• Nenhum resultado encontrado

O DESENVOLVIMENTO DEPENDENTE NA AMAZÔNIA MARANHENSE: bases históricas e expressões atuais no campo

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O DESENVOLVIMENTO DEPENDENTE NA AMAZÔNIA MARANHENSE: bases históricas e expressões atuais no campo"

Copied!
37
0
0

Texto

(1)

O DESENVOLVIMENTO DEPENDENTE NA AMAZÔNIA MARANHENSE: bases históricas e expressões atuais no campo

Desni Lopes Almeida1 Zaira Sabry Azar2 José Jonas Borges da Silva3

Objetivo

Debater os impactos dos grandes projetos na Amazônia Maranhense e sua incidência no estado, mais especificamente nas populações camponesas e tradicionais, das áreas de áreas de implantação desses projetos.

Justificativa

Apesar da opção do Estado por uma matriz desenvolvimentista, ancorada nos grandes projetos, sob a promessa de desenvolvimento e crescimento econômico, o Maranhão figura entre os estados mais pobres do país. As promessas de desenvolvimento não se convertem em ganho social e econômico para as comunidades das áreas de atuação, pois o que se observa é uma intensificação de conflitos sociais, que impactam diretamente as populações locais, se desdobrando em conflitos agrários, processos migratórios, inchamentos desordenado das cidades.

Nesse sentido, a mesa O DESENVOLVIMENTO DEPENDENTE NA AMAZÔNIA MARANHENSE: bases históricas e expressões atuais no campo, vai discutir os impactos dessa política desenvolvimentista, tendo como loco a Amazônia Maranhense, embora essa realidade se apresente em todas as regiões do estado. Na exposição “AS RELAÇÕES DE TRABALHO NO MARANHÃO: expressões da dinâmica do desenvolvimento dependente”, Zaira Sabry Azar discutirá o desenvolvimento dependente na Amazônia maranhense, destacando a inserção do estado do Maranhão na dinâmica de desenvolvimento econômico brasileiro. O texto considera que as relações de trabalho sofrem determinação histórica e têm como base

1 Mestre.Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).E-mail: desnilopes@yahoo.com.br 2 Doutora. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: zairasabry@hotmail.com 3

Especialista em Economia. Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). E-mail:: jonasfortuna13@gmail.com

(2)

as contradições inerentes ao modo de produção capitalista, como a necessária reprodução de formas não capitalistas de produção.

No texto “AMAZÔNIA MARANHENSE: campo de conflitos e interesses”, Desni Lopes Almeida, discutirá a política de desenvolvimento, analisando o contraste das promessas de crescimento econômico, que de fato acarretam processos crescentes de exploração dos recursos naturais e uma intensificação de conflitos sociais, principalmente os ligados à questão agrária, o que faz com que o Maranhão figure como um dos principais pontos de conflitos no campo do Brasil, marcado pela forte presença do latifúndio, trabalho escravo, violência contra lideranças rurais e extrema pobreza, a questão agrária no Maranhão é uma síntese da realidade agrária no país. Por fim, José Jonas Borges da Silva, na exposição “MIGRANTES DA TERRA: a migração em áreas de reforma agrária no Maranhão” analisa o processo migratório em áreas de reforma agrária na Amazônia maranhense, uma das regiões mais pobres do Brasil. Analisa especificamente a comunidade Alto Bonito (assentamento Cigra), resultante da luta pela reforma agrária no estado do Maranhão. Discute o processo migratório na formação histórica brasileira, tendo como referência a migração realizada pelos trabalhadores do campo, aqui denominados migrantes da terra, destacando o fenômeno como uma das consequências do processo de avanço do capital no campo, articulado à fragilidade das políticas públicas para o campo. Aborda também, o papel dos movimentos sociais e a relação destes com o processo migratório, tendo por referência as lutas camponesas realizadas a partir da década de 1950, demarcando o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), enquanto organização política camponesa da comunidade pesquisada.

(3)

AS RELAÇÕES DE TRABALHO NO MARANHÃO: expressões da dinâmica do desenvolvimento dependente

Zaira Sabry Azar4 Francisco Elias de Araújo5

O trabalho aborda o desenvolvimento dependente na Amazônia maranhense, destacando a inserção do estado do Maranhão na dinâmica de desenvolvimento econômico brasileiro, cujo modelo adotado apresenta-se com características de dependência e sem autonomia política ou econômica. No texto constitui destaque o papel histórico assumido pela economia maranhense na divisão nacional e internacional do trabalho e, em particular, nas transformações contemporâneas da mundialização do capital, apreendendo os processos de trabalho constituídos. No Maranhão, as relações sociais construídas, tanto no passado quanto hoje, são aqui explicadas a partir de sua inserção subordinada à dinâmica global do capital. Neste sentido, as transformações acontecidas no mundo do trabalho, e de forma especial, nas relações de trabalho nesta unidade federativa, se faz necessário compreender o papel que este estado assumiu na totalidade do desenvolvimento capitalista. O texto considera que as relações de trabalho sofrem determinação histórica e têm como base as contradições inerentes ao modo de produção capitalista, como a necessária reprodução de formas não capitalistas de produção, a exemplo do campesinato.

Palavras-chaves: desenvolvimento dependente, relações de trabalho,

Maranhão .

The work addresses the dependent development in Maranhão Amazon, highlighting the inclusion of the state of Maranhão in the dynamic Brazilian economic development, whose adopted model presents with dependence characteristics and without political or economic autonomy. The text is highlighted the historical role played by Maranhão economy in the national and international division of labor and, in particular, in contemporary transformations of capital globalization, seizing work processes constituted. In Maranhão, social relationships built, both past and today, are explained here from their inclusion conditional on the global dynamics of capital. In this sense, the changes taken place in the working world, and in a special way, in labor relations in this federal unit, it is necessary to understand the role that the state took over the whole of capitalist development. The text considers that labor relations suffer historical determination and are based on the contradictions inherent in the capitalist mode of production as the necessary reproduction of non-capitalist forms of production, such as the peasantry.

Keywords: dependent development, labor relations, Maranhão

4

Doutora. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: zairasabry@hotmail.com 5

Mestre. Engenheiro Agrônomo e militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). E-mail: earaujo013@gmail.com

(4)

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento, de forma geral, constitui debate de muita polêmica e que nos exige profundas reflexões. O Brasil, em sua trajetória histórica, tem adotado os modelos de desenvolvimento econômico defendidos pelos grandes centros econômicos fundamentados na acumulação do capital.

Cumprindo papel importante na divisão internacional do trabalho, o país centrou sua produção, incialmente, no modelo agroexportador para abastecimento do mercado internacional. Posteriormente, buscou se firmar como economia industrializada, com base em uma indústria atrasada frente aos processos industriais e tecnológicos existentes na economia internacional. Atualmente, se revela excelente na produção de grandes commodities, principalmente, os agrícolas e minerais. Ou seja, o país retoma seu papel de produtor de matéria-prima na dinâmica da industrialização global.

Com isso, podemos considerar que as proposições históricas de desenvolvimento defendidas pelo Estado brasileiro assume caráter essencial de dependência, posto que todos estes modelos atrelam-se à economia nacional á dinâmica da macroeconomia. Além disso, as deliberações econômicas nacionais encontram-se articuladas ao contexto político das grandes potências mundiais, sofrendo de forma contundente os jogos de interesses dos grandes projetos societários.

Assim, articulado aos movimentos políticos e econômicos de outros países, o Brasil mantém-se numa condição de extrema vulnerabilidade, não tendo conseguido construir sua autonomia para decidir sobre o tipo e forma de desenvolvimento. Longe de uma soberania nacional, organiza sua produção, de forma geral, de acordo com a organização do capital internacional, ainda que esta rebata nas relações de trabalho de maneira a afetar direta e negativamente o conjunto dos trabalhadores nacionais, comprometendo, portanto, o futuro da sociedade brasileira como um todo.

