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Intervenção iussu iudicis no Código de Processo Civil Brasileiro

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ARTHUR FREITAS DE SOUSA

INTERVENÇÃO IUSSU IUDICIS NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO.

Tubarão 2019

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ARTHUR FREITAS DE SOUSA

INTERVENÇÃO IUSSU IUDICIS NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO.

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade.

Orientador: Prof. Zulmar Duarte de Oliveira Junior, Esp.

Tubarão 2019

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À Deus pelo cuidado e capacitação e à minha família pelo amor incondicional e por todo o esforço, que por vezes foi sacrifício, para que nosso sonho transpassasse o mundo das idealizações e se concretizasse em uma dura, mas satisfatória, caminhada.

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AGRADECIMENTOS

Faltam linhas para expressar os devidos agradecimentos mas, em primeiro lugar, toda honra e toda glória à Deus, Àquele que me sustenta e me capacita e sem o Qual certamente não chegaria à este momento.

À meus pais, José Martins e Selma Freitas, e ao irmão, Leonardo Freitas, por todo amor e esforço empenhados nesse projeto, são eles que estavam, estão e estarão ao meu lado em todos os momentos, e a quem palavras não podem expressar qualquer gratidão.

À minha namorada, Thaise Aguiar, por todo o amor, companheirismo e compreensão, principalmente por sonhar e me cobrir à cada pequeno momento até que esta tarefa se findasse, certamente nossos sonhos prosseguirão e este trabalho ficará como marco na nossa jornada. Também aos meus “projetos de sogros” e “cunhada”, Rodrigo, Jucélia e Thamires, que já fazem parte da minha família e cada qual do seu jeito contribuiu para este momento.

Aos meus amigos de batalha, Fernando Damázio e Matheus Coelho, os quais espero carregar para a vida, porquanto fizeram desta caminhada um lavor muito mais fácil, proporcionando bons momentos, certamente serão grandes pessoas e seu brio os tornará grandiosos operadores do direito.

Aos amigos do escritório de advocacia De Nadal Duarte & Fernandes, Eduardo, Mariana, Mielli, Robertha, Rubia e Ricardo, com os quais compartilho meus dias e fazem parte do meu crescimento pessoal e profissional, além de proporcionar boas histórias e risadas.

À todas as pessoas importantes com quem já partilhei algum momento especial, dentre elas amigos e profissionais, em particular, Marcos, Rhayana e Ely, que são amigos inestimáveis, e José Carlos, Vânia e Dra. Taynara, pelos quais além de carinho, guardo profunda admiração.

Por fim, ao meu orientador Zulmar Duarte, com quem também tenho compartilhado da vida profissional, além de ter a honra de ser um aprendiz, tendo ele me confiado a difícil missão de ser seu orientando. Seus ensinamentos certamente tem me feito amadurecer, não somente no campo jurídico, mas pessoalmente, pois é um grande homem.

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RESUMO

O objetivo principal deste trabalho é analisar a possibilidade de aplicação da intervenção iussu

iudicis no Código de Processo Civil brasileiro. A natureza da pesquisa, quanto ao nível, foi

exploratória e, no tocante à abordagem, qualitativa. O procedimento utilizado para a coleta de dados foram bibliográfico e documental. Os resultados obtidos demonstram que, embora o legislador tenha almejado fechar o sistema de intervenção de terceiros por meio das hipóteses típicas contidas no atual Código, por vezes, existem casos que fogem ao espectro de albergue da sua proteção, indicando para a necessidade de se vislumbrar novos horizontes, notadamente no que tange aos casos em que os efeitos da sentença, embora não produzam a indiscutibilidade e imutabilidade da coisa julgada, afetam a esfera de terceiros, gerando prejuízos oriundos de processo em que não participaram efetivamente. Observou-se, outrossim, que a intervenção de terceiros iussu iudicis pode se tornar um importante vetor para solucionar o referido problema, na medida que possibilita ao juiz, por meio de decisão motivada evidenciado os motivos que justificam a hipótese, determinar a integração de terceiros afetados pelo processo, sempre tendo em mente que o processo é um instrumento apto a proporcionar a satisfação da tutela do jurisdicionado, devendo ser adequado quando necessário, com fim de atingir seus escopos. A medida, ainda, funciona como catalizador, potencializando o contraditório e consagrando os princípios do devido processo legal, da segurança jurídica, da harmonia dos julgados, da instrumentalidade do processo, da duração razoável e da diminuição de desperdício de tempo e energia da máquina judiciária. Ademais, os óbices constituídos pela discricionariedade do juiz, princípio do dispositivo e da demanda não são dogmas absolutos, ao que cedem espaço por vezes ao interesse público. Assim, pode-se concluir que além das medidas típicas já reguladas, embora o código não possua um dispositivo único no sentido de permitir a intervenção iussu

iudicis atípica, à luz dos princípios elencados e alicerçado em uma leitura conjugada das

disposições do ordenamento processual, mormente a partir do artigo 1º, artigo 4º, artigo 6º, artigo 7º, artigo 8º, artigo 115, parágrafo único, artigo 139, incisos I, II e VI e artigo 382, parágrafo primeiro, todos do Código de Processo Civil, faz-se possível uma aplicação sistemática da intervenção iussu iudicis, sempre que o juiz vislumbrar o risco de afetação pelos efeitos sentença do litisconsórcio unitário facultativo e de demais terceiros prejudicados.

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ABSTRACT

The main objective of this paper is to analyze the possibility of applying the iussu iudicis intervention in the Brazilian Code of Civil Procedure. The nature of the research, in terms of its level, was exploratory and qualitative in its approach. The procedure used for data collection were bibliographic and documentary. The results show that, although the legislator aimed to close the third party intervention system through the typical assumptions contained in the current Code, sometimes there are cases that fall outside the shelter spectrum of its protection, indicating the need to glimpse new horizons, notably with regard to cases in which the effects of the sentence, although not producing the indisputability and immutability of the res judicata, affect the sphere of third parties, generating losses arising from a process in which they did not participate effectively. It was also observed that the intervention of third parties iussu iudicis can become an important vector to solve this problem, as it allows the judge, through motivated decision evidenced the reasons that justify the hypothesis, to determine the integration of third parties affected by the process, always bearing in mind that the process is a suitable instrument to provide the satisfaction of the jurisdictional guardian, and should be adequate when necessary, in order to reach its scope. The measure also acts as a catalyst, potentiating the contradictory and enshrining the principles of due process of law, legal certainty, harmony of judgments, instrumentality of the process, reasonable duration and reduction of waste of time and energy of the judiciary. Moreover, the obstacles constituted by the discretion of the judge, the principle of the device and the demand are not absolute dogmas, which sometimes give way to the public interest. Thus, it can be concluded that in addition to the typical measures already regulated, although the code does not have a single device to allow atypical iussu iudicis intervention, in the light of the principles listed and based on a combined reading of the provisions of the procedural order, especially from Article 1, Article 4, Article 6, Article 7, Article 8, Article 115, sole paragraph, Article 139, items I, II and VI and Article 382, first paragraph, all of the Code of Civil Procedure, systematic application of the intervention iussu

iudicis is possible, whenever the judge sees the risk of being affected by the effects of the

judgment of the optional unitary joint venture and other injured third parties.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 10

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA ... 10

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ... 11

1.3 HIPÓTESE ... 11

1.4 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS ... 12

1.5 JUSTIFICATIVA ... 12

1.6 OBJETIVOS ... 13

1.6.1 Geral ... 13

1.6.2 Específicos ... 13

1.7 DELINEAMENTO DA PESQUISA ... 14

1.8 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURAS DOS CAPÍTULOS ... 14

