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o depósito do modelo industrial n. 4600, destinado

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Cópias da sentença do 7.° juízo cível da comarca de Lisboa e dos acórdãos da Relação de Lisboa e do Supremo Tribunal de Justiça proferidos no processo de depósito do modelo industrial n.° 4600.

A Sociedade de Aglomerados de Carvão, L.da, com sede nesta cidade, na Rua da Madalena, 75, 1.°, inter- pôs o presente recurso do despacho do Ex.mo Director- -Geral do Comércio, de 17 de Novembro de 1953, publicado, em 31 de Maio de 1954, no Boletim da Pro- priedade Industrial n.° 11, em que foi concedido o depósito do modelo industrial n.° 4600, destinado à classe 62.ª, requerido pela Empresa Carbonífera do Douro, L.da, com os fundamentos seguintes:

Que, por ser proprietária do modelo n.° 3964, da classe 62.ª, n.° 562, requerido, e m 25 de Março de 1947, para "briquete", cuja novidade consistia quer na forma de u m paralelogramo de cantos arredondados, quer na de secções lenticulares convergentes, se sente prejudi- cada, visto o modelo industrial cujo depósito foi conce- dido à Empresa Carbonífera do Douro se destinar igual- mente a "briquete" e à mesma classe e consistir "na

forma rectangular abaulada e de cantos arredondados e em apresentar sulcos transversais paralelos e dispos- tos simètricamente em relação à linha mediana do briquete " ;

Que os desenhos dos modelos, postos em confronto, conduzem a manifesta confusão, havendo o propósito da Empresa Carbonífera do Douro de copiar o modelo da recorrente, introduzindo apenas uns sulcos como disfarce;

Que o § único do artigo 40.° do Código da Proprie- dade Industrial estabelece que nos modelos industriais é apenas protegida a forma sob o ponto de vista geomé- trico ou ornamental e o artigo 50.° desse código refere- -se a elementos essenciais, o que autoriza a supor a exis- tência de elementos secundários, e o artigo 62.° desse diploma manda recusar o depósito quando exista depó- sito anterior de modelo confundível com o do pedido; Que, por se tratar de uma reprodução, visto as figa- ras geométricas serem iguais, foi igualmente feita a

concessão ;

Que, por virtude de ter legitimidade, de o foro ser competente e idóneo o meio empregado, solicita provi. mento a este recurso, por forma a ser recusado o depó- sito do modelo da Empresa Carbonífera do Douro, com

todas as consequências l e g a i s Juntou documentos.

Depois de observado o disposto no artigo 206.° do Có- digo da Propriedade Industrial e de o processo ter ido com vista ao Sr. Dr. Delegado, a Empresa Carbonífera do Douro, L.da, pretendeu que lhe fosse dada vista do processo, o que foi recusado, pelos motivos constantes do despacho referido a fi. 23.

Agora cumpre dicidir; e assim:

Considerando que a recorrente é proprietária do mo- delo industrial n.° 3964, da classe 62.ª, n.° 562, reque- rido em 25 de Março de 1947 e concedido em 10 de Março de 1948, para " briquete" ;

Considerando que este modelo consiste na forma de u m paralelogramo de cantos arredondados;

Considerando que em Novembro de 1953, por despa- cho do Ex.mo Sr. Director-Geral do Comércio, foi con- cedido o depósito do modelo industrial n.° 4600, desti- nado à elaisee 62.ª e à Empresa Carbonífera do Douro, L.da ;

Considerando que este modelo, que foi concedido à dita Empresa Carbonífera do Douro, se destina tam- bém a " briquete" e à classe 62.ª;

Considerando que a sua forma, atentos os desenhos juntos, quase se confunde com o formato do modelo da recorrente;

Efectivamente:

Considerando que as formas geométricas desses dois modelos podem perfeitamente induzir em erro, por se- rem susceptíveis de se confundir;

