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Balões e raio laser: um estudo dos riscos potenciais à atividade aérea no Brasil e sua relação com as ações educativas entre os anos de 2017 a 2019

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA OZÉAS MACIEL PEREIRA JÚNIOR

BALÕES E RAIO LASER: UM ESTUDO DOS RISCOS POTENCIAIS À ATIVIDADE AÉREA NO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM AS AÇÕES

EDUCATIVAS ENTRE OS ANOS DE 2017 A 2019

Palhoça 2020

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OZÉAS MACIEL PEREIRA JÚNIOR

BALÕES E RAIO LASER: UM ESTUDO DOS RISCOS POTENCIAIS À ATIVIDADE AÉREA NO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM AS AÇÕES

EDUCATIVAS ENTRE OS ANOS DE 2017 A 2019

Monografia apresentada ao Curso de graduação em Ciências Aeronáuticas, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientação: Prof. Marcos Fernando Severo de Oliveira, Esp.

Palhoça 2020

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OZÉAS MACIEL PEREIRA JÚNIOR

BALÕES E RAIO LASER: UM ESTUDO DOS RISCOS POTENCIAIS À ATIVIDADE AÉREA NO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM AS CAMPANHAS

EDUCATIVAS ENTRE OS ANOS DE 2017 A 2019

Esta monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Bacharel em Ciências Aeronáuticas e aprovada em sua forma final pelo Curso de Ciências Aeronáuticas, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 23 de novembro de 2020.

_____________________________________________________ Professor orientador: Marcos Fernando Severo de Oliveira, Esp.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_____________________________________________________ Professor avaliador: Orlando Flávio Silva, Esp.

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À minha esposa Rosinha, pelo incansável apoio, e ao meu filhotinho Daniel Roberto, minha inspiração de força e determinação.

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AGRADECIMENTOS

A minha esposa Rosinha, pelo apoio incansável, o que tornou mais leve minha caminhada e me ajudou a conquistar esse sonho tão antigo;

Ao meu professor orientador Marcos Fernando Severo de Oliveira, pela paciência em me atender muitas vezes, até mesmo fora do horário normal, solucionando meus questionamentos e tirando minhas dúvidas;

A Deus, acima de todos, que me proporcionou o inegável dom da vida, sem o que jamais conseguiria chegar até aqui.

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RESUMO

Essa pesquisa teve como objetivo analisar as incidências das notificações disponíveis no CENIPA das atividades ilegais de uso indevido de raio laser e risco baloeiro que interferiram na segurança de voo no Brasil nos anos de 2017 a 2019, correlacionando–as com a existência de ações educativas institucionais preventivas desenvolvidas sobretudo pela Força Aérea Brasileira (FAB) e pelo Centro de Prevenção e Investigação de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA). A metodologia utilizada foi de natureza exploratória do tipo documental. Para a análise de dados, a pesquisa teve como base o desenho transversal exploratório-descritivo que consiste em conhecer uma variável ou um conjunto de variáveis a partir de uma exploração em um momento específico. A pesquisa investigou a seguinte problemática: é possível identificar relação de impacto entre a existência de ações educativas preventivas e os índices de notificações das ocorrências de emissões de raio laser e da atividade baloeira registradas no CENIPA no período de 2017 a 2019? Constatou-se como resultado que houve um movimento contrário entre os dois riscos estudados nesta pesquisa: enquanto o número de reporte do risco baloeiro tem aumentado de forma significativa, o reporte de uso indevido de raio laser diminuiu no período analisado, ainda que ambos sejam crimes previstos nos artigos 261 e seguintes do Código Penal Brasileiro. Constatou-se ainda que não há gerenciamento central midiático das ações educativas disponíveis nos sites institucionais da FAB e do CENIPA, o que obriga o pesquisador a coletar dados por amostragem e por marcadores de busca e que as ações educativas não possuem o mesmo alcance em diferentes regiões brasileiras nos locais em que houve reporte de ocorrências de balões e raio laser, o que dificulta a análise comparativa e a correlação das ações educativas com os índices de ocorrências notificadas. Propõe-se uma organização central das ações educativas com sua localização geográfica e temporal. Acredita-se que tal mapeamento contribuirá não apenas para futuras pesquisas, mas para avaliação e cruzamento de indicadores sobre investimento em ações de prevenção e do índice de notificações de ocorrências que impactam na segurança das operações aéreas em todo o território brasileiro.

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ABSTRACT

This research aimed to analyze the incidences of the notifications available at CENIPA of illegal activities of laser beam misuse and ballooning risk that interfered in Brazil’s flight safety in the years 2017 to 2019 correlating them with the existence of preventive institutional educational actions developed mainly by the Brazilian Air Force (FAB) and by the Aeronautical Accident Prevention and Investigation Center (CENIPA). The methodology has been used was an exploratory nature of the documentary type. For data analysis, the research was based on an exploratory-descriptive cross-sectional design that consists of knowing a variable or a set of variables from an exploration at a specific time. The research investigated the following problem: is it possible to identify an impact relationship between the existence of preventive educational actions and the notification rates of laser beam emissions occurrences and ballooning activity registered at CENIPA at time from 2017 to 2019? As a result, it was found that there was an opposite movement between the two risks studied in this research: while ballooning risk reports number has increased significantly, the laser beam misuse report decreased in the analyzed time although both are predicted crimes in articles 261 and following of the Brazilian Penal Code. It was also found that there is no central media management of educational actions available on the institutional FAB and CENIPA sites, which forces the researcher to collect data by sampling and search markers and that educational actions do not have the same reach in different Brazilian regions where balloons and laser beams have been reported, which makes comparative analysis and the correlation of educational actions with reported occurrence rates difficult. A central organization of educational activities is proposed with its geographical and temporal location. It is believed that such a mapping will contribute not only to future research, but to the evaluation and cross-checking of indicators on investment in preventive actions and the rate of occurrence notifications that impact the safety of air operations throughout the Brazilian territory.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Risco baloeiro: reporte de balões por aeródromo no ano de 2016...29

Figura 2 – NOTAER: Balões colocam em risco a aviação – jun. de 2017...32

Figura 3 – O cordel: campanha sobre o risco baloeiro – ano 2018...33

Figura 4 – Os riscos do raio laser...34

Figura 5 – Ação social: lançamento de revista em parceria com a Turma da Mônica...36

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LISTA DE SIGLAS

ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil

CENIPA – Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos COMAER – Comando da Aeronáutica

FAA – Federal Aviation Administration (Administração da Aviação Federal) FAB – Força Aérea Brasileira

FLIGHT SAFETY FOUNDATION – Fundação de Segurança de Voo

ICAO – International Civil Aviation Organization (Organização Internacional da Aviação Civil)

IFALPA – International Federation of Air Line Pilots Associations (Federação Internacional das Associações dos Pilotos de Linha Aérea)

INFRAERO – Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária NOTAER – Jornal da Força Aérea Brasileira

OM – Organização Militar

PAMA/SP – Parque de Material Aeronáutico de São Paulo SGSO – Sistema de Gerenciamento de Segurança Operacional

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...11 1.1 PROBLEMA DE PESQUISA...13 1.2 OBJETIVOS...13 1.2.1 Objetivo Geral...13 1.2.2 Objetivos Específicos...13 1.3 JUSTIFICATIVA...14 1.4 METODOLOGIA...15

1.4.1 Natureza da pesquisa e tipo de pesquisa...15

1.4.2 População amostra ou sujeitos da pesquisa ou materiais e métodos...16

1.4.3 Procedimentos de coleta de dados...17

1.4.4 Procedimento de análise dos dados...17

1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO...18

2 BALÕES E RAIO LASER: DA RECREAÇÃO AO CRIME...19

2.1 QUANDO A RECREAÇÃO SE TORNA CRIME...19

2.2 RISCOS PARA SEGURANÇA OPERACIONAL...25

2.2.1 Riscos do uso indevido do raio laser...26

2.2.2 Risco baloeiro...27

3 AÇÕES EDUCATIVAS E REPORTES DE RAIO LASER E BALÕES: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS ANOS DE 2017 A 2019...31

