando Adorno e Horkheimer (1985), não há saída, só adaptando-se. O consumo deste bem simbólico está posto: na programação televisiva, no fetiche que provoca nos pequenos/grandes Jogos escolares e principalmente, no culto ao herói esportivo.

Para Adorno e Horkheimer (1985), a mídia exerce um papel importante na domesticação da natureza crítica e assim, ao banalizar a cultura para um consumo em massa – Indústria Cultural - tolhe a capacidade de reflexão crítica do sujeito. Não é estranho que um Evento desta natureza atraia tantos interesses, pois a lógica no campo do entretenimento (produzindo bens simbólicos)16 destina-se a ocupar o tempo do trabalhador e assim, o

prolongamento do trabalho a partir do consumo destes bens, concretiza-se. Portanto, este estudo não deixará de lado estas considerações ao analisar a participação dos atletas, “heróis” sergipanos, num Evento esportivo de caráter internacional.

ANALISANDO: OS HERÓIS DO PAN OU DA SOCIEDADE? [...] PELA MÍDIA

Aqui, apresentaremos a partir das categorias enunciadas, como a mídia impressa local (Jornal da Cidade), cobriu os Jogos Pan-americanos no tocante aos atletas sergipanos. Neste sentido, o foco das observações refere-se aos atletas: Wagner Romão (Pentatlo Moderno); Nivalter Santos (Canoagem); Hélio Justino, o “Helinho” (Handebol); Rogério Alves (Futsal) e Marcos Alcântara, o “Manchinha” (Ciclismo).

Referência ao Local

Nesta categoria, é notório o quanto a mídia impressa local regionaliza as informações referentes aos atletas do Pan. A “impressão” é que a presença em nosso meio esportivo, desses atletas, parece ser frequentemente acompanhada, não só pelos meios (mídia impressa) quanto pelo público sergipano, independente do momento Esportivo em destaque. Apesar disto, vimos que a realidade dos atletas é outra. Enquanto uns apenas nasceram aqui e nunca mais retornaram, outros vêm esporadicamente ao 15 Consideramos que a opressão para o consumo exercida pelo telespetáculo esportivo corrompe

outras possibilidades de práticas esportivas. No mínimo, seu fetiche materializado na figura dos heróis esportivos, perpassa no imaginário das pessoas, principalmente das crianças.

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Estado, seja para uma visita, seja para uma pequena competição. Acreditamos que isto é um reflexo do perfil do esporte em Sergipe, ou melhor, para seguir uma carreira vencedora na elite do esporte brasileiro e internacional, os atletas têm que migrar para outros centros que dêem condições de preparação e principalmente, econômico/financeira. No entanto, em momento algum, esta realidade é posta em questão pelos emissores das mensagens.

O sucesso então dos atletas, ou mesmo apenas sua participação, esboça ao público uma relação de cumplicidade com o povo sergipano. A vitória/participação não é apenas do atleta, mas sim, a vitória de Sergipe. Neste sentido, gostaríamos de destacar alguns recortes do Jornal em que envolvem, principalmente, o regionalismo e sua relação de identidade, pois Sergipe (todo) é representado pelos atletas do Pan. Um “feito” heróico digno das proezas dos deuses.

Sergipanos podem brilhar no Pan

O Estado será representado nos jogos por cinco atletas: Rogério, Wagner, Nivalter, Manchinha e Helinho. [...]. Outro sergipano de sucesso é o capitão da seleção masculina de handebol, o Helinho [...] (JORNAL DA CIDADE, 13/07/2007 p. b-7).

Sergipanos nos Jogos

A marca do Norte-nordeste: O sergipano manchinha [...] começou sua carreira ainda no esporte em Sergipe, sendo mais tarde contratado por uma equipe de São Paulo [...] ele é um sergipano que não esquece sua origem e sempre está participando de campeonatos aqui no Estado [...]. Estreando num Pan-Americano, este sergipano é mais uma boa representação do nosso estado nos jogos deste ano. (JORNAL DA CIDADE, 15 e 16/07/2007 p. 3).

Futsal: o sergipano Rogério, goleiro da seleção brasileira, estréia nos jogos Pan-Americanos com chances de medalha de ouro. [...] na seleção brasileira, mais um sergipano brilha representando o estado. (JORNAL DA CIDADE, 22 e 23/07/2007 p. 01).