Considerando que os sulcos apresentados no modelo da Empresa Carbonífera do Douro são suficiente dis- tinção dos dois modelos;

Considerando que a lei protege essencialmente o mo- delo quanto à sua forma sob o ponto de vista geoimé- trico ou ornamental;

Considerando que no cotejo dos modelos a forma geo- métrica é realmente confundível, e não sòmente seme- lhante;

Considerando, desde que assim seja, que o depósito do modelo industrial da Empresa Carbonífera do Douro devia ter sido recusado, nos termos do n.° 4.° do artigo 62.° do Código da Propriedade Industrial, visto existir o depósito anterior do modelo da recor- rente ;

Pelo exposito e mais de lei aplicável se concede pro- vimento a este recurso, revogando-se o douto despacho recorrido do Ex. mo Director-General do Comércio, re-

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cusando-se o depósito do modelo da Empresa Carboní- fera do Douro, L.da, com as necessárias consequências.

Fixo o valor em 50.001$. Sem custas.

Notifique, registe e cumpra-se oportunamente o ar- tigo 210.° do citado Código da Propriedade Industrial. Lisboa, 3 de Janeiro de 1955. - José Luís de Sousa Júnior.

Está conforme.

Lisboa, 22 de Abril de 1958. - O Chefe da Secção, (Ilegível).

Registo do acórdão proferido nos autos cíveis de ape- lação, com o n.° 5673, vindos da comarca de Lisboa, 7.° juízo cível, em que são apelante Empresa Carbo- nífera do Douro, L.da, e apelado o director-geral do Comércio (Sociedade de Aglomerados de Carvão, L.da).

Acórdão a fl. 130.

Nestes autos de apelação em que são recorrente a Empresa Carbonífera do Douro, L.da, e recorrida a Sociedade de Aglomerados de Carvão, L.da, levantou esta última, na sua contra-alegação, a questão prévia de se não poder conhecer do recurso por não ter legiti- midade para ele a recorrente.

Ouvida a apelante, sustentou ela a sua legitimidade. Cabe decidir.

A apelada não tem razão. Foi o presente processo instaurado nos termos dos artigos 203.° e seguintes do Código da Propriedade Industrial. Concedido por des- pacho da Direcção-Geral do Comércio o depósito do modelo industrial requerido pela Empresa Carbonífera do Douro, L.da, contra o qual havia reclamado a Socie- dade de Aglomerados de Carvão, L. da, recorreu esta última entidade para o competente tribunal de comarca, onde o referido despacho foi revogado, e é da sentença que assim decidiu que vem a presente apelação, trazida pela empresa que, havendo obtido na Direcção-Geral a concessão do depósito, depois se viu privada dela Este simples enunciado já de si inculca a legitimi- dade da apelante para o recurso, dado o seu interesse directo e manifesto na decisão que venha a ser profe- rida. O artigo 209.° do Código da Propriedade Indus- trial diz que da sentença do tribunal de comarca podem as partes apelar. A palavra "partes" compreende todos aqueles que directamente sião beneficiados ou prejudi- cados com a concessão ou recusa da patente, depósito ou registo em causa.

Com efeito, depois de no artigo 203.° se dizer que dos despachos por que se concederem ou recusarem pa- tentes, depósitos ou registos haverá recurso para o tri- bunal da comarca de Lisboa, no artigo 204.° esclarece-se que são partes legítimas para recorrer o requerente e os reclamantes e ainda qualquer pessoa que, não tendo reclamado perante a Repartição da Propriedade In- dustrial, seja directamente prejudicada pela concessão. Ora são precisamente essas pessoas que assim podem recorrer para o tribunal de comarca quando prejudica- das com a concessão ou a recusa pela Direcção-Geral do Comércio, que depois também podem recorrer para os tribunais superiores quando as decisões judiciais lhes forem desfavoráveis. E se dúvidas pudesse haver - jus- tificadamente não as h á - sobre a aplicabilidade, con- forme os casos, do artigo 204.° aos recursos permitidos pelo artigo 209.°, então ter-se-ia de atender ao disposto no artigo 680.° do Código de Processo Civil, como

norma subsidiária que seria.

