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DE CIEhICIAS SOCIAIS
PSICOLOGIA
E,XPRE,
O
DE,
UM
SOI\{HO
E,M
COM
IITCAPACIT}ÀDtr
Cristina
Paulos Gonçalves
Prof. Doutor
Paulo
Miguel
da Silva
Cardoso
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rI]Mestrado eÍn Psicologia
Area de especialização: Psicãlogia da Educação
UE 172 a O ()" r l-r \J (n O -) d Êr 1
T['S
Baneins da Caneira em UniversitárÍos com lncapacidade
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Doutor Paulo Miguelda Silva Cardoso, pela prontidão, disponibilidade,
encorajamento, conhecimento
e
espírito cientifico com que me orientou na realizaçãodesta dissertação.
À
Doutora Maria João Velez, pela ajuda
na
recolha
da
amostrae
peladisponibilidade demonstrada.
À professora Quinita pelo apoio na edição de texto.
À Mariana Pinheiro, pela ajuda com o lnglês e paciência demonstrada.
Aos participantes por tomarem possível este estudo, pela sua colaboração.
À
Joana, por ter sido um dos apoios fundamentais nesta fase da minha vida,por nunca ter deixado de acreditar que seria cÂpaz.
A
todos
os
meus amigos pelas
sugestõesdadas, pela tolerância,
peloencorajamento prestado e por terem acreditado na minha capacidade.
A
todosos
acreditaramna
minha capacidadepara
realizareste
trabalho etambém aqueles que não acreditaram, o meu muito obrigado.
À minha Íamília em geral, em particular às "minhas" Marias pelo apoio prestado
e por acreditarem no meu esforço e capacidade.
Aos
meus paise
ao meu
irmãoa
quem dedico este trabalho, por tomaremBaneiras da Carreira em Universitários com lncapacidade
"Na êxpressão dê um
sonho"
Barreiras dacarrêira
emuniversitários com
incapacidade
Resumo
Este
estudo
teve como
objectivo analisar
a
percepçáo
de
bareiras
aodesenvolvimento
da caneira
num grupode
estudantes Universitários portadores deincapacidade. Participaram 19 estudantes de 3 estabelecimentos de Ensino Superior,
com idades compreendidas entre os 19 e os 45 anos. Responderam
a
uma entrevistasemi-estruturada que avaliava a percepção de baneiras e de sistemas de apoio ao seu
desenvolvimento
da
careira no
passado,no
presentee
no futuro. Os
resultadosobtidos
evidenciam dimensõesde
estabilidadee
de
mudançana
percepção debarreiras:
as
persistentesnos três
momentos avaliativose
as
específicasa
essesmomentos. Também revelam que as pessoas significativas
e
as ajudas pedagógicassão
os tiposde
apoio ao desenvolvimentoda
carreiramais
referidos. Os resultadossão discutidos quanto às suas implicações para a prática e às perspectivas que abrem
à investigação do desenvolvimento da carreira desta população.
Palavras-chave:
Percepçãode
Baneirasda
Carreira, Incapacidade, Sistemas de ApoioBarreiras da Caneira em Universitários com lncapacidade
"A
dream'sêpression":
Caree/s
barriers in disableduniversity students
Abstract
The aim of this study is to examine bamiers perception to career development in
a
group
of
disabled university students. Nineteen studentsof
three
institutions ofcolleges participated, aged between nineteen and forty five years. they responded to a
semi-structured interview
that
appraised support systems andbariers
perception totheir career
developmentin
past, present and future. The results show
barriersperception's change
and
stability dimensions:the
persistentin
the three
analisedmoments and those specific to these moments. lt also reveals that the most said career
development's types
of
supportare
significant personsand
pedagogicalaids.
Theresults are discussed regarding their implications
for
practice and prospects that openfor research career development of this population.
Barreiras da Caneira em Universitários com lncapacidade
íttorce
Parte
teórica
lntrodução
Gapítulo
l:
Deficiênciaou
incapacidade1.1 Classificação dos conceitos deficiência e incapacidade...
1.2 Populaçáo com incapacidade em Portugal....
7
. ... ...11
Capítulo
ll:
O desenvolvimento da carreira2.1 Contributo da teoria de Donald 13
2.1.1 Ateoria ciclo de vida/espaço de
vida...
...142.2O
Contributo da teoria SócioCognitiva..
...18 2.3 Desenvolvimento da carreira em pessoas portadoras de incapacidadeuma visão geral . ..21
Capitulo
Ill:
Barreiras da carreira em pessoas portadoras de incapacidade3.1 O conceito de barreiras da carreira...
3.2 A importância dos Sistemas de apoio, como forma de transpor a percepção de barreiras da carreira
3.3 A importância do trabalho como um apoio central ao desenvolvimento
pessoale da
carreira...
...29.24
Barreiras da Caneira em Universitáios com lncapacidade
Parte empírica
Gapítulo
lV
-
Estudo Piloto
-
Desenvolvimento de entrevista semi-estruturada
sobre
percepção de barreiras em pessoasportadoras
de incapacidade4.1 Estudo
Piloto...
...33
4.1.1 Desenvolvimento da Entrevista... 33 36 ...37 39 38 4.1.2 Participantes 4.1.3 Procedimento4.1.4 Registo das entrevistas..
4.1.5 Análise e resultados das entrevistas..
5. Estudo Principal
-
Percepção de barreiras da carreira em estudantespoÉugueses do ensino superior...
5.1 Participantes... .. . . ...38
5.1.1 lnstrumentos...
5.1.2 Procedimentos...
5.1.3 Registo das entrevistas e transcrição...
5.1.4 Metodologia de análise das entrevistas
5.1.5 A análise das entrevistas...
5.2 Análise e Discussão dos Resultados.
5.2.1Baneiras da Caneira no Passado....
5.2.2 Baneiras da carreira no Presente... ... ... ... .
5.2.3 Baneiras da caneira no Futuro..
.41 40 52 ...42
,..,.,..,52
...64
,,..74Baneiras da Carreira em Universitários com lncapacidade
5.2.4 Cruzamento de dados relativamente às barreiras
(Uma visão desenvolvimentista das barreiras da caneira)..'
'
...
... . -. .825.2.5 Diferenças entre as incapacidades e as representa@es
que têm das barreiras à sua
caneira...
...89
S.2.6Apoiosidentificadospelosparticipantes...
...915.3 Reflexões/Propostas ... ..
5.4 Limitações do estudo
5.5 Conclusões ...
Referências bibliográficas... ... .
Anexo
l-
Convite de participação em estudo piloto....98
...100
...101 ...103 Anexos ...1tAnexo ll- Entrevistas de Estudo piloto...
Anexo
lll-
Entrevistas de Estudo Principal.. XVII!Baneiras da Caneira em Universitários com lncapacidade
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
-
População Portuguesa com incapacidade por níveis de ensino ....12Barreiras da Carreira em Universitários com lncapacidade
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Síntese dos dados qualitativos
Passado...