3.1 AÇÕES EDUCATIVAS...31

3.1.1 A estratégia do jornal – 2017...32

3.1.2 Cordel: usando a cultura popular para educar – 2018...33

3.1.3 Raio laser contra aeronaves: informação para prevenir...34

3.1.4 Análise comparativa entre os reportes e ações educativas...36

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...39

REFERÊNCIAS...41

ANEXO A – FICHA DE NOTIFICAÇÃO DE RAIO LASER...45

ANEXO B – FICHA DE NOTIFICAÇÃO DE RAIO LASER – PESQUISA ONLINE...49

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ANEXO D – FICHA DE NOTIFICAÇÃO DE OCORRÊNCIA COM BALÃO – PESQUISA ONLINE...55

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1 INTRODUÇÃO

Na mitologia grega, Ícaro era filho de Dédalo, um dos homens mais habilidosos de Atenas, conhecido por suas invenções que simbolizavam a engenhosidade humana. Dédalo construiu o labirinto de Creta para aprisionar o Minotauro. Por ter ajudado a filha de Minos a fugir com um amante, Dédalo provocou a ira de Minos, que como punição, ordenou que Dédalo e seu filho Ícaro fossem jogados no labirinto. Como a prisão era intransponível e Minos controlava mar e terra, parecia impossível escapar dali. No entanto, Dédalo percebeu que Minos não controlava o ar e por isso projetou asas juntando penas de várias aves e amarrando-as com fios e fixando-as com cera para que não descolasse. Após terminar esse trabalho, Dédalo equipou Ícaro e o ensinou a voar. Antes do voo final, advertiu seu filho de que deveria voar a uma altura média, nem tão próximo ao sol, para que o calor não derretesse a cera, nem tão baixo perto do mar para não molhar as asas. Ícaro ficou deslumbrado com a imagem do sol e, sentindo-se atraído, voou em sua direção, esquecendo-se das orientações de seu pai. A cera de suas asas derreteu rapidamente e Ícaro caiu ao mar.

O exame do mito de Ícaro é importante porque demonstra diferentes situações que envolvem o processo decisório. Observa-se que Dédalo buscou uma solução para resolver um problema de deslocamento: ele e seu filho precisavam fugir de onde estavam aprisionados. Para isso Dédalo utilizou a tecnologia e os recursos disponíveis e construiu asas por perceber que o espaço aéreo era o único meio não dominado pelas divindades gregas. A segurança do voo dependia da utilização adequada do equipamento construído e da obediência a determinadas normas que foram explicadas com certa antecedência. Muitos estudiosos já se perguntaram: Ícaro morreu por causa da invenção do pai ou por sua desobediência às normas? Esta estória demonstra que o equipamento não apresentou problemas, mas uma das causas para o insucesso da operação foi a desobediência às normas estabelecidas. (FONTANARI, 2007).

Falar em segurança da atividade aérea remete inevitavelmente a acidentes e incidentes, pois tais ocorrências acompanham a trajetória histórica da aviação. De acordo com Fajer (2009), os acidentes aéreos não devem ser analisados somente procurando-se evitar as considerações de imperfeição ou imperícia por si só, mas ampliando a compreensão das ações do ser humano que é, sem dúvida, o principal agente de todos os processos. Logo, sem a ação humana não haveria acidentes.

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No Brasil, a investigação de acidentes aeronáuticos está sob a responsabilidade do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), órgão governamental da Força Aérea Brasileira (FAB) subordinado ao Comando da Aeronáutica (COMAER) e ao Ministério da Defesa.

De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), segurança operacional é o estado no qual o risco de lesões a pessoas ou danos a bens se reduzem e se mantêm em um nível aceitável ou abaixo deste, por meio de um processo contínuo de identificação de perigos e gerenciamento de riscos (BRASIL, 2010). Atualmente é consenso de que não há uma única causa para os acidentes aéreos e os métodos de investigação adotados geralmente consideram a multicausalidade e a trajetória que resultou no sinistro e não somente condicionantes isolados. Com relação aos fatores humanos, é importante destacar que eles não se restringem aos fatores psicológicos ou médicos. É necessário ampliar a compreensão de diferentes elementos que incidem no processo decisório, bem como é importante considerar também que a atividade humana fora da aeronave influencia na segurança de voo.

As fases de aproximação e pouso de uma aeronave são os momentos de maior risco de todo o voo, pois a aeronave se encontra com o trem de pouso baixado e os flaps distendidos e em uma velocidade baixa na qual não se pode sustentar com segurança. É nessa fase que a atenção dos pilotos deve estar voltada para o único objetivo, que é o de pousar a aeronave de forma segura. O desvio da atenção dos pilotos nesse momento pode causar erro de percepção de rampa de pouso, entre outros (FLIGHT SAFETY FOUNDATION, 2000).

Essa monografia tem como objeto de preocupação os riscos da utilização inadvertida de equipamentos e objetos emissores de raio laser e da presença de balões no espaço aéreo, os quais podem comprometer a segurança operacional da atividade aérea. A escolha dessa temática foi motivada por estudos como os realizados pela FAA (2004), os quais indicaram que a exposição de pilotos à iluminação laser pode causar efeitos perigosos (distração, ofuscamento, cegueira momentânea e em circunstâncias extremas, deficiência visual permanente) que pode comprometer a habilidade dos pilotos em executar seus procedimentos. Além dos riscos produzidos pelos emissores de raio laser, não se pode desprezar os perigos causados por balões à atividade aérea. O espaço aéreo brasileiro, num momento não muito distante, teve seu nível de segurança rebaixado por conta do risco iminente de acidente entre aeronaves e balões. Embora a decisão de rebaixar o nível de segurança do espaço aéreo brasileiro não tenha tido um efeito punitivo, esse fato gerou uma

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série de problemas, como perda de voos e um aumento do valor dos seguros cobrados das companhias aéreas. Além disso, nos últimos anos os dados apontam para o crescimento nas atividades baloeiras. Em 2013, um campeonato da cidade do Rio de Janeiro reuniu mais de quarenta balões. Mesmo balões menores, desprovidos de carga explosiva e alimentados sem chamas, apenas por uma placa solar, tornam-se um risco à segurança aérea (AERO MAGAZINE, 2017).

Assim, os resultados dessa pesquisa procuraram investigar quais são os riscos inerentes à prática do uso inadvertido do raio laser e da atividade baloeira para a segurança da atividade aérea no Brasil, comparando as notificações registradas no CENIPA e as campanhas educativas realizadas no período compreendido entre os anos de 2017 a 2019.

1.1 PROBLEMA DA PESQUISA

Considerando que as atividades de apontar canetas de raio laser contra aeronaves e o ato de soltar balões, conhecido no meio aeronáutico como risco baloeiro, refletem na segurança aeronáutica, essa pesquisa investigou a seguinte problemática: é possível identificar relação de impacto entre a existência de ações educativas preventivas e os índices de notificações das ocorrências de emissões de raio laser e da atividade baloeira registradas no CENIPA no período de 2017 a 2019?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Para a investigação dessa problemática, definiu-se como objetivo geral analisar as incidências das notificações disponíveis no CENIPA das atividades ilegais de uso indevido de raio laser e do risco baloeiro que interferiram na segurança de voo no Brasil nos anos de 2017 a 2019, correlacionando–as com a existência de ações educativas institucionais preventivas desenvolvidas sobretudo pela FAB e pelo CENIPA.

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Como objetivos específicos, propôs-se realizar levantamento da legislação brasileira atual e analisar as ações educativas e os índices de notificações a fim de identificar se houve diminuição no quantitativo de ocorrências no mesmo período.

A temática envolve a polêmica da interferência humana intencional na segurança das operações aeronáuticas sob o pretexto do direito à recreação e à cultura.