Segundo esse artigo 680.°, a agora apelante, como requerente que é do depósito do modelo industrial - precisamente o depósito que está em discussão -, pode recorrer da sentença ao tribunal da comarca, ou por ser havida como parte principal que ficou vencida, ou por, embora não devesse ser considerada parte prin- cipal, ter sido directamente prejudicada com a decisão. Alega a apelada, em defesa do seu ponto de vista, que a apelante não pode ser considerada parte principal, visto que se não fez representar, por procuração, no processo de recurso senão depois de remetido a juízo o processo administrativo. Este facto é verdadeiro mas não tem relevância. Primeiro, porque, como se viu, mesmo quem não é parte principal pode recorrer, se com a decisão for directamente prejudicado; segundo, porque a apelante já era parte principal no processo, na sua qualidade de requerente do depósito em ques- tão, ao tempo em que foi proferida a sentença do tribunal de comarca, pois que já então havia juntado aos autos procuração a advogado e requerido para nele ser houvida (isto sem necessidade de apreciar agora se ela devia ser considerada parte principal por ser a requerente do depósito, mesmo quando ainda não estava representada no processo de recurso).

Ainda a apelada invoca o que se passa no processo criminal, com a intervenção dos assistentes, dizendo que é uma situação idêntica. Mas não há qualquer pincípio legal nem razão de lógica que permita ver identidade de situação num e noutro caso e que auto- rize a aplicação a este processo cível das regras do pro- cesso penal.

Por estes fundamentos julga-se improcedente a ques- tão prévia suscitada e decide-se conhecer da apelação, por a apelante ter legitimidade para a interpor.

Ficam a cargo da apelada as custas deste incidente, devendo liquidar-se o imposto de justiça por u m oitavo, nos termos do artigo 38.° do Código de Custas Judi- ciais e ter-se em atenção como valor de processo o fixado na 1.ª instância.

Lisboa, 1 de Julho de 1955. - Sousa Monteiro - Alves Monteiro - Dá Mesquita.

E s t á conforme.

Lisboa, 6 de Julho de 1955.

Registo do acórdão proferido nos autos cíveis de apelação n.° 5673, vindos da comarca de Lisboa, 7.° juízo cível, em que são apelante a Empresa Carboní- fera do Douro, L.da, e apelada a Sociedade d.e Aglome- rados de Carvão, L.da

Acórdão de fi. 144.

A Empresa Carbonífera do Douro, L.da, pediu, em 2 de Novembro de 1950, o depósito de u m modelo in- dustrial de "briquete". O pedido teve o n.° 4600 e o modelo destinava-se à classe 62.ª, com o n.° 648. Recla- mou a Sociedade de Aglomerados de Carvão, L.d, pro- prietária do modelo industrial pedido sob o n.° 3964, destinado à mesma classe, com o n.° 562, também de " briquete", e concedido em 10 de Março de 1948. O fun- damento da reclamação foi o de aquele primeiro modelo ser uma reprodução do segundo, nos seus elementos essenciais, e, por isso, dar origem a confusão. Não foi considerada justificada a oposição, pelo que, por des- pacho de 17 de Novembro de 1953, foi concedido o de- pósito pretendido.

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Desse despacho recorreu a Sociedade de Aglomerados de Carvão, L.da, para o tribunal da comarca de Lisboa, onde foi proferida a sentença que, dando provimento ao recurso, revogou o despacho da Direcção-Geral do Comércio e recusou o depósito do modelo industrial. Apela, agora, dessa sentença a Empresa Carbonífera do Douro, L.da

Ambas as partes alegaram e juntaram documentos. E, como a apelada tivesse levantado a questão prévia da inadmissibilidade do recurso por falta de legitimi- dade da recorrente, foi lavrado o acórdão de fl. 130, que julgou improcedente essa questão, visto a apelante ter legitimidade para recorrer.