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Sergipano estréia competindo no pentatlo moderno: O sergipano Wagner Romão é um dos quatro atletas que compõem a equipe brasileira de pentatlo moderno (JORNAL DA CIDADE, 24/07/2007 p.b-7).

Portanto, vimos que através da “esperança” de vitórias ou superação de “marcas”, os atletas sergipanos cumprem as ordens (“os caprichos”) do príncipe eletrônico (IANNI, 2001) que aglomera uma imensidão de poderes sob si. No entanto, vê-se a presença do fetiche que a relação global-local esconde os interesses nas transmissões destas mensagens. A pergunta é: e depois do Pan, o que resta a esses homens, não mais Deuses?

Outro destaque refere-se ao fato que nas matérias sobre os atletas sergipanos, o jornal (equipe jornalística) teve sempre a preocupação em buscar depoimento de um represente oficial da modalidade no Estado, ou seja, os respectivos presidentes de Confederações e Federações, como é o caso de: Manuel Luiz Oliveira (Presidente da Confederação Brasileira de Handebol), Tarcísio Correa (Presidente da Federação Sergipana de Handebol), Manuel Cruz (Presidente da Federação Sergipana de Futsal), Gilvan Costa Cavalcante (Presidente da Federação Sergipana de Ciclismo), entre outros. Parece-nos que para legitimar o discurso midiático é necessário levantar os depoimentos das “autoridades” em cada modalidade.

Percebe-se ainda, que os atletas Helinho (Handebol) e Rogério (futsal) aparecem com mais ênfase em destaques nas matérias, talvez pelo fato de especular-se a certeza de medalha nestas duas modalidades, como também por se tratar de modalidades tradicionais e “populares”.

Expectativas e Realismo

As evidências do “Agendamento”17 esportivo ficam marcadas

nesta categoria. A força simbólica que está presente no enunciado da mensagem e nas imagens veiculadas nas páginas dos jornais, carrega em si 17 Mezzaroba (2008) aponta que o agendamento é a tradução do termo agenda-setting (uma

das Teorias da Comunicação) e se trata de um processo relacional entre a agenda midiática e a agenda pública, com o que alguns grupos (financeiros, econômicos, políticos e a própria mídia em si) objetivam pautar temas de seu interesse na esfera social, colocando desta maneira sua opinião, com o interesse de torná-la hegemônica. No caso do agendamento esportivo¸ este não é realizado apenas ao pautar determinado evento, trazendo informações prévias do mesmo ou de seus personagens, mas sim ao abordar os mais variados contextos (econômico, político, social, cultural e o esportivo propriamente dito).

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um sentido de esperança, bem como, o de atenção permanente, ou seja, desfocar os olhos para um outro lugar seria um erro (toda preparação previamente agendada, conduz a uma verdade, ou seja, seguir os passos das informações veiculadas) ou um prejuízo ( o consumidor do espetáculo esportivo não pode desvencilhar-se de seu produto) como vemos abaixo:

[...] Dentre as modalidades de tradição e mais aguardadas pela torcida são a ginástica artística e rítmica, o vôlei, o basquete, o handebol, o futebol e o futsal [...], entre outras. [...] Para o Presidente da Federação Sergipana de Futsal, Manuel Cruz, os adversários não vão ser moleza, [...] mas mesmo com essa dificuldade a esperança que temos é que se sagre campeão’ [...] (JORNAL DA CIDADE, 13/07/2007, p. b-7).

Em Sergipe, como em todo Brasil a expectativa é grande para que os brasileiros alcancem uma boa colocação, e todos estão começando a entrar no clima dos jogos [...] (JORNAL DA CIDADE, 13/07/2007 p. b-7).

Sergipano Helinho é destaque da seleção [...] estou esperando muito que ele traga o ouro [...], pois será um prêmio muito bom para ele e para Sergipe. Comentário (COM): Fala do Presidente da Federação Sergipana de Handebol. (JORNAL DA CIDADE 14/07/2007 p. b-7).

A expectativa de conseguir uma medalha é muito difícil, principalmente no individual, tendo em vista que os canadenses, os americanos e os cubanos são muito fortes, mas na prova em equipe será mais fácil (JORNAL DA CIDADE 15 e 16/07/2007 p.3). COM: Refere-se ao ciclismo e ao atleta “manchinha”.