O estado do Maranhão não foge à dinâmica nacional e, seguindo à lógica do desenvolvimento nacional, desencadeou, historicamente, processo produtivo submetido aos interesses e necessidades do capital internacional. Com a insistente retórica do desenvolvimento, esta unidade federativa viveu ciclos produtivos importantes na divisão nacional e internacional do trabalho desde o período colonial.

(5)

Invariavelmente, as relações de trabalho foram sendo reconfiguradas a partir dos diferentes contextos produtivos, sendo que no estado foi constituído um padrão de uso da força de trabalho baseado na exploração intensa, nas precárias condições de trabalho, na expropriação dos meios e condições de trabalho, a exemplo bem explícito das famílias camponesas que sempre sofreram as consequências das dinâmicas e ciclos produtivos com a instalação de conflitos, violência, expropriação e expulsão das terras.

Dos muitos projetos econômicos desenvolvidos no estado, hoje, tem hegemonia produtiva, iniciativas do agronegócio, ainda que se apresente com destaque a indústria, cuja produção encontra-se voltada, essencialmente, para a produção de matéria-prima.

O agronegócio tem como suas maiores expressões o monocultivo de soja, eucalipto, bambu, cana-de-açúcar, mas também, encontra-se organizada no estado, com grande peso econômico, a pecuária extensiva, a cacinocultura. Tudo isso numa articulação direta com a extração de minérios, como o ouro, gás, além das hidrelétricas e centro aeroespacial.

No contexto de reestruturação do capital, invariavelmente, estes projetos reconfiguram as relações de trabalho, impondo aos proprietários da força de trabalho, condições de precarização destas relações, expressas, principalmente na terceirização e informalidade, o que têm comprometido a própria reprodução social de grupos e categorias de trabalho.

1. O Maranhão na rota do desenvolvimento dependente.

A formação sócio histórica do Maranhão se caracteriza pela dependência a sujeitos externos, cujas relações são determinadas pela dinâmica global do capital, e constituem elementos essenciais para abordagem acerca do desenvolvimento e sua repercussão nas transformações no mundo do trabalho. Nesta perspectiva, a inserção do estado na dinâmica produtiva que emerge da criação dos Estados-nação, porém, com papel importante nesta dinâmica produtiva em todas as fases de sua formação, sendo destacada na atual fase imperialista do capitalismo.

No entanto, aqui destacaremos enquanto marco histórico, as contradições engedradas no pós guerra, onde o desenvolvimento industrial em escala internacional traz para o centro das disputas a industrialização de economias dependentes. O

(6)

Brasil, entrava na divisão internacional na dinâmica capitalista como resultado da nova forma de expansão desse sistema, elevando-se da sua fase primário-exportadora para o patamar de produtores de manufaturas.

Esta perspectiva é compartilhada por Leal (1988) que aborda o desenvolvimento a partir da ideia de “integração das economias periféricas às economias industriais; da incorporação dos avanços tecnológicos e relações da produção capitalistas pelos países dependentes”. (Leal 1988, p. 23)

Articula-se com esta perspectiva de expansão capitalista a construção da concepção de desenvolvimento da Comissão Econômica para América Latina e Caribe – CEPAL, que de certo modo foi o instrumento de maior influência no pensamento econômico latino-americano, com medidas importantes como o Plano de Reabilitação da Economia Nacional, reaparelhamento industrial, Plano de Metas e Plano Trienal, que permearam o segundo governo de Getúlio Vargas (1951 – 1954) e Juscelino Kubitscheck (1956 – 1961).

A partir da CEPAL, em 1948, estariam criadas as bases teóricas para uma relação centro periferia, ou seja, entre países industrializados com tecnologias avançadas versus países industrializados sem tecnologias, ou melhor, com tecnologias menos desenvolvidas, sendo evidenciado o “atraso” dos países periféricos em relação ao desenvolvimento, característica principal dos países com economia com base na produção primária. No caso, este desenvolvimento pode ser entendido como o desenvolvimento industrial, ou o desenvolvimento da economia capitalista.

No caso brasileiro, o processo de mudança do modelo de desenvolvimento emerge, de forma particular, das transformações de 1930, considerando que a economia brasileira até então era baseada na produção agrícola voltada ao mercado externo. Destarte, decorre deste período as mudanças que torna a produção manufatureira interna o novo centro dinâmico.

Não obstante, destacamos que é importantes para uma definição acerca da concepção do desevolvimento brasileiro, considerar o pensamento de Marini (2005), que traz a ideia de “integração crescente à economia capitalista internacional”. Para ele esta integração

,,, tem motivado uma completa inadequação da estrutura de produção à necessidade de emprego e salário das massas trabalhadoras, tudo isso não em caráter circunstancial, e como consequência da sobrevivência de reminiscências coloniais, mas sim, pela própria dinâmica do crescimento econômico em uma economia capitalista periférica. (MARINI, 2005, p.106)

(7)

Ao fazer esta afirmação, Marini critica a tese de Prado Jr (2005) sobre a revolução brasileira que marca o debate do Partido Comunista Brasileiro - PCB acerca da questão agrária, não deixando dúvidas de que no Brasil ela é prelúdio da colonização. Em outros termos, a expansão do capitalismo comercial europeu até a fase imperialista contemporânea da questão agrária tem como marco o latifúndio e a concentração.

De maneira geral, temos um processo de desenvolvimento que emerge das contradições geradas do final do período agro-exportador, marcado pela reestruturação da dinâmica de acumulação ampliada do capital.

No Maranhão, o processo socioeconômico vivenciou importantes ciclos produtivos e, no que se refere ao setor industrial, já no período colonial, de acordo com Madeira (2009) “a euforia” se deveu à produção e exportação do arroz e do algodão, sendo que a esta estimulada pela efervescente indústria têxtil inglesa. Seu declínio encontra-se atrelado à ascensão da produção estadunidense com o fim da Guerra de Secessão (1861 - 1865).

Para manter a economia, o estado dedicou-se à produção açucareira, produção efêmera com queda nos lucros que comprometeu drasticamente sua ampliação. Madeira (2009) aponta como último ciclo “eufórico”, que

... na década de 1980, já em outro contexto do capitalismo mundial e da economia brasileira, novamente se apresentou uma esperança de industrialização e desenvolvimento econômico, desta vez relacionada a grandes projetos minerais a serem instalados na Amazônia (MADEIRA, 2009, p.07).

De forma geral, Lopes e outros (2006) compartilham esta ideia, destacando, no entanto que o Maranhão cumpre papel nas transformações atuais da dinâmica mundializada do capital tendo como base dois movimentos, ou o que podemos chamar de duas frentes produtivas. A primeira, a produção desencadeada pelo polo industrial, caracterizado pela modernização conservadora. Este polo tem como maior referência o extinto Programa Grande Carajás – PGC, implantado na década de 1980, sendo a extinta Companhia Vale do Rio Doce, atual empresa Vale, sua coordenadora.

Neste setor, se articulam importantes empresas e corporações, tanto nacionais quanto internacionais, para o desenvolvimento de atividades voltadas, principalmente à exploração de recursos naturais, a exemplo de minério, gás e ouro. Apesar do setor industrial desenvolver atividades de transformação, efetivamente suas

(8)

ações se concentram em um nível primário da industrialização, pois, no estado, estas alcançam níveis de transformação mais sofisticado ou elaborado.

Como segundo movimento econômico das transformações por que passa o Maranhão na atualidade, Lopes e outros (2006) aponta o agronegócio, que mantém relações explícitas com o primeiro. Este setor produtivo se amplia de forma intensa e rápida em todas as regiões do estado.

Importante destacar a participação do Estado, pois sem ele, impossível a redefinição da economia. Como base institucional para a realização do capital, o Estado no Maranhão abandonou seu importante papel de fornecedor interno de alimentos, privilegiando o fornecimento de recursos primários para a produção mundial, neste processo de acumulação do capital internacional.