...53Tabela 2- Dados quantitativos Passado .57
Tabela 3- Síntese dos dados qualitativos
Presente...
....65Tabela 4- Dados quantitativos Presente ..68
Tabela 5- Síntese dos dados qualitativos Futuro.... 74
Tabela 6- Dados quantitativos Futuro. 76
Tabela 7- Dados quantitativa dos sistemas de
apoio...
... ... ... ..91Baneiras da Caneira em Universitáios com lncapacidade
Tema:
Percepção de Barreiras da Carreira em EstudantesUniversitários
Portadores de lncapacidade
l -
lntrodução
O direito à educação é conhecido como um direito universal.
Em 1948 a Declaração Universal dos Direitos do Homem publicada pela ONU,
elege no Artigo 260 o direito à educação no ensino superior para todos.
Toda
a
pessoa tem direito
à
educação(..)
o
acesso aos
esÍudossupeiores
deve
estar abertoa
todos em plena igualdade, em função doseu mérito. (Artigo 26.0 nol)
Em todos os graus de ensino tem havido entrada de alunos com incapacidade,
(resultado da democratização
e
do movimento de educação inclusiva, quejá
vinha adar condições para que estes alunos pudessem ser integrados).
Os estudantes Universitários com incapacidade têm feito grandes progressos,
contudo, a transição da escola para a faculdade
e
da faculdade para o trabalho temsido muito difícil (Conyers & Szymanski, 1998). Os momentos de transição envolvem
novas adaptações o que, por vezes, se revela difícil para a população em estudo. Os
estigmas sociais
são
verdadeiros entravesà
integração socialdos
estudantes emcausa.
No
Ensino Superior tem-se
constatadoque
o
número
de
alunos
comincapacidade, ao abrigo
do
contingente especial, tem vindoa
aumentar. Adoptandocomo referência
o
númerode
candidatosao
Ensino Superior colocados através doreferido contingente, na 1.4 fase do concurso nacional, verifica-se que o mesmo subiu
de
187 para
207,nos anos
lectivosde
200312004para
200412005.(Gabinete daSecretária
de
EstadoAdjunta
e
da
Reabilitação, Secretariado Nacionalpara
aReabilitação
e
lntegração das Pessoas com Deficiência, 2006).A
presença de alunosportadores
de
incapacidadenas
Universidadesé
ainda considerada minoritária. Háalunos
que
não conseguem chegara
este
nívelde
ensinoe
há
outros queo
nãoconseguem
concluir.
Estudos realizados noutros países, demonstram que os alunosportadores de incapacidade, apresentam uma taxa elevada de desistência neste nível
de
ensino
(Fernandes&
Almeida,2007).
Em
Portugal,são
escassosos
dadosBarreiras da Caneira em Universitários com lncapacidade
Os
estudantes
que
mais frequentam
este
nível
de
ensino
são
alunosportadores
de
incapacidadevisual
e
motora (Femandes
&
Almeida, 2007).
Apopulação
deste estudo comporta outros
tipos
de
incapacidadepara além
datendência apontada por estes autores.
Segundo Ferrari
&
Sekke!, (2007,p. 643)
"aindaé
escassaa
produção depesguisas
bem como
a
implantaçãode
políticaspara
a
inclusãode
pessoas comdeficiência
no
ensinosupeior'
dadose tratar
de
uma população ainda minoritárianeste nível de ensino. É pertinente investigar as condições em que esta integração se
faz.
Neste sentido,o
estudo sobre percepçãode
baneirasda
caneirae
sobre
os apoios que estes alunos têm no Ensino Superior, podem contribuir pam a fundação denovas políticas visando uma intervenção promotora
de
igualdadede
oportunidades.Podem também alertar para a necessidade dos profissionais, terem em conta no seu
processo
de
Orientação Vocacionale
Profissiona!a
percepçãode
barreiras que osseus clientes com incapacidade podem ter ao desenvolvimento das suas carreiras.
Em algumas Universidades públicas
já
existem alguns apoios, nomeadamentejá
se
encontrama
funcionar gabinetesde
apoioaos
estudantes com incapacidade,mas
o
seu
númeroé
manifestamente insuficiente, chegandoa
ser
inexistente nasinstituições de Ensino Superior privadas (Gabinete da Secretária de Estado Adjunta e
da Reabilitação, Secretariado Nacional para
a
Reabilitaçáoe
lntegração das Pessoascom Deficiência, 2006).
A
chegada destes alunos ao ensino superior pressupõe queexistam
mecanismosde
apoio
que
possamfazer
a
integraçãoe
que
consigamcolmatar algumas
das
neeessidade educativasque estes alunos possuem.
Esteaspecto já é existente é tido em conta em outros níveis educativos. Está subjacente o
sentido de igualdade de oportunidades, @nceito este
que,
significao
processo peloqual os diversos sistemas da sociedade e o meio envolvente, se tornam acessíveis a
todos
e, em
especial,às
pessoas com incapacidade (Secretariado nacional para areabilitação e integração das pessoas com deficiência, 1995).
A
igualdade
de
oportunidades
é
um
ponto
necessário
ao
longo
do desenvolvimento da carreira destas pessoas.!
E de primordial importância que o ingresso destes alunos neste nívelde ensino
e a
sua
integraçãono
mundodo
trabalhosejam feitas
em
boas
condições. Aspopulações consideradas minoritárias têm enfrentado várias discrimínações injustas
no que toca ao emprego
e
as pessoas com incapacidade não são excepção (Jones,Baneiras da Caneira em Universitários com lncapacidade
torna
prevalenteaos
estereótiposque
se
encontram associadosàs
pessoas com incapacidade.A
educação Universitáriaé
importantepara
todos.
Permiteatingir
metaspessoais, competir
no
mercadode trabalho
e
contribuirpara
a
independência esegurança financeira (Fichten, 1998). Sendo estia um direito para todos, este estudo
exploratório pretende caracterizar
e
perceber quala
percepção de barreiras que estapopulação sente
pam
o
desenvolvimentodos seus p§ectos futuros.
Nesta base,procuÍamos
ter
umavisão
mais abrangentedo
problema investigandoo
passado,presente e futuro.
Para efeitos desta investigação, foram considerados os alunos portadores de
incapacidade sensorial (visual
e
auditiva), portadoresde
deficiência motora,multi-deficiência e paralisia-cerebral.
A
presença de pessoas com incapacidade no Ensino Superior torna-se assimum novo desafio pois vem Ievantar algumas questões relativas ao seu percurso como
estudantes
e
à sua transição para o mundo do trabalho. "Career guidance for personswith
disabitities isan
interesting and important field of study for a numberof
reasons".(Soresi, Nota, Ferrari & Solberg, 2008, p.413).