Cumpre conhecer da apelação.

É ela justificada. A protecção dispensada pela lei aos modelos industriais respeita à forma deles sob o ponto de vista geométrico ou ornamental e estende-se não só aos modelos novos, como também aos que, não o sendo inteiramente, realizam combinações novas de elementos conhecidos, ou disposições diferentes de ele- mentos já usados, que dêem aos respectivos objectos aspecto geral distinto (artigos 40.°, § único, e 43.° do Código da Propriedade Industrial).

N o caso vertente, o modelo que a apelante deseja ver admitido em depósito não é novo. Estão as partes con- cordes a esse respeito, e assim é realmente, como re- sulta do disposto na segunda parte do § 1.° do ar- tigo 51.° daquele código e das publicações juntas aos presentes autos. Mas, embora não seja inteiramente novo, e não obstante conter elementos já conhecidos ou usados, apresentará ele u m aspecto geral distinto, sob o ponto de vista geométrico ou ornamental? Da resposta afirmativa a esta pergunta derivará a admissibilidade do modelo ao depósito, por não se verificar nenhum dos casos em que este deve ser recusado. Se a resposta dever ser negativa, o depósito terá de ser recusado, porque o modelo em causa será confundível com outro deposi- tado anteriormente e permitirá que se exerça, inten- cionalmente ou não, concorrência desleal (artigos 62.°. n.° 4.°, e 187.°, n.° 4.°, ambos do citado código).

A confundibilidade do modelo da apelante só está discutida em relação .ao modelo da apelada anterior- mente depositado. Entendeu a Direcção-Geral do Co- mércio, em concordância com a Repartição da Proprie- dade Industrial, que essa confundibilidade não existe; de opinião contrária foi a sentença agora em recurso. Reconhece-se nesta Relação que o melhor entendimento foi o daqueles organismos oficiais.

Com efeito, o confronto do modelo da apelante com o da apelada revela, por u m lado, u m elemento comum - o de, quando vistos de flanco, representarem duas secções lenticulares convergentes -, mas também mos- tra, por outro lado, que os demais elementos essenciais são muito diferentes, o que faz com que u m dos mo- delos seja de aspecto geral distinto do do outro.

Na verdade, e do ponto de vista geométrico, notam-se as seguintes diferenças sensíveis: o modelo da apelada é de dimensões muito superiores às do modelo da ape- lante, e, enquanto aquele primeiro modelo tem uma projecção horizontal nitidamente rectangular, apenas com os cantos ligeiramente arredondados, o outro mo- delo só vagamente tem idêntica projecção, pois que os seus topos não são rectilíneos, antes são acentuadamente curvos. A este propósito não pode deixar de se notar que o desenho apresentado pela apelada com a sua re- clamação no processo administrativo apenso não está, pelo que respeita à projecção horizontal do modelo da apelante, de harmonia com a realidade, porquanto apresenta a parte média dos topos como sendo em linha recta, quando ela o é em linha curva. Ainda sob o ponto de vista geométrico, uma outra diferença se nota, aliás pouco importante: a resultante dos sulcos

ou ranhuras que se vêem no modelo da apelante e não existem no da apelada.

Passando ao aspecto ornamental, verifica-se a dife- rença que provém desses sulcos ou ranhuras - dife- rença que, se é de pouca monta, como ficou dito, no tocante ao aspecto geométrico, já é da maior impor- tância quanto se atenta na feição ornamental dos refe- ridos modelos. De facto, esses sulcos, bem visíveis. contrastam de maneira pronunciada com a lisura que caracteriza o modelo da apelada.

De tudo isto se conclui que o modelo em causa tem u m aspecto geral distinto do do modelo n.° 3964, per. tencente à apelada, e que, portanto, não é confundível com ele e não torna possível a concorrência desleal.