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A partir desta segunda-feira, outro que começa a caminha (sic) rumo à medalha de ouro é o goleiro da seleção de futsal, Rogério. Estreante no Pan, o camisa 1 do Brasil poderá trazer mais uma dourada para o estado (JORNAL DA CIDADE, 22/07/2007 e 23/07/2007 p. 2).

Apesar de o Realismo pôr os “pés no chão” quando se trata da busca da medalha de ouro, a Expectativa sobressai. Enfeitiçada/ enfeitiçando pelo momento pré-jogos, a mídia esboça em cada modalidade a esperança de obter êxito. Não dá para não ter a sensação, como leitor das matérias nos jornais, que todos os atletas sergipanos trarão uma medalha. Agendam-nos e dão-nos a esperança que a conquista é só uma questão de tempo (será?).

Preparação

A conquista numa competição não deve representar algo simples, do acaso, fortuito, ou seja, dos caprichos da Deusa Fortuna, mas necessariamente árduo, viril (ligado à Virtü), com foco e planejamento como se estivesse pensando numa guerra18. Todas as estratégias são pensadas, seja no plano

individual ou coletivo dos atletas, seja no plano econômico/financeiro. Vejamos alguns destaques:

Reforçada por um patrocínio poderoso, a Confederação Brasileira de Handebol decidiu jogar e há um ano e meio convocou dois técnicos espanhóis para não somente comandar as equipes, mas também para organizar toda a modalidade no país e criar uma “escola brasileira”. Jordi Ribeira assumiu o grupo masculino, enquanto Juan Oliver se tornou treinador do time feminino. (JORNAL DA CIDADE, 22/07/2007 e 23/07/2007 p.05). 18 Maquiavel (“O príncipe” - Editora Hemus, com comentários de Napoleão Bonaparte)

retrata o significado das deusas Fortuna e Virtü na organização do Estado e principalmente na preparação para a guerra. Aqui se percebe que Virtü, como em “O príncipe”, é o segredo para vencer as batalhas e superar os “obstáculos”.

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[...] Porém, procurou manter a forma treinando natação durante os três anos que passou longe, já que era difícil conseguir um local adequado para as outras modalidades. (JORNAL DA CIDADE 24/07/2007 p. b-7). COM: Refere-se a Wagner Romão no Pentatlo Moderno.

“Observamos” também, que esta categoria aparece com muita veemência nas matérias. Sempre que havia um comentário sobre os atletas, traziam em si (a notícia) o esforço (trabalho) árduo para atingir os melhores resultados. Como se nos dissessem que não é por “acaso” que ele (atleta) está ai. Ou seja, a Preparação é a condição sine qua non para o êxito atlético, além disso, parece-nos que o público precisa saber disto.

Todavia, não “percebemos” uma análise mais crítica e fidedigna acerca das reais condições dos atletas sergipanos que optam por treinarem em seu estado. Por que os “melhores” atletas migram para o Centro-Sul do país? Por que entre os 5 (cinco) atletas nenhum reside (e prepara-se) em seu estado? Como o poder público vê estas questões?

Talvez, as respostas bem como as perguntas sejam ingênuas, no entanto, cremos que a mídia deveria preocupar-se também com isto e não só entrar na “roda viva” do furor dos Eventos Esportivos Internacionais. Ora, se querem lutar pelo esporte que o faça por completo e não nos digam o que já sabemos!

Retrospecto

Percebemos nesta categoria que a mídia impressa local preocupou-se em trazer o passado histórico dos atletas assim como suas vitórias e derrotas anteriores, sendo os Jogos Pan-americanos um evento que celebrou o esporte nas Américas e procurou mostrar os novos heróis com suas superações e a vontade de vencer. Demonstrou-se através de suas reportagens a trajetória dos atletas com suas experiências e títulos, buscando sempre destacar as equipes as quais defendiam, bem como as participações em eventos diversos (Olimpíadas, Jogos Pan-americanos, campeonatos mundiais, campeonato de clubes, Grand Prix, entre outros). Fica evidente ser tarefa fundamental da mídia aproximar o público ao atleta, até por que alguns são completamente desconhecidos.