Depreende-se assim que os objectivos desta tese de mestrado são:
a)
ldentificar Bareiras da Carreira em estudantes universitários portadores deincapacidade;
b)
ldentificar sistemas de apoio ao desenvolvimento da carreira em estudantesuniversitários portadores de incapacidade;
c)
Estudar diferenças entre tiposde
incapacidade quanto às percepçôes quetêm das barreiras ao seu desenvolvimento de caneira'
O trabalho que se segue, é o desenvolvimento de um estudo que procurou uma
compreensão
da
percepçãode
barreirasda
caneiraque
podemestar
presentes aolongo do desenvolvimento profissional e dos apoios que estes percepcionam, baseado
numa
metodologia
de
investigação qualitativa
e
descritiva.
Estas
"pesgur'sasqualitativas
não
atendema
um
foco central, definidoem
formade
hipÓteses, masseguem as necessrdades
e
demandas gue se criam no processo de conhecimento elevam
a
construções teóicas cada vez mais abnngentes para construir interacções eBaneiras da Caneira em Universrtários com tncapacidade
Neste
sentído, optou-sepor uma
metodologia qualitativa, procu6lndoir
deencontro
à
realidade da população estudada, procurando as experiências vividas porcada partÍcipante.
Este trabalho desenvolve-se nos seguintes capítulos:
r1
a
O
Capítulol,
que se intitula Deficiência
ou
incapacidade,
onde seprocura perceber as diferenças entre esses dois conceitos,
procurando--se obter um conceito mais abrangente, funcional
e
não pejorativo quecaracterize
a
população estudada. Ainda neste capítulo, procura-se daruma breve ideia sobre a população com incapacidade em portugal que se encontra a frequentar o ensino superior.
o
capitulo ll, denomina-se Desenvolvimento da carreira e procura daruma visão alargada do desenvolvimento da carreira, focando-se numa
abordagem desenvolvimentista. Procurando no
final ir de
encontro àsespecificidades
da
populaçãocom
incapacidade, procurando assimfazer
uma pequena abordagemao
desenvolvimentoda
carreira em pessoas com incapacidade.o
capitulolll,
que tem como título Barreiras dacarreira em
pessoasportadoras de
incapacidade, procura fazer um esclarecimento do queé o
conceitode
baneirasda
carreira e das variáveis que podem estarassociadas a este conceito. Depois foca também os sistemas de apoio,
e
de
que forma
os
sistemasde
apoio
podemajudar
a
ultrapassaralgumas barreiras da carreira. Este capitulo termina com
a
importânciado trabalho como um sistema de apoio central no desenvolvimento das
carreiras
profissionais,dando
primeiramenteum
enfoque geral
eprocurando
depois
abordaro
tema do trabalho
na
população comincapacidade.
o
capitulo
IV conespondeà
parteempírica
deste trabarho, onde sãoapresentadas
a
diferentes
fases nas
quais
esta
investigação foidesenvolvida.
comporta também
as
propostasque
surgem
desteestudo para a prática, as limitações e as conclusões a que se chegou.
a
a
Os
alunos portadoresde
incapacidadeque
conseguem ingressarno
EnsinoSuperior,
já
são triunfantes, pois esta entrada tem subjacente um ultrapassar de váriasBaneiras da Caneira em Universitáios com lncapacidade
como esse percurso se continua a desenrolar neste nível de ensino e que baneiras à
progressão
da
sua caneira estes vão percepcionando. Por outro lado, acredito queapesar
de
estarmos perante uma população minoritária, esta possui igualdade dedireitos à educação. Este
é
um aspecto que não pode ser esquecido, pois se existemesforços em outros níveis
de
ensinopan
que estes alunos consigam progredir nassuas caÍreiras profissionais. Não podemos deixar de olhar para a continuidade desse
percurso. Estaríamos assim a negligenciar os frutos do próprio esforço educativo, que
pretende ser promotor de igualdades.
Desta forma, encaro que o estudo aqui presente pode servir para alertar sobre
as necessidades desta população e levar a uma reflexão sobre o percurso académico
e
profissional destes alunos.Não existe melhor forma de perceber as necessidades do outro, que não seja a
Baneiras da Carreira em Universitáios com lncapacidade
Capítulos
l-
Deficiênciaou
incapacidadeNeste
primeiro capítulo
pretende-se
dar
uma visão
do
conceito
dee
de
incapacidade, procurando chegara
um
consenso, qualdos
conceito mais seadequa a este estudo e à visão do mesmo. Também procuro apresentar alguns dados,
indicadores de como
é
a distribuição destes alunos por nível de ensino em Portugal,como já foi referido, os dados existentes sobre esta população são muito escassos.
1.1 Classificação dos conceitos deficiência e incapacidade
Abordar
as
barreiras
da
caneira
na
população portadorade
deficiência ouincapacitada, implica definir o conceito de deficiência
e
percebera
possível evoluçãoque este conceito tem sofrido
ao
longo do tempo, uma vez que,as
barreiras podemmudar em função da deficiência ou incapacidade.
Existe alguma complexidade
na
definiçáodo
conceitode
deficiência. SegundoMashaw
e
Reno (1996cit. por
Burkhauser&
Houtenville,2003)
a
adequação dequalquer definição de deficiência depende da finalidade para
a
qualé
utilizada. Paraestes autores, existem mais
de
vinte definições de deficiência, utilizadas como basepara
diferentes
propostase
para
diferentes enquadramentos.Estas
definiçôesvariadas demonstram que a deficiência
é
uma construçãosocial,
enraizada na vidacultural, social, política, jurídica e económica dos países.
Existem
várias
tentativas
de
definir, descrever
e
qualificar
as
diferentesdeficiências.
Os
modelosmais
usados para definira
deficiênciasão
os
"modelosmédicos" e os "modelos sociais".
Quando existe um foco médico,
a
deficiênciaé
geralmente concebida como umproblema
da
pessoa,como
consequênciade
uma
doença, existindouma
ópticaindividual do problema. Este modelo pressupõe que seja
o
indivíduoa
adaptar-se aomeio onde está inserido. Esta perspectiva
da
deficiência, fez com queao
longo dotempo houvesse uma política
de
deficiência/incompetência. Esta visão tradicional edeterminante
foi
criando
uma
imagem social
e
profissionalque
tende
a
serdesvalorizante.
No
seguimentodesta lógica muito
individualizadado
sujeito
comdeficiência, foram criadas várias instituições especiais que visavam
a
educaçãoe
otrabalho destas pessoas.
São
conhecidos
os
efeitos
segregadoresque
estaperspectiva médica tende
a
produzir, principalmente em algumas esferas da vida eBaneiras da Caneira em Universitários com lncapacidade
Secretária
de
EstadoAdjunta
e
da
Reabilitação, Secretariado Nacionalpara
aReabilitação e lntegração das Pessoas com Deficiência, 2006).