Por esse motivo, concedendo provimento ao recurso, revoga-se a sentença apelada e confirma-se o despacho da Direcção-Geral do Comércio, de 17 de Novembro de 1953, que deferiu o pedido do depósito do modelo da Empresa Carbonífera do Douro, L.da, n.° 4600.

Custas pela apelada.

Fixa-se o valor do processo em 50.001.$.

Observe-se oportunamente o determinado no ar- tigo 210.° do Código da Propriedade Industrial.

Lisboa, 2 de Dezembro de 1955. - Sousa Monteiro- A. Monteiro - Dá Mesquita.

Está conforme.

Lisboa, 7 de Dezembro de 1955. - (Assinatura ile- gível).

Processo n.° 56 776. - Autos de revista vindos da Relação de Lisboa. Recorrente a Sociedade de Aglome- rados de Carvão, L.da, recorrida a Empresa Carbonífera do Douro, L.da

Acordam, em conferência, no Supremo Tribunal de de Justiça:

A Sociedade de Aglomerados de Carvão, L.da, com sede na Rua da Madalena, 75, 1.°, desta cidade, recor- reu, ao abrigo do artigo 203.° do Código da Propriedade Industrial, do despacho do director-geral do Comércio, de 17 de Novembro de 1953, constante do Boletim da Propriedade Industrial n.° 11, publicado em 31 de Maio de 1954, que concedeu o depósito do modelo industrial n.° 4600, destinado à classe 62.ª, requerido pela Em- presa Carbonífera do Douro, L.da, com sede na Praça de D. João I, 25, 5.°, da cidade do Porto.

Fundamentou-se em que é proprietária do modelo industrial n.° 3964, também da classe 62.ª, requerido em 25 de Março de 1947, para «briquete», cuja novidade consiste, quer na forma de u m paralelogramo de cantos arredondados, quer na de secções lenticulares conver- gentes.

E o modelo industrial cujo depósito foi concedido pelo despacho recorrido, além de se destinar também a «briquete» e à mesma classe, consiste na forma rectan- gular abaulada e de cantos arredondados e em apresen- tar sulcos transversais, paralelos e dispostos simètrica- mente em relação à linha mediana do briquete.

Ora as formas geométricas empregadas em ambos os modelos dão lugar a manifesta confusão.

Quis-se copiar, reproduzindo-o, o modelo de que recorrente é legítima proprietária.

Além da mesma forma rectangular, utilizaram-se também as duas secções lenticulares convergentes, que caracterizam o modelo depositado pela recorrente.

Para disfarce, apenas se introduziram uns sulcos no modelo agora apresentado.

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Este é, na sua forma geométrica, igual ao da recor- rente, e só aquele é susceptível de protecção.

Os sulcos são apenas elementos secundários, de ne- nhuma influência na distinção dos dois modelos.

Procurou-se, por isso, obter u m modelo confundível com o da recorrente, para estabelecer uma concorrência desleal.

O modelo em causa foi ilegalmente concedido, de- vendo, por conseguinte, ser revogado o despacho recor- rido, por forma a recusar-se o seu depósito.

Por sentença do M.mo Juiz do 7.° juízo da comarca de Lisboa, foi concedido provimento ao recurso e revogado o despacho recorrido, recusando-se o depósito do mo- delo da Empresa Carbonífera do Douro, L.da

Porém, em recurso de apelação por esta interposto foi essa sentença revogada por acórdão da Relação de Lisboa, que confirmou o despacho recorrido da Direc- ção-Geral do Comércio.

Desse acórdão traz agora a Sociedade de Aglomerados de Carvão, L.da, o presente recurso de revista, pedindo que se confirme a sentença da 1.ª instância.

Na sua contraminuta pede a recorrida Empresa Car- bonífera do Douro, L.da, que se negue a revista, confir- mando-se o acórdão recorrido.