Ou seja, no Maranhão, as políticas de desenvolvimento, imprimiram deste sempre uma característica de exclusão, não cumprindo com o objetivo de desenvolver de fato o estado, não trazendo melhoria das condições de vida local, mas, ao contrário, aumentou as desigualdades e liquidou segmentos produtivos socialmente importantes, principalmente na agricultura.

Esta afirmativa nos faz pensar o Maranhão numa perspectiva histórica, onde as formas de planejamento local aparecem sempre reproduzindo uma “estagnação” em todas as dimensões da organização social. Nesta perspectiva, encontra-se a implantação de grandes empreendimentos, como minério de ferro, complexos siderúrgicos, papel e celulose, complexo soja, eucalipto, cana-de-açúcar, bambu, pecuária de corte, extração de ouro e gás, dentre outros, que, discorrendo a mesma retórica de desenvolvimento, crescimento e geração de emprego, organizam a produção de forma predatória, com a exploração e uso irracional de recursos naturais. Este modelo de produção que garante a inserção de grandes grupos e corporações transnacionais na economia estadual, cuja base é a expansão do capitalismo no estado, trata-se da “primazia dada pela economia estadual ao atendimento das necessidades para a acumulação do capital, negligenciando no processo, as necessidades da sociedade” (AZAR, 2013, p. 47),

Esta leitura de negligência do Estado acerca dos interesses e necessidades sociais é compartilhada por Mesquita (2011) que destaca que a inserção do Maranhão na dinâmica de mercado globalizado culminou num processo que beneficia alguns setores, ainda que pontualmente. Para o autor, a dinâmica aqui instituída, beneficia:

(9)

A grupos e segmentos, mas de forma pontual e se restringe, em particular aos intensivos em capital. Os demais (de caráter familiar), ao contrário, são prejudicados ou paralisados por essa lógica neoliberal que iguala segmentos diferentes como a agricultura familiar e o agronegócio da soja e/ou pecuária empresarial (MESQUITA, 2011, p.34)

A concepção dos autores acima mencionados tem eco nos dados apresentados pelo Instituto Maranhense de Estudos Econômicos e Cartográficos - IMESC. Segundo este, em 2012, assim como em anos anteriores, o estado do Maranhão “continua com alta concentração na sua pauta de exportações em três commodities (alumínio, soja e produtos do complexo ferro), que representaram 89,29% do valor das exportações do Estado do Maranhão”, confirmando a análise de Mesquita. (IMESC, 2012 citado por ARAUJO, 2015)

Esta perspectiva sugere um privilégio à produção voltada ao mercado internacional, beneficiando pequenos segmentos de atividades produtivas superavitárias. Um exemplo disso é o resultado das exportações e importações, pois “No período de janeiro a julho deste ano, o saldo é de US$ 460,2 milhões. No mesmo período do ano passado, o superávit foi de US$ 325 milhões” (JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO, 2015)

Este mesmo levantamento do Ministério da Agricultura mostra que do montante de US$ 610,5 milhões exportados, somente a soja respondeu por US$ 390 milhões, sendo o principal item da pauta exportadora do agronegócio maranhense.

Por outro lado, a agricultura familiar no Maranhão expressa o paradoxo do setor agrícola. Tomamos como parâmetro as operações do Programa Nacional de Crédito da Agricultura Familiar – PRONAF. Sendo principal instrumento de crédito público planejado para este segmento, é bastante simbólico seu acesso no Maranhão e nos demais estados do Nordeste, sendo que adquire status de microcrédito. Dados do Banco Central têm revelado que, nacionalmente, o valor médio de financiamento por mutuário neste Programa é de R$13.453,38 (treze mil, quatrocentos e trinta e oito reais). Porém, analisando o país sem a região Nordeste, esta média passa a ser de R$ 20. 980,80 (vinte mil, novecentos e oitenta reais e oitenta centavos), ou seja, o valor médio acessado no Nordeste é de apenas R$ de 4.195, 20 (quatro mil, cento e noventa e cinco reais e vinte centavos). Uma discrepância enorme, como fica bem evidenciado pelos números. (BC, citado por ARAUJO, 2015)

Estes valores contribuem para uma conclusão da existência ao limite financeiro imposto ao segmento familiar que trabalha no campo, e impossibilita o seu

(10)

desenvolvimento, que adquire característica de beneficiários do microcrédito. Com isso, estas famílias encontram-se condenadas a não estabelecerem perspectivas mínimas de acumulação, mas ao contrário, de assistiremos a continuidade da desestruturação do sistema de produção, cuja origem é a agricultura local.

Igual preocupação trazemos em relação aos números da reforma agrária. O estado do Maranhão se tornou uma referência na discussão da questão agrária, pelo papel de destaque na luta pela terra e pelos grandes e intensos conflitos. Como resultado deste processo histórico de luta existe um expressivo quantitativo de famílias assentadas. Porém, destaca-se, apesar das conquistas que este grupo social representa, as muitas dificuldades que caracterizam as condições de vida e de trabalho para o conjunto das famílias que vivem na e da terra, especialmente no que diz respeito às relações de trabalhos constituídas a partir das transformações na dinâmica social e econômicas vivenciadas no estado, como já apontado neste trabalho. Considerando as relações de trabalho uma expressão destas transformações no que diz respeito ao desenvolvimento dependente no Maranhão, trataremos sobre o assunto no item a seguir.

2. As relações de trabalho: uma expressão do desenvolvimento dependente no Maranhão

No que se refere às relações de trabalho estabelecidas no Maranhão a partir da reestruturação do capital desencadeada com a crise da década de 1970, qualquer que seja o setor produtivo: indústria, agricultura, comércio e serviços, estas se caracterizam pela precarização efetivas do trabalho.

Os reajustes feitos na economia em geral por conta desta crise, provocaram transformações no mundo do trabalho desembocam na chamada acumulação flexível, que se apresenta para organizar a produção baseada no uso das tecnologias informatizas, principalmente, possibilitando com isso o aprofundamento da exploração do trabalho vivo, substituído pelo trabalho morto.

Especificamente, a indústria neste estado tem suas bases produtivas práticas consideradas destrutivas, entendendo-se como tal, o uso irracional de práticas que comprometem o meio ambiente, ou seja, esta produção tem impactado todas as dimensões da vida humana. Nesta perspectiva, podemos dizer, grosso modo, que a produção industrial no Maranhão, tem sido um elemento desagregador dos meios de produção e da força de trabalho.

(11)

Concretamente, todos os grandes empreendimentos econômicos em andamento nesta unidade federativa, sejam eles industriais ou agropecuários, adotam uma matriz produtiva que apresentam características gerais comuns. Todos, invariavelmente, demandam grandes extensões territoriais, produzem mercadorias para atender demandas externas, utilizam tecnologias moderníssimas e possuem padrão de uso da força de trabalho com pouquíssima empregabilidade.

Por conta desta caracterização geral, também, invariavelmente, desencadeiam grandes conflitos e tensões, considerando que para garantir seu padrão produtivo de alta produtividade e grande lucratividade expropriam famílias camponesas da terra e de suas condições de trabalho. Consequentemente, instala-se o conflito e a violência. Dados da CPT registram que só em 2013 no Maranhão, ocorreram 152 conflitos por terra, alcançando 7.746 famílias. (CPT, 2014, p. 41

Outra consequência, que assume proporções imensuráveis é a expulsão das famílias da terra, ocorrendo grandes e intensos fluxos migratórios, cujos destinos principais são os centros urbanos, sendo que neste contexto

... muitas famílias camponesas do estado veem-se condicionadas à migração para os centros urbanos, condição que se desdobra em várias outras, todas, invariavelmente, pautadas na precariedade das condições de vida urbana. Com isso, as cidades sofrem processo de urbanização desordenada, no qual as famílias expulsas do campo passam a ocupar as zonas periféricas, sem acesso aos serviços básicos de habitação, escola e saúde. Em termos de trabalho, passam a desenvolver atividades que exigem pouca ou nenhuma qualificação profissional, compondo, via de regra, o universo da informalidade. (AZAR, 2013, p. 26)

Estas produções, em tratando dos recursos naturais, sua exploração é de natureza predatória, o que tem provocado uma crise ambiental sem precedentes no estado, mas também na própria região amazônica, posto que esta produção estadual encontra-se intimamente articulada com as práticas produtivas desenvolvidas nesta região.