Na perspectiva médica, "deficiência representa qualquer perda ou anormalidade da
estrutura ou função psicológica, fisiológica
ou
anatómr'ca" (Secretariado Nacional deReabilitação, 1995a p.35). No mesmo sentido vai
a
proposta de definição mais citadana literatura do seguinte autor, que define deficiência como " a condition of impairment,
physical or mental, having an objective aspect'Hamilton (1950, p.17 cit. por Brodwin,
Parker & DeLaGarza, 2003 p.202).
A
partir
dos anos
80, em
Portugal, começarama
emergir
novos
quadrosconceptuais que Íazem parte dos "modelos sociais", onde é valorizado o papel do meio
ambiente como
um dos
factoresque
podelevar
à
incapacidadee
como possívelcausador
de
baneiras,físicas
e
sociais.A
ideia
de
incapacidadenão
é
apenaspertencente
há
pessoa
mas
encontra-seenvolta
num
ambiente complexo
deinfluências. Esta
incapacidadevem
alertar
para
a
existênciade
igualdade deoportunidades e de uma sociedade onde deve prevalecer o cumprimento dos direítos
Humanos. Deste ponto vem a necessidade do conceito de inclusão social.
Podemos
encontrar
várias tentativas
de
classificar
as
deficiências,as
queconsideram mais uma vertente médica, da qual é exemplo o Diagnostic and Statistical
Manual
of
Mental Disorders (DSM-|V). E por outro ladoa
Classificação lnternacionalde
Funcionalidade, lncapacidadee
Saúde (ClF),que por
suavez está
ligada aoscomponentes de saúde. O conceito de saúde presente nesta classificação é tido como
bastante abrangente, porque envolve diferentes sectores de vida, relacionando-os com
factores
de
bem-estar nomeadamentea
educaçãoe
o
trabalho.O
objectivo centraldesta
classíficaçãoprende-se
com
a
criação
de
uma
linguagem unificada
epadronizada,
uma
estruturade
trabalhopara
a
descriçãoda
saúdee
de
algunsestados ligados à saúde (ClF, 2004).
Esta, encontra-se bastante ligada ao termo de funcionalídade, pois está presente
em todos os
domíniosda
classificação.Por sua vez,
o
termo
incapacidade estárelacionado com
as
deficiênciase
limitaçõesna
realizaçãode
actividades.O
termoincapacidade representa assim os aspectos negativos relacionados com
a
interacçãoentre
o
indivíduo,as suas
condiçõesde
saúdee
factores contextuais. Os factorescontextuais envolvem
assim
parâmetros ambientaise
pessoais.No
ponto opostoencontramos o @nceito de funcionalidade que conesponde aos aspectos positivos da
BarreinsdaCarreiraemlJniversitárioscomlncapacidade
A
clF
organiza.se segundo
duas
partes,
cada
uma
composta
por
doiscomponentes:
a)
Funcionalidadee
incapacidade(funções
do
corpo
e
estrutura
do
corpo;actividades e ParticiPação).
b)
Factores contextuais (factores ambientais, factores pessoais)'Os factores ambientes, devem ser tidos em conta uma Vez que estes agentes
podem ter influência sobre a funcionalidade
e
incapacidade nomeadamente sobre asactividades
e
participaçãodas
pessoasem
sociedade.No ambiente
podem serencontrados
alguns
obstáculostanto físicos como
atitudinaisos
quais,
podemconstituir baneiras ou facilitadores para
a
progressão da carreira destas pessoas''A
introdução
da
ctassificaçãodos
factores ambientais,quer
em
termosde
baneiras comode
elementos facilitadoresda
participação social, assumem um papel relevante,dado que
é
premissa fundamental deste modeloo
reconhecimentoda
influência domeio ambiente, como elemento facititador
ou
como baneira, no desenvolvimento dafuncionalidade
e
participação da pessoacom
incapacidade" (Gabineteda
Secretáriade
Estado Adjuntae
da
Reabilitação, secretariado Nacional paraa
Reabilitação elntegração das Pessoas com Deficiência, 2006, p'16)'
É
importante salientarque
a
CIF não
classifica pessoas,mas
descreve asituação
de
uma
pessoa dentro
de
uma
gama
de
domíniosligados
à
saúde'interligando com oS factores ambientais
e
pessoais onde essa pessoa está incluída'dando assim
uma
percepçãomais
abrangentedo
indivíduo'o
enfatizar
destaclassificação prende-se com
as
suas concepçõese
considera@esna
avaliação dasdeficiências
e
coma
introdução da dicotomia, funcionalidade/ incapacidade' Pareceimportante neste estudo,
uma
Vezque
pretendemos perceberque
barreiras estesalunos percepcionam
e
que podem dificultara
sua funcionalidadee os
movimentosnecessários para o seu desenvolvimento da sua carreira.
segundo
a
clF
(2004, p.14) "deficiências são problemasnas
funçõesou
nasestruturas
do
corpo, tais como, um deSviO importante Ou uma perda", cOntudo o termOdeficiência não
tem
subjacenteo
papel importanteque
o
meio ambiente pode ter'dando assim uma conotação meramente biológica e muito próxima do modelo médico
anteriormente mencionado.
Neste sentido
"fodos
os
esforços
deverão ser
empreendidos
a
diferentes nívers paraa
adopçãodo
termo incapacidade' enquantotermo
genéico
que engtobaos
diferentes níveisde
timitações funcionais relacionadoscom
a
pessoae
o
seu
meio ambiente,para
referiro
estatuto funcional da pessoaBarreiras da caneira em universitários com rncapacidade
de saúde e o seu meio físico
e
sociaf'(Gabinete da Secretária de Estado Adjunta e daReabilitação, Secretariado Nacional
para
a
Reabilitaçãoe
lntegração
das
pessoascom Deficiência, 2006, p.Z2 )
Neste sentido, consideramos neste estudo o conceito incapacidade como uma
forma
de
representaras
particularidadesda
população aqui estudada, uma vez queeste conceito se apresenta muito mais abrangente que o conceito de
deficiência e não
se denota tão pejorativo. Por outro lado, a sua abrangência permite perceber como
o
meio pode
ter
influência sobre as próprias condições queesta população apresenta,
acentuando
assim as
suas incapacÍdades.o
estudoda
percepçãode
bageiras na
caneira, poderá indicar de que forma
o
meio exterioro
meio sociat podem contribuirpera o desenvolvimento de
bareiras
à progressão da caneíra. As baneiras existentespoderão ser entendidas como potenciais factores de exclusão sociat, podendo
negar-{hes
o
direito
e
o
a@ssoà
participaçãonos
mais variados meiose
conteúdosexistentes na sociedade portuguesa.