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[...] sergipano de 34 anos já tem uma vasta experiência e acumula vários títulos ao longo de sua carreira, que começou no ano de 1982 quando jogava nas escolinhas do SESI [...] octacampeão da liga nacional, tricampeão sul–brasileiro e hexacampeão paulista, [...] vice-campeão dos jogos pan-americanos [...] em 1999, campeão em [...] 2003 [...]. (JORNAL DA CIDADE, 14/07/2007). COM: Refere-se ao Helinho. Em 1991, integrava o Banespa, [...]. Entre 1994 e 1997 fez parte do Santa Cruz, [...]. Disputou para as equipes nacionais e atualmente, ele está numa equipe de Santa Catarina, a Joinville/ krona/DallPonte. [...]. Participou do Mundial de 2000 [...] Tricampeão da Liga Futsal [...], campeão Brasileiro de Seleções [...] e bicampeão Internacional de Clubes [...] foi Campeão da Taça America [...], Tetracampeão Sul-americano [...], Bicampeão do Grand Prix [...] e campeão dos jogos da Lusofonia [...]. (JORNAL DA CIDADE, 22 e 23/07/2007). COM: Refere-se ao Rogério.

O retrospecto, a nosso ver, ganha um caráter de legitimidade (mensagem subliminar para o leitor) para o atleta em relação ao público leitor (consumidor). Não há esse que ao ler sobre a epopéia do atleta não reconheça nele o potencial para as conquistas, pois o perfil heróico e invencível está posto. Será que contar para o leitor as proezas heróicas dos atletas é certificado aprovado e com garantia?

Ineditismo

Apesar de, no trabalho anterior,19 esta categoria denominar-se

“Ineditismo Feminino”, destacamos o caráter “inédito” representativo no discurso midiático, a exemplo de dois momentos: o primeiro, referente à técnica da seleção Brasileira de Ginástica Rítmica. Observa-se que ela 19 Ver Pires et al. (2006) e Bitencourt et al. (2005).

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obteve destaque nas reportagens do Jornal pelo fato de estar à frente de uma modalidade esportiva que havia esperança de medalhas.

O segundo refere-se ao “feito” do ciclista, em certa medida representa algo inédito, não só pelo fato do atleta carregar a tocha do Pan em sua passagem por Sergipe, mas principalmente de ser o único nordestino na sua modalidade. Vejamos:

[...], na ginástica, principalmente a rítmica, já que a seleção treina em Aracaju e a técnica é sergipana Cristina Vidal, um bom resultado também é esperado [...].(JORNAL DA CIDADE, 13/07/2007 p.b-7).

GRD: Cristina Vidal comanda a seleção nas provas de Hoje

[...] O grande destaque da Seleção Brasileira, além das ginastas, é claro é a sergipana Cristina Vidal, técnica da seleção permanente [...] (JORNAL DA CIDADE, 26/07/2007 p.b-8). A Marca do norte-nordeste: O sergipano Manchinha é o único representante da região no ciclismo de velocidade nos Jogos do Rio 2007. [...] Manchinha participou do revezamento da tocha pelas ruas da cidade e foi o único atleta do norte-nordeste classificado, nesta modalidade, para o Pan–Americano. (JORNAL DA CIDADE, 15/07/2007 e 16/07/2007 p.3). Entendemos que as modalidades Pentatlo Moderno e Canoagem – Wagner Romão e Nivalter Santos – respectivamente, são inéditas para o Estado no tocante à participação nos Jogos Pan-americanos. No entanto, a força simbólica que está nos enunciados focaliza mais a presença da Técnica da Seleção Brasileira de Ginástica Rítmica, bem como, o destaque norte-nordeste do atleta Manchinha (ciclismo).

Talvez, fosse interessante um maior destaque nessas modalidades pela mídia local. Sergipe possui um estuário propício para prática de modalidades náuticas e ainda, seria um estímulo a outras práticas que fugiriam do enraizado futebol. Será que se houvesse um volume de investimento de capital por parte dos conglomerados econômicos – que ditam o esporte no mundo – para estas práticas esportivas, a “história” nas matérias seria diferente?!

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Avaliando a participação

É notório, a partir dos recortes observados, que não há chance para a derrota dos atletas nos jogos, ou seja, somente a vitória interessa para aqueles que descrevem os feitos nos jogos. O “herói” não pode morrer, nem tampouco errar, já que a criação de um mito é importante para muito possivelmente, de acordo com os estudos de Leach apud Bitencourt et al (2005), ser utilizado a favor de interesses políticos. A seguir apresentamos a trajetória do atleta sergipano “manchinha” (que, apesar de não conseguir o êxito de ir às finais do pan-americano na modalidade ciclismo, obteve como consolo o fato de ter ficado à frente do atleta número um do ranking nacional), bem como o lamento na modalidade Pentatlo Moderno. Vejamos:

[...] Quem já competiu e não teve a mesma sorte foi o ciclista Mancha, que acabou apenas na 13ª colocação na prova de velocidade, mesmo assim foi a melhor atuação do país, visto que o outro brasileiro Fernando Firmino terminou em 14º. (JORNAL DA CIDADE, 22/07/07 p. 2).