2 ELEMENTOS DO PROCESSO ... 16

2.1 CONCEITO DE PARTES E TERCEIROS ... 16

2.2 PEDIDO E CAUSA DE PEDIR ... 21

2.2.1 Causa de Pedir ... 21

2.2.1.1 Causa de pedir remota ... 23

2.2.1.2 Causa de pedir próxima ... 23

2.2.2 Pedido ... 25

2.2.1.3 Pedido Imediato ... 25

2.2.1.4 Pedido Mediato ... 27

3 PLURALIDADE DE PARTES ... 29

3.1 LITISCONSÓRCIO ... 29

3.1.1 Litisconsórcio Necessário e Facultativo ... 31

3.1.2 Litisconsórcio Unitário e Comum ... 35

3.2 INTERVENÇÃO DE TERCEIROS ... 38

3.2.1 Assistência ... 40

3.2.2 Denunciação da lide ... 43

3.2.3 Chamamento ao processo ... 45

3.2.4 Incidente de desconsideração da personalidade jurídica ... 46

3.2.5 Amicus curiae ... 48

4 INTERVENÇÃO DE TERCEIROS IUSSU IUDICIS ... 50

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4.2 CONCEITO, FUNDAMENTAÇÃO E NOTAS ACERCA DA INTERVENÇÃO IUSSU

IUDICIS ... 51

4.2.1 Conceito ... 51

4.2.2 Base principiológica e óbices à intervenção ... 55

4.2.1.1 Óbices ... 56

4.2.1.2 Princípios condutores ... 59

4.3 COISA JULGADA E EFEITOS DA SENTENÇA ... 65

4.4 APLICABILIDADE ... 67

4.4.1 Produção antecipada de provas ... 67

4.4.2 Dinâmica da intervenção iussu iudicis atípica ... 69

5 CONCLUSÃO ... 73

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como pano de fundo a análise da intervenção iussu iudicis.

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

De início, para que não se navegue em águas desconhecidas, situando-se ao tema, define-se previamente a intervenção iussu iudicis, como uma modalidade de intervenção de terceiros coata, ordenada de ofício pelo juiz, sendo típica quando da citação do litisconsorte passivo necessário, da citação do interessado na produção de provas ou da intervenção determinada de ofício do amicus curiae e atípica, nos casos de litisconsórcio facultativo unitário e quando terceiros possam ser afetados pelos efeitos da sentença (DIDIER JUNIOR, 2015, p. 526; CINTRA, 2015, p. 225).

Nesse sentido, para que se adentre propriamente ao cerne da pesquisa, necessário será perpassar por assuntos como conceito de partes, terceiros, pedido, causa de pedir, litisconsórcios, intervenção de terceiros e suas modalidades, efeitos da sentença e coisa julgada, além dos princípios condutores e dos principais óbices.

Ademais, embora não seja objeto desta pesquisa realizar um estudo envolvendo aspectos de direito comparado, tampouco cronológico, é inviável abordar o instituto da intervenção de terceiros em sua modalidade iussu iudicis sem uma breve análise de suas raízes e evolução histórica.

Fixo nisso, para chegar a origem do instituto, remonta-se ao Código de Processo Civil italiano de 1865, que inseriu a figura junto às demais intervenções de terceiros previstas no ordenamento. (BURGO, 2013, p. 150). Com o amadurecimento das ideias, embora criticada pela discricionariedade, a intervenção por ordem do juiz passou a ser interpretada como meio de integração do juízo no processo italiano, sendo que no Brasil a modalidade surge efetivamente com a promulgação do Código de Processo Civil de 1939, inserido na dicção do artigo 911 (BRASIL, 1939).

Como não podia deixar de ser, com a inovação surgiram as críticas e conforme narra Costa (1961, p.13) em sua obra, que provavelmente é a mais relevante e de maior contribuição para o tema no país, “após 20 anos da vigência do Código de Processo Civil, ainda subsistem

1 Art. 91. O juiz, quando necessário, ordenará a citação de terceiros, para integrarem a contestação. Se a parte interessada não promover a citação no prazo marcado, o juiz absolverá o réu da instância.

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incertezas quanto à natureza jurídica e finalidade da intervenção prevista no art. 91.” O fato é, em meio as inseguranças causadas pelo caos que poderia se originar do desconhecido, a nova modalidade de intervenção de terceiros não obteve sucesso imediato, o que levou supressão do dispositivo em 1973. Embora atualmente ainda haja o desconhecimento do assunto pela comunidade jurídica em um modo geral, permanece a relevância da discussão, à medida que a análise de sua possibilidade não procede de mera especulação fantasiosa.

Em verdade, a compreensão do tema enseja um minucioso estudo de seus reflexos no processo contemporâneo, colocando na balança princípios condutores do processo civil brasileiro. Nessa linha, em seu recente trabalho, Cintra (2017) faz apontamentos sobre a incompletude do sistema de intervenção brasileiro, bem como apresenta as ratios da medida,

v.g., economia processual, harmonia de julgados, instrumentalidade do processo, publicidade,

entre outras causas que justifiquem sua admissibilidade.

Em sendo assim, deve-se sopesar os benefícios que podem ser alcançados com o instituto, levando-se em conta a possibilidade de ferir princípios como do dispositivo e a excessiva margem de discricionariedade conferida ao magistrado (BURGO, 2013, p. 146).

Por fim, outra incerteza que ronda o tema é, a possibilidade da intervenção mesmo à mingua de disposição expressa, bem como a sua adequação ao sistema processual, notadamente as hipóteses de admissibilidade, momento de intervenção, modo de efetivação, posição de poderes do interveniente e efeitos da coisa julgada (CINTRA, 2017).

Em meio ao debate, surge o questionamento da pesquisa, é possível a aplicação da intervenção por ordem do juiz no Código de Processo Civil brasileiro?

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

A intervenção iussu iudicis é possível no Código de Processo Civil brasileiro? 1.3 HIPÓTESE

Considerando preponderantes os princípios do contraditório, devido processo legal, acesso à justiça, instrumentalidade, publicidade, harmonia entre julgados e economia processual, é possível a aplicação da intervenção iussu iudicis no processo civil brasileiro a partir de uma interpretação sistemática, notadamente a partir da conjugação do artigo 1º, artigo 4º, artigo 6º, artigo 7º, artigo 8º, artigo 115, parágrafo único, artigo 139, incisos I, II e VI e artigo 382, parágrafo primeiro, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015), condicionando

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sua viabilidade no processo de conhecimento à uma extensão do regramento conferido ao litisconsórcio necessário.

1.4 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS

Intervenção iussu iudicis: é a modalidade de intervenção de terceiros coata, ordenada de ofício pelo juiz, sendo típica quando da citação do litisconsorte passivo necessário, da citação do interessado na produção de provas ou da intervenção determinada de ofício do

amicus curiae e, atípica nos casos de litisconsórcio facultativo unitário e que terceiros possam

ser afetados pelos efeitos da sentença (DIDIER JUNIOR, 2015, p. 526; CINTRA, 2015, p. 225). Possibilidade: refere-se ao enfrentamento próprio da viabilidade da figura no direito processual civil brasileiro, perpassando por temas como embates entre princípios condutores, suas razões, base legal, hipóteses de intervenção, posição de poderes e limites da coisa julgada. Código de Processo Civil brasileiro: entende-se pelo atual ordenamento que rege o processo civil no Brasil, a Lei nº 13.105/2015, que institui o Código de Processo Civil.

1.5 JUSTIFICATIVA

Em contato com as duas principais obras literárias acerca da intervenção de terceiro

iussu iudicis no Brasil, escritas por Costa (1961) e Cintra (2017), observou-se a oportunidade

de contribuição que a espécie pode agregar ao Processo Civil brasileiro, na direção das próprias diretrizes entabuladas pela reforma de 2015, notadamente em termos de potencialização do contraditório, acesso à justiça, celeridade processual, instrumentalidade do processo, harmonia entre os julgados e publicidade dos processos judiciais (CINTRA, 2017). Outrossim, há a importância em discutir sobre as incompletudes do sistema de intervenção de terceiros vigente em nosso país (SICA, 2011), mesmo após a recente reforma do código de processo civil.

Ao fim e ao cabo, em meio ao pouco conhecimento que se tem a respeito da hipótese, emana a importância do debate acadêmico relativamente a sua possibilidade e aplicabilidade, de modo que não se pretende traçar remendos novos em um traje velho, mas sim fazê-los por meio de novas ideias (KANT, 2018, p.16). Fixadas as premissas, buscou-se nas bases de dados estudos no meio acadêmico a nível nacional em relação à intervenção por ordem do juiz, o que obteve pouca efetividade.