A
incapacidade pode variar em gravidade, tiposde
limitações, idadeem
quesurge' Estes aspectos podem afectar
o
ajustamento sociale
criar estigmas sobre ashabilidades da pessoa com incapacidade. Um indivíduo que possua uma incapacidade
desde
o
nascimento,pode
desenvolvermelhores
estratégiaspara
enfrentar osobstáculos que lhes vão surgindo. Mas, também podem desenvolver
ao
longo da suavida, uma motivação
e
um comportamento limitante, resultado das suas experiênciasprecoces
(Jones,
1997).Por sua vez,
quandoa
incapacidadeé
adquiridana
vidaadulta, podem
existir
mais
dificutdadespara
desenvotverestratégias
que
thespermitam lidar com as suas incapacidades.
Outro aspecto que
tambémse denota
nestaárea
é
o
facto
de
díferentesincapacidades comportarem diferentes limitações,
o
que implica queo
esforço pararealizar determinadas tarefas, seja diferente. Na população estudada pode haver um
leque vasto
de
barreiras à progressão da sua carreira, podendo este facto estar,em
parte,
relacionadocom as
incapacidadesque
possuem. Existea
possibilidadedas
diferentes limitações poderem afectar a capacidade do indivíduo para avançar na sua
caneira, (Jones, 1997) "aspecto este que de uma forma bastante sintética também nos
encontramos a tentar verificar.,,
Para
uma
melhor
percepçãoda
popuraçãodeste estudo, importa
agoraperceber qual a dimensão desta população em Portugal
e como esta se comporta em
termos
de
níveis
de
ensino, aspectoeste
que
procuramos demonstrarno
pontoBarreiras da Carreira em lJniversitários com lncapacidade
1.}-População com incapacidade em Portugal
Revela-se importante perceber
a
dimensão desta populaçãoem
Portugal, deforma
a
conseguirter
uma
perspectivada
dimensãode
alunosque
conseguemingressar no Ensino SuPerior'
Estudos reatizados
com
INIDD
(lnquérito Nacional
às
lncapacidades,Deficiências
e
Desvantagens)em
1994e
como censo
(Recenseamento Geral daPopulação)
em
2001,tentam
mostrara
percentagemde
população portadora deincapacidade
em
Portugal. segundoo censo
2001, na faixa etáriados
16aos24
apopulação
total
é
de
1.352.106e
a
populaçãocom
incapacidadeé
de
47'886,conespondendo a uma taxa de 3,54 % da população. Na faixa etária dos 25 aos 54 o
total da população
é
de 4.396.336 enquantoa
população portadorade
incapacidadeconespond
e
a228.687, conespondendo a uma taxa de 5,2o/o'Os
dadosdo
INIDDsão um
pouco diferentes, dadasas
características doinstrumento utilizado,
a
populaçãocom
incapacidade apresenta-seassim na
faixaetária dos
16
aos24 de 3,7 % da população total enquanto para a faixa etária dos 24aos 54 anos a percentagem é de 6,410/o. EStes estudos apresentam dados para outras
faixas etárias mas
optou-sesó
por
considerarestas faixas etárias uma vez
quecorrespondem
ao
intervalode
idades representadono
presenteestudo. Não
foipossível encontrar dados mais recentes uma vez que os Censos só serão novamente
efectuados em 2011, não havendo ainda uma actualiza@o dos dados apresentados.
Dada
a
percentagemde
populaçáo com incapacidade em Portugal,procurou-se
também
perceberqual
a
sua
distribuiçãopelos
diferentesníveis
de
ensinonomeadamente no Ensino Superior, contudo existem poucos dados que caracterizem
a
incidênciadestes alunos neste nível
de
ensino. Não existindo muito
dadosdisponíveis
sobre
se
tem oconido uma
evoluçãono
seu
ingresso,nem
quantaspessoas ingressam por ano nestes estabelecimentos'
Sabe-se
que
o
númerode pessoas
com incapacidadeno
Ensino Superiorpode não ser um número oficial uma vez que, alguns alunos, optam por não divulgar a
incapacidade
junto
dos serviços académicos dosseus
estabelecimentosde
ensino(Femandes & Almeida, 2007).
Segundo dados do INE de 2001 37o/o da população portadora de deficiência ou
Barreiras da Carreira em l,Jniversitários com lncapacidade
Figura: 1
População Portuguesa com incapacidade por níveis
de
ensino.: i:::a : I '.--,. i'.ri r'. i . r:.: r-':"1.'
H.lir::.rtlilx
l,*g,S ii'E:,§ *.1,X,C,!iIif âfi :'r §:f,ilr rfiiixjÍ{,tg,S
E*ei*t ;fr.*ü,I:ir
Etgit* §e,§iifi: gÉi!'i§ ;tÊ Cicl+ Ensi$* sgs..to
f C,*,* 8lr,si.r,* *É,s,ca tÉ t;eir iein. EÉe{fie
:iÉ.':a â.:
*:81
Z}
p,Se,:fif .n :LtE:l q,lrg:1 g.tg 11
i'.i-3c sE*e ler i.;gf,,
ffi,=tí.g,tr'g,r
I\ ,, F,:
i. j í., ê-j
I Fr Buier;ât ç:r;iEr c.e,f: t:iêxg:i:Ei
;§ Fi. ,prt;eçi!,r l;E:Xi**l-r:tq tl.tel
Fonte: lNE, Recenseamento Geral da poputação 2o0l
"A
distribuição da poputação segundoo
nívelde
ensino completo,ou
seja,considerando apenas
os
indivíduos
que
concluíram
com
aproveitamento umdeterminado nível e
iá
não se encontrama
estudar, permite confirmar queo
10 ciclo doensino básico era o
nível
mais importanbentre
esta poputação" (Gonçalves, 2001 p.80).
A
populaçãocom
incapacidadeque
consegue ingressarno
ensino
superiorapresenta-se bastante reduzida, facto este que pode ser verificado na figura
l.
Neste sentido, de encontro ao que já vem sendo referido, estamos perante uma
população considerada minoritária no Ensino superíor.
Seguidamente, procuro fazer uma abordagem a alguns fundamentos teóricos,
que podem ajudar na compreensão dos processo de desenvotvimento
da carreira em
geral.
Estes fundamentospoderão
ajudara
contextu alizara
percepção de baneirasda carreira que pode estar presente nesta população em estudo.
W
':ii:iiii:ii'i, i: I l ,..tr,, ,,,i,irBarreiras da Carreira em lJniversitarios com lncapacidade
Capitulo
ll - O desenvolvimento da CarreiraNeste capítulo procura-se dar uma visão do desenvolvimento da carreira e de
algumas compreensões teóricas que se encontram ligadas
a
esta temática' Poderãoser um aspecto importante
para
a
compreensão do desenvolvimento da carreira empessoas portadoras de incapacidade.
2.1
Contributo
dateoria
de Donald SuperAs
primeiras teorias sobre desenvolvimento da caneira surgiram no início doséc.