1.3 JUSTIFICATIVA

O homem, desde a antiguidade, procurou o lazer e a recreação como meio de aliviar o estresse do cotidiano. Diferentemente do lazer, a recreação exige empenho em atividades de forma a obter a diversão (HUMENIGH, 2009). No entanto, essas atividades precisam estar inseridas no rol das que podem ser executadas sem algum tipo de prejuízo e que não sejam consideradas ilegais, isto é, que não sejam alcançadas pela letra da lei de forma ilícita.

Assim, nessa esteira, o hábito recreativo de algumas pessoas é considerado crime, como é o caso de se usar canetas de emissão de raio laser e apontar para aeronaves, bem como também o ato de soltar balões, conhecido no meio aeronáutico como risco baloeiro.

O raio laser tem sido usado indevida e indiscriminadamente por muitas pessoas nos mais diversos lugares do Brasil e do mundo, principalmente contra aeronaves, pois se trata de uma tecnologia relativamente nova, sendo por isso muito atrativa. Ocorre que o uso de canetas de emissão de raio laser dessa forma inadvertida pode causar uma série de problemas, desde uma cegueira momentânea do piloto até a perda permanente da visão e, a depender do procedimento que esteja realizando, pode ocorrer até um acidente (FAA apud BASÍLIO et al, 2011).

Assim também é o ato de soltar balões, atividade recreativa muito antiga, cujo registro inicial remonta à velha China do século XII (BRASIL, 2016), mas que hoje, no Brasil, é considerada como ilegal, vez que está tipificada como crime em vias da Lei Federal nº 9.605/98 e que pode ocasionar vários acidentes que vão de simples incêndios até à queda de aeronaves. Não se pode confundir o ato de soltar balões com o balonismo, vez que esse é controlado por amarras e obedece aos comandos de alçar voo e pousar quando impostos pelo homem, enquanto aquele é solto a esmo na natureza, impulsionado pelos ventos, podendo

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alcançar grandes altitudes e distâncias, pondo em risco o meio ambiente e a atividade aérea, sendo considerado no meio aeronáutico como risco baloeiro.

Dessa forma, tanto o ato de soltar balões quanto o uso inapropriado de apontar canetas de emissão de raio laser contra aeronaves são atividades ilegais e atentatórias à segurança de voo, vez que colocam em risco a atividade aérea, podendo causar os mais variados tipos de danos a todos os envolvidos.

Dada a grande relevância social que o tema traz, principalmente ao meio aeronáutico, é que se fez necessário um estudo e análise das ocorrências registradas no CENIPA quanto ao uso inadvertido de canetas emissoras de raio laser e o do chamado risco baloeiro, da legislação pertinente, bem como também do levantamento das campanhas educativas brasileiras que tiveram como tema esse assunto, no período de 2017 a 2019, fundamentando e colaborando dessa forma com o suporte legal para o seu efetivo combate, para a criação de novas ações educativas, com vistas à redução desses tipos de ocorrência.

1.4 METODOLOGIA

1.4.1 Natureza da pesquisa e tipo de pesquisa

Essa pesquisa é de natureza exploratória. A pesquisa exploratória é o primeiro passo de todo trabalho científico. São finalidades de uma pesquisa exploratória, sobretudo quando bibliográfica, proporcionar maiores informações sobre determinado assunto; facilitar a delimitação de um tema de trabalho; definir os objetivos ou formular as hipóteses de uma pesquisa ou descobrir novo tipo de enfoque para o trabalho que se tem em mente. Através das pesquisas exploratórias avalia-se a possibilidade de desenvolver uma boa pesquisa sobre determinado assunto. Portanto, a pesquisa exploratória, na maioria dos casos, constitui um trabalho preliminar ou preparatório para outro tipo de pesquisa. (ANDRADE, 2010).

Os estudos exploratórios têm a característica de estudar assuntos ainda pouco explorados ou que necessitam de uma abordagem sob novas perspectivas. Esse é o caso do presente estudo sobre a correlação entre a realização de ações educativas e o registro de notificação de eventos que possam prejudicar a segurança de voo, de modo específico, o uso de raio laser e o ato de soltar balões, enquanto atividades consideradas como “recreativas” para a população, mas que são ilícitas e perigosas à segurança aeronáutica.

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O tipo de pesquisa é documental. Esse tipo de pesquisa constitui-se na realização do trabalho monográfico tendo como referência a leitura, a análise e a interpretação de documentos existentes acerca de um determinado fenômeno. Esses materiais tanto podem ser livros e artigos científicos, como também outros relatórios de pesquisa, documentos internos disponibilizados por órgãos públicos, organizações ou famílias, documentos de época, fotos, gravações, informações extraídas de jornais, revistas e boletins. (BERTUCCI, 2011).

Não há clareza nem mesmo entre os pesquisadores sobre a que estes se referem ao tratar a pesquisa documental. Muitos a ela se referem como um método, outros como uma técnica ou procedimento. Nessa pesquisa, compreende-se a pesquisa documental nos termos definidos por Sá-Silva, Almeida e Guindani (2009, p. 05) como “um procedimento que se utiliza de métodos e técnicas para a apreensão, compreensão e análise de documentos dos mais variados tipos”.

A noção de documento utilizada nesse estudo é qualquer suporte que possua informação registrada, formando uma unidade de conteúdo que pode ser consultada e analisada.

Nesse sentido, os sites e arquivos disponíveis sobre as campanhas educativas para a conscientização da população sobre os riscos à segurança aeronáutica do uso de raio laser e do ato de soltar balões são considerados documentos, bem como o registro de notificações desses eventos no site do CENIPA. A coleta de dados tanto do registro de notificações quanto da realização de campanhas educativas foi realizada no mesmo período, ou seja, nos anos de 2017 a 2019, a fim de correlacionar possíveis impactos ou influências das ações educativas no decréscimo ou aumento do registro de notificações.

1.4.2 População, amostra ou sujeitos da pesquisa ou materiais e métodos

A pesquisa utilizou documentos como materiais e fontes primárias. Os materiais utilizados foram: a) leis brasileiras pertinentes à temática em vigor; b) notificações registradas no site do CENIPA abrangendo o período de 2017 a 2019 e c) ações educativas que tiveram como tema o uso do raio laser e o ato de soltar de balões como atividades de risco potencial à segurança aeronáutica.

O método de coleta e organização dos dados teve como base a ritualística da pesquisa com documentos que se refere à leitura, fichamento, contextualização e análise.

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1.4.3 Procedimentos de coleta de dados

O procedimento de coleta de dados foi de cunho bibliográfico e pressupõe a validação interna por meio da coleta de dados no mesmo período (2017-2019) para atividades diferentes (registro de notificações e campanhas educativas). Ainda que o impacto das campanhas educativas seja considerado de longo prazo, foi necessário delimitar um período historiográfico para análise.

O período 2017-2019 foi selecionado por se tratar dos registros oficiais mais atuais de notificações de incidentes com raio laser e de notificações do risco baloeiro por parte de pilotos no site do CENIPA.

Outra questão a ser considerada na coleta de dados foi o registro de notificações em períodos distintos do ano, pois se observou a realização de campanhas educativas de acordo com o calendário cultural do país, por exemplo, no mês de junho ocorrem as “festas juninas” e isso geraria um possível aumento no número de notificações e de campanhas educativas.

Portanto, os procedimentos da pesquisa são constituídos de estudos documentais e de pesquisa em arquivos disponibilizados na rede mundial de computadores.

1.4.4 Procedimentos de análise dos dados

Para a análise de dados a pesquisa teve como base o desenho transversal exploratório-descritivo proposto por Sampieri, Callado e Lucio (2013) que consiste em conhecer uma variável ou um conjunto de variáveis a partir de uma exploração em um momento específico. Esse desenho de pesquisa é geralmente aplicado em estudos não-experimentais.