Tudo visto e ponderado:

Consoante resulta do preceituado nos artigos 40.°, § único, 43.° e 62.°, n.° 4.°, do Código da Propriedade Industrial, nos modelos industriais protege-se apenas a forma sob o ponto de vista geométrico ou ornamental, ainda que não se trate de modelos inteiramente novos, mas que realizem combinações novas de elementos conhecidos, ou disposições diferentes de elementos já usados, desde que dêem aos respectivos objectos aspecto geral distinto; só será recusado o pedido se se reconhecer que existe depósito anterior do modelo ou desenho con- fundível com o do pedido.

É, por conseguinte, essencial que os objectos apre- sentem aspecto geral distinto e, portanto, insusceptível de confusão com outro modelo anterior.

A decisão recorrida dá como certo não ser novo o modelo industrial de briquete cujo depósito foi reque- rido e que o seu confronto com o anteriormente deposi- tado pela recorrente revela, por u m lado, u m elemento comum - o de, quando vistos de flanco, representarem duas secções lenticulares convergentes; mas também mostra, por outro lado, que os demais elementos essen- ciais são muito diferentes, o que faz com que u m dos modelos seja de aspecto geral distinto do outro.

E acentua que, do ponto de vista geométrico, se no- tam as seguintes diferenças sensíveis:

a) 0 modelo da recorrente é de dimensões muito superiores às do modelo da recorrida; b) Aquele tem uma projecção horizontal nìtida-

mente rectangular, apenas com os cantos ligeiramente arredondados;

c) 0 modelo da recorrida só vagamente tem idên- tica projecção, pois os seus topos não são rectilíneos, e antes acentuadamente curvos; d) No modelo da recorrida vêem-se sulços ou ra-

nhuras, que não existem no da recorrente. E, sob o aspecto ornamental, salienta a diferença que provém desses sulcos ou ranhuras, que, se é de pouca monta quanto ao aspecto geométrico, é de maior impor- tância quando se atenta na feição ornamental dos dois modelos, porquanto esses sulcos, bem visíveis, contras- tam de maneira pronunciada com a lisura que caracte- riza o modelo da recorrente.

Trata-se, como é óbvio, de matéria de facto, sobre que este Supremo Tribunal não pode exercer censura e inteiramente tem de acatar.

Dela concluiu a Relação que o modelo em causa, cujo depósito foi pedido pela recorrida, tem u m aspecto geral distinto do modelo n.° 3964, pertencente à recorrente, e não é, portanto, confundível com ele e nem torna pos- sível a concorrência desleal.

E a outra conclusão não pode chegar este Supremo Tribunal, em face de tais elementos de facto.

A recorrente, porém, argumenta que a contrafacção se afere não pelas diferenças, mas pelas semelhanças existentes entre os dois modelos, considerados em rela- ção ao comprador profano, que apenas procede a u m exame superficial. E, assim, existe sério risco de confu- são entre os dois modelos, dada a similitude das suas características predominantes, pois que ambos adop- taram o rectângulo abaulado como forma geométrica comum e secções lenticulares convergentes; e em ambos foi reivindicado, como elemento característico, o arre- dondamento dos cantos.

Mas é de notar ter a decisão recorrida salientado que, além de o modelo da recorrente ser de dimensões muito superiores às do modelo da recorrida, ele tem uma projecção horizontal nitidamente rectangular, com os cantos ligeiramente arredondados, enquanto o modelo da recorrida só vagamente tem idêntica projecção, por os seu topos serem acentuadamente curvos; e no da re- corrida existem sulcos ou ranhuras, bem visíveis, a con- trastar de maneira pronunciada com a lisura que carac- teriza o modelo da recorrente.

Assim, e ao contrário do que alega a recorrente, o arredondamento dos topos não constitui detalhe sem relevância, uma vez que num dos modelos é ligeiro e no outro acentuadamente curvo, do que resulta uma pro- jecção horizontal diferente.