Pentatlo: Sergipano Termina Apenas Em 11º Lugar

Os brasileiros Daniel Santos e Wagner Romão, de Aracaju, terminaram o torneio de pentatlo moderno na oitava e 11ª colocações, respectivamente. O primeiro se manteve na briga por medalha até a quinta e última prova, a corrida, em que ficou na 15ª colocação. [...] O sergipano chegou em 12º lugar na corrida, anotando 984 pontos, mas na classificação final obteve 5.076. (JORNAL DA CIDADE, 25/07/2007 p. b-8).

Para nós “observadores”, acreditamos que fosse interessante uma discussão mais ampla acerca do esporte - entrelaçado - com as competições internacionais, bem como pôr em cheque as dificuldades de ser o primeiro lugar e ainda, provar para o mundo e a si mesmo, que não se trata de (in)competência, mas que no cenário esportivo mundial o privilégio é de poucos.

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Por que a mídia esportiva analisada, não abriu/abre um possível debate com os “sujeitos receptores”/leitores sobre esta questão? No entanto, deparamos com uma “omissão” que pouco esclareceu à sociedade que não haveria chance para todos. O êxito na conquista da medalha não é apenas uma questão de competência. No universo de 5.500 atletas participantes dos jogos, somente 1.05020 subiram ao pódio, ou seja, mais de 80% (oitenta

por cento) não receberam a desejada medalha. Neste sentido, é fato que a frustração já está agendada antes mesmo da competição.

Presente Perpétuo

O “Ritual Olímpico”, ou mesmo seu espectro, ronda quase todas (não seria exagero tal expressão) as competições. O sonho de obter uma medalha olímpica persegue os sujeitos numa contemplação desmedida. Este “feito”, atributo de poucos atletas, representa o auge e apogeu do mundo esportivo/midiático. Não basta ganhar uma competição local, regional, nacional ou internacional, pois a “esperança” estará sempre rondando, como um fantasma, no sonho olímpico e depois, todo o processo se renova para continuar o presente perpétuo. É o que percebemos nas matérias do Jornal, conforme abaixo:

[...] há quase cinco anos trabalhando com o objetivo de conseguir a vitória nestes jogos e conquistar as olimpíadas de Pequim, em 2008. O duelo em busca do ouro e da vaga nas Olimpíadas de Pequim-2008 está marcado para as 10h30 deste domingo. (JORNAL DA CIDADE, 22/07/2007). COM: refere-se ao Handebol masculino.

[...] Já o próprio goleiro espera bons resultados, visando a vaga olímpica [...]. (JORNAL DA CIDADE, 22/07/2007 e 23/07/2007 p.04). COM: refere-se ao futsal.

[...] Romão administra quatro treinos entre suas tarefas diárias e seu trabalho no quartel - Preparação para Pequim (JORNAL DA CIDADE, 2007 s/p).

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De modo geral, o “sonho olímpico” está presente nas ações heróicas dos atletas brasileiros e em particular, dos sergipanamericanos. Para alguns atletas os Jogos Pan-americanos já representam um momento fascinante e magnífico, como é o caso de Nivalter Santos e Wagner Romão, pois não percebemos uma apologia às Olimpíadas. Já para outros (Manchinha e Helinho), esta é uma competição de “trampolim”, ou seja, a vaga olímpica é tão (e até mesmo mais) importante quanto a medalha de ouro.

E A TV? DISCURSOS QUE SE APROXIMAM...

O material analisado foi exibido no dia 29/12/200721 no programa

VIVA ESPORTE22. Com duração de 07 minutos e 14 segundos e denominada

“Retrospectiva do Pan 2007”, a matéria traz um panorama geral da cobertura jornalística feita pela emissora no período em que ocorreram os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro.