Forçoso destacar que, embora o assunto não seja cerebrino, o ápice de sua discussão possivelmente se deu na vigência do Código de Processo Civil de 1939, nesse sentido, com a supressão do dispositivo que dava azo a sua defesa, seguramente esfriou-se o interesse do

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debate, ganhando vida nova com o ressurgimento de sua hipotética aplicabilidade com a inovação trazida pelo parágrafo primeiro do artigo 382 do CPC 2015 (BRASIL,2015). Não obstante, sem a pretensão de vincular-se à ideias de outros trabalhos, pesquisas encontradas nas bases de dados como as de Baldinati e Leonardo (2016), Burgo (2013), Cassini (2004), Coelho (2013), Didier Junior (2012), Oliveira (2018), Romera (2013) e Sica (2011), todas voltadas à pluralidade de partes no processo, mencionam superficialmente a intervenção iussu iudicis, conquanto, sem a profundidade que aqui se almeja. Maior relevância tem a tese de Cintra (2016), que deu ensejo a obra atual de maior relevo no Brasil quanto a modalidade, onde a autora remonta-se as origens da figura, aborda aspectos a respeito da intervenção de terceiros no sistema brasileiro e adentra na possibilidade de sua aplicação ou não.

Assim, a proposta da presente pesquisa não se assemelha aos autores citados, haja vista que buscará refletir especificamente acerca da possibilidade da intervenção iussu iudicis no sistema processual brasileiro, diferenciando-se inclusive das obras de Cintra (2016, 2017), as quais tem pano de fundo semelhantes, mas com conclusões divergentes, aqui, v.g., sem a necessidade de se criar um microssistema especial.

1.6 OBJETIVOS

Os objetivos que se visam alcançar com o desenvolvimento do tema são: 1.6.1 Geral

Analisar a possibilidade de aplicação da intervenção iussu iudicis no Código de Processo Civil brasileiro.

1.6.2 Específicos

Comparar os conceitos clássicos de partes e terceiros no processo, a fim de correlaciona-los ao objeto da pesquisa.

Delinear o estudo de pedido e causa de pedir. Diferenciar as modalidades de litisconsórcio.

Descrever às hipóteses de intervenções de terceiros atualmente previstas no sistema processual civil.

Ponderar os embates principiológicos que sustentam ou geram entraves à viabilidade da intervenção.

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Identificar os casos de cabimento, posição de poderes do interveniente e os limites da coisa julgada.

1.7 DELINEAMENTO DA PESQUISA

A presente pesquisa classifica-se, quanto ao nível, como exploratória, tendo como objetivo proporcionar ao pesquisador e ao leitor maior intimidade como o objeto estudado, i.e., aprofundamento acerca da intervenção iussi iudicis, seus fundamentos e a possibilidade de aplicação no código de processo civil brasileiro (LEONEL; MOTA, 2011, p. 101).

Outrossim, no que diz respeito a abordagem, o estudo enquadra-se em qualitativo, porquanto nas palavras de Minayo (1996, p.21 apud LEONEL; MOTA, 2011, p. 108) preocupa-se “com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”, atentando-se ao instituto estudado por si, e não as variáveis numéricas.

Ademais, em se tratando de procedimento, adotam-se os tipos bibliográfico e documental, desenvolvendo-se na tentativa de explicar o problema partindo de “teorias publicadas em diversos tipos de fontes”, utilizando-se de fontes primarias e secundárias, como livros, trabalhos acadêmicos e legislação, perpassando por todo o procedimento necessário à sua elaboração, compreendendo as etapas de escolha de tema, compreensão da descrição da situação problema, escolha dos objetivos, elaboração do plano de desenvolvimento, identificação e localização das fontes, obtenção do material, leitura do material, interpretação, tomada de apontamentos e, por fim, a redação da monografia (LEONEL; MOTA, 2011, p.112). 1.8 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURAS DOS CAPÍTULOS

Esta monografia foi estruturada em três capítulos, além desta introdução.

No primeiro capítulo se abordou acerca dos elementos que individualizam o processo, passando pelos conceitos de parte e terceiro e, após, ao pedido e a causa de pedir.

No segundo capítulo foi realizada breve incursão sobre o sistema de pluralidade de partes, sendo trabalhado o litisconsórcio e suas especificações e as intervenções de terceiros, perpassando pelas nuances de cada hipótese típica estabelecida no Código.

No terceiro capítulo, o qual tratou propriamente da intervenção iussu iudicis, apresentaram-se os motivos justificadores da defesa da intervenção, passando à abordagem conceitual, ao imbricamento entre princípios condutores e óbices, com rápidas notas no que

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tange aos efeitos da sentença e coisa julgada em relação à terceiros e, por fim, estudando a aplicabilidade da intervenção.

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2 ELEMENTOS DO PROCESSO

Antes de adentrar propriamente ao cerne da questão, imperioso se faz perpassar por pontos de sustentação teórica da intervenção iussu iudicis, v.g., o próprio conceito de partes e terceiros, que fixarão às balizas de quem efetivamente poderá discutir a matéria em pauta no processo, bem como outros temas elementares, como o pedido e causa de pedir, que vincularão à demanda proposta e tem reflexo direto no tema de partes e terceiros.

A temática possui fundamental importância para o objeto em questão, ao passo que tão somente com a identificação precisa dos elementos do processo é que se poderá cogitar a possibilidade da realização de intervenção por ordem do juiz.

Para tanto, se faz necessário definir quem são as partes e quem efetivamente é terceiro no processo, bem como balizar os limites da controvérsia instaurada que, mormente no que diz respeito a causa de pedir, poderá afetar ou não a esfera jurídica de terceiro, permitindo com que seja chamado a fim de potencializar o contraditório, qualificar o debate, oferecer maior efetividade à decisão judicial, com extensão da coisa julgada produzida, e dar concretude à celeridade processual, abreviando a resolução do conflito com maior presteza.

2.1 CONCEITO DE PARTES E TERCEIROS

Delimitar o conceito de parte2 com a clareza e precisão desejada não é tarefa das mais fáceis entre as temáticas envolvendo o direito processual civil, não obstante, faz-se peça fundamental para o desenvolvimento linear deste trabalho.

Na lição de Chiovenda (1998, p. 277-278):

[...] A determinação do conceito de parte não encerra simples importância teórica, antes é necessária à solução de graves problemas práticos. Que uma pessoa seja parte numa lide, ou seja terceiro, é importante para a identificação das ações, como por exemplo para verificar se ela está ou não sujeita à coisa julgada; se há ou não litispendência etc. Assim, para estabelecer se a relação com determinada pessoa torna o juiz incapaz; para decidir quem pode intervir como terceiro numa lide; quem pode fazer oposição de terceiro a uma sentença; quem está sujeito à condenação nas despesas (art. 370, CPC), e assim por diante. [...]

2 A estrutura do procedimento de jurisdição contenciosa nos permite entender porque os que devem ser julgados se chamam partes, que é um nome estranho e um pouco misterioso. O que tem a ver com o processo, e em geral com o direito, a noção de parte? A parte é o resultado de uma divisão, o prius da parte é um todo que se divide. A noção de parte está, portanto vinculada à da discórdia, que por sua vez é o pressuposto psicológico do processo; se não haveria nem litígios, nem delitos se os homens não se discordassem” (CARNELUTTI, 2009, p.46).

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A demarcação do conceito de parte e terceiro é, portanto, debate dos mais emblemáticos no direito processual civil, costumando ser empregada em diversas acepções, “ora para se referir aos sujeitos do ato processual, ora para designar os sujeitos atingidos pelos efeitos dos atos processuais (direitos, deveres, ônus, obrigações), ora para apontar as pessoas destinatárias dos efeitos materiais do processo” (RODRIGUES, 2017, p. 25).

Nesse aspecto, a compreensão do conceito de parte é de grande valia para o instituto da intervenção de terceiros iussu iudicis, servindo para delinear corretamente quem poderá intervir no contraditório, quais seus poderes e quais os limites de vinculação ao pronunciamento proferido no âmbito de uma demanda.