O desenho transversal exploratório-descritivo agrega tanto a característica de explorar variáveis em um momento específico quanto descrever a incidência dessas variáveis. Por estes motivos considerou-se essa proposta de análise como adequada e satisfatória aos procedimentos dessa pesquisa.

Os dados foram analisados com base nas notificações do site do CENIPA e nas campanhas educativas tendo como enfoque o risco baloeiro e o uso indevido do raio laser contra aeronaves no período compreendido entre os anos de 2017 a 2019.

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1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

O trabalho está organizado em duas partes. Na primeira parte apresenta-se uma discussão conceitual sobre lazer e recreação e os limites que tornam uma prática aparentemente inofensiva em algo tão perigoso à população tanto em solo quanto no ar. Expõe-se o arcabouço legal que qualifica o ato de soltar balões e o de apontar canetas de raio laser para aeronaves como práticas criminosas. Nesta parte também são apresentadas e analisadas as fichas de notificações de ocorrências.

Na segunda parte apresenta-se uma análise por amostragem de ações educativas institucionais coordenadas pelo CENIPA-FAB, bem como analisam-se os dados consolidados das notificações de ocorrências relacionadas ao risco baloeiro e ao raio laser no período de 2017 a 2019.

Por fim, apresentam-se as considerações finais com os resultados consolidados e propostas para melhorias das ações educativas em consonância com o Gerenciamento da Segurança de Voo.

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2 BALÕES E RAIO LASER: DA RECREAÇÃO AO CRIME

O lazer e a recreação são atividades que a humanidade procura como forma de se desligar das obrigações diárias, alternando entre os momentos de trabalho ou obrigações daqueles nos quais não estava envolvido nessas atividades. É fato de que o homem, como forma de se desenvolver e continuar suas atividades e afazeres do dia a dia, procurava meios para se desestressar, aliviar as tensões que as grandes jornadas laborais impunham.

É importante destacar que os termos lazer e recrear se confundem sob o ponto de vista semântico, como se constata, conforme explicação do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa:

Lazer (latim licet, licere, ser permitido, ser lícito). Substantivo masculino. Tempo que se dispõem livremente para repouso ou distração (ócio). Recrear (latim recreo,

-are, fazer brotar de novo, reanimar, curar. Verbo transitivo. 1. Proporcionar

recreio a. = ALEGRAR, DIVERTIR; Verbo pronominal. 2. Distrair-se com algum divertimento ou atividade. = BRINCAR, DIVERTIR-SE, FOLGAR. (PRIBERAM, 2016).

Nesse sentido faz jus o entendimento dos dois termos, uma vez que será discorrido sobre duas atividades consideradas ilícitas sob o ponto de vista legal, que são o ato de soltar balões, conhecido no meio aeronáutico como risco baloeiro, e o de apontar canetas de raio laser contra aeronaves, os quais atentam sensivelmente contra sua segurança, mas que socialmente tendem a ser consideradas como lazer e/ou recreação.

Como se pode constatar, os termos lazer e recrear estão intimamente ligados, vez que traduzem a concepção de realizar atividades que estejam voltadas para o divertimento, o ócio, para alegria, para reanimação e reposição das energias despendidas nas atividades laborais, obrigações e responsabilidades.

2.1 QUANDO A RECREAÇÃO SE TORNA CRIME

Pode-se inferir que o termo recrear abarca a realização de atividades de entretenimento que sejam consideradas lícitas. Assim, nessa esteira, cabe explicitar o real significado do termo lícito: do latim licitus, -a, -um, permitido, legítimo, legal. Adjetivo. A que a lei não se opõe. =LEGAL, PERMITIDO. Adjetivo e substantivo masculino. Que ou o que é permitido ou admissível”. (PRIBERAM, 2016).

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Como se constata, na própria concepção dos termos lazer e recreação, no seu original, que é o latim, exprime que a atividade empreendida dever ser lícita para que seja considerada como tal. Desse modo, as atividades de soltar balões e apontar canetas de raio laser contra aeronaves não são consideradas lazer ou recreação, pois tratam-se de atividades ilegais sob o ponto de vista do alcance da lei, nocivas e, portanto, atentatórias à segurança, cabendo reprimenda a quem executá-las. O Código Penal Brasileiro é bem claro quanto a isso, como se pode verificar no Capítulo II que trata dos crimes contra a segurança:

Art. 261 - Expor a perigo embarcação ou aeronave, própria ou alheia, ou praticar qualquer ato tendente a impedir ou dificultar navegação [...] aérea:

Pena - reclusão, de dois a cinco anos. [...]

§ 1º - Se do fato resulta [...] queda ou destruição de aeronave: Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

[...]

§ 3º - No caso de culpa, se ocorre o sinistro: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. [...]

Art. 262 - Expor a perigo outro meio de transporte público, impedir-lhe ou dificultar-lhe o funcionamento:

Pena - detenção, de um a dois anos.

§ 1º - Se do fato resulta desastre, a pena é de reclusão, de dois a cinco anos. § 2º - No caso de culpa, se ocorre desastre:

Pena - detenção, de três meses a um ano. (BRASIL, 1940).

O Código Penal ainda esclarece que se as penas desses atos ilícitos, considerados como crimes de perigo comum, tiverem como consequência lesões graves ou causar a morte das pessoas envolvidas, elas serão aumentadas, passando à sua forma qualificada, tecendo algumas poucas diferenças se houve ou não intenção de causar esse resultado:

[...]

Art. 263 - Se de qualquer dos crimes previstos nos arts. 260 a 262, no caso de desastre ou sinistro, resulta lesão corporal ou morte, aplica-se o disposto no art. 258.

[...]

Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço. (BRASIL, 1940).

Em vista da argumentação teórica até aqui apresentada é que se faz necessário descrever, ao menos de forma resumida, sobre cada uma dessas atividades ilegais que trazem risco potencial à aviação.

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O raio laser tem suas bases nos estudos do físico alemão Albert Einstein no ano de 1916, baseando seus estudos segundo as teorias do físico também alemão Max Karl Ernst Ludwig Planck, que é o pai da física quântica. (VIANNA, 2016).

O laser é um tipo de radiação eletromagnética que pode ser vista a olho nu, sem necessidade de algum tipo de aparato ou equipamento tecnológico. O nome LASER é baseado nas iniciais do idioma inglês para Amplificação da Luz por Emissão Estimulada por Radiação (Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation). O laser é uma luz monocromática, coerente e colimada, que tem aplicação tecnológica e científica. A luz do laser é formada por radiações de uma única frequência. O feixe de luz do laser é muito potente e tem brilho superior ao da luz emitida por uma lâmpada comum. (BASÍLIO et al, 2011).

Dada essa particularidade especial do laser e da facilidade de comercialização a preços relativamente baixos é que o artefato se tornou tão atraente que acabou extrapolando sua utilidade do ponto de vista tecnológico, passando também a ser usado como uma “brincadeira” por algumas pessoas, cuja atitude de apontar o emissor do raio laser que, na maioria das vezes é de um objeto parecido com uma caneta, acabou se tornando alvo da legislação brasileira, mais expressamente nos artigos 261 e seguintes do Código Penal Brasileiro, como já mencionado. O raio laser usado indevidamente pode causar desde cegueira momentânea, ilusões visuais e até a perda total da visão, a depender da potência empregada no artefato. (BASÍLIO et al, 2011). Os jornais estão estampados com farto material sobre reportagens que explicitam os danos causados ao olho humano em vista do uso inadequado do raio laser. No tocante a isso, pode-se constatar, conforme parte de uma reportagem do jornal eletrônico O Estado de São Paulo que segue:

Dispositivos portáteis que emitem raios laser podem causar danos graves à visão. Usados tradicionalmente por palestrantes para apontar detalhes em projeções, tornaram-se um brinquedo popular nos últimos anos. Estudo publicado na principal revista médica do mundo descreve os principais danos causados pela caneta laser à visão. Um garoto suíço de 15 anos resolveu brincar com o laser que comprara pela internet. O feixe tinha potência de 150 miliWatts (mW), o suficiente para estourar balões e fazer pequenos furos no tênis da irmã. Há vídeos na internet que ensinam a fazer isso. Um dia, ele resolveu brincar com os reflexos do laser em um espelho. Várias vezes o feixe acertou seus olhos. De forma instantânea, notou que a visão ficou embaçada, mas ficou com medo de contar para os pais. Demorou duas semanas para procurar ajuda. A visão piorou tanto que ele não conseguia contar os dedos de uma mão a uma distância maior que um metro. Os médicos diagnosticaram uma grave hemorragia embaixo da retina esquerda e várias cicatrizes no epitélio pigmentar do olho direito. Quatro meses após o acidente, a visão ainda apresentava sérias limitações apesar do tratamento. O apontador laser responsável pelo acidente descrito no The New England Journal of Medicine pode ser adquirido na internet por menos de R$60,00. [...]. (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2011)

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Em vias do exposto e como a “brincadeira” passou a atingir a aviação foi que o CENIPA, no ano de 2012, criou um sistema para o registro de notificações desse tipo de ocorrência. Essas notificações foram analisadas com profundidade no presente trabalho mais à frente.

Quanto ao ato de soltar balão, várias são as teorias que creditam a primeira inventividade do balão, mas os registros da história têm nos chineses como os precursores dessa engenharia que pode ser considerada até mesmo como uma arte. Depois vieram outros que aperfeiçoaram o invento, como se pode constatar em matéria divulgada pelo CENIPA:

Registros históricos dão conta que os chineses no século XII utilizavam balões para reverenciar os mortos e homenagear imperadores. Em junho de 1873, o francês Joseph Michel e seu irmão Jacques Montgolfier construíram o primeiro balão de linho, com 32 metros de circunferência, e o inflaram com fumaça de fogueiras de palha. O balão elevou-se a uma altura de 300 metros, caindo dez minutos depois de ter percorrido a distância de três quilômetros. O aventureiro e mercador italiano Marco Polo tinha como divertimento soltar balões nas festas e reuniões familiares. Mais tarde, na época da colonização do Brasil, os portugueses se encarregaram de trazer a cultura para abrilhantar as noites enluaradas e marcar o início das festas juninas. (BRASIL, 2016)

Nesse campo histórico, vários foram os brasileiros que se dedicaram ao desenvolvimento desse engenho, conforme se observa:

Ainda no século XVIII, foi sob os olhos do Padre Bartolomeu de Gusmão que bolhas de sabão ganharam impulso vertical ao se aproximarem da chama de uma vela, quando então o padre brasileiro despertou-se pela possibilidade do voo do mais leve que o ar. Bartolomeu de Gusmão, em 8 de agosto de 1709, após duas tentativas frustradas, apresentou à Corte Portuguesa, no pátio da Casa da Índia, um engenho que alcançaria o voo vertical, inaugurando o primeiro voo do mais leve que o ar, invento batizado de passarola. (HONORATO, 2014)

O Brasil é um país com uma cultura muito rica em tradições e crenças. Por esse motivo é que no mês de junho acontecem as conhecidas festas de São João, nas quais a tônica adquire característica de acordo com cada região do país, com vários tipos de dança, indumentária e comida, mas o ponto forte da festa é a fogueira, o foguetório, o milho, a pinga, o mastro e as rezas dos santos, os arraiais. (RANGEL, 2008). O ato de soltar balões também faz parte da festa, como se pode constatar até em receitas pré-concebidas para se obter um estado civil:

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Quando estiverem soltando um balão, pensar em algo que se deseja. Se ele subir, acontecerá o que se pensou; caso se incendeie, certamente o “sorteiro” ficará solteiro. Prender uma fita no travesseiro e rezar para São João. No outro dia, se ela aparecer solta é porque a pessoa vai se casar. (RANGEL, 2008, pag. 38).

O ato de soltar balões extrapolou os limites das festas e acabou se tornando um problema de cunho ambiental, sendo por isso mesmo tal prática incursa na Lei Federal nº 9.605/98, tornando-se a partir daí a ser conhecida como a Lei dos Crimes Ambientais:

Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano:

Pena - detenção de um a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. (BRASIL, 1998)

Além disso, em decorrência do balão atingir grandes alturas e também pelo fato de ter uma característica mais predominante, que é a não controlabilidade, passou a ser considerado com um risco à segurança aérea, pois isso permite que o artefato se movimente no espaço aéreo sem qualquer forma de controle, além de não poder ser detectado pelo radar ou quaisquer outros equipamentos das aeronaves. Numa eventual colisão entre um balão com uma aeronave, dependendo da velocidade em que se colidam, bem como também da parte que atinja a aeronave, poderá ocorrer até mesmo um acidente e de proporções gravíssimas. A preocupação do setor aéreo frente às ocorrências que se alastraram pelo país fez com que o CENIPA implantasse também o formulário eletrônico para esse tipo de ocorrência, sendo registrados vários episódios:

Em junho de 2011 o CENIPA investigou um incidente grave ocorrido no aeroporto Santos-Dumont, no Rio de Janeiro, quando uma aeronave de passageiros colidiu com um balão a 12 mil pés (três mil e quinhentos metros), logo após a decolagem. Os tubos de “pitot” (dispositivo que colhe dados de velocidade e pressão atmosférica) da aeronave ficaram totalmente obstruídos e levaram à desconexão do piloto automático, além de danificar o sistema de navegação.

Em abril de 2013, em São Paulo, um balão de cerca de 15 metros caiu no telhado de uma residência e incendiou. Moradores e motoristas que passavam pelo local tentaram ajudar aos proprietários a retirarem o balão e impedir que o fogo se alastrasse. (BRASIL, 2016)

Partindo de uma manifestação folclórica até se tornar um hábito atentatório à segurança de toda a aviação: foi nisso que o ato de soltar balões acabou se transformando, sendo conhecido a partir de então como o risco baloeiro, como se pode inferir do texto a

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A manifestação folclórica espalhou-se pelas regiões do nordeste, centro-oeste e sudeste entre os meses de maio e agosto. No século passado, o hábito de contemplar o céu à procura do sobrevoo de balões hipnotizava olhares e encantava pessoas. No entanto, no século XXI, essa prática se transformou em algo perigoso, que pode ocasionar incêndios florestais e risco à navegação aérea. Embora o colorido dos balões ainda seja marcante nas festas caipiras, tal tradição está fadada a ficar apenas nos versos das canções populares e na lembrança de pais e avós que vivenciaram esse espetáculo de beleza e perigo. (BRASIL, 2016)

Os registros do risco baloeiro feitos no site do CENIPA também foram coletados e analisados no presente trabalho.

No dia 22 de abril de 2016 a IFALPA1 comunicou ao governo brasileiro que o

seu espaço aéreo havia sido rebaixado. O Brasil passou a ser enquadrado como criticamente deficiente em razão do risco de acidentes entre aeronaves e balões, principalmente durante festivais religiosos e culturais, como as festas juninas tradicionais no país. Além disso essa situação foi agravada pelo aumento da competição entre grupos baloeiros organizados. De acordo com Andreucci (2016), as autoridades brasileiras nada ou pouco fazem para reverter essa situação, não coibindo adequadamente a prática ilegal realizada pelos baloeiros.

A prática de soltar balões é crime, pois conforme o artigo 42 da Lei nº 9.605/98, as condutas de “fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano” são abarcadas como tal. A pena privativa de liberdade é ínfima, de um a três anos de detenção, ou multa, podendo ambas ser aplicadas cumulativamente. Para Andreucci, nos raríssimos casos em que a polícia militar consegue deter algum baloeiro, geralmente as autoridades policiais arbitram fiança.