XX.
Estas teorias iniciais tinham como objectivo adequar as características dosindivíduos, às características
da
função a desempenhar num dado local. Estávamosassim perante a concepção da Teoria de Traço Factor, onde a centralidade era dada
às
aptidões,aos
interessese
às
característicasda
profissãode
modoa
permitirchegar
ao
ajustamentodas
características pessoaiscom
as
da
profissão. Estaconcepção
apresentauma
visão
muito limitada
das
escolhas
da
carreira'
poisconsiderava-as como pontuais
e
não consideravama
dinâmicado
desenvolvimentopessoal.
A partir da década de 1950, ocoÍre uma alteração no enfoque das teorias sobre
o comportamento vocacional. As escolhas vocacionais passam a considerar mais que
a
comparação entre as características pessoaise as
característicasdas
profissões,para ser concebidas como um processo que ocorre ao longo do ciclo de vida, mediado
pelos
vários contextos sociaisem que
a
pessoase
move. Esta
ruptura deve-se,fundamentalmente à perspectiva ciclo de vida/ espaço de vida de super (1957, 1990)'
A
adopção do modelo de Super como um dos que fundamentam teoricamenteeste
trabalho
prende-secom
os
seguintes aspectos,porque:
í)
neste
trabalhopretende-se
ter
uma
compreensão dinâmicae
alargadado
desenvolvimento dacarreira em estudantes portadores de incapacidade
e
considera-se que este modeloapresenta uma perspectiva alargada do ciclo de vida;
2)
náo podem ser deixadas delado
as
diferentesfases
do
desenvolvimentoda
carreirapelas
quaisas
pessoaspassam, pois
tal
permite indicadorespara
situaro
comportamento vocacional noquadro
do
desenvolvimentoglobal
do
indivíduo;3)
permite indicadores quanto àpreparação
dos
indivíduoscom
incapacidadepara
lidarem
com
as
tarefas
deBarreiras da Carreira em lJniversitários com lncapacidade
pessoas com incapacidade no quadro geral dos diferentes papéis que
a
sua caneiraenvolve
e
5)
é
uma das teorias
mais estudadastendo
uma elevada credibilidadecientífica.
A
perspectiva desenvotvimentista permite,assim, uma visão situada
nummomento
e
num espaçodo
papel da percepção das baneiras no desenvotvimento decareira
das pessoas com incapacitada.2.1.1 A teoria
ciclo
de vida/espaço de vidaPara Super (1990)
os
indivíduos passam por várias fases, onde os processosde transição de uma fase para outra não apresentavam limites rígidos, uma vez que
estas transíções dependem da resolução de algumas tarefas. lnicialmente, etaborou o
modelo do arco-íris (Figura 2) que apresenta as diferentes fases e papéis da
careira,
para além deste facto este modeto representa duas dimensões primárias de tempo e
de espaço, que serão discutidas mais adiante.
Fig ura: 2 Llca'mri*x,* t rs §.tt***i;*r*it í{i.-{tirr$r*E Sir:ir'*i'tr:íyyii;,;r íi+t*hrl*riru$:ilr í:.1;:iir*ç:.üa: t...se.sei*t*liul t, l* í Jt ! t-.
Ir*ss,r, s,jli $da * Iijiirl*eç
ll*l**rniru**lrs
Fss$*ili*, Pxic#*gir:;ir
t Hirr§rlgi,c;r* §*biil-er, * Fi:-ser {tâ :11íd*
Atlodelo do Arco-Íris da carreira
Adaptado de Super, D. E. (1990). "A life-Span Lif+space approach to career development, ln. Brown, D.,
& Brook, L' (Eds.), Career choice and development: Apptying con temporary theoies to practice(2nd ed.)
(pp.212). San Francisco: Jossey Bass.
Baneiras da Caneira em tJniversitáios com lncapacidade
Como
se
pode observar,
às
diferentes
fases
conespondem momentoscronológicos que não podem ser assumidos rigidamente:
a)
crescÍmento (entre os 4 eos
13 anos) esta etapa conesponde a quatro tarefas essenciais, interrogar-se sobre ofuturo, aumentar
o
controlo sobrea
sua própria vida, adquirir boas atitudese
hábitosde
trabalho,b)
exploração (entreos
14e
os 24
anos) conespondeà
cristalizaçâo,especificação
e a
implementação deuma
escolha profissional. Esta fase pressupõeque
exista uma exploraçãodas
profissôese
que nofinal
consigam especificar umaescolha profissional, que deve traduzir o conceito de si profissional e a sua
vocação. c)
estabelecimento
(
entreos 24
e
os 44)
onde estãoas
tarefasde estabilizar
umaposição profissional, de consolidar essa posição profissional.
d)
manutenção (entre os44
e
os 65) esta fase pode-se designar por uma mudança ou um estabelecimento namesma profissão. Por Último Super considera
e)
descompromisso (depois dos 65)dá--se
o
planearda
reformae o
desacelerar das actividades profissionais (Super, 1g5T;1980).
De acordo com este modelo podemos situar a população deste estudo na fase
de
exploração, umavez que
algunsdos
alunosse
encontrama
terminaros
seuscursos
e
os alunos trabalhadores estudantes, tenderãoa
preocupar-se com algumasdas tarefas da fase de estabelecimento.
Este modelo
não só
perspectiva longitudinalmentea
caneira como tambémconcebe
a
sua dimensão latitudinal, istoé,
representa todoo
espaçode
vidae
ospapéis
que
o
sujeito assumeao
longoda vida
comojá
foi
referido anteriormente(Super
&
Sverko,
1995).A
dimensão latitudinal representaa
vida
e
os
papéisdesenvolvidos, por sua vez a dimensão espacial diz respeito à situação social em que
o
indivíduovive. Estas
dimensões presentesno
arco-íris permitem conceber, asdiferentes fases de vida, de forma
a
coincidirem coma
infância, adotescênciae
vidaadulta dos
indivíduos,dando assim uma
perspectiva desenvolvimentista. Reflectecomo as pessoas mudam e fazem transições que visam concretizar e reflectir os seus
papéis de vida (Super, Savickas & Super, 1996).