Em lição clássica, Bulgarus (apud THODORO JUNIOR, 2015, p. 297) propunha que o processo se desenvolve pela atuação de 3 (três) sujeitos, juiz, autor e réu. “Iudicium est

actus trium personarum, iudicis, actoris et re.” Em sendo assim, flui o processo por meio de

uma relação jurídica trilateral, vinculando os sujeitos da lide e o juiz em busca da solução do conflito, mediante pretensão de direito material de um dos litigantes, resistida por outro. (THEODORO JR, 2015, p. 298). Em razão de tal importância, a doutrina se debruça sob os posicionamentos de Chiovenda e o de Liebman, sem que, contudo, tenha se chegado a um consenso.

Na visão de Chiovenda (1998, p. 278), “parte é aquele que demanda em seu próprio nome (ou em cujo nome é demandado) a atuação duma vontade da lei, e aquele em face de quem essa atuação é demandada.” Nesse enfoque, na concepção do brilhante processualista italiano, a ideia se ministra pela própria relação processual e demanda, sendo desnecessário procurá-la fora da relação substancial objeto da controvérsia.

Ainda, assevera a possibilidade de existirem sujeitos da relação litigiosa estranhos à lide, a exemplo de condôminos, codevedores, alheios à disputa ou, por outro lado, “pode-se deduzir na lide uma relação substancial por uma pessoa com respeito a uma pessoa que não é sujeito daquela relação” (CHIOVENDA, 1998, p. 279), v.g, o credor que penhora e o terceiro que é penhorado. Conclui, por fim, pela autonomia da demanda e a independência da relação processual quanto à relação substancial, sendo parte unicamente sujeito ativo ou passivo.

Noutra perspectiva, Liebman (1984, p. 89) define partes como os sujeitos do contraditório instaurado em face do juiz, estando contrapostos na dialética do processo perante o magistrado, titular do poder imparcial. A diferença entre os posicionamentos está na distinção entre parte no sentido substancial (Chiovenda) e parte em sentido processual (Liebman), como menciona Liebman (1984, p. 90) “a chamada parte em sentido substancial, quando não coincide com a parte em sentido processual, é apenas um terceiro.”

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Para Liebman (1984, p. 90) a determinação do conceito não se perfaz com o problema da legitimação para agir. Tal problemática se relaciona com a identificação das justas ou legítimas partes, “enquanto que se consideram partes no processo aqueles que, de fato, são os seus sujeitos”, resolvendo-se eventual pendência de legitimação, se for o caso, como questão preliminar.

Ao fim de sua exposição, arremata que adquirem a posição de parte “a) por força da propositura da ação; b) por força de sucessão na posição da parte originária; c) por força de intervenção, voluntária ou coata, em um processo pendente” (Liebman 1984, p. 90).

A vulnerabilidade da fórmula apresentada por Liebman pode estar na amplitude conceitual, abrangendo sujeitos que embora participem do contraditório, não assumem exatamente as posições de demandante e demandado. Por outro lado, os méritos estão em abarcar casos em que um sujeito ingressa no processo e, mesmo sem nada ter sido pedido contra ele, participa do contraditório e tem potenciais chances de vinculação à coisa julgada, sendo exemplo recorrente a assistência simples, já que poderia ingressar no processo, desde que com interesse jurídico, e dele participar, sem que tenha demandado ou sido demandado (EID, 2016, p. 29).

A despeito, Chiovenda (1998, p. 283-285), comentando sobre intervenções voluntárias, especificadamente quanto a intervenção adesiva, diz que sua interferência serve para o auxílio a uma parte, sendo que tudo quanto ele faz num processo é relativo a um direito alheio, tendo como condição para a participação na demanda o interesse no feito, mas que nem por esse fato, simplesmente, se converte em parte na causa.

Em função das premissas estabelecidas, surgiram posicionamentos multifacetados, a exemplo de Dinamarco (2009, p. 481) que, delimitando um conceito que considera puro de parte, esclarece ser a delimitação de Chiovenda restritiva, deixando de lado o contraditório, pedra de toque no processo civil.3

De outro norte, nomes como Marinoni e Arenhart (2008, p. 163-164), defendem o fundamento chiovendiano, aduzindo que Liebman peca pelo excesso em sua definição.

3 Hodiernamente, sobre a importância do contraditório, disserta Oliveira Jr. (in GAJARDONI et al, 2019, p. 54) “absolutamente indispensável para compreensão do fenômeno processual a integração na sua dinâmica do contraditório (FAZZALARI, 2006. P.33), mesmo porque a existência de relações recíprocas ou disformes no processo é a projeção instrumentalizada da exigência constitucional do contraditório. Pois bem, a concepção corrente sobre o processo busca abarcar suas diferentes características, pelo que o processo como entidade complexa é tanto relação processual (artigo 238) quanto procedimento em contraditório, desenvolvendo-se em sucessivas situações processuais (DINAMARCO, 2002, v.2, p. 29) [...] Não existe processo sem contraditório. Inexiste devido processo legal prescindindo do contraditório (artigo 5º, incisos LIV e LV, da CF/1988 – artigo 8, 2, da Convenção Americana dos Direitos Humanos, Pacto de São José da Costa Rica”

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Nada obstante os pensamentos em contrário, é adequado estabelecer que aquele que participa da demanda com parcialidade em razão de interesse determinado no resultado do julgamento, independente se restrito à causa principal, incidental ou discussão de outra questão, é parte (DIDIER JUNIOR, 2015, p. 277).

Em consonância, Wambier e Talamini (2016, p. 314) traçam um interessante paralelo sobre a questão, firmando que partes são os sujeitos parciais do processo, normalmente já definidos e veiculados na petição inicial, conquanto há casos em que ocorre um acréscimo superveniente ou, até mesmo, altera-se o sujeito.

Logo, pode alguém assumir a posição de parte em determinado processo em 3 ocasiões, tomando a iniciativa de instaura-lo, sendo demandado em juízo, intervindo ou sendo chamado a intervir em processo já existente (MOREIRA, 1971, p. 55).

Já afirmava o clássico Miranda (1996, p. 92) “pode alguém, sem ser demandante ou demandado, ter interesse na causa. Daí as regras jurídicas que cogitam de atos processuais que atraem ao processo terceiros interessados e atos processuais com que eles, de vontade própria vão ao processo.”4

Seguindo essa linha, para um primeiro contato frio com a intervenção de terceiros

iussu iudicis, por vezes este não será o titular do direito material invocado, mas tão somente

interessado na controvérsia ou afetado pelos efeitos da sentença e, ainda, torna-se inconcebível a ideia de que o magistrado propõe uma demanda em face do terceiro, sendo verdadeira figura

sui generis (CINTRA, 2017, p. 56-57).

Nada obstante, ficará o sujeito adstrito às repercussões do processo, bem como terá possibilidade de participação, sendo certo que ao ser inserido na relação processual estabelecida fica inadequado trata-lo como terceiro (CINTRA, 2017, p. 56-57). Isto posto, pragmaticamente, ao menos para que seja delineado um norte seguro para a abordagem do objetivo geral almejado, mormente porque se pensa que o juiz não irá propor uma demanda em face do terceiro (o que seria clara violação ao princípio do dispositivo), filia-se a corrente oriunda dos pensamentos traçados por Liebman5. Explica-se, outrossim, que, dentre outras motivações, a inclusão de

4 Para Miranda (1996, p. 92) “diz-se parte quem participa da relação jurídica processual. Quando alguém propõe ação quer ser parte na relação jurídica processual que, com o despacho do juiz, se cria e mais tarde, com a citação do demandado, se angulariza (autor Estado; Estado, réu). O réu é a outra parte.”

5 Parece não haver dissenso em relação ao representante (ou assistente) e ao substituto processual, o primeiro não assume qualidade de parte, como o próprio nome diz, figura como representante de quem tem capacidade para ser parte, mas não pode figurar sozinho no processo, não tendo capacidade processual, devendo estar acompanhado para que haja a supressão de tal incapacidade (GAJARDONI et al, 2019, p. 432). Já na substituição, como bem menciona Oliveira Junior et al (2019, p. 206), permite-se que alguém, por conta de seus próprios interesses, possa tutear direito alheiro. “Na representação, o representado é parte na causa, pelo

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terceiro ao contraditório é uma das justificativas que sustentam a possibilidade da intervenção por ordem do juiz.