De maneira preliminar, a retrospectiva é iniciada com a apresentação dos “sergipanamericanos” envolvidos nos jogos, situando-os no “Pan do Brasil”. Em seguida, podemos observar 03 (três) sequências na seleção das imagens dos atletas, todas com seus respectivos depoimentos:

a) a primeira sequência aponta os atletas que não conquistaram

medalhas (Wagner Romão e “Manchinha”);

b) na segunda parte da descrição dos atletas estão os que

conseguiram medalha de bronze (Nívalter Santos e a paraense Ana Paula Scheffer – esta por ter como técnica da seleção brasileira de Ginástica Rítmica a sergipana Cristina Vidal);

c) na última descrição estão os atletas que conquistaram

medalhas de ouro (“Helinho” e Rogério Alves).

As categorias observadas na análise do material impresso dos atletas sergipanos no Pan-Americano também se encontram no discurso televisivo desta reportagem. Tratamos de observar as semelhanças nos discursos, o que de certa forma se apresenta de maneira similar nos distintos meios de comunicação. Vejamos alguns exemplos:

[...] O menor estado da federação no maior evento esportivo das Américas. Uma conquista fruto do sonho de cinco atletas e de uma 21 www.emsergipe.com (acessado em março/ 2009).

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técnica de Ginástica Rítmica. Uma aventura que motivou outro sonho: o de acompanhar com exclusividade para os telespectadores da TV SERGIPE, a trajetória dos nossos heróis “sergipanamericanos”. [...] (48”)

Na narrativa supracitada, a relação de proximidade entre os atletas com o Estado de Sergipe é muito forte, desde a introdução da matéria - quando nos apresentam os “sergipanamericanos” - até os depoimentos dados pelos mesmos, alimentando o pertencimento ao Estado de Sergipe, o que evidencia a categoria “Referência ao Local”.

[...] Pira acessa! Agora é aguardar o bom desempenho dos nossos “sergipanamericanos” e, com certeza, medalhas. A TV SERGIPE na cobertura dos jogos Pan-Americanos. [...] (1’ 35”)

A categoria “Expectativa e Realismo” apontada por último, se refere às primeiras palavras da matéria observada, trazendo o repórter local na abertura dos jogos e no discurso, já evidenciando a certeza de que as medalhas serão conquistadas pelos “sergipanamericanos”.

Para os atletas que não conseguiram suas medalhas, a desculpa que justifica o sentimento de perda é apresentada de maneira que a conquista fora apenas adiada. Isso demonstra a maneira “branda” para com aqueles que não subiram ao podium foram retratados. Vejamos um exemplo da categoria “Avaliando a Participação”:

[...] A 12ª (décima segunda) colocação na prova de velocidade, e o 5º (quinto) lugar na prova de velocidade olímpica, acabou adiando o sonho de medalhas. Mas, não diminuiu a emoção de “manchinha” de fazer parte do “pan” do Brasil. [...] (1’ 57”)

No que diz respeito à categoria “Ineditismo Feminino”, a primeira e única mulher sergipana evidenciada não se trata de uma atleta, mas sim de uma técnica de Ginástica Rítmica. O destaque é observado no início da matéria, em que são apresentados os cinco atletas sergipanos com o

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acréscimo da técnica Cristina Vidal, a partir da conquista da medalha de bronze pela paraense Ana Paula Scheffer. O repórter ao entrevistar a atleta, traz a sergipana para o foco de discussões pelo fato da conquista.

Mesmo com vários destaques de que a medalha já está aparentemente ganha pelo discurso televisivo, de todas as participações citadas a categoria “Preparação” só emerge no discurso da atleta Ana Paula Scheffer que treinou “[...] um ano e meio, e foi graças ao trabalho da Cristina, técnica sergipana, que eu consegui [...], e a técnica Cristina Vidal apontando que foi [...] o resultado de muito esforço, tanto das ginastas quanto nossa [...]”.

Diante da categoria intitulada “Presente perpétuo” os “heróis” esportivos precisam estar presentes no cotidiano e devem gerar uma expectativa para que possamos estar atentos aos seus passos. Claramente observamos a chamada para o próximo grande evento esportivo, as Olimpíadas de Pequim, em que atletas sergipanos também se fizeram presentes. Vejamos a chamada:

[...] nós temos 04 bons motivos para comemorar: duas medalhas de bronze, duas medalhas de ouro. 04 bons motivos para continuar dizendo: e Viva o esporte. Rivando Góis, cobertura dos jogos Pan-Americanos para a TV SERGIPE. Até a próxima! Ano que vêm tem olimpíada e “viva o esporte”. Podemos observar que a matéria comporta um duplo papel: o retrospecto da participação dos atletas sergipanos no Pan Rio-2007, apresentando as conquistas de medalhas; e ao mesmo tempo o agendamento para as Olimpíadas de Pequim em 2008, já que a participação de atletas “sergipanamericanos” era esperada no maior evento esportivo do planeta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS? O DIÁLOGO ESTÁ SÓ COMEÇANDO...