Muitos são os estudos e denúncias feitas sobre os impactos deste tipo de produção no estado e na região, a exemplo das manifestações e mobilizações realizadas por movimentos sociais e comunidades camponesas diretamente afetadas.

Discutindo as tendências das relações de trabalho, Abreu e outros (2010) concebem a manutenção e aprofundamento da informalidade, da terceirização e da subcontratação como estratégias para a redução dos custos de produção.

(12)

No que diz respeito ao uso da força de trabalho, em geral, estes empreendimentos abusam dos trabalhadores, submetendo-os a precárias condições de trabalho. Neste sentido, há um complexo desrespeito aos direitos trabalhistas, com o não cumprimento das legislações vigentes no país. Articula-se a isso a fragilidade de programas específicos para atender e apoiar estes trabalhadores.

O processo de reestruturação das relações de trabalho no âmbito da reestruturação do capital se materializa através da terceirização, artifício usado de forma abundante por todos os setores produtivos no estado, como mecanismo que tem como função, na dinâmica produtiva estadual, dirimir os custos da produção. Estrategicamente, as empresas repassam a outrem as responsabilidades, principalmente, econômicas, do processo de produção.

Com menores condições, empresas terceirizadas contratam trabalhadores em condições precárias, submetendo-os a intensas e extensas jornadas de trabalho, ao não usufruto dos direitos trabalhistas garantidos por lei. Muitas vezes, com contratações temporárias, estes trabalhadores vivenciam a insegurança no trabalho, inadequadas e obsoletas máquinas, infraestrutura precária e a insistente ameaça de demissão, cujo respaldo encontra-se na crescente superpopulação relativa.

A informalidade, outra manifestação ou forma do trabalho precarizado. Sendo o trabalho uma questão não resolvida na constituição brasileira, o que é agravado no Maranhão, historicamente neste estado, os trabalhadores, na busca de atender suas necessidades de reprodução, encontram na informalidade uma das mais importantes estratégias. Tal situação apresenta-se agravada com a reorganização produtiva que reduz o uso da força de trabalho assalariado.

Como característica central, esta forma de trabalho apresenta a falta de segurança proporcionada pelos direitos gerais da legislação trabalhista, impondo aos trabalhadores informais, exigências e sobrecarga de trabalho que lhes comprometem a tranquilidade que o trabalho deveria possibilitar.

Assim, podemos considerar que a dinâmica das relações sociais, especificamente no que diz respeito à absorção da força de trabalho no âmbito dos grandes empreendimentos econômicos do Maranhão segue a perspectiva do contexto das transformações recentes da macroeconomia determinada pelos países centrais ou desenvolvidos sob a lógica do capital. Lembrando ainda que tais projetos produtivos articulam-se à demanda do capital transnacional, desprestigiando a economia local e as necessidades da população.

(13)

CONSIDERAÇÔES

O estado do Maranhão apresenta indicadores sociais que lhe condiciona ocupar, historicamente, o ranking dos estados mais pobres da federação. Histórico é, também, o debate e as iniciativas para o desenvolvimento estadual, o que passa, prioritária e quase exclusivamente, pelo viés da economia. Neste sentido, desde os remotos tempos da colonização, o estado cumpre papel junto à divisão nacional e internacional do trabalho, seja na produção cíclica das culturas do arroz e do algodão do Brasil colônia, para atender o mercado internacional, seja na produção de gêneros alimentícios para a emergente industrialização nacional, ou ainda, como na atualidade, com a produção de commodities agrícolas, aliada à economia financeira.

Em comum a todas as iniciativas, o desenvolvimento estadual. Importante observar que o desenvolvimento proposto segue determinações históricas do desenvolvimento e consolidação da acumulação do capital, com destaque para o capital transnacional, posto que desde sempre a economia estadual segue os preceitos dos interesses internacionais, produzindo, de uma maneira ou de outra, para atender as necessidades e exigências da macroeconomia.

Nesta condição, portanto, o desenvolvimento proposto, indubitavelmente, apresenta características de dependência, condicionando-se, neste sentido, às variantes políticas e econômicas da dinâmica geral do capital. De forma geral, as consequências e impactos destes processos recaem, invariavelmente, nas relações de trabalho, afetando de forma contundente a classe trabalhadora, que no Maranhão, apresenta características particulares de fragilidade e precariedade.

Especificamente, no contexto atual das transformações no mundo do trabalho proporcionadas pela reestruturação da produção, as relações de trabalho neste estado, apresentam-se manifestas nas formas mais cruéis para o conjunto da classe trabalhadora, expressas, principalmente pela terceirização e a informalidade. No conjunto das práticas produtivas de todos os setores econômicos reina o abuso, principalmente da utilização predatória dos recursos naturais, impactando destrutivamente o meio ambiente, com especial destaque a imposição de relações de trabalho que, de tão precarizadas, comprometem a reprodução social da classe trabalhadora, o que muito explicita o modelo de desenvolvimento aqui adotado, o dependente.

(14)

REFERÊNCIAS

ABREU, Marina Maciel, SANTOS, Elder Carvalho dos, SOARES, Lucianna Cristinna Teixeira, AZAR, Zaira Sabry. Metamorfoses e tendências das relações de trabalho no Maranhão. Anais do XIII CBAS/2010. Brasília

ARAUJO, Francisco Elias. Desafios da Reforma agrária, no contexto do desenvolvimento

dependente no estado do Maranhão: um estudo de caso da Microrregião de Chapadinha:

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas da UFSC. Santa Catarina 2015.

AZAR, Zaira Sabry. Relações de Trabalho e Resistência Camponesa no Desenvolvimento

dependente no Maranhão: O assentamento Califórnia como Uma Expressão. Tese

apresentada ao Programa de Pós Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Maranhão - UFMA, São Luís 2013.

CPT. Conflitos no Campo – Brasil 2013. Goiânia. 2014

JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO. Acesso em 17/01/2015.

Leal. Aluísio Lins. Amazônia: o aspecto político da questão mineral. Dissertação (Mestrado em Planejamento Regional) – PLADES/NAEA/UFPA, 1988.

LOPES, Josefa Batista Lopes e outros. Transformações contemporâneas e sistema de

controle social nas relações campo e cidade: trabalho, luta social e prática do Serviço Social

no Maranhão. Projeto de pesquisa, São Luis/MA, 2006. AZAR, 2013

MADEIRA, Welbson do Vale. “Euforias Maranhenses” e o mito do desenvolvimento

econômico. 1 Anais do Seminário Internacional sobre o Desenvolvimento Regional do

Nordeste. CICEF/UFPE. Recife-PE, 13 a 16 de outubro de 2009. Acesso em 04 de junho de 2011. Disponível em http://www.desenvolvimentoregional.com.br/sessao.php?tpt=G.

MARINI, Ruy Mauro Marini. Dialética da dependência. In: TRASPADINI, Roberta e STÉDILE, João Pedro (orgs). Ruy Mauro Marini: Vida e obra. 1° edição. Editora. Expressão Popular. São Paulo. 2005

MESQUITA, Benjamin Alvino de. O DESENVOLVIMENTO DESIGUAL DA AGRICULTURA: a

dinâmica do agronegócio e da agricultura familiar. São Luís: EDUFMA, 2011.