Ademais, em arremate, a compreensão de terceiro é tão crucial quanto a visão de parte para o tema proposto. Destarte, “terceiro é conceito que se chega por negação. É terceiro quem não é parte” (CARNEIRO, 2003, p. 205). Ora, parte-se da premissa que parte é o sujeito envolvido em contraditório, logo, como corolário, toma-se a conclusão que terceiro é aquele estranho a demanda proposta em juízo, exsurgindo a definição da simples ausência na relação processual (FUGUNDES apud DIDIER JUNIOR, 2015, p. 477).

Assim como na noção de parte, em que pese até seja possível falar em terceiro material, v.g., alguém estranho a um contrato de compra e venda, a definição de terceiro deve também ser analisada no plano estritamente processual. Em sendo assim, “definir terceiro como o sujeito interessado ou legitimado a intervir é incorrer no mesmo equívoco de se equiparar as noções de parte e parte legítima” (RODRIGUES, 2017, p. 29), a delimitação estritamente processual de terceiro está inteiramente livre das amarras relativas ao direito material.6

Alargando o termo terceiro, tem-se o posicionamento de Podetti (apud RODRIGUES, 2017, p. 30):

Segundo o autor, o processo tem, historicamente, dois sujeitos: autor e réu, que constituem juntamente com o juiz, a trilogia romana que dá origem à ideia de relação jurídica. A verdade é que, simples ou compostos, os sujeitos clássicos seriam dois: demandante (primeiro) e demandado (segundo). Acontece que pode intervir no processo, voluntariamente ou por provocação das partes/juiz, outro sujeito (terceiro), apto a se tornar autor contra ambos. Será sempre, porém, um novo sujeito, distinto dos anteriores. A este sujeito se daria o nome de terceiro.

A posição é confrontada à duras penas por GRECO FILHO (1973, p. 28-29), porquanto tal conceito não funciona per se para delimitar o fenômeno interventivo, englobando institutos diametralmente opostos, v.g., o litisconsórcio ulterior, a assistência e a sucessão processual, que não se fundam nos mesmo princípios, entendendo que a definição de terceiro deve ser buscada em função do ingresso ao processo.

que o representante atua em nome do representado e por direito deste. Na substituição processual, como se verificou, o substituído atua em nome próprio para tutela de direito alheio” (OLIVEIRA JUNIOR et al, 2019, p. 208).

6 No ponto, para Rodrigues (2017, p. 29) os elementos materiais até podem ser relevantes para determinar a legitimação do interveniente, mas jamais para a definição do termo terceiro. Logo, quando se diz, por exemplo, que terceiro não pode ser prejudicado pela coisa julgada, a referência destina-se àqueles que não participaram do processo, legitimados ou não.

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Portanto, na concepção deste trabalho, terceiro é contra conceito, sendo que ao adentrarem à relação processual, seja por iniciativa própria de uma das partes, ou do juiz, passarão a ser sujeitos do contraditório, portanto, como define Liebman (1984, p. 89), partes. 2.2 PEDIDO E CAUSA DE PEDIR

Em sua peça inicial, o autor formula a narrativa da pretensão insatisfeita, com seus fundamentos de fato e de direito, mais o pedido, constituindo tudo isso o objeto litigioso, a res

iudicanda, ou res iudicium deducta. Tal exposição outrora se nomeava de libelo, expressão

formal da pretensão litigiosa, contendo a coisa e a causa, de sorte que a parte adversa e o magistrado possam, desde logo, conhecer do que se trata (MARQUES, 1998b, p. 84).

Assim, tendo em vista que a forma em que se chegará a conclusão, se há ou não a necessidade do chamamento de terceiro pelo juiz à integrar o feito, perpassa justamente pelo seu interesse/vinculação ao bem jurídico em disputa, curial à análise do pedido (imediato e mediato) e da causa de pedir (remota e próxima). São, portanto, assim como partes e terceiros, elementos do processo, que desenham a sua configuração, dando o colorido de individualização como quadro único de um autor.

Outrossim, se com a identificação das partes do processo o juiz poderá identificar quem serão aqueles vinculados ao resultado final, é com a definição do pedido e da causa de pedir, que poderá vislumbrar o que vinculará, sua justificação e a necessidade de integração do contraditório.

A esse respeito, Costa (1961, p. 142) posiciona-se no sentido de que “o provimento da intervenção iussu iudicis é condicionada à existência de interesse do terceiro na questão de direito material controvertida, que pode vir a ser objeto de demanda conexa. Cumpre, então, evitar-se a possibilidade de decisões contraditórias”.

2.2.1 Causa de Pedir

Por causa de pedir (causa patendi) se entendem os fatos e fundamentos que lastreiam à aspiração da parte (SANTOS, 2004, p. 164), o código, além de impor o requisito de exposição do pedido e suas especificações, determina que sejam apresentados os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido, é a dicção do artigo 319, inciso III (BRASIL, 2015).

Em seu clássico, Liebman (1984, p. 166) pontua que o conhecimento do juiz tem necessariamente dois objetos distintos: primus, a verificação dos fatos, que possui caráter

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histórico, porque seu escopo é conhecer a verdade relativamente às circunstâncias de eventos relevantes para a causa; e, secundus, a aplicação do direito, consistente na valoração jurídica do fato, realizada conforme o direito vigente, dos acontecimentos, tal como foram reconstruídos, devem ser deduzidas as consequências estabelecidas abstratamente pela ordem jurídica, com escopo de declarar se a demanda proposta é procedente ou improcedente.

A respeito do tema, Theodoro Junior (2015, p. 155) bem menciona que é “na causa de pedir que se localizarão as questões a serem solucionadas para se chegar à acolhida ou rejeição do pedido”, ainda, assinalando o professor mineiro:

A importância da delimitação do objeto do processo é grande, porque é nele que se encontrará a base para fixação das dimensões da coisa julgada e da litispendência (NCPC, arts. 337, §§ 1º, 2º, 3º e 4º, e 503). Daí a conclusão de que o objeto típico do processo e da tutela jurisdicional não é um fato ou um ato, mas um direito (ou uma situação jurídica); e de que esse direito para ser atuado em juízo deve ser identificado, pela parte interessada, por meio da alegação de seus fatos constitutivos, dos quais haverá de ser produzida a competente prova nos autos

Portanto, o pedido do autor define o direito material que se intenta valer ou atuar em juízo e que, in concreto, se explica pelos fatos constitutivos invocados na causa de pedir, cuja análise judicial haverá de se estender a todas as questões (pontos controvertidos) que os envolvem, e que tenham sido suscitadas seja pelo autor, na petição inicial, seja pelo réu, na contestação (THEODORO JR, 2015, p. 192).

Perceba-se que é a conjugação das partes com o pedido e a causa de pedir que identificará a demanda proposta, havendo, por exemplo, litispendência, conforme o artigo 337,§3º, do CPC (BRASIL, 2015), quando ocorrer a eadem personae, eadem res e eadem causa

patendi (SANTOS, 2004, p. 165).

Por certo, na causa de pedir se encontra fundamental importância para a intervenção de terceiros por ordem do juiz, jaz aqui um de seus pontos de equilíbrio, ao passo que é a partir das bases estipuladas para a fixação do alcance dos efeitos da sentença que se dimensionará a necessidade de sua vinculação à esfera de terceiro, a fim de potencializar o contraditório, acelerar a resolução judicial de possíveis desdobramentos posteriores e evitar decisões conflitantes.

Ademais, em função do duplo elemento que compõe a causa de pedir, a doutrina realiza uma clássica divisão, em próxima e remota, sendo a causa próxima os fundamentos jurídicos e a natureza do direito controvertido e, em contrapartida, a causa remota como o fato gerador do direito, adotando-se a teoria da substanciação, tal qual os códigos alemão e austríaco, não bastando a exposição da causa próxima, mas também a remota (SANTOS, 2004, p. 164).