Com relação ao raio laser, existe um projeto de lei de autoria do senador Lobão Filho (nº 327/2012) que pretende tipificar como crime o apontamento de luzes raio laser contra aeronaves. Segundo Rezende (2015), nos Estados Unidos esse ato é considerado um crime federal e já culminou na condenação de dois jovens à prisão. No Brasil, no ano de 2013, um rapaz de 23 anos foi preso pela polícia da FAB por estar apontando raio laser verde em direção às aeronaves que pousavam no aeroporto de Porto Velho, capital de Rondônia.

No Brasil tem aumentado os reportes de uso indevido do raio laser. De acordo com dados da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária - INFRAERO (BRASIL,

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2010), as regiões Sul e Sudeste concentram maior incidência de raio laser apontado para cabines de aeronaves.

Diante do exposto, observa-se que o espaço aéreo brasileiro tem enfrentado grandes desafios que comprometem a segurança das operações aéreas, sendo necessária a investigação dos impactos das ações preventivas nos índices de notificações dos riscos à segurança de voos.

2.2 RISCOS PARA SEGURANÇA OPERACIONAL

Uma das primeiras questões a se discutir no âmbito da segurança da navegação aérea é a definição de risco. Contribuindo com esta definição, Honorato (2014) afirma que o delito de atentado contra a segurança da navegação área requer a presença do perigo, diferentemente do delito de atentado contra aeronaves que exige a presença de perigo concreto. Entretanto, diante da incolumidade pública, todo perigo é concreto.

Desse modo, os defensores do uso de raio laser de forma indevida, bem como também os que defendem a prática de soltar balões sob a justificativa da valorização da cultura popular, atentam contra a incolumidade pública.

Para reduzir o risco de lesões às pessoas ou danos a bens, os sistemas de gerenciamento da segurança operacional ajudam a apoiar os provedores de aviação civil em suas decisões com relação aos riscos das atividades diárias.

De acordo com o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) da Força Aérea Brasileira - FAB (BRASIL, 2020), segurança operacional é um conjunto integrado, formal e explícito que inclui responsabilidade, políticas e procedimentos necessários para um gerenciamento eficaz da segurança operacional.

O Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional (SGSO) está consolidado em âmbito internacional e possui processos-chave, conforme a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), que são:

● Reporte de Eventos de Segurança Operacional (ESO) – processo de aquisição de dados e informações relacionados à segurança operacional.

● Identificação de Perigos: conjunto de atividades voltadas para identificação de perigos relacionados com sua organização.

● Gerenciamento de Riscos: processo padronizado para avaliação e definição de medidas de controle de riscos.

● Medição de Desempenho: ferramentas gerenciais definidas para avaliar se os objetivos de segurança operacional da organização estão sendo atingidos.

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● Garantia da Segurança Operacional: conjunto de atividades voltadas para padronização da prestação do serviço conforme critérios estabelecidos de desempenho. (BRASIL, 2018)

Observa-se que o primeiro processo-chave diz respeito ao reporte de eventos de segurança operacional.

2.2.1 Riscos do uso indevido de raio laser

Para o CENIPA (BRASIL, [201-?]), o uso indevido das ponteiras de raio laser contra cabines de aeronaves é risco potencial para as operações aéreas.

As consequências são: distração, ofuscamento e cegueira que podem comprometer a habilidade dos pilotos em procedimentos de voo. O risco pode levar à situação extrema de perda de controle em voo, em especial, nos casos de aeronaves tripuladas por um único piloto. A emissão inadequada do raio laser também pode ser enquadrada no Artigo 261 do Código Penal Brasileiro: “Art. 261 - Expor a perigo embarcação ou aeronave, própria ou alheia, ou praticar qualquer ato tendente a impedir ou dificultar navegação marítima, fluvial ou aérea. Pena: reclusão, de dois a cinco anos.”

A orientação do CENIPA é que a prevenção de acidentes propiciados pelo uso de raio laser requer mobilização geral e integrada de diversas instituições governamentais: ensino, saúde, comunicação, segurança e defesa pública.

No âmbito da prevenção de acidentes pelo uso indevido de raio laser, o CENIPA possui dois instrumentos de registro e monitoramento: O formulário online e a Pesquisa online.

O formulário online refere-se à Ficha de Notificação de Raio Laser (disponível no ANEXO A) que é dividida em quatro partes: a) aspectos gerais de identificação do relator e da aeronave; b) fase da operação; c) informações do voo; d) consequências na acuidade visual do piloto. Para enviar o formulário é necessário preencher um código de segurança.

É importante destacar que não somente o piloto pode fazer o reporte, mas também um agente, dentre os quais tripulantes, controladores de tráfego aéreo, funcionários de órgãos da administração aeroportuária, passageiros, operadores e até uma categoria denominada “outro” que inclui pessoas não contempladas nas funções anteriores.

No item “consequências para a acuidade visual do piloto”, as respostas devem ser indicadas por caixa de seleção de consequências previamente indicadas no formulário,

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sem espaço para a indicação de outras consequências. As que estão disponíveis para indicação são:

a) Distração;

b) Formação de imagens falsas; c) Ofuscamento;

d) Cegueira temporária; e) Queimadura de retina e

f) Hemorragia de retina.

O outro instrumento é a Pesquisa online que se refere à consolidação dos dados das notificações em todo o território brasileiro. No momento do levantamento para este estudo havia 8.364 registros de notificações de raio laser, como se pode constatar no ANEXO B.

É possível exportar dados consolidados por Estado, Aeródromo e Fase da operação. Entre as consequências mais citadas pelos relatores estão a distração e o ofuscamento e acontecem em diferentes momentos da operação, o que aumenta significativamente o risco de acidentes.

2.2.2 Risco baloeiro

Ainda de acordo com o CENIPA (BRASIL, [201-?]), no Brasil é estimado que 100 mil balões são soltos a cada ano. Os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo lideram as estatísticas com balões não tripulados de ar quente, seguidos pelo Estado do Paraná. Em centros urbanos, o balão acarreta risco a milhares de vidas. Dependendo de como foi construído, o balão pode ser ingerido pelo motor da aeronave ou até mesmo danificar alguma parte da estrutura do avião no momento do impacto. A soltura de balão é uma prática ilegal, também repreendida pelas Secretarias de Segurança Pública Estaduais, pelas autoridades policiais e demais órgãos de defesa civil.

Assim como o raio laser, o CENIPA também disponibiliza formulário online e pesquisa online para o risco baloeiro. A Ficha de notificação de ocorrência com balão (ANEXO C) é organizada em seis partes: a) aspectos gerais de identificação do relator e da aeronave; b) fase da operação; c) informações do voo; d) condições do céu; e) efeito no voo;

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f) informações sobre o balão. Para enviar o formulário é necessário preencher um código de segurança.

Destacam-se as consequências no voo listadas a seguir: a) nenhum; b) decolagem abortada; c) pouso; d) decolagem; e) pouso de emergência; f) pouso de precaução; g) parada dos motores; h) desvio com autopilot; i) desvio manual; j) outros; k) manobra evasiva brusca; l) subida; m) descida; n) arremetida. Pelos possíveis efeitos, é possível constatar que o perigo é concreto.

Com relação ao tipo de balão, o formulário solicita a confirmação se este é explosivo, cangalha e se possui propaganda, bem como informações sobre a cor, o tamanho e a quantidade de balões avistados. Também solicita a informação se houve ou não colisão com o balão.

Na pesquisa online, outro instrumento disponibilizado pelo CENIPA, verificou-se que no momento do levantamento havia 4867 registros de notificações de ocorrências com balões, como se pode constatar no ANEXO D.

Observa-se que os efeitos das ocorrências com balões nos voos são diversificados e vão desde desvio manual ou com autopilot até arremetidas, o que representa perigo concreto à incolumidade pública.