PRADO JR, Caio. A questão agrária e a revolução brasileira. In: STÉDILE, João Pedro (org). A questão agrária no Brasil: o debate tradicional – 1500 – 1960. Expressão Popular. São Paulo. 2005.

(15)

MIGRANTES DA TERRA: a migração em áreas de reforma agrária no Maranhão

José Jonas Borges da Silva6

RESUMO

O presente trabalho analisa o processo migratório em áreas de reforma agrária na Amazônia maranhense, uma das regiões mais pobres do Brasil. Analisa especificamente a comunidade Alto Bonito (assentamento Cigra), resultante da luta pela reforma agrária no estado do Maranhão. Discute o processo migratório na formação histórica brasileira, tendo como referência a migração realizada pelos trabalhadores do campo, aqui denominados migrantes da terra, destacando o fenômeno como uma das consequências do processo de avanço do capital no campo, articulado à fragilidade das políticas públicas para o campo. Aborda também, o papel dos movimentos sociais e a relação destes com o processo migratório, tendo por referência as lutas camponesas realizadas a partir da década de 1950, demarcando o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), enquanto organização política camponesa da comunidade pesquisada.

Palavras-chave: migração, questão agrária, assentamento ABSTRACT

This paper analyzes the migration process in agrarian reform areas in the Amazon state of Maranhão, one of the poorest regions of Brazil. Specifically analyzes the Alto Bonito community (Cigra settlement) resulting from the struggle for agrarian reform in the state of Maranhão. Discusses the migration process in Brazil's historical formation, with reference to the migration carried out by workers of the field, here called migrant land, highlighting the phenomenon as a consequence of the capital improvement process in the field, linked to the fragility of public policies for the field. Also discusses the role of social movements and their relation with the migration process, with reference to the peasant struggles carried out from the 1950s, marking the Movement of Landless Rural Workers (MST), while peasant political organization of the community searched.

Keywords: migration, land issues, settlement

6 Especialista em Economia. Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). E-mail:: jonasfortuna13@gmail.com

(16)

INTRODUÇÃO

Este artigo trata de duas questões bastante relevantes para entender o debate da formação social e política do Brasil. São elas: a questão agrária no Brasil e a migração, como seus desdobramentos, a partir da dinâmica política e social do campo, tendo como referência a primeira metade do século XX.

A migração se constitui como algo que é inerente à constituição da sociedade brasileira, estando presente mesmo antes da colonização ibérica, fazendo parte da dinâmica da sobrevivência dos povos que aqui já viviam a milhares de anos. Porém, com a colonização este processo vai se intensificar na “rotina” dos povos que aqui viviam. A partir desse processo migratório, os sujeitos sociais do campo, assim como também os sujeitos das cidades, a partir de suas constituições, vão encontrar na migração uma forma de manter a sua própria sobrevivência e sua reprodução social, perpassando todo o período da formação brasileira até os dias atuais.

Com relação à questão agrária, especificamente, esta se coloca como de grande importância para a apreensão da formação Brasil, destacando-se aqui, a relação intrínseca desta com o processo migratório, entendendo-a, no entanto, como uma expressão da luta de classes no campo. Neste sentido, este trabalho tenta analisar a relação entre estas duas questões que são bastante pertinentes para se entender o contexto sócio politico brasileiro.

Metodologicamente, este artigo resulta de pesquisa realizada sobre o processo migratório nas áreas de reforma agrária no Maranhão, tendo como realidade empírica o Assentamento Cigra, no município Lagoa Grande do Maranhão. Tal pesquisa foi desenvolvida junto ao curso de graduação de Geografia. Neste sentido, apresento aqui o resultado de parte do trabalho de revisão bibliográfica e da pesquisa de campo, entendendo como dever de todo pesquisador democratizar toda e qualquer produção de conhecimento que seja feita em nome dos sujeitos pesquisados e pelo aval de instituições públicas como é neste caso.

(17)

1. A questão agrária e a migração: duas questões pertinentes

A questão agrária brasileira se constitui como uma questão irresoluta em nosso país (OLIVEIRA, 1993, p.02) desde o inicio da sua formação, tendo como consequência os constantes conflitos entre os que detêm a posse e posteriormente a propriedade da terra e aqueles que não a detêm. A luta pelo direito ao trabalho encontra-se associado à luta pelo direito à terra, o que desencadeou momentos de intensos conflitos entre os grupos cujos interesses apresentam-se bastante antagônicos.

Nesse sentido, podemos destacar a resistência indígena em todas as regiões do país, assim como a massa de trabalhadores escravizados, arrancados de seus territórios na África que por mais de trezentos anos foram colocados na condição de escravos, e mesmo os trabalhadores camponeses considerados livres, mas sem o direito de ter a terra, que viviam em condições subalterna onde os senhores da terra determinavam sua permanecia de explorados no campo.

No Brasil, essa dinâmica de exploração dos trabalhadores no campo, conforme apontado, vem desde a invasão portuguesa que utilizava como instrumento a força e as armas para manter a dominação e garantir as condições para exploração das nossas matérias primas. Esse mecanismo foi determinante para consolidação de uma burguesia agrária, que conseguia manter o domínio pela força e articulava outros instrumentos políticos e jurídicos de cada período histórico para manutenção do sistema, criando mecanismo que pudessem garantir a exploração e a reprodução dos interesses colônias e posteriormente dos interesses da classe dominante no Brasil.

Dentre as diversas formas utilizadas para garantir esses interesses destacamos as legislações de controle social e político como, por exemplo, a lei de terras que liberta a terra e mantém os camponeses cativos (MARTINS, 2010). Outro exemplo são as leis que flexibilizavam a condição de exploração da força de trabalho escrava, como a lei sexagenária e a lei do ventre livre, que embora apareçam como conquista,na essência são uma forma de garantir que o processo de exploração permaneça sem que fosse necessário abrir mão do sistema escravocrata.

(18)

Outro instrumento jurídico a ser destacado, são as leis que vão dar condições para a entrada de mão de obra imigrante em nosso país, já que havia uma pressão social em todos os espaços pelo fim da escravidão, e que para a efetivação da mesma era necessário se precaver e garantir força de trabalho que viesse a ser substituída nos empreendimentos produtivos. Dessa forma criaram-se as condições para “libertar” a força de trabalho escrava, dando garantias ao controle político e legal da terra (Lei de Terras 1850),assim condicionando as formas de exploração da força de trabalho que garantiriam a reprodução de sistema do capital sem perder a hegemonia política da burguesia agrária e o controle absoluto da propriedade privada da terra.

Nesse contexto, o país vivia um tímido surto da industrialização (KONDER, 2010, p. 33). Foi o momento de constituição de uma burguesia industrial que avançava principalmente na região centro sul do país, que demandava por força de trabalho livre para alavancar a indústria que começava a se instalar no Brasil, o que confrontava com os interesses da burguesia agrária que queria permanecer com o sistema econômico e produtivo baseado na força de trabalho escrava. Essa disputa de interesses vai ate a década de trinta do século passado, quando então a burguesia industrial detém a hegemonia política e determina a fase da industrialização do país, mas baseada em acordos que garantissem os interesses da burguesia agrária, ou seja, não mexer na propriedade da terra e manter a classe camponesa subalterna aos interesses da classe agrária.

A rápida reconstituição nos leva a perceber como o processo de manutenção da questão agrária tem suas origens no processo de formação brasileira, utilizando de mecanismos legais e políticos para garantir os interesses de manutenção da terra e a exploração dos camponeses, colocando-o na condição de migrante da terra7. Esses

7 Estou fazendo uso do termo “migrante da terra”, como resultado das reflexões feitas a partir de leituras de autores como Fernandes (1999), Martins (1980), Ribeiro (1995), Prado Jr (1998) e Andrade (1998). Apesar dos autores citados não fazerem qualquer referência ao termo, seus estudos mostram claramente a existência da particularidade deste tipo de migração, o qual permeia todo o processo histórico da sociedade brasileira.