A dicção do artigo 319, inciso III, do CPC (BRASIL, 2015), exigindo que o Autor consigne na exordial os fatos e fundamentos jurídicos de seu pedido, consagra a teoria da

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substanciação, segundo a qual, para a identificação da demanda, devem ser narrados na petição inicial os fundamentos jurídicos invocados e, principalmente, o contexto fático, “em sentido oposto encontra-se a teoria da individuação, que exige somente a especificação do direito substancial, tendo a causa de pedir a função de identificar a relação jurídica controvertida” (GAJARDONI et al., 2018, p. 8).

2.2.1.1 Causa de pedir remota

Concernentemente à causa de pedir remota, é constituída tão somente no que diz respeito aos fatos essenciais, sobre os quais irão se fundar o pedido, podendo ainda se subdividir em ativa ou passiva. A ativa, relaciona-se aos fatos jurígenos (constituivos), v.g, um acidente de trânsito em que é o réu o agente causador. Já a causa de pedir passiva se remete à resistência ou não concordância com a pretensão do autor, como a recusa em indenizar os danos causados (GAJARDONI, et al, 2018, p. 8).

Outrossim, como a postura do réu é, em regra, de resistir ao pedido autoral, o objeto do processo se resume naquele pedido, já que a sentença terá, no fim, de acolher ou rejeitar, para então, pacificar o conflito trazido à jurisdição. Então, o exame do pedido terá de ser feito nos limites de seus fatos e fundamentos, estando na causa de pedir as questões a serem resolvidas para se chegar ao acolhimento ou rejeição do pedido (THEDORO JR. 2015, p. 155), dicção do artigo 141 do CPC (BRASIL, 2015).

Quando esse suporte fático tracejado na demanda se estender a terceiros que, possam vir a discutir a mesma questão futuramente em novo processo, dada a interferência direta e imediata do objeto litigioso em sua esfera jurídica, mesmo a par da desnecessidade de composição subjetiva, poderia o juiz, a partir daqueles que defendem a intervenção iussu

iudicis, julgando conveniente, determinar a intimação desses estranhos à demanda para

integrarem o feito, concretizando os princípios do contraditório, acesso à justiça, economia e celeridade processual e evitando possíveis decisões conflitantes.

2.2.1.2 Causa de pedir próxima

“À base empírica do pedido, sucede-se o seu enquadramento no tipo ou modelo legal, para que o autor lhe dê os fundamentos jurídicos. Aí cumpre-lhe ligar os fatos expostos e enquadrados no modelo legal” (MARQUES, 1998b, p. 98), apresentando as consequências jurídicas que irão se cristalizar no pedido.

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A causa de pedir próxima é o processo de subsunção do fato à norma, ligando os fatos essenciais ao efeito jurídico desejado pelo autor na petição inicial, sendo que não se exige do autor que indique a regra do direito positivo aplicável, mas tão somente a especificação da relação jurídica de direito material litigada (GAJARDONI et al, 2018, p. 9).

Nesse ínterim, não integram a causa de pedir, nesse pensamento, nem a capitulação legal dos fatos descritos, tampouco a nomen iuris, a qual pode ser denominada de forma incorreta sem maiores implicâncias. São os adágios da mihi factum, dabo tibi jus e iura novit

curia, segundo os quais o juiz conhece o direito, devendo aplicá-lo aos fatos alegados pelas

partes7 (GAJARDONI et al, 2018, p. 9).

Por fim, pode ainda a causa próxima ser classificada em pessoal ou real, sendo relevante para regular os casos em que necessário a outorga uxória ou, ainda, para a definição das regras de competência aplicáveis. (GAJARDONI et al, 2018, p. 10).

Nesse espectro, a importância da delimitação da causa de pedir ganha vulto nas palavras de Gajardoni etl al (2018, p. 10):

De toda sorte, a verificação de quais fatos compõem a causa de pedir e se há ou não modificação da demanda pela introdução de novos fatos no processo é assunto complexo e que acaba sendo necessariamente casuístico, na medida em que, na interpretação da petição inicial, deve-se ater mais à intenção das partes do que ao sentido literal da linguagem (art. 322, § 2.º, do CPC/2015 e art. 112, Código Civil). Assim, por exemplo, em ação ajuizada pela esposa contra o marido sob o fundamento de agressão, pouco importaria, a princípio, determinar em que data ocorreu tal fato. Trata-se de circunstância secundária, acidental, que não integra a causa de pedir. No entanto, se a esposa alega que sofreu a agressão na data de seu aniversário e que, por isso, a agressão foi especialmente grave, introduziu-se maior substanciação na causa de pedir, de sorte que a descoberta de que tal agressão ocorreu sim, mas em outra data, poderá ter consequências relevantes, podendo eventualmente ser

compreendida como uma nova causa de pedir (v. GRECO,

Leonardo. İnstituições de processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 2015. v. I, p. 194).

7 “Há quem sustente que o juiz somente se vincula aos fatos essenciais veiculados na petição inicial, podendo alterar o enquadramento normativo proposto, desde que observe o dever de consulta consagrado no art. 10 do CPC/2015, instando as partes a se manifestaram sobre o ponto e evitando a chamada decisão-surpresa ou de terceira via (Enunciado 282 do FPPC). Esse não parece o melhor entendimento, todavia. O juiz não pode surpreender as partes com uma nova qualificação jurídica sequer suscitada e o autor tem o direito de delimitar, subjetiva e objetivamente, os limites em que será exercida a jurisdição, não devendo o Estado-juiz interferir na esfera de liberdade dos litigantes sem a sua provocação (art. 2.º). O iura novit curia deve, assim, ser limitado à correção do nomen iuris ou dos dispositivos legais apontados pelo autor ou, no máximo, à correção do erro de enquadramento dos fatos em determinada figura jurídica (por exemplo, anulação. Também nesse sentido, tendo sido modificada a sua redação para contemplar tal orientação, Enunciado 281 do FPPC: “A indicação do dispositivo legal não é requisito da petição inicial e, uma vez existente, não vincula o órgão julgador” (GAJARDONI et al, 2018, p. 9).

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Sem embargo, essa consequência jurídica dada ao empírico pode ricochetear para além das partes do processo, ocasionando os chamados efeitos reflexos da decisão judicial, o que justifica a preocupação com terceiros não integrantes do contraditório, mas que podem sofrer consequências oriundas do processo (OLIVEIRA JUNIOR et al., 2018, p. 480).

2.2.2 Pedido

Do mesmo modo que uma relação jurídica necessita de dois sujeitos e uma razão, é imprescindível ter um objeto, complementado precisamente a sua noção, sendo referido bem um quid apto para satisfazer uma necessidade. Assim, se é certo que a causa de pedir são os fatos e fundamentos que lastreiam a pretensão da parte, não menos correto se torna dizer que toda causa de pedir deve ser sucedida por um pedido, que delineará o objeto da causa. Em analogia, se a causa de pedir é o porquê se pede, o pedido imediato é como se pede e o pedido mediato é o que se pede (CARNELUTTI, 2000, p. 85).

Como disserta THEODORO JR (2015, p. 774) “o núcleo da petição inicial é o pedido, que exprime aquilo que o autor pretende do Estado frente ao réu. É a revelação da pretensão que o autor espera ver acolhida e que, por isso, é deduzida em juízo”, consubstanciando a demanda, sem a qual não pode atuar a jurisdição e além da qual não pode se pronunciar o órgão judicial.

Destarte, “o pedido representa os tipos de bens jurídicos desejados pelo autor”, desmembrando-se em mediato e imediato (ALVIM, 2017, p. 749).

2.2.1.3 Pedido Imediato

O pedido imediato é aquele que desde o princípio se deseja, é o tipo de providência jurisdicional a ser solicitada, i.e., de acordo com a clássica teoria ternária de classificação das ações (LIEBMAN, 1994, p. 178), a declaração (positiva ou negativa), constituição/desconstituição ou condenação do sujeito passivo, determinando a natureza da demanda. Resume-se, a saber, ao pedido direcionado ao Poder Judiciário, para que se outorgue a tutela jurisdicional solicitada à miúde (ALVIM, 2017, p. 749).

É, outrossim, conhecida entre nós a posição de MIRANDA (1998, p. 66), que erigindo a teoria quinária, fala em ações declarativas, constitutivas, condenatórias, mandamentais e executivas.