O destaque desses atletas durante o Pan Rio 2007, no Jornal de circulação local, evidencia sua estreita relação com a participação nos Jogos, pois não percebemos em outros momentos sequer uma informação ao público que eles estariam na competição, ou mesmo, independentemente do Pan, serem importantes na constituição do esporte sergipano/brasileiro.

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O Evento Internacional representa a “deixa” para se mencionar as cinco modalidades, ou seja, quando vamos ouvir falar novamente de Wagner Romão? Não pela sua modalidade (Pentatlo Moderno) que é rara e quase inexistente no Estado de Sergipe, mas devido a esse atleta residir em outra Região (sul do país) há um bom tempo e, ao que parece, ter sido forjado no momento do Pan como sergipano do dia-a-dia, constantemente presente em nossos cotidianos. O próprio Nivalter Santos (Canoagem) configura-se como um sujeito “estranho” em nosso contexto. No entanto, pelo fato de conseguir uma medalha (bronze) e também a vaga olímpica, ouviremos “soar” seu nome no meio midiático, mas até quando?

Diante das categorias analisadas na mídia impressa, podemos observar muitas semelhanças com o enfoque dado pela mídia televisiva em seu discurso veiculado. É claro que esta é apenas uma primeira aproximação e necessita de “olhares” mais pontuais, já que a TV alcança um número maior de pessoas em nosso cotidiano. Acreditamos que se abre um leque de possibilidades de pesquisa, como por exemplo, análises do discurso midiático ou estudos de recepção a partir das manifestações do fenômeno esportivo no Estado de Sergipe.

A lógica do esporte (hegemônico) institucionalizado, marcado pela ótica do processo de mercadorização, que tem a mídia como aliado inseparável e que se materializa no Olimpismo – aqui Jogos Pan-americanos – impede que esses “heróis”, a nosso ver construídos através da mídia, apareçam em outros momentos/contextos da vida esportiva sergipana, ou seja, sem a competição, portanto, exigência de classificação para tal, eles são apenas espectros, até por que o tempo do entretenimento passou e à procura por novos heróis recai em outras possibilidades – presente perpétuo – da Indústria Cultural. Imediatamente à desclassificação ou eliminação da competição, morrem-se os “heróis”.

Os estudos desenvolvidos por Pires et al. (2006) e Bittencourt et al. (2005) sobre os atletas catarinenses nas olimpíadas de 2004, foram significativos para que percebêssemos a lógica do discurso midiático - a partir das categorias elaboradas - nas matérias veiculadas nos jornais. É evidente que outras categorias surgirão, principalmente por entendermos que a dialética não é estática e acompanha o devir humano. Portanto, é crucial que continuemos “observando” os fenômenos que nos cercam, principalmente os do campo esportivo.

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REFERÊNCIAS

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Prática. Vol. 8, nº 1, jan/ jun, 2005.

BRACHT, Valter. Sociologia Crítica do Esporte: uma introdução. UFES: Vitória 1997.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

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FAUSTO NETO, Antônio. Agendamento do esporte: uma breve revisão teórica e conceitual. Revista da Comunicação. São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 2002.

MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Editora Hemus, 1996. MEZZAROBA, Cristiano. Os Jogos Pan-americanos Rio/2007 e

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PIRES, Giovani De Lorenzi; SILVA, Mauricio Roberto. Do Pan RIO/2007 à Copa 2014 no Brasil. Que Brasil? E para qual Brasil? Revista Motrivivência

(editorial), ano XVIII, nº 27 p. 09-17, Dezembro 2006.

THOMPSON, John B. A Mídia e a modernidade: Uma teoria social da mídia. Petrópolis/RJ: Vozes, 1998.

TV SERGIPE. Retrospectiva do Pan 2007 (programa exibido no dia 29/12/2007). Disponível em www.emsergipe.com. Acessado em março/2009.

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