O termo é usado para fazer referência às populações de trabalhadores do campo que, historicamente, migram na condição de vítimas da questão agrária. Neste sentido, como exemplo de “migrantes da terra” podemos pensar as comunidades originárias que aqui se encontravam quando da chegada dos portugueses, as quais, pressionadas pelo avanço da colonização, precisaram se deslocar continuamente para o interior do país em busca de novos territórios. Também os negros africanos viveram a condição de “migrantes da terra”,

(19)

migrantes constituíram-se para formar a classe de camponeses do Brasil, a exemplo dos Sem Terra como uma das expressões dessa classe. Segundo Fernandes;

[...] a maioria absoluta dos trabalhadores, ex-escravos e imigrantes começaram a formação da categoria, que na segunda metade do século XX, seria conhecida como Sem-Terra. Lutaram pela terra, pelo desentranhamento da terra, numa luta que vem sendo realizada até hoje. Essas pessoas formaram o campesinato brasileiro, desenraizadas, obrigadas a migrar constantemente. Do Sul para o Nordeste e para o Norte. Do Nordeste para o Sudeste, Sul e Norte. Do Norte para o Sudeste. Do Sudeste para o Nordeste, esta é uma história de perambulação e de resistência camponesa. A ocupação pelos camponeses sem-terra era e é a principal forma de ter acesso a terra. A ocupação tornara-se uma ação histórica da resistência (FERNANDES, 1999. p. 18).

A dinâmica migratória dos camponeses era feita, em primeiro lugar, para garantir os interesses da classe dominante de cada período e, em segundo lugar, a migração era levada por necessidades de buscar a terra, trabalho para reprodução social dos migrantes da terra. Dessa forma seja pelo mecanismo de controle político, seja pela necessidade, a migração como mecanismo de interesses do capital aparece em todo processo de formação brasileira, desde a colônia aos dias atuais.

Esse movimento dos trabalhadores do campo em busca de terra perpassa todo o século XX, evidenciando o constante conflito com os interesses do capital, já que a sua condição de subalterno nem sempre o tem deixado na condição de submisso, a exemplo das lutas camponesas na segunda metade do século XX, onde camponeses organizados nas Ligas Camponesas, sindicatos, organizações de base ligadas a Igreja forjaram a luta contra o capital no campo.

Essas lutas possibilitaram a organização política e luta coletiva, dos migrantes da terra, que lutavam para sua reprodução social e contra o capital muitas vezes de formas isoladas e que agora se encontram como sujeitos coletivos e políticos organizados em movimentos sociais. As famílias sem terras, indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco, camponeses enfim os grupos sociais que representam a classe arrancados de suas terras e transformados em força de trabalho escrava, longe de seus lugares de origem. (RIBEIRO, 1995)

Atualmente, estes migrantes podem ser encontrados em todas as regiões do país, constituindo a classe camponesa expropriada de suas condições de trabalho e da própria terra pela dinâmica capitalista contemporânea, cujas expressões podem ser percebidas nas questões apresentadas pelos quilombolas, sem terra, indígenas, seringueiros, caiçaras, extrativistas.

(20)

camponesa no campo que se expressam e se mobilizam de forma diferente, contrariando a determinação do sistema que quis historicamente impor uma condição submissa.

Para Martins (1983, p.9), os camponeses são insubmissos na sua condição de classe, e para isso vão contra a ordem estabelecida, seja contra esta instituída pelo latifúndio ou pelo Estado. Assim se deu o processo de territorialização das organizações políticas do campo contra a consolidação do capital na década de 1950 e nos primeiros anos da década de 1960. Essas organizações foram importantes na luta pela reforma agrária e na luta contra o Estado autoritário brasileiro que, há tempos, encontrava-se articulado com os interesses do capital internacional.

Assim, a questão agrária e a migração são questões inerentes a formação brasileira, fazendo parte da dinâmica de interesses para o desenvolvimento do capitalismo no campo brasileiro. Podemos perceber que os migrantes da terra de ontem são os mesmo migrantes da terra de hoje, com particularidades distintas, no entanto tem um elemento que deve ser destacado, a luta, a resistência e a organização desses migrantes da terra se fazem de forma articulada através de sujeitos coletivos representados em organizações políticas.

2. A atualidade da questão agraria e os novos velhos migrantes da terra.

A partir da década de 1940 as organizações políticas, religiosas e de trabalhadores, passaram a pautar efetivamente esse tema da questão agrária, superando os limites do debate realizado anteriormente. Neste período, a reivindicação da terra passa a ser por políticas públicas, políticas agrícolas, educação e reforma agrária para o campo. Assim, o debate da reforma agrária adentra o cenário político nacional, sendo incluído na agenda do poder central. A partir desse período a luta pela terra assume forma mais articulada, buscando desenvolver ações menos isoladas e envolvendo vários sujeitos políticos, uma vez que naquele momento as organizações da sociedade começaram a pautar a questão agrária, seja nos partidos políticos, seja nas organizações dos trabalhadores.

Este fato representou um avanço na luta política no campo, o que significou algo positivo nas organizações camponesas que fazem a luta pela terra. Esta, por sua

(21)

vez, foi assumindo outras dimensões políticas que marcaram a segunda metade do século XX. Daí em diante o país passou a conhecer outra forma de resistência e luta pela terra, num processo mais articulado, incluindo de vez no vocabulário da política brasileira a bandeira da reforma agrária. Isso ocorreu como resultado da organização dos camponeses em vários espaços políticos, tais como sindicatos, associações, cooperativas, Igrejas ou partidos. Articulados, os camponeses passaram a enfrentar de frente o latifúndio. Neste sentido,

Particularmente a partir dos anos 50, camponeses de várias regiões do país começaram a manifestar uma vontade política própria, rebelando-se de vários modos contra seus opressores, quebrando velhas cadeias, levando proprietários de terras aos tribunais para exigir o reparo de uma injustiça ou o pagamento de uma indenização; organizando-se em ligas e sindicatos; exigindo do Estado uma política de reforma agrária; resistindo de vários modos a expulsões e despejos; erguendo barreiras e fechando estradas para obter melhores preços para seus produtos. (MARTINS, 1983, p.10).

A citação acima dá a dimensão do que estava acontecendo no campo brasileiro em meados do século XX, demonstrando a insatisfação dos camponeses com as questões relacionadas à terra, explicitando o que já foi apresentado anteriormente, o debate da questão agrária e o processo migratório, duas faces da mesma moeda, já que são duas questões que estão inerente ao sistema e que contraditoriamente interessa ao desenvolvimento do capitalismo no campo, desde que esteja dentro dos marcos de controle desse sistema. Fugir a ele representa reação negativa em dobro, a exemplo do que foi o regime da ditadura militar que levou o país a 21 anos de controle militar e político das organizações políticas, em especial das organizações camponesas que se colocavam contra o modelo vigente.

A luta contra o capital no campo, até o passado recente, era expressa pelo latifúndio versus camponês; hoje o capitalismo no campo é hegemonizado por esse mesmo latifúndio agora utilizando novas expressões, o agronegócio. No Maranhão o agronegócio ganha força a partir da produção de soja no sul do estado, tendo como principal interesse o mercado externo. O debate acerca desse tema toma forma principalmente a partir da segunda década de 1990 quando ganha força a bandeira do desenvolvimento do capitalismo na agricultura no Maranhão, através da produção de commoditties, articulado a fortes políticas públicas, acompanhados de grandes incrementos produtivos de apoio de intuições financeiros para este setor, enquanto

(22)

que para os grupos de camponeses a carência de políticas e recursos é uma forte oposição de forças que vai desde o legislativo à mídia, articuladas com as instituições financeiras e do capital internacional.

No contexto apresentado, a migração constitui processo histórico estadual, sendo que no caso das migrações camponesas ou, especificamente, das áreas de reforma agrária, o processo migratório tem como em dos seus determinantes a complexidade das políticas de reforma agrária que, de maneira geral, não cria condições de trabalho e manutenção das famílias na terra.