Esta
perspectiva desenvolvimentistaabriu
importantes perspectivaspara
a
prática
da
Psicologia Vocacional,ao
remeterpara
a
importânciade
desenvolveratitudes e comportamentos que permitem aos indivíduos lidarem com os desafios que
a caneira coloca e com as barreiras que se colocam. Para operacionalizar tais atitudes
Baneiras da Caneira em lJniversitários com lncapacidade
vocacional. Este foi definido como a prontidão individual afectiva e cognitiva para lidar
com as diferentes tarefas de desenvolvimento (Super, 1990)'
A
maturidade vocacionalfoi
operacionalizadaem
cinco dimensões
1)
oplaneamento da caneira, que nos mostra na prática, a capacidade da pessoa planear,
projectar
o
seu futuro, sentirque
podeestar
no futuro, identificandoa
auto-estima,autonomia
e
perspectiva temporal,2) a
exploração da caneira que permite mostrar,quais as matérias, para as quais os sujeitos mostram mais interesse, a
forma
comoestimula
o
conhecimentode
si e
do
que
o
rodeia,a
curiosidade, participação eutilização
de
recursosem
orientação,3\
a
informação;se tem
informação sobre omundo do trabalho, se tem informação sobre as profissões, e se sabe que papel deve
desempenhar
em
cada profissão que quer, como se informa,4)a
tomadade
decisãoestá ligada com as escolhas que vão tendo que fazer ao longo da sua carreira e, 5) o
realr.smo
dos
seus
projectos,que
envolve uma
complexidadede
elementos jádesig nados nas ca racte rísticas a nterio res (Super, 1 974)'
Com
a
introduçãodo
conceito maturidade vocacional, Super contribuiu parauma compreensão alargada do desenvolvimento vocacional na infância
e
no início daadolescência
(Pinto,
2OO4).Mais tarde
veio
a
designar
esse
conceito
deadaptabilidade, possibilitando conceber
o
desenvolvimento da carreira em adultos. Aadaptabilidade está relacionada com as atitudes, competências e comportamentos que
os indivíduos utilizam para lidar com as mudanças que vão acontecendo relacionadas
com o trabalho.
A
adaptabilidadeé
a qualidade de ser capaz de mudar, sem grandedificuldade,
para
conseguir estarem
novas circunstâncias (Savickas, 1997). Com aadição
do
conceito
de
adaptabilidade,
super
procurou evidenciar
que
odesenvolvimento
da
carreira nãoé
linear, implica múltiplas transiçõesque,
por suavez, exigem novos ciclos de exploração, estabelecimento
e
manutenção como formade permitir a adaptação dos indivíduo aos contextos de mudança (super, 1990).
Esta ideia, permite perceber que
ao
longo da carreira, existem processos quese vão repetindo, porque Íazem parte de um processo de adaptabilidade às mudanças
que vão surgindo. Perante um mercado de trabalho cada vez mais imprevisível
e
emconstante mudança, o conceito de adaptabilidade ajuda
a
perceber como hoje em diaas
pessoas conseguemlidar com as tarefas de
desenvolvimentoda
sua
carreira,mostrando que
as
realidades de hojejá
não são carreiras linearese estáveis.
Estaconceptualizaçáo do desenvolvimento da carreira, permite reflectir,
se os
estudantesportadores
de
incapacidadese
encontram preparadospara
lidar comas
tarefas deBarreiras da Caneira em universitários
am
tncapacidadede trabalho. O conceito de transição aqui presente, também demonstra como devemos
estar atentos às novas tarefas que cada fase pode comportar, investigando
se
cadamomento
de
transição
não
comporta
consigo baneiras
específicas
aodesenvolvimento da caneira.
Como
foi
referido,
a
conceptuatizaçãodo
desenvolvimentoda
caneira,apresenta-se
com um
carácter dinâmico, umavez que
concebeas
transições queocorrem
de
umafase
para outracomo
mini-ciclos que envolvemum
processo dereciclagem, dentro
de
um maxi-ciclo geral que constitui o ciclo de vida (Super, 1gg0).As
transições entre fasesdo
ciclode
vida, envolvem um novo crescimento, novasexplorações, estabelecimento e declínio. Este aspecto demonstra
como
as idades detransição vocacionais podem ser
flexíveis.
Esta visão pode ser importante, uma vezque,
na
população
com
incapacidadealgumas
das
suas
experiências
podemencontrar-se diminuídas, podendo levar
a
momentos diferentesde
transição entreciclos. "
É
mais explicito, nesÍe modelo,a
ideiade
queos esÍádrbsde
desenvolvimentovocacional são determinados essencialmente
por
factores psicotógicos e socrarse
nãotanto
por
factores biológicos" ( Taveira, 2ooo, p.7s).
Daqui se pode depreender queas
possíveis limitações que possam existirao
nível do desenvolvimentoda
careira,podem
não estar
directamente ligadascom
a
incapacidadeem
si,
mas com
osaspectos psicológicos e sociais que possam antevir dessa mesma incapacidade.
Esta concepção, apesar de ter uma visão segmentada, dá-nos
a
possibilidadede
compreender
que
o
processo
de
desenvolvimentoda
carreira
pode
sercaracterizado segundo alguns aspec{os específicos necessários para que ocorra um
desenvolvimento coerente,
é
um
aspecto relevantepara o
estudoaqui
presente.Neste caso, pode
vir
a
indicar que determinadasbareiras
da carreira podem estarassociadas a algumas fases de desenvolvimento, apresentadas por Super. Em vez de progressos no seu desenvolvimento de careira, algumas pessoas enfrentam baneiras que os podem forçar a regredir, a andar à deriva ou
a
estagnar (Savickas, 2005).Por sua vez a dimensão espacial, refere-se à caneira como envolvendo não só
o
papelde
trabalhadore
estudante como tambémos de
tempo livre, famitiare
deserviços
à
comunidade(super, savickas
&
super,
1gg6).Estes papéis não
sãoespecíficos
de
cada fase, uma vezque
podemoster
diferentes papéis num mesmocontexto
e
estes podem
mudarem
funçãodas tarefas
e
dos
desafiosque
sãocolocados ao longo do ciclo de vida. Em cada uma das fases da caneira, os diferentes
papéis, vão assumindo diferente saliência (Cardoso, 2006; Super, 1g80). Existe uma
Baneiras da Carreira em lJniversitáios com lncapacidade
criança, enquanto nas fases seguintes este tende
a
atenuar-separa
predominar opapel de estudante e depois de trabalhador. "As expeiências de aprendizagem socta/
conduzem-nos, desde cianças
a
tecer conclusões relativas os papér's de vida que sãomais impoftantes. Estar atento
a
quaissão
os
papéis mais impoftantese
os
matspeiférioos
ajuda-nos
a
periodizar
os
compromissosde
vida
ao
longo
dotempo" ( Silva, 2008 P. 49).
A
saliênciados
papéisé
influenciadapelos
valores(damos
saliência aospapéis que permitem concretizar
os
nossos objectivos de vida)e
pela percepçáo daacessibilidade
à
concretizaçáo desses valores em determinado papel. lsto é, quandopercebemos
que em
determinadopapel
é
difícil
concretizarvalores que nos
sáocentrais
no
trabalho tendemosa dar
saliênciaa
outros papéisem
que percebemosisso ser possível (Super, 1980). Deste modo,
o
modelo da saliência das actividadespoderá
ajudar
a
compreendero
maior
ou
menor
investimentodas
pessoas comincapacidade nuns papéis em vez de outros.