Na figura abaixo constata-se, em uma breve análise, que os balões estão mais presentes no espaço aéreo dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. De acordo com Sigaud (2017) a tradição baloeira, que se intensifica nas festas juninas, tem assustado quem voa nessas regiões. É que em alguns casos os pilotos precisam fazer manobras evasivas bruscas, desistir da decolagem, arremeter e até atrasar o pouso. São situações que geram medo, desconforto e transtorno aos passageiros.

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Figura 1 – Risco baloeiro: reporte de balões por aeródromo no ano de 2016

Fonte: SIGAUD (2017).

Ainda segundo Sigaud (2017), dos 134 registros de avistamentos de balão em 2017 (entre 1º de janeiro e 2 de abril), 78 se referem a ocorrências no Estado de São Paulo, ou seja, 57%. Em 2016, dos 510 registros recebidos, a maioria também ocorreu no espaço aéreo paulista: 307 casos, o que equivale a 60% das notificações. O aeroporto com maior número de avistamentos é o de Guarulhos, com 103 relatos, seguido do de Campinas, com 93.

Já o Estado do Rio de Janeiro, nos três primeiros meses de 2017, teve 31 casos de avistamentos de balão (23% do total registrados). Em 2016, a soltura de balões no espaço aéreo fluminense também gerou 23% das notificações, mantendo o Estado no segundo lugar do ranking no país (118 relatos entre 510).

A maior parte dos registros é de avistamento de balão, não de colisão. De 2015 para 2016, o número de relatos aumentou 57%. Isso pode significar que o número de balões soltos aumentou, mas também que a comunidade aeronáutica tem informado mais ao

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CENIPA sobre a presença de balões nos céus do país. É importante ressaltar que um único balão pode ser avistado por vários pilotos.

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3 AÇÕES EDUCATIVAS E REPORTES DE RAIO LASER E BALÕES: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS ANOS DE 2017 A 2019

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) é uma Organização Militar (OM), órgão central do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER), vinculada ao Comando da Aeronáutica (COMAER) e subordinada ao Comandante da Aeronáutica. Realiza ações de planejamento, gerenciamento, controle e execução de atividades relacionadas com a prevenção e investigação de acidentes aeronáuticos ocorridos no Brasil e sua criação deu-se no ano de 1971. O CENIPA representou o surgimento de uma nova cultura prevencionista no país no que diz respeito a acidentes aéreos, sempre em consonância com as normas internacionais de aviação. (BRASIL apud PINTO, 2018, p. 49).

O CENIPA dispõe de um calendário anual de cursos com eventos destinados à formação, atualização e ao aperfeiçoamento profissional do pessoal do SIPAER, bem como ao intercâmbio com outros países.

Além disso, a instituição também dispõe de formação à distância, o CENIPA Virtual, cujo lema é “Educar para prevenir. Prevenir para salvar”. Os cursos são voltados à prevenção de acidentes aeronáuticos e à investigação de acidentes.

Neste estudo serão destacadas, por amostragem, ações educativas e campanhas realizadas no período de 2017 a 2019 para, posteriormente, realizar uma análise comparativa com o número de reportes de notificação de risco baloeiro e de raio laser.

3.1 AÇÕES EDUCATIVAS

Neste último capítulo será realizada uma análise da relação entre as ações educacionais institucionais realizadas pelo governo federal e os índices de reportes de notificações de risco baloeiro e uso indevido de raio laser no período de 2017 a 2019.

As ações institucionais educativas foram selecionadas por amostragem, por ano e risco. Priorizou-se as campanhas educativas públicas sob a coordenação e disponíveis nos sites da FAB e do CENIPA.

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3.1.1 A estratégia do jornal – 2017

Figura 2 – NOTAER: Balões colocam em risco a aviação – jun. de 2017

Fonte: BRASIL (2017).

A utilização do jornal com distribuição virtual é uma estratégia de longo alcance. O Jornal NOTAER da Força Aérea Brasileira, edição de junho de 2017, apresenta uma reportagem bastante visual e clara sobre os dados de reportes de ocorrências com balões, destacando que a prática é crime, reforçando o papel da denúncia para evitar acidentes aéreos. Entretanto, o informativo não aborda as consequências que tal ato pode ter de forma prática nos voos e nem as condutas a que os pilotos podem ser forçados a adotar. Estas informações

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informativo com alcance mais próximo ao leitor que pode não se intimidar com o fato de ser uma prática criminosa, já que a identificação dos responsáveis é difícil.

3.1.2 Cordel: usando a cultura popular para educar – 2018

Figura 3 – O Cordel: campanha sobre o risco baloeiro – ano 2018

Fonte: BRASIL (2018).

A campanha utilizou um curto vídeo de divulgação com elementos culturais do cordel nordestino. Os cordéis expressam a cultura popular caracterizada por textos rimados e geralmente curtos que tratam de temas regionais e sociais.

A justificativa de preservação cultural tem sido utilizada por baloeiros como defesa dessa prática. Porém, entre os anos de 2013 e 2015 foram reportadas ao CENIPA sete colisões com balão, seis delas na terminal São Paulo, todas sem maiores consequências materiais ou humanas (BRASIL, 2016).

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No histórico das ações educativas da Força Aérea Brasileira2 observou-se que

entre 2017 e 2019, o ano com maior número de produção de ações educativas foi o ano de 2017. Não constam ações educativas da FAB no ano de 2019 com relação ao risco baloeiro.

3.1.3 Raio laser contra aeronaves: informação para prevenir

Com relação ao raio laser, observou-se que não são comuns campanhas e ações educativas. O recurso mais utilizado para a prevenção são notícias e reportagens.

Figura 4 – Os riscos do raio laser

Fonte: Site Piloto Policial (2013).

Na figura acima pode-se observar o prejuízo que o raio laser pode causar ao campo de visão do piloto, obrigando-o a praticar manobras e a assumir condutas que podem colocar a segurança do voo em perigo.

Como exemplo das reportagens que buscam alertar a população contra o perigo do raio laser, destaca-se a reportagem do News Rondônia (DEFESANET, 2017) a qual destaca uma pesquisa realizada por esse periódico junto ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos do Brasil (CENIPA) que apontou diminuição no número de denúncias por pilotos e controladores aéreos sobre a emissão de Raio Laser contra aeronaves no espaço aéreo daquele Estado. Em 2016 foram registradas sete ocorrências, menos 40% em relação a 2015. As sete ocorrências com feixe de raio laser (Canetas de luzes

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coloridas com predominância nas cores verde e vermelha que são compradas em papelarias ou pela internet) aconteceram nos arredores do maior aeródromo do Estado - o Aeroporto Internacional Governador Jorge Teixeira. As emissões de feixe de raio laser acontecem sempre no horário entre 19h e 23h quando as aeronaves fazem os procedimentos de aproximação e pouso.

O CENIPA atribui as ocorrências a uma combinação entre desconhecimento sobre as consequências da prática e acessibilidade a um preço muito baixo aos dispositivos que emitem laser. Diante do fácil acesso às canetas de raio laser por pessoas de todas as idades e, partindo da hipótese de que muitos que cometem este crime são jovens e crianças que desconhecem os reais riscos à aviação, em 2013 realizou-se uma parceria com a Fundação Maurício de Souza para lançamento de uma revista da Turma da Mônica alertando para o perigo de apontar os feixes de luz a cabines de aeronaves.

A parceria com a revista Turma da Mônica também rendeu outros lançamentos com foco na prevenção dos riscos da fauna e de se soltar pipa.

O projeto da revista Turma da Mônica surgiu da necessidade de diversificar as atividades de prevenção e abordar diferentes públicos. De acordo com o CENIPA, ao direcionar a mensagem às crianças, o órgão conquista aliados na difusão das informações de prevenção também aos adultos. Segundo Azevedo (2015) o objetivo é atingir o público infantil, pois se difunde as ideias de segurança de voo logo nos primeiros anos da criança, para atingir também adolescentes e adultos, já que a revista do Maurício é lida por todas as faixas etárias.