No caso da comunidade Alto Bonito, no assentamento Cigra, a caracterização das políticas acessadas pelas 57 famílias ali assentadas mostra, de forma contundente a precariedade e fragilidade das ações que deveriam constituir os pilares da reprodução camponesa nos assentamentos. A pesquisa ali realizada mostra que ali 77% das famílias recebem algum tipo de programa assistencial, todos do governo federal, nenhum de responsabilidade estadual ou municipal. Os programas acessados são, basicamente, o Programa Bolsa Família, Aposentadoria ou o Auxílio-maternidade e Auxílio-doença.

Os desdobramentos destas políticas apresentam questões ou situações complexas e delicadas, a exemplo do Programa Bolsa Família, que apesar de constituir-se programa da gestão pública federal é implementado por ações da gestão municipal, o que implica em relações políticas bastante complexas entre público beneficiado e poderes políticos locais, tanto públicos quanto privados. Tal contexto possibilita a fragilidade política das famílias pobres, principalmente do campo e, isto porque muitas vezes as famílias precisam submeter-se a relações determinadas por gestores municipais, constituindo sua inserção no Programa moeda de troca política. A fragilidade e dependência política das famílias perante esses gestores possibilitam que estes, muitas vezes, se utilizem do programa para fazer controle social.

Em termos dos poderes privados, as famílias, por exemplo, são comuns as denúncias de situações de pressão a que comerciantes locais tentam submeter as famílias a controles de compra, chegando ao extremo de apreensão dos cartões magnéticos dos beneficiados.

(23)

Importante destacar que apesar dos programas públicos comporem renda complementar para as famílias, não estão impedindo fluxos migratórios da comunidade e do assentamento, nem mesmo têm dado conta das demandas existentes. Em termos das políticas, a juventude é o grupo que mais é afetado pela fragilidade destas, vendo na migração, alternativas para o trabalho e a geração de renda. Para isso, pagam o preço da distância da família, a convivência com a comunidade, o choque de cultura e de valores.

No que se refere ao tipo de produção, a comunidade tem como na matriz tecnológica da produção agrícola a roça no toco, que é o sistema de corte, queima e limpeza da área, prática bastante rudimentar, pois todo o processo feito com o uso de foice e facão. A pesquisa mostra que 100% das famílias desenvolvem práticas agropecuárias, com o plantio de arroz, feijão, milho, mandioca e legumes típicos da região, como quiabo e abóbora. Em termos da produção pecuária, é a criação de gado bovino para corte, assim como animais de pequeno porte como porco e galinha.

Porém, apesar de todas as famílias envolvidas no processo produtivo, a produção agrícola é basicamente para o auto sustento, sendo comercializados produtos excedentes. A comercialização deste excedente agrícola, assim como do gado de corte, geralmente é feita para os atravessadores, sujeito que compromete todo o sistema produtivo por manter controle comercial da produção, determinando preço e condições de compra da produção. Tal situação advém das dificuldades das famílias assentadas terem condições de comercialização, posto não existir a efetivação de políticas públicas que viabilizem, de forma consistente, esta fase da produção.

Sobre as justificativas para a migração apresentadas para a pesquisa, consta a insuficiência do trabalho agropecuário na geração de renda para a manutenção das famílias, não sendo suficiente nem para o autoconsumo, muitas vezes. Outro elemento importante é a contribuição da renda adquirida na migração para a estruturação mais adequada dos lotes produtivos, ou seja, os recursos ganhos são investidos diretamente na produção, assim como na própria moradia do migrante.

De forma bastante expressiva foi dado ênfase à necessidade dos jovens migrarem, estando entre os maiores motivos a necessidade de ajuda financeira que as

(24)

famílias têm e o não acesso destes às políticas produtivas de reforma agrária. A dificuldade de acesso a estas políticas pelos jovens deve-se à sua condição de não assentado.

É explícita a diversidade da migração, onde os migrantes tomam os rumos mais diferenciados possíveis, viajando para o vizinho estado do Pará, circulando por boa parte do país e, inclusive, saindo deste. No entanto, fica muito bem demarcado que o destino principal seguido pelos migrantes do Alto Bonito se concentra na região Sudeste e, observando mais atentamente, se percebe que este destino é um dos territórios da cana-de-açúcar no estado de São Paulo. A mobilidade dos camponeses migrantes pode ser observada no mapa abaixo.

Mapa - Destino dos migrantes do Alto Bonito – CIGRA (2010)

As atividades produtivas levantadas em que se empregam durante o período migratório mostram a diversidade de ramos em que esses migrantes se envolvem. Foram identificadas atividades como açougueiro, operário da construção civil, operário fabril, doméstica, babá, balconista, garçonete, carvoeiros, plantio e colheita de tomate,

(25)

batata e cenoura, crediarista, juquireiro8, garimpeiro, e atividades gerais na produção de cana-de-açúcar e soja. Uma das curiosidades acerca de tal informação é a capacidade laborativa do grupo, que vai se adequando às diversas realidades e tipos de trabalho, dentre os quais se percebe que muitos não são agrícolas. Em outras palavras, enquanto assentados da reforma agrária, estes migrantes encontram-se submetidos às condições complexas, pois precisam, para garantir a renda buscada, exercer papéis bastante distintos do seu trabalho no campo, de sua lida nas roças, num contexto completamente diverso do seu.

Das muitas informações obtidas na pesquisa, fica demarcado o alto índice de famílias com migrantes, sendo que este número chega a 66,60% das famílias. Tal índice merece uma reflexão, pois como justificar que famílias assentadas em áreas de reforma agrária, que em tese dispõem de um conjunto de políticas públicas que lhe assegurem sua reprodução social camponesa, necessitem migrar para os mais diversos lugares e regiões do país, e até para outros países, em busca de trabalho, como complementação de renda.

A pesquisa aqui apresentada, ainda que de forma sintética, mostra a complexidade das condições de vida e trabalho no campo, especialmente nos assentamentos rurais.

CONSIDERAÇÕES

As famílias assentadas da reforma agrária hoje são as famílias que viviam na condição de sem terra antes de serem assentadas, sujeitos históricos submetidos às condições de expropriação e de exploração por parte do latifúndio, mas que através da ocupação, a partir de um trabalho político organizativo, assumiram a identidade de famílias Sem Terra. São, pois, pessoas que vivem como sujeitos críticos de sua própria história, que se organizam e se reproduzem socialmente como camponeses Sem Terra.

É importante ressaltar que questões como a organização produtiva das famílias no assentamento CIGRA, o enfrentamento da questão agrária, a luta por

8 Juquireiro: trabalhador de fazenda na atividade especifica do corte de Juquira, que é a designação regional para definir roçado, pastagem, mata que deve ser trabalhada.

(26)

políticas públicas, constituem situações que sempre foram mediadas pelo Estado, principalmente por três instituições: o INCRA, o Governo do Estado do Maranhão e a Prefeitura Municipal. Estas, enquanto instituições públicas, representações e instâncias do Estado, sempre estabeleceram relações complexas com a comunidade em questão, já que desde o momento da ocupação até o acesso aos programas sociais, a aplicabilidade de qualquer conquista passou – e continua passando - diretamente por estas instituições públicas, o que interfere nas condições materiais de vida dessas famílias. Tal fato, porém, não minou a busca pela autonomia e emancipação política das pessoas e da comunidade.

O modelo de reforma agrária estabelecido como Política de Estado, articulado ao interesse do lucro capitalista, tem como objetivo o grau de inserção das famílias no mercado e a melhoria de sua qualidade de vida. Contraditoriamente, esses organismos não investem em questões estruturais (social e econômica) do assentamento. E, diante da inexistência de uma política pública agrária e agrícola voltada às populações pobres do campo, a ação do Estado tem se dado através de políticas compensatórias, como os programas sociais, a exemplo do Programa Bolsa Família e Bolsa Jovem, e com projetos pontuais pensados em curto prazo, a exemplo dos Projetos financiados pelo Governo Federal.