O contributo de Super permite dar uma estrutura sofisticada e estruturada para
compreender
a
complexidade do comportamento profissional e o desenvolvimento dediversos grupos em diferentes contextos (Super, Savickas & Super, 1996).
De seguida será apresentado
o
contributo da teoria Sócio Cognitiva, que nosajudará
a ir
mais além
na
compreensão
dos
processos subjacentes
aodesenvolvimento da caneira
e
por sua vez das barreiras que podem estar presentesneste processo.
2.2
OContributo
da teoriaSócio
CognitivaA
teoria Sócio Cognitiva da Carreira (Lent, Brown,&
Larkin, 1984) também érelevante para fundamentar
a
abordagem feitaà
percepçãode
barreirade
pessoascom incapacidade. Neste sentido, a teoria Sócio Cognitiva da carreira tem sido muito
utilizada para explicar o desenvolvimento da carreira de populações em maior risco de
segregação
na
carreiraem
funçãoda
sua
raça/etnia, cultura, Sexo,status
sócio-económico, idade e estado de incapacidade (Lent, 2005).
Na formulação da Teoria Sócio Cognitiva, procurou-se adaptar, desenvolver e
ampliar
os
aspectos
consideradosmais
relevantesda
Teoria
de
Bandura,
aodesenvolvimento
da
carreira (Lent, Brown&
Hackett, 2002). Ambiciona-se percebercomo
os
aspectos cognitivos podem mediaras
aprendizagense
estar relacionadosBaneiras da Caneira em tJniversitários com lncapacidade
domínios, tais como interesses, habilidades, valores e na sua inter-relação (Lent, Brow
&
Hackett 2002).A
teoria sócio cognitiva da caneira,é
assim um novo esforço paratentar
perceberde
queforma os
indivíduos fazem escolhasna caneira
e,
assim,alcançam diferentes níveis de escorarizaçáo e profission alizaçâo.
Nesta teoria há três variáveis centrais para
o
desenvolvimento da caneira: a)expectativas de auto-eficácia, b) expectativas de resultado e c) objectivos pessoais.
A
auto-eficácia
é
crença quantoà
capacidade/competênciapara
realizar com su@ssodeterminada tarefa
ou
comportamento.A
autoeficácia não
é
concebida como fixa,estanque
ou
descontextuallzada.Pelo
contrário,esta
envolve
uma
capacidadegeradora de
competências cognitivas, sociaise
comportamentaís, organizadas emcursos de acção integrados para servir inúmeros propósitos (Bandura, 19g6).
A
auto-eficácia encontra-se envoltanum
conjuntode
crençasque são
osaspectos centrais
para
o
desenvolvimentode
interacções como
outro
e
com
oscontextos ambientais. Pode-se
considerarque
as
crenças
de
auto-eficácia sedesenvolvem e se vão modificando através de três aspectos: a) realizações pessoais e
desempenho, b) aprendizagem vicariante c) percuasão social e d) estados fisiológicos
e afectivos. (Bandura, 1986).
Na perspectiva Sócio Cognitiva, os comportamentos subjacentes à escolha da
caneira,
envolvemo
esforço despendidoe o
envolvimento afectivo nas tarefas dedesenvolvimento que são regulados em parte, por percepções de auto-eficácia. Assim,
os sucessos tendem a elevar o nosso sentido de auto-eficácia enquanto os insucessos
consecutivos tendem a diminuir a auto-eficácia.
Por sua
vez o
conceitode
expectativasde
resultado,são
crenças pessoaissobre as consequências esperadas do desempenho de determinado comportamento
(Bandura, 1986).
Se por um
lado
as
crenças
de
auto-eficácia encontram-serelacionadas com "o que poderei iazef', as crênças relacionadas com as expectativas
de resultado encontram-se direccionadas para "se eu fizer o que pode acontece/', esta
representa um papel muito importante no comportamento motivacional.
Por último, os objectivos pessoais, podem ser definidos como
a
determinaçãoem
alcançar, participarem
determinada actividadepara
chegara
um
resultadopretendido.
A
interacção
entre estas
três
variáveis revela-se muito
importante. Asexpectativas de auto-eficácia
e
as expectativas de resultado podem indicar o esforçodesprendido
para
alcançar determinado objectivo.Autoeficácia
e
expectativas deBaneiras da Caneira em Universitários com lncapacidade
para si próprias, fortes crenças de auto-eficácia e expectativas de resultado favorável,
concebem metas mais ambiciosas, que ajudam as pessoas a mobilizar e a sustentar o
seu comportamento e desempenho (Lent, Brow & Hackett
2002}
Segundo Lent
e
cotaboradores (1984)as
expectativasde
auto-eficáciae
deresultado
positivoem
determinadasáreas levam
ao
interesse por esse
tipo
deactividades, leva à formulação de objectivos e, consequentemente ao desenvolvimento
de
comportamentospara
a
concretização desses mesmos objectivos.No
entanto,estes autores também atribuem um papel fundamental
às
barreirase
aos apoios dacaneira em todo
o
processode
desenvolvimentoda
carreira. Assim, os apoiose
asbarreiras funcionam como moderadores da relação dos interesses com os objectivos
da
carreirae
comas
acções paraos
implementar. Os apoios queas
pessoas têmfuncionam como facilitadores
do
processo. Por vezes,as
barreiras levamque
nemsempre formulemos objectivos
em
estreita relação comos
interesses (Lenteet
al.,2000).
Como
já foi
referido,
a
formulaçãode
objectivospode
explicarcomo
osprocessos discriminatórios
podem
limitaros
níveisde
aspiraçãode
determinadaspopulações.
Se
a
perspectiva sócio-cognitivaé
pertinentepara
a
compreensão dosprocessos de tomada de decisão na carreira em geral, como adiante verificaremos, ela
também
é
relevante para explicar a especificidade do próprio processo de percepçãode barreiras da carreira. O quadro
teórico
aqui apresentado poderá não só contribuirpara uma explicação mais completa dos resultados obtidos nesta investigação como
abrir perspectivas
à
intervenção com esta população.As
suas limitaçõese
vivênciasexperienciadas
ao
longoda
vida
deixam antevera
importânciade
considerar asexpectativas de auto-eficácia, de resultado e barreiras da carreira para um abrangente
entend imento do comportamento vocacional.
Embora exista uma grande diversidade de factores associados
à
pessoa e aocontexto,
estes
parecem
estar numa
constante interacção,
ao
longo
dodesenvolvimento da carreira
de
uma pessoa. Por exemplo, as condições ambientais,podem ajudar a moldar as crenças de auto-eficácia que por sua vez podem afectar os
desafios ambientais que
se
colocam (Lent, Hackett & Brown, 2000).As
escolhas dacarreira são assim afectadas pelas influências contextuais e por variáveis inerentes na