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A rigor, o critério distintivo da classificação reside no efeito característico próprio da sentença, correspondendo a cada uma das categorias de ações (LIEBMAN, 1994, p. 179).

Nessa conjectura, pedido imediato é analisado na óptica processual (NEVES, 2016, p. 207), sendo possível estabelecer diferenças entre às demandas exatamente na medida da distinção entre as possíveis providências pedidas em juízo, classificadas em conhecimento, execução e urgentes (WAMBIER e TALAMINI, 2016, p. 237).8

Quanto ao processo de conhecimento, como já antecipado, divide-se a doutrina entre a teoria ternária (tradicional), em declaratório, constitutivo e condenatório e, teoria quinaria, ganhando relevo além das três hipóteses mencionadas, o pedido executivo lato sensu e o mandamental, compreendidos imersos no pedido condenatório da teoria anterior (GAJARDONI et al, 2018, p. 11).

A respeito de cada uma dessas classificações, Gajardoni et al (2018, p. 11) caracteriza-os da seguinte maneira:

Declaratório (ou meramente declaratório, já que todas as categorias

contemplam alguma carga de eficácia declaratória, própria do processo de conhecimento) é o pedido que se limita a resolver situação de incerteza a respeito da existência, inexistência ou modo de ser de alguma relação jurídica ou da autenticidade ou falsidade de documento (art. 19). Constitutivo é o pedido que, relacionado aos direitos potestativos, busca criar, modificar ou extinguir determinada relação jurídica, como ocorre no divórcio, por exemplo, em que se pretende por fim ao vínculo matrimonial. Condenatório, por sua vez, é o pedido que, relacionado aos direitos a uma prestação, busca impor ao réu alguma conduta e cujo cumprimento forçado ensejará a deflagração da fase denominada cumprimento de sentença (art. 513 e ss.). Executivo lato

sensu é o pedido que busca estabelecer alguma obrigação ao réu, a qual poderá

ser cumprida de forma forçada por meios sub-rogatórios (que independem da colaboração do demandado, como a busca e apreensão, frequentemente utilizada para efetivar o dever de entregar coisa), sem maior formalidade, na forma dos arts. 536 a 538 ou da legislação especial. Exemplo clássico de pedido executivo lato sensu é o despejo forçado, os qual se cumpre mediante simples mandado expedido após o encerramento do prazo para desocupação voluntária pelo locatário (art. 65 da Lei n.º 8.245/1991). Finalmente,

mandamental é o pedido que busca impor prestação ao réu, a qual poderá ser

cumprida de forma forçada por meios coercitivos (que pressupõem certa dose de colaboração do demandado, ainda que sob ameaça de sanção em caso de recalcitrância, como a cominação de multa periódica). (grifo nosso)

8 Em rápida síntese, nas ações de conhecimento busca-se o pronunciamento judicial acerca de quem tem razão em determinada lide, pedindo que o juiz investigue os fatos pretéritos e defina, por meio de um processo de subsunção, a norma que incide no caso concreto. Nas ações de cunho executivo busca-se um resultado prático, fisicamente concreto, satisfazendo um título extrajudicial ou judicial, por meio de intervenção do juiz. E, finalmente, “nas ações urgentes, busca-se providência que, de modo rápido, proteja temporariamente um possível direito, que corre o risco de sofrer lesão irreparável ou de reparação muito difícil” (WAMBIER e TALAMINI, 2016, p. 238).

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Nada obstante, não vem ao caso precisar nesse momento qual das teorias seria a mais acertada, se é que se possa fazer tal distinção. A priori, conforme alhures mencionado, cinge-se a estabelecer como pedido imediato, o “pedido dirigido ao Poder Judiciário, no sentido de que outorgue a tutela jurisdicional especificamente solicitada” (ALVIM, 2017, p. 749). 2.2.1.4 Pedido Mediato

Por sua vez, o pedido mediato tem a ver com o aspecto material, o bem da vida que se pretende tutelar (NEVES, 2016, p. 207), subjacente ao pedido imediato. Nessa acepção, portanto, representa o que o autor deseja (interesse do autor), em detrimento do interesse do réu, evidenciando o objeto litigioso ou, ainda, o mérito (ALVIM, 2017, p. 749).

A rigor, enquanto o pedido imediato é a forma com que se busca alcançar algo (plano processual), o pedido mediato é aquilo que se almeja alcançar (plano material), parafraseando o conto de humanitas, descrito por Quincas Borba, na obra do notável Assis (2012, p. 32), são as batatas que faz jus o vencedor, afinal, “ao vencedor, as batatas”.9

Portanto, define-se o pedido imediato, à lume do que foi carreado alhures, como sendo o bem da vida ao qual se pretende a prestação inafastável da tutela jurisdicional, i.e., a pretensão material a ser resguardada pelo veículo processual (res in judicium deducta) delimitando a demanda após a sua estabilização (ALVIM, 2017, p. 54) e, é pontualmente aqui, na definição do bem material envolvido no litígio, que pode haver interferência na esfera jurídica de terceiros não vinculados à petição inicial, ensejando a necessidade da integração do contraditório e extensão dos limites subjetivos da demanda, justificando a intervenção iussu

iudicis.

Diante de todo o arrazoado, assume papel substancial para a intervenção iussu

iudicis a definição dos elementos da demanda, consubstanciado o seu relevo na medida em que

tão somente perpassado por tais questões, poderá se fazer uma análise percuciente do interesse

9 Em Machado de Assis, Quincas Borba relatava a Rubião sua filosofia de Humanitas, “Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância, mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se. A paz, nesse caso, é a destruição, a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas (ASSIS, 2012, p. 32).

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de terceiro no objeto litigioso, assim como a sua efetividade, potencialização do contraditório e contribuição para a prestação eficaz da tutela jurisdicional.

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3 PLURALIDADE DE PARTES

Prosseguindo com o estudo da intervenção de terceiro iussu iudicis, passa-se por uma necessária incursão acerca do sistema de pluralidade de partes, o que se dá naqueles casos em que haja dois ou mais sujeitos em um ou ambos os polos do processo, por força de determinação inicial (propositura da demanda), ou supervenientemente, quando terceiro passa a integrar a relação processual, voluntária ou forçadamente (EID, 2017, p. 25). As proposições conceituais a seguir analisadas servem de alicerce para a estruturação de ideias do presente trabalho, que serão retomadas oportunamente quando da análise específica do objeto (infra, capítulo 4), uma vez que “a compreensão antecede qualquer argumentação. Ela é condição de possibilidade” (STRECK, 2019, p. 55).

Outrossim, tendo em linha de conta o dissenso doutrinário que surge entorno da intervenção de terceiros por ordem do juiz em comparação com o litisconsórcio necessário, é de suma importância a análise do sistema litisconsorcial.

3.1 LITISCONSÓRCIO

O estudo do fenômeno litisconsorcial ganha relevo para o desenvolvimento do objetivo deste trabalho na medida em que parte da doutrina e até alguns julgados têm considerado a intervenção iussu iudicis típica uma espécie de instrumento para realizar a integração do litisconsórcio necessário (DIDIER JUNIOR, 2015, p. 528).

De outro norte, atipicamente, a partir dos princípios da adequação, da duração razoável do processo e da eficiência, poderia servir para possibilitar a integração do litisconsórcio passivo unitário (DIDIER JUNIOR, 2015, p.530).

Carnelutti (apud COSTA, 1961, p. 139), sustentava a partir de uma leitura do Código de Processo Civil italiano, que ao juiz é conferido poder para tornar necessário um litisconsórcio que, em um primeiro momento é facultativo, atribuindo a cargo de uma das partes o ônus da demanda múltipla, que é característico do litisconsórcio necessário.

Costa (1961, p. 141), expressando seu sentimento pessoal, assinala que é nos casos de litisconsórcio facultativo por conexão de causas que a intervenção iussu iudicis encontra campo propício de atuação.

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Portanto, independente do ponto de vista absorvido, a par de uma miríade de posições aquilatadas, curial situar o tema, apresentando de forma sintética as formas de litisconsórcio e sua correlação ou não com a intervenção de terceiros por ordem do juiz.