Minhas observações apontam para o fato de que a migração em assentamento de reforma agrária, tem se constituído como alternativa à precariedade das políticas de reforma agrária, na busca da garantia mínima de condições de sobrevivência para as famílias dos assentados e assentadas, ao mesmo tempo em que se constitui, desde sempre, numa das formas de resistência do campesinato às dificuldades enfrentadas para sua reprodução e recriação.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Manoel Correia de. A terra e o homem no Nordeste. Editora Universitária da UFPE. 6ª edição. Recife, 1998

FERNANDES, Bernardo Mançano. Contribuição ao estudo do campesinato brasileiro: formação e territorialização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

(27)

Terra - MST (1979 –1999). São Paulo. Tese de doutorado da Universidade de São Paulo - USP. 1999.

KONDER, Leandro. História das idéias socialistas no Brasil. São Paulo. 2ª edição Expressão popular, 2010.

MARTINS, Jose de Sousa. O Cativeiro da Terra. Editora Contexto , 2010, São Paulo. MARTINS, José de Sousa. Os camponeses e a política no Brasil: as lutas sociais no campo e seu lugar no processo político. Petrópolis 2ª edição, Editora Vozes, 1983.

MARTINS, José de Sousa. Expropriação e Violência: a questão política no campo. Editora Hucitec, 1980.

OLIVEIRA, Francisco de. A questão regional: a hegemonia inacabada. In Revista Estudos Avançados. 1993. Disponível em

http://www.scielo.br/pdf/ea/v7n18/v7n18a03.pdf. Acesso em 15 de junho de 2015. PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo. 45ª reimpressão. 1ª edição. Editora Brasiliense, 1998.

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. Companhia das Letras. São Paulo, 1995.

(28)

AMAZÔNIA MARANHENSE: campo de conflitos e interesses

Desni Lopes Almeida9

RESUMO

A Amazônia maranhense, região periférica do Brasil, tem sido espaço de inúmeros projetos desenvolvimentistas, principalmente desde os anos 1950. No entanto, apesar das promessas de desenvolvimento, o que tem ocorrido é um processo crescente de exploração dos recursos naturais e uma intensificação de conflitos sociais, principalmente os ligados à questão agrária, o que faz com que o Maranhão figure como um dos principais pontos de conflitos no campo do Brasil. Marcado pela forte presença do latifúndio, trabalho escravo, violência contra lideranças rurais e extrema pobreza, a questão agrária no Maranhão é uma síntese da realidade agrária no país. O presente trabalho abordará os impactos no campo, decorrentes da implantação de grandes projetos, na região da Amazônia maranhense.

Palavras-Chave: Amazônia Maranhense – Conflito – Questão Agrária.

ABSTRACT

The Maranhão Amazon , peripheral region of Brazil , has been space of numerous development projects , especially since the 1950s However , despite the promises of development , what has occurred is a growing process of exploitation of natural resources and an intensification of conflicts social , especially those related to land issues , which makes the Maranhão figure as one of the main points of conflict in Brazil the field. Marked by the strong presence of large estates , slave labor , violence against rural and extreme poverty leadership , the agrarian question in Maranhão is a synthesis of the agrarian reality in the country. This paper will address the impacts in the field, resulting from the implementation of major projects in the Amazon region of Maranhão .

Keywords : Amazon Maranhense - Conflict - Agrarian Question

9

(29)

INTRODUÇÃO

O Maranhão, estado que fica na divisa entre a região Norte e o Nordeste brasileiro (como mostra o mapa 1, abaixo), historicamente tem figurado como um dos principais espaços de conflitos agrários do país. A alta concentração fundiária – como bem prova o índice de GINI de 0.6210, a incidência de trabalho escravo, assassinatos de lideranças camponesas, marcam com cores fortes, do sangue dos trabalhadores explorados, a realidade do campo no estado.

MAPA 1: Mapa do Brasil por região e estados

Embora detentor de uma vasta riqueza natural, há uma imensa pobreza social, que assola a sociedade maranhense, fazendo com que esta acumule índices alarmantes no que tange ao desenvolvimento humano, como: o alto índice de mortalidade infantil (39,6%)11, Analfabetismo (20,8%, entre pessoas de 15 anos ou

10

O Índice de Gini é um instrumento para medir o grau de concentração de renda/terra em determinado grupo. Numericamente, varia de zero a um, sendo que o valor zero representa a situação de igualdade e o valor um, representa a desigualdade. Quanto mais próximo do número um, maior o grau de concentração.

11

(30)

mais)12, pessoas em situação de pobreza extrema (22,47%)13, o que faz com que o Maranhão tenha o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano – IDH do país (0.639)14, ficando atrás apenas do estado de Alagoas.

Em virtude de sua diversidade e riqueza natural, e suas vastas terras, o Maranhão como espaço periférico da economia nacional, enquadra-se como o espaço necessário ao grande capital para seu movimento de realocação e reorganização dos processos de exploração. Assim sendo, reconheço o Maranhão como o território descrito por David Harvey, em sua teoria de ajuste espaço temporal do capital. Para a autora

... a produção do espaço, a organização de novas divisões territoriais de trabalho, abertura de novos e mais baratos complexos de recursos, de novos espaços dinâmicos de acumulação de capital, e a penetração em formações sociais pré-existentes pelas relações sociais capitalistas e acordos institucionais (tais como regras contratuais e acordo de propriedade privada) são formas de absorver excedentes de capital e mão de obra [...] vastas quantidades de capital fixo em um lugar atuam como obstáculo na busca por ajustes espacial em outro lugar. (HARVEY, 2005:12)

Nesse sentido, o Maranhão tem sido palco das promessas de desenvolvimento, que viriam para o estado, no bojo dos grandes projetos. No entanto, as promessas de desenvolvimento dão lugar a intensos conflitos, no campo e na cidade, nos eixos dos chamados grandes projetos, que acabam pro representar, efetivamente, uma realidade de profunda exploração dos recursos naturais, quase sempre ao custo da expulsão e destruição de modos de vida de sociedades tradicionais locais, levando a um crescimento desordenado das cidades em torno dos projetos e que acabam por resultar em uma realidade de extrema vulnerabilidade social, o que leva a problemas sociais graves, a exemplo do trabalho escravo, aumento da violência, prostituição infantil, dentre outros.

12 Dados do IBGE – Censo Demográfico 2010, e do PNAD. 13 Dados do IBGE

14

Referências

Documentos relacionados

Assim, são apresentados os elementos que melhor descrevem este período de estágio - 5 de março a 10 de junho de 2018 -, nomeadamente aqueles que concernem a

Quando se fala do risco biotecnológico como uma comunicação que viabiliza a formação de uma multiplicidade de estados internos em diversos sistemas sociais, pode-se perceber a

1 - A presente portaria estabelece os requisitos mínimos relativos à organização e funcionamento, recursos humanos e instalações técnicas para o exercício da atividade das

Então, é isso que eu entendo, mas acho importante dizer, que essa é uma questão que ta ligada quase que à elite da população mundial, repito, ser importante, mas grande parte

O artigo tem como objeto a realização, em 2013, do Congresso Internacional Justiça de Transição nos 25 anos da Constituição de 1988 na Faculdade de Direito da UFMG, retratando

2019 ISSN 2525-8761 Como se puede observar si bien hay mayor número de intervenciones en el foro 1 que en el 2, el número de conceptos es semejante en estos espacios

17 CORTE IDH. Caso Castañeda Gutman vs.. restrição ao lançamento de uma candidatura a cargo político pode demandar o enfrentamento de temas de ordem histórica, social e política

However, we found two questionnaires that seemed interesting from the point of view of gathering information about students' perspective on the use of