Relativamente às dimensões, entende a recorrente ser elemento irrelevante na concessão de u m modelo indus- trial, porquanto, como deriva do artigo 4.° e § único, apenas é protegida a forma sob o ponto de vista geo- métrico ou ornamental, mas não as dimensões ou a estrutura.

Com ser assim, não deixa, todavia, esse elemento de contribuir para dar u m aspecto geral distinto aos mo- delos e evitar a confusão com outro, sobretudo quando u m tenha dimensões muito superiores às do outro, como sucede no caso vertente.

Quanto aos sulcos ou ranhuras, que a recorrente con- sidera insuficientes para tornar distinto o modelo da recorrida, por se tratar de detalhe pouco marcante e que tende a desaparecer com a baldeação a que estão su- jeitos os briquetes, vem provado serem eles bem visí- veis e contrastarem de maneira pronunciada com a lisura do modelo da recorrente.

Não se trata, pois, de uma dissemelhança secundária, como pretende a recorrente, mas sensível e que muito contribui para impedir a confusão entre os dois mode- los, por lhes dar aspecto geral distinto, como vem pro- vado em matéria de facto.

Bem se decidiu, portanto, no douto acórdão recorrido, ao concluir que o modelo cujo depósito foi pedido pela recorrida não se confunde com o da recorrente, nem torna possível a concorrência desleal.

R e f e r e ainda na sua minuta a recorrente - como pela primeira vez fizera na contra-alegação perante a 2.ª instância - que o modelo da recorrida não é novo, o que o destitui de qualquer protecção legal.

E acrescenta não ser ele mais do que a reprodução completa de u m modelo de briquete constante de u m catálogo alemão que juntara aos autos com aquela contra-alegação.

Todavia, a recorrida, quando foi ouvida sobre a jun- ção desse documento, alegou ser esse modelo de briquete muito diferente do seu, como o simples confronto per-

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mitiu verificar; e que desse mesmo documento constava u m modelo exactamente igual ao da agora recorrente. O acórdão sob recurso salientou que não era novo o modelo que a recorrida desejava ver admitido em depósito e que as partes estavam concordes a esse res- peito, citando o § 1.° do artigo 51.° do referido código. Segundo este preceito, não se considera novo o mo- delo que tenha sido descrito em publicações de modo a poder ser conhecido e explorado por peritos na espe- cialidade.

Mas, embora não seja inteiramente novo, e não obs- tante conter elementos já conhecidos ou criados, como se acentuava no acórdão recorrido, aquele modelo apre- sentava u m aspecto geral distinto, sob o ponto de vista geométrico ou ornamental, como derivava dos factos que dava como provados.

De resto, e conforme dispõe o artigo 43.°, não só gozam de protecção legal os modelos novos, mas tam- bém os que, não o sendo inteiramente, realizem combi- nações novas de elementos conhecidos, ou disposições diferentes de elementos já usados, que dêem aos respec- tivos objectos aspecto geral distinto.

Na sua contraminuta sobre esse ponto de carência de novidade a recorrida faz notar que os modelos de briquetes usados em todo o Mundo apresentam uma base de semelhança determinada pelo processo técnico de fabrico e que nem por essa circunstância em todo o Mundo deixaram de aceitar-se depósitos de modelos in- dustriais, desde que apresentem aspecto geral distinto. Ora este deu-o como provado, em matéria de facto da sua competência, o douto acórdão recorrido quanto ao modelo em causa.

Nestes termos, negam a revista e confirmam a decisão recorrida, com custas pela recorrente.

Lisboa, 24 de Maio de 1957. - Eduardo Coimbra - A. Baltazar Pereira - A. Sampaio Duarte - A. Gon- çalves Pereira - Lopes Cardoso.

Este acórdão transitou em julgado.

Secretaria do Supremo Tribunal de Justiça, 8 de Junho de 1957. - O Chefe da Secção, (Ilegível).

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