Pois bem, partindo do pressuposto de que cada processo é uma unidade, caracterizado pela sua forma física, pela direção a um fim, qual seja a prestação jurisdicional a ser entregue pelo Estado-juiz, observa-se que, aqui e ali, alguns processos apresentam no seu bojo cumulações, sejam elas objetivas ou subjetivas. Dá-se pluralidade objetiva quando a parte formula pedidos sucessivos, por outro lado, a cumulação subjetiva se dá quando figuram mais de um autor ou réu (MIRANDA, 1997, p. 5).

O litisconsórcio é um fenômeno, que se situa na teoria do processo, dizendo respeito aos sujeitos processuais e é o modo da relação jurídico-processual que se afeta e apresenta conotações peculiares quando, em vez de apenas um autor e réu, três ou mais são os sujeitos parciais em liça (DINAMARCO, 1997, p. 40)

Com efeito, nas variadas situações em que o litisconsórcio é admitido, têm-se como horizonte a economia processual e a harmonia dos julgados. Quando se fala em economia como fundamento do instituto do litisconsórcio, tem-se em vista a conveniência de cumulação em um só processo de diversas partes, evitando a multiplicação de processos e repetidas instruções em torno do mesmo contexto, ocupando e gerando dispêndio à máquina judiciaria. Noutro giro, a harmonia de julgados representa a conveniência de evitar divergência entre sentenças, risco que se encontra na pronúncia de duas ou mais, em processos apartados, versando sobre o mesmo fundamento (DINAMARCO, 1997, p. 61).

Ensina Dinamarco (1997, p. 42) que a situação litisconsorcial pode surgir das seguintes maneiras: (a) logo de início, quando mais de um autor se constituem e ajuízam a demanda em conjunto; (b) quando indicada uma pluralidade de réus na exordial, vindo a se consumar com a citação de todos; (c) quando ocorre forma de intervenção em que o terceiro se torna litisconsorte; (d) quando a pluralidade de sucessores vem a ocupar posição antes preenchida por uma das partes iniciais, e; (e) quando terceiro voluntariamente intervêm como litisconsorte.

Feita tal consideração, cumpre salientar que os modos de manifestação litisconsorcial oferecem diversos matizes de estudo e, dessa forma, passíveis de classificação. Seguindo a linha de pensamento em que as classificações são válidas na medida de sua utilidade, a doutrina, de modo amplo, costuma rotular o litisconsórcio segundo critérios relacionados à sua obrigatoriedade, ao polo em que se instala, ao momento de sua formação e ao resultado do processo (EID, 2017, p. 31).

(32)

Destrinchando cada uma das classificações, Dellore et al (2019, p. 383):

Em relação ao polo em que os litisconsortes estão, é possível se falar em: (i) litisconsórcio passivo: quando houver, no processo, dois ou mais autores; (ii) litisconsórcio ativo: quando houver, no mesmo processo, dois ou mais autores; (iii) litisconsórcio misto ou recíproco: situação na qual, ao mesmo tempo, há mais de um autor e mais de um réu. A base legal para estas situações, é exatamente o artigo 113, caput, do CPC/2015. 1.3 Em relação ao momento de formação do litisconsórcio, existe: (iv) litisconsórcio originário ou inicial: aquele existente desde o início da demanda, já indicado na petição inicial; (v) litisconsórcio superveniente, incidental ou ulterior: o qual é formado em momento posterior ao início da demanda. 1.4. Em relação à necessidade de existência do litisconsórcio, para a validade do processo, fala-se em: (vi) litisconsórcio facultativo: situação na qual há pluralidade de litigantes por opção das partes; (vi) litisconsórcio necessário: situação na qual há pluralidade de litigantes porque a lei ou a relação jurídica objeto do litígio assim determinam. A previsão do litisconsórcio facultativo está no artigo 113, ao passo que do necessário, no artigo 114 (a consequência de sua ausência, no artigo 115). 1.5. Por fim, em relação à necessidade de mesma decisão para os litisconsortes, há: (viii) litisconsórcio comum ou simples: caso em que a decisão não necessariamente será a mesma para os litisconsortes; (ix) litisconsórcio unitário: situação na qual a decisão deverá ser a mesma para os litisconsortes, invariavelmente. A base legal do litisconsórcio unitário está no artigo 116. [...] Na doutrina, há quem sustente a conveniência de um alargamento na classificação, com a inclusão do litisconsórcio eventual, alternativo e sucessivo (a respeito, SANTOS, 2013).

Para os fins deste trabalho, aprioristicamente, ocupa-se quanto tratamento dos litisconsortes inerentes aos fatores de obrigatoriedade e quanto ao resultado do processo, não que as demais distinções não possuam relevância, mas para os objetivos gerais e específicos do tema proposto, não necessitam de maiores digressões.

3.1.1 Litisconsórcio Necessário e Facultativo

Como já antecipado, muitas vezes, no Brasil, a intervenção iussu iudicis vem sendo relacionada com a ordem de integração do litisconsórcio necessário, quer no lado passivo, quer no lado ativo da relação processual, devendo seu estudo ser aqui aprofundado (CINTRA, 2017, p. 181).

Diz-se que o litisconsórcio será necessário ou facultativo concernentemente à obrigatoriedade, ou não, da presença de todos os legitimados em juízo. Tal critério classificatório leva em consideração que, em algumas situações, todos os legitimados deverão estar reunidos, enquanto, em outras ocasiões, a reunião é apenas voluntária. A grande questão formulada se coloca, portanto, na identificação destas situações em que será obrigatória a formação, para evitar vícios nocivos ao processo, os quais influenciarão decisivamente na validade e na eficácia da decisão de mérito (EID, 2016, p. 31).

(33)

No dizeres de Chiovenda (1998, p. 281):

Não se concebe mais o litisconsórcio como uma sociedade, uma communio, mas uma pluralidade de partes autônomas, conquanto se deva distinguir o caso de serem possíveis processos separados (litisconsórcio simples), e o caso de dever ser o processo necessariamente único, relativamente a todos, como no processo de divisão (Litisconsórcio necessário)

Assim, haverá litisconsórcio necessário por expressa disposição legal ou quando em razão da natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença ficar condicionada à citação de todos que devam ser litisconsortes, conceito que está estampado no letreiro do artigo 114 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).

A evolução histórica da necessidade de reunião legitimada esteve conjugada à relação jurídica material, sobremaneira por concepções trazidas para a legislação processual, que buscavam obrigar o consórcio de pessoas não só quando dispusesse a lei, mas, também, e principalmente, quando a natureza do conflito impusesse a presença de todos os sujeitos (EID, 2016, p. 31).

Quando a cumulação se dá por imposição legal, surgem poucos problemas à resolver, já que a própria disposição normativa induz à formação necessária do litisconsórcio. Pese, na segunda hipótese de incidência residem os principais questionamentos, por se tratar de maior campo de delimitação do litisconsórcio necessário (EID, 2016, p. 33).

Em paralelo, outra dificuldade que permeia o litisconsórcio necessário é quando instalado no polo ativo da demanda, entrando em jogo a compulsoriedade do exercício do direito de ação, de modo que alguns autores chegam a negar sua existência, proclamando a ausência de casos que imponham o agir obrigatório (EID, 2016, p. 34).

Ainda, importante advertência faz Didier Junior (2015, p. 456), a necessariedade do ajuizamento conjunto de determinada demanda tolhe o direito fundamental de acesso à justiça, positivado no inciso XXXV do artigo 5º da CFRB/1988 (BRASIL, 1998), porquanto o direito de ir a juízo não pode depender da vontade de outrem. Assim, se houver litisconsórcio necessário ativo, seria possível de cogitar a situação de um dos possíveis consortes se negar a demandar, obstruindo o exercício do direito de ação do outro.

Para Dinamarco (1997, p. 66-67) a necessariedade reside na indispensabilidade da presença de partes plúrimas, resolvendo-se em uma questão de legitimidade ad causam ativa ou passiva, ao passo que dizer ser o litisconsórcio necessário significa negar a legitimidade de uma só pessoa para demandar ou para ser demandado isoladamente, ao que carece de ação àquele que insistir em demandar isoladamente.

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