Abaixo observa-se fotografia do lançamento da 2ª edição da Revista Turma da Mônica em parceria com a FAB. O evento, organizado por militares da FAB e sociedade civil, foi realizado no Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMA/SP) e marcado por uma ação social alusiva ao Dia das Crianças no ano de 2015.

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Figura 5 – Ação social: lançamento de revista em parceria com a Turma da Mônica

Fonte: BRASIL (2015).

A proposta de investir na educação desde a infância e a estratégia de atingir os pais e familiares por meio das crianças é uma iniciativa muito importante. Entretanto, observa-se que tais ações ficam restritas a grandes centros ainda que os riscos à segurança de voo e a necessidade de educar a população são demandas de todas as regiões brasileiras.

3.1.4 Análise comparativa entre os reportes e ações educativas

De acordo com o Programa de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos da Aviação Civil Brasileira do CENIPA, os primeiros registros de emissão de raio laser apontados para cabines de aeronaves datam de 1993, nos Estados Unidos. Durante os dois anos seguintes, nas proximidades do Aeroporto de Las Vegas, ocorreram mais de 150 iluminações de feixe de laser contra aeronaves civis de transporte aéreo, aviões militares e operadores locais de helicópteros de segurança pública.

A maior incidência de laser ocorre na fase de aproximação para o pouso, podendo ocasionar distração, ofuscamento e cegueira momentânea nos pilotos. É também nessa fase que acontece um incremento da carga de trabalho dos pilotos com o objetivo de conduzir a aeronave até o pouso com segurança.

No Brasil, o CENIPA identificou uma imprecisão no controle estatístico, em função dessas ocorrências estarem sendo notificadas de formas variadas. Dessa forma, o CENIPA julgou oportuno adotar uma ficha de notificação de raio laser. Esta ficha passou a ser utilizada em fevereiro de 2012, através do preenchimento online pela internet na página eletrônica do CENIPA.

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Por intermédio da ficha eletrônica de notificação de raio laser e risco baloeiro foi possível gerar um banco de dados com capacidade de pesquisa online. Consequentemente, pode-se direcionar o trabalho de prevenção para as localidades mais afetadas, utilizando-se os meios de comunicação para conscientizar as populações locais a respeito dos riscos dessa atividade.

Há também o Programa de Prevenção de colisões com balões de ar quente não tripulados. De acordo com o CENIPA, o órgão tem envidado esforços no sentido de incentivar e sensibilizar as autoridades policiais para a repressão à atividade baloeira, envolvendo balões de ar quente não-tripulados. Paralelamente, várias ações de cunho educativo têm sido realizadas, junto ao Ministério da Educação e Secretarias de Educação, visando à conscientização da população sobre os riscos que estes artefatos oferecem para a segurança do voo no país.

Observa-se que a unificação do processamento de ocorrências com balões e raio laser na página eletrônica do CENIPA, em formulário online que substituiu a antiga Ficha CENIPA 29, foi um fator positivo para o monitoramento e acompanhamento das ocorrências. Realizou-se a consolidação dos reportes disponíveis nas ferramentas do CENIPA de risco baloeiro e raio laser no período de 2017 a 2019, conforme se pode observar abaixo:

Gráfico 1 – Risco baloeiro versus raio laser – anos 2017 a 2019

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados disponíveis no CENIPA (2020). 783 966 1001 684 514 412 0 200 400 600 800 1000 1200 2017 2018 2019

RISCO BALOEIRO versus RAIO LASER

Anos 2017 a 2019

RISCO BALOEIRO RAIO LASER Linear (RISCO BALOEIRO) Linear (RAIO LASER)

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A partir dos dados consolidados, observa-se que há um movimento contrário entre os dois riscos estudados nesta pesquisa: enquanto o número de reporte de risco baloeiro tem aumentado de forma significativa, o reporte de uso indevido de raio laser diminuiu no período em análise.

Este resultado impulsiona o questionamento: considerando que a confecção de balões de ar quente não tripulados é uma ação que necessita de maior aporte financeiro por parte de seus idealizadores enquanto as canetas que emitem raio laser são de baixo custo e fácil acesso, qual é o motivo por que as notificações por raio laser estejam diminuindo e os reportes de balões estejam aumentando?

Para entender esta questão, analisou-se as ações educativas que visam à prevenção como uma das possibilidades explicativas, compreendendo, entretanto que há outras variáveis importantes como as econômicas e legais.

As ações educativas que constam nos sites do CENIPA e FAB se dividem em: cunho publicitário para o risco baloeiro e cunho formativo para o raio laser. Considera-se que tais indicativos podem ter influenciado nos resultados, pois o processo formativo é mais profícuo quanto mais pessoal. Além disso, são riscos diferentes com abordagens de prevenção também específicas.

A população em geral tem melhor acesso às canetas de raio laser, mesmo assim, os índices de reporte estão diminuindo. Não se pode descartar o papel da formação e investimento na educação de crianças e jovens. Também pode-se destacar que, aliada à conscientização, pode existir maior temor da culpabilização e responsabilização legal.

Já o risco baloeiro tem aumentado, mesmo com inúmeras campanhas publicitárias as quais, apesar do esforço de aculturação, não deixam de ser impessoais. Provavelmente, ações educativas que envolvam contato com grupos e organizações que simpatizam ou são praticantes da confecção e soltura de balões podem também ter maior alcance e resultados na diminuição dos índices. O fator econômico que sustenta a soltura de balões também pode explicar o aumento, pois entre os praticantes pode existir menor temor da responsabilização legal.

Também é necessário identificar junto aos pilotos e agentes que relatam as ocorrências quais são as suas percepções sobre a periculosidade dos riscos baloeiros e de raio laser, pois é possível que haja uma valoração de um risco em detrimento do outro e isto influencie o quantitativo de reportes.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa teve como objetivo geral analisar as incidências das notificações disponíveis no CENIPA das atividades ilegais de uso indevido de raio laser e do risco baloeiro que interferiram na segurança de voo no Brasil nos anos de 2017 a 2019, correlacionando–as com a existência de ações educativas institucionais preventivas desenvolvidas sobretudo pela FAB e pelo CENIPA.

A metodologia utilizada foi de natureza exploratória a qual se caracteriza pelo estudo de assuntos ainda pouco explorados ou que necessitam de uma abordagem sob novas perspectivas. A noção de documento utilizada nesse estudo foi a de que qualquer suporte que possua informação registrada, formando uma unidade de conteúdo que pode ser consultada e analisada. Portanto, pesquisou-se sites e arquivos disponíveis sobre as ações educativas para a conscientização da população sobre os riscos à segurança aeronáutica do uso indevido de raio laser (apontar para aeronaves) e do ato de soltar balões, considerados documentos, bem como o registro de notificações no site do CENIPA dessas ocorrências. A coleta de dados tanto do registro de notificações quanto da realização de campanhas educativas foi realizada no mesmo período, ou seja, nos anos de 2017 a 2019, a fim de correlacionar possíveis impactos ou influências das ações educativas no decréscimo ou aumento do registro de notificações.

Para a análise de dados, a pesquisa teve como base o desenho transversal exploratório-descritivo que consiste em conhecer uma variável ou um conjunto de variáveis a partir de uma exploração em um momento específico. O desenho transversal exploratório-descritivo agrega tanto a característica de explorar variáveis em um momento específico, quanto descrever a incidência dessas variáveis. Por estes motivos, considerou-se essa proposta de análise como adequada e satisfatória aos procedimentos dessa pesquisa.

Para o objetivo específico levantar a legislação brasileira atual sobre o risco

baloeiro e o raio laser, constatou-se como resultados que ambos são crimes previstos nos

artigos 261 e seguintes do Código Penal Brasileiro.

A prática de soltar balões é crime, pois conforme o artigo 42 da Lei nº 9.605/98, as condutas de “fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano” são consideradas como tal. No entanto, a pena privativa de liberdade é ínfima, de um a três anos de detenção, ou multa, podendo ambas ser aplicadas

